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TÓPICOS

INTERDISCIPLINARES

autora
EDNA RAQUEL HOGEMANN

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2016
Conselho editorial  rafael iorio, roberto paes e paola gil de almeida

Autora do original  edna raquel hogemann

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  paola gil de almeida, paula r. de a. machado e aline


karina rabello

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  bfs media

Revisão linguística  bfs media

Revisão de conteúdo  marcelo machado lima

Imagem de capa  tyler olson | shutterstock.com

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2016.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

H714t Hogemann, Edna Raquel


Tópicos interdisciplinares / Edna Raquel Hogemann.
Rio de Janeiro: SESES, 2016.
120 p: il.

isbn: 978-85-5548-405-6

1. Interdisciplinaridade. 2. Globalização. 3.Temas transversais.


4. Formação geral. I. SESES. II. Estácio.
cdd 370.1

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Entre a arte, a cultura, a filosofia e os avanços


tecnológicos 9

1.1  Entendendo um pouco de arte, cultura e filosofia 11


1.1.1  Vamos falar de cultura 11
1.1.2  O conceito de cultura e o conceito de humanidade 12
1.1.3  Diversidade cultural 13
1.1.4  Relativismo e universalismo cultural 14
1.1.5  Um novo paradigma: o multiculturalismo 14
1.2  Vamos falar de arte? 15
1.2.1  Vamos fazer uma rápida viagem através da história da arte 18
1.3  Vamos filosofar? 31
1.3.1  Razões para filosofar 32
1.4  Avanços Tecnológicos: Ciência, Tecnologia e Inovação 32
1.4.1  O que é a ciência? 32
1.4.2  O que é senso comum? 33
1.4.3 Tecnologia 33

2. Temas da democracia: ética, cidadania,


biodiversidade e sociodiversidade. 37

2.1  Vamos falar de democracia 38


2.2 Ética 40
2.2.1  Ética e Moral 41
2.2.2  Problemas morais e problemas éticos 42
2.3 Cidadania 43
2.3.1  A questão da exclusão e das minorias 44
2.3.2 Diferença 45
2.3.3 Desigualdade 45
2.3.4 Tolerância 47
2.3.5 Equidade 47
2.3.6  Direitos humanos fundamentais 47
2.4  Ecologia, uma rápida definição: 48
2.4.1  Educação Ambiental 49
2.4.2 Biodiversidade 50
2.4.3 Multiculturalismo 51
2.4.4 Preconceito 52

3. Políticas Públicas: educação, habitação,


saneamento, saúde, transporte, segurança e
defesa 57

3.1  Vamos falar de políticas públicas 59


3.1.1  Como são concebidas as políticas públicas 59
3.1.2  Como e por que são alteradas as políticas públicas 60
3.1.3  Políticas públicas educacionais no Brasil 61
3.1.4  A necessidade de uma política urbana de habitação 63
3.1.5  Políticas públicas voltadas para a saúde 65
3.1.6  Políticas públicas para o transporte 67
3.1.7  Políticas públicas de segurança 68

4. Temas transversais: relações de trabalho e de


gênero, responsabilidade social 71

4.1  Vamos falar sobre o trabalho e os direitos trabalhistas 73


4.1.1  Influências externas 74
4.1.2  Influências Internas 74
4.1.3  A situação dos direitos dos trabalhadores 76
4.1.4  A Globalização e seus reflexos nas relações de trabalho
subordinadas 77
4.1.5  Como fica a situação no Brasil 80
4.2  Vamos falar sobre as questões de gênero 80
4.2.1  Identidade de gênero e identidade sexual 81
4.2.2  A questão do nome social 83
4.2.3  Feministas ou femininas: elas querem reconhecimento social 84

5. Tecnologias de informação e comunicação:


inclusão/exclusão digital - sociodiversidade e
multiculturalismo 91
5.1  Sobre as tecnologias de informação e comunicação (TICs) 93
5.1.1  Sobre o contexto social em que ocorre a transformação
tecnológica e o advento da sociedade em rede 95
5.1.2  A questão da inclusão e da exclusão digitais 96
5.1.3  Como garantir o acesso à inclusão digital? 98
5.2  Sociodiversidade: expressão da riqueza cultural 99
5.2.1  Por que é importante o estudo da sociodiversidade? 101
5.3  Um novo paradigma (modelo): o multiculturalismo 104

6. Temas transversais – vida urbana e rural.


Violência e terrorismo 107

6.1  Sobre a vida urbana e a vida rural 109


6.1.1  O fenômeno do êxodo rural 109
6.1.2  Reflexões sobre o urbano e o rural 110
6.2  Violência e terrorismo 114
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),

