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Karl Marx
...
11.2.5. Crítica da economia política
...
11.4. Mercadoria, valor e fetichismo
11.4.1. A mercadoria: valor de uso e valor
11.4.2. O trabalho produtor de mercadorias
11.4.3. Troca, dinheiro e circulação de
mercadorias
11.4.4. O mercado: leis de apropriação e fetichismo
1
11.5. Transformação do dinheiro em
Capital
11.6. Processo de produção e progresso
técnico
11.6.1. Capital constante, capital variável e mais-
valia
11.6.2. Força de trabalho, trabalho necessário e
trabalho excedente
11.6.3. Mais-valia relativa
11.6.4. Maquinaria e grande indústria: o progresso
técnico capitalista
2
11.2.5. Crítica da economia política
● investigação econômica de Marx parte dos
achados e questões não resolvidas pelos
clássicos
3
- é o trabalho (trabalho comandado, ou
incorporado) que regula as trocas, determina a
produção e regula a distribuição (concorrência)
- como todas as mercadorias custam trabalho, o
valor é um atributo inerente da mercadoria
● os problemas não resolvidos pelos clássicos:
- origem do excedente com trocas de equivalentes
- relação entre taxa de lucro e valor
● a pergunta inicial de Marx é diferente:
- não é sobre o que determina o preço ou
proporções de troca, mas sim:
4
- em que condições os produtos do trabalho são
mercadorias, coisas de valor?
- somente na relação social de mercado os
produtos do trabalho ganham a propriedade de ter
valor
- o trabalho criador de valor é de tipo social
específico; é trabalho que produz mercadorias,
portanto valor de uso para outros; é trabalho social
o que produz valor
- substância econômica da sociedade, o trabalho é
socializado via mercado
5
- mercado promove a regulação econômica pelo
valor, à revelia da consciência individual
● para Marx, as categorias da economia política
são históricas, expressam certas relações sociais
de produção
- presos às representações capitalistas, os
economistas vêem como se produz dentro dessas
relações, mas não como se produzem essas
relações
- o que a economia política pressupõe, Marx quer
explicar
6
● há uma clara disparidade de horizontes:
- clássicos: horizonte burguês, limitado, viam formas
sociais históricas como naturais do homem, eternas,
“houve história, mas não há mais”
- Marx: horizonte da produção social humana
7
- trabalho contido vincula o valor às condições
objetivas de produção, mas não explica a origem
do excedente
8
- o trabalho assalariado não é trabalho natural, é
trabalho socializado via mercado, trabalho
alienado, diverso do que seria em condições
naturais
- é trabalho alienado na medida em que: (a) não é
comandado pelo trabalhador, (b) seu produto não
pertence ao trabalhador, (c) é criador de valor,
mero trabalho abstrato, que domina o criador
(trabalhador)
9
● o que é o capital:
- enquanto os clássicos investigam como funciona
o capital, Marx quer (também) saber o que é,
porque existe, porque estão separados meios de
produção/terra e trabalho
- não é nenhuma de suas formas (dinheiro,
mercadorias, meios de produção) e é cada uma
delas
- capital é um valor que se expande, valor auto-
determinado, que circula com vistas à sua auto-
expansão
10
- isto é uma relação social de exploração, em que
os meios de produção privados submetem força
de trabalho para se apropriar de mais valor
- é uma forma social específica da riqueza, que
tem lógica de movimento
- forma contraditória, histórica (x clássicos,
harmônico, natural), é o modo de produção
capitalista (construção teórica, “expressão” da
realidade)
11
● Marx: é apenas o domínio do trabalho acumulado,
trabalho passado, sobre o trabalho vivo, que
transforma o trabalho acumulado em capital
- então o capital não consiste em que o trabalho
passado sirva de meio para o trabalho presente (vivo),
mas que o trabalho vivo sirva de meio (trabalho
abstrato) para aumentar o valor do trabalho passado
● em Marx, a diferença observada por Smith entre
trabalho comandado e trabalho contido traduz-se na
diferença entre trabalho contido na força de trabalho
(valor da FT) e trabalho contido (objetivado) nas
mercadorias
12
- Smith intuiu corretamente a ruptura na lei das
trocas pelo trabalho contido, quando aplicada às
trocas entre capital e trabalho; além disso,
