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Introdução

Com o presente trabalho, pretende-se estabelecer, em nível de direito comparado, qual


a actual posição da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), e do
MERCOSUL. Evidente que os dois “sistemas” estão em níveis completamente diferentes, em
termos de fases evolutivas, o que implica em uma distinção a priori e necessária da
modalidade de Direito existente nos dois "sistemas". No entanto, a problematização colocada
desta maneira é pertinente, tendo em vista que tanto os países integrantes da SADC como os
do MERCOSUL, aparentemente, procuram imitar o sistema europeu, tomando-o como
paradigma.

Considerando que o Direito Comunitário do ordenamento jurídico das comunidades


de integração, procurou-se e evidenciar, num plano histórico, as origens e a conformação do
que se entende por Direito Comunitário. Para isto, faz-se necessário traçar o perfil das duas
comunidades: SADC e MERCOSUL, com uma abordagem clássica, isto é, evolução
histórica, fontes e estrutura, objectivando ter uma ideia precisa da situação actual.
1. DIREITO COMPARADO ENTRE MERCOSUL E DA SADC:

1.1 Breves considerações sobre o Direito comparado

Assim como existem vários estados, e consequentemente vários ordenamentos


jurídicos, cada Estado com ordenamento jurídico próprio, existe também nas comunidades
internacionais de integração regional, por via da harmonização das normas dos estados
membros, aquilo que se chamaria de ordem jurídica das comunidades destinada a integração
jurídica dos Estados membros.

Desta feita, o direito comparado consiste no estudo dos ordenamentos jurídicos dos
Estados assim como das comunidades internacionais, utilizando a método comparativo. Para
uma melhor compreensão dos vários sistemas jurídicos existentes em cada comunidade.1

A génese, e a concretização de um ordenamento jurídico comunitário, comporta várias


aspectos polémicos, como a soberania dos Estados, a autonomia da entidades supra estatais e
a harmonização legislativa, além do estabelecimento do se entende por "Direito
Comunitário".

Do ponto de vista de Direito Comparado, há que se destacar a questão da


harmonização legislativa, que não significa o mesmo que unificação. Na formação do direito
comunitário, dá-se a harmonização das legislações, pois a unificação corresponderia à
existência de um estado federal, ou mesmo de um estado unitário.

Não é objectivo central deste trabalho definir se há ou não um ordenamento jurídico


comunitário no Mercosul e na Sadc, embora esta discussão seja pertinente no contexto.

O objectivo deste trabalho, é comparar o ordenamento jurídico da Sadc com o do


Mercosul, enquanto comunidades de integração. Dando-se, especial ênfase as questões
relativas as fontes jurídicas, a harmonização legislativa, os sistemas de soluções de
controvérsias e as relações com os ordenamentos jurídicos nacionais, aspectos cruciais da
estrutura do Direito surgido nas comunidades de integração.

1
ROCHA Isabel, BATALHAO Carlos, ARGAO Luís, Introdução ao Direito, porto Editora, pg. 128
1.2 Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)

1.2.1 Historial

O Mercado Comum do Sul, teve sua origem a partir da constituição do mercado


comum entre a República Argentina e a República Federativa do Brasil, República do
Paraguai e República Oriental do Uruguai, a partir da assinatura do Tratado de Assunção, em
26 de Março de 1991, sendo considerado como um dos mais importantes passos para o
processo de integração entre os países latinos2.

Com o objectivo de estabelecer um processo de integração latino-americano, o tratado


de Instituiu o Mercado Comum do Sul, como ema União aduaneira, zona de livre comércio e
a adopção de uma pauta externa comum. O Mercado Comum seria uma união aduaneira e a
abolição de restrições aos movimentos de factores de produção (pessoas e capitais).

O processo de integração configura-se em um processo evolutivo, dividido em


estágios, de livre Comércio, abolição de direitos aduaneiros e restrições quantitativas
relativos à circulação de produtos (mercadorias) entre países participantes e manutenção das
pautas externas próprias em relação aos países terceiros.

Assim, hoje O Mercado Comum do Sul (Mercosul) é um amplo projecto de


integração concebido por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, que envolve dimensões
económicas, políticas e sociais, o que se pode inferir da diversidade de órgãos que ora o
compõem, os quais cuidam de temas tão variados quanto economia, agricultura ou familiar.
No aspecto económico, o Mercosul assume, hoje, o carácter de União Aduaneira, mas seu fim
último é constituir-se em verdadeiro Mercado Comum, seguindo os objectivos estabelecidos
no Tratado de Assunção, por meio do qual o bloco foi fundado, em 1991.

