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CAMPUS CHAPECÓ
CURSO DE FILOSOFIA
CHAPECÓ
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
CAMPUS CHAPECÓ
CURSO DE FILOSOFIA
CHAPECÓ
2018
Resumo
In the present text the puzzles present in the third chapter of the book “Alice in puz-
zle-Land - A Carrollian Tale for Children under Eighty”, by Raymond Smullyan, were
formalized. However, we do not formalize only the premises and conclusions of the
puzzles: we also formalize the reasoning of how Smullyan achieved the result. With this
purpose a Madness Logic was developed, based on Classical Propositional Calculus.
We conclude that the developed language can be used in the most varied occasions.
Having in mind the observed aspects, it allowed us to analyze the differences between
formal language and natural language.
4 Considerações Finais 61
6
Introdução
puzzles lógicos atualmente são encontrados em muitos lugares, partindo de bancas
de jornais a aplicativos para smartphones. Dentre os mais diversos tipos de puzzles, res-
saltamos o trabalho do renomado lógico e matemático estadunidense Raymond Smullyan.
Além de possuir em sua bibliografia uma vasta coleção de livros sobre lógica formal, possui
varios livros de puzzles matemáticos e lógicos. Com relação aos puzzles, foram traduzidos
para o português os seguintes livros: Alice no país dos enigmas, Os enigmas de Shera-
zade e A dama ou o tigre?.
Nossa pesquisa consiste em fazer um recorte do livro “Alice no País dos Enigmas”, ao
selecionar somente o capítulo 3 deste livro para uma análise. Em seguida, esses puzzles
foram comentados e formalizados. Mas para fazer isso foi necessário desenvolver uma
Lógica da Loucura, uma extensão do CPC (Cálculo Proposicional Clássico).
Para desenvolver a Lógica da Loucura, construímos a sua linguagem no capítulo 1. No
capítulo 2, desenvolvemos as regras para a dedução natural dessa lógica. Para finalizar,
no capitulo 3, o puzzle é formalizado com a linguagem do capítulo 1 e a resposta é obtida
aplicando as regras de dedução natural do capítulo 2.
7
abcdef ghijklmnopqrs
L
0123456789
¬∧∨→↔B()
É a partir desses caracteres e por meio de uma linguagem da Lógica da Loucura que
todos os enigmas presentes no capítulo 3 de “Alice no País dos Enigmas” de Smullyan
serão formalizados.
As letras minúsculas
abcdef ghijklmnopqrs
são denominadas constantes individuais. Há, entretanto, um número bem limitado des-
sas constantes - 19, para sermos mais precisos. Para não nos restringirmos a essa limita-
ção, basta inserirmos subscritos, de acordo com a seguinte ordem:
a, b, c, . . . , s, a1 , b1 , . . . , s1 , a2 , . . .
Considerando que possuímos infinitos números naturais, também teremos uma infinidade
de constantes individuais. As letras maiúsculas são denominadas constantes de predica-
dos e teremos uma única constante desse tipo: a letra L.
Mas antes de dizer como serão apresentados e resolvidos os puzzles, é necessário
distinguir uma constante individual de uma constante de predicado. Nas constantes indi-
viduais, como o próprio nome diz, indicamos um indivíduo específico. Essas constantes
individuais também recebem na Lógica da Loucura o nome de termos2 . As constantes
1
A linguagem formal da Lógica da Loucura foi inspirada num dos operadores epistêmico de Hintikka. Em
sua linguagem formal, a fórmula Bc α significa em linguagem natural que o agente c acredita (em inglês,
believe) na sentença α, conferir [HENDRICKS;SYMONS, 2018]. O nosso único acréscimo foi o predicado L,
que será explicado adiante.
2
No Cálculo Quantificacional Clássico, os termos englobam constantes, variáveis e funções sobre os
termos, vide [MORTARI, 2001, p. 101]. Como em nossa linguagem não temos quantificadores, não há ne-
cessidade de variáveis. Assim, os termos e as constantes coincidem.
8
têm o mesmo papel que os nomes próprios na linguagem natural e servem para se referir
sempre ao mesmo indivíduo.
Além das letras minúsculas, a letra L, símbolos e subscritos listados, nenhum outro
símbolo pertence a nossa linguagem.
Entretanto, a Lógica da Loucura não consiste simplesmente de um amontoado de sím-
bolos, do mesmo modo que uma sentença na linguagem natural não é feita por um amon-
toado de palavras. É nessa parte da linguagem que entra a gramática. Seguindo nessa
linha de raciocínio, são as nossas regras para construção de fórmulas que determinam
quais são as expressões bem formadas. Por exemplo: “BaBiLe” e “asBf dL” são junções
de símbolos da Lógica da Loucura, mas somente a primeira é uma fórmula bem formada.
Analisemos a seguinte expressão:
Ao olhar com atenção a estrutura dos exemplos, se verifica que há dois indivíduos,
Andressa e Daniela, sujeitos da suas sentenças, que possuem a propriedade de ser louca.
Os exemplos recebem o nome de sentenças atômicas. O próximo passo para formalizar o
exemplo é substituir os nomes apresentados por uma letra minuscula. Conforme o alfabeto
apresentado no começo deste capítulo, o nome próprio “Andressa” pode ser substituída
pela letra “a”. O mesmo acontece com o outro nome, substituindo “Daniela” pelo termo “d”.
a é louca.
d é louca.
É importante colocar uma advertência: não se pode usar a mesmo símbolo para for-
malizar indivíduos diferentes. Quando houver a necessidade de transformar os nomes
“Rodrigo” e “Rodolfo” em linguagem formal, não é possível usar a letra “r” para os dois
indivíduos. Neste caso, pode-se utilizar a letra “r” para Rodrigo e “o” para Rodolfo, sendo
que o inverso também é válido. Não esquecendo que se pode usar os subscritos: usando
o exemplo anterior, pode-se colocar no lugar de “o” a letra “r” com o número 1 subscrito,
ficando “r1 ”.
Seguindo na construção da Lógica da Loucura, devemos formalizar a única proprie-
dade dos indivíduos, isto é, a constante de predicado. Para ela, usaremos uma única
letra maiúscula: L. Juntando as informações que temos sobre constantes de indivíduos e
predicado, podemos formalizar totalmente os exemplos apresentados anteriormente:
La
9
Ld
Isso significa que expressões como “Sócrates é louco” poderia ser formalizada por “Ls” e
“Maria é louca” teria como simbolo “Lm”. Por convenção, é colocada primeiro a constante
de predicado e depois a constante individual.
Retomemos as sentenças (1) e (2) apresentadas anteriormente. Partindo delas, pode-
se construir sentenças ainda mais complexas, como o exemplo abaixo:
Agora temos uma expressão bem formada juntando (1) e (2) por meio da conjunção
“e”. Mortari utiliza a seguinte metáfora para melhor compreensão sobre sentenças:
“A esse tipo de sentença - isto é, uma sentença que contém uma ou mais
sentenças como partes - chamamos de sentença molecular, ou complexa.
Para usar uma outra imagem, se você imaginar que sentenças atômicas
são tijolos, as sentenças moleculares serão como paredes e muros, cons-
truídas a partir de outras sentenças usando-se certas expressões (’e’,’ou’
etc.) como argamassa.” [MORTARI, 2001, p. 62]
Consideremos ainda o exemplo (3). Como já foi dito, ela é uma sentença molecular ou
complexa. Neste caso, foi o acréscimo do conectivo “e” que ligou duas sentenças atômicas
em uma única sentença molecular, do mesmo modo que uma argamassa liga dois tijolos.
A partir disso, se conclui que é a adição dos conectivos ou operadores lógicos que constrói
expressões complexas a partir de sentenças atômicas. Esses conectivos são explicados
nas linhas abaixo:
¬Ld
Pode-se notar que a sentença a ser negada ocorre à direita do símbolo de negação.
Isso é canônico, e será assim no texto inteiro. O uso de ¬¬Ld também é admitido,
com o intuito de negar a fórmula ¬Ld. A quantidade de símbolos de negação que
podem ser colocados um ao lado do outro é ilimitada.
palavras que remetem a conjunção, e sim termos uma base para a formalização dos
puzzles.
pois se entende que o indivíduo Ricardo é louco, o mesmo acontecendo com Cristi-
ano.