vinculou a teoria do valor (através do conceito de
trabalho comandado) à teoria da acumulação
- Ricardo não hesitou em formular uma teoria do
valor também apoiada no trabalho, apesar dos
problemas levantados por Smith, deixando porém de
lado o problema fundamental da troca entre capital e
trabalho
13
● com base em uma teoria (própria) do valor-
trabalho e do capital, Marx faz uma crítica da análise
clássica (trabalho, capital, lucro, salário, renda,...) e
cria novos conceitos (distinção entre trabalho e força
de trabalho, trabalho abstrato e trabalho concreto,
mais-valia)
- ultrapassa o que chamou de aparências (descrição
de como funciona) da economia capitalista, para
analisar sua essência (o que é o porque existe o
capital)
14
- Marx conclui que o sistema capitalista (e suas
categorias de análise) não é um sistema natural, não
é eterno, mas um sistema social específico, histórico
15
Sobre o método de Marx: gênese de categorias
16
- novas “camadas” de realidade trazem novas
explicações (determinações)
● aparência e essência: são planos de realidade
- deter-se na primeira é próprio da economia
vulgar
● percurso do texto de O Capital: concretização
progressiva, desde a unidade mais simples e
genérica da riqueza moderna (a mercadoria) até a
forma mais complexa das finanças e dos juros
● gênese de categorias (esquema)
17
18
A estrutura de O Capital
19
livro III – o processo global
consideração conjunta da produção e da
circulação, incluindo em parte a concorrência
entre múltiplos capitais e a formação dos
preços e rendas
20
● o plano original de Marx abrangia mais temas:
I – livro do capital
II – livro da propriedade da terra
III – livro do trabalho assalariado
IV – livro do Estado
V – livro do comércio exterior
VI – livro do mercado mundial e das crises
21
11.4. Mercadoria, valor e fetichismo
11.4.1. A mercadoria: valor de uso e valor
● a riqueza da sociedade moderna aparece como
uma imensa coleção de mercadorias
- mercadoria é a unidade elementar da riqueza,
realidade imediatamente posta na sociedade
mercantil, em que se produz para o mercado e se
obtém o necessário no mercado
- é a menor unidade de análise nesta sociedade
- análise de Marx começa no âmbito do mercado
(igualdade entre produtores), onde ocorrem as
22
trocas de mercadorias (o que conduz ao dinheiro),
sem exploração, sem capital; o mercado é a
aparência do modo de produção capitalista (é
parte da realidade)
● as mercadorias são coisas úteis (valores de
uso), conforme as qualidades do seu corpo,
satisfazem necessidades humanas (reais ou
imaginárias), direta ou indiretamente
- como valor de uso, cada mercadoria é única,
com qualidades não comparáveis, são distintas
- o valor de uso se realiza no consumo, que
extingue aquele corpo (no uso é que ele vale)
23
● os valores de uso (coisas úteis) não precisam
ser mercadorias; existem em outras formas
sociais, como produção doméstica ou como
produtos da natureza
- o valor de uso é o conteúdo material da riqueza,
sempre; é um atributo das coisas (objetivo), social
e historicamente determinado
- fontes originais da riqueza material: natureza e
trabalho
- valores de uso sempre existiram para o homem e
as necessidades são dadas socialmente;
24
historicamente o homem descobre novas utilidades
em sua relação com a natureza
● nas sociedades mercantis, os valores de uso
que se necessita geralmente são mercadorias
- a mercadoria é uma forma que assume o produto
do trabalho do homem; aqui o valor de uso é
portador do valor de troca (preço)
- quem produz quer dinheiro para adquirir outra M
● o que é o valor de troca?
- o preço é apenas sua figura desenvolvida,
específica
25
- o valor de troca é sempre a relação quantitativa
entre valores de uso diferentes, pela qual são
trocados
- uma mesma mercadoria pode assumir um ou
diversos valores de troca (forma simples ou forma
desdobrada do valor); relação parece
circunstancial, puramente relativa
● conclusões de Marx:
- os valores de troca expressam algo igual
- o valor de troca deve ser expressão de um
conteúdo distinto dele: o valor
26
20 varas de linho = 1 casaco
27
- não pode ser uma qualidade natural (isso faz das
M valores de uso diferentes) – isso é abstraído na
troca
- o que resta da mercadoria, abstraído o valor de
uso?
