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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

CAMPUS CHAPECÓ
CURSO DE FILOSOFIA

LUAN PAULO PEREIRA

A LÓGICA DA LOUCURA EM “ALICE NO PAÍS DOS ENIGMAS” DE SMULLYAN

CHAPECÓ
2018
UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL
CAMPUS CHAPECÓ
CURSO DE FILOSOFIA

LUAN PAULO PEREIRA

A LÓGICA DA LOUCURA EM “ALICE NO PAÍS DOS ENIGMAS” DE SMULLYAN

Orientador: Newton Marques Peron

Trabalho de Conclusão de Curso de


graduação apresentado como requisito
para a obtenção do título de licenciado
em Filosofia da Universidade Federal
da Fronteira Sul.

CHAPECÓ
2018
Resumo

No presente texto foram formalizados os puzzles (enigmas) presentes no capítulo 3 do


livro “Alice no País dos Enigmas” de Raymond Smullyan. Entretanto, não formalizamos
somente as premissas e as conclusões dos puzzles: também formalizamos o raciocí-
nio de como Smullyan chegou ao resultado. Para tanto, foi desenvolvida uma Lógica
da Loucura, baseada no Cálculo Proposicional Clássico. Concluímos que a linguagem
desenvolvida pode ser usada nas mais variadas ocasiões. Tendo em vista os aspec-
tos observados, isso nos permitiu analisar as diferenças entre a linguagem formal e a
linguagem natural.

Palavras-chave: Lógica da Loucura - Smullyan - Formalização - Puzzle.


Abstract

In the present text the puzzles present in the third chapter of the book “Alice in puz-
zle-Land - A Carrollian Tale for Children under Eighty”, by Raymond Smullyan, were
formalized. However, we do not formalize only the premises and conclusions of the
puzzles: we also formalize the reasoning of how Smullyan achieved the result. With this
purpose a Madness Logic was developed, based on Classical Propositional Calculus.
We conclude that the developed language can be used in the most varied occasions.
Having in mind the observed aspects, it allowed us to analyze the differences between
formal language and natural language.

Key-words: Madness Logic - Smullyan - Formalization - puzzles.


Sumário
1 A Linguagem Formal da Lógica da Loucura 7

2 Dedução Natural na Lógica da Loucura 13

3 Formalizações e Deduções no Capítulo “Quem é o louco” 25


3.1 Uma Introdução aos enigmas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2 Puzzle 14 - A Lagarta e o Lagarto Bill . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.3 Puzzle 15 - A Cozinheira e o Gato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.4 Puzzle 16 - Lacaio-Peixe e Lacaio-Rã . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.5 Puzzle 17 - O Casal de Ouro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.6 Puzzle 18 - Descobrindo a Sanidade Mental de Três Personagens . . . . . 36
3.7 Puzzle 19 - Quais destes três são Loucos? . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.8 Puzzle 20 - O casal de Espadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.9 Puzzle 21 - O Casal de Paus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.10 Puzzle 22 - Relembrando o puzzle sobre a Rainha de Copas . . . . . . . . 50
3.11 Puzzle 23 - O Dodó, o Aguioto e o Papagaio são Loucos? . . . . . . . . . . 52
3.12 Puzzle 24 - Um puzzle de Sete Personagens . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

4 Considerações Finais 61
6

Introdução
puzzles lógicos atualmente são encontrados em muitos lugares, partindo de bancas
de jornais a aplicativos para smartphones. Dentre os mais diversos tipos de puzzles, res-
saltamos o trabalho do renomado lógico e matemático estadunidense Raymond Smullyan.
Além de possuir em sua bibliografia uma vasta coleção de livros sobre lógica formal, possui
varios livros de puzzles matemáticos e lógicos. Com relação aos puzzles, foram traduzidos
para o português os seguintes livros: Alice no país dos enigmas, Os enigmas de Shera-
zade e A dama ou o tigre?.
Nossa pesquisa consiste em fazer um recorte do livro “Alice no País dos Enigmas”, ao
selecionar somente o capítulo 3 deste livro para uma análise. Em seguida, esses puzzles
foram comentados e formalizados. Mas para fazer isso foi necessário desenvolver uma
Lógica da Loucura, uma extensão do CPC (Cálculo Proposicional Clássico).
Para desenvolver a Lógica da Loucura, construímos a sua linguagem no capítulo 1. No
capítulo 2, desenvolvemos as regras para a dedução natural dessa lógica. Para finalizar,
no capitulo 3, o puzzle é formalizado com a linguagem do capítulo 1 e a resposta é obtida
aplicando as regras de dedução natural do capítulo 2.
7

1 A Linguagem Formal da Lógica da Loucura


Neste capítulo, introduziremos uma linguagem que pode ser vista como uma extensão
do Cálculo Proposicional Clássico (CPC) . Primeiramente será mostrado o seu conjunto
de símbolos básicos, isto é, o alfabeto de sua gramática. Depois, veremos as cláusulas
de construção de fórmulas, ou seja, sua gramática. Toda essa exposição está baseada no
Capítulo 6 de [MORTARI, 2001].
O alfabeto da Lógica da Loucura é composto pelos seguintes símbolos1 :

abcdef ghijklmnopqrs
L
0123456789
¬∧∨→↔B()

É a partir desses caracteres e por meio de uma linguagem da Lógica da Loucura que
todos os enigmas presentes no capítulo 3 de “Alice no País dos Enigmas” de Smullyan
serão formalizados.
As letras minúsculas

abcdef ghijklmnopqrs

são denominadas constantes individuais. Há, entretanto, um número bem limitado des-
sas constantes - 19, para sermos mais precisos. Para não nos restringirmos a essa limita-
ção, basta inserirmos subscritos, de acordo com a seguinte ordem:

a, b, c, . . . , s, a1 , b1 , . . . , s1 , a2 , . . .

Considerando que possuímos infinitos números naturais, também teremos uma infinidade
de constantes individuais. As letras maiúsculas são denominadas constantes de predica-
dos e teremos uma única constante desse tipo: a letra L.
Mas antes de dizer como serão apresentados e resolvidos os puzzles, é necessário
distinguir uma constante individual de uma constante de predicado. Nas constantes indi-
viduais, como o próprio nome diz, indicamos um indivíduo específico. Essas constantes
individuais também recebem na Lógica da Loucura o nome de termos2 . As constantes
1
A linguagem formal da Lógica da Loucura foi inspirada num dos operadores epistêmico de Hintikka. Em
sua linguagem formal, a fórmula Bc α significa em linguagem natural que o agente c acredita (em inglês,
believe) na sentença α, conferir [HENDRICKS;SYMONS, 2018]. O nosso único acréscimo foi o predicado L,
que será explicado adiante.
2
No Cálculo Quantificacional Clássico, os termos englobam constantes, variáveis e funções sobre os
termos, vide [MORTARI, 2001, p. 101]. Como em nossa linguagem não temos quantificadores, não há ne-
cessidade de variáveis. Assim, os termos e as constantes coincidem.
8

têm o mesmo papel que os nomes próprios na linguagem natural e servem para se referir
sempre ao mesmo indivíduo.
Além das letras minúsculas, a letra L, símbolos e subscritos listados, nenhum outro
símbolo pertence a nossa linguagem.
Entretanto, a Lógica da Loucura não consiste simplesmente de um amontoado de sím-
bolos, do mesmo modo que uma sentença na linguagem natural não é feita por um amon-
toado de palavras. É nessa parte da linguagem que entra a gramática. Seguindo nessa
linha de raciocínio, são as nossas regras para construção de fórmulas que determinam
quais são as expressões bem formadas. Por exemplo: “BaBiLe” e “asBf dL” são junções
de símbolos da Lógica da Loucura, mas somente a primeira é uma fórmula bem formada.
Analisemos a seguinte expressão:

(1) Andressa é louca.


(2) Daniela é louca.

Ao olhar com atenção a estrutura dos exemplos, se verifica que há dois indivíduos,
Andressa e Daniela, sujeitos da suas sentenças, que possuem a propriedade de ser louca.
Os exemplos recebem o nome de sentenças atômicas. O próximo passo para formalizar o
exemplo é substituir os nomes apresentados por uma letra minuscula. Conforme o alfabeto
apresentado no começo deste capítulo, o nome próprio “Andressa” pode ser substituída
pela letra “a”. O mesmo acontece com o outro nome, substituindo “Daniela” pelo termo “d”.

a é louca.
d é louca.

É importante colocar uma advertência: não se pode usar a mesmo símbolo para for-
malizar indivíduos diferentes. Quando houver a necessidade de transformar os nomes
“Rodrigo” e “Rodolfo” em linguagem formal, não é possível usar a letra “r” para os dois
indivíduos. Neste caso, pode-se utilizar a letra “r” para Rodrigo e “o” para Rodolfo, sendo
que o inverso também é válido. Não esquecendo que se pode usar os subscritos: usando
o exemplo anterior, pode-se colocar no lugar de “o” a letra “r” com o número 1 subscrito,
ficando “r1 ”.
Seguindo na construção da Lógica da Loucura, devemos formalizar a única proprie-
dade dos indivíduos, isto é, a constante de predicado. Para ela, usaremos uma única
letra maiúscula: L. Juntando as informações que temos sobre constantes de indivíduos e
predicado, podemos formalizar totalmente os exemplos apresentados anteriormente:

La
9

Ld

Isso significa que expressões como “Sócrates é louco” poderia ser formalizada por “Ls” e
“Maria é louca” teria como simbolo “Lm”. Por convenção, é colocada primeiro a constante
de predicado e depois a constante individual.
Retomemos as sentenças (1) e (2) apresentadas anteriormente. Partindo delas, pode-
se construir sentenças ainda mais complexas, como o exemplo abaixo:

(3) Andressa é louca e Daniela é louca.

Agora temos uma expressão bem formada juntando (1) e (2) por meio da conjunção
“e”. Mortari utiliza a seguinte metáfora para melhor compreensão sobre sentenças:

“A esse tipo de sentença - isto é, uma sentença que contém uma ou mais
sentenças como partes - chamamos de sentença molecular, ou complexa.
Para usar uma outra imagem, se você imaginar que sentenças atômicas
são tijolos, as sentenças moleculares serão como paredes e muros, cons-
truídas a partir de outras sentenças usando-se certas expressões (’e’,’ou’
etc.) como argamassa.” [MORTARI, 2001, p. 62]

Consideremos ainda o exemplo (3). Como já foi dito, ela é uma sentença molecular ou
complexa. Neste caso, foi o acréscimo do conectivo “e” que ligou duas sentenças atômicas
em uma única sentença molecular, do mesmo modo que uma argamassa liga dois tijolos.
A partir disso, se conclui que é a adição dos conectivos ou operadores lógicos que constrói
expressões complexas a partir de sentenças atômicas. Esses conectivos são explicados
nas linhas abaixo:

1. Negação: Simbolizado por ¬. Este símbolo representa expressões negativas como:


não, não é o caso que, nunca, etc. Nos puzzles, tais expressões são geralmente
usadas para negar que determinados indivíduos são loucos ou para afirmar que eles
não acreditam em determinadas expressões. Isso significa que frases como “Dou-
glas não é louco” são formalizadas pela seguinte fórmula molecular:

¬Ld

Pode-se notar que a sentença a ser negada ocorre à direita do símbolo de negação.
Isso é canônico, e será assim no texto inteiro. O uso de ¬¬Ld também é admitido,
com o intuito de negar a fórmula ¬Ld. A quantidade de símbolos de negação que
podem ser colocados um ao lado do outro é ilimitada.

2. Conjunção: Representado pelo símbolo ∧. Ele possui a finalidade de ligar e afirmar


duas expressões. Está presente em diversas frases, através das palavras: “mas”,
“e”, “todavia”, “ambos”, “no entanto”, “porém”, etc. A intenção aqui não é esgotar as
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palavras que remetem a conjunção, e sim termos uma base para a formalização dos
puzzles.

Tomemos um exemplo no uso de conjunção. A frase “Ricardo e Cristiano são ambos


loucos” é formalizada por:
Lr ∧ Lc

pois se entende que o indivíduo Ricardo é louco, o mesmo acontecendo com Cristi-
ano.

3. Disjunção: corresponde sobretudo às expressões que utilizam a palavra “ou”, forma-


lizado por ∨. Outras expressões também são usadas para descrever este símbolo,
como “‘ou . . . ou . . . ”,“ora . . . ora . . . ”,“. . . e/ou . . . ”. Isso significa que expressões
como ’Ou Carlos é louco ou Andressa não é louca’ é formalizado da seguinte ma-
neira:
Lc ∨ ¬La

4. Condicional: Simbolizado por →. Serve para indicar que a expressão à direita


é consequência lógica do que está a esquerda. Este conectivo se manifesta nos
puzzles nas mais diversas maneiras. Aplicando a um exemplo, foquemos na seguinte
expressão:
Lc → ¬Ld

Todas as frases a seguir são formalizadas da maneira acima:

• Se Cristiano é louco, então Douglas não é louco;


• Cristiano é louco somente se Douglas não for louco;
• Douglas não é louco, se Cristiano for;
• Cristiano ser louco é condição suficiente para Duglas não ser;
• Douglas não ser louco é condição necessária para Cristiano ser.