7. Parênteses: O seu uso serve para eliminar as possíveis ambiguidades que possam
surgir ao formalizar uma expressão. Considere a seguinte fórmula como exemplo:
Bc La → ¬La ∧ Lc
Essa fórmula pode estar querendo simbolizar duas sentenças em língua natural bem
diferentes:
(4) Se Cristiano acredita que André é louco, então André não é louco mas Cristiano
é louco.
(5) Se Cristiano acredita que André é louco, então Andre não é louco. Mas Cristiano
é louco.
Bc La → (¬La ∧ Lc)
(Bc La → ¬La) ∧ Lc
3. operadores;
4. sinais de pontuação.
12
Definição 2.
Os termos de uma linguagem da loucura são as suas constantes individuais.
Definição 3.
Dadas essas definições, temos um critério para distinguir termo e fórmula. Além disso,
sabemos que as letras minúsculas de t,. . . ,z, não estão presentes na nossa linguagem. O
mesmo ocorre como as letras maiúsculas de A,. . . ,J e M, . . . , Z. É importante notar que
as letras α, β e t não fazem parte do nosso alfabeto. Elas são metavariáveis, ou seja,
variáveis fora da linguagem. As letras α e β são metavariáveis para fórmulas, enquanto t
é uma metavariável para termos.
Tambem é importante notar que, a rigor, a sentença “Bc La → (¬La ∧ Lc)” deveria ser
escrita do seguinte modo:
(Bc La → (¬La ∧ Lc))
Isso porque como “Bc ” é uma fórmula e “(¬La ∧ Lc)” é uma fórmula, pela cláusula (ii) da
Definição 3 temos que “(Bc La → (¬La ∧ Lc))” também é uma fórmula. Mas os parênteses
mais externos e qualquer outro parêntese que não ajude na eliminação de ambiguidades
serão eliminados. Isso para facilitar a leitura.
Sendo que já possuímos a linguagem formal necessária para formalizar os puzzles,
necessitamos de certas regras para a resolução dos seus problemas. É a elas que dedi-
caremos o próximo capítulo.
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Usamos “P1 ” e “P2 ” para mostrar as premissas e a letra “C” para conclusão do argu-
mento. No entanto, para se provar formalmente a resposta dos puzzles, necessitamos
formalizar as expressões acima. Para fazer isso, basta aplicar o método de formalização
do capítulo anterior nos exemplos acima, que é expresso, em dedução natural, do seguinte
modo:
1. ¬Lc → Ld P
2. ¬Lc P
3. Ld 1,2 MP
É importante salientar algo sobre as deduções que surgirão ao longo do texto. Todas
elas possuem a seguinte notação: toda linha deve ser numerada, uma embaixo da outra
e a sua justificativa ao lado direito (sendo ”P” para premissa, ”H” para hipótese, ou uma
abreviação das regras que mostraremos abaixo). Uma dedução pode ser chamada de um
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processo transformatório de símbolos, pois foi gerado uma fórmula “Ld”, partindo de outras
fórmulas, “¬Lc → Ld” e “¬Lc”.
A letra “P” indica que a fórmula à esquerda é premissa, isto é, algo que sabemos de
antemão. Neste caso, temos duas nas linhas 1 e 2. A linha 3 é um resultado de aplicação
de regra denominada Modus Ponens.
Essas regras de inferência primárias possuem o seguinte significado:
“são postuladas, isto é, aceitas sem demonstração. Antes que você re-
clame que isso pode ser escandaloso, note que, obviamente, não há como
demonstrá-las: para tanto, teríamos que empregar outras regras - as quais
deveríamos ter aceito anteriormente.” [MORTARI, 2001, p. 237]
Isso não significa que podemos escolher qualquer regra. Se as regras nos levarem a
uma contradição, ou seja, se a partir delas provamos que algo acontece e não acontece
ao mesmo tempo, então essa regra não é aceita no nosso conjunto de regras primárias.
Pois se aceitarmos toda e qualquer regra, nossa Lógica da Loucura será simplesmente um
amontoado de símbolos.
Mortari nos apresenta em [MORTARI, 2001, p. 242] um conjunto de oito regras primá-
rias para o fragmento proposicional do Cálculo Quantificacional Clássico CQC. Para nossa
Lógica da Loucura, acrescentaremos uma única regra a esse fragmento proposicional, a
Regra da Loucura I (RL1). Ao todo, teremos as seguintes regras primárias diretas:
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¬¬α α → β, α
α β
α, β α∧β α∧β
α∧β α β
α β α ∨ β, ¬α α ∨ β, ¬β
α∨β α∨β β α
α → β, β → α α↔β α↔β
α↔β α→β β→α
Lt Bt α ↔ ¬α
Bt α ↔ ¬α Lt
Ao observar a figura anterior, se nota que existe uma ou mais fórmulas acima da linha
vertical. Premissa é o que está acima da linha e conclusão é o que está embaixo. Em
outras palavras, a fórmula que está abaixo desta linha pode ser derivada, a partir da regra
condizente, partindo da fórmula que está acima.
Sendo assim, conseguimos estabelecer quando uma fórmula é consequência de outra.
Então temos a seguinte definição:
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No nosso exemplo anterior, o conjunto Γ de fórmulas é formado por “¬Lc → Ld” e “¬Lc”,
ou seja, as premissas. As linhas 1 e 2 são fórmulas que estão em Γ. Já a fórmula “Ld”,
que aparece na linha 3, foi obtida aplicando a regra de inferência Modus Ponens nas duas
fórmulas que aparecem antes na sequência. A Definição 4 nos garante que nosso exemplo
é uma dedução da fórmula “Ld” a partir do conjunto Γ formado por “¬Lc → Ld” e “¬Lc”.
Voltemos a focar na figura para analisar cada regra primária separadamente. Comece-
mos com a regra Dupla Negação. Esse tipo de regra nos permite obter α partindo de uma
fórmula ¬¬α. Isso significa que frases do tipo “Não é o caso de Andressa não ser louca”
significam que “Andressa é louca”. Essa regra é exibida abaixo:
1. ¬¬La P
2. La 1 DN
As próximas duas regras envolvem o operador ∧. A regra Conjunção (C) nos permite
acrescentar o operador. Aplicando isso a um exemplo: se temos duas premissas separa-
das “Andressa é louca” e “Daniela é louca”, podemos concluir que “Andrea e Daniela são
loucas”. Isso quer dizer que podemos juntar duas fórmulas α e β com operador ∧. Se
formalizarmos esse raciocínio por meio de uma dedução natural, teremos o seguinte:
1. La P
2. Ld P
3. La ∧ Ld 1,2 C
1. La ∧ Ld P
2. La 1S
3. Ld 1S
1. La P
2. La ∨ Ld 1 E
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Para excluir o símbolo ∨, existe a regra Silogismo Disjuntivo (SD). Se possuímos duas
premissas, sendo a primeira premissa “Ou Andressa é louca ou Daniela é Louca” e em
seguida temos “Andressa não é louca”, aplicando a presente regra, podemos concluir que
“Daniela é louca”.
1. La ∨ Ld P
2. ¬La P
3. Ld 1,2 SD
Também existe a regra Modus Ponens (MP), exibida anteriormente. Se tivermos como
premissas “Se Daniela é louca, então Andressa também é” e “Daniela é louca”’, concluímos
que “Andressa é louca”. Podemos formalizar esse argumento logo abaixo:
1. Ld → La P
2. Ld P
3. La 1,2 MP
1. Ld ↔ La P
2. Ld → La 1 BC
3. La → Ld 1 BC
1. Ld → La P
2. La → Ld P
3. Ld ↔ La 1,2 CB
1. Lc P
2. Bc La ↔ ¬La 1 RL1
Para o caso (ii), suponhamos que temos como premissa que “Carlos acredita que An-
dressa é louca se e somente se ela não for”. A Regra da Loucura I nos permite deduzir
que Carlos é louco. Simbolicamente, teríamos:
1. Bc La ↔ ¬La P
2. Lc 1 RL1
Ta a.α ↔ α
a.α ↔ α Ta
Essa formulação não é idêntica à lógica da mentira de Kolany, mas pode-se demonstrar que são equivalentes.
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1. Lc → Lg P
2. Lg → La P
3. Lc H
Duas coisas novas aconteceram: a primeira é o acréscimo da letra “H” para simbolizar
que houve a adição de uma hipótese. Também surge uma linha vertical anteriormente à
fórmula Lc, seu significado é que a fórmula à direita da barra tem caráter hipotético. A
quantidade de hipóteses que podem ser colocadas em uma dedução natural é ilimitada.