(desconsiderado o corpo da mercadoria, o tipo
específico, concreto, de trabalho desaparece)
- resta às mercadorias a propriedade de serem
fruto de trabalho humano
- são gelatinas (cristalizações) de trabalho
humano em geral, abstrato, indiferenciado
28
● trabalho abstrato: na troca (no mercado) abstrai-
se o tipo específico de trabalho e os desvios de
habilidade e confrontam-se diferentes valores de
uso (diferentes trabalhos concretos)
- apesar das formas diferentes de despender
trabalho,
trabalhar é sempre dispêndio produtivo de
cérebro, músculo, nervos, etc.,
- o valor das mercadorias é constituído desse
trabalho genérico
29
● abstração real – pressupõe:
- organização social que desenvolve variedade de
gêneros de trabalho, em que é fácil trocar de
gênero, qualquer tipo é meio válido de produzir
riqueza, obter salário, todos são socialmente
aceitos
- o trabalho é abstrato porque produz um produto
abstrato, genérico = valor (de troca)
- é o aspecto social do trabalho incorporado nas
mercadorias
- não é uma categoria fisiológica, mas uma
categoria social e histórica
30
● o valor não é uma condição natural da
mercadoria, é uma relação social (mercantil) que
se materializa nelas
- as mercadorias são (têm) valores porque seus
produtores trocam seus trabalhos – relacionam-se
– através delas
- essa relação (produção e troca de mercado)
abstrai o caráter concreto do trabalho
- o valor é esse acúmulo de trabalho humano
(substância social), o que há de comum entre as
31
mercadorias e que se revela nas trocas, ganha
expressão no valor de troca
- substância (social):
conteúdo trabalho humano abstrato
valor - grandeza: quantidade de trabalho
(tempo)
forma: valor de troca
32
● a grandeza de tempo de trabalho que conta para
o valor é a média social (não o dispêndio
individual)
- tempo de trabalho socialmente necessário (ttsn):
em condições normais de produção, com grau
médio de habilidade e intensidade do trabalho
- a mercadoria vale como exemplar médio de sua
espécie
33
- mercado opera uma relação quantitativa entre
trabalhos de diferentes qualificações
- em cada sociedade, há um trabalho médio
simples (tms): que o homem comum possui em
seu organismo
- trabalho complexo = trabalho simples
potenciado; é uma capacidade de trabalho que
custou trabalho
- redução ocorre a todo momento através do valor;
não está dada pela tradição
- trabalho médio simples serve como unidade de
medida
34
● o valor das mercadorias muda conforme a
produtividade do trabalho, que depende de técnica,
habilidade e natureza
- ex: diamantes, representam muito trabalho em
pouco volume; com acesso a minas mais ricas,
será preciso menos trabalho, cai seu valor
35
- menor o seu valor (em tempo igual, mais valores de
uso)
- efeito contraditório: reduz o valor e amplia a
riqueza material; deve-se ao duplo caráter do
trabalho que produz mercadorias
36
- para ser mercadoria, é preciso produção de valor
de uso para outros, para o mercado
- uma coisa não pode ter valor sem ter valor de
uso; sem ser valor de uso, não tem utilidade, é
coisa inútil e o trabalho despendido foi inútil, não
conta como trabalho social, não cria valor
37
11.4.2. O trabalho produtor de mercadorias
● o trabalho que produz mercadorias possui um
duplo caráter: é concreto útil e é abstrato
concreto constitui o
útil (alfait., tecelagem, etc.) valor de uso
38
● como trabalho concreto, produz valores de uso,
é considerado segundo seu efeito útil, é um
determinado tipo de atividade produtiva,
caracterizado por: (a) modo de operar, (b) objeto
de trabalho, (c) meios de trabalho, (d) resultado
- o trabalho concreto útil sempre existiu, é
condição da existência humana, necessidade
natural, meio de auto-construção da espécie
39
● enquanto o trabalho útil conta qualitativamente
(como, o quê), o trabalho abstrato conta
quantitativamente (quanto)
- duas mercadorias quaisquer sempre serão
valores iguais, em certas proporções
40
● na expressão de valor,
20 varas de linho = 1 casaco
- diferença ou igualdade depende do tempo de
trabalho (digamos, 10 h tms)
- com produtividade (pdv) constante, a grandeza
do valor sobe com a quantidade
- mas com variação da pdv, varia também o ttsn
se a pdv dobra 20 varas = 10 varas antes
se cai à metade 20 varas = 40 varas antes
- enquanto 20 varas de linho mantêm o mesmo
valor de uso
41
● quanto mais valores de uso, maior a riqueza
material e pode haver até decréscimo simultâneo
do valor total
- o movimento contraditório provém do duplo
caráter do trabalho
- a produtividade do trabalho tem a ver com seu
aspecto útil, refere-se ao trabalho concreto útil,
afeta a riqueza, não afeta o valor criado pelo
trabalho em dado tempo
- em 10 horas de trabalho médio simples, produz-
se o mesmo valor, porém mais ou menos riqueza
42
● o trabalho que produz mercadorias é um
trabalho privado e um trabalho social
- a estrutura social da economia de mercado, com
sua infinidade de tipos de mercadorias, diferentes
valores de uso, implica que existe infinidade de
diferentes trabalhos úteis: há uma divisão social
do trabalho (dst)
- um sistema complexo pelo qual a massa do
trabalho social é múltipla de formas e está dividida
entre produtores distintos
43
- divisão social do trabalho é condição
(necessária) para a produção de mercadorias,
porque somente produtos de trabalhos privados
autônomos confrontam-se como mercadorias, em
concorrência
44
● trabalho também é social: voltado para atender
necessidades sociais (dirigido ao mercado), parte
integrante da massa de trabalho da sociedade
- caráter social desse trabalho é mediado pelo
mercado (indireto)
- trabalho vale (cria valor) conforme condições
sociais da produção
45
- o trabalho privado volta-se para o mercado, a
troca permite a apropriação de cada um segundo
sua inserção no mercado
- lei do valor: o valor é dado pelo ttsn e regula as
trocas, regula a distribuição (setorial) do trabalho
social, através da concorrência
- no âmbito do mercado (aparência), a
equivalência nas trocas significa que coincidem
produção e apropriação de valor (como
enriquecer? trabalhando)
46
● o caráter simultaneamente privado e social do
trabalho constitui uma contradição das sociedades
mercantis
- o trabalho, executado privadamente, é
determinado pelas condições sociais e deve
atender necessidades sociais (valor de uso); o
valor do produto depende das relações com outros
produtores
47
11.4.3. Troca, dinheiro e circulação de
mercadorias
● considerando uma expressão de valor:
30Kg de açúcar = R$ 75,00
- para expressar o valor do açúcar, preciso de algo
diferente dele
- como esse algo veio a ser dinheiro? ou
- como o valor adquire forma de expressão
autônoma, distinta do corpo do açúcar?