5. Bi-condicional: Formalizado pelo símbolo ↔.

O conectivo bi-condicional está presente na seguinte expressõe: “Carlos é louco se e


somente se Rodrigo não for louco”. A interpretação desse exemplo é que a existência
de um indivíduo Carlos ser louco leva à existência do indivíduo Rodrigo não ser louco,
sendo a recíproca também verdadeira. Pelo que dissemos anteriormente, podemos
estabelecer a seguinte relação:

Lc ↔ ¬Lr é equivalente a (Lc → ¬Lr) ∧ (¬Lr → Lc)


11

6. Operador B : Este símbolo representa a formalização de que determinado indivíduo


tem a crença sobre algo. A frase “João acredita que Lucas não é louco” é formalizada
da seguinte maneira:
Bj ¬Ll

7. Parênteses: O seu uso serve para eliminar as possíveis ambiguidades que possam
surgir ao formalizar uma expressão. Considere a seguinte fórmula como exemplo:

Bc La → ¬La ∧ Lc

Essa fórmula pode estar querendo simbolizar duas sentenças em língua natural bem
diferentes:

(4) Se Cristiano acredita que André é louco, então André não é louco mas Cristiano
é louco.

(5) Se Cristiano acredita que André é louco, então Andre não é louco. Mas Cristiano
é louco.

Ambas as interpretações são possíveis. Mas podemos eliminar a ambiguidade da


linguagem natural, respeitando a pontuação original por meio de parênteses. Desse
modo, as senteças (4) é formalizada por:

Bc La → (¬La ∧ Lc)

Já a sentença (5) seria formalizada por:

(Bc La → ¬La) ∧ Lc

Baseado nas afirmações anteriores e em [MORTARI, 2001] cap. 6 e 7, apresentamos


a seguinte definição com respeito ao alfabeto da linguagem da Lógica da Loucura:

Definição 1. A Lógica da Loucura consiste em:

1. Um conjunto enumerável de constantes individuais;

2. Uma única constante unária de predicado;

3. operadores;

4. sinais de pontuação.
12

Quando usamos a palavra “expressão”, queremos dizer que é qualquer sequência de


símbolos do alfabeto da nossa linguagem. Ressaltamos que nem todas as expressões são
bem formadas.
Com respeito aos nossos termos, adaptamos de [MORTARI, 2001] cap. 6 do seguinte
modo:

Definição 2.
Os termos de uma linguagem da loucura são as suas constantes individuais.

No que diz respeito às fórmulas da nossa linguagem, adaptamos de [MORTARI, 2001]


cap. 6 do seguinte modo:

Definição 3.

(i) Se t é um termo, então Lt é uma fórmula atômica;

(ii) Se α e β são formulas, então ¬α, (α ∨ β ), (α ∧ β ), (α → β ), e (α ↔ β ) são fórmulas


moleculares;

(iii) se t é um termo e α é uma fórmula, então Bt α é uma fórmula;

(iv) Nada mais é uma fórmula.

Dadas essas definições, temos um critério para distinguir termo e fórmula. Além disso,
sabemos que as letras minúsculas de t,. . . ,z, não estão presentes na nossa linguagem. O
mesmo ocorre como as letras maiúsculas de A,. . . ,J e M, . . . , Z. É importante notar que
as letras α, β e t não fazem parte do nosso alfabeto. Elas são metavariáveis, ou seja,
variáveis fora da linguagem. As letras α e β são metavariáveis para fórmulas, enquanto t
é uma metavariável para termos.
Tambem é importante notar que, a rigor, a sentença “Bc La → (¬La ∧ Lc)” deveria ser
escrita do seguinte modo:
(Bc La → (¬La ∧ Lc))

Isso porque como “Bc ” é uma fórmula e “(¬La ∧ Lc)” é uma fórmula, pela cláusula (ii) da
Definição 3 temos que “(Bc La → (¬La ∧ Lc))” também é uma fórmula. Mas os parênteses
mais externos e qualquer outro parêntese que não ajude na eliminação de ambiguidades
serão eliminados. Isso para facilitar a leitura.
Sendo que já possuímos a linguagem formal necessária para formalizar os puzzles,
necessitamos de certas regras para a resolução dos seus problemas. É a elas que dedi-
caremos o próximo capítulo.
13

2 Dedução Natural na Lógica da Loucura


Temos até agora, o conhecimento necessário para formalizar as premissas dos puzzles
presentes no terceiro capítulo do livro “Alice no País dos Enigmas”. Mas além de lançar o
enigma, Raymond Smullyan também lança a sua resposta no final do livro. Nossa tarefa é,
além de formalizar as premissas, formalizar o raciocínio do autor que o levou a resolução
do problema. A maneira como isso vai ser trabalhado é desenvolvida no decorrer deste
capítulo, baseado nos capítulos 14 e 15 de [MORTARI, 2001].
O método que melhor se identifica para formalizar o raciocínio do puzzle é a dedução
natural.Smullyan parte de premissas e um conjunto de regras, que ao serem aplicadas nas
premissas, nos leva a conclusões intermediarias. Somente depois é exposta a resposta do
puzzle. Esse mesmo tipo de raciocínio também se aplica na dedução natural. Neste caso,
partimos de fórmulas atômicas e moleculares para chegar em conclusões intermediárias e
depois obtemos uma conclusão. Mortari nos dá a seguinte explicação sobre o que é uma
dedução natural:

“Uma dedução é construída da seguinte maneira: primeiro, fazemos uma


lista das premissas que estão ao nosso dispor, colocando uma em cada
linha, e escrevendo ‘P’ ao lado, para indicar que se trata de uma premissa.
Cada linha em uma derivação é enumerada, e deve-se ter uma ‘justifica-
tiva’ para a fórmula que nela se encontra.” [MORTARI, 2001, p. 236].

Nada é melhor que esclarecer com exemplos. Imaginemos o seguinte argumento:

P1 : Se Alice não é louca, então a Duquesa é louca.


P2 : Alice não é louca.
C: A Duquesa é louca.

Usamos “P1 ” e “P2 ” para mostrar as premissas e a letra “C” para conclusão do argu-
mento. No entanto, para se provar formalmente a resposta dos puzzles, necessitamos
formalizar as expressões acima. Para fazer isso, basta aplicar o método de formalização
do capítulo anterior nos exemplos acima, que é expresso, em dedução natural, do seguinte
modo:

1. ¬Lc → Ld P
2. ¬Lc P
3. Ld 1,2 MP

É importante salientar algo sobre as deduções que surgirão ao longo do texto. Todas
elas possuem a seguinte notação: toda linha deve ser numerada, uma embaixo da outra
e a sua justificativa ao lado direito (sendo ”P” para premissa, ”H” para hipótese, ou uma
abreviação das regras que mostraremos abaixo). Uma dedução pode ser chamada de um
14

processo transformatório de símbolos, pois foi gerado uma fórmula “Ld”, partindo de outras
fórmulas, “¬Lc → Ld” e “¬Lc”.
A letra “P” indica que a fórmula à esquerda é premissa, isto é, algo que sabemos de
antemão. Neste caso, temos duas nas linhas 1 e 2. A linha 3 é um resultado de aplicação
de regra denominada Modus Ponens.
Essas regras de inferência primárias possuem o seguinte significado:

“são postuladas, isto é, aceitas sem demonstração. Antes que você re-
clame que isso pode ser escandaloso, note que, obviamente, não há como
demonstrá-las: para tanto, teríamos que empregar outras regras - as quais
deveríamos ter aceito anteriormente.” [MORTARI, 2001, p. 237]

Isso não significa que podemos escolher qualquer regra. Se as regras nos levarem a
uma contradição, ou seja, se a partir delas provamos que algo acontece e não acontece
ao mesmo tempo, então essa regra não é aceita no nosso conjunto de regras primárias.
Pois se aceitarmos toda e qualquer regra, nossa Lógica da Loucura será simplesmente um
amontoado de símbolos.
Mortari nos apresenta em [MORTARI, 2001, p. 242] um conjunto de oito regras primá-
rias para o fragmento proposicional do Cálculo Quantificacional Clássico CQC. Para nossa
Lógica da Loucura, acrescentaremos uma única regra a esse fragmento proposicional, a
Regra da Loucura I (RL1). Ao todo, teremos as seguintes regras primárias diretas:
15

Dupla Negação (DN ) Modus Ponens(M P ) :

¬¬α α → β, α
α β

Conjunção (C) : Separação(S)

α, β α∧β α∧β
α∧β α β

Expansão (E) : Silogismo Disjuntivo (SD)

α β α ∨ β, ¬α α ∨ β, ¬β
α∨β α∨β β α

Condicionais para Bicondicionais para


Bicondicional (CB) : Condicional (BC) :

α → β, β → α α↔β α↔β
α↔β α→β β→α

Regra da Loucura I (RL1) :

Lt Bt α ↔ ¬α
Bt α ↔ ¬α Lt

Figura 1: Regras Primitivas Diretas

Ao observar a figura anterior, se nota que existe uma ou mais fórmulas acima da linha
vertical. Premissa é o que está acima da linha e conclusão é o que está embaixo. Em
outras palavras, a fórmula que está abaixo desta linha pode ser derivada, a partir da regra
condizente, partindo da fórmula que está acima.
Sendo assim, conseguimos estabelecer quando uma fórmula é consequência de outra.
Então temos a seguinte definição:
16

Definição 4. ”Seja Γ um conjunto qualquer de fórmulas e α uma fórmula.


Uma dedução de α a partir de Γ é uma sequência finita δ1 , . . . , δn de fórmu-
las, tal que δn = α e cada δi tal que 1 ≤ i ≤ n é uma fórmula que pertence
a Γ ou foi obtida a partir de fórmulas que aparecem antes na sequência,
por meio da aplicação de alguma regra de inferência.” [MORTARI, 2001, p.
242]

No nosso exemplo anterior, o conjunto Γ de fórmulas é formado por “¬Lc → Ld” e “¬Lc”,
ou seja, as premissas. As linhas 1 e 2 são fórmulas que estão em Γ. Já a fórmula “Ld”,
que aparece na linha 3, foi obtida aplicando a regra de inferência Modus Ponens nas duas
fórmulas que aparecem antes na sequência. A Definição 4 nos garante que nosso exemplo
é uma dedução da fórmula “Ld” a partir do conjunto Γ formado por “¬Lc → Ld” e “¬Lc”.
Voltemos a focar na figura para analisar cada regra primária separadamente. Comece-
mos com a regra Dupla Negação. Esse tipo de regra nos permite obter α partindo de uma
fórmula ¬¬α. Isso significa que frases do tipo “Não é o caso de Andressa não ser louca”
significam que “Andressa é louca”. Essa regra é exibida abaixo:

1. ¬¬La P
2. La 1 DN

As próximas duas regras envolvem o operador ∧. A regra Conjunção (C) nos permite
acrescentar o operador. Aplicando isso a um exemplo: se temos duas premissas separa-
das “Andressa é louca” e “Daniela é louca”, podemos concluir que “Andrea e Daniela são
loucas”. Isso quer dizer que podemos juntar duas fórmulas α e β com operador ∧. Se
formalizarmos esse raciocínio por meio de uma dedução natural, teremos o seguinte:

1. La P
2. Ld P
3. La ∧ Ld 1,2 C

Ao contrário da regra acima, se aplicarmos a regra Separação (S), o operador ∧ é reti-


rado. Se temos frases como “Andressa e Daniela são loucas”, é possível obter “Andressa
é louca” e “Daniela é louca” separadamente.

1. La ∧ Ld P
2. La 1S
3. Ld 1S

Também podemos incluir e excluir o símbolo ∨ durante as deduções. Para a inclusão,


temos a regra Expansão (E). Se possuo a seguinte sentença “Andressa é louca”, se pode
concluir “ou Andressa é louca ou Daniela é louca”. Isso acontece na dedução abaixo:

1. La P
2. La ∨ Ld 1 E
17

Para excluir o símbolo ∨, existe a regra Silogismo Disjuntivo (SD). Se possuímos duas
premissas, sendo a primeira premissa “Ou Andressa é louca ou Daniela é Louca” e em
seguida temos “Andressa não é louca”, aplicando a presente regra, podemos concluir que
“Daniela é louca”.

1. La ∨ Ld P
2. ¬La P
3. Ld 1,2 SD

Também existe a regra Modus Ponens (MP), exibida anteriormente. Se tivermos como
premissas “Se Daniela é louca, então Andressa também é” e “Daniela é louca”’, concluímos
que “Andressa é louca”. Podemos formalizar esse argumento logo abaixo:

1. Ld → La P
2. Ld P
3. La 1,2 MP

Também há regras para eliminar e introduzir o símbolo ↔. Para eliminá-lo, temos a


regra Bicondicional para Condicionais (BC), exemplificado do seguinte jeito: se possuímos
uma premissa como “Daniela é louca se e somente se Andressa também for”, então é
possível obter as sentenças isoladas “Se Daniela é louca, Andressa também é” e “Se
Andressa é louca, então Daniela também é”.