Seguiremos com a dedução. Se aplicarmos a regra primária Modus Ponens e a Regra
de Prova Condicional, isso nos leva à seguinte situação:
1. Lc → Lg P
2. Lg → La P
3. Lc H
4. Lg 1,3 MP
5. La 2,4 MP
6. Lc → La 3 - 5 RPC
Como se vê, eliminamos a linha vertical na linha 5, saindo das hipóteses. A justificativa
na linha 6 foi “3 - 5 RPC”, isto significa a fórmula da linha 6 foi obtida das linha 3 a 5,
aplicando Regra de Prova Condicional. A formulação desta regra é a seguinte:
α
..
.
β
α→β
Essa é a explicação, nas palavras de Mortari: “se, a partir de uma hipótese α você
deriva uma fórmula β , então você pode descartar α e introduzir α → β na derivação.”
[MORTARI, 2001, p. 252].
Existe outra regra de derivação hipotética, a chamada Redução ao Absurdo. Esta regra
consiste no seguinte:
1. Lb → ¬La P
2. Lb ∧ La H
3. Lb 2S
4. ¬La 1,3 MP
5. La 2S
6. La ∧ ¬La 4,5 C
7. ¬(Lb ∧ La) 2 - 6 RAA
Este exemplo mostra como funciona a regra Redução ao Absurdo: suponhamos uma
fórmula qualquer. Se nos leva a uma contradição, negamos a hipótese inicial.
A formulação da presente regra é a seguinte:
α
..
.
β ∧ ¬β
¬α
(I) “Introduzirás na derivação uma linha vertical toda vez que introdu-
zires uma hipótese adicional; a cada hipótese corresponderá uma
linha, e cada linha uma hipótese, pois assim está escrito;
(II) Não usarás uma fórmula que ocorre à direita de uma linha vertical
depois de terminada essa linha, pois, caso contrário, tuas derivações,
e as derivações de tuas derivações, serão falaciosas setenta vezes
sete vezes;
(III) Descartarás as hipóteses na ordem inversa em que foram introduzi-
das, e não usarás outra ordem para descartá-las;
(IV) Não darás uma dedução por terminada enquanto não descartares
todas as hipóteses adicionais;
(V) Não farás mau uso das regras de inferência, nem terás outras regras
além das que aqui te forem dadas. ” [MORTARI, 2001, p. 254]
Apresentada a parte de regras primárias, vamos a parte das regras derivadas. Elas
não são necessárias. Simplesmente possuem o propósito de deixar as coisas mais fáceis,
reduzindo algumas linhas na dedução natural.
21
α α → β, ¬β
¬¬α ¬α
¬α ∨ ¬β ¬(α ∧ β) ¬Lt Kt α ↔ α
¬(α ∧ β) ¬α ∨ ¬β Kt α ↔ α ¬Lt
Como o próprio nome diz, regras derivadas são demonstradas a partir das regras pri-
márias. Então, as regras acimas são consequências de outras apresentadas anterior-
mente.
Inicialmente, demonstraremos a regra Negação Dupla (ND):
1. α P
2. ¬α H
3. α ∧ ¬α 1,2 C
4. ¬¬α 2-3 RAA
1. α→β P
2. ¬β P
3. α H
4. β 1,3 MP
5. β ∧ ¬β 2,4 C
6. ¬α 3 - 5 RAA
(DM1):
1. ¬α ∨ ¬β P
2. α∧β H
3. α 2S
4. ¬¬α 3 ND
5. ¬β 1,4 SD
6. β 2S
7. β ∧ ¬β 5, 6 C
8. ¬(α ∧ β) 2-7 RAA
(DM2):
1. ¬α ∧ ¬β P
2. α∨β H
3. ¬α 1S
4. β 2, 3 SD
5. ¬β 1S
6. β ∧ ¬β 4, 5 C
7. ¬(α ∨ β) 2 - 6 RAA
A regra da Lógica da Loucura II (R2) é uma regra derivada das regras primitivas. Assim
como a anterior, a demonstração da presente regra será dividida em duas partes: (R2a) e
(R2b).
(R2a):
1. ¬Lt P
2. α ∧ ¬Bt α H
3. Bt α H
4. α H
5. ¬Bt α 2S
6. Bt α ∧ ¬Bt α 3,5 C
7. ¬α 4 - 6 RAA
8. Bt α → ¬α 3 - 7 RPC
9. ¬α H
10. ¬Bt α H
11. α 2S
12. α ∧ ¬α 9,11 C
13. ¬¬Bt α 10 - 12 RAA
14. Bt α 13 DN
23
15. ¬α → Bt α 9 - 14 RPC
16. Bt α ↔ ¬α 8,15 CB
17. Lt 16 RL1
18. Lt ∧ ¬Lt 1,17 C
19. ¬(α ∧ ¬Bt α) 2 - 18 RAA
20. ¬α ∨ ¬¬Bt α 19 DM
21. α H
22. ¬¬α 21 ND
23. ¬¬Bt α 20,22 SD
24. Bt α 23 DN
25. α → Bt α 21 - 24 RPC
26. Bt α ∧ ¬α H
27. Bt α H
28. ¬α 26 S
29. Bt α → ¬α 27 - 28 RPC
30. ¬α H
31. Bt α 26 S
32. ¬α → Bt α 30 - 31 RPC
33. Bt α ↔ ¬α 29,32 CB
34. Lt 33 RL1
35. Lt ∧ ¬Lt 1,34 C
36. ¬(Bt α ∧ ¬α) 26 - 35 RAA
37. ¬Bt α ∨ ¬¬α 36 DM
38. Bt α H
39. ¬¬Bt α 38 ND
40. ¬¬α 37, 39 SD
41. α 40 DN
42. Bt α → α 38,41 RPC
43. Bt α ↔ α 25,42 CB
24
(R2b)
1. Bt α ↔ α P
2. Lt H
3. Bt α ↔ ¬α 2 RL1
4. Bt α H
5. Bt α → ¬α 3 BC
6. ¬α 4,5 MP
7. Bt α → α 1 BC
8. α 4,7 MP
9. α ∧ ¬α 6,8 C
10. ¬Bt α 4 - 9 RAA
11. ¬α H
12. ¬α → Bt α 3 BC
13. Bt α 11,12 MP
14. Bt α ∧ ¬Bt α 10,13 C
15. ¬¬α 11 - 14 RAA
16. α 15 DN
17. α → Bt α 1 BC
18. Bt α 16,17 MP
19. Bt α → ¬α 3 BC
20. ¬α 18,19 MP
21. α ∧ ¬α 16,20 C
22. ¬Lt 2 - 21 RAA
1. Logo após o título do enigma, se sucede uma citação de como Smullyan apresenta
o quebra-cabeça;
4. Comentário das premissas: nesta parte, será explanado o motivo do puzzle estar
sendo formalizado de determinada maneira.
“Ao ver Alice, o Gato sorriu. Parecia amigável, ela pensou; ainda assim,
tinha garras muito longas e um número enorme de dentes, de modo que
achou que deveria trata-lo com respeito.
‘Bichano de Cheshire’, começou, muito tímida, pois não estava nada certa
de que esse nome iria agradá-lo; mas ele só abriu um pouco mais o sorriso.
‘Bom, até agora ele está satisfeito’, pensou e continuou: ‘Poderia dizer, por
favor, que caminho que devo tomar para ir embora daqui?’
‘Depende bastante de para onde quer ir’, respondeu o Gato.
26
No diálogo de Smullyan, Alice quer saber, dos indivíduos presentes naquele mundo
imaginário, quais têm a sanidade comprometida e quais não têm. Partindo da regra expla-
nada anteriormente, de que todo louco fala a mentira e quem é são sempre fala a verdade,
a Duquesa lança uma série de desafios. Alice tenta solucioná-los, visando descobrir o
estado mental de quem vive ali.
3.2.1 Linguagem
Constantes individuais:
l: Lagarta;
b: Bill, o Lagarto;
1. Bl (Ll ∧ Lb) P
Inicialmente, a Duquesa nos diz para considerar a Lagarta e Bil, o Lagarto. Esses serão,
desse modo, os indivíduos envolvidos no nosso puzzle. Ainda de acordo com a Duquesa,
“A Lagarta acredita que ambos são loucos”. Em outras palavras, a Duquesa afirmou que:
Alice pergunta qual deles é realmente louco e a Duquesa retruca que ela sequer precisa
se dar o trabalho de responder a Alice. Isso significa que podemos deduzir das premissas
do problema quem é o louco da história: a Lagarta ou Bill, o Lagarto.