1.2.2 Ordenamento jurídico do MERCOSUL

O ordenamento jurídico do MERCOSUL, encontre-se positivamente estabelecido


fundamentalmente, em tratados inegavelmente exactos: o Tratado de Assunção que tem
apenas 24 artigos; e o seu Protocolo complementar, o Protocolo de Ouro Preto, com 53
artigos.

2
Http://pt.wikipedia.org/wiki/Mercado_Comum_do_Sul
1.2.2.1 Fontes Jurídicas do Mercosul

O tratado de assunção de (1991), não enunciou as fontes do Mercosul e também não


estabeleceu a hierarquia entre as diversas normas que integram seu ordenamento jurídico.
Situação esta que o seu protocolo complementar (protocolo Ouro Preto), veio a suprir no seu
art. 42, onde estabeleceu que as fontes jurídicas do MERCOSUL são as seguintes:

“I - O Tratado de Assunção, seus protocolos e os instrumentos adicionais ou


complementares;

II - Os Acordos celebrados no âmbito do Tratado de Assunção e seus protocolos;

III - As Decisões do Conselho do Mercado Comum, as Resoluções do Grupo Mercado


Comum, e as Diretrizes da Comissão de Comércio do Mercosul - adoptadas desde a entrada
em vigor do Tratado de Assunção ”.

Diante disso, é possível vislumbrar o direito que emerge do MERCOSUL em duas


vertentes, desde que guardadas as devidas proporções se o compararmos com o modelo
europeu:

1) A do direito originário (ou primário);

2) A do direito derivado (ou secundário).

O Direito Originário (ou primário) se compõe do Tratado de Assunção, seus


protocolos e Anexos, assim como pelos Protocolos de Brasília e de Ouro Preto.

O Tratado de Assunção é um tratado "marco" que contém regras de carácter


pragmático, na medida em que devem ser implementadas e desenvolvidas pelos órgãos do
Tratado ou do Mercosul, os quais receberam competência normativa (Conselho e Grupo
Mercado Comum), bem como normas de carácter obrigatório, dirigidas aos Estados partes,
como, por exemplo, os arts. 4º e 7º (5).
Já o direito derivado, é composto pelos actos emanados das instituições decisórias do
consórcio sediado no Cone Sul, quais sejam: as decisões (CMC3), os regulamentos (GMC4) e
as directrizes (CCM5). Tais normas, unilaterais, são endereçadas à Organização e aos Estados
Partes, e delas as de maior nível hierárquico são as Decisões (porque oriundas do Conselho,
que é o órgão superior, consoante o artigo 3º do POP6).

1.2.2.2 A Pirâmide Jurídica do Mercosul

Imaginando a pirâmide jurídica do Mercosul, veremos na sua base o direito originário,


isto é, seus tratados constitutivos, anexos e modificações. Logo depois, encontramos os
acordos celebrados com terceiros países, ou entre os Estados-membros do Mercosul, os quais
devem estar de acordo com o Tratado de Assunção e seus documentos complementares.

As normas de direito derivado vêm logo após, e não podem contradizer o direito
originário. As decisões do Conselho prevalecem sobre as resoluções do Grupo e essas sobre
as directrizes da Comissão de Comércio.

1.2.2.2A Harmonização Legislativa no Mercosul

A quarta parte do Tratado de Assunção diz que este mercado comum implica no
"compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas legislações, nas áreas pertinentes, para
lograr o fortalecimento do processo de integração".