1. Ld ↔ La P
2. Ld → La 1 BC
3. La → Ld 1 BC

Há uma maneira de se obter o símbolo ↔, simplesmente invertendo a argumentação


acima. Para se fazer isso, existe a regra Condicionais para Bi-condicional (CB). Para fins
práticos, segue a dedução abaixo:

1. Ld → La P
2. La → Ld P
3. Ld ↔ La 1,2 CB

Para explicação da Regra da Lógica da Loucura, abreviada como (RL1), é necessário


adentrarmos no dialogo entre Alice e a Duquesa, presente em “Alice no País dos Enig-
mas”3 . Em um determinado momento do diálogo, a Duquesa fala a seguinte afirmação a
respeito das pessoas loucas:
3
A Rgra da Loucura foi inspirada na Lógica da Mentira proposta por Adam Kolany em [KOLANI, 1996].
Nessa lógica, T a é lido como o indivíduo a é um true-teller, ou seja, um indivíduo que só diz a verdade. Já a
fórmula a.α significa que o indivíduo a disse a fórmula α. A Lógica da Mentira pode ser obtida acrecentando
18

“- Quando digo totalmente loucas - prosseguiu a Duquesa, (. . . ) quero


dizer exatamente o que digo: Elas são completamente delirantes! Todas
as suas crenças são erradas - não apenas algumas, mas todas. Tudo o
que é verdadeiro elas acreditam que é falso, e tudo que é falso, acreditam
que é verdadeiro.” [SMULLYAN, 2000, p.31-32 ]

Para a formulação da Regra da Loucura I (RL1), necessitamos interpretar a citação acima


de dois modos: (i) se um indivíduo é louco, então podemos inferir que ele acredita em algo
se e somente se essa crença não for o caso; (ii) se o individuo acredita em algo e esse
algo não é o caso ou, reciprocamente, se algo não é o caso e o indívuo acredita nesse
algo, então podemos inferir que o indivíduo é louco.
Consideremos o seguinte exemplo. Se temos como premissa a sentença “Carlos é
Louco”, podemos pela Regra da Loucura I inferir que “Se Carlos acredita que Andressa
é louca então Andressa não é louca e, reciprocramente, se Andressa não é Louca, então
Carlos acredita que Andressa é Louca”. Abaixo há uma dedução natural com esta regra
presente na caso (i):

1. Lc P
2. Bc La ↔ ¬La 1 RL1

Para o caso (ii), suponhamos que temos como premissa que “Carlos acredita que An-
dressa é louca se e somente se ela não for”. A Regra da Loucura I nos permite deduzir
que Carlos é louco. Simbolicamente, teríamos:

1. Bc La ↔ ¬La P
2. Lc 1 RL1

As regras de inferência utilizadas anteriormente nos autoriza a demonstrar boa parte


dos puzzles. Entretanto, ainda necessitamos de mais regras, as chamadas Regras de Infe-
rência Hipotéticas. Elas levam esse nome porque para usá-las necessitamos de hipóteses
adicionais.
Comecemos com Regra de Prova Condicional (RPC). Para explicá-la, analisemos o
seguinte argumento:

P1 : Se Carlos é louco, então Geovane também é.


P2 : Se Geovane é louco, então Alexandre também é.
C: Se Carlos é louco, então Alexandre também é.

ao Cálculo Proposicional Clássico a regra:

Ta a.α ↔ α
a.α ↔ α Ta
Essa formulação não é idêntica à lógica da mentira de Kolany, mas pode-se demonstrar que são equivalentes.
19

Intuitivamente, sabemos que o argumento acima é válido. Para prová-lo, se necessita


de uma regra além das vistas anteriormente. Vamos adotar a seguinte estratégia:

1. Lc → Lg P
2. Lg → La P
3. Lc H

Duas coisas novas aconteceram: a primeira é o acréscimo da letra “H” para simbolizar
que houve a adição de uma hipótese. Também surge uma linha vertical anteriormente à
fórmula Lc, seu significado é que a fórmula à direita da barra tem caráter hipotético. A
quantidade de hipóteses que podem ser colocadas em uma dedução natural é ilimitada.
Seguiremos com a dedução. Se aplicarmos a regra primária Modus Ponens e a Regra
de Prova Condicional, isso nos leva à seguinte situação:

1. Lc → Lg P
2. Lg → La P
3. Lc H
4. Lg 1,3 MP
5. La 2,4 MP
6. Lc → La 3 - 5 RPC

Como se vê, eliminamos a linha vertical na linha 5, saindo das hipóteses. A justificativa
na linha 6 foi “3 - 5 RPC”, isto significa a fórmula da linha 6 foi obtida das linha 3 a 5,
aplicando Regra de Prova Condicional. A formulação desta regra é a seguinte:

α
..
.
β
α→β

Essa é a explicação, nas palavras de Mortari: “se, a partir de uma hipótese α você
deriva uma fórmula β , então você pode descartar α e introduzir α → β na derivação.”
[MORTARI, 2001, p. 252].
Existe outra regra de derivação hipotética, a chamada Redução ao Absurdo. Esta regra
consiste no seguinte:

“Se existe uma proposição α que desejamos demonstrar, a estratégia con-


siste em supor, em primeiro lugar, que α não é o caso, ou seja, introdu-
zimos ¬α como hipótese. Se dessa hipótese conseguirmos derivar uma
contradição - i.e., a conjunção de uma fórmula β e sua negação, ¬β - então
a hipótese ¬α deve ser falsa.” [MORTARI, 2001, p. 254-522]

Para explicá-la, considere o seguinte argumento:


20

P1 : Se Beatriz é louca, então Andressa não é louca.


C: Não é o caso que tanto Beatriz quanto Andressa são loucas.

Esse argumento é intuitivamente válido. Se formalizarmos a premissa, podemos obter


a conclusão por meio de Redução ao Absurdo, como na dedução natural exibida abaixo:

1. Lb → ¬La P
2. Lb ∧ La H
3. Lb 2S
4. ¬La 1,3 MP
5. La 2S
6. La ∧ ¬La 4,5 C
7. ¬(Lb ∧ La) 2 - 6 RAA

Este exemplo mostra como funciona a regra Redução ao Absurdo: suponhamos uma
fórmula qualquer. Se nos leva a uma contradição, negamos a hipótese inicial.
A formulação da presente regra é a seguinte:

α
..
.
β ∧ ¬β
¬α

Apresentada essas duas regras, necessitamos de algumas leis gerais a respeito de


como devemos usá-las numa dedução:

(I) “Introduzirás na derivação uma linha vertical toda vez que introdu-
zires uma hipótese adicional; a cada hipótese corresponderá uma
linha, e cada linha uma hipótese, pois assim está escrito;
(II) Não usarás uma fórmula que ocorre à direita de uma linha vertical
depois de terminada essa linha, pois, caso contrário, tuas derivações,
e as derivações de tuas derivações, serão falaciosas setenta vezes
sete vezes;
(III) Descartarás as hipóteses na ordem inversa em que foram introduzi-
das, e não usarás outra ordem para descartá-las;
(IV) Não darás uma dedução por terminada enquanto não descartares
todas as hipóteses adicionais;
(V) Não farás mau uso das regras de inferência, nem terás outras regras
além das que aqui te forem dadas. ” [MORTARI, 2001, p. 254]

Apresentada a parte de regras primárias, vamos a parte das regras derivadas. Elas
não são necessárias. Simplesmente possuem o propósito de deixar as coisas mais fáceis,
reduzindo algumas linhas na dedução natural.
21

As regras derivadas que utilizaremos são:

Negação Dupla (N D) : Modus Tonens (M T ) :

α α → β, ¬β
¬¬α ¬α

Leis de De Morgan (DM ) : Regra da Loucura II (R2) :

¬α ∨ ¬β ¬(α ∧ β) ¬Lt Kt α ↔ α
¬(α ∧ β) ¬α ∨ ¬β Kt α ↔ α ¬Lt

Figura 2: Regras Derivadas

Como o próprio nome diz, regras derivadas são demonstradas a partir das regras pri-
márias. Então, as regras acimas são consequências de outras apresentadas anterior-
mente.
Inicialmente, demonstraremos a regra Negação Dupla (ND):

1. α P
2. ¬α H
3. α ∧ ¬α 1,2 C
4. ¬¬α 2-3 RAA

A demonstração da regra Modus Tolens (MT) segue abaixo:

1. α→β P
2. ¬β P
3. α H
4. β 1,3 MP
5. β ∧ ¬β 2,4 C
6. ¬α 3 - 5 RAA

Também demonstraremos as Leis de De Morgan. Para melhor compreensão, a regra


será dividida em duas partes: (DM1) e (DM2).
22

(DM1):

1. ¬α ∨ ¬β P
2. α∧β H
3. α 2S
4. ¬¬α 3 ND
5. ¬β 1,4 SD
6. β 2S
7. β ∧ ¬β 5, 6 C
8. ¬(α ∧ β) 2-7 RAA

(DM2):

1. ¬α ∧ ¬β P
2. α∨β H
3. ¬α 1S
4. β 2, 3 SD
5. ¬β 1S
6. β ∧ ¬β 4, 5 C
7. ¬(α ∨ β) 2 - 6 RAA

A regra da Lógica da Loucura II (R2) é uma regra derivada das regras primitivas. Assim
como a anterior, a demonstração da presente regra será dividida em duas partes: (R2a) e
(R2b).

(R2a):

1. ¬Lt P
2. α ∧ ¬Bt α H
3. Bt α H
4. α H
5. ¬Bt α 2S
6. Bt α ∧ ¬Bt α 3,5 C
7. ¬α 4 - 6 RAA
8. Bt α → ¬α 3 - 7 RPC
9. ¬α H
10. ¬Bt α H
11. α 2S
12. α ∧ ¬α 9,11 C
13. ¬¬Bt α 10 - 12 RAA
14. Bt α 13 DN
23

15. ¬α → Bt α 9 - 14 RPC
16. Bt α ↔ ¬α 8,15 CB
17. Lt 16 RL1
18. Lt ∧ ¬Lt 1,17 C
19. ¬(α ∧ ¬Bt α) 2 - 18 RAA
20. ¬α ∨ ¬¬Bt α 19 DM
21. α H
22. ¬¬α 21 ND
23. ¬¬Bt α 20,22 SD
24. Bt α 23 DN
25. α → Bt α 21 - 24 RPC
26. Bt α ∧ ¬α H
27. Bt α H
28. ¬α 26 S
29. Bt α → ¬α 27 - 28 RPC
30. ¬α H
31. Bt α 26 S
32. ¬α → Bt α 30 - 31 RPC
33. Bt α ↔ ¬α 29,32 CB
34. Lt 33 RL1
35. Lt ∧ ¬Lt 1,34 C
36. ¬(Bt α ∧ ¬α) 26 - 35 RAA
37. ¬Bt α ∨ ¬¬α 36 DM
38. Bt α H
39. ¬¬Bt α 38 ND
40. ¬¬α 37, 39 SD
41. α 40 DN
42. Bt α → α 38,41 RPC
43. Bt α ↔ α 25,42 CB
24

(R2b)

1. Bt α ↔ α P
2. Lt H
3. Bt α ↔ ¬α 2 RL1
4. Bt α H
5. Bt α → ¬α 3 BC
6. ¬α 4,5 MP
7. Bt α → α 1 BC
8. α 4,7 MP
9. α ∧ ¬α 6,8 C
10. ¬Bt α 4 - 9 RAA
11. ¬α H
12. ¬α → Bt α 3 BC
13. Bt α 11,12 MP
14. Bt α ∧ ¬Bt α 10,13 C
15. ¬¬α 11 - 14 RAA
16. α 15 DN
17. α → Bt α 1 BC
18. Bt α 16,17 MP
19. Bt α → ¬α 3 BC
20. ¬α 18,19 MP
21. α ∧ ¬α 16,20 C
22. ¬Lt 2 - 21 RAA

Até o momento, apresentamos a linguagem e a dedução natural da Lógica da Loucura.


Como exemplo de aplicação da Lógica da Loucura, selecionamos o capítulo 3 do livro
“Alice no País dos Enigmas” de Raymond Smullyan.
25

3 Formalizações e Deduções no Capítulo “Quem é o louco”


Neste capítulo, serão expostos os enigmas lógicos publicados no capítulo 3 do livro
“Alice no País dos Enigmas”. Foram selecionados todos os puzzles deste capítulo.
Os puzzles serão exibidos e desenvolvidos do seguinte modo:

1. Logo após o título do enigma, se sucede uma citação de como Smullyan apresenta
o quebra-cabeça;

2. Linguagem: é exposta quais são as constantes individuais. Nas constantes individu-


ais, como o próprio mostra, ocorre a formalização os indivíduos presentes.

3. Formalização das Premissas: é a formalização do enigma proposto pela Duquesa à


Alice.

4. Comentário das premissas: nesta parte, será explanado o motivo do puzzle estar
sendo formalizado de determinada maneira.

5. Solução do puzzle: Se apresenta a maneira de como Smullyan resolveu os puzzles.

6. Dedução do puzzle: procuramos demonstrar o puzzle, exibindo que a conclusão se


segue das premissas. É demonstrado também que é possível formalizar o raciocínio
de Raymond Smullyan ao resolver o problema.

7. Comentário da dedução: é esclarecida a maneira como foi realizada e concluída a


dedução. Também pode ser utilizado como um guia para melhor compreensão da
dedução.

3.1 Uma Introdução aos enigmas


O capítulo três do livro gira em torno do diálogo entre as personagens Duquesa e Alice.
No início do capítulo há uma citação do clássico livro Alice No País das Maravilhas de
Lewis Carroll. O diálogo ocorre entre os personagens Alice e o Gato de Cheshire. No
livro de Smullyan, a citação é apenas um epígrafe e tirada do contexto da conversa. Eis o
dialogo completo original entre os dois personagens:

“Ao ver Alice, o Gato sorriu. Parecia amigável, ela pensou; ainda assim,
tinha garras muito longas e um número enorme de dentes, de modo que
achou que deveria trata-lo com respeito.
‘Bichano de Cheshire’, começou, muito tímida, pois não estava nada certa
de que esse nome iria agradá-lo; mas ele só abriu um pouco mais o sorriso.
‘Bom, até agora ele está satisfeito’, pensou e continuou: ‘Poderia dizer, por
favor, que caminho que devo tomar para ir embora daqui?’
‘Depende bastante de para onde quer ir’, respondeu o Gato.
26

‘Não me importa muito para onde’, disse Alice.