28
1. Bl (Ll ∧ Lb) P
2. ¬Ll H
3. ¬Ll ∨ ¬Lb 2E
4. ¬(Ll ∧ Lb) 3 DM
5. Bl (Ll ∧ Lb) ↔ (Ll ∧ Lb) 2 R2
6. Bl (Ll ∧ Lb) → (Ll ∧ Lb) 5 BC
7. ¬Bl (Ll ∧ Lb) 4, 6 MT
8. Bl (Ll ∧ Lb) ∧ ¬Bl (Ll ∧ Lb) 1,7 C
9. ¬¬Ll 2-8 RAA
10. Ll 9 DN
11. Bl (Ll ∧ Lb) ↔ ¬(Ll ∧ Lb) 10 RL1
12. Bl (Ll ∧ Lb) → ¬(Ll ∧ Lb) 11 BC
13. ¬(Ll ∧ Lb) 1,12 MP
14. ¬Ll ∨ ¬Lb 13 DM
15. ¬Lb 9, 14 SD
16. Ll ∧ ¬Lb 10, 15 C
A dedução começa com sua única premissa, a de que a Lagarta possui a crença de que ela
e o Lagarto são loucos. Smullyan diz que “Se a lagarta fosse sã, seria falso ela e o Lagarto
serem loucos”. Vamos supor que a Lagarta não é louca (linha 2). Temos, desse modo, que
é falso que ambos são loucos (linhas 3-4). Mas como, por hipótese, temos que a Lagarta
não é louca, pela nossa Regra da Loucura II sabemos que tudo o que a Lagarta acredita é
verdadeiro e vice-versa, em particular, no fato dela e do Bil serem loucos (linha 5). Smullyan
afirma que “donde (sendo sã) a Lagarta não poderia acreditar nesse fato mentiroso”. O fato
29
mentiroso em questão é a Lagarta e Bil serem loucos, já que supusemos que a Lagarta
é sã. E por quê a Lagarta não pode acreditar nesse fato mentiroso? Porque está em
contradição com a premissa do problema (linhas 6-8). “Portanto”, continua Smullyan, “a
Lagarta deve ser louca.” (linhas 9-10).
Sabemos que a Lagarta é louca. Smullyan infere: “Já que ela é louca, sua crença é
errada, donde não é verdade que ambos sejam loucos.” Do fato da Lagarta ser louca, sa-
bemos que tudo o que ela acredita é mentira, em particular, na mentira dela e de Bill serem
loucos (Linhas 11-12). Como, pela premissa, sabemos que ela acredita nessa mentira, en-
tão é de fato mentira que ela e Bill são loucos (linha 13). Smullyan conclui: “Assim, o outro
(o Lagarto) deve ser sadio”, o que deduzimos em seguida (linhas 14-15). Para finalizar,
temos que “a Lagarta é louca e o Lagarto é são.” (linha 16).
3.3.1 Linguagem
Constantes Individuais
c: Cozinheira;
g : Gato de Cheshire
1. Bc(Lc ∨ Lg) P
” Se a cozinheira fosse louca, seria verdade que pelo menos um dos dois é
louco, e teríamos uma pessoa louca sustentando uma crença verdadeira,
o que não é possível. Portanto, a Cozinheira deve ser sadia. Visto que ela
é sã, sua crença é correta, donde um dos dois é realmente louco. Uma
vez que não é a Cozinheira, deve ser o Gato de Cheshire. Portanto, a
Cozinheira é sã e o Gato de Cheshire é louco.” [SMULLYAN, 2000, p. 153]
1. Bc(Lc ∨ Lg) P
2. Lc H
3. Bc(Lc ∨ Lg) ↔ ¬(Lc ∨ Lg) 2 RL1
4. Bc(Lc ∨ Lg) → ¬(Lc ∨ Lg) 3 BC
5. ¬(Lc ∨ Lg) 1,4 MP
6. ¬Lc ∧ ¬Lg 5 DM
7. ¬Lc 6S
8. Lc ∧ ¬Lc 2,7 C
9. ¬Lc 2-8 RAA
10. Bc(Lc ∨ Lg) ↔ (Lc ∨ Lg) 9 R2
11. Bc(Lc ∨ Lg) → (Lc ∨ Lg) 10 BC
12. Lc ∨ Lg 1,11 MP
13. Lg 9,12 SD
Vamos supor que a Cozinheira é louca (linha 2). Então não é possível que, ou a Cozinheira,
ou o Gato de Cheshire são loucos (linha 5). Isto é equivalente a Cozinheira e o Gato de
Cheshire não serem loucos (linha 6), obviamente nos levando a uma contradição (linha 8).
“Portanto, a Cozinheira deve ser sadia” (linha 9) e “um dos dois é realmente louco” (linha
12). Sabendo que a Cozinheira não é louca, então o Gato de Cheshire deve ser louco
(linha 13).
3.4.1 Linguagem
Constantes individuais:
p: Lacaio-Peixe
r: Lacaio-Rã
1. Bp(Lp ↔ Lr) P
1. Bp(Lp ↔ Lr) P
2. ¬Lp H
3. Bp (Lp ↔ Lr) ↔ (Lp ↔ Lr) 2 R2
4. Bp (Lp ↔ Lr) → (Lp ↔ Lr) 3 BC
5. Lp ↔ Lr 1,4 MP
6. Lr → Lp 5 BC
7. ¬Lr 2,6 MT
8. ¬Lp → ¬Lr 2 - 7 RPC
9. Lp H
10. Bp (Lp ↔ Lr) ↔ ¬(Lp ↔ Lr) 9 RL1
11. Bp (Lp ↔ Lr) → ¬(Lp ↔ Lr) 10 BC
12. ¬(Lp ↔ Lr) 1,11 MP
13. Lr H
14. Lp H
15. ¬Lr H
16. Lr ∧ ¬Lr 13,15 C
17. ¬¬Lr 15 - 16 RAA
18. Lr 17 DN
19. Lp → Lr 14-18 RPC
20. Lr H
21. ¬Lp H
22. Lp ∧ ¬Lp 9, 21 C
23. ¬¬Lp 21-22 RAA
24. Lp 23 DN
25. Lr → Lp 20 - 24 RPC
26. Lp ↔ Lr 19, 25 CB
27. (Lp ↔ Lr) ∧ ¬(Lp ↔ Lr) 12, 26 C
28. ¬Lr 13-27 RAA
29. Lp → ¬Lr 9 - 28 RPC
30. Lr H
31. ¬¬Lr 29 ND
32. ¬Lp 29, 31 MT
33. ¬Lr 8, 32 MP
34. Lr ∧ ¬Lr 30,33 C
35. ¬Lr 30 - 34 RAA
34
O raciocínio que leva a compreender que o Lacaio-Rã é o seguinte: se supor que o Lacaio-
Peixe não é louco (linha 2), então o Lacaio-Rã é igual ao Lacaio-Peixe (linha 6), o que quer
dizer que o Lacaio-Rã é são (linha 7). Mas supondo que o Lacaio-Peixe é louco (linha 9),
então o Lacaio-Rã é diferente do Lacaio Peixe (linha 12); nesse caso também se conclui
que o Lacaio-Rã é são (linhas 28 e 29). “Vemos, portanto, que em qualquer um dos casos
(quer o Lacaio-Peixe seja são ou louco) o Lacaio-Rã deve ser são” (linha 35).
3.5.1 Linguagem
Constantes Individuais
r: Rei de Ouros
d: Rainha de Ouros
1. Br Bd Ld P
Neste puzzle é apresentado à Alice dois personagens: o Rei e a Rainha de Ouros. Para
obter as premissas deste enigma, é usado o seguinte trecho: “ - Sua pobre esposa é real-
35
mente louca? - perguntei-lhe (Duquesa), com simpatia. - Ela acredita que sim -, respondeu
o Rei.” A resposta do Rei é interpretado do seguinte modo:
“É impossível que alguém nessa situação acreditasse ser louco, pois uma
pessoa sadia saberia da verdade de ser sã, e uma pessoa louca acreditaria
erroneamente ser sã. Portanto, a Rainha não acreditaria realmente que
era louca, de modo que o Rei era louco por acreditar que ela acreditava.