O artigo 38 do Protocolo de Ouro Preto, o qual institucionalizou o MERCOSUL,


dando prosseguimento ao período de transição iniciado com o Tratado de Assunção, reza que
os Estados-partes comprometem-se a adoptar todas as medidas necessárias para assegurar, em
seus respectivos territórios, o cumprimento das normas emanadas dos órgãos do
MERCOSUL, porém, vezes há em que faz-se mister uma aproximação das legislações ou
uma harmonização das mesmas. Esta tem por objectivo suprimir ou amenizar as diferenças
entre as disposições de direito interno, na medida em que o exija o funcionamento do

3
(CMC) - Conselho do Mercado Comum, art. 1 do POP;
4
(GMC) – Grupo Mercado comum, art. 1 do POP
5
(CCM) – Comissão de Comercio do Mercosul, art. 1 do POP
6
(POP) - Protocolo de Ouro Preto
Mercado Comum, importa a alteração dos respectivos conteúdos. Já a aproximação das
legislações correlaciona-se com o procedimento especial para garantir o bom funcionamento
do Mercado Comum. Apesar de constituírem-se procedimentos diferentes, ambos pretendem
estabelecer uma certa conformidade entre as disposições legislativas que já vigoram ou irão
vigorar nos Estados empenhados num processo de integração.

Assim, com muita nitidez, vemos a diferença entre a "harmonização supranacional" e


a tradicional "harmonização internacional", que seria a única actualmente possível e vigente
no Mercosul.

1.2.2.3 O Sistema de Soluções de Controvérsias

As solução de controvérsias dentro de um estrutura de integração, no sentido de se ter


um grupo de Estados que pertencem à um organização, em qualquer estágio, ou fase de
integração, pode se dar de várias maneiras. Podem os Estados adoptar um modelo baseado
nos sistemas clássicos de solução de controvérsias, ou adoptarem um sistema semelhante,
mas com a imposição da interveniência dos órgãos da organização (caso do Mercosul), ou
pode constituir uma Corte de Justiça supranacional (caso da União Europeia).

Actualmente, o Sistema de Solução de Controvérsias do MERCOSUL é


regulamentado pelo Protocolo de Olivos (PO), assinado em 18 de Fevereiro de 2002 e
vigente desde 1º de Janeiro de 2004. Antes desse instrumento era aplicado o Anexo III do
Tratado de Assunção e, até a entrada em vigor do PO, o Protocolo de Brasília.

No âmbito do último, e de seu Regulamento (aprovado por meio da Decisão CMC Nº. 17/98),
foram proferidos dez laudos arbitrais.

Por sua vez, existem etapas anteriores e paralelas ao sistema: os procedimentos de


Consultas e os de Reclamações, regulamentados pela Directriz CCM Nº. 17/99, e pelo Anexo
do Protocolo de Ouro Preto e a Decisão CMC Nº. 18/02, respectivamente. Esses mecanismos
são administrados pela Comissão de Comércio do MERCOSUL (CCM) e pelo Grupo
Mercado Comum (GMC).
Uma das principais inovações do PO foi a criação do Tribunal Permanente de Revisão (TPR),
órgão principal do sistema, em razão de sua competência para conhecer e resolver nos
recursos de revisão contra os laudos dos Tribunais Arbitrais Ad Hoc (TAHM).

O TAHM7 é formado a partir das Listas de Árbitros depositadas por cada Estado Parte
na Secretaria do MERCOSUL, cujas Funções são:

- Conhecer e resolver em matéria de controvérsias que venham a surgir entre


os Estados Partes, a pedido de um deles, ou de particulares;

- Emitir Recursos de Esclarecimento;

- Proferir medidas provisórias;

- Resolver divergências a respeito do cumprimento do laudo;

- Pronunciar-se sobre as medidas compensatórias adoptadas pelo Estado Parte


beneficiado pelo laudo na controvérsia.

O Tribunal Permanente de Revisão, é o órgão constituído como instancia jurisdicional


para conhecer e resolver em matéria de:

- Opiniões Consultivas: poderão ser solicitadas por todos os Estados-Partes em


conjunto, os órgãos com capacidade decisória do MERCOSUL, os Tribunais
Superiores de Justiça dos Estados Partes, e o Parlamento do MERCOSUL;

- Revisão contra o laudo do TAH apresentado por quaisquer das partes;

- Actuação em única instância em caso de controvérsias;

- Casos nos quais os Estados Partes activem o procedimento estabelecido para as


medidas excepcionais de urgência;

Os laudos que venham a proferir os TAHM e o TPR serão obrigatórios para os


Estados Partes na controvérsia assim que se tenham tornado firmes e tenham, então,
adquirido força de caso julgado. As opiniões consultivas não serão obrigatórias nem
vinculastes.