Considerando o crescente comprometimento dos educadores, das institui-


ções de ensino superior e dos órgãos governamentais com a elaboração de polí-
ticas e práticas pedagógicas que viabilizem a sistematização e a integração dos
diversos matizes dos saberes apresentados a você ou por você construídos, a
razão da intenção da produção do presente livro, que é a base doutrinária para a
disciplina Tópicos Interdisciplinares, foi oferecer uma ferramenta prática para
auxiliá-lo em sua formação geral, para além dos conteúdos específicos de seu
curso de graduação.
Assim, preocupados com a sua formação como profissional ético, compe-
tente e comprometido com a sociedade em que vive, elaboramos uma obra vol-
tada para as questões mais gerais que envolvem tanto a nossa vida cotidiana
quanto as grandes questões de nosso tempo, tanto no âmbito nacional, quanto
numa perspectiva internacional. Além de prepará-lo para dominar os conheci-
mentos e os diversos níveis de competências e capacidades para os respectivos
perfis profissionais, a presente obra se propõe a trabalhar com uma gama de
assuntos que possibilitem ao estudante evidenciar a compreensão de temas
que possam ir além de seu ambiente próprio de formação e sejam importantes
para a compreensão da realidade contemporânea. Tal compreensão necessa-
riamente precisa vincular-se à perspectivas crítico-analíticas, integradoras e à
constituição de sínteses contextualizadas.
Nossa intenção é possibilitar a compreensão e interpretação de textos dos
mais variados gêneros, de modo a habilitá-lo à apreensão dos significados ins-
critos no interior dos textos apresentados, pela utilização de variados recursos,
para promoção de sua inserção e da correlação ao conhecimento de mundo que
circula no meio social demarcado pelas intensas e permanentes transforma-
ções, muito próprias de nosso tempo.

Bons estudos!

7
1
Entre a arte, a
cultura, a filosofia
e os avanços
tecnológicos
1.  Entre a arte, a cultura, a filosofia e os
avanços tecnológicos

Por que um profissional do Direito necessita entender um pouco de arte, de


cultura, de filosofia e deve estar antenado com os avanços tecnológicos que
acontecem ao seu redor?
As regras que orientam e disciplinam o socialmente aceitável e conveniente
decorrem da abstração das experiências e das vivências sociais historicamente
determinadas.
O indivíduo produz conceitos e padrões éticos e os envia à sociedade, as-
sim como a sociedade produz padrões e conceitos éticos e os envia (ou inculca),
por meio de suas instituições, tradições, mitos, modos, procedimentos, exigên-
cias e regras, à consciência do indivíduo. Entender essa interação, como se dá
o equilíbrio dessas duas forças, é fundamental para estar-se em consonância
com nosso tempo.
Por isso, a cultura é fundamental para a compreensão dos múltiplos valores
morais e éticos que guiam nosso comportamento social. Entender como estes
valores, que são sociais, são internalizados pelos indivíduos e como eles condu-
zem as emoções e a avaliação do outro, é um grande desafio.
Por outro lado, os avanços que a ciência e a tecnologia vêm promovendo em
nossas sociedades, produzem mudanças profundas que findam por afetar os
conceitos e padrões éticos e, portanto, são merecedores de nossa atenção.

OBJETIVOS
•  Refletir sobre a dimensão cultural do ser humano;
•  Identificar os aspectos fundamentais dos múltiplos valores morais e éticos;
•  Compreender a influência da arte nas relações intersubjetivas ao longo da história;
•  Reconhecer a distinção entre o pensamento científico e o senso comum;
•  Perceber em que medida a técnica e a ciência se consolidam e suas consequên-
cias mundiais.

10 • capítulo 1
1.1  Entendendo um pouco de arte, cultura e filosofia

Refletir de forma argumentativa os temas relacionados à arte, cultura e filoso-


fia, considerando a necessidade de sua formação como um profissional ético,
competente e comprometido com a sociedade em que vive e que evidencie a
sua compreensão de temas que transcendam ao seu ambiente próprio de for-
mação e importantes para a realidade contemporânea é o nosso propósito.
Assim, podemos perceber que existe uma relação muito própria entre a
arte, a cultura e a filosofia :

CULTURA =
ARTE = mostra
ajuda a
ideias e situações
entender os
através do ponto
comportamentos
de vista do artista
sociais

FILOSOFIA =
contribuir para uma
reflexão mais
profunda sobre as
questões do nosso
tempo

1.1.1  Vamos falar de cultura

Quando falamos em cultura, estamos nos referindo a toda forma de interven-


ção humana na natureza e a uma criação exclusiva dos seres humanos.
Os valores culturais são transmitidos de geração a geração, nas diferen-
tes sociedades.
A cultura é múltipla e variável, no tempo e no espaço, de sociedade
para sociedade.
A cultura se desenvolveu da possibilidade da comunicação oral (linguagem
falada e, depois, escrita) e da fabricação de instrumentos capazes de tornar
mais eficiente a condição biológica humana. Então, tudo o que o ser humano
faz, necessariamente aprendeu com os seus semelhantes, ou seja, tudo faz par-
te da cultura.

capítulo 1 • 11
A cultura é coisa nossa!
©© WIKIMEDIA.ORG

1.1.2  O conceito de cultura e o conceito de humanidade

Uma vez parte da estrutura humana, a cultura define a vida, e o faz não através
das pressões de ordem material, mas de acordo com um sistema simbólico de-
finido por nós humanos, que nunca é o único possível.
A cultura, deste modo, forma a utilidade, se revela como a lente através da
qual nós humanos vemos o mundo e interfere na satisfação das nossas necessi-
dades fisiológicas básicas.
Embora nenhum indivíduo conheça totalmente o seu sistema cultural, é ne-
cessário ter um conhecimento mínimo para operar dentro do mesmo.

