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Resumo
Introdução
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suposto, a promulgação de uma Carta Constitucional condizente com aquele momento
histórico. A formação de uma retórica democrática permitiu, naquele cenário, que as várias
pautas reivindicativas confluíssem em torno de um objetivo maior, tornando o campo de
lutas aberto ao diálogo, inclusive pela via institucional. A gana por participação maturou
um novo momento para os movimentos sociais, fazendo-os perceber que o exercício
democrático passava não apenas pela sua organização interna e participação em âmbito
local e regional mas, em larga medida, também pela sua influência em outras arenas
decisórias, de maior alcance, pluralidade e influência. A Constituinte foi, portanto, um
laboratório para as lutas sociais no Brasil, representando um espaço privilegiado em que
movimentos e entidades de classe acompanharam atentamente as decisões, tornando
possível a negociação e interferências diretas no processo final.
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Os registros taquigráficos estão disponibilizados em versão digital para download no site do Senado Federal
(http://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/Constituicoes_Brasileiras/constituicao-
cidada/publicacoes/anais-da-assembleia-nacional-constituinte). A publicação eletrônica oferece uma versão
integral dos Diários da Assembléia Constituinte. Neste documento constam todas as atas e registros dos
debates e discursos nas Subcomissões temáticas.
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extrapolavam os limites dos temas defendidos pelos grupos de interesse representados na
Constituinte. O estudo leva em conta a leitura e transcrição dos pronunciamentos dos 974
depoentes, ao longo das 192 audiências públicas, distribuídas em 24 subcomissões
temáticas, definidas de acordo com grandes temas em 8 comissões temáticas, realizadas
entre os dias 22 de abril e 25 de maio de 1987.
Para a análise desenvolvida neste paper nos concentraremos nos sentidos adquiridos
pelos termos cidadania e direitos, prementes para a discussão sobre a afirmação da
democracia, de acordo com as falas dos representantes da sociedade civil. Deste modo,
selecionamos alguns depoimentos que mobilizaram conceitos/termos na sua argumentação.
Neste caso, a polissemia dos conceitos de cidadania e direitos será tratada, a partir das
discussões em plenário envolvendo os depoentes populares e os deputados Constituinte. Do
confronto de ideias e da construção de novos sentidos a conceitos tão fundamentais,
veremos como tais concepções aparecem nas falas dos grupos populares e, posteriormente,
foram incorporados – ou não – ao texto Constitucional.
Desenvolvimento
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como pelo aparecimento de movimentos sociais, e também as realizações do próprio
regime ditatorial, já em declínio na sua capacidade de articulação e força. Neste momento,
o associativismo civil contribuiu para a formação de um novo quadro político, a partir das
intensas mobilizações sociais que tomaram as ruas e bairros de todo o Brasil. Fóruns,
congressos e reuniões construíram e articularam pautas que foram encaminhadas à
Constituinte e, mais do que isso, formaram um campo de lutas que exigiu, sobretudo, a
redefinição das relações entre Estado e sociedade civil.
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para o entendimento dos conceitos gerais que estão presentes no texto constitucional. Suas
falas aparecem como importantes bússolas para a compreensão da mentalidade que
permeou a elaboração da Constituição de 1988. Mais do que isso, são concepções do
pensamento político de uma época. Os depoentes do campo popular são, portanto, legítimos
produtores de conhecimento, cujos conceitos e argumentos, sejam quais forem suas origens,
são ferramentas para o entendimento do momento político da sociedade representada na
ANC.
(...) “os grupos sociais explicitam suas visões de mundo por meio de formas de
pensamento: são formas de pensamento que carregam em seu bojo as principais
determinações de realidades mais ponderáveis, que estiveram presentes no
instante mesmo de sua elaboração”. (MOTA, 2008: 45).
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Perspectivas gerais na ANC
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A seguir, trabalharemos alguns trechos de depoimentos selecionados a partir da
leitura sistemática dos registros taquigráficos/atas da ANC. O objetivo é, justamente,
apresentar preliminarmente quatro argumentos/juízos que dão conta dos conceitos de
cidadania e direitos, e que podem lançar luz ao que chamamos de retórica popular, uma
série concepções sobre temas relacionados ao momento político do país em vias de
redemocratização. A perspectiva dos setores populares é colocada sob escrutínio, a fim de
se compreender o que importava a sociedade brasileira pós-ditadura militar.