7
Tribunais Arbitrais Ad Hoc do Mercosul
De acordo com o art. 53 do PO "Antes de culminar o processo de convergência da
Tarifa Externa Comum, os Estados Partes efectuarão uma revisão do actual sistema de
solução de controvérsias, com vistas à adopção do Sistema Permanente de Solução de
Controvérsias para o Mercado Comum a que se refere o numeral 3 do Anexo III do Tratado
de Assunção".

1.2.2.4 As Relações com os Ordenamentos Jurídicos Nacionais

O art. 42 do Protocolo de Ouro Preto determina que "as normas emanadas dos órgãos
do Mercosul terão carácter obrigatório e deverão, quando necessário, ser incorporadas aos
ordenamentos jurídicos nacionais mediante os procedimentos previstos pela legislação de
cada país".

Certamente, esta obrigatoriedade deve ser entendida nos limites das competências de
cada órgão, de tal forma que as decisões têm maior nível hierárquico.

Contudo, ao aprovar o Protocolo de Ouro Preto, o Congresso Nacional, no Decreto


Legislativo 188, deixou claro que: "São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional
quaisquer actos que possam resultar em revisão do referido protocolo, assim como quaisquer
actos complementares que, nos termos do art. 49,I da Constituição Federal, acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao património nacional".

Desta forma, entende-se que as normas emanadas do Mercosul que representam


encargos económicos ou obrigações para o património nacional devem ser objecto de
aprovação pelo Congresso Nacional. Da mesma forma, as normas que ampliam e modificam
as estruturas do Mercosul também se submetem a essa condição.

Como se vê, a obrigatoriedade para os Estados-membros, prevista no art. 42 do


Protocolo de Ouro Preto, reside na sua implementação. Trata-se, portanto, de obrigação de
meio, isto é, existindo os instrumentos legislativos que permitam a sua entrada em vigor no
ordenamento jurídico interno, o Poder Executivo tem a obrigação - decorrente do Protocolo.
Isto para dizer que, a mecânica de incorporação do direito do Mercosul aos direitos
nacionais, foi e continua sendo a mecânica clássica. O direito do Mercosul se assenta no
modelo clássico, isto é, advém de Tratados Internacionais negociados pelos governos e que
posteriormente aprovados pelos Congressos são ratificados pelos Estados-Membros e
promulgados, incorporando-se assim a norma do Mercosul ao direito nacional de cada um
dos seus integrantes. Trata-se do típico e clássico fenómeno da recepção, que
consequentemente afasta de alguma forma a figura de supra-nacionalidade.

1.3Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC 8)

1.3.1Historico

SADC: organização regional criada inicialmente, a 1 de Abril de 1980, como


Conferência para a Coordenação do Desenvolvimento da África Austral (SADCC), com o
objectivo principal de coordenação de projectos de desenvolvimento como forma de reduzir a
dependência económica em relação à então África do Sul do apartheid.

Países fundadores: Angola, Botswana, Lesoto, Malawi, Moçambique, Suazilândia,


Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Mais tarde se juntaram os seguintes países: Maurícias,
Namíbia, África do Sul, República Democrática do Congo, Madagáscar e Seychelles)9.

Deu-se a transformação da SADCC em SADC, para promover maior cooperação e


integração económica, uma necessidade premente para os governos dos Estados Membros da
SADC de transformar e reestruturar as suas economias. A independência da Namíbia em
1990 e o fim do apartheid na África do Sul levaram a redefinir a base de cooperação entre os
Estados Membros, de uma associação voluntária, para uma instituição juridicamente
vinculativa. Assim, na sua reunião Cimeira, em Windhoek, a 17 de Agosto de 1992, os Chefes
de Estado e Governo assinaram um Tratado que transformava a “SADCC”, de Conferência de
Coordenação, em SADC.

8
(SADC), do ingles, Southern African Development Community.
9
VALIGY, Ismael (1989), SADCC: Um Modelo de Cooperação Regional. Desenvolvimento, Relações
Internacionais, e Integração na África Austral, Seminário Conjunto CEA/IEEI. Lisboa
1.3.2 Ordenamento jurídico da SADC

Ao contrário do Mercosul, não encontramos na Sadc um diploma orientativo como o


Protocolo de Ouro Preto do Mercosul, onde o ordenamento jurídico deste encontre-se
fundamentalmente estabelecido. Mas, podemos encontrar a essência do ordenamento jurídico
desta comunidade através do Tratado e Protocolos da SADC, Protocolo do Tribunal da SADC
e outras normas legais complementares.