Nada se pode deduzir com respeito à sanidade da Rainha.”
[SMULLYAN, 2000, p. 154]
1. Br Bd Ld P
2. Bd Ld H
3. ¬Ld H
4. Ld ↔ Bd Ld 3 R2
5. Bd Ld → Ld 4 BC
6. Ld 2,5 MP
7. Ld ∧ ¬Ld 3,6 C
8. ¬¬Ld 3 - 7 RAA
9. Ld 8 DN
10. Bd Ld ↔ ¬Ld 9 RL1
11. Bd Ld → ¬Ld 10 BC
12. ¬Ld 2,11 MP
13. Ld ∧ ¬Ld 9,12 C
14. ¬Bd Ld 2 - 13 RAA
15. ¬Lr H
16. Br Bd Ld ↔ Bd Ld 15 R2
17. BrBd Ld → Bd Ld 16 BC
18. BdLd 1,17 MP
19. Bd Ld ∧ ¬Bd Ld 14,18 C
20. ¬¬Lr 15-19 RAA
21. Lr 20 DN
36
Primeiramente, provaremos por redução ao absurdo, que “é impossível que alguém nessa
situação acreditasse ser louco”. Se supor que a Rainha de Ouros acredita que ela é
louca(linha 2), isso obviamente nos levará a uma contradição (linha 13). Então, “a Rai-
nha não acreditaria realmente que era louca” (linha 14). Isso leva a afirmação de que o Rei
é louco (linha 21), pois ele acreditava em algo falso.
3.6.1 Linguagem
Constantes Individuais:
c: Chapeleiro
l: Lebre de Março
e: Leirão
Neste puzzle, Alice apresenta três personagens: Chapeleiro, Lebre de Março e Leirão. A
Duquesa, aproveitando a oportunidade, lança um puzzle mais complexo que os anteriores,
pois trata de três personagens e duas premissas. Assim, ela lança a seguinte frase: “o
Chapeleiro externou, certa vez, a crença em que a Lebre de Março não acredita que todos
os três sejam sadios”. Para podermos formalizar a frase anterior, nós a interpretamos do
seguinte modo:
37
O Chapeleiro acredita que o Leirão não acredita que o Chapeleiro, o Leirão e a Lebre de
Março não são loucos
“Suponhamos que o Chapeleiro seja são. Nesse caso, sua crença é cor-
reta, o que significa que a Lebre de Março não crê que todos os três sejam
sadios. Portanto, a Lebre de Março deve ser sã, porque, se fosse louca,
acreditaria na preposição falsa de que todos três são sadios. Logo, o Lei-
rão, acreditando que a lebre de Março é sã, deve ser são, o que torna
todos os três sadios. Mas, se assim fosse, como poderia a sadia Lebre de
Março deixar de acreditar na proposição verdadeira de que todos os três
eram sadios? É contraditório, portanto, presumir que o Chapeleiro seja
são; na verdade, ele deve ser louco.
Uma vez que o Chapeleiro é louco, sua crença está errada, e portanto, a
Lebre de Março acredita que todos os três são sadios. É claro que a Lebre
de Março está errada (já que o Chapeleiro não é são), donde a Lebre de
Março também é louca. Assim, o Leirão, acreditando que a Lebre de Março
é sadia, também é louco, de modo que todos três são loucos (o que não
chega a ser muito surpreendente!).” [SMULLYAN, 2000, p. 154]
38
Inicialmente, provaremos que o Chapeleiro é louco, por redução ao absurdo. Vamos supor
que o Chapeleiro não seja louco (linha 3). “Nesse caso, sua crença é correta, o que
significa que a Lebre de Março não crê que todos os três sejam sadios” (linha 6). Isso
nos leva a afirmação de que a Lebre de Março e o Leirão não são loucos (linha 15 e 21),
tornando os três personagens não loucos (linha 23). “Mas, se assim fosse, como poderia
a sadia Lebre de Março deixar de acreditar na proposição verdadeira de que todos os três
eram sadios? É contraditório, portanto, presumir que o Chapeleiro seja são” (linha 27). Por
isso, o Chapeleiro é louco (linha 29).
Se o Chapeleiro é louco, então “a Lebre de Março acredita que todos os três são sadios”
(linha 33). Isso significa que a Lebre de Março é louca (linha 41), porque acredita numa
falsidade, de que o Chapeleiro é são. Se concluí também que o Leirão é louco (linha 48),
pois acredita que a Lebre não é louca.
3.7.1 Linguagem
Constantes Individuais:
g : Grifo
l: Lagosta
f : Falsa Tartaruga
1. Bl Bg α P
2. Bf ¬Lg P
É apresentado a Alice pela Duquesa, os três personagens do presente puzzle: Grifo, La-
gosta e Falsa Tartaruga. Nas palavras da Duquesa: “certa vez a Lagosta disse acreditar
que o Grifo acredita que exatamente um dos três é são”. Para poder formalizar esta ex-
pressão, presente na linha 1, se necessita interpretá-la da seguinte maneira:
A Lagosta acredita que o Grifo acredita que um das três alternativas acontece:
(iii) a Falsa Tartaruga não é louca, mas o Grifo e a Lagosta são ambos loucos.
1. Bl Bg α P
2. Bf ¬Lg P
3. ¬Lf H
4. Bf ¬Lg ↔ ¬Lg 3 R2
5. Bf ¬Lg → ¬Lg 4 BC
6. ¬Lg 2,5 MP
7. ¬Lf → ¬Lg 3 - 6 RAA
8. Lf H
9. Bf ¬Lg ↔ ¬¬Lg 8 RL1
10. Bf ¬Lg → ¬¬Lg 9 BC
11. ¬¬Lg 2,10 MP
12. Lg 11 DN
13. Lf → Lg 8 - 12 RPC
14. ¬Lg H
15. ¬Lf 13,14 MT
16. ¬Lg → ¬Lf 14 - 15 RPC
17. ¬Lg ↔ ¬Lf 7,16 CB
42
18. ¬Ll H
19. Bl Bg α ↔ Bg α 18 R2
20. Bl Bg α → Bg α 19 BC
21. Bg α 1,20 MP
22. ¬Lg H
23. Bg α ↔ α 22 R2
24. Bg α → α 23 BC
25. α 21,24 MP
26. (¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf H
27. ¬Ll ∧ Lg 26 S
28. Lg 27 S
29. Lg ∧ ¬Lg 22,28 C
30. ¬((¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf ) 26 - 29 RAA
31. ((Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf ) ∨ ((Ll ∧ Lg) ∧ ¬Lf ) 25,30 SD
32. (Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf H
33. Ll ∧ ¬Lg 32 S
34. Ll 33 S
35. Ll ∧ ¬Ll 18,34 C
36. ¬((Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf ) 32 - 35 RAA
37. (Ll ∧ Lg) ∧ ¬Lf 31,36 SD
38. Ll ∧ Lg 37 S
39. Lg 38 S
40. Lg ∧ ¬Lg 22,39 C
41. ¬¬Lg 18 - 40 RAA
42. Lg 41 DN
43. ¬¬Lf 7,41 MT
44. Lf 43 DN
45. ¬Ll ∧ Lg 18,42 C
46. (¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf 44,45 C
47. α 46 E
48. Bg α ↔ ¬α 42 RL1
49. Bg α → ¬α 48 BC
50. ¬α 21,49 MP
51. α ∧ ¬α 47,50 C
52. ¬¬Ll 18 - 51 RAA
53. Ll 52 DN
54. Lg H
43
55. α H
56. ¬¬Lg 54 ND
57. ¬¬Lf 16,56 MT
58. Lf 57 DN
59. (¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf H
60. ¬Ll ∧ Lg 59 S
61. ¬Ll 60 S
62. Ll ∧ ¬Ll 53,61 C
63. ¬((¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf ) 59 - 62 RAA
64. ((Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf ) ∨ ((Ll ∧ Lg) ∧ ¬Lf ) 55,63 SD
65. (Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf H
66. Ll ∧ ¬Lg 66 S
67. ¬Lg 67 S
68. Lg ∧ ¬Lg 54,67 C
69. ¬((Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf ) 65 - 68 RAA
70. (Ll ∧ Lg) ∧ ¬Lf 64,69 SD
71. ¬Lf 70 S
72. Lf ∧ ¬Lf 58,71 C
73. ¬α 55 - 72 RAA
74. Bg α ↔ ¬α 54 RL1
75. ¬α → Bg α 74 BC
76. Bg α 73,75 MP
77. Bl Bg α ↔ ¬Bg α 53 RL1
78. Bl Bg α → ¬Bg α 77 BC
79. ¬Bg α 1,78 MP
80. Bg α ∧ ¬Bg α 76,79 C
81. ¬Lg 54 - 80 RAA
82. ¬Lf 16,81 MP
Até a linha 17, é provado a explicação de Smullyan que “o Grifo e a Falsa Tartaruga devem
ser iguais”. Mas antes disso, é provado as preposições “Se a Falsa Tartaruga é sadia, sua
crença é correta, o que significa que o Grifo também é são” (linha 7) e “se a Falsa Tartaruga
é louca, sua crença é errada, o que significa que o Grifo não é naturalmente sadio, mas
também é louco” (linha 13).