12 • capítulo 1
1.1.3 Diversidade cultural

São as diferenças culturais entre as pessoas, como a linguagem, o vestuário e


tradições, bem como a forma como sociedades se organizam, a sua concepção
da moral e da religião, a forma como interagem com o meio ambiente, etc.
Recusar a diversidade cultural humana (como se uma só cor fosse preferível
ao arco-íris) foi o que levou, entre outros, aos crimes, massacres e extermínios
que a junção dessa atitude irracional, com as pretensões econômicas, provocou
ao longo da História da humanidade.
© DIAC IMAGES | WIKIMEDIA.ORG

capítulo 1 • 13
1.1.4  Relativismo e universalismo cultural

O relativismo cultural é uma ideologia político-social que considera a validade


e a riqueza de qualquer sistema cultural e recusa qualquer valorização moral e
ética dos mesmos por elementos externos a estes sistemas.
Defende que o bem e o mal são próprios de cada cultura.
Já os universalistas defendem que é possível identificar traços comuns em
qualquer sociedade, como, por exemplo, a valorização da dignidade da pessoa
humana e a proteção contra opressão ou arbítrio. Nesse sentido, consideram
a ideia de um núcleo mínimo de direitos que merecem a salvaguarda em ní-
vel global.
No entanto, os universalistas são acusados pelos relativistas de impor a cul-
tura ocidental aos demais povos, como expressão imperialista. Eles reagem à
postura relativista afirmando que vários Estados promovem graves e genera-
lizadas violações aos direitos humanos, sob a justificativa da manutenção da
identidade cultural.

1.1.5  Um novo paradigma: o multiculturalismo

Para Boaventura de Sousa Santos, em ambas as concepções (universalistas e


relativistas) o conceito de dignidade humana está incompleto, uma vez que a
noção está atrelada a cada uma das pré-compreensões culturais.
Assim, torna-se impossível estender à universalidade, noções de direitos
humanos sem considerar a diversidade conceitual oriunda da multiplicidade
cultural existente.
É preciso criar um novo paradigma comunicativo que propicie uma media-
ção e conciliação dos valores de cada cultura. Nos dizeres do autor: um diálo-
go intercultural.

Boaventura de Sousa Santos (Quintela, 15 de Novembro de 1940) licenciou-se em


direito pela Universidade de Coimbra em 1963. No final do curso, rumou a Berlim
para estudar filosofia do direito. Fez uma pós-graduação e viveu a experiência dos
dois mundos da guerra fria separados pelo Muro de Berlim. Dois anos depois, regres-
sou a Coimbra e durante um breve período foi assistente da Faculdade de Direito.

14 • capítulo 1
Em finais dos anos 1960, partiu para a Universidade de Yale com o objetivo de se
doutorar. A sua tese de doutoramento, publicada pela primeira vez em português em
2015 (Direito dos Oprimidos, Almedina), é um marco fundamental na sociologia do
direito, que resultou do trabalho de campo centrado em observação participante numa
favela do Rio de Janeiro.
Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Boaventura_de_Sousa_Santos>.

1.2  Vamos falar de arte?

Desde que o mundo é mundo, o ser humano constrói seus próprios objetos,
suas coisas.
©© DAGAFESQV | WIKIMEDIA.ORG

capítulo 1 • 15
A arte é uma forma criativa de como a humanidade expressa suas emoções,
sua história e sua cultura através de alguns valores estéticos, como beleza, har-
monia, equilíbrio. A arte pode ser representada através de várias formas, em
especial na música, na escultura, na pintura, nos bordados, na tapeçaria, na
dança, no teatro, no cinema, entre tantas outras.
Em algum momento, já sentimos o efeito de uma obra de arte sobre nós,
que pode ser:
•  Admiração;
•  Estranheza;
•  Encanto;
•  Repúdio;
•  Prazer;
•  Contemplação;
•  Bem-estar.
©© WIKIMEDIA.ORG

Vincent van Gogh

16 • capítulo 1
©© WIKIMEDIA.ORG “Mulher com sombrinha”
(1875) É uma das mais
famosas obras do pintor fran-
cês impressionista Claude
Monet.
O que mais nos encanta
nestes quadros não são as
jovens retratadas, mas o
modo sutil pelo qual a luz e a
brisa conservam-se na tela,
como que para sempre aos
nossos olhos.

A arte também manifesta fatos, acontecimentos, expressa ideias e, nesse


sentido, possui também a função formativa, ou seja, educativa.
O livro OS SERTÕES, escrito por Euclides da Cunha, conta a história da
Guerra de Canudos, uma revolta ocorrida no interior da Bahia, entre 1896 e
1897, liderada por Antonio Conselheiro.

capítulo 1 • 17
1.2.1  Vamos fazer uma rápida viagem através da história da arte

a) Arte Pré-Histórica
©© THOM QUINE | WIKIMEDIA.ORG

Pinturas em cavernas.