1.3.2.1 Fontes do Direito Comunitário da Sadc

Apesar do tratado da Sadc não enunciar as fontes e estabelecer a hierarquia entre as


diversas normas que integram seu ordenamento jurídico, assim como no Mercosul e na maior
parte das comunidades, o ordenamento jurídico comunitário vigente na Sadc é composto pelo
direito originário ou fontes primárias, onde encontramos o Tratado da Sadc e protocolos
complementares, e pelo direito derivado ou fontes secundárias, onde encontramos os demais
protocolos, a jurisprudência desenvolvida pelo Tribunal, princípios gerais de direito e outras
normas legais.

Desta feita poderíamos imaginar a pirâmide jurídica da Sadc, nos mesmos termos em
que se apresentaria a pirâmide jurídica do Mercosul, isto é, encontraríamos na sua base o
direito originário, isto é, o tratado constitutivo da Sadc, anexos e modificações. Mais adiante,
encontramos os acordos celebrados com terceiros países, ou entre os Estados-membros, os
quais devem estar de acordo com o Tratado da Sadc e seus documentos complementares. Por
fim, vem as normas de direito derivado, que não podem contradizer o direito originário, que
seriam compostas pelos actos emanados das instituições decisórias, como a “cimeira” ou o
“conselho” quais sejam: as decisões, os regulamentos e as directrizes. Tais normas,
unilaterais, dirigidas à organização e aos Estados Partes. Verificando-se aqui no ordenamento
jurídico da Sadc a falta da figura das directrizes.
1.3.2.2 A harmonização Legislativa na Sadc

Segundo o Professor Doutor Gilles Cistac10, O ordenamento jurídico da Sadc, no seu


Tratado da SADC, não consagra nenhum instrumento que permita razoavelmente concluir
pela existência de um real processo de harmonização das legislações dos Estados membros.

Pelo contrário, o objectivo é de “cooperar”, isto é, coordenar a acção dos Estados membros
num domínio determinado. Sendo Assim privilegiado como instrumento de opção desta o
“Protocolo”. Assim, esses acordos entre Estados membros aparecem como instrumentos
particularmente indicados e adaptados para promoção de uma cooperação entre Estados.

Todavia, esses instrumentos não são realmente concebidos para lutar contra a
disparidade das legislações nacionais que constituem um obstáculo pela realização de um
espaço económico e social verdadeiramente integrado.

Logo, o ordenamento jurídico da SADC não dispõe de instrumentos jurídicos para


diminuir as dificuldades que esta enfrenta na sua integração. Por outras palavras, a SADC não
criou verdadeiros instrumentos jurídicos que permitissem a substituição das disparidades de
legislações dos Estados membros num regime jurídico harmonizado ou uniformizado. Pois,
em a regra geral, a harmonização jurídica precisa de técnicas específicas tais como as
“directivas” ou “recomendações” que uma organização aprova e dirige aos Estados membros.
Essas “directivas” e “recomendações” indicam os resultados a atingir sem impôr a forma e os
meios para conseguir atingir os seus objectivos.

1.3.2.3 O Sistema de Soluções de Controvérsias

O art. 4 n°5 do Tratado da Sadc estabelecia que as controvérsias que surgissem entre
os Estados partes deveriam ser resolvidas pacificamente. Porem, o sistema de solução de
controvérsias na Sadc, tem por base, um Tribunal composto por 10 membros. Um órgão cuja
a responsabilidade principal será ajudar os Estados membros na resolução de Controvérsias.

10
CISTAC Gilles, Questões de Integração Regional e o Direito da Sadc, Como fazer da Sadc uma Organização
Regional verdadeiramente integrada, Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Direito, Maputo 2008.
Pg.10-11
O Tribunal da SADC, que estará sedeado em Windhoek, Namíbia, será responsável
pela resolução de conflitos entre Estados membro, assim como assegurar a aderência e
interpretação apropriada do Tratado da SADC bem como aos outros instrumentos
subsidiários que aglutinam os Estados da região.

O art. 9 do protocolo do tribunal da Sadc, vem estabelecer que qualquer controvérsia


que nasça do exercício de qualquer função política ou administrativa, ou de qualquer cargo
político em qualquer escritório, serviço de um Estado, a Comunidade ou uma organização ou
exercer qualquer comércio, vocação ou profissão ou qualquer outra actividade profissional
que possa interferir com o exercício correcto das suas funções judiciais, imparcialidade e
independência, serão resolvidas por uma decisão do Tribunal de da Sadc.