- como o valor de troca veio a ser “preço”?
48
● resposta: generalização das trocas produz a
evolução social de uma mercadoria para cumprir a
função de equivalente geral, representação do
trabalho humano abstrato
● dinheiro é a forma comum de expressão do
valor das mercadorias e a revelação de sua
origem requer a análise da evolução das formas
do valor
a) forma simples do valor (acidental, singular)
b) forma desdobrada do valor (total)
c) forma geral do valor
d) forma dinheiro do valor
49
● forma simples do valor:
30 kg de açúcar = 1 casaco
50
● forma geral do valor:
1 casaco, ou 3 = 30 Kg de açúcar
sacos de batata,
ou 2 sapatos, ou
1 moeda de ouro,
etc.
51
● forma geral surge e desaparece (açúcar, sal,
etc.), mas quando a troca rompe laços locais, uma
mercadoria se fixa nessa função, assume a forma
dinheiro
- na forma geral, expressão unitária do valor
ganha validade social geral
- há uma tendência à fusão social da forma natural
(corpo) com a forma equivalente geral - surge a
mercadoria dinheiro
● mercadoria dinheiro é a que assume o
monopólio social da representação dos valores -
historicamente foi o ouro
52
- dinheiro é a forma unitária de manifestação do
trabalho humano abstrato
53
- o valor de troca se torna a forma preço do valor
54
● a forma simples do valor é o germe da forma
dinheiro; a forma mercadoria simples dos produtos
do trabalho é o germe da mercadoria dinheiro
● em princípio, Marx segue a proposição
“clássica” de que os valores de troca são
proporcionais às quantidades de trabalho (preços
diretos)
- posteriormente (à consideração dos capitais
particulares em concorrência), mostra que os
preços formam-se de outro modo com a presença
do capital
55
● Marx adverte sobre a flexibilidade da forma
preço:
- pode expressar o valor ou o mais ou menos pelo
que se pode vender a M, pode haver uma
incongruência quantitativa
- também ocorre uma incongruência qualitativa:
coisas que não são valores têm preço: terra, obras
de arte, consciência, honra, etc.
● o surgimento do dinheiro (D) é um processo
histórico: processo de mercantilização da
produção que faz das trocas ocorrências regulares
e não marginais
56
- presença do dinheiro implica elevado grau de
mercantilização; as mercadorias já vêm ao mundo
com um preço, são alienáveis por dinheiro e isso é
uma necessidade
● ouro e prata, por natureza, não são dinheiro;
porém, dinheiro, por natureza (social), é de ouro e
prata
- para expressar unitariamente uma substância
homogênea (tha), há convergência entre
propriedades naturais e função do D (expressão
do valor)
57
- a circulação das mercadorias confere a uma M a
forma-dinheiro do valor não o seu valor, que
depende do tempo de trabalho na produção dessa
M
- Marx trata do D como mercadoria-dinheiro
(metais preciosos), diferente do dinheiro de curso
forçado
● uma M é dinheiro porque todas as demais
expressam seu valor nela, mas parece o contrário,
porque o processo desaparece no resultado
58
- não é por meio do D que as M se tornam
comensuráveis, comparáveis; é por serem tal, que
podem se medir numa mesma
● funções do dinheiro: medida dos valores, meio
de circulação, reserva de valor, meio de
pagamento, dinheiro mundial
● a presença do dinheiro implica um processo
generalizado de circulação das mercadorias
(economia mercantil), que corresponde a um
metabolismo social: provê os homens através dos
produtos do trabalho
59
Produção ... M — D — M ... Consumo
... M — D — M ...
... M — D — M ...