A arte dos homens na pré-história, em verdade, não tinha o caráter “artísti-


co” como o da produção artística atual. Eram reproduções de situações do coti-
diano daqueles povos ágrafos: situações de caçadas, reprodução de instrumen-
tos, figuras humanas, etc.

CURIOSIDADE
São denominados como povos ágrafos aqueles que ainda não possuíam uma linguagem
escrita. Por outro lado, a historiografia estabelece que a pré-história da humanidade termina
e a história começa, com o advento da linguagem escrita.

18 • capítulo 1
b) Arte na Idade Antiga
b1) Egito Antigo
©© WIKIMEDIA.ORG

©© CAPTMONDO | WIKIMEDIA.ORG
©© RICARDO LIBERATO | WIKIMEDIA.ORG

O legado artístico egípcio está demarcado pelos elementos religiosos tanto


na pintura, na escultura e na construção original de templos que sobrevivem
para além dos séculos.

capítulo 1 • 19
b2) Arte na Grécia Clássica

©© MATTGIRLING WIKIMEDIA.ORG
©© THERMOS | WIKIMEDIA.ORG

Percebe-se, ainda, uma profunda influência da religião e uma visão antro-


pocêntrica da arte, seja na pintura, na escultura, no teatro.

b3) Arte em Roma


©© DILIFF | WIKIMEDIA.ORG

20 • capítulo 1
©© ALEXANDER AUGST | WIKIMEDIA.ORG
A arte em Roma demonstra grande influência do legado grego, na medida
em que Roma detém o domínio sobre a Grécia a partir do ano 146 a. C.

b4) Arte islâmica


©© YANN | WIKIMEDIA.ORG

A arte islâmica diz respeito tanto à literatura, à dança, à música, quanto ao


teatro e às artes visuais (escultura, pintura, etc.) de um conjunto de povos que
habitam o Oriente Médio e que adotou como religião o Islamismo.

capítulo 1 • 21
c) Arte na Europa da Idade Média
c1) Arte Românica
Em 476, com a tomada de Roma pelos povos bárbaros, começa o período
histórico que ficou conhecido por Idade Média.
Na Idade Média, com o Cristianismo, a arte se voltou para a valorização do
espírito. Os valores da religião cristã vão impregnar todos os aspectos da vida
medieval. A visão de mundo dominada pela figura de Deus proposto pelo cris-
tianismo é chamada de teocentrismo (teos = Deus). Deus é o centro do universo
e a medida de todas as coisas. A igreja, como representante de Deus na Terra,
tinha poderes ilimitados.
©© REINHARDHAUKE | WIKIMEDIA.ORG

©© ROKUS CORNELIS | WIKIMEDIA.ORG

c2) Arte Gótica


Na arte gótica a arquitetura revela a grandiosidade, a crença na existência
de um Deus que vive num plano superior. Por isso, tudo se volta para o alto,
projetando-se na direção do céu, como se vê nas pontas agulhadas das torres de
algumas igrejas góticas.
Além disso, a rosácea é um elemento arquitetônico muito peculiar do estilo
gótico e está presente em quase todas as igrejas construídas entre os séculos
XII e XIV.
Outros elementos característicos são os arcos góticos ou ogivais e os vitrais
muito coloridos que filtram a luminosidade para o interior da igreja.

22 • capítulo 1
É o caso da Catedral de Notre Dame, de Paris e da Catedral de Notre Dame,
de Chartres, conforme a seguir:
©© CARLOS DELGADO | WIKIMEDIA.ORG

©© OLVR | WIKIMEDIA.ORG
d) Arte na Europa da Idade Moderna
d1) Renascimento
O vocábulo Renascimento é usualmente aplicado à civilização europeia que
se desenvolveu entre 1300 e 1650. Além de reviver a antiga cultura greco-ro-
mana (por isso, renascimento), ocorreram nesse período muitos progressos e
incalculáveis realizações no campo das artes, da literatura e das ciências, que
superaram a herança do período clássico. O ideal do humanismo foi, sem dú-
vida, o maior estímulo para esse progresso e tornou-se o próprio espírito do
Renascimento. Trata-se de uma volta deliberada, que propunha a ressurreição
consciente do passado, considerado agora como fonte de inspiração e modelo
de civilização. Num sentido amplo, esse ideal pode ser entendido como a valori-
zação do homem (Humanismo) e da natureza, em oposição ao divino, aos dog-
mas e ao sobrenatural, conceitos que haviam impregnado a cultura da Idade
Média.
Características gerais:
•  Racionalidade;
•  Dignidade do Ser Humano;
•  Rigor Científico.
•  Ideal Humanista
•  Reutilização das artes greco-romana

capítulo 1 • 23
©© WIKIMEDIA.ORG
d2) Barroco
A arte barroca surgiu na Itália (séc. XVII), mas não demorou a alastra-se por
outros países da Europa e chegou também ao continente americano, trazida
pelos colonizadores portugueses e espanhóis.
É uma época de conflitos espirituais e religiosos. O estilo barroco revela a
tentativa aflitiva de conciliar forças adversas: bem e mal; Deus e Diabo; céu e
terra; pureza e pecado; alegria e tristeza; paganismo e cristianismo; espírito e
matéria.
Aqui no Brasil, um dos seus maiores representantes foi o artista minei-
ro Aleijadinho:
©© WIKIMEDIA.ORG
©© RICARDO ANDRÉ FRANTZ WIKIMEDIA.ORG