‘Então não importa o caminho que tome’, disse o Gato.
‘Contanto que eu chegue a algum lugar ’, Alice acrescentou à guisa de
explicação.
‘Oh, isso você certamente vai conseguir’, afirmou o Gato, ‘desde que ande
o bastante.’
Como isso lhe pareceu irrefuável, Alice tentou uma outra pergunta. ‘Que
espécie de gente que vive por aqui?’
‘Naquela direção’, explicou o Gato, acenando com a pata dianteira, ‘vive
um Chapeleiro; e naquela direção’, acenando com a outra pata, ‘vive uma
Lebre de Março. Visite qual deles quiser: os dois são loucos.’
‘Mas não quero me meter com gente louca’, Alice observou.
‘Oh! É inevitável’, disse o Gato; ‘somos todos loucos aqui. Eu sou louco.
Você é louca.’
‘Como sabe que eu sou louca?’ perguntou Alice.
‘Só pode ser’, respondeu o Gato, ‘ou não teria vindo parar aqui.’ ”
[CARROLL, 2018, p. 51]

É necessário uma explanação sobre os trechos acima. Segundo as notas de Martin


Gardner, quando o Gato de Cheshire afirma que não importa o caminho que Alice siga,
ele faz uma analogia à divisão existente entre ciência e ética. Posteriormente, o Gato cita
dois personagens considerados loucos: o Chapeleiro e a Lebre de Março. Martin Gardner
explica que os chapeleiros, na época de Lewis Carrol, usavam mercúrio nos seus chapéus,
causando mercurialismo. Com isso, seus olhos e membros eram afetados, tornando sua
fala confusa. Tenniel, ilustrador em “Alice no País das Maravilhas”, desenhou a Lebre de
Março com fios de palha na cabeça, um símbolo de loucura em sua época. Entretanto, não
é estabelecido nenhuma relação entre a Lebre de Março e a loucura.
No livro de Carroll, após o trecho acima, há um encontro entre o Chapeleiro, a Lebre
de Março e um Caxinguelê com a Alice, aonde o Chapeleiro lança uma série de puzzles.
Smullyan dá sua versão ao restante da história. Para ele, depois do diálogo acima, Alice
encontra a Duquesa. Então, a menina pergunta se era verdade a afirmação do Gato, de
que os personagens presentes naquele mundo eram loucos. Tendo como premissa de que
todo louco diz mentira, e quem é são sempre diz a verdade, a resposta da Duquesa foi não,
pois se todos fossem loucos, o bichano também seria, invalidando, assim, a sua afirmação.
Tanto no texto de Carroll quanto de Smullyan parece haver uma referência ao paradoxo
de Epimênides. Nas palavras de Carnielli e Epstein [CARNIELLI; EPSTEIN, 2005, p. 24],
esse paradoxo é expresso da seguinte forma: “Consta-nos que Epimênides, o Cretense,
dissera: ‘Todos os cretenses são mentirosos’. Ele estava dizendo a verdade?”. De maneira
análoga ao caso do Gato de Chesire, se Epimênides estiver dizendo a verdade, então como
ele era cretense, ele também seria mentiroso, invalidando assim a sua afirmação.
27

No diálogo de Smullyan, Alice quer saber, dos indivíduos presentes naquele mundo
imaginário, quais têm a sanidade comprometida e quais não têm. Partindo da regra expla-
nada anteriormente, de que todo louco fala a mentira e quem é são sempre fala a verdade,
a Duquesa lança uma série de desafios. Alice tenta solucioná-los, visando descobrir o
estado mental de quem vive ali.

3.2 Puzzle 14 - A Lagarta e o Lagarto Bill


O primeiro enigma do capítulo é o décimo quarto no livro. É tratado sobre a Lagarta e
Bill, o lagarto.

“- Bem - respondeu a Duquesa -, considere, por exemplo, a Lagarta e Bill,


o Lagarto. A Lagarta acredita que ambos são loucos.
- Qual deles é realmente louco? - perguntou Alice.
- Eu não deveria precisar lhe dizer isso! - retrucou a Duquesa. Dei-lhe
informações suficientes para que você deduza a resposta.
Qual é a solução? A Lagarta é louca ou sã? E o Lagarto?”
[SMULLYAN, 2000, p. 33]

3.2.1 Linguagem

Constantes individuais:

l: Lagarta;
b: Bill, o Lagarto;

3.2.2 Formalização das premissas

1. Bl (Ll ∧ Lb) P

3.2.3 Comentário sobre as premissas

Inicialmente, a Duquesa nos diz para considerar a Lagarta e Bil, o Lagarto. Esses serão,
desse modo, os indivíduos envolvidos no nosso puzzle. Ainda de acordo com a Duquesa,
“A Lagarta acredita que ambos são loucos”. Em outras palavras, a Duquesa afirmou que:

A Lagarta acredita que a Lagarta e Bill são loucos.

Alice pergunta qual deles é realmente louco e a Duquesa retruca que ela sequer precisa
se dar o trabalho de responder a Alice. Isso significa que podemos deduzir das premissas
do problema quem é o louco da história: a Lagarta ou Bill, o Lagarto.
28

A Duquesa continua, se referindo à Alice: “Dei-lhe informações suficientes para que


você deduza a resposta”. Desse modo, a formalização da sentença acima deve ser a
única premissa de nossa dedução.

3.2.4 Solução do enigma 14

“ A Lagarta acredita que ela e o Lagarto são loucos. Se a lagarta fosse


sã, seria falso ela e o Lagarto serem loucos, donde (sendo sã) a Lagarta
não poderia acreditar nesse fato mentiroso. Portanto, a Lagarta deve ser
louca. Já que ela é louca, sua crença é errada, donde não é verdade que
ambos sejam loucos. Assim, o outro (o Lagarto) deve ser sadio. Portanto,
a Lagarta é louca e o Lagarto é são.” [SMULLYAN, 2000, p. 153]

3.2.5 Dedução do enigma 14

1. Bl (Ll ∧ Lb) P
2. ¬Ll H
3. ¬Ll ∨ ¬Lb 2E
4. ¬(Ll ∧ Lb) 3 DM
5. Bl (Ll ∧ Lb) ↔ (Ll ∧ Lb) 2 R2
6. Bl (Ll ∧ Lb) → (Ll ∧ Lb) 5 BC
7. ¬Bl (Ll ∧ Lb) 4, 6 MT
8. Bl (Ll ∧ Lb) ∧ ¬Bl (Ll ∧ Lb) 1,7 C
9. ¬¬Ll 2-8 RAA
10. Ll 9 DN
11. Bl (Ll ∧ Lb) ↔ ¬(Ll ∧ Lb) 10 RL1
12. Bl (Ll ∧ Lb) → ¬(Ll ∧ Lb) 11 BC
13. ¬(Ll ∧ Lb) 1,12 MP
14. ¬Ll ∨ ¬Lb 13 DM
15. ¬Lb 9, 14 SD
16. Ll ∧ ¬Lb 10, 15 C

3.2.6 Comentário sobre a dedução

A dedução começa com sua única premissa, a de que a Lagarta possui a crença de que ela
e o Lagarto são loucos. Smullyan diz que “Se a lagarta fosse sã, seria falso ela e o Lagarto
serem loucos”. Vamos supor que a Lagarta não é louca (linha 2). Temos, desse modo, que
é falso que ambos são loucos (linhas 3-4). Mas como, por hipótese, temos que a Lagarta
não é louca, pela nossa Regra da Loucura II sabemos que tudo o que a Lagarta acredita é
verdadeiro e vice-versa, em particular, no fato dela e do Bil serem loucos (linha 5). Smullyan
afirma que “donde (sendo sã) a Lagarta não poderia acreditar nesse fato mentiroso”. O fato
29

mentiroso em questão é a Lagarta e Bil serem loucos, já que supusemos que a Lagarta
é sã. E por quê a Lagarta não pode acreditar nesse fato mentiroso? Porque está em
contradição com a premissa do problema (linhas 6-8). “Portanto”, continua Smullyan, “a
Lagarta deve ser louca.” (linhas 9-10).
Sabemos que a Lagarta é louca. Smullyan infere: “Já que ela é louca, sua crença é
errada, donde não é verdade que ambos sejam loucos.” Do fato da Lagarta ser louca, sa-
bemos que tudo o que ela acredita é mentira, em particular, na mentira dela e de Bill serem
loucos (Linhas 11-12). Como, pela premissa, sabemos que ela acredita nessa mentira, en-
tão é de fato mentira que ela e Bill são loucos (linha 13). Smullyan conclui: “Assim, o outro
(o Lagarto) deve ser sadio”, o que deduzimos em seguida (linhas 14-15). Para finalizar,
temos que “a Lagarta é louca e o Lagarto é são.” (linha 16).

3.3 Puzzle 15 - A Cozinheira e o Gato


Esse enigma trata da relação existente entre a Cozinheira e o Gato de Cheshire. Ele é
apresentado da seguinte maneira no livro: ”A Cozinheira acredita que pelo menos um dos
dois é louco. Que pode você deduzir sobre a Cozinheira e o Gato?” [SMULLYAN, 2000,
p. 33]

3.3.1 Linguagem

Constantes Individuais

c: Cozinheira;
g : Gato de Cheshire

3.3.2 Formalização das Premissas

1. Bc(Lc ∨ Lg) P

3.3.3 Comentário sobre as premissas

A formalização da premissa acima é o resultado da crença da Cozinheira sobre a loucura


dela e do Gato de Cheshire. Sob o aspecto da Cozinheira, “um dos dois é louco”. Para
formalizar este puzzle, nós o interpretamos da seguinte maneira:

A Cozinheira acredita que ou ela é louca ou o Gato de Cheshire é louco.


30

3.3.4 Solução do puzzle 15

” Se a cozinheira fosse louca, seria verdade que pelo menos um dos dois é
louco, e teríamos uma pessoa louca sustentando uma crença verdadeira,
o que não é possível. Portanto, a Cozinheira deve ser sadia. Visto que ela
é sã, sua crença é correta, donde um dos dois é realmente louco. Uma
vez que não é a Cozinheira, deve ser o Gato de Cheshire. Portanto, a
Cozinheira é sã e o Gato de Cheshire é louco.” [SMULLYAN, 2000, p. 153]

3.3.5 Dedução do Capítulo 15

1. Bc(Lc ∨ Lg) P
2. Lc H
3. Bc(Lc ∨ Lg) ↔ ¬(Lc ∨ Lg) 2 RL1
4. Bc(Lc ∨ Lg) → ¬(Lc ∨ Lg) 3 BC
5. ¬(Lc ∨ Lg) 1,4 MP
6. ¬Lc ∧ ¬Lg 5 DM
7. ¬Lc 6S
8. Lc ∧ ¬Lc 2,7 C
9. ¬Lc 2-8 RAA
10. Bc(Lc ∨ Lg) ↔ (Lc ∨ Lg) 9 R2
11. Bc(Lc ∨ Lg) → (Lc ∨ Lg) 10 BC
12. Lc ∨ Lg 1,11 MP
13. Lg 9,12 SD

3.3.6 Comentário sobre a Dedução

Vamos supor que a Cozinheira é louca (linha 2). Então não é possível que, ou a Cozinheira,
ou o Gato de Cheshire são loucos (linha 5). Isto é equivalente a Cozinheira e o Gato de
Cheshire não serem loucos (linha 6), obviamente nos levando a uma contradição (linha 8).
“Portanto, a Cozinheira deve ser sadia” (linha 9) e “um dos dois é realmente louco” (linha
12). Sabendo que a Cozinheira não é louca, então o Gato de Cheshire deve ser louco
(linha 13).

3.4 Puzzle 16 - Lacaio-Peixe e Lacaio-Rã

“-Há também meus dois lacaios, o Lacaio-Peixe e o Lacaio-Rã. Você já os


conheceu?
-Ah, sim, com certeza! - disse Alice, lembrando-se da grosseria indizível
desse último.
31

-Bem, o Lacaio-Peixe acha que ele e o Lacaio-Rã são iguais; em outras


palavras, que ou os dois são sadios, ou ambos são loucos. E agora, minha
cara, cabe a você dizer quem são os loucos.
Alice não entendeu muito bem por que isso devia caber a ela. Mesmo
assim, o quebra-cabeça lhe interessava, de modo que trabalhou nele por
algum tempo.
- Acho que não consigo resolvê-lo - disse Alice. Sei o que um dos lacaios
é, mas não consigo decifrar o outro.
-Ora, você já resolveu, coisa preciosa! - disse a Duquesa, abraçando Alice.
O outro lacaio não pode ser decifrado a partir do que eu lhe disse. Na
verdade, nem eu sei o que o outro é.
Qual dos dois lacaios você sabe que é são ou louco, e o que é ele?”
[SMULLYAN, 2000, p. 34]

3.4.1 Linguagem

Constantes individuais:

p: Lacaio-Peixe
r: Lacaio-Rã

3.4.2 Formalização das Premissas

1. Bp(Lp ↔ Lr) P

3.4.3 Comentário Sobre as Premissas

A Duquesa apresenta os únicos personagens presentes no puzzle: Lacaio-Peixe e Lacaio-


Rã. De acordo com ela, “o Lacaio-Peixe acha que ele e o Lacaio-Rã são iguais”. Isto em
outras palavras é o seguinte:

O Lacaio-Peixe acredita que o Lacaio-Peixe e o Lacaio-Rã são iguais.

Seguindo o raciocínio do Lacaio-Peixe, significa que os dois personagens são equiva-


lentes em relação à loucura. Esta sentença está formalizada acima. Também é possível
concluir que, ainda seguindo o raciocínio do Lacaio-Peixe, os dois indivíduos são equi-
valentes em não ser louco. Entretanto, esta última afirmação é dedutível da sentença
anterior, sendo, então, desnecessária para a dedução.

