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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal da Comarca de Belo

Horizonte/MG:

Processo n.º ...

LEONARDO, já qualificado nos autos da ação penal que lhe move o Ministério Público, por seu
procurador firmatário, procuração anexa (fl. ...), vem, à presença de Vossa Excelência, com
fundamento no artigo 593, inciso I, do Código de Processo Penal, interpor

RECURSO DE APELAÇÃO, apresentando, desde logo, suas razões recursais para a reforma da
decisão. Requer, ainda, uma vez recebido e processado o recurso, a sua remessa à Superior
Instância para análise e julgamento.

Nesses termos,

pede deferimento.

Local..., 15 de maio de 2017.

Advogado...

OAB...

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS COLENDA CÂMARA CRIMINAL


EMINENTE PROCURADOR DE JUSTIÇA

Processo criminal n.º ...

Apelante: LEONARDO

Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO

Razões do recurso de apelação

1. DOS FATOS

O apelante foi denunciado pelo Ministério Público pela prática do crime de roubo
majorado tentado, previsto no artigo 157, § 2º, inciso I, combinado com o artigo 14, inciso
II, ambos do Código Penal. Em sentença, o Juiz julgou procedente a pretensão punitiva
estatal. No momento de fixar a pena-base, reconheceu a existência de maus antecedentes
em razão da representação julgada procedente em face do réu enquanto era inimputável,
aumentando a pena em seis meses de reclusão. Não foram reconhecidas agravantes ou
atenuantes. Na terceira fase, incrementou o Magistrado em um terço a pena, justificando
ser desnecessária a apreensão de arma de fogo, bastando a simulação de porte do
material diante do temor causado à vítima. Com a redução de um terço pela modalidade
tentada, a pena final ficou acomodada em quatro anos de reclusão. O regime inicial de
cumprimento de pena foi o fechado, justificando o Julgador que o crime de roubo é
extremamente grave e que atemoriza os cidadãos de Belo Horizonte todos os dias.

2. DO DIREITO

2.1. Da preliminar de nulidade

Os atos processuais praticados desde a apresentação das alegações finais pela defesa
estão eivados de nulidade. Vejamos. O apelante tinha advogado constituído nos autos, o
qual veio a renunciar. Diante disso, o Magistrado deveria ter intimado o réu, que está
preso, para informar se tinha interesse em constituir novo advogado ou ser assistido pela
Defensoria Pública. A decisão do Juiz de, imediatamente, encaminhar os autos para a
Defensoria Pública viola o princípio da ampla defesa (artigo 5º, inciso LV, da Constituição
Federal) na vertente da defesa técnica. Houve, certamente, prejuízo ao recorrente, já que
suas alegações finais foram apresentadas sem qualquer contato com o defensor, além de,
ao final, ter sido condenado. Assim, em preliminar, requer a nulidade da sentença e de
todos os atos processuais anteriores desde as alegações finais apresentadas pela defesa.

2.2. Da desistência voluntária No mérito, impõe-se a absolvição do apelante com


fundamento no instituto da desistência voluntária. De acordo com o artigo 15 do Código
Penal, o agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução somente
responde pelos atos já praticados. A desistência voluntária não se confunde com a
tentativa. Nesta, o sujeito inicia os atos de execução, mas não consuma o crime por
circunstâncias alheias à sua vontade. Naquela, por sua vez, o agente tem possibilidade de
prosseguir na empreitada criminosa, mas antes de esgotar todos os meios que tem à sua
disposição, desiste voluntariamente de prosseguir e consumar o delito. A particularidade
da desistência voluntária é que ela é uma chamada “ponte de ouro” de volta para a
legalidade, pois o agente somente responderá pelos atos já praticados e não pela tentativa
do crime que pretendia cometer originariamente. No caso dos autos, claramente o
recorrente poderia prosseguir na empreitada criminosa, mas optou por desistir. Iniciada a
execução, teve acesso ao caixa do estabelecimento comercial contendo dinheiro; no
entanto, ao verificar que o funcionário do local possuía dificuldades de locomoção,
arrependeu-se e abandonou a execução do delito. Assim, ao réu restariam apenas os atos
já praticados, no caso uma ameaça ao cliente que estava no local. Ocorre que o crime de
ameaça é de ação penal pública condicionada à representação (artigo 147, parágrafo
único, do Código Penal) e, como esta nunca ocorreu, o apelante não poderia ser
condenado por este delito também. Pelo exposto, o recorrente deve ser absolvido do
crime que lhe foi imputado na denúncia.

2.3. Da dosimetria da pena Com base no princípio da eventualidade, em sendo mantida a


condenação, a pena imposta ao apelante deve ser revisada. Na primeira fase, impõe-se a
fixação da pena-base no mínimo legal. Isso porque a existência de representação pela
prática de ato infracional não justifica o reconhecimento de maus antecedentes, pois a
punição do réu quando inimputável não pode prejudicá-lo penalmente, gerando o
aumento de sua pena. Na segunda fase, devem ser consideradas duas atenuantes: em
primeiro lugar a atenuante da menoridade relativa (artigo 65, inciso I, do Código Penal),
pois o apelante era menor de 21 anos na data dos fatos; em segundo lugar a atenuante da
confissão (artigo 65, inciso III, alínea “d”, do Código Penal), pois o réu confessou
espontaneamente a autoria do fato em Juízo. Na terceira fase, deve ser afastada a causa
de aumento pelo emprego de arma de fogo, já que não há prova de sua utilização. Veja-se
que o réu simulou estar armado, sendo certo que a vítima nem mesmo foi ouvida e não foi
apreendida qualquer arma de fogo com ele. O objetivo do legislador ao prever a punição
mais severa em caso de emprego de arma foi que a integridade da vítima seria colocada
em maior risco. A simulação de porte de arma, contudo, não traz este incremento do risco,
além de nem mesmo se adequar ao princípio da legalidade, já que não houve prova de sua
efetiva utilização. Impõe-se, portanto, a redução máxima da tentativa, a fim de que o
apelante seja beneficiado com a suspensão condicional da pena, prevista no artigo 77 do
Código Penal. Finalmente, no que se refere ao regime inicial de cumprimento da pena,
este deve ser diverso do fechado, já que a fundamentação utilizada pelo Magistrado para
impor o regime mais gravoso foi insuficiente. Nos termos das Súmulas 718 e 719 do
Supremo Tribunal Federal, e 440 do Superior Tribunal de Justiça, a gravidade em abstrato
do crime não justifica o reconhecimento de regime inicial de pena mais severo do que
aquele de acordo com a pena aplicada.

3. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer:

a) Preliminarmente, a nulidade da sentença, devendo os atos desde a apresentação das


alegações finais pela defesa serem anulados;

b) No mérito, a absolvição tanto do crime descrito na denúncia (roubo majorado tentado),


com fundamento no artigo 15 do Código Penal, quanto dos atos já praticados (ameaça),
pois não houve representação da vítima;

c) Caso seja mantida a condenação:

c.1) a aplicação da pena-base no mínimo legal;

c.2) o reconhecimento das atenuantes da menoridade relativa e da confissão espontânea;


c.3) o afastamento da majorante do emprego de arma de fogo;

c.4) a redução máxima da tentativa;

c.5) a concessão do “sursis” da pena; e

c.6) a fixação do regime inicial aberto ou semiaberto para cumprimento da sanção penal;
d) O provimento do recurso, com consequente expedição do alvará de soltura.

Nesses termos,

pede deferimento.

Local..., 15 de maio de 2017.

Advogado...

OAB/... n.º...

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