24 • capítulo 1
e) Idade Contemporânea
e1) Neoclassicismo
Retorno ao passado, pela imitação dos modelos antigos greco-latinos.

©© PIERRE-SELIM HUARD | WIKIMEDIA.ORG


©© CAMILLE GÉVAUDAN | WIKIMEDIA.ORG

e2) Romantismo
O século XIX foi agitado por fortes mudanças sociais, políticas e cultu-
rais causadas por acontecimentos do final do século XVIII, como a Revolução
Industrial, que gerou novos inventos com o objetivo de solucionar os proble-
mas técnicos decorrentes do aumento de produção, provocando a divisão
do trabalho e o início da especialização da mão-de-obra, e pela Revolução
Francesa, que lutava por uma sociedade mais harmônica, em que os direitos
individuais fossem respeitados; traduziu-se essa expectativa na Declaração dos
Direitos do Iníciom e do Cidadão. Do mesmo modo, a atividade artística tor-
nou-se complexa.
Os artistas românticos procuraram se libertar das convenções acadêmicas
em favor da livre expressão da personalidade do artista.

capítulo 1 • 25
Características gerais:
•  A valorização dos sentimentos e da imaginação;
•  O nacionalismo;
•  A valorização da natureza como princípios da criação artística; e
•  Os sentimentos do presente tais como: liberdade, igualdade e fraternidade.
©© WIKIMEDIA.ORG

26 • capítulo 1
e2.1) Romantismo na poesia

A Canção do Africano

(Castro Alves)

A canção do africano
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala,
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pra não o escutar!
"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
"0 sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar...
"Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro".
O escravo calou a fala,

capítulo 1 • 27
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pra não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
.......................
O escravo então foi deitar-se,
Pois tinha de levantar-se
Bem antes do sol nascer,
E se tardasse, coitado,
Teria de ser surrado,
Pois bastava escravo ser.
E a cativa desgraçada
Deita seu filho, calada,
E põe-se triste a beijá-lo,
Talvez temendo que o dono
Não viesse, em meio do sono,
De seus braços arrancá-lo!

e3) Realismo
Entre 1850 e 1900 surge no cenário das artes europeias, especialmente na
pintura francesa, uma nova disposição estética chamada Realismo, que se de-
senvolveu em paralelo com a crescente industrialização das sociedades. O eu-
ropeu, que já utilizava o conhecimento científico e a técnica para interpretar
e dominar a natureza, convenceu-se de que precisava ser realista, até mesmo
em suas criações artísticas, deixando de lado as visões subjetivas e emotivas da
realidade, como os românticos.
São características gerais:
•  o cientificismo
•  a valorização do objeto
•  o sóbrio e o minucioso
•  a expressão da realidade e dos aspectos descritivos

28 • capítulo 1
São exemplos, obras como a escultura O Pensador, de Rodin e o quadro
Litoral de Gustave Coubert:
©© WIKIMEDIA.ORG

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e4) Impressionismo
Principais características da pintura:
•  A pintura deve registrar as tonalidades que os objetos adquirem ao refletir
a luz solar num determinado momento.
•  As figuras não devem ter contornos nítidos, pois a linha é uma abstração
do ser humano para representar imagens.
•  As sombras devem ser luminosas e coloridas.
•  Os contrastes de luz e sombra devem ser obtidos de acordo com a lei das
cores complementares.
•  As cores e tonalidades devem ser puras e dissociadas nos quadros em pe-
quenas pinceladas. É o observador que, ao admirar a pintura, combina as várias
cores, obtendo o resultado final. A mistura deixa, portanto, de ser técnica para
se ótica.

capítulo 1 • 29
Como exemplo, trazemos duas obras do genial pintor francês Claude Monet:
©© WIKIMEDIA.ORG

©© WIKIMEDIA.ORG
Claude Monet.

e5) Expressionismo
É a arte do instinto, nota-se uma pintura dramática, subjetiva, “expressan-
do” sentimentos humanos. Utilizando cores irreais, dá forma plástica ao amor,
ao ciúme, ao medo, à solidão, à miséria humana, à prostituição. Desfigura-se o
desenho das formas humanas, para ressaltar o sentimento. Predominância dos
valores emocionais sobre os intelectuais. Essa corrente artística concentrou-se
de maneira especial na Alemanha entre 1905 e 1930.

©© WIKIMEDIA.ORG
©© WIKIMEDIA.ORG

Amedeo Modigliani e Margret Hofheinz-Döring.