A próxima argumentação é para demonstrar, por absurdo, que a Lagosta é louca (linha
53). Então, é suposto que a Lagosta não é louca (linha 18), e acontece o que ela acredita,
ou seja, o Grifo “acredita que exatamente um dos três é são” (linha 21). Isso mostra que,
por redução ao absurdo, o Grifo é louco (linha 42). E “ se o Grifo é louco, é verdade que
44
exatamente um deles é são” (linha 47). “Porém uma criatura louca não pode acreditar
numa afirmação verdadeira! Portanto, presumir que a Lagosta é sã leva a uma contradição
” (linha 51).
Ao conseguir provar que a Lagosta é louca, também poderemos descobrir se o Grifo
e a Falsa Tartaruga são loucos, através do método de redução ao absurdo. Vamos supor
que o Grifo é louco (linha 54). “Se o Grifo é louco, a Falsa Tartaruga também o é”(linha 58),
levando a afirmação de que não é possível que exatamente um deles não seja louco (linha
73). O Grifo, por ser louco, deve acreditar que exatamente um dos três não é louco (linha
76). Mas isso se confronta com a informação de que o Grifo não acredita nisso (linha 79),
levando a uma contradição (linha 80). Agora sabemos que o Grifo e a Tartaruga não são
loucos (linhas 81 e 82).
- Sabe - disse Alice, em voz muito baixa, olhando em volta para ver se a
Rainha de Copas não estava por perto, podendo ouvi-la -, estou particu-
larmente interessada em saber sobre o Rei e a Rainha de Copas. O que
eles são?
- Ah - disse a Duquesa -, essa é realmente uma história interessante! A
Rainha acredita que o Rei acredita que a Rainha acredita que o Rei acre-
dita que a Rainha é louca.
-Ora, isso é demais! - exclamou Alice. Acho que eu vou enlouquecer se
tentar decifrar esse enigma!
- Muito bem - disse a Duquesa, bem humorada -, vamos tentar outro mais
fácil, primeiro. Por exemplo, pense no Rei e na Rainha de Espadas.
Houve uma longa pausa
- Que é que há com o Rei e a Rainha de Espadas? - indagou Alice.
- Bom, a Rainha acredita que o Rei acredita que ela é louca. O que você
pode me dizer sobre o Rei e a Rainha de Espadas? [SMULLYAN, 2000,
p. 35-36]
3.8.1 Linguagem
Constantes Individuais
e: Rei de Espadas
a: Rainha de Espadas
1. Ba Be La P
45
A formalização acima é a crença da Rainha de Espadas que o Rei acredita que ela é louca.
O outro enigma proposto pela Duquesa, que a Rainha acredita que o Rei acredita que a
Rainha acredita que o Rei acredita que a Rainha é louca, será resolvido somente no puzzle
22.
“A Rainha (de Espadas) acredita que o Rei acredita que ela é louca. Se
ela é sadia, o Rei de fato acredita que é louca, o que significa que o Rei
deve ser louco. Se ela é louca, Rei não acredita realmente que ela o seja,
mas acreditaria se fosse sadio. Logo, também nesse caso, o Rei é louco.
Portanto, em qualquer dos dois casos, o Rei deve ser louco. Quanto à
Rainha, ela pode ser qualquer das duas coisas.”
[SMULLYAN, 2000, p. 155-156]
46
1. Ba Be La P
2. ¬La H
3. Ba Be La ↔ Be La 2 R2
4. Ba Be La → Be La 3 BC
5. Be La 1,4 MP
6. ¬Le H
7. Be La ↔ La 2 R2
8. Be la → La 7 BC
9. La 5,8 MP
10. La ∧ ¬La 2,9 C
11. ¬¬Le 6 - 10 RAA
12. Le 11 DN
13. ¬La → Le 2 - 12 RPC
14. La H
15. Ba Be La ↔ ¬Be La 14 RL1
16. Ba Be La → ¬Be La 16 BC
17. ¬Be La 1,16 MP
18. ¬Le H
19. Be La ↔ La 18 R2
20. La → Be La 19 BC
21. Be La 14,20 MP
22. Be La ∧ ¬Be La 17,21 C
23. ¬¬Le 19 - 22 RAA
24. Le 23 DN
25. La → Le 14-24 RPC
26. ¬Le H
27. ¬La 25,26 MT
28. Le 13,27 MP
29. Le ∧ ¬Le 26,28 C
30. ¬¬Le 26-29 RAA
31. Le 30 DN
Será provado que independente do caminho que seguiremos, o Rei sempre será louco.
Vamos supor que a Rainha é sã (linha 2). Então “o Rei de fato acredita que é louca” (linha
5). Se assumirmos que o Rei é são, isso só pode levar a uma contradição (linha 10), pois
o Rei são acredita em algo impossível. Logo, nesse caso, o rei é louco (linhas 12-13).
47
Mas Se a Rainha for louca (linha 14), então “o Rei não acredita realmente que ela o
seja” (linha 16) e, portanto, nesse caso o Rei também será louco (linhas 24 e 25). Por isso
que concluímos que, independente da Rainha ser ou não louca, o Rei tem que ser louco
(linha 31).
- Você acertou essa com muita facilidade - disse a Duquesa. Agora, que
diria seu eu lhe dissesse que o Rei de Paus acredita que a Rainha de
Paus acredita que o Rei de Paus acredita que a Rainha de Paus é louca?
[SMULLYAN, 2000, p. 37]
3.9.1 Linguagem
Constantes Individuais:
e: Reis de Paus
a: Rainha de Paus
1. Be Ba Be La H
Aqui temos um puzzle que foge a regra dos anteriores, pois começa com uma hipótese.
Chegamos a esta conclusão quando a Duquesa fala com Alice do seguinte modo: “que
diria se eu lhe dissesse”. Em outras palavras, a Duquesa quis supor que ela disse algo.
A fórmula acima é a formalização da frase “o Rei de Paus acredita que a Rainha de
Paus acredita que o Rei de Paus acredita que a Rainha de Paus é louca”.
“É impossível que o Rei acredita que a Rainha acredita que o Rei acredita
que a Rainha é louca, pois, vamos supor que o Rei realmente acreditasse
nisso. Suponhamos que o Rei seja sadio. Nesse caso, a Rainha realmente
acredita que o Rei acredita que ela é louca, mas, como vimos no último
quebra-cabeça, isso significa que o Rei é louco. Assim, se o Rei for sadio,
ele será louco - donde o Rei não pode ser sadio; é louco. Sendo assim, sua
crença é falsa, donde a Rainha não acredita realmente que o Rei acredita
48
que ela é louca. Ora, a Rainha é sadia ou é louca. Se for sadia, sua crença
será correta, donde é verdade que o Rei não acredita que ela é louca, logo
acreditando que ela é sadia. Nesse caso, o Rei tem razão, e temos a
impossibilidade de que um Rei louco acredite numa coisa verdadeira. Por
outro lado, se a Rainha é louca, sua crença é errada, de modo que o Rei
realmente acredita que ela é louca, o que novamente faz com que o Rei
seja são, o que ele não é. Em qualquer lugar dos dois casos, portanto,
chegamos a uma contradição.
