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CAPÍTULO 9 - Resistência ao Fogo das Estruturas Pré-Moldadas

9.1 Geral

O comportamento estrutural de uma construção de concreto exposta ao fogo é um fenômeno


complexo devido ao grande número de parâmetros intervenientes. Os métodos de cálculo e
de projeto relacionados à análise global da estrutura de concreto em situação de incêndio
estão ainda em processo de desenvolvimento. Neste contexto, o propósito desse capítulo é
fornecer aos projetistas alguns critérios ligados ao comportamento das estruturas expostas ao
fogo, para que o projetista possa entender quais as ações diretas e indiretas que estão
presentes e como a estrutura de concreto reage ao fogo. Isso deveria possibilitar a aplicação
de uma filosofia de projeto específica que vai além de uma simples verificação da resistência
ao fogo dos elementos de concretos simples, como ocorre nos procedimentos correntes.

Os requisitos de desempenho para a resistência ao fogo das estruturas de edificações são


definidos pelas normas técnicas nacionais. Tais requisitos especificam o tempo que a
estrutura deve resistir ao fogo normalizado, que no caso europeu está relacionado com uma
norma da ISO, para diferentes tipos e tamanhos de edificações, onde o projetista deve
verificar se a estrutura é capaz de satisfazer os requisitos de desempenho para resistência ao
fogo.

9.2 Critérios de Desempenho para Resistência ao Fogo

A capacidade de uma estrutura de concreto de manter sua função de suportar carregamentos


durante exposição ao fogo é fornecida pela expressão:

Ed,fi(t) <_ Rd,fi(t)

Onde:

Ed,fi(t) é o efeito das ações de projeto em uma situação de fogo no tempo t

Rd,fi(t) é a resistência de projeto correspondente às temperaturas elevadas


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Os critérios básicos de desempenho para uma estrutura de concreto, segundo as condições


acima, são os seguintes:

‰ Critério de Resistência Estrutural, simbolizado por “R”, o qual é considerado


satisfatório quando a estrutura mantém a sua função de suporte de cargas durante
o tempo requerido para exposição ao fogo.

‰ Critério de Isolamento Térmico, simbolizado por “I”, o qual é considerado


satisfatório quando a média de temperatura sobre a superfície total não exposta é
limitada a 140K e a temperatura máxima em qualquer ponto da superfície não
exceda 180K. Essas temperaturas devem ser vistas como estados de limites de
serviço (utilização) para a ocupação da edificação.

‰ Critério de Resistência à Chama, simbolizado por “E”, o qual é considerado


satisfatório quando a função de separação (que relaciona a capacidade de impedir
que o fogo se espalhe, quer por passagem das chamas, por meio de gases quentes
ou por ignição, além da superfície exposta) se mantenha durante situações de
fogo relevante. Na prática, isso significa que devem ser tomadas precauções para
se evitar a passagem do fogo através de fissuras, juntas e outras aberturas.

De acordo a sua função na edificação, os elementos estruturais devem satisfazer aos critérios
R, E e I, segundo as seguintes recomendações:

‰ Apenas função estrutural: resistência mecânica (critério R)


‰ Apenas função de separação: integridade (critério E) e quando exigido,
isolamento (critério I)

‰ Funções estrutural e de separação: critérios R, E e se necessário I

No presente texto será utilizado principalmente o critério “R”.

9.3 Efeitos do fogo


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9.3.1. Redução do Desempenho dos Materiais

Quando ocorre um incêndio em uma edificação, a temperatura aumenta rapidamente,


principalmente quando há muito material combustível e oxigênio. Os materiais utilizados na
construção que estão expostos irão se aquecer, de acordo com a condutividade térmica dos
mesmo, o que ocorrerá muito rápido para aço desprotegido e mais devagar para concreto.
Dois fenômenos ocorrem simultaneamente: a redução do desempenho dos materiais
empregados na construção e a dilatação térmica. A tabela 9.1 fornece critérios gerais para a
relação entre as tensões do concreto e do aço para as armaduras passiva e ativa, como uma
função das temperaturas nestes materiais. Estas relações foram extraídas do Eurocode 2
“Projeto de Estruturas de Concreto – Parte 1.2: Regras Gerais: Resistência ao Fogo de
Estruturas” [1]. Maiores detalhes sobre deformações estão disponíveis naquela norma.

Concrete Reinforcing steel Prestressing


Temperature siliceous calcareous hot rolled cold worked steel
θ [°C] aggregates aggregates
f c,θ / fck f c,θ / fck f sy,θ / fyk f sy,θ / fyk f py,θ / (0.9 fpk)
20 1.00 1.00 1.00 1.00 1.00
100 1.00 1.00 1.00 1.00 0.99
200 0.95 0.97 1.00 1.00 0.87
300 0.85 0.91 1.00 1.00 0.72
400 0.75 0.85 1.00 0.94 0.46
500 0.60 0.74 0.78 0.67 0.22
600 0.45 0.60 0.47 0.40 0.10
700 0.30 0.43 0.23 0.12 0.080
800 0.15 0.27 0.11 0.11 0.05
900 0.08 0.15 0.06 0.08 0.03
1000 0.04 0.06 0.04 0.05 0.00
1100 0.01 0.02 0.02 0.03 0.00
1200 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00

Tabela 9.1 Desempenho do concreto e do aço para armadura passiva e ativa.

Em estruturas metálicas desprotegidas a temperatura aumentará rapidamente em todas as


seções transversais expostas por causa da alta condutividade térmica do aço. Como
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conseqüência, após 15 minutos de fogo intenso, um estado limite crítico é alcançado, no qual
a resistência do material é reduzida pela metade e as margens de segurança desaparecem
completamente. Rótulas plásticas aparecem em vários lugares, ocorrendo o colapso da como
da estrutura.