Quem apresentar casos ao Tribunal deve primeiro esgotar os recursos locais ou provar que
estes não existem, Uma vez que as decisões do Tribunal são finais e vinculativas.

O Tribunal é composto por dez membros, cinco dos quais são “regulares”, pois comparecem
à apreciação da maioria dos casos apresentados. Na indisponibilidade de um deles, o
Presidente do Tribunal pode convidar um outro membro para ocupar o cargo em questão. Os
juízes servem um mandato de cinco anos, que é renovável.

1.3.2.4 As Relações com os Ordenamentos Jurídicos Nacionais

No que diz respeito à estrutura jurídico-organizativa da SADC segundo CISTAC 11,


esta não reflecte nenhuma limitação à soberania dos Estados membros. Os mecanismos
organizativos apenas desenvolvem relações horizontais de simples coordenação das
soberanias estaduais. Os Estados membros ainda desempenham um papel primordial na vida
da SADC. Por exemplo, não há nenhuma previsão da intervenção directa da SADC na ordem
interna dos Estados membros. Por isso, as suas decisões e deliberações têm como
destinatários os próprios Estados membros e nunca os seus sujeitos internos, particularmente
o indivíduo. Ou seja, o Estado membro interpõe-se entre a SADC e a sua ordem interna.

11
CISTAC Gilles, Questões de Integração Regional e o Direito da Sadc, Como fazer da Sadc uma Organização
Regional verdadeiramente integrada, Universidade Eduardo Mondlane, Faculdade de Direito, Maputo 2008.
Pg.10-11
As decisões ou deliberações dos órgãos da SADC, não têm efeito directo sobre os nacionais
dos Estados membros nem sobre as respectivas administrações. Com efeito, se os protocolos
são aprovados pela Cimeira sob recomendação do Conselho, estes são sujeitos à ratificação
dos Estados membros o que significa que apesar desta decisão da Cimeira, o efeito directo é
ainda inexistente nas ordens jurídicas internas dos Estados membros. Em resumo, não há
transferência de poderes soberanos dos Estados membros para a SADC.

Assim, as restrições à soberania dos Estados membros da SADC traduziram-se no


facto de existirem relações de subordinação e não de mera cooperação entre a organização e
os Estados membros, incluindo os seus sujeitos de Direito interno. Relações essas, que vão
cobrindo progressivamente novos domínios de actividade à medida que a integração avança.

Na prática, o objectivo predominante da SADC, é o de fomentar relações multilaterais


de mera cooperação entre os Estados membros, na esfera da actividade económica,
correspondente apenas a uma parte do objecto material da organização que é muito mais rico
(manutenção da paz, segurança, democracia, cultura, etc.)
Conclusão

Como podemos ver a partir da comparação dos ordenamentos jurídicos destas duas
comunidades, nem no âmbito do MERCOSUL como no da SADC, existe, de maneira
verdadeiramente a rigor, o que se pode denominar por "Direito Comunitário". Porém,
preferiu-se manter esta denominação, pelo menos nos títulos e chamadas, em virtude de ser
uma denominação usual do nascente direito das comunidades de integração, mas que só se
encontra realizado no seio da União Europeia ou Comunidade Europeia.
Bibliografia

CISTAC Gilles, Questões de Integração Regional e o Direito da Sadc, Como fazer da


Sadc uma Organização Regional verdadeiramente integrada, Universidade Eduardo
Mondlane, Faculdade de Direito, Maputo 2008.

http//:www.Sardc.net/editorial/sadctoday/portview.asp?

VALIGY, Ismael (1989), SADCC: Um Modelo de Cooperação Regional.


Desenvolvimento, Relações Internacionais, e Integração na África Austral, Seminário
Conjunto CEA/IEEI. Lisboa, 23-26 de outubro;

Wagner Rocha D´Angelis, ORDENAMENTO JURÍDICO DO MERCOSUL

Marcos Valadão, MERCOSUL E UNIÃO EUROPÉIA: UM ESTUDO COMPARATIVO


DOS SISTEMAS JURIDICOS, Brasília, Maio de 1999

ROCHA Isabel, BATALHAO Carlos, ARGAO Luís, Introdução ao Direito, porto Editora

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