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isto
Fernanda Relva
Antes de você começar a ler este texto -- já publicado e reeditado especialmente para
este site -- quero dizer que não pretendo aqui encerrar todas as possibilidades a respeito
de um determinado assunto. Estou partindo do princípio que há queixas recorrentes que
chegam até mim e que talvez você possa se identificar com alguma delas que
apresentarei a seguir. Lembre-se que a melhor saída para uma determinada questão que
se apresenta é sem dúvida, dançar com ela. A sua experiência é única.
Quanto ao título, tenho certeza de que lhe causou certa curiosidade ou estranheza, não é
mesmo? Gratidão por levar uma bofetada? A psicóloga é quem pirou de vez! Rs
É certo que a ingratidão fere a nossa alma lá no fundão, não é? É aquele “vácuo” que a
pessoa lhe dá, sem uma razão plausível. Mesmo após ter dispensado toda a
sua consideração, a pessoa age como se nós não tivéssemos feito mais do que a nossa
simples obrigação. É claro que fazemos isso ou aquilo sem pensar em emitir nota fiscal,
mas passarmos por invisíveis. “Ah, isso não, já é demais!”. Provavelmente este
pensamento já povoou a sua mente.
Vou ambientá-lo em alguns cenários para você entender onde eu quero chegar.
Cena um: horas dispensadas do rico soninho da madrugada para acalmar aquela amiga
que terminou o namoro com o boy, e depois quando fazem as pazes, você é excluído (a)
das redes sociais dela.
Cena dois: De supetão você recebe uma declaração de término de relacionamento, após
num trabalho exaustivo de anos ter feito o seu cônjuge crescer e acreditar em si, e agora
ele (ela) voa com as próprias asas, mas não o(a) leva junto na empreitada.
Cena três, top: aquele amigo coitado que não tinha nem como pagar a conta de luz, com
três filhos, um de cada relacionamento e que você recomendou para ser seu colega de
trabalho na sua empresa por achá-lo extremamente competente, mas que acabou de
puxar o seu tapete, ocupando o lugar de chefe que já estava reservado para você. Fora o
ar de tirano que ele assume, que vamos combinar, é a cereja do bolo da situação, não é?
Vamos lançar um olhar para o todo relacional, com os ânimos calmos e a poeira baixa?
O que este relacionamento amoroso/amizade/relação de trabalho significa para você?
Você se encontra presente e lúcido nestas situações? Como se constrói esta ética
relacional entre você e a outra parte? Via de mão única ou dupla?
Há regras entre duas pessoas, mesmo quando não há regras. Confuso isto? Vou explicar:
quando você se furta a dizer o que o agrada ou desagrada, você está fazendo disto uma
lei. O que é discutido, ou não, vira regra. Regras essas que não são ditas, mas
subentendidas, muitas vezes com malícia da outra parte que se vale da inocência e
permissão do outro para fazer a sua verdade prevalecer. Daí o sentimento de ter sido
traído por aquela pessoa tão amorosa e afável no início das coisas.
Por outro prisma, podemos observar que algumas pessoas podem não estar prontas para
dar ou receber aquele afago, aquela acolhida. Aprenderam durante toda uma vida a não
dar, a investir, ou pior, a não serem dignos de amor, de cuidado e consideração alheia.
No contato com o outro, anulam toda tentativa de reconhecimento de afeto vindo do
outro, uma vez que seria algo absurdamente atípico para elas.
Não posso deixar de citar o simples fato de as pessoas vivem à base de escolhas, o
tempo todo. Muitas pessoas podem não reconhecem o outro faz porque não querem
estar no lugar de comprometer-se a pagar a dívida de devolver na mesma moeda.
Independentemente do fato de como o outro reage ao seu investimento, esta energia faz
parte de você. Portanto, não deve rechaçá-la, mas abraçá-la, ser grato(a) e se orgulhar,
pois naturalmente exala uma virtude tão escassa nos dias de hoje, em meio a um mundo
de relacionamentos líquidos e fugazes, que é o amor ao próximo.