O caso das estruturas de concreto, a situação é completamente diferente. O processo de


aquecimento nas seções transversais e ao longo dos elementos é bem mais lento e de forma
heterogênea. Por exemplo: depois de uma hora de fogo padrão ISO, a temperatura em uma
laje plana de concreto pode atingir 600°C na superfície inferior e 60°C na superfície
superior. O aço da armadura que está na parte inferior da seção transversal aquece e perde
gradualmente sua resistência (sofre relaxação). Contudo, o concreto que o circunvizinha
retarda bastante este processo.

Além disso, com a diminuição do desempenho mecânico dos materiais empregados, a


estrutura estará sujeita à expansão térmica: vigas e pilares principalmente na direção
longitudinal, pisos e paredes em ambas as direções longitudinal e transversal.

Essas considerações acima mostram diferenças importantes entre a ação das estruturas de
concreto e as estruturas de aço quando expostas ao fogo. Para as estruturas de aço, a
estabilidade da estrutura depende da resistência de cada elemento individualmente, enquanto
para as estruturas de concreto a estabilidade depende mais do comportamento global da
estrutura e, raramente, depende da resistência ao fogo dos elementos individuais.

9.3.2 Expansão Térmica

Quando um incêndio ocorre de forma localizada na parte central de uma edificação de


grande porte, a expansão térmica será restringida pela estrutura fria de concreto ao redor
desta área localizada, onde serão geradas grandes forças de compressão em todas as
direções. Quando o fogo se inicia numa região localizada na extremidade da mesma
edificação, neste caso, haverá a restrição horizontal à expansão térmica será muito menor. A
situação mais crítica é quando o fogo cobre uma larga superfície, resultando em grandes
deformações acumuladas. Neste caso, é possível assumir que, por exemplo para uma grande
área de armazenamento, a deformação longitudinal acumulada em tramos sucessivos que
estão na mesma direção durante o fogo pode chegar a 100 mm ou mais.
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A expansão longitudinal das vigas ou lajes nervuradas será consideravelmente maior que as
lajes retas. Vigas e nervuras são expostas ao fogo em três lados. Neste caso, o gradiente
térmico será mais uniforme sob a seção transversal inteira. A laje plana expandirá menos na
direção longitudinal, mas apresenta mais deflexão por causa do gradiente de temperatura
diferenciado da superfície inferior para a superfície superior.

Durante uma situação de fogo intenso de curta duração, o efeito da dilatação será
provavelmente bem inferior do que em uma situação de longa duração mas com baixa
intensidade, pois o concreto demora mais para se aquecer. Isso mostra que a curva de fogo
da ISO pode não ser necessariamente a ação térmica mais desfavorável.

Figura 9.2 Forças de compressão na estrutura devido às restrições para a expansão térmica.

9.3.3. Deformação transversal da seção transversal

Além das expansões longitudinal e transversal, os elementos submetidos ao fogo em apenas


um dos lados, como por exemplo em lajes planas, também apresentarão uma deformação da
seção transversal. Devido ao gradiente de temperatura, a superfície inferior exposta irá se
expandir muito mais do que a superfície superior não exposta. Isso fará como que o
elemento de laje se flexione. Todavia, desde que a fluência aumenta para temperaturas
elevadas e o módulo E diminui, a deformação não será diretamente proporcional ao
gradiente de temperatura, principalmente se o gradiente térmico sobre a seção transversal
não for linear. De qualquer forma, o empenamento da laje causa um aumento das tensões
internas e das ações externas.
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As tensões internas são causadas devido ao fato de que da distribuição da tensão sobre a
seção transversal não é linear, enquanto a deformação é linear (figura 9.3). Como
conseqüência, tensões de compressão surgem nas bordas superior e inferior da seção de
concreto e tensões de tração no meio da seção.

compressio

linear deformation of the


cross-section

tension

compressio
temperature

Figura 9.3 deformação versus gradiente térmico e surgimento de forças transversais

Além das tensões internas, a deflexão dos elementos promove um aumento significante dos
momentos nos apoios (figura 9.4). Como resultado, as tensões nas armaduras negativas
(superiores) nos apoios aumentarão e em alguns casos podem até escoar.

Moment line for loading and thermal deformations Moment line for normal
loading

Figura 9.4 aumento dos momentos nos apoios de uma viga contínua
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9.4 Análise Global da Estrutura

De acordo com o Eurocode 2 – parte 1-2 [1] e outras normas européias, a análise global da
estrutura de uma edificação ou partes dela, deve levar em consideração os modos relevantes
de falhas em exposição ao fogo, as propriedades dos materiais dependentes da temperatura e
a rigidez dos elementos isolados, efeitos da expansão térmica e deformações. Entretanto, o
EC2 não estipula como incluir esses efeitos no projeto. A análise da segurança ao fogo é
daqui por diante restrita a verificação dos elementos isolados com base nas dimensões da
seção transversal e do cobrimento mínimo da armadura, para um determinado tempo de
exposição a um incêndio normalizado segundo norma ISO.

Entretanto, experiências com incêndios reais mostram que a instabilidade de estruturas de


concreto raramente ocorrem por causa da diminuição do desempenho dos materiais
submetidos à temperaturas elevadas, mas quase sempre por causa da incompatibilidade das
estruturas para absorver as deformações térmicas impostas. Felizmente, as estruturas de
concreto dispõem não apenas de uma alta resistência ao fogo, mas também possuem uma
grande capacidade de redistribuição devido à sua robustez e integridade estrutural.
Consequentemente, quase não ocorre instabilidade em estruturas de concreto causadas por
fogo.

Apesar de não haver ainda muitas pesquisas significantes nesse campo, é possível traçar uma
filosofia de projeto e diretrizes baseadas em experiências práticas em situações reais de
incêndio e modelos de simulações.