Cidadania
A questão da saúde se insere, portanto, nos parâmetros mais amplos dos conceitos de
organização social, democracia e cidadania. É neste campo que gostaríamos de situar nosso
pronunciamento. De fato, o estabelecimento de novas relações entre Estado e a Sociedade
passa, necessariamente, pela redefinição do conceito de cidadania que, em diferentes momentos
históricos e conjunturas políticas, adquire significados diversos. Sabemos assim que, hoje, ao
discutirmos a questão da saúde como um direito estamos considerando que o exercício pleno da
cidadania requer, não apenas o reconhecimento de direitos civis e dos direitos políticos, mas
também o reconhecimento dos chamados direitos sociais. Neste sentido, o conceito de
cidadania já não se resume a idéia, própria ao liberalismo clássico, de proteção do indivíduo
frente ao Estado, mas incorpora o direito a participação nas decisões públicas bem como a
necessidade de que o indivíduo tenha assegurado garantias para o exercício dos direitos civis e
sociais. E mais, o conceito de cidadania define deveres do Estado frente ao cidadão.
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Assunto: Problema fundiário
Diria que o campo precisa de algumas condições, para cumprir a sua missão, e a primeira delas
é a paridade da cidadania. Não podemos ter dois brasileiros neste País: o brasileiro urbano e o
rural. Esse homem do campo – invoco o testemunho dos que os conhecem bem, acredito que V.
Ex.ª seja um deles – vivem em condições altamente deficientes de saúde, de moradia, de
educação, de legislação trabalhista, previdenciária, de transporte e de lazer e, sem dúvida
nenhuma, a paridade econômica.
A questão da cidadania foi tratada por parte dos setores populares a partir de
questões prementes aos grupos de interesse representados na ANC. Os atores sociais
convidados a participar da Constituinte pensaram os conceitos e ideias a partir de questões,
exemplos e vivências muito localizadas, as quais foram utilizadas para sustentar
argumentos e juízos mais gerais. Nos casos selecionados, dois temas importantes para o
avanço dos direitos sociais no Brasil foram utilizados como vetores principais da
argumentação. São eles: a saúde da mulher e a questão fundiária. O que chama atenção nas
falas é, justamente, a percepção da necessidade do alargamento da cidadania no Brasil
democrático. Segundo os depoentes, é fundamental que se pense em um novo sentido para
a cidadania, o qual dê conta dos novos arranjos societários e institucionais.
Uma nova concepção de cidadania deveria ser pensada, portanto, ao largo de uma
ideia importada ou ainda um juízo abstrato, especulativo. As idiossincrasias de uma nova
sociedade em formação, uma vez que se encontrava com a democracia, serviram de alicerce
para o que se deveria considera como cidadania. A expansão dos direitos sociais e o
reconhecimento da igualdade de todos os cidadãos deveria, de acordo com as falas, balizar
a cidadania no Brasil democrático.
Direitos
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Acabarmos de ouvir toda uma sessão voltada para uma política da energia, que
está preocupada com a questão da administração da energia a que, enfim, é a
questão econômica fundamental, mas está preocupada também com o problema
mais importante da humanidade, que é problema do desarmamento. Estou aqui
representando o fruto negativo dessa política, enquanto imagem de portador de
deficiência. Não falo em nome dos portadores de deficiência nem das minorias,
porque sou branco, homem e tenha toda uma característica de poderoso, um
sujeito que tem um curso superior. Mas uma coisa tem de ficar bem clara na
nossa cabeça – desenvolvimento não é envolvimento com capital internacional.
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problemas de locomoção fornece o exemplo a respeito da falta de igualdade de direitos na
sociedade. A expansão da cidadania não fica restrita, portanto, ao reconhecimento jurídico
dos grupos sociais, mas da efetivação das leis que garantam a igualdade para todos. Em
outros termos, reconhecer a diferença é promover a igualdade e os direitos.
Conclusão
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