30 • capítulo 1
e6) Cubismo
Originou-se na obra de Cézanne, pois para ele, a pintura deveria tratar as
formas da natureza como se fossem cones, esferas e cilindros. Para Cézanne, a
pintura não podia desvincular-se da natureza, tampouco copiava a natureza; de
fato, a transformava. Ele dizia: “Mudo a água em vinho, o mundo em pintura”.
E era verdade. Aqui, apresentamos um quadro de Cézanne e um do famoso pin-
tor espanhol Pablo Picasso
©© WIKIMEDIA.ORG

©© WIKIMEDIA.ORG
Paul Cézanne e Pablo Picasso.

1.3  Vamos filosofar?

A Filosofia possui data e local de nascimento: final do século VII e início do sé-
culo VI a.C. nas colônias gregas da Ásia menor, na cidade de Mileto – o primeiro
filósofo foi Tales de Mileto.
Surge pela necessidade de outro tipo de explicação para a ordem do mundo
– uma explicação racional.
Explicação racional: coerente, justificada por argumentos (lógicos e não
contraditórios) – formando PENSAMENTOS, IDEIAS E CONCEITOS.
Atividade filosófica ou Proposta da filosofia: formação do Pensamento – crí-
tico, justificado, sistemático.
Como? QUESTIONANDO.

capítulo 1 • 31
1.3.1  Razões para filosofar

Sayão (2004, p. 123) enumera três razões que dão valor ao ato de filosofar:
a) Identificar o nosso próprio sistema de valores;
b) Conseguir capacidade crítica para filtrar o que nos é apresentado;
c) Perceber nossa época, as tendências da sociedade e poder interpretar
o mundo.

1.4  Avanços Tecnológicos: Ciência, Tecnologia e Inovação

Se pensarmos bem, a história da humanidade pode ser resumida na busca de


uma vida melhor, de aumentar o bem-estar, de abreviar o tempo necessário
para o trabalho e o aumento do lazer, de viver as coisas boas. Assim, desde que
aprendemos a controlar o fogo, a cozinhar os alimentos, a fabricação de instru-
mentos rústicos de pedra, barro, osso e madeira, etc.
Há muito tempo atrás, digamos assim: quando o bicho homem resolveu
descer da árvore, ele iniciou uma jornada em busca do conhecimento para ob-
ter possíveis respostas à questões relacionadas aos problemas do seu dia-a-dia.
Por que o dia se sucede à noite? Por que o fogo queima?
Ao procurar as respostas, estas inicialmente eram construídas de forma
mística, à medida que utilizavam a mitologia para explicá-las: o sol era um
deus, a lua, uma deusa.
Podemos dizer que essa forma de pensar dos seres humanos foi que criou a
possibilidade do surgimento da ideia de ciência e que sua tentativa de explicar
os fenômenos, por meio da razão, foi o primeiro passo para fazer ciência.

1.4.1  O que é a ciência?

Ciência pode ser concebida como o esforço para descobrirmos e aumentarmos


o conhecimento humano sobre o funcionamento do Universo, fazendo uso da
pesquisa e de um método científico.
O conhecimento científico se diferencia do conhecimento alcançado atra-
vés do senso comum.

32 • capítulo 1
1.4.2  O que é senso comum?

O senso comum está relacionado aos sentimentos, crenças, desejos e ao misti-


cismo. Por outro lado, o conhecimento científico é formado por meio da razão
e de forma metodologicamente rigorosa buscando abandonar, do seu todo, as
emoções, as crenças religiosas e os desejos humanos.
Veja esse exemplo:
Em sua maioria, os confeiteiros sabem que o forno não pode ser aberto en-
quanto o bolo está assando, senão ele “sola”; da mesma forma, sabem que em
alguns pratos, feitos em banho-maria, devem colocar algumas gotas de vinagre
ou de limão, para que a vasilha de alumínio não fique escura. Como aprende-
ram essas informações? Ora, esse tipo de sabedoria é passada de geração a ge-
ração. Os confeiteiros não conseguem explicar porque é assim, mas sabem que
funciona assim. Isso é o senso comum.
É importante sublinhar que o senso comum é uma forma válida de conhe-
cimento, ainda que não seja científico, pois precisamos dele para encaminhar,
resolver ou superar as necessidades do dia a dia. Inclusive, é assim que os pais
educam seus filhos para a vida.

1.4.3  Tecnologia

A tecnologia pode ser definida como o domínio de uma técnica e o meio para
um determinado fim ou uso. É importante ressaltar que a tecnologia é uma ati-
vidade essencialmente humana. Além do que, há que se demarcar que toda tec-
nologia, todo avanço tecnológico, objetiva a realização das vontades humanas.