Primeiramente, o projetista deve prestar mais atenção para o comportamento global da


estrutura quando exposta ao fogo, ao invés de atentar apenas para os o comportamento dos
elementos individuais, como é o caso tratado acima. A forma e as dimensões da edificação,
bem como o esquema estático são na verdade muito importantes no comportamento da
estrutura durante uma situação de incêndio. Devem ser consideradas especialmente as
possibilidades da expansão térmica, deformações e forças de bloqueio (restrição aos
movimentos térmicos). Por exemplo, em construções pequenas a expansão térmica causará
forças de bloqueio bem menores do que em construções maiores onde o fogo está localizado
na parte central. Em construções com grandes áreas de pisos, mas com juntas de dilatação
insuficientes, podem ocorrer grandes expansões. Não apenas a distância entre as juntas de
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dilatação, mas também a largura das juntas deve ser estuda partindo desse ponto de vista. Na
primeira aproximação, deve ser checada na construção se existe expansão local ou em
compartimentos que variam entre 100 a 150 graus centígrados. Isso indicaria imediatamente
onde estão as condições críticas no projeto e como resolvê-las.

Numa construção de vários pavimentos com núcleos de estabilização, a situação mais


favorável acontecerá quando o núcleo é colocado no centro da estrutura, tornando possível a
dilatação dos pisos adjacentes em todas as direções. A figura 9.5 apresenta um layout típico
para um edifício pré-moldado, o qual provavelmente se comportará de modo favorável em
uma situação de expansão térmica durante exposição ao fogo. O núcleo central absorverá as
ações horizontais. Todos os outros elementos são conectados ao núcleo por meio de ligações
rotuladas. Durante a exposição ao fogo, as forças de restrição serão limitadas quanto mais
forem as ligações entre o núcleo e os outros elementos (pilares, vigas e lajes) que possuem
um caráter estatisticamente determinado. Pilares esbeltos ou ligações rotuladas deformarão
juntamente com a estrutura, sem causar grandes forças de restrição ou falhas por
cisalhamento. Concluindo, o projeto deveria permitir que haja movimento quando possível,
para evitar a incompatibilidade de deformações por expansão térmica.

Hinged connection Central core

Figura 9.5 Layout favorável para a estabilidade da estrutura, considerando as expansões térmicas

9.5 Análises dos Elementos


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De acordo como Eurocode 2 parte 1-2 [1], a resistência ao fogo pode ser determinada por
ensaios de resistência ao fogo, cálculos ou dados tabelados para cálculo, os quais têm sido
geralmente adaptados por fabricantes.

9.5.1 Análise por Meio de Ensaios (Análise Experimental)

Os ensaios são geralmente executados em elementos (viga ou laje) simplesmente apoiados,


com uma carga imposta correspondente a uma combinação freqüente de ações. Muitos
ensaios e trabalhos de pesquisas associadas com elementos pré-moldados, como vigas,
pilares, elementos em duplo T e lajes alveolares foram realizados entre 1960 e 1980. A
pesquisa existente cobriu uma grande variação das seções transversais em conjunto com as
variações na quantidade e posição da armadura, cobertura da superfície de concreto e
superfície lateral, etc. Existem muitos resultados de ensaios disponíveis, mas os ensaios não
são mais executados tão freqüentemente. Além disso, por causa do tamanho limitado dos
fornos para ensaios (que varia entre 4 a 6 m de largura), e por causa dos vãos dos elementos
pré-moldados variar entre 6 a 40 m, os ensaios não são realmente relevantes e são
necessários outros métodos para verificar a resistência dos elementos de concreto pré-
moldados.

Para os elementos fletidos simplesmente apoiados o Estado Limite Último para o critério de
estabilidade “R” é geralmente obtido quando as flechas atinges 1/30 do comprimento do vão.
Para pilares, o ELU corresponde convencionalmente a um certo valor da contração, ou
quando a taxa de contração determinada se excede. Dados precisos estão disponíveis nas
normas nacionais (como por exemplo na BS-8110).

9.5.2 Método Simplificado de Calculo

A verificação do calculo é baseada no método do Estado Limite Último. A capacidade


portante de carga é determinada a partir das características reduzidas dos materiais
correspondendo a suas temperaturas ao tempo de exposição determinado. Esse método é
extensivamente descrito no Eurocode 2 parte 1-2 [1] e no Boletim CEB 208 [2].
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O método se baseia na hipótese que a resistência do concreto é desprezada nos cálculos para
temperaturas superiores a 500 oC, enquanto para valores inferiores a 500 oC o concreto é
assumido sua resistência total. Esse método é aplicável para uma seção de concreto armado e
concreto protendido considerando as solicitações normais, simples e compostas nesta seção.
Para uma viga retangular onde as três faces estão expostas ao fogo, a seção transversal
efetiva na situação de fogo estará de acordo com a figura 9.6. O método é válido para a
largura mínima da seção transversal dada pela tabela 9.7.

Figura 9.6 seção transversal reduzida de uma viga de concreto armado com exposição ao fogo em três lados

Fire resistance R60 R90 R120 R180 R240


Minimum width "b" 90 120 160 200 280
cross-section
Tabela 9.7 largura mínima das seções transversais em função da resistência ao fogo

Os perfis de temperatura determinados em [1], [2], ou em outras literaturas específicas


podem ser usados para determinar o gradiente de 500 0C na seção transversal exposta a uma
situação de normalizado.
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Com base no método das seções transversais reduzidas, o procedimento para calcular a
resistência de uma seção transversal de concreto armado submetido a uma situação de
incêndio pode ser desenvolvido do seguinte modo:

(a) determinar a isotérmica de 500 0C para uma exposição ao fogo específica;

(b) determinar uma nova largura efetiva bfi e uma nova altura efetiva dfi para a
seção transversal excluindo o concreto que está fora da isotérmica de 500 0C;

(c) determinar a temperatura das armaduras nas zonas de tração e de compressão. A


temperatura da barra individual da armadura pode ser avaliada a partir dos perfis
de temperatura fornecidos nos manuais ou literatura específica, sendo tomada
como a temperatura no centro da barra. Algumas das barras da armadura podem
cair fora da seção transversal reduzida, como mostrada na figura 9.6. Apesar
disso, elas podem ser incluídas no calculo da capacidade última portante de
carga da seção transversal exposta ao fogo;