Isso prova que simplesmente não é possível que o Rei acredite que a Rai-
nha acredita que o Rei acredita que ela é louca. Logo, se a Duquesa
dissesse isso a Alice, ela é que teria que ser louca! Ocorre, é claro, que
ela não disse isso a Alice; tudo o que disse foi: ‘que diria se eu lhe dis-
sesse. . . ’ ”
[SMULLYAN, 2000, p. 156]
49
1. Be Ba Be La H
2. ¬Le H
3. Be Ba Be La ↔ Ba Be La 2 R2
4. Be Ba Be La → Ba Be La 3 BC
5. Ba Be La 1,4 MP
6. Le 5 puzzle 20
7. Le ∧ ¬Le 2,6 C
8. ¬¬Le 2 - 7 RAA
9. Le 8 DN
10. Be Ba Be La ↔ ¬Ba Be La 9 RL1
11. Be Ba Be La → ¬Ba Be La 10 BC
12. ¬Ba Be La 1,11 MP
13. ¬La H
14. Ba Be La ↔ Be La 13 R2
15. Be La → Ba Be La 14 BC
16. Be La H
17. Ba Be La 15,16 MP
18. Ba Be La ∧ ¬Ba Be La 12,17 C
19. ¬Be La 16 - 18 RAA
20. ¬Be ¬La H
21. Be ¬La ↔ ¬La 13 R2
22. ¬La → Be ¬La 21 BC
23. ¬¬La 20,22 MT
24. La 23 DN
25. ¬¬Be ¬La 20 - 24 RAA
26. Be ¬La 25 DN
27. Be ¬La ∧ ¬La 13,26 C
28. ¬La H
29. Be ¬La 27 S
30. ¬La → Be ¬La 28 - 29 RPC
31. Be ¬La H
32. ¬La 27 S
33. Be ¬La → ¬La 31 - 32 RPC
34. Be ¬La ↔ ¬La 30,33 CB
35. ¬Le 34 R2
36. Le ∧ ¬Le 9, 35 C
37. ¬¬La 13-36 RAA
50
38. La 37 DN
39. Ba Be La ↔ ¬Be La 38 RL1
40 ¬Be La → Ba Be La 39 BC
41. ¬¬Be La 12,40 MT
42. Be La 41 DN
43. Be La ∧ La 38,42 C
44. Be La H
45. La 43 S
46. Be La → La 44-45 RPC
47. La H
48. Be La 43 S
49. La → Be La 47-48 RPC
50. Be La ↔ La 46,49 CB
51. ¬La 50 R2
52. La ∧ ¬La 38, 51 C
O presente puzzle nos leva a uma contradição, porque “É impossível que o Rei acredita
que a Rainha acredita que o Rei acredita que a Rainha é louca”. Se o Rei é sadio (linha
2), então a Rainha acredita que o Rei acredita que ela é louca (linha 5). De acordo com
o puzzle 20, isto nos leva a afirmação de que o Rei é louco (linha 6), chegando a uma
contradição: o Rei é louco e não louco. Pode se concluir que “ o Rei não pode ser sadio;
é louco” (linha 9). Então “a Rainha não acredita realmente que o Rei acredita que ela é
louca” (linha 12). Vamos supor que a Rainha não é louca (linha 13). Isso significa que “o
Rei não acredita que ela é louca” (linha 19), o que é o mesmo que afirmar que o Rei está
“acreditando que ela é sadia” (Linha 26), levando a uma contradição (linha 36), pois o Rei
louco acredita em algo verdadeiro.
Por redução ao absurdo, chegamos a informação de que a Rainha é louca (linha 38),
por consequência, o Rei acredita que ela é louca (linha 42). Assim temos uma contradição
(linha 52), pois o Rei é louco e acredita em algo verdadeiro.
3.10.1 Linguagem
Constantes Individuais
e: Rei de Copas
a: Rainha de Copas
1. Ba Be Ba Be La P
1. Ba Be Ba Be La P
2. ¬La H
3. Ba Be Ba Be La ↔ Be Ba Be La 2 R2
4. Ba Be Ba Be La → Be Ba Be La 3 BC
5. Be Ba Be La 1,4 MP
6. La ∧ ¬La 5 puzzle 21
7. ¬¬La 2 - 6 RAA
8. La 7 DN
Vamos supor que a Rainha de Copas não é louca (linha 2). Então o Rei de Copas acredita
que a Rainha de Copas acredita que o Rei de Copas acredita que a Rainha de Copas é
louca (linha 5). Como vimos no puzzle anterior, isso nos leva a uma contradição (linha 6).
Concluímos, por redução ao absurdo, que a Rainha de Copas é louca (linha 8).
3.11.1 Linguagem
Constantes Individuais:
d: Dodó
p: Papagaio
a: Aguioto
1. Bd Bp La P
2. Bp Ld P
3. Ba ¬Ld P
53
Neste puzzle, a Duquesa apresenta três personagens: Dodó, Papagaio e Aguioto. A frase
“O Dodó acredita que o Papagaio acredita que o Aguito é louco” é formalizado por Bd Bp La.
E “O Papagaio acredita que o Dodó é louco” formalizamos por Bp Ld. A formalização Ba ¬Ld
é o resultado da frase “o Aguioto acredita que o Dodó é são”.
1. Bd Bp La P
2. Bp Ld P
3. Ba ¬Ld P
4. ¬Lp H
5. Bp Ld ↔ Ld 4 R2
6. Bp Ld → Ld 5 BC
7. Ld 2,6 MP
8. ¬Lp → Ld 4,7 RPC
9. Lp H
10. Bp Ld ↔ ¬Ld 9 R2
11. Bp Ld → ¬Ld 10 BC
12. ¬Ld 2,11 MP
13. Lp → ¬Ld 9 - 12 RPC
14. La H
15. Ba ¬Ld ↔ ¬¬Ld 14 RL1
16. Ba ¬Ld → ¬¬Ld 15 BC
17. ¬¬Ld 3, 16 MP
18. ¬Lp 13,17 MT
19. La → ¬Lp 14 - 18 RPC
20. ¬La H
21. Ba ¬Ld ↔ ¬Ld 20 RL1
22. Ba ¬Ld → ¬Ld 21 BC
23. ¬Ld 3,22 MP
24. ¬¬Lp 8,23 MT
25. Lp 24 DN
26. ¬La → Lp 20 - 25 RPC
27. ¬Bp La H
28. ¬Bp ¬La H
29. La H
30. Bp ¬La ↔ ¬¬La 29 RL1
31. ¬¬La → Bp ¬La 30 BC
32. ¬¬La 29 ND
33. Bp ¬La 31,32 MP
34. Bp ¬La ∧ ¬Bp ¬La 28,33 C
35. ¬La 29-34 RAA
36. Lp 26,35 MP
55
Se o Papagaio acredita que o Dodó é louco, então “o Papagaio e o Dodó são de tipos
opostos” (linhas 8 e 13). Se o Aguioto acredita que o Dodó não é louco, então ele é é
oposto do Papagaio (linhas 19 e 26). “Uma vez que o Papagaio é o contrário do Aguioto,
56
ele deve acreditar que o Aguioto é louco” (linha 58). Consequentemente, o Dodó e o
Aguioto não são loucos (linhas 67 e 69) e o Papagaio é louco (linha 70) .
“Alice resolveu o último enigma. -Acho que sei por que metade das pes-
soas daqui é louca - disse.
-Por quê? - perguntou a Duquesa.
-Acho que elas enlouqueceram tentando decifrar enigmas como esses.
Eles são terrivelmente confusos!
-Em matéria de enigmas confusos - respondeu a Duquesa -, esses não
são nada, comparados a alguns que eu poderia lhe contar, se quisesse!
-Oh, não precisa querer! - disse Alice, de maneira mais polida possível.
-Por exemplo, existe o Valete de Copas - continuou a Duquesa -; ele faz
companhia aos Jardineiros de Espadas, Um, Dois, Três, Quatro, Cinco,
Seis e Sete. Creio que você já conheceu o Dois, o Cinco e o Sete, não é?
-Ah, sim - lembrou-se Alice. Eles estavam tendo um trabalhão tentando
pintar rosas brancas de vermelho, porque haviam plantado por engano
uma roseira branca no jardim, em vez da roseira vermelha que a Rainha
tinha mandado.
-Bem - disse a Duquesa -, o Três acredita que o Um é louco. O Quatro
acredita que o Três e o Dois não são ambos loucos. O Cinco acredita
que o Um e o Quatro não são ambos loucos, ou então, ambos são. O Seis
acredita que o Um e o Dois são ambos sadios. O Sete acredita que o cinco
é louco. Quanto ao Valete de Copas, ele acredita que o Seis e o Sete não
são ambos loucos.