CURIOSIDADE
Os avanços tecnológicos têm sido muitos nestes últimos tempos. O Wi-Fi revolucionou as co-
municações sem fios. A marca foi licenciada originalmente pela Wi-Fi Alliance para descrever a
tecnologia de redes sem fio embarcadas (WLAN) baseadas no padrão IEEE 802.11. O termo
Wi-Fi foi escolhido como uma brincadeira com o termo "Hi-Fi" e pensa-se geralmente que é
uma abreviatura para wireless fidelity, no entanto a Wi-Fi Alliance não reconhece isso. O padrão
Wi-Fi opera em faixas de frequências que não necessitam de licença para instalação e/ou
operação. Disponível em: <http://www.infowester.com/wifi.php>. Acesso em 31 mai. 2016.

capítulo 1 • 33
Por outro lado, é justo afirmar que os avanços tecnológicos neste século
XXI, com mais impacto no dia a dia das pessoas estão relacionados à tecnologia
da informação (celulares do tipo smartphones e computadores cada vez mais
rápidos e multimídias), à biotecnologia, sobretudo na área médica (instrumen-
tos/máquinas de diagnósticos e tratamentos sofisticados) e às tecnologias in-
dustriais, com grandes mudanças nas relações de produção (em especial nos
setores de serviços, na indústria e na agricultura).
Para Schwartzman (1997), a ciência e a tecnologia contemporâneas passam
por mudanças rápidas e paradoxais, difíceis de explicar em termos simples.
Segundo o autor, se por um lado estão sendo afetadas pelo processo de globa-
lização, por outro, se tornam cada vez mais concentradas; exigem mão-de-obra
mais especializada, e contraditoriamente substituem as pessoas pelas máqui-
nas; tornam-se mais aplicadas, mas também mais básicas; e o que é mais preo-
cupante: estão mais ligadas do que nunca à iniciativa privada, mas continuam
dependentes de políticas públicas e apoio governamental.
Ao mesmo tempo, se levarmos em conta a questão do desenvolvimento
científico e tecnológico para que seja mais justo e democrático, é necessário
considerar os reais problemas da população, os riscos técnico-produtivos para
o nosso plante e as mudanças sociais decorrentes.
Razão pela qual, é necessário ter uma boa perspectiva das relações existen-
tes entre ciência, tecnologia e sociedade e, muito especialmente, nas políticas
públicas mais apropriadas para gerir as conveniências, mas também, e princi-
palmente perigos que abrangem uma mudança tecnológica.

ATIVIDADES
Esta questão é do ENADE 2015. Vamos tentar resolver?

01. Após mais de um ano de molho, por conta de uma lei estadual que coibia sua realização
no Rio de Janeiro, os bailes funk estão de volta. Mas a polêmica permanece: os funkeiros
querem, agora, que o ritmo seja reconhecido como manifestação cultural. Eles sabem que
têm pela frente um caminho tortuoso.
“Muita gente ainda confunde funkeiro com traficante”, lamenta Leonardo Mota, o MC
Leonardo. “Justamente porque ele tem cor que não é a branca, tem classe que não é a
dominante e tem moradia que não é no asfalto.” (Disponível em< http://www.rhbn.com.br>.
Acesso em 19 ago 2015. Adaptado.)

34 • capítulo 1
Todo sistema cultural está sempre em mudança. Entender essa dinâmica é importante
para atenuar o choque entre as gerações e evitar comportamentos preconceituosos. Da
mesma forma que é fundamental para a humanidade a compreensão das diferenças entre
povos de culturas diferentes, é necessário entender as diferenças dentro de um mesmo sis-
tema. Esse é o único procedimento que prepara o homem para enfrentar serenamente este
constante e “admirável mundo novo” do povo. (LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropoló-
gico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008 (adaptado).
Com base nesses excertos, redija um texto dissertativo, posicionando-se a respeito do re-
conhecimento do funk como legítima manifestação artística e cultural da sociedade brasileira.

REFLEXÃO
Neste primeiro capítulo você conheceu:
•  O conceito de arte e cultura e a sua função social.
•  Foi apresentado às diversas correntes da produção artística do mundo ocidental.
•  Pôde conhecer alguns exemplos da obra de diversos pintores e escultores mundiais.
•  Percebeu que existe um conhecimento que decorre do senso comum e um outro que é o
conhecimento científico.
•  Conheceu as perspectivas que estão colocadas diante da união contemporânea entre
ciência e tecnologia.

Filmes recomendados:
1. Cidade de Deus. Drama brasileiro de 2002 dirigido por Fernando Meirelles e codirigido
por Kátia Lund. Foi adaptado por Bráulio Mantovani a partir do livro de mesmo nome escrito
por Paulo Lins. O filme retrata o crescimento do crime organizado na Cidade de Deus entre
o final da década de 1960 e o início da década de 1980. Estúdio Globo Filmes.