(d) determinar a resistência reduzida na armadura devido a temperatura de acordo


com a tabela 9.1;

(e) usar métodos convencionais de calculo para seções transversais reduzidas para a
determinação da capacidade última de carga com resistência (figura 9.8 mostra
o modelo de calculo da capacidade portante da seção transversal retangular).
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b largura original
bfi largura efetiva da seção transversal
h altura original
bfi altura efetiva da seção transversal
dfi altura efetiva da seção transversal
z braço de alavanca entre a armadura tracionada e a resultante de compressão no concreto
lx ver método de calculo convencional para ELU (geralmente 0.8x)

Figura 9.8 distribuição da tensão no ELU para uma seção transversal retangular de concreto

Para seções transversais com formato em T, a zona de compressão no ELU é geralmente


dentro da área reduzida da mesa (ou borda comprimida). Nesse caso, a seção transversal com
formato em T é calculada com bfi a largura da aba e com z e dfi, de acordo com a figura 9.8.

O fogo é considerado uma ação acidental (excepcional). Como resultado, os valores


reduzidos para as cargas aplicadas podem ser usados, correspondendo a parte freqüente da
ação característica. Na verdade, a probabilidade da ocorrência de uma ação característica
completa durante a situação de fogo é desprezível. No EC 0 [3] o fator de redução do valor
freqüente de carregamentos para construções residenciais e comerciais é ψ1 = 0,5. Para ações
acidentais, também podem ser utilizados valores para os fatores de segurança parciais
menores do que para as situações normais de projeto. O EC 0 recomenda γs = γm = 1.0.

O método baseado na redução da seção transversal também pode ser aplicado para flexão,
cisalhamento e torção no projeto de vigas e lajes, onde a carga é predominantemente
uniformemente distribuída e, onde o projeto para uma temperatura normal se baseia na
análise linear. Quando utilizando o método de cálculo simplificado para elementos onde a
capacidade de cisalhamento depende da resistência de tração, devem ser tomadas
considerações especiais, onde as tensões de tração são causadas por distribuições não
lineares de temperatura (ex. Lajes alveolares – ver item 9.6.4).

O método não é aplicável para as pilares onde o comportamento estrutural é influenciado de


modo significante pelos efeitos de segunda ordem sob condições de fogo. O EC 2 (Parte 1-2)
[1] fornece informações detalhadas sobre esse assunto.

9.5.3. Verificação por meio de Valores Tabelados


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Valores tabelados oferecem soluções de projeto reconhecidos para exposição ao fogo


normalizado para mais de 240 minutos. Tabelas vem sendo desenvolvidas com base
empírica e confirmada por experiência e avaliação teórica dos ensaios. As tabelas fornecem
as dimensões mínimas para as seções transversais dos elementos e para o cobrimento
mínimo da armadura principal. Uma série de tabelas está disponível na literatura específica
(por ex. [1], [2] e outras). Elas incluem pilares, paredes estruturais e não estruturais, vigas e
lajes maciças e lajes nervuradas.

Os dados tabelados no Eurocode estão baseados no nível de carga ηfi = 0.7, o qual consiste
num fator de redução para o nível da carga de projeto para a situação de incêndio, a qual é
determinada por:

Gk + ψ fi Qk ,1
η fi =
γ G Gk + γ Q ,1Qk ,1

Onde:

Gk é o valor característico da ação permanente

Qk,l é ação variável principal

[]G é o fator parcial para a ação permanente

[]Q,l é o fator parcial para a ação variável 1

[]fi é o fator de combinação para os valores de carga freqüente

ηfi = 0.7 corresponde a combinação geralmente adotada em caso de ações acidentais, a saber
γG = l; γG,1 = 1 e ψfi = ψ1 = 0.5 (para edifícios de apartamentos, áreas residenciais e
comerciais). Para os níveis da armadura que são maiores do que aqueles estritamente
necessários na temperatura ambiente, as distâncias axiais mínimas fornecidas nas tabelas
podem ser ajustadas. Maiores informações podem ser encontradas em [1] ou em literatura
específica sobre o assunto.

Os valores da distância axial são estabelecidos para aço normal para armaduras. Para
armaduras ativas de protensão a distância axial exigida a para vigas e lajes deveria ser
aumentada para:
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10 mm para armaduras protendidas

15 mm para cabos e cordoalhas protendidos

A razão disso está no fato de que a redução da resistência do aço em função da temperatura é
muito mais rápida para o aço de protensão do que para aço para armaduras passivas (ver
tabela 9.1).

Quando a armadura é posicionada em várias como mostrado na figura 9.9, a distância média
am não deveria ser menor que a distância axial dada nas tabelas.

Ver fórmula na página 9 do original

Onde:

Asi é a área da seção transversal da armadura

ai é a distância axial das barras (fio, cordoalha) de aço “i” a partir da superfície exposta mais
próxima

Figura 9.9 dimensões utilizadas para calcular a distância axial média am

Os valores nas tabelas são aplicados para concreto de peso normal (2000 a 2600 kg/m3),
fabricados com agregados à base de silício. Se forem empregados agregados calcários ou
agregados leves nas vigas ou lajes, as dimensões mínimas da seção transversal podem ser
reduzidas em 10%.

Quando os são valores tabelados são utilizados, não são necessárias novas verificações em
relação à capacidade requerida de cisalhamento ou de tração, bem como para os detalhes de
ancoragem.
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9.6 Resistência ao Fogo de Elementos Pré-Moldados

Os itens a seguir fornecem dados específicos sobre resistência ao fogo de elementos em


concreto pré-moldado, os quais foram tirados em sua maioria do Eurocode 2 parte 1-2 [1] e
do Boletim CEB [2].

9.6.1 Vigas

A resistência ao fogo das vigas pré-moldadas em concreto armado e/ou em concreto


protendido é geralmente obtida por meio de valores tabelados. Os valores fornecidos na
tabela 9.11 são aplicáveis para as seguintes regras:

- Quando as vigas são expostas em três lados, como por exemplo quando a parte
superior é isolada por lajes ou outros elementos.

- Os valore tabelados são válidos para as seções transversais indicadas na Fig.9.10.

(a) (b) (c)

Figura 9.10 definição das dimensões para diferentes tipos de seções em vigas

- Para vigas com largura variável (figura 9.10b), o valor mínimo b é relativo ao centro da
armadura tracionada.

- As abas (mesas) inferiores das vigas “I” devem possuir massa suficiente para manter a
temperatura da armadura abaixo dos níveis aceitáveis, segundo os valores tabelados.
Essa condição é conseguida quando:
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a) A altura efetiva deff da aba (mesa) inferior não é inferior a

deff = d1 + 0.5 d2

b) A largura da aba (mesa) inferior b excede o limite 1.4 bw (bw indica a largura da
alma conforme figura 9.10 c) e b.deff < 2b²min é a distância axial da armadura
passiva ou ativa que deveria ser aumentada para:

d eff bw
aeff = a (1.85 − )≥a
bmin b

A regra citada acima não se aplica para as vigas “I” pré-moldadas típicas com
largura b ≥ 350 mm, b.deff ≥ 2b/2.

- A distância axial do face lateral da viga até as barras de canto (tendão ou fio) na parte
inferior das vigas, com apenas uma camada de armadura, deve ser aumentada em 10 mm
para larguras das vigas acima daquelas fornecidas na coluna (4) da Tabela 9.11.

- As aberturas nas almas das vigas não afetam a resistência ao fogo desde que a
área de seção transversal restante na zona tracionada do elemento não for inferior
a Ac = 2b/2 m , onde bmin é fornecido na Tabela 9.11.

asd = a +10 mm; onde asd é a distância axial das barras de canto (tendão ou fio) até a face
lateral das vigas, com apenas uma camada de armadura. Para valores de bm maiores que os
valores fornecidos na coluna (4) não é necessário aumentar asd.

Para vigas protendidas a distância axial deve aumentar em 10 mm para as armaduras ativas e
em 15 mm para fios e cordoalhas.
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Standard Minimum dimensions (mm)


fire Possible combinations of a and bmin where a is the average axis Web thickness
resistance distance of the tensile reinforcement and bmin the width of the beam bw
(1) (2) (3) (4) (5) (6)

R 60 bmin = 120 bmin = 160 bmin = 200 bmin = 300 100


a = 40 a = 35 a = 30 a = 25

R 90 bmin = 150 bmin = 200 bmin = 300 bmin = 400 110


a = 55 a = 45 a = 40 a = 35

R 120 bmin = 200 bmin = 240 bmin = 300 bmin = 500 130
a = 65 a = 60 a = 55 a = 50

R 180 bmin = 240 bmin = 300 bmin = 400 bmin = 600 150
a = 80 a = 70 a = 65 a = 60

R 240 bmin = 280 bmin = 350 bmin = 500 bmin = 700 170
a = 90 a = 80 a = 75 a = 70

asd = a + 10 mm; asd is the axis distance for the corner bars (or tendon or wire) to the side of beams
with only one layer of reinforcement. For values of bmin greater than given in Column (4) no
increase of asd is required.
For prestressed beams the axis distance should be increased by 10 mm for prestressing bars and
15 mm for prestressing wires and strands.

Tabela 9.11 dimensões e distâncias axiais para vigas simplesmente apoiadas com concreto armado e concreto protendido

9.6.2 Pilares

A resistência ao fogo pilares em concreto armado e concreto protendido é influenciada por


muitos parâmetros:

- tamanho e esbeltez dos pilares;


- nível da carga;
- excentricidade de primeira ordem;
- taxa mecânica da armadura;
- distância axial da armadura.
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No passado, muitas investigações experimentais foram realizadas em diferentes partes do


mundo sobre a resistência ao fogo de pilares de concreto. Atualmente, existem programas
computacionais capazes de calcular a resistência ao fogo dos pilares de concreto armado ou
protendido, os quais consideram os parâmetros acima citados, inclusive a flambagem.
Entretanto, não é muito difícil incluir todas essas informações nos dados tabelados. Por essa
razão, os valores tabelados no Eurocode 2 parte 1-2 [1] são limitados para as pilares com nós
fixos ou para estruturas contraventadas.

A aplicação dos valores tabelados em [1] se restringe às seguintes hipóteses:

- Os valores tabelados são válidos somente para pilares em estruturas contraventadas (nós
fixos).

- O nível de carga “n” em condições normais de temperatura é dado por:

n = NOEdfi/(0.7(Acfcd + Asfyd))

- a excentricidade de primeira ordem “e” em condições de incêndio é dada por:

e = MOEd,fi/ (NOEd,fi)

e/b tem sido considerado como ≤ 0.025 emax = 100 mm

ƒ A esbeltez do pilar para situação de incêndio, λfi, é dada por:

λfi = l0,fi / i

λfi é considerada como ≤ 30, o que cobre a maioria dos pilares de construções
correntes. O índice de esbeltez numa situação de fogo pode ser considerado como
sendo igual à esbeltez λ na temperatura normal para todos os casos. Para estruturas
contraventadas, onde o requisito de exposição ao fogo é superior a 30 minutos, o
comprimento efetivo l0,fi pode ser considerado como 0.5l para os pavimentos
intermediários e 0.5 l ≤ l0,fi ≤ 0.7l para os pavimentos superiores, onde l é o
comprimento da pilar (entre os eixos de dois pavimentos consecutivos).

Onde :

l0,fi é o comprimento efetivo do pilar em situação de incêndio


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b é a dimensão mínima da seção transversal dos pilares retangulares ou o diâmetro


nos pilares circulares;

N0Ed,fi é a carga axial numa situação de incêndio. Pode ser considerada como 0.7N0Ed
(ηfi = 0.7, a menos que ηfi seja calculada explicitamente)

M0Ed,fi é o momento de primeira ordem numa situação de incêndio.

ω é a taxa mecânica da armadura em condições normais de temperatura.

Ver formula na página 12 do original

Na tabela 9.12, a carga axial e o momento fletor de primeira ordem foram introduzidos
utilizando as expressões 9.6.2 (1) e (2) para um nível da carga no pilar para uma temperatura
normal. Os efeitos de segunda ordem também devem ser levados em conta.

Nos pilares onde As ≥ 0.002Ac , a mesma distribuição das barras ao longo dos lados da seção
transversal é exigida para uma resistência ao fogo superior a 90 minutos.

A aplicação dos valores tabelados para os pilares no Eurocode 2 é ainda mais complexa.
Para pilares pré-moldados, uma alternativa mais simples (tabela 5.2 de [1]) é apresentada
mais adiante. Essa simplificação pode ser feita para as seguintes condições abaixo, as quais
são normalmente aplicadas para pilares pré-moldados:

- seções transversais padronizadas (circulares ou retangulares)

- ω = 0.30

- comprimento do pilar entre dois pavimento da ordem de 3.00 a 3.50 m.

- sistema estrutural contraventado.

Não é aconselhável utilizar barras de armadura muito grossas, especialmente nos pilares com
seções esbeltas. Um ensaio em um pilar de concreto armado de 280 x 280 mm, com concreto
C90 e com 4 barras de 28 mm de diâmetro, demonstrou que, devido a uma alta deformação
térmica do concreto exposto ao fogo, a carga aplicada foi gradualmente se concentrando nas
armaduras, causando flambagem localizada nas mesmas. O risco de ocorrer este fenômeno é
bem menor quando a mesma armadura é empregada com um número maior de barras de
20

menor diâmetro. Por essa razão, recomenda-se aumentar a quantidade de estribos nos pilares
para resistências ao fogo de maiores que 90 minutos.

• Normalmente, o cobrimento exigido controlará a temperatura normal

(1) Exige-se larguras maiores do que aquelas no topo do pilar.

Minimum dimensions (mm)


Standard fire Column with bmin / axis distance of the main bars
resistance Column exposed on Column exposed
more than one side on one side
µfi = 0.2 µfi = 0.5 µfi = 0.7 µfi = 0.7

R 60 200/25 200/36 250/46 155/25


300/31 350/40

R 90 200/31 300/45 350/53 155/25


300/25 400/38 450/40**

R 120 250/40 350/45** 350/57** 175/35


350/35 450/40** 450/51**

R 180 350/45** 350/63** 450/70** 230/55

R 240 350/61** 450/75** - 295/70

** Minimum 8 bars
For prestressed columns the axis distance should be increased by 10 mm for
prestressing bars and15 mm for prestressing wires and strands.
The table is based on the recommended value αcc = 1.0

Tabela 9.12 resistência ao fogo padronizado para pilares armados com seções retangulares e circulares, para uma taxa de
rendimento mecânico de ω = 0.3

9.6.3 Paredes

As paredes de fechamento em estruturas pré-moldadas devem atender ao critério de


isolamento térmico “E” e integridade “I”. Para este efeito, a espessura mínima da parede não
deve ser menor que aquela apresentada na Tabela 9.13. Se forem utilizados agregados
21

calcários, os valores indicados podem ser diminuídos em 10%. Para evitar deformação
excessiva e falhas subseqüentes da integridade entre a parede e a laje, a relação entre altura e
a espessura da parede não deve exceder 40.

Standard fire resistance EI 60 EI 90 EI 120 EI 180 EI 240


Minimum wall thickness 80 100 120 150 175
(mm)
Tabela 9.13 - Espessura mínima das paredes não portantes (divisórias)

As paredes portantes formadas por painéis de concreto armado pré-moldado possuem


geralmente espessuras padronizadas variando entre 140 e 300 mm, podendo facilmente
resistir a um fogo de 60 minutos. Resistências ao fogo superiores podem ser assumidas se os
valores fornecidos na Tabela 9.14 forem aplicados.

(*) O cobrimento normal de concreto deve ser aplicado

µfi = NEd,fi / NRd , onde NEd,fi é a força axial de cálculo em uma situação de fogo

NRd é a resistência de cálculo da parede na temperatura normal

Standard Minimum dimensions (mm) wall thickness / axis distance for


fire µfi = 0.35 µfi = 0.70
resistance wall exposed on wall exposed on wall exposed on wall exposed
one side two sides one side on two sides
REI 90 120/ (*) 140 / (*) 140 / (*) 170 / (*)
REI 120 150 / 25 160 / 25 160 / 35 220 / 35
REI 180 180 / 40 200 / 45 210 / 50 270 / 55
REI240 230 / 55 250 / 55 270 / 60 350 / 60
(*) The normal concrete cover should be applied

µfi = NEd,fi / NRd where NEd,fi is the design axial load in the fire situation
NRd is the design resistance of the wall at normal temperature

Tabela 9.14 dimensões mínimas e distâncias axiais para paredes portantes em concreto armado

9.6.4. Elementos de Lajes Alveolares para Pisos


22

Desde os anos 70, mais de uma centena de ensaios para situações de fogo foram realizados
com elementos de laje alveolar protendida na Europa, Estados Unidos e Japão. Os resultados
indicam que, quando os ensaios são aplicados em pisos com ligações usuais nos apoios, é
possível conseguir resistências ao fogo com 2 a 3 horas tanto para os carregamentos de
flexão quanto de cisalhamento.

A resistência ao fogo na flexão é determinada pela diminuição da resistência dos cabos de


protensão em função da temperatura. A Figura 9.15 fornece os perfis da temperatura dentro
das partes inferiores da seção transversal dos elementos de laje alveolar. Ensaios em escala
real mostram que a evolução da temperatura nas proximidades da armadura de protensão é
praticamente independente da espessura da laje.

Figura 9.15 distribuição da temperatura em elementos de lajes alveolares durante uma situação de fogo padronizado ISO
para concreto com agregado silicioso.

A resistência ao cisalhamento das lajes alveolares protendidas durante uma situação de fogo
é afetada pelo aumento das tensões na alma devido ao gradiente de temperatura e o aumento
do comprimento da transferência dos cabos de protensão devido a um possível escorregando
da cordoalha.

As tensões de tração aparecem nas almas (das nervuras internas) durante uma situação de
incêndio por causa da incompatibilidade entre a expansão da temperatura induzida sobre a
23

seção transversal e a deformação da laje. Por causa da expansão térmica na parte inferior, a
laje é fletida (sofre empenamento). A deformação resultante da seção transversal é linear,
mas a deformação induzida devida ao gradiente não linear de temperatura deve ser
encurvada. Como conseqüência, aparecem tensões de compressão nas partes superiores e
inferiores da seção do concreto e tensões de tração no meio do elemento. Os resultados de
pesquisas neste assunto são discutidos extensamente em [4].

Para garantir uma capacidade ao cisalhamento adequada, as possíveis fissuras nas almas
(nervuras internas) das lajes alveolares devem ser mantidas fechadas para possibilitar a
transferência de cisalhamento por meio do mecanismo de inter-travamento dos agregados.
Isso é normalmente conseguido através das ligações com a estrutura de apoio. As ligações a
seguir são essenciais para resistência ao fogo de lajes alveolares para pisos:

- barras de armadura grauteadas dentro dos alvéolos ou nas juntas longitudinais,


junto às ligações nos apoios. Essas armaduras são colocadas na parte central da
seção transversal, onde aparecem as tensões térmicas (Fig.9.16);

- Os tirantes periféricos também contribuem para manter a capacidade de


cisalhamento dos elementos de laje quando expostas ao fogo. Na verdade, a viga
periférica impede direta e indiretamente a expansão do piso, por um lado, através
da rigidez axial das vigas periféricas de amarração em conjunto com a estrutura e,
por outro lado, por meio da coesão entre os elementos vizinhos de piso.

- As capas de concreto armado colocadas sobre as lajes alveolares aumentam a


resistência ao fogo do piso, diretamente por causa do aumento da massa e da
rigidez da seção transversal e indiretamente por causa do efeito favorável para
uma maior ação em conjunto dos elementos de laje do piso. Da mesma maneira
que ocorre para as vigas periféricas de amarração, a temperatura menor na capa
de concreto garante que a expansão nas unidades expostas ao fogo seja impedida,
facilitando o desenvolvimento do efeito de inter-travamento.

- A aba (mesa) inferior das vigas metálicas de apoio podem ser isoladas contra o
fogo para garantir a transferência da reação do apoio através do fundo do
elemento de laje. Possíveis conectores de apoio posicionados sobre as vigas
metálicas (figura 9.16 b) irão introduzir tensões adicionais nas almas (nervuras
24

internas) e, consequentemente, afetam a resistência ao cisalhamento durante a


exposição ao fogo.

Fire insulation at
ø 12 mm underflange of steel

Figura 9.16 ligações das lajes alveolares com (a) concreto e com (b) vigas de apoio metálicas.

Durante ensaios de resistência ao fogo em elementos protendidos com cabos pré-


tensionados, tem-se observado o estiramento (relaxação) dos cabos de protensão nas
extremidades dos elementos de laje. Este fenômeno ocorreu principalmente durante os
ensaios em elementos de laje alveolar simplesmente apoiados, sem ligações nos apoios. A
importância destes fenômenos pode variar desde poucos milímetros até 10 mm ou mais. O
estiramento é fortemente influenciado pela tensão de tração que ocorre nas almas (nervuras
internas) das lajes alveolares por causa das deformações térmicas induzidas (seção 9.3.3)

Os resultados experimentais revelam que a zona do concreto ao redor das cordoalhas com
estribos ou outro tipo de armadura pode prevenir o estiramento das cordoalhas. Nesse
contexto, as barras de armadura nas vigas de amarração das extremidades das lajes
certamente diminuem o deslizamento. E também, o uso de fios de menores diâmetros tem
um efeito favorável. Por exemplo, nos fios protendidos normalmente não são encontrados
estiramentos significantes.

Em qualquer caso, é recomendado levar em consideração um comprimento de transmissão


maior no projeto das lajes alveolares protendidas expostas ao fogo, por exemplo 1.50 ℓpt
(onde ℓpt é o valor básico do comprimento de transmissão).

Determinação da resistência ao fogo das lajes alveolares por meio de cálculo


25

A resistência ao fogo das lajes alveolares pode ser determinada através do método fornecido
na seção 9.5.2. Um exemplo de calculo do momento de flexão máxima para R120 será
apresentado daqui por diante para um elemento de laje alveolar com 265 mm de espessura.

Figura 9.17 modelo de calculo para o limite máximo em uma situação de fogo para laje alveolar

A capacidade de flexão para uma situação de fogo padronizado ISO com 120 minutos pode
ser calculada da seguinte maneira:

- tipo de laje: h = 265 mm;

- armadura de protensão: 10 Ø ⅜ ' at a1 = 40 mm As = 10 x 51.6 = 516 mm²


4 Ø ⅜ ' at a2 = 60 mm As = 4 x 51.6 = 206.4 mm²

- temperatura das cordoalhas:

primeira camada:
a1 = 40 mm → θi = 440 °C e f py,θ = 0.36 0.9 fpk = 0.36x0.9x1860 N/mm²
segunda camada:
a2 = 60 mm → θi = 300 °C and f py,θ = 0.72 0.9 fpk = 0.72x0.9x1860 N/mm²

0.8 x
braço da alavanca: z = h− −a → x = 17 mm
2

momento de flexão: MRU,120 = 516 x (0.36x0.9x1860) x (265 - 6.8 - 40)


+ 206.4 x (0.72x0.9x1860) x (265 - 6.8 - 60)
• = 67.85 + 49.30 = 117.15 kNm

O peso próprio da laje é 3.8 kN/m2, o peso próprio da capa de regularização é 1.2 kN/m2, a
sobrecarga é 3.0 kN/m2 (Eurocode 1 – áreas comerciais). O valor do momento atuante de
cálculo no ELU é dado por:
26

MdU = 1/8 (γG . Gk + γQ..Qk)


Na situação de fogo: γG = γQ = 1.0 e ψ1 = 0.5 (ver 9.5.2).
O valor de MdU para um vão de 12 m é dado por:
MdU = 1/8 ((3.8 + 1.2) + 0.5 x 3.0) . 9² = 117.0 kNm
onde MdU < MRU

Determinação da resistência ao fogo por meio de valores tabelados

A resistência ao fogo das lajes alveolares em concreto protendido ou em concreto armado


pode ser estimada por meio de valores tabelados. A tabela 9.18 foi extraída do CEN Product
Standard para pisos com lajes alveolares pré-moldadas [5]. A tabela fornece a espessura h da
laje e os valores da distância axial a em função da resistência ao fogo requerida, para lajes
simplesmente apoiadas com concreto de peso normal.

Resistência ao Espessura Distância axial mínima a (mm)


fogo minima da Armadura Armadura ativa
padronizado laje h (mm) passiva (protensão)
Standard fire Minimum Minimum axis distance a (mm)
resistance slab thickness Reinforcing steel Prestressing wires
h (mm) and strands

R 60 120 20 35

R 90 140 30 45

R 120 160 40 55

R 180 200 55 70

Tabela 9.18 espessura mínima da laje e distâncias axiais para lajes alveolares simplesmente apoiadas

9.6.5. Lajes em duplo T

A resistência ao fogo para elementos de em duplo-T depende da seção transversal das


nervuras (almas), da espessura da mesa e da distância axial da armadura. A tabela 9.11 se
aplica para as dimensões mínimas da seção transversal e as correspondentes distâncias axiais
para a armadura principal em função a resistência ao fogo requerida.
27

9.7 Resistência ao fogo das ligações estruturais

Os mesmos princípios e soluções aplicados para as resistências ao fogo dos componentes


estruturais de concreto são válidos para o projeto das ligações: dimensões mínimas para a
seção transversal e cobrimento suficiente para a armadura. A filosofia de projeto se baseia na
grande capacidade de isolamento do concreto em uma situação de fogo. Normalmente, a
maior parte das ligações em estruturas pré-moldadas de concreto não exigem medidas
adicionais. Este também é o caso para aparelhos de apoio como as almofadas de elastômero
(neoprene), desde que os mesmos estejam protegidos pelos componentes que os circunda.
Outras considerações estão relacionadas com a capacidade da ligação de absorver possíveis
deslocamentos e rotações. Algumas considerações específicas relacionadas às ligações serão
apresentadas daqui por diante.

Ligações com Chumbadores

Ligações com apoio simples são excelentes durante uma situação de fogo, pois possuem uma
alta capacidade de absorver as rotações. As ligações por chumbadores são uma boa solução
para transferir as forças horizontais nos apoios simples. Elas não precisam de considerações
especiais, pois o chumbador está bem protegido pelo concreto. Além disso, as ligações por
meio de chumbadores (ou pinos) podem fornecer rigidez adicional para a estrutura por causa
de sua ação semi-rígida. Depois de uma certa deformação horizontal, é criado um binário
interno com tração no chumbador e o compressão em uma região de concreto na zona da
ligação, fornecendo uma rigidez adicional no estado limite último. Normalmente, isso não é
levado em consideração no projeto, mas é uma reserva de segurança.

Ligações Laje–Viga

As ligações entre as lajes pré-moldadas e as vigas de apoio estão dentro das zonas mais frias
da estruturas e, por isso, não são afetadas durante uma situação de fogo. A posição da
armadura de tirante longitudinal (longitudinal significa na direção do vão do piso), deve
28

estar, preferivelmente, na espessura média da laje, ou num tipo de armadura com um pino
aéreo de ligação. (OBS: não entendi que tipo de ligação é este...)

No caso de ligações para apoios fixos (apoios restringidos), O Eurocode 2 parte 1-2 [1]
determina a provisão de armadura tracionada no interior do elemento de piso suficiente para
cobrir possíveis alterações nos momentos positivos e momentos negativos.

Insertos Metálicos e Ligações

Os dispositivos de ligação por acoplamento mecânico devem ser protegidos da mesma


maneira que os outros elementos estruturais. As partes metálicas embutidas no concreto
terão temperaturas inferiores do que aquelas que não estão embutidas por causa da
condutividade térmica do concreto. Todavia, recomenda-se sempre aplicar proteção
suficiente para as partes expostas dos itens conectados, tais como parafusos, cantoneiras
metálicas, etc.

Juntas

As juntas entre os elementos pré-moldados devem ser detalhadas de modo que se satisfaçam
ao critério de estabilidade, integridade e isolamento.

Geralmente, as juntas longitudinais entre os elementos pré-moldados de piso e de parede não


exigem nenhuma proteção especial. A condição para isolamento térmico e integridade
estrutural é uma espessura mínima (considerando a espessura do elemento mais a capa de
regularização) de acordo com a resistência ao fogo requerida. Para que as juntas
permaneçam fechadas, pode-se empregar uma armadura de tirante no perímetro das juntas.

As juntas entre as paredes corta fogo e os pilares devem ser conectadas por toda extensão, ou
através de um perfil especial da seção transversal do pilar (figura 9.19).
29

Figura 9.19 ligações entre paredes corta fogo e pilares.

References

[1] Eurocode 2: Design of concrete structures – Part 1: General rules – Structural fire design;
prEN 1992 – 2 (1st draft, October 2000)

[2] CEB Bulletin N° 208 - Fire design of concrete structures Comité Euro-International du
Béton, July 1991

[3] Eurocode 0: Basis of structural design - EN 1990 CEN, rue de Stassard 36 B-1050 Brussels

[4] Shear resistance of prestressed hollow core floors exposed to fire - Ir. Arnold Van Acker -
journal of the fib Structural Concrete,

[5] CEN Standard Precast concrete products - Hollow core slabs for floors; prEN 1168

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