- E agora - prosseguiu a Duquesa -, você se importa em descobrir se o
Valete é louco ou são, ou prefere um quebra-cabeça mais confuso?
-Oh não - respondeu a pobre Alice -, esse já é bastante confuso, obrigada!
O Valete de Copas é louco ou são?” [SMULLYAN, 2000, p. 38]
3.12.1 Linguagem
Constantes Individuais
c1 : Um
c2 : Dois
c3 : Três
c4 : Quatro
c5 : Cinco
c6 : Seis
c7 : Sete
l: Valete
57
1. Bc3 Lc1 P
2. Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) P
3. Bc5 (Lc1 ↔ Lc4 ) P
4. Bc6 (¬Lc1 ∧ ¬Lc2 ) P
5. Bc7 Lc5 P
6. Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) P
Este é o último puzzle dentro do diálogo entre Alice e a Duquesa. Por isso, a Duquesa
apresenta o enigma que mais contém personagens e premissas. Isto reforça a ideia de
que Smullyan apresenta os enigmas partindo do simples ao complexo.
O puzzle 24 possui oito personagens: Um, Dois, Três, Quatro, Cinco, Seis, Sete e o
Valete.
A formalização da expressão “o Três acredita que o Um é louco” é dado por Bc3 Lc1
(linha 1). A frase “O Quatro acredita que o Três e o Dois não são ambos loucos” é forma-
lizado por Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) (linha 2). A sentença “O Cinco acredita que o Um e o Quatro
não são ambos loucos, ou então, ambos são” é formalizado por Bc5 (Lc1 ↔ Lc4 ) (linha 3).
Na expressão “O Seis acredita que o Um e o Dois são ambos sadios” é formalizado por
Bc6 (¬Lc1 ∧ ¬Lc2 ) (linha 4). A sentença “O Sete acredita que o cinco é louco” é formalizado
por Bc7 Lc5 (linha 5). A frase “Quanto ao Valete de Copas, ele acredita que o Seis e o Sete
não são ambos loucos” é formalizado por Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ).
Depois de lançar as premissas, a Duquesa faz para Alice a seguinte indagação: “você
se importa em descobrir se o Valete é louco ou são, ou prefere um quebra-cabeça mais
confuso?”. A partir disso, concluímos que a Duquesa deu as informações possíveis a Alice
para que ela resolva o problema.
“Provarei que, se Sete é louco, Seis deve ser sadio - e portanto, que o
Valete tinha razão ao acreditar que Seis e Sete não são ambos loucos.
Bem, suponhamos que Sete seja louco. Nesse caso, a crença de Sete
sobre Cinco está errada, donde Cinco é sadio. Sendo assim, a crença de
Cinco é correta, de modo que Um e Quatro são ambos loucos ou ambos
sãos. Ora, não é possível que Um e Quatro sejam ambos loucos. (Isso
porque, se Quatro fosse louco, sua crença seria errada, o que faria com
que Três e Dois fossem ambos loucos; entretanto, o fato de Três ser louco
significaria que Um é são, e não louco. Assim, se Quatro for Louco, Um de-
verá ser sadio, de modo que Um e Quatro não poderão ser ambos loucos.)
Portanto, Um e Quatro são ambos sãos. Uma vez que Quatro é são, Três e
Dois não são ambos loucos - pelo menos um deles é são. Entretanto, Três
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não pode ser são, porque acredita que Um é louco. Logo, o sadio deve ser
Dois. Assim, Um e Dois são ambos sãos. Isso significa que a crença de
Seis está certa, logo Seis deve ser sadio.
Demonstramos, portanto, que, se Sete é louco, Seis deve ser sadio. Logo,
não é possível que Sete e Seis sejam ambos loucos. Uma vez que o
Valete acredita que eles não são ambos loucos, o Valete deve ser são.”
[SMULLYAN, 2000, p. 157-158]
1. Bc3 Lc1 P
2. Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) P
3. Bc5 (Lc1 ↔ Lc4 ) P
4. Bc6 (¬Lc1 ∧ ¬Lc2 ) P
5. Bc7 Lc5 P
6. Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) P
7. Lc7 H
8. Bc7 Lc5 ↔ ¬Lc5 7 RL1
9. Bc7 Lc5 → ¬Lc5 8 BC
10. ¬Lc5 5,9 MP
11. Bc5 (Lc1 ↔ Lc4 ) ↔ (Lc1 ↔ Lc4 ) 10 R2
12. Bc5 (Lc1 ↔ Lc4 ) → (Lc1 ↔ Lc4 ) 11 BC
13. Lc1 ↔ Lc4 3,12 MP
14. Lc4 H
15. Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) ↔ ¬¬(Lc3 ∧ Lc2 ) 14 R2
16. Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) → ¬¬(Lc3 ∧ Lc2 ) 15 BC
17. ¬¬(Lc3 ∧ Lc2 ) 2,16 MP
18. Lc3 ∧ Lc2 17 DN
19. Lc3 18 S
20. Bc3 Lc1 ↔ ¬Lc1 19 RL1
21. Bc3 Lc1 → ¬Lc1 20 BC
22. ¬Lc1 1,21 MP
23. Lc4 → Lc1 13 BC
24. Lc1 14,23 MP
25. Lc1 ∧ ¬Lc1 22,24 C
59
Vamos supor que o Sete é louco (linha 7). “Nesse caso, a crença de Sete sobre Cinco
está errada, donde Cinco é sadio” (linha 10). Mas se o Cinco não é louco, então “Um e
Quatro são ambos loucos ou ambos sãos” (linha 13). Porém, não pode ocorrer de Quatro
ser louco, pois isso nos levaria a um absurdo (linha 25). Sabendo que o Quatro não é louco
(linha 26), então sua crença está correta e, portanto, Três e Dois não são ambos loucos
(linha 31). Mas o Três não pode ser são (linha 37), o que implica que é o Dois que é são
(linha 39). Como Um e Dois são ambos são, “Isso significa que a creça de Seis está certa,
logo Seis deve ser sadio” (linha 49). Isso siginifica que se Sete é louco, então Seis deve
ser sadio (linha 50). “Logo, não é possível que Seis e Sete sejam ambos loucos” (linha 56).
Então o Valete anunciou uma crença verdadeira, e portanto, ele não é louco (linha 65).
.
61
4 Considerações Finais
O desenvolvimento da presente pesquisa mostrou não apenas como formalizar alguns
puzzles de Raymond Smullyan. Como a Lógica da Loucura pode ser adaptada para o
contexto do Paradoxo de Epimênides, acreditamos que essa lógica pode ser usada nas
mais variadas situações. Além disso, ao formalizar o puzzle e o raciocínio do autor, se
permitiu analisar as diferenças entre a linguagem natural e linguagem formal.
Este trabalho não se propõe esgotar o tema. Ao contrário, temos a pretensão de mos-
trar o quanto ainda pode ser feito com os capítulos restantes de “Alice no País dos Enig-
mas”. Esperamos que este trabalho seja o começo de muitos.
Claramente, não temos nenhuma garantia que as regras e definições apresentadas
são de fatos consistentes. Poderíamos a chegar a uma contradição. Para isso, se faz
necessário um semântica para a Lógica da Loucura. Poderíamos ainda estabelecer uma
combinação da Lógica da Loucura com a Lógica da Mentira nos puzzles de Smullyan. Mas
esta tarefa será deixada para um futuro trabalho.
62
Referências
[CARNIELLI; EPSTEIN, 2005] CARNIELLI, W.; EPSTEIN, R. Computabilidade, Funções
Computáveis, Lógica e os Fundamentos da Matemática. Editora Unesp, São Paulo, SP,
2005
[CARROLL, 2018] CARROLL, L.. Alice: edição comentada e ilustrada. Jorge Zahar, Rio
de Janeiro, RJ, 2000.
[KOLANI, 1996] KOLANI, A. A General Method of Solving Smullyan’s puzzles. Logic and
Logical Philosophy, 4:97–103, 1996.
[MORTARI, 2001] MORTARI, C. A. Introdução à Lógica. Editora Unesp, São Paulo, 2001.
[SMULLYAN, 2000] SMULLYAN, R. Alice no País dos Enigmas. Jorge Zahar, Rio de
Janeiro, RJ, 2000.