3.4.4 Solução do puzzle 16

É impossível determinar, pelos dados fornecidos, se o Lacaio-Peixe é são


ou louco, mas provaremos que o Lacaio-Rã deve ser são. E vamos da
seguinte maneira:
32

Há duas possibilidades: ou o Lacaio-Peixe é são, ou ele é louco. Demons-


traremos que, em qualquer desses casos, o Lacaio-Rã deve ser sadio.
Suponhamos que o Lacaio-Peixe seja são. Nesse caso, sua crença é cor-
reta, o que significa que o Lacaio-Rã realmente é igual ao Lacaio-Peixe, o
que quer dizer que o Lacaio-Rã é são.
Por outro lado, suponhamos que o Lacaio-Peixe seja louco. Nesse caso,
sua crença é errada, de modo que o Lacaio-Rã é o oposto do Lacaio-Peixe.
Como o Lacaio-Peixe é louco e o Lacaio-Rã é o inverso dele, o Lacaio-Rã
deve ser são.
Vemos, portanto, que em qualquer um dos casos (quer o Lacaio-Peixe seja
são ou louco) o Lacaio-Rã deve ser são. [SMULLYAN, 2000, p. 154]
33

3.4.5 Dedução do puzzle 16

1. Bp(Lp ↔ Lr) P
2. ¬Lp H
3. Bp (Lp ↔ Lr) ↔ (Lp ↔ Lr) 2 R2
4. Bp (Lp ↔ Lr) → (Lp ↔ Lr) 3 BC
5. Lp ↔ Lr 1,4 MP
6. Lr → Lp 5 BC
7. ¬Lr 2,6 MT
8. ¬Lp → ¬Lr 2 - 7 RPC
9. Lp H
10. Bp (Lp ↔ Lr) ↔ ¬(Lp ↔ Lr) 9 RL1
11. Bp (Lp ↔ Lr) → ¬(Lp ↔ Lr) 10 BC
12. ¬(Lp ↔ Lr) 1,11 MP
13. Lr H
14. Lp H
15. ¬Lr H
16. Lr ∧ ¬Lr 13,15 C
17. ¬¬Lr 15 - 16 RAA
18. Lr 17 DN
19. Lp → Lr 14-18 RPC
20. Lr H
21. ¬Lp H
22. Lp ∧ ¬Lp 9, 21 C
23. ¬¬Lp 21-22 RAA
24. Lp 23 DN
25. Lr → Lp 20 - 24 RPC
26. Lp ↔ Lr 19, 25 CB
27. (Lp ↔ Lr) ∧ ¬(Lp ↔ Lr) 12, 26 C
28. ¬Lr 13-27 RAA
29. Lp → ¬Lr 9 - 28 RPC
30. Lr H
31. ¬¬Lr 29 ND
32. ¬Lp 29, 31 MT
33. ¬Lr 8, 32 MP
34. Lr ∧ ¬Lr 30,33 C
35. ¬Lr 30 - 34 RAA
34

3.4.6 Comentário Sobre a dedução

O raciocínio que leva a compreender que o Lacaio-Rã é o seguinte: se supor que o Lacaio-
Peixe não é louco (linha 2), então o Lacaio-Rã é igual ao Lacaio-Peixe (linha 6), o que quer
dizer que o Lacaio-Rã é são (linha 7). Mas supondo que o Lacaio-Peixe é louco (linha 9),
então o Lacaio-Rã é diferente do Lacaio Peixe (linha 12); nesse caso também se conclui
que o Lacaio-Rã é são (linhas 28 e 29). “Vemos, portanto, que em qualquer um dos casos
(quer o Lacaio-Peixe seja são ou louco) o Lacaio-Rã deve ser são” (linha 35).

3.5 Puzzle 17 - O Casal de Ouro

“- E há também o Rei e a Rainha de Ouros - começou a Duquesa.


- O Rei e a Rainha de Ouros? - perguntou Alice. Não creio que os tenha
conhecido; na verdade, nem sabia que eles estavam aqui.
- Todas as cartas estão aqui - disse a Duquesa. Enfim, ouvi um boato
de que a Rainha de Ouros era louca. Mas eu não sabia ao certo se a
pessoa que me disse era louca ou sã, de modo que resolvi verificar por
mim mesma.
- Bem - prosseguiu a Duquesa -, um dia encontrei o Reide Ouros sem a sua
Rainha. Eu sabia que ele era absolutamente franco, embora de sanidade
duvidosa, de modo que o que quer que ele dissesse seria, pelo menos,
algo que ele acreditaria ser verdade.
- Sua pobre esposa é realmente louca? - perguntei-lhe, com simpatia.
- Ela acredita que sim -, respondeu o Rei.
Que se pode deduzir sobre o Rei e a Rainha de Ouros?”
[SMULLYAN, 2000, p. 35]

3.5.1 Linguagem

Constantes Individuais

r: Rei de Ouros
d: Rainha de Ouros

3.5.2 Formalização da Premissas

1. Br Bd Ld P

3.5.3 Comentário Sobre as Premissas

Neste puzzle é apresentado à Alice dois personagens: o Rei e a Rainha de Ouros. Para
obter as premissas deste enigma, é usado o seguinte trecho: “ - Sua pobre esposa é real-
35

mente louca? - perguntei-lhe (Duquesa), com simpatia. - Ela acredita que sim -, respondeu
o Rei.” A resposta do Rei é interpretado do seguinte modo:

O Rei acredita que a Rainha acredita que ela é louca.

A formalização da última frase está presente na subseção anterior. Anteriormente ao


trecho acima, a Duquesa também diz que há um boato de que a Rainha de Ouros é louca.
Mas essa expressão não ajuda em identificar quais são os indivíduos loucos e não loucos,
sendo assim, descartável.

3.5.4 Solução do puzzle 17

“É impossível que alguém nessa situação acreditasse ser louco, pois uma
pessoa sadia saberia da verdade de ser sã, e uma pessoa louca acreditaria
erroneamente ser sã. Portanto, a Rainha não acreditaria realmente que
era louca, de modo que o Rei era louco por acreditar que ela acreditava.
Nada se pode deduzir com respeito à sanidade da Rainha.”
[SMULLYAN, 2000, p. 154]

3.5.5 Dedução do puzzle 17

1. Br Bd Ld P
2. Bd Ld H
3. ¬Ld H
4. Ld ↔ Bd Ld 3 R2
5. Bd Ld → Ld 4 BC
6. Ld 2,5 MP
7. Ld ∧ ¬Ld 3,6 C
8. ¬¬Ld 3 - 7 RAA
9. Ld 8 DN
10. Bd Ld ↔ ¬Ld 9 RL1
11. Bd Ld → ¬Ld 10 BC
12. ¬Ld 2,11 MP
13. Ld ∧ ¬Ld 9,12 C
14. ¬Bd Ld 2 - 13 RAA
15. ¬Lr H
16. Br Bd Ld ↔ Bd Ld 15 R2
17. BrBd Ld → Bd Ld 16 BC
18. BdLd 1,17 MP
19. Bd Ld ∧ ¬Bd Ld 14,18 C
20. ¬¬Lr 15-19 RAA
21. Lr 20 DN
36

3.5.6 Comentário sobre a dedução

Primeiramente, provaremos por redução ao absurdo, que “é impossível que alguém nessa
situação acreditasse ser louco”. Se supor que a Rainha de Ouros acredita que ela é
louca(linha 2), isso obviamente nos levará a uma contradição (linha 13). Então, “a Rai-
nha não acreditaria realmente que era louca” (linha 14). Isso leva a afirmação de que o Rei
é louco (linha 21), pois ele acreditava em algo falso.

3.6 Puzzle 18 - Descobrindo a Sanidade Mental de Três Personagens

- Sempre tive dúvidas quanto à Lebre de Março, o Chapeleiro e o Lei-


rão - disse Alice. O Chapeleiro é chamado de Chapeleiro Louco, mas será
realmente louco? E que dizer da Lebre de Março e do Leirão?
- Bem - respondeu a Duquesa -, o Chapeleiro externou, certa vez, a crença
em que a Lebre de Março não acredita que todos os três sejam sadios.
Além disso, o Leirão acredita que a Lebre de Março é sã.
O que você pode deduzir sobre esses três?” [SMULLYAN, 2000, p. 35]

3.6.1 Linguagem

Constantes Individuais:

c: Chapeleiro
l: Lebre de Março
e: Leirão

3.6.2 Formalização das Premissas

1. Bc ¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) P


2. Be ¬Ll P

3.6.3 Comentário Sobre as Premissas

Neste puzzle, Alice apresenta três personagens: Chapeleiro, Lebre de Março e Leirão. A
Duquesa, aproveitando a oportunidade, lança um puzzle mais complexo que os anteriores,
pois trata de três personagens e duas premissas. Assim, ela lança a seguinte frase: “o
Chapeleiro externou, certa vez, a crença em que a Lebre de Março não acredita que todos
os três sejam sadios”. Para podermos formalizar a frase anterior, nós a interpretamos do
seguinte modo:
37

O Chapeleiro acredita que o Leirão não acredita que o Chapeleiro, o Leirão e a Lebre de
Março não são loucos

A formalização da proposição acima está na linha 1. A segunda premissas do enigma


é descrito da seguinte maneira: “o Leirão acredita que a Lebre de Março é sã”. Esta frase
é interpretada do seguinte modo:

O Leirão acredita que a Lebre de Março não é louca,

sendo a sua formalização presente na linha dois.

3.6.4 Solução do puzzle 18

“Suponhamos que o Chapeleiro seja são. Nesse caso, sua crença é cor-
reta, o que significa que a Lebre de Março não crê que todos os três sejam
sadios. Portanto, a Lebre de Março deve ser sã, porque, se fosse louca,
acreditaria na preposição falsa de que todos três são sadios. Logo, o Lei-
rão, acreditando que a lebre de Março é sã, deve ser são, o que torna
todos os três sadios. Mas, se assim fosse, como poderia a sadia Lebre de
Março deixar de acreditar na proposição verdadeira de que todos os três
eram sadios? É contraditório, portanto, presumir que o Chapeleiro seja
são; na verdade, ele deve ser louco.
Uma vez que o Chapeleiro é louco, sua crença está errada, e portanto, a
Lebre de Março acredita que todos os três são sadios. É claro que a Lebre
de Março está errada (já que o Chapeleiro não é são), donde a Lebre de
Março também é louca. Assim, o Leirão, acreditando que a Lebre de Março
é sadia, também é louco, de modo que todos três são loucos (o que não
chega a ser muito surpreendente!).” [SMULLYAN, 2000, p. 154]
38

3.6.5 Dedução do puzzle 18

1. Bc ¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) P


2. Be ¬Ll P
3. ¬Lc H
4. ¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) ↔ Bc ¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 3 R2
5. Bc¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) → ¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 4 BC
6. ¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 1,5 MP
7. Ll H
8. Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) ↔ ¬(¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 7 RL1
9. ¬(¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) → Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 8 BC
10. ¬¬(¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 6,9 MT
11. ¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le) 10 DN
12. ¬Ll ∧ ¬Le 11 S
13. ¬Ll 12 S
14. Ll ∧ ¬Ll 7,13 C
15. ¬Ll 7 - 14 RAA
16. Le H
17. Be ¬Ll ↔ ¬¬Ll 16 RL1
18. Be ¬Ll → ¬¬Ll 17 BC
19. ¬¬Ll 2,18 MP
20. ¬Ll ∧ ¬¬Ll 15,19 C
21. ¬Le 16 - 20 RAA
22. ¬Ll ∧ ¬Le 15,21 C
23. ¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le) 3,22 C
24. Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) ↔ (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 15 R2
25. (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) → Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 24 BC
26. Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 23,25 MP
27. Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) ∧ ¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 6,26 C
28. ¬¬Lc 3 - 27 RAA
29. Lc 28 DN
30. Bc¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) ↔ ¬¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 29 RL1
31. Bc¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) → ¬¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 30 BC
32. ¬¬Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 1,31 MP
33. Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 32 DN
34. ¬Ll H
35. Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) ↔ (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 34 R2
36. Bl (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) → (¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le)) 35 BC
37. ¬Lc ∧ (¬Ll ∧ ¬Le) 33,36 MP
38. ¬Lc 37 S
39

39. Lc ∧ ¬Lc 29,38 C


40. ¬¬Ll 34 - 39 RAA
41. Ll 40 DN
42. ¬Le H
43. Be ¬Ll ↔ ¬Ll 42 R2
44. Be ¬Ll → ¬Ll 43 BC
45. ¬Ll 2,44 MP
46. Ll ∧ ¬Ll 41,45 C
47. ¬¬Le 42 - 46 RAA
48. Le 47 DN

3.6.6 Comentário Sobre a dedução

Inicialmente, provaremos que o Chapeleiro é louco, por redução ao absurdo. Vamos supor
que o Chapeleiro não seja louco (linha 3). “Nesse caso, sua crença é correta, o que
significa que a Lebre de Março não crê que todos os três sejam sadios” (linha 6). Isso
nos leva a afirmação de que a Lebre de Março e o Leirão não são loucos (linha 15 e 21),
tornando os três personagens não loucos (linha 23). “Mas, se assim fosse, como poderia
a sadia Lebre de Março deixar de acreditar na proposição verdadeira de que todos os três
eram sadios? É contraditório, portanto, presumir que o Chapeleiro seja são” (linha 27). Por
isso, o Chapeleiro é louco (linha 29).
Se o Chapeleiro é louco, então “a Lebre de Março acredita que todos os três são sadios”
(linha 33). Isso significa que a Lebre de Março é louca (linha 41), porque acredita numa
falsidade, de que o Chapeleiro é são. Se concluí também que o Leirão é louco (linha 48),
pois acredita que a Lebre não é louca.