LEITURA
SCHWARTZMAN, Simon. A Redescoberta da Cultura, Os Paradoxos da Ciência e da Tecno-
logia. Disponível em: <http://www.schwartzman.org.br/simon/redesc/sumario.htm>.

capítulo 1 • 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SANTOS, Boaventura de Sousa. Nota sobre a história jurídico-social de Pasárgada. In: SOUSA, José
Gerardo (Org.). Introdução crítica ao direito. 4. ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1993, p.42-49.
SAYÃO, Luiz Alberto Teixeira. Cabeças feitas. Filosofia prática para cristãos. São Paulo. 2004.
WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Pluralismo Jurídico. Novos Caminhos da Contemporaneidade.
2. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

36 • capítulo 1
2
Temas da
democracia:
ética, cidadania,
biodiversidade e
sociodiversidade.
2.  Temas da democracia: ética, cidadania,
biodiversidade e sociodiversidade.

O capítulo que ora iniciamos tem por perspectiva especial demonstrar a você,
estudante, que a educação superior pode ser um fator de coesão social, desde
que esteja voltada para procurar ter em conta a diversidade dos indivíduos e dos
grupos humanos, evitando torna-se um fator de exclusão social.
O respeito pela democracia, pela diversidade e pela especificidade dos indi-
víduos constitui, de fato, um princípio democrático fundamental, que deve le-
var à eliminação de qualquer forma de ensino padronizado ou elitizado. Razão
pela qual, temas relacionados à ética, cidadania, biodiversidade e sociodiversi-
dade se apresentam como fundamentais para a formação geral.
Teremos a oportunidade de conhecer temáticas que estão na ordem do dia
das pautas de discussão entre países e povos dos mais distintos e que são espe-
cialmente relevantes nessa ambiência de neoliberalismo e globalização em que
nos encontramos imersos.
Aproveite bem!

OBJETIVOS
•  Refletir sobre da democracia para a realização das potencialidades do ser humano;
•  Identificar os aspectos fundamentais dos múltiplos valores morais e éticos que conformam
a cidadania;
•  Compreender a importância da biodiversidade no cenário mundial contemporâneo;
•  Perceber em que medida as questões ligadas ao multiculturalismo influenciam as políticas
públicas estatais em nível nacional e internacional.

2.1  Vamos falar de democracia

O vocábulo DEMOCRACIA etimologicamente deriva do grego demo que signifi-


ca povo e cracia que significa governo, ou seja, governo do povo.
Assim, democracia representa um sistema político no qual as pessoas de
um país podem participar ativamente da vida política, ou seja, da vida da pólis
(cidade, em grego).

38 • capítulo 2
Essa participação pode dar-se por meio de eleições, plebiscitos, referendos
ou outros instrumentos de participação popular (audiências públicas, movi-
mentos sociais, etc).
O que caracteriza a democracia é exatamente a possibilidade real de as pes-
soas livremente expressarem suas opiniões sobre os assuntos que são do in-
teresse geral da sociedade ou seja, liberdade de expressão e manifestação de
opiniões.
Por isso, podemos afirmar que a Democracia é o regime político de organi-
zação social mais competente para o cultivo e a prática da liberdade de ação e
de expressão.
Muito embora tenha sido originalmente criada na Grécia Antiga, temos que
reconhecer que a democracia foi pouco usada pelos países até o século XIX.
Mesmo hoje, em pleno século XXI, alguns dos países do mundo continuam a
utilizar sistemas políticos que restringem o poder de decisão tão somente nas
mãos dos governantes. Muito embora no século XX, a democracia tenha passa-
do a ser predominante no mundo.
©© FREEIMAGES.COM

As manifestações públicas são formas democráticas legítimas da sociedade se posicionar


sobre os mais diversos temas.

capítulo 2 • 39
2.2  Ética

A ética é tradicionalmente um dos temas mais importantes da filosofia.


O ser humano deve agir de acordo com tais valores para que sua conduta
seja considerada ética.
Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores e
princípios morais de uma sociedade e seus grupos.

Costumes, hábitos
Ética Ethos e valores de uma
sociedade
ou cultura.

O vocábulo ética deriva do grego ethos. Ética é um conjunto de valores mo-


rais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade.
A ética serve para que haja equilíbrio e bom funcionamento social, possibi-
litando que ninguém saia prejudicado.
Nesse sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está
relacionada com o sentimento de justiça social que aquela determinada socie-
dade elege como verdadeiro.
Assim, a ética em determinada sociedade é construída com base nos valores
históricos e culturais.
Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética.
Porém, a ética não pode ser vista fora da realidade sociocultural concreta.
Os valores éticos de uma comunidade variam de acordo com o ponto de vista
histórico daquele grupo social e dependem de circunstâncias determinadas.
Ex.: poligamia, concubinato, sacrifícios humanos.
Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social, exis-
te também a ética de determinados grupos ou locais específicos, que é chama-
da de deontologia. Neste sentido, podemos citar: ética médica, ética de traba-
lho, ética empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética jornalística,
ética na política, a bioética, etc.
Segundo Marcondes (2007, p.10) a ética pode ser considerada desde um tri-
plo sentido:

40 • capítulo 2
Sentido básico ou descritivo Sentido prescritivo ou normativo
(ethos) – Conjunto de costumes e – conjunto de preceitos que
práticas de um povo, que de estabelecem e justificam valores
maneira informal estabelecem e deveres, desde gerais (ética
padrões de conduta. cristã) ou específica (ética
médica