● circulação simples de mercadorias:
- representação de uma economia de circulação
monetária mercantil com vistas ao valor de uso
(economia de mercado com produção regida pelas
necessidades de consumo)
60
- porém, a generalização da produção mercantil
somente ocorre com a produção capitalista
● no circuito M – D – M, as vendas/compras
conservam o valor e as transações têm em vista o
valor de uso
- trabalho privado busca validação social no
mercado
- como trabalho abstrato é igual aos demais,
garante acesso aos demais valores de uso
- circulação das mercadorias é metabolismo social
61
● diferença entre circulação de mercadorias
(M1 – D – M2) e intercâmbio direto (M1 – M2) não é
apenas formal, mas essencial (D não é mero meio
de troca)
- o mercado rompe as limitações do intercâmbio
direto (locais, individuais), desenvolve o
metabolismo social, cria vínculos sociais
incontroláveis pelas pessoas
- rompe identidade venda/compra, são momentos
separados (possibilidade formal da crise)
62
11.4.4. O mercado: leis de apropriação e
fetichismo
● no mercado, a lei do valor regula as trocas
(equivalência) e assim produção (dispêndio de
trabalho social) e apropriação (do trabalho social)
andam juntas
- esta é também a aparência da produção
capitalista de mercadorias: uma troca de
equivalentes no mercado, que atribui o valor de
cada contribuição
- cada qual pode obter no mercado, na medida em
que contribui (trabalho, capital, etc.) (este é o
63
universo da “economia vulgar”, Say, Senior,
Bastiat, hoje neoclássica)
64
- propriedade: cada um só dispõem do que é seu
e somente toma na medida em que cede
- Bentham: cada um cuida do seu auto-interesse
65
- vigora a lei do valor, que opera em sua forma
pura (sem consideração do capital)
● teoria de Marx pretende ir além das aparências
e explicar:
- porque e como M e D se convertem em capital,
em poderes sociais que dominam os homens
(fetichismo)
- como a produção capitalista resulta em não-
equivalência e desigualdade, sem deixar de
postular a equivalência e a lei do valor
66
● em qualquer sociedade há dispêndio de trabalho
e consumo de produtos do trabalho (aspecto do
trabalho concreto); há determinada alocação de
tempo e dos resultados do trabalho,
possivelmente uma d.s.t.
- em outros modos não-mercantis de
produção/distribuição (familiar, tribal, feudal,
administrada, etc.) definições e procedimentos
correspondem a normas morais, diretrizes política,
condições naturais, diferenças de gênero e idade;
geralmente envolvem escolhas e mediação
pessoal
67
- relações sociais entre os produtores aparecem
como suas próprias relações pessoais, não
disfarçadas como relações entre coisas
- trabalho concreto útil é imediatamente social,
ganha sua característica social diretamente, em
função das definições estabelecidas, mais ou
menos conscientemente pela sociedade
● na economia de mercado, a socialização do
trabalho faz-se mediante coisas (mercadoria e
dinheiro), indiretamente, através do mercado
(relações de valor), que realiza as funções de
distribuição do tempo do trabalho social (perfil da
68
produção) e de alocação dos resultados do
trabalho (distribuição)
- socialização do trabalho através do mercado é
que torna o trabalho abstrato e faz dos valores de
uso produzidos pelo trabalho valores
69
coisificadas, são relações sociais que se
configuram por meio de coisas
70
- a dependência recíproca e multilateral dos
indivíduos indiferentes uns aos outros forma o seu
nexo social
- o nexo social se expressa no valor de troca:
somente através dele para cada indivíduo sua
própria atividade ou seu produto se torna uma
atividade e um produto para ele
● o “salto mortal da mercadoria”: é necessário
vender, mas... as condições escapam ao controle:
- divisão social do trabalho (d.s.t.) se desenvolve à
revelia de cada produtor e o organismo produtivo
pode lhe reservar má sorte (mercadoria é nova,
71
surgiu substituto, há em excesso, outro melhor
produtor, etc.)