3.7 Puzzle 19 - Quais destes três são Loucos?

“Além disso, há o Grifo, a Falsa Tartaruga e a Lagosta - começou a Du-


quesa.
-Eu não sabia que havia uma lagosta de verdade por aqui - retrucou Alice.
Só a conheço de um poema.
-Ah, sim, existe uma lagosta de verdade, e é tão grande quanto a Falsa
Tartaruga - respondeu a Duquesa. - Mas enfim, certa vez a Lagosta disse
acreditar que o Grifo acredita que exatamente um dos três é são. A Falsa
Tartaruga acredita que o Grifo é são.
Que pode você deduzir sobre esses três?’ [SMULLYAN, 2000, p. 35-36]
40

3.7.1 Linguagem

Constantes Individuais:

g : Grifo
l: Lagosta
f : Falsa Tartaruga

3.7.2 Formalização das Premissas

α ≡def ((¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf ) ∨ (((Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf ) ∨ ((Ll ∧ Lg) ∧ ¬Lf ))

1. Bl Bg α P
2. Bf ¬Lg P

3.7.3 Comentário das Premissas

É apresentado a Alice pela Duquesa, os três personagens do presente puzzle: Grifo, La-
gosta e Falsa Tartaruga. Nas palavras da Duquesa: “certa vez a Lagosta disse acreditar
que o Grifo acredita que exatamente um dos três é são”. Para poder formalizar esta ex-
pressão, presente na linha 1, se necessita interpretá-la da seguinte maneira:

A Lagosta acredita que o Grifo acredita que um das três alternativas acontece:

(i) A Lagosta não é louca, mas o Grifo e a Falsa Tartaruga são; ou

(ii) O Grifo não é louco, mas a Lagosta e a Falsa Tartaruga são; ou

(iii) a Falsa Tartaruga não é louca, mas o Grifo e a Lagosta são ambos loucos.

A formalização que ocorre na linha 2 é o resultado da frase: “A Falsa Tartaruga acredita


que o Grifo é são”. Depois disso, a Duquesa lança a pergunta “Que pode você deduzir
sobre esses três?”. Isto significa que todas as premissas acima são o suficiente para se
obter a resposta.

3.7.4 Solução do puzzle

“Para começar, o Grifo e a Falsa Tartaruga devem ser iguais, porque a


Falsa Tartaruga acredita que ele é são. Se a Falsa Tartaruga é sadia, sua
crença é correta, o que significa que o Grifo também é são. Se a Falsa
Tartaruga é louca, sua crença é errada, o que significa que o Grifo não é
naturalmente sadio, mas também é louco. Portanto, os dois são iguais.
Agora demonstrarei que a Lagosta é louca. Bem, suponhamos que ela
seja sã. Nesse caso, sua crença é correta, donde o Grifo acredita que
41

exatamente um dos três é são. Mas isso é impossível, porque, se o Grifo é


são, a Falsa Tartaruga (assim como a Lagosta) também o é, onde é falso
que exatamente um deles seja são (todos três sadios), de modo que o
Grifo, sendo são, não poderia demonstrar isso. Por outro lado, se o Grifo
é louco, é verdade que exatamente um deles é são (ou seja, a Lagosta, já
que Falsa Tartaruga também é louca), porém uma criatura louca não pode
acreditar numa afirmação verdadeira! Portanto, presumir que a Lagosta é
sã leva a uma contradição, de modo que ela não pode ser sã; deve ser
louca.
Agora sabemos que a Lagosta é louca. Assim, não é realmente verdade
que o Grifo acredite que exatamente um dos três é são. Se o Grifo é
louco, a Falsa Tartaruga também o é, o que significa que todos os três são
loucos, donde é falso que exatamente um deles seja são. Isso significa
que o Grifo, sendo louco, deve acreditar em todas as preposições falsas -
em particular, na de que exatamente um dos três é são -, mas já provamos
que ele não acredita. Isso é uma contradição, donde o Grifo não pode ser
louco. Portanto, o Grifo é são e a Falsa Tartaruga (sendo do mesmo tipo
que ele) também deve ser sã. Assim, a solução é que a Lagosta é louca e
o Grifo e a Falsa Tartaruga são ambos sãos.”
[SMULLYAN, 2000, p. 155-156]

3.7.5 Dedução do puzzle 19

1. Bl Bg α P
2. Bf ¬Lg P
3. ¬Lf H
4. Bf ¬Lg ↔ ¬Lg 3 R2
5. Bf ¬Lg → ¬Lg 4 BC
6. ¬Lg 2,5 MP
7. ¬Lf → ¬Lg 3 - 6 RAA
8. Lf H
9. Bf ¬Lg ↔ ¬¬Lg 8 RL1
10. Bf ¬Lg → ¬¬Lg 9 BC
11. ¬¬Lg 2,10 MP
12. Lg 11 DN
13. Lf → Lg 8 - 12 RPC
14. ¬Lg H
15. ¬Lf 13,14 MT
16. ¬Lg → ¬Lf 14 - 15 RPC
17. ¬Lg ↔ ¬Lf 7,16 CB
42

18. ¬Ll H
19. Bl Bg α ↔ Bg α 18 R2
20. Bl Bg α → Bg α 19 BC
21. Bg α 1,20 MP
22. ¬Lg H
23. Bg α ↔ α 22 R2
24. Bg α → α 23 BC
25. α 21,24 MP
26. (¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf H
27. ¬Ll ∧ Lg 26 S
28. Lg 27 S
29. Lg ∧ ¬Lg 22,28 C
30. ¬((¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf ) 26 - 29 RAA
31. ((Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf ) ∨ ((Ll ∧ Lg) ∧ ¬Lf ) 25,30 SD
32. (Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf H
33. Ll ∧ ¬Lg 32 S
34. Ll 33 S
35. Ll ∧ ¬Ll 18,34 C
36. ¬((Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf ) 32 - 35 RAA
37. (Ll ∧ Lg) ∧ ¬Lf 31,36 SD
38. Ll ∧ Lg 37 S
39. Lg 38 S
40. Lg ∧ ¬Lg 22,39 C
41. ¬¬Lg 18 - 40 RAA
42. Lg 41 DN
43. ¬¬Lf 7,41 MT
44. Lf 43 DN
45. ¬Ll ∧ Lg 18,42 C
46. (¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf 44,45 C
47. α 46 E
48. Bg α ↔ ¬α 42 RL1
49. Bg α → ¬α 48 BC
50. ¬α 21,49 MP
51. α ∧ ¬α 47,50 C
52. ¬¬Ll 18 - 51 RAA
53. Ll 52 DN
54. Lg H
43

55. α H
56. ¬¬Lg 54 ND
57. ¬¬Lf 16,56 MT
58. Lf 57 DN
59. (¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf H
60. ¬Ll ∧ Lg 59 S
61. ¬Ll 60 S
62. Ll ∧ ¬Ll 53,61 C
63. ¬((¬Ll ∧ Lg) ∧ Lf ) 59 - 62 RAA
64. ((Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf ) ∨ ((Ll ∧ Lg) ∧ ¬Lf ) 55,63 SD
65. (Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf H
66. Ll ∧ ¬Lg 66 S
67. ¬Lg 67 S
68. Lg ∧ ¬Lg 54,67 C
69. ¬((Ll ∧ ¬Lg) ∧ Lf ) 65 - 68 RAA
70. (Ll ∧ Lg) ∧ ¬Lf 64,69 SD
71. ¬Lf 70 S
72. Lf ∧ ¬Lf 58,71 C
73. ¬α 55 - 72 RAA
74. Bg α ↔ ¬α 54 RL1
75. ¬α → Bg α 74 BC
76. Bg α 73,75 MP
77. Bl Bg α ↔ ¬Bg α 53 RL1
78. Bl Bg α → ¬Bg α 77 BC
79. ¬Bg α 1,78 MP
80. Bg α ∧ ¬Bg α 76,79 C
81. ¬Lg 54 - 80 RAA
82. ¬Lf 16,81 MP

3.7.6 Comentário da Dedução

Até a linha 17, é provado a explicação de Smullyan que “o Grifo e a Falsa Tartaruga devem
ser iguais”. Mas antes disso, é provado as preposições “Se a Falsa Tartaruga é sadia, sua
crença é correta, o que significa que o Grifo também é são” (linha 7) e “se a Falsa Tartaruga
é louca, sua crença é errada, o que significa que o Grifo não é naturalmente sadio, mas
também é louco” (linha 13).
A próxima argumentação é para demonstrar, por absurdo, que a Lagosta é louca (linha
53). Então, é suposto que a Lagosta não é louca (linha 18), e acontece o que ela acredita,
ou seja, o Grifo “acredita que exatamente um dos três é são” (linha 21). Isso mostra que,
por redução ao absurdo, o Grifo é louco (linha 42). E “ se o Grifo é louco, é verdade que
44

exatamente um deles é são” (linha 47). “Porém uma criatura louca não pode acreditar
numa afirmação verdadeira! Portanto, presumir que a Lagosta é sã leva a uma contradição
” (linha 51).
Ao conseguir provar que a Lagosta é louca, também poderemos descobrir se o Grifo
e a Falsa Tartaruga são loucos, através do método de redução ao absurdo. Vamos supor
que o Grifo é louco (linha 54). “Se o Grifo é louco, a Falsa Tartaruga também o é”(linha 58),
levando a afirmação de que não é possível que exatamente um deles não seja louco (linha
73). O Grifo, por ser louco, deve acreditar que exatamente um dos três não é louco (linha
76). Mas isso se confronta com a informação de que o Grifo não acredita nisso (linha 79),
levando a uma contradição (linha 80). Agora sabemos que o Grifo e a Tartaruga não são
loucos (linhas 81 e 82).

3.8 Puzzle 20 - O casal de Espadas

- Sabe - disse Alice, em voz muito baixa, olhando em volta para ver se a
Rainha de Copas não estava por perto, podendo ouvi-la -, estou particu-
larmente interessada em saber sobre o Rei e a Rainha de Copas. O que
eles são?
- Ah - disse a Duquesa -, essa é realmente uma história interessante! A
Rainha acredita que o Rei acredita que a Rainha acredita que o Rei acre-
dita que a Rainha é louca.
-Ora, isso é demais! - exclamou Alice. Acho que eu vou enlouquecer se
tentar decifrar esse enigma!
- Muito bem - disse a Duquesa, bem humorada -, vamos tentar outro mais
fácil, primeiro. Por exemplo, pense no Rei e na Rainha de Espadas.
Houve uma longa pausa
- Que é que há com o Rei e a Rainha de Espadas? - indagou Alice.
- Bom, a Rainha acredita que o Rei acredita que ela é louca. O que você
pode me dizer sobre o Rei e a Rainha de Espadas? [SMULLYAN, 2000,
p. 35-36]

3.8.1 Linguagem

Constantes Individuais

e: Rei de Espadas
a: Rainha de Espadas

3.8.2 Formalização das Premissas

1. Ba Be La P
45

3.8.3 Comentário das Premissas

A formalização acima é a crença da Rainha de Espadas que o Rei acredita que ela é louca.
O outro enigma proposto pela Duquesa, que a Rainha acredita que o Rei acredita que a
Rainha acredita que o Rei acredita que a Rainha é louca, será resolvido somente no puzzle
22.

3.8.4 Solução do puzzle

“A Rainha (de Espadas) acredita que o Rei acredita que ela é louca. Se
ela é sadia, o Rei de fato acredita que é louca, o que significa que o Rei
deve ser louco. Se ela é louca, Rei não acredita realmente que ela o seja,
mas acreditaria se fosse sadio. Logo, também nesse caso, o Rei é louco.
Portanto, em qualquer dos dois casos, o Rei deve ser louco. Quanto à
Rainha, ela pode ser qualquer das duas coisas.”
[SMULLYAN, 2000, p. 155-156]
46

3.8.5 Dedução do puzzle 20

1. Ba Be La P
2. ¬La H
3. Ba Be La ↔ Be La 2 R2
4. Ba Be La → Be La 3 BC
5. Be La 1,4 MP
6. ¬Le H
7. Be La ↔ La 2 R2
8. Be la → La 7 BC
9. La 5,8 MP
10. La ∧ ¬La 2,9 C
11. ¬¬Le 6 - 10 RAA
12. Le 11 DN
13. ¬La → Le 2 - 12 RPC
14. La H
15. Ba Be La ↔ ¬Be La 14 RL1
16. Ba Be La → ¬Be La 16 BC
17. ¬Be La 1,16 MP
18. ¬Le H
19. Be La ↔ La 18 R2
20. La → Be La 19 BC
21. Be La 14,20 MP
22. Be La ∧ ¬Be La 17,21 C
23. ¬¬Le 19 - 22 RAA
24. Le 23 DN
25. La → Le 14-24 RPC
26. ¬Le H
27. ¬La 25,26 MT
28. Le 13,27 MP
29. Le ∧ ¬Le 26,28 C
30. ¬¬Le 26-29 RAA
31. Le 30 DN

3.8.6 Comentário da Dedução

Será provado que independente do caminho que seguiremos, o Rei sempre será louco.
Vamos supor que a Rainha é sã (linha 2). Então “o Rei de fato acredita que é louca” (linha
5). Se assumirmos que o Rei é são, isso só pode levar a uma contradição (linha 10), pois
o Rei são acredita em algo impossível. Logo, nesse caso, o rei é louco (linhas 12-13).
47

Mas Se a Rainha for louca (linha 14), então “o Rei não acredita realmente que ela o
seja” (linha 16) e, portanto, nesse caso o Rei também será louco (linhas 24 e 25). Por isso
que concluímos que, independente da Rainha ser ou não louca, o Rei tem que ser louco
(linha 31).

3.9 Puzzle 21 - O Casal de Paus


Essa parte é mais um capítulo das relações matrimoniais no livro. Ele consiste na seguinte
explanação da Duquesa:

- Você acertou essa com muita facilidade - disse a Duquesa. Agora, que
diria seu eu lhe dissesse que o Rei de Paus acredita que a Rainha de
Paus acredita que o Rei de Paus acredita que a Rainha de Paus é louca?
[SMULLYAN, 2000, p. 37]

3.9.1 Linguagem

Constantes Individuais:

e: Reis de Paus
a: Rainha de Paus

3.9.2 Formalização da Hipótese

1. Be Ba Be La H

3.9.3 Comentário sobre a Hipótese

Aqui temos um puzzle que foge a regra dos anteriores, pois começa com uma hipótese.
Chegamos a esta conclusão quando a Duquesa fala com Alice do seguinte modo: “que
diria se eu lhe dissesse”. Em outras palavras, a Duquesa quis supor que ela disse algo.
A fórmula acima é a formalização da frase “o Rei de Paus acredita que a Rainha de
Paus acredita que o Rei de Paus acredita que a Rainha de Paus é louca”.

3.9.4 Solução do puzzle 21

“É impossível que o Rei acredita que a Rainha acredita que o Rei acredita
que a Rainha é louca, pois, vamos supor que o Rei realmente acreditasse
nisso. Suponhamos que o Rei seja sadio. Nesse caso, a Rainha realmente
acredita que o Rei acredita que ela é louca, mas, como vimos no último
quebra-cabeça, isso significa que o Rei é louco. Assim, se o Rei for sadio,
ele será louco - donde o Rei não pode ser sadio; é louco. Sendo assim, sua
crença é falsa, donde a Rainha não acredita realmente que o Rei acredita
48

que ela é louca. Ora, a Rainha é sadia ou é louca. Se for sadia, sua crença
será correta, donde é verdade que o Rei não acredita que ela é louca, logo
acreditando que ela é sadia. Nesse caso, o Rei tem razão, e temos a
impossibilidade de que um Rei louco acredite numa coisa verdadeira. Por
outro lado, se a Rainha é louca, sua crença é errada, de modo que o Rei
realmente acredita que ela é louca, o que novamente faz com que o Rei
seja são, o que ele não é. Em qualquer lugar dos dois casos, portanto,
chegamos a uma contradição.
Isso prova que simplesmente não é possível que o Rei acredite que a Rai-
nha acredita que o Rei acredita que ela é louca. Logo, se a Duquesa
dissesse isso a Alice, ela é que teria que ser louca! Ocorre, é claro, que
ela não disse isso a Alice; tudo o que disse foi: ‘que diria se eu lhe dis-
sesse. . . ’ ”
[SMULLYAN, 2000, p. 156]
49

3.9.5 Dedução do puzzle 21

1. Be Ba Be La H
2. ¬Le H
3. Be Ba Be La ↔ Ba Be La 2 R2
4. Be Ba Be La → Ba Be La 3 BC
5. Ba Be La 1,4 MP
6. Le 5 puzzle 20
7. Le ∧ ¬Le 2,6 C
8. ¬¬Le 2 - 7 RAA
9. Le 8 DN
10. Be Ba Be La ↔ ¬Ba Be La 9 RL1
11. Be Ba Be La → ¬Ba Be La 10 BC
12. ¬Ba Be La 1,11 MP
13. ¬La H
14. Ba Be La ↔ Be La 13 R2
15. Be La → Ba Be La 14 BC
16. Be La H
17. Ba Be La 15,16 MP
18. Ba Be La ∧ ¬Ba Be La 12,17 C
19. ¬Be La 16 - 18 RAA
20. ¬Be ¬La H
21. Be ¬La ↔ ¬La 13 R2
22. ¬La → Be ¬La 21 BC
23. ¬¬La 20,22 MT
24. La 23 DN
25. ¬¬Be ¬La 20 - 24 RAA
26. Be ¬La 25 DN
27. Be ¬La ∧ ¬La 13,26 C
28. ¬La H
29. Be ¬La 27 S
30. ¬La → Be ¬La 28 - 29 RPC
31. Be ¬La H
32. ¬La 27 S
33. Be ¬La → ¬La 31 - 32 RPC
34. Be ¬La ↔ ¬La 30,33 CB
35. ¬Le 34 R2
36. Le ∧ ¬Le 9, 35 C
37. ¬¬La 13-36 RAA
50

38. La 37 DN
39. Ba Be La ↔ ¬Be La 38 RL1
40 ¬Be La → Ba Be La 39 BC
41. ¬¬Be La 12,40 MT
42. Be La 41 DN
43. Be La ∧ La 38,42 C
44. Be La H
45. La 43 S
46. Be La → La 44-45 RPC
47. La H
48. Be La 43 S
49. La → Be La 47-48 RPC
50. Be La ↔ La 46,49 CB
51. ¬La 50 R2
52. La ∧ ¬La 38, 51 C

3.9.6 Comentário Sobre a Dedução

O presente puzzle nos leva a uma contradição, porque “É impossível que o Rei acredita
que a Rainha acredita que o Rei acredita que a Rainha é louca”. Se o Rei é sadio (linha
2), então a Rainha acredita que o Rei acredita que ela é louca (linha 5). De acordo com
o puzzle 20, isto nos leva a afirmação de que o Rei é louco (linha 6), chegando a uma
contradição: o Rei é louco e não louco. Pode se concluir que “ o Rei não pode ser sadio;
é louco” (linha 9). Então “a Rainha não acredita realmente que o Rei acredita que ela é
louca” (linha 12). Vamos supor que a Rainha não é louca (linha 13). Isso significa que “o
Rei não acredita que ela é louca” (linha 19), o que é o mesmo que afirmar que o Rei está
“acreditando que ela é sadia” (Linha 26), levando a uma contradição (linha 36), pois o Rei
louco acredita em algo verdadeiro.
Por redução ao absurdo, chegamos a informação de que a Rainha é louca (linha 38),
por consequência, o Rei acredita que ela é louca (linha 42). Assim temos uma contradição
(linha 52), pois o Rei é louco e acredita em algo verdadeiro.

3.10 Puzzle 22 - Relembrando o puzzle sobre a Rainha de Copas

‘ Alice ponderou sobre o último enigma e disse: - Se você me tivesse me


dito isso (o que, é claro, não fez), receio que eu teria que concluir que você
deve ser a louca!
- E estaria certa! - exclamou a Duquesa. Mas é claro que eu nunca lhe
diria uma coisa impossível dessas!
51

-E agora - prosseguiu a Duquesa -, você deve poder resolver o enigma


do Rei e da Rainha de Copas. Lembre-se do que eu lhe disse: A Rai-
nha acredita que o Rei acredita que a Rainha acredita que o Rei acre-
dita que ela é louca. A pergunta é: a Rainha de Copas é louca ou sã?”
[SMULLYAN, 2000, p. 37]

3.10.1 Linguagem

Constantes Individuais

e: Rei de Copas
a: Rainha de Copas

3.10.2 Formalização das Premissas

1. Ba Be Ba Be La P

3.10.3 Comentário Sobre as Premissas

Este puzzle primeiramente é apresentado no puzzle 20. Entretanto, a Duquesa se con-


vence de que ele é muito complexo, sendo necessário outros enigmas para melhor compreende-
lo. Assim, se compreende que Smullyan organizou os puzzles em níveis, partindo do mais
simples, ao mais complexo.
Voltemos ao puzzle 22. A formalização acima corresponde a seguinte expressão: “ A
Rainha acredita que o Rei acredita que a Rainha acredita que o Rei acredita que ela é
louca”.

3.10.4 Solução do puzzle 22

O que demonstramos no último quebra-cabeça se aplicaria tanto ao Rei e à


Rainha de Copas quanto ao Rei e à Rainha de Paus: não é possível que o
Rei de Copas acredita que a Rainha de Copas acredita que o Rei de Copas
acredita que ela é louca. Uma vez que a Rainha de Copas acredita que o
Rei acredita nisso, ela é louca. Quanto ao Rei, não é possível determinar
o que ele é a partir dos dados fornecidos. [SMULLYAN, 2000, p. 157]
52

3.10.5 Dedução do puzzle 22

1. Ba Be Ba Be La P
2. ¬La H
3. Ba Be Ba Be La ↔ Be Ba Be La 2 R2
4. Ba Be Ba Be La → Be Ba Be La 3 BC
5. Be Ba Be La 1,4 MP
6. La ∧ ¬La 5 puzzle 21
7. ¬¬La 2 - 6 RAA
8. La 7 DN

3.10.6 Comentário sobre a dedução

Vamos supor que a Rainha de Copas não é louca (linha 2). Então o Rei de Copas acredita
que a Rainha de Copas acredita que o Rei de Copas acredita que a Rainha de Copas é
louca (linha 5). Como vimos no puzzle anterior, isso nos leva a uma contradição (linha 6).
Concluímos, por redução ao absurdo, que a Rainha de Copas é louca (linha 8).

3.11 Puzzle 23 - O Dodó, o Aguioto e o Papagaio são Loucos?

“E há ainda o Dodó, o Papagaio e o Aguioto - disse a Duquesa. O Dodó


acredita que o Papagaio acredita que o Aguito é louco. O Papagaio acre-
dita que o Dodó é louco, e o Aguioto acredita que o Dodó é são. - Você
consegue decifrar essa? - perguntou a Duquesa.”
[SMULLYAN, 2000, p. 37]

3.11.1 Linguagem

Constantes Individuais:

d: Dodó
p: Papagaio
a: Aguioto

3.11.2 Formalização das Premissas

1. Bd Bp La P
2. Bp Ld P
3. Ba ¬Ld P
53

3.11.3 Comentário sobre as Premissas

Neste puzzle, a Duquesa apresenta três personagens: Dodó, Papagaio e Aguioto. A frase
“O Dodó acredita que o Papagaio acredita que o Aguito é louco” é formalizado por Bd Bp La.
E “O Papagaio acredita que o Dodó é louco” formalizamos por Bp Ld. A formalização Ba ¬Ld
é o resultado da frase “o Aguioto acredita que o Dodó é são”.

3.11.4 Solução do puzzle 23

“Uma vez que o Papagaio acredita que o Dodó é louco, o Papagaio e o


Dodó são de tipos opostos (se o Papagaio for sadio, o Dodó será realmente
louco; se o Papagaio for louco, o Dodó não será realmente louco, e sim
sadio). Uma vez que o Aguioto acredita que o Dodó é são, ele é o oposto
do Papagaio (que acredita que o Dodó é louco), donde ele é igual ao Dodó.
(Alternativamente, seria possível provar que, se o Aguioto é sadio, o Dodó
é realmente são, e se o Aguioto é louco, o Dodó não é realmente sadio,
mas louco.) Portanto, o Aguioto e o Dodó são iguais, e o Papagaio é o
contrário dos dois. Uma vez que o Papagaio é o contrário do Aguioto, ele
deve acreditar que o Aguioto é louco. Portanto, a crença do Dodó está
certa, de modo que o Dodó é são. Assim, o Dodó e o Aguioto são sadios
e o Papagaio é louco.” [SMULLYAN, 2000, p. 157]
54

3.11.5 Dedução do puzzle 23

1. Bd Bp La P
2. Bp Ld P
3. Ba ¬Ld P
4. ¬Lp H
5. Bp Ld ↔ Ld 4 R2
6. Bp Ld → Ld 5 BC
7. Ld 2,6 MP
8. ¬Lp → Ld 4,7 RPC
9. Lp H
10. Bp Ld ↔ ¬Ld 9 R2
11. Bp Ld → ¬Ld 10 BC
12. ¬Ld 2,11 MP
13. Lp → ¬Ld 9 - 12 RPC
14. La H
15. Ba ¬Ld ↔ ¬¬Ld 14 RL1
16. Ba ¬Ld → ¬¬Ld 15 BC
17. ¬¬Ld 3, 16 MP
18. ¬Lp 13,17 MT
19. La → ¬Lp 14 - 18 RPC
20. ¬La H
21. Ba ¬Ld ↔ ¬Ld 20 RL1
22. Ba ¬Ld → ¬Ld 21 BC
23. ¬Ld 3,22 MP
24. ¬¬Lp 8,23 MT
25. Lp 24 DN
26. ¬La → Lp 20 - 25 RPC
27. ¬Bp La H
28. ¬Bp ¬La H
29. La H
30. Bp ¬La ↔ ¬¬La 29 RL1
31. ¬¬La → Bp ¬La 30 BC
32. ¬¬La 29 ND
33. Bp ¬La 31,32 MP
34. Bp ¬La ∧ ¬Bp ¬La 28,33 C
35. ¬La 29-34 RAA
36. Lp 26,35 MP
55

37. Bp ¬La ↔ ¬La 36 R2


38. ¬La → Bp ¬La 37 BC
39. Bp ¬La 35,38 MP
40. Bp ¬La ∧ ¬Bp ¬La 28,39 C
41. ¬¬Bp ¬La 28 - 40 RAA
42. Bp ¬La 41 DN
43. ¬Lp H
44. Bp ¬La ↔ ¬La 43 R2
45. Bp ¬La → ¬La 44 BC
46. ¬La 42, 45 MP
47. Lp 26, 46 MP
48. Lp ∧ ¬Lp 43, 47 C
49. ¬¬Lp 43 - 48 RAA
50. Lp 49 DN
51. Bp ¬La ↔ ¬¬La 50 RL1
52. Bp ¬La → ¬¬La 51 BC
53. ¬¬La MP 42,52
54. La 53 DN
55. ¬Lp 19,54 MP
56. Lp ∧ ¬Lp 50,55 C
57. ¬¬Bp La 27-56 RAA
58. Bp La 57 DN
59. Bd Bp La ∧ Bp La 1, 58 C
60. Bd Bp La H
61. Bp La 59 S
62. Bd Bp La → Bp La 60 - 61 RPC
63. Bp La H
64. Bd Bp La 59 S
65. Bp La → Bd Bp La 63 - 64 RPC
66. Bd Bp La ↔ Bp La 62, 65 CB
67. ¬Ld 66 RL1
68. ¬¬Lp 8, 67 MT
69. ¬La 19, 68 MT
70. Lp 68 DN

3.11.6 Comentário sobre a dedução

Se o Papagaio acredita que o Dodó é louco, então “o Papagaio e o Dodó são de tipos
opostos” (linhas 8 e 13). Se o Aguioto acredita que o Dodó não é louco, então ele é é
oposto do Papagaio (linhas 19 e 26). “Uma vez que o Papagaio é o contrário do Aguioto,
56

ele deve acreditar que o Aguioto é louco” (linha 58). Consequentemente, o Dodó e o
Aguioto não são loucos (linhas 67 e 69) e o Papagaio é louco (linha 70) .

3.12 Puzzle 24 - Um puzzle de Sete Personagens

“Alice resolveu o último enigma. -Acho que sei por que metade das pes-
soas daqui é louca - disse.
-Por quê? - perguntou a Duquesa.
-Acho que elas enlouqueceram tentando decifrar enigmas como esses.
Eles são terrivelmente confusos!
-Em matéria de enigmas confusos - respondeu a Duquesa -, esses não
são nada, comparados a alguns que eu poderia lhe contar, se quisesse!
-Oh, não precisa querer! - disse Alice, de maneira mais polida possível.
-Por exemplo, existe o Valete de Copas - continuou a Duquesa -; ele faz
companhia aos Jardineiros de Espadas, Um, Dois, Três, Quatro, Cinco,
Seis e Sete. Creio que você já conheceu o Dois, o Cinco e o Sete, não é?
-Ah, sim - lembrou-se Alice. Eles estavam tendo um trabalhão tentando
pintar rosas brancas de vermelho, porque haviam plantado por engano
uma roseira branca no jardim, em vez da roseira vermelha que a Rainha
tinha mandado.
-Bem - disse a Duquesa -, o Três acredita que o Um é louco. O Quatro
acredita que o Três e o Dois não são ambos loucos. O Cinco acredita
que o Um e o Quatro não são ambos loucos, ou então, ambos são. O Seis
acredita que o Um e o Dois são ambos sadios. O Sete acredita que o cinco
é louco. Quanto ao Valete de Copas, ele acredita que o Seis e o Sete não
são ambos loucos.
- E agora - prosseguiu a Duquesa -, você se importa em descobrir se o
Valete é louco ou são, ou prefere um quebra-cabeça mais confuso?
-Oh não - respondeu a pobre Alice -, esse já é bastante confuso, obrigada!
O Valete de Copas é louco ou são?” [SMULLYAN, 2000, p. 38]

3.12.1 Linguagem

Constantes Individuais

c1 : Um
c2 : Dois
c3 : Três
c4 : Quatro
c5 : Cinco
c6 : Seis
c7 : Sete
l: Valete
57

3.12.2 Formalização das Premissas

1. Bc3 Lc1 P
2. Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) P
3. Bc5 (Lc1 ↔ Lc4 ) P
4. Bc6 (¬Lc1 ∧ ¬Lc2 ) P
5. Bc7 Lc5 P
6. Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) P

3.12.3 Comentário Sobre as Premissas

Este é o último puzzle dentro do diálogo entre Alice e a Duquesa. Por isso, a Duquesa
apresenta o enigma que mais contém personagens e premissas. Isto reforça a ideia de
que Smullyan apresenta os enigmas partindo do simples ao complexo.
O puzzle 24 possui oito personagens: Um, Dois, Três, Quatro, Cinco, Seis, Sete e o
Valete.
A formalização da expressão “o Três acredita que o Um é louco” é dado por Bc3 Lc1
(linha 1). A frase “O Quatro acredita que o Três e o Dois não são ambos loucos” é forma-
lizado por Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) (linha 2). A sentença “O Cinco acredita que o Um e o Quatro
não são ambos loucos, ou então, ambos são” é formalizado por Bc5 (Lc1 ↔ Lc4 ) (linha 3).
Na expressão “O Seis acredita que o Um e o Dois são ambos sadios” é formalizado por
Bc6 (¬Lc1 ∧ ¬Lc2 ) (linha 4). A sentença “O Sete acredita que o cinco é louco” é formalizado
por Bc7 Lc5 (linha 5). A frase “Quanto ao Valete de Copas, ele acredita que o Seis e o Sete
não são ambos loucos” é formalizado por Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ).
Depois de lançar as premissas, a Duquesa faz para Alice a seguinte indagação: “você
se importa em descobrir se o Valete é louco ou são, ou prefere um quebra-cabeça mais
confuso?”. A partir disso, concluímos que a Duquesa deu as informações possíveis a Alice
para que ela resolva o problema.

3.12.4 Solução do puzzle 24

“Provarei que, se Sete é louco, Seis deve ser sadio - e portanto, que o
Valete tinha razão ao acreditar que Seis e Sete não são ambos loucos.
Bem, suponhamos que Sete seja louco. Nesse caso, a crença de Sete
sobre Cinco está errada, donde Cinco é sadio. Sendo assim, a crença de
Cinco é correta, de modo que Um e Quatro são ambos loucos ou ambos
sãos. Ora, não é possível que Um e Quatro sejam ambos loucos. (Isso
porque, se Quatro fosse louco, sua crença seria errada, o que faria com
que Três e Dois fossem ambos loucos; entretanto, o fato de Três ser louco
significaria que Um é são, e não louco. Assim, se Quatro for Louco, Um de-
verá ser sadio, de modo que Um e Quatro não poderão ser ambos loucos.)
Portanto, Um e Quatro são ambos sãos. Uma vez que Quatro é são, Três e
Dois não são ambos loucos - pelo menos um deles é são. Entretanto, Três
58

não pode ser são, porque acredita que Um é louco. Logo, o sadio deve ser
Dois. Assim, Um e Dois são ambos sãos. Isso significa que a crença de
Seis está certa, logo Seis deve ser sadio.
Demonstramos, portanto, que, se Sete é louco, Seis deve ser sadio. Logo,
não é possível que Sete e Seis sejam ambos loucos. Uma vez que o
Valete acredita que eles não são ambos loucos, o Valete deve ser são.”
[SMULLYAN, 2000, p. 157-158]

3.12.5 Dedução do puzzle 24

1. Bc3 Lc1 P
2. Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) P
3. Bc5 (Lc1 ↔ Lc4 ) P
4. Bc6 (¬Lc1 ∧ ¬Lc2 ) P
5. Bc7 Lc5 P
6. Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) P
7. Lc7 H
8. Bc7 Lc5 ↔ ¬Lc5 7 RL1
9. Bc7 Lc5 → ¬Lc5 8 BC
10. ¬Lc5 5,9 MP
11. Bc5 (Lc1 ↔ Lc4 ) ↔ (Lc1 ↔ Lc4 ) 10 R2
12. Bc5 (Lc1 ↔ Lc4 ) → (Lc1 ↔ Lc4 ) 11 BC
13. Lc1 ↔ Lc4 3,12 MP
14. Lc4 H
15. Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) ↔ ¬¬(Lc3 ∧ Lc2 ) 14 R2
16. Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) → ¬¬(Lc3 ∧ Lc2 ) 15 BC
17. ¬¬(Lc3 ∧ Lc2 ) 2,16 MP
18. Lc3 ∧ Lc2 17 DN
19. Lc3 18 S
20. Bc3 Lc1 ↔ ¬Lc1 19 RL1
21. Bc3 Lc1 → ¬Lc1 20 BC
22. ¬Lc1 1,21 MP
23. Lc4 → Lc1 13 BC
24. Lc1 14,23 MP
25. Lc1 ∧ ¬Lc1 22,24 C
59

26. ¬Lc4 14-25 RAA


27. Lc1 → Lc4 13 BC
28. ¬Lc1 26,27 MT
29. Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) ↔ ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) 26 R2
30. Bc4 ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) → ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) 29 BC
31. ¬(Lc3 ∧ Lc2 ) 2, 30 MP
32. ¬Lc3 H
33. Bc3 Lc1 ↔ Lc1 32 R2
34. Bc3 Lc1 → Lc1 33 BC
35. Lc1 1,34 MP
36. Lc1 ∧ ¬Lc1 28,35 C
37. ¬¬Lc3 32-36 RAA
38. ¬Lc3 ∨ ¬Lc2 31 DM
39. ¬Lc2 37,38 SD
40. ¬Lc1 ∧ Lc2 28,39 C
41. Bc6 (¬Lc1 ∧ Lc2 ) ∧ (¬Lc1 ∧ Lc2 ) 4,40 C
42. Bc6 (¬Lc1 ∧ Lc2 ) H
43. ¬Lc1 ∧ Lc2 41 S
44. Bc6 (¬Lc1 ∧ Lc2 ) → (¬Lc1 ∧ Lc2 ) 42 - 43 RPC
45. ¬Lc1 ∧ Lc2 H
46. Bc6 (¬Lc1 ∧ Lc2 ) 41 S
47. (¬Lc1 ∧ Lc2 ) → Bc6 (¬Lc1 ∧ Lc2 ) 45 - 46 RPC
48. Bc6 (¬Lc1 ∧ Lc2 ) ↔ (¬Lc1 ∧ Lc2 ) 44,47 CB
49. ¬Lc6 48 R2
50. Lc7 → ¬Lc6 7 - 49 RPC
51. Lc6 ∧ Lc7 H
52. Lc7 52 S
53. ¬Lc6 50,52 MP
54. Lc6 51 S
55. Lc6 ∧ ¬Lc6 53,54 C
56. ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) 51 - 55 RAA
57. Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) ∧ ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) 6,56 C
58. Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) H
59. ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) 57 S
60. Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) → ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) 58 - 59 RPC
61. ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) H
62. Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) 57 S
63. ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) → Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) 61 - 62 RPC
64. Bl ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) ↔ ¬(Lc6 ∧ Lc7 ) 60,63 CB
65. ¬Ll 64 R2
60

3.12.6 Comentário Sobre a dedução

Vamos supor que o Sete é louco (linha 7). “Nesse caso, a crença de Sete sobre Cinco
está errada, donde Cinco é sadio” (linha 10). Mas se o Cinco não é louco, então “Um e
Quatro são ambos loucos ou ambos sãos” (linha 13). Porém, não pode ocorrer de Quatro
ser louco, pois isso nos levaria a um absurdo (linha 25). Sabendo que o Quatro não é louco
(linha 26), então sua crença está correta e, portanto, Três e Dois não são ambos loucos
(linha 31). Mas o Três não pode ser são (linha 37), o que implica que é o Dois que é são
(linha 39). Como Um e Dois são ambos são, “Isso significa que a creça de Seis está certa,
logo Seis deve ser sadio” (linha 49). Isso siginifica que se Sete é louco, então Seis deve
ser sadio (linha 50). “Logo, não é possível que Seis e Sete sejam ambos loucos” (linha 56).
Então o Valete anunciou uma crença verdadeira, e portanto, ele não é louco (linha 65).
.
61

4 Considerações Finais
O desenvolvimento da presente pesquisa mostrou não apenas como formalizar alguns
puzzles de Raymond Smullyan. Como a Lógica da Loucura pode ser adaptada para o
contexto do Paradoxo de Epimênides, acreditamos que essa lógica pode ser usada nas
mais variadas situações. Além disso, ao formalizar o puzzle e o raciocínio do autor, se
permitiu analisar as diferenças entre a linguagem natural e linguagem formal.
Este trabalho não se propõe esgotar o tema. Ao contrário, temos a pretensão de mos-
trar o quanto ainda pode ser feito com os capítulos restantes de “Alice no País dos Enig-
mas”. Esperamos que este trabalho seja o começo de muitos.
Claramente, não temos nenhuma garantia que as regras e definições apresentadas
são de fatos consistentes. Poderíamos a chegar a uma contradição. Para isso, se faz
necessário um semântica para a Lógica da Loucura. Poderíamos ainda estabelecer uma
combinação da Lógica da Loucura com a Lógica da Mentira nos puzzles de Smullyan. Mas
esta tarefa será deixada para um futuro trabalho.
62

Referências
[CARNIELLI; EPSTEIN, 2005] CARNIELLI, W.; EPSTEIN, R. Computabilidade, Funções
Computáveis, Lógica e os Fundamentos da Matemática. Editora Unesp, São Paulo, SP,
2005

[CARROLL, 2018] CARROLL, L.. Alice: edição comentada e ilustrada. Jorge Zahar, Rio
de Janeiro, RJ, 2000.

[HENDRICKS;SYMONS, 2018] HENDRICKS, V.; SYMONS J. Epistemic Logic. In Zalta,


E. N., editor, The Stanford Encyclopedia of Philosophy. Metaphysics Research Lab,
Stanford University, 2015. Disponível em
<https://plato.stanford.edu/entries/logic-epistemic/>.
Acesso em: 2 jun. 2018.

[KOLANI, 1996] KOLANI, A. A General Method of Solving Smullyan’s puzzles. Logic and
Logical Philosophy, 4:97–103, 1996.

[MORTARI, 2001] MORTARI, C. A. Introdução à Lógica. Editora Unesp, São Paulo, 2001.

[SMULLYAN, 2000] SMULLYAN, R. Alice no País dos Enigmas. Jorge Zahar, Rio de
Janeiro, RJ, 2000.

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