- a mesma d.s.t. que os faz produtores privados
independentes, também torna independente deles
o processo social de produção e suas relações
com ele
● a independência recíproca das pessoas se
complementa num sistema de interdependência
universal reificada
● essa base material conduz ao fetichismo da
mercadoria
72
- aspecto objetivo: vida social é realmente
comandada pelo movimento das coisas
- aspecto subjetivo: consciência dos agentes
adere a inversão da realidade, percebendo as
qualidades sociais do trabalho humano como
atributos das coisas
● fetiche: objeto feito pelo homem ou produzido
pela natureza ao qual se atribui poder
sobrenatural ou se presta culto
- exemplos na religião, na sexualidade
- Marx ironiza a inversão do “mundo civilizado”,
que rende culto à mercadoria e ao dinheiro
73
● para Marx, a mercadoria esconde um segredo: é
objeto inanimado que expressa (e oculta) relações
sociais
- sociabilidade de mercado promove a materialização
das relações sociais: características do trabalho
social (que atende necessidade e tem valor)
aparecem como propriedades objetivas dos produtos
do trabalho; somente aparecem através das trocas
- o valor, determinado no conjunto da produção
social (relação social) aparece como uma relação
entre coisas (forma do valor, preço), como
característica da coisa
74
● a personificação das coisas: são portadoras de
relações sociais e a propriedade sobre elas
confere um papel social ao proprietário
● relações sociais aparecem como atributo das
coisas:
- a potencialidade do capital produtivo, a
capacidade do capital dinheiro ou da propriedade
da terra em gerar ganhos para seu proprietário, a
mercadoria e seu preço, a capacidade do dinheiro
de compra universal, todas as potências do capital
- resultam da produção social, são características
sociais das coisas, não inerentes ou naturais
75
● o fetiche do dinheiro: suprime diferença natural e
específica entre as pessoas, todas niveladas
como portadores de dinheiro
- tem um poder mágico porque é um poder sobre
o trabalho social
- por trás disso, há um processo social que
estabeleceu o dinheiro, que promoveu a abstração
do trabalho e a capacidade de uma mercadoria
particular representar universalmente o trabalho
abstrato/substância social da riqueza
● quando a economia mercantil já tem história,
suas formas parecem naturais, eternas, evidentes
76
- a organização social não permite o domínio
consciente dos homens sobre suas atividades
- sua integração é mediada pelas coisas, o que
acarreta a transformação dos homens em objetos
e das coisas em sujeitos das relações sociais
77
- o valor de uso parece independente das
qualidades naturais das coisas, pois se realiza
para o homem no consumo, sem a troca, na
relação entre homem e coisa; valor de uso parece
atributo dos homens (subjetividade, utilidade)
● alienação (individual e social) e
instrumentalização do “outro”
78
11.5. Transformação do dinheiro em
Capital
79
D — M — D’
80
M—D—M
81
- somente circulando o capital se valoriza, precisa
trocar de formas; fora da circulação, acaba o
movimento, D deixa de ser capital
- meta do capital é o movimento do ganho; não
uma mais-valia isolada
- o valor é o sujeito do processo, no qual se
expande trocando de formas; D é a forma em que
se compara a si mesmo; K é sujeito automático,
valor autonomizado
- o capitalista incorpora essa lógica como
motivação subjetiva (entesourador também quer
enriquecer, mas é o “capitalista demente”)
82
● como surge a mais-valia?
- mais-valia parece contradizer a equivalência nas
trocas
- valor novo não pode surgir da circulação: embora
o capital comercial ganhe com trocas desiguais,
elas somente realizam redistribuição do valor
(formas antigas do capital)
83
- para valorizar o valor, mudança tem de ocorrer
com a mercadoria comprada
● circulação completa do capital (industrial)
D — M {MP;FT} . . . P . . . M’ — D’
compras vendas
- compras e vendas do capitalista transcorrem
conforme o valor; a explicação não pode estar no
valor das mercadorias compradas, mas no seu
valor de uso
84
- explicação (da mais-valia) reside no valor de uso
de uma mercadoria cuja utilização seja fonte de
valor (trabalho)
85
● somente em certas condições históricas o D
pode encontrar capacidade de trabalho à venda
(FT) no mercado, isso não é natural
- a capacidade de trabalhar tem de pertencer a
pessoas livres e despossuídas; contrato entre
iguais
86
- capital: precisa unir circulação e produção
- relação social de exploração, na medida em que
o salário paga a FT e não o trabalho realizado
- diferente da servidão e da escravidão,
exploração está encoberta
87
11.6. Processo de produção e
progresso técnico
88
D — M {MP;FT} . . . P . . . M’ — D’
1000 {700; 300} 1300 1300
∆D = 300
89
11.6.1. Capital constante, capital variável e
mais-valia
● produção capitalista envolve um duplo caráter:
- é processo de trabalho, trabalho concreto que
opera e produz valores de uso; relações materiais
e técnicas entre valores de uso; destroem-se e
criam-se valores de uso
- é processo de valorização, em que trabalho
abstrato acresce valor; relações entre valores, em
que se conservam e se criam valores
90
● capital constante (meios de produção) e capital
variável (força de trabalho): são partes do capital
adiantado, consideradas segundo as funções que
desempenham no processo de valorização
91
- processo de trabalho extingue-se no produto;
trabalho uniu-se ao objeto; objeto está trabalhado;
trabalho está objetivado
- caráter capitalista não altera natureza do
processo de trabalho; mas o controla: é um
processo entre coisas que o capitalista comprou
92
- como o valor dos MP reaparece no produto? por
meio de seu uso, mediado pelo trabalho, na
qualidade de trabalho concreto útil, conserva e
transfere
- porque valor existe em forma de valor de uso, se
perde valor de uso, perde valor; afastados do
trabalho concreto, desvalorizam-se pela perda do
valor de uso
- os MP não dissipam seu valor, porque se
transformam noutro valor de uso, são consumidos
para produzir outro; o tempo de trabalho que contêm
forma parte do tempo de trabalho do produto
93
● MP cedem valor porque têm valor, cede apenas o
valor que perde; isso ocorre de modo diverso com:
gasolina energia (desaparecem); tinta (deixa sua
qualidade); m-prima (muda de forma); máquina,
edifício (conservam sua figura) - vida útil determina
o tempo em que o valor vai sendo transferido -
depreciação para o capital fixo
- máquina entra totalmente no processo de trabalho,
mas parcialmente no processo de valorização
- pode haver desperdício inevitável: insumo entra
totalmente na valorização e parcialmente no
processo de trabalho
94
● no processo de valorização, o trabalho é mero
trabalho criador de valor (trabalho abstrato)
- uso da força de trabalho é movimento (= trabalho
que se cristaliza)
- o trabalho vivo é a forma de existência do capital
variável na produção; sua função é valorizar o
valor dado, acrescendo trabalho; cria valor na
medida em que se estende e conforme a
produtividade social média
- é capital variável, muda de valor; (re)produz um
equivalente e uma mais-valia maior ou menor
95
● mais-valia: é a forma capitalista do excedente
econômico, um excedente em valor que surge da
produção, realiza-se na circulação; pertence ao
capitalista
- excedente econômico: valor acima das
necessidades de reprodução da FT
- é o valor do produto excedente (ou mais-
produto), do trabalho não-pago
96
● exemplo de composição do valor:
- considerando os dados anteriores como referentes
a produção de 1000 biscoitos por dia, por um
trabalhador (valor de um biscoito = $1,30)
Capital total (K) (consumido) = $1000,
sendo capital constante (consumido) C = $700
farinha, água, condimentos, ... $690;
depreciação de equipamentos e instalações $10
e capital variável V = $300
valor da FT (salário diário de um trabalhador)
Valor da Produção = $1300
97
- supondo uma jornada de trabalho de 12 horas e
que o trabalho médio simples, com produtividade
média, cria valor de $50 por hora
valor criado em um dia = $600
(valor adicionado na produção)
FT custa $300 e cria valor de $600
Valor da Produção = C + V + MV
1300 700 300 300
o valor previamente existente (C) equivale a 1,17
jornadas de trabalho (14h) e o valor da produção a
2,17 JT (26h)
98
- efeitos de alterações nos valores de C e V e de
alterações na jornada de trabalho
Taxa (mv’) = MV / V
= 1 ou 100%
mede o grau de exploração
é a taxa de expansão do capital variável)
relação entre trabalho não pago (mais-valia) e
trabalho pago (valor da FT)
ou entre trabalho excedente e trabalho necessário
99
Massa de MV = V . mv’
= 300 . 1 = 300
leis da produção de mais-valia:
(determinação proporcional a V, compensação,
limitada)
100
- supondo em 5% a.a. a taxa de depreciação do
valor do capital fixo (equipamentos e instalações),
ele dura 20 anos
101
● massa de salários anuais = $300 . 100 . 250
= $7.500.000
● mais-valia anual = V . mv’ = $7.500.000 . 100%
= $7.500.000
● capital constante consumido no ano =
= $700 . 100 . 250
= $17.500.000
● cálculo do valor do capital fixo:
depreciação anual = $10 . 100 . 250 = $250.000
que é 1/20 do valor total, que é = $5.000.000
102
● margem de lucro sobre os custos (em $milhões):
margem = MV / (Cconsumido + V)
= 7,5 / (17,5 + 7,5) = 0,3 ou 30%
103
● neste exemplo está implícito que esse capital
gera 25 milhões de biscoitos por ano e que o
capital circulante (constante consumido e variável)
retorna uma vez por ano (período de rotação é de
um ano)
● com geração mensal de produto para venda (12
vezes por ano), será preciso menos capital
variável e constante, o que aumenta a taxa de
lucro
- neste caso, a taxa de lucro iria a 106%
104
11.6.2. Força de trabalho, trabalho necessário
e trabalho excedente
● paralelamente à transformação de dinheiro em
capital , transcorre a transformação da FT em
mercadoria
105
- duas classes sociais; separação entre produtores
diretos e MP é o fundamento absoluto do modo de
produção
106
- mais ou menos barata, depende de lutas sociais
(elemento moral)
- valor é considerado em relação a uma vida útil, o
que implica referência a uma jornada de trabalho
determinada
107
● venda da FT é uma necessidade para o
trabalhador, realiza o valor da FT e mantém seu
valor de uso em prontidão (pior seria não ser
explorado)
- dinheiro na realidade funciona como meio de
pagamento (FT é vendida, mas é paga depois)
6 horas 6 horas
jornada
0h t.t.n. t.t.e. 12h
108
● a jornada de trabalho =
tempo de trabalho necessário:
recriação do valor da força de trabalho (salário)
+ tempo de trabalho excedente
criação da mais-valia
109
- natureza da troca não fixa limite para a jornada
- objeto de disputa entre livres proprietários que
contratam no mercado; entre direitos iguais, vale a
força – até a intermediação do Estado
● reprodução social é mais ampla que o mercado
capitalista, transcorre também na esfera doméstica e
pela ação do Estado
- o valor da FT não precisa estar reduzido (e a
jornada estendida) ao ponto de transformar
integralmente o trabalhador em insumo do capital
● produção capitalista é sempre produção de mais-
valia
110
- Marx chama de mais-valia absoluta as formas de
obtenção de mais-valia, através da extensão e
intensificação (supressão dos poros, intervalos)
da(s) jornada(s) de trabalho
- representa uma forma limitada de produção de
mais-valia, predominante na produção
manufatureira, mas sempre presente com a
mecanização (que implicam também outra forma de
produção de mais-valia)
111
11.6.3. Mais-valia relativa
● conceito da mais-valia relativa:
- redução do tempo de trabalho necessário, do
valor da FT (pode ser compatível com aumento do
salário real)
112
- concorrência: introdução e difusão de novas
técnicas que poupam trabalho
- maior produtividade é obtida com maior escala e
provoca disputa pelo mercado
- tendência de redução dos valores/preços
- mais-valia relativa cresce com o aumento da
produtividade: é um resultado social da busca de
cada capitalista
113
- busca do aumento da produtividade pelos
capitais particulares toma forma de um contínuo
revolucionamento do modo de produção
- formas históricas da produção capitalista:
cooperação simples, divisão do trabalho na
manufatura, maquinaria na grande indústria
114
- trabalhador conduz a operação, de propriedade
do capitalista
115
11.6.4. Maquinaria e grande indústria:
o progresso técnico capitalista
• a grande indústria
- resulta de uma revolução da base técnica, com o
uso de máquinas (de trabalho e de força motriz)
- implica a produção mecanizada de máquinas
- continuidade, ritmo, força, supera limites
orgânicos
- a produtividade (e os ganhos) está determinada,
definida na máquina
- implica uma objetivação do processo de trabalho
116
● causas da mecanização estão dadas na
natureza da relação capitalista (capital em geral),
embora motivações apareçam no âmbito da
concorrência entre capitais particulares
- relação Capital x Trabalho é antagônica
- contradição interna ao capital: o melhor
trabalhador é a máquina; decorre a busca do
capital por controle do processo de trabalho
- progresso técnico tende a reduzir o trabalho vivo
117
● transformação do modo de produção, para
especificamente capitalista implica tendência à
redução do trabalho vivo
- mais-valia relativa torna-se forma predominante
- aumento da composição orgânica do capital
(C / V)
- aumento do controle do capital sobre o processo
de trabalho
- aumento do capital fixo (riscos, obsolescência)
118
● capital fixo “moderno” (máquinas e instalações)
são a forma adequada de existência do capital
- representa a autonomização do valor-capital no
processo produtivo
- forças naturais e da ciência são apropriadas pelo
capital
- as forças produtivas ampliadas pertencem ao
capital, o trabalhador coletivo é seu
- capital fixo contém todas as potências do
trabalho humano; força produtiva ciência (trabalho
complexo acumulado) é mercadoria, corresponde
a ramos específicos da produção capitalista
119
● esse processo implica desqualificação e
barateamento da força de trabalho
(empobrecimento do trabalho)
- há dissociação entre trabalhadores de execução,
de engenharia e tecnologia, de direção e gerência
- trabalho em larga escala na movimentação das
máquinas é mero valor de uso do capital, trabalho
abstrato, simples criador de valor e mais-valia
para o capital (dependência do trabalhador pode
ampliar mv absoluta)
- o produto do seu próprio trabalho se manifesta
como uma potência que o subjuga e empobrece
120
● na medida em que os meios de produção usam
o trabalho, Marx associa o capital a imagem de
um “vampiro”- trabalho morto alimenta-se de
trabalho vivo e somente em contato com esse
pode preservar e ampliar seu valor
● direção do capital é técnica e despótica
(autocrática)
● condução do progresso técnico é subordinada a
lógica de valorização (não leva em conta as
condições sociais do trabalho tampouco as
conseqüências sobre os recursos naturais)
121
- limites à introdução de maquinaria: poupa trabalho
pago; deve garantir o controle capitalista do
processo de trabalho; determinada pelas relações
sociais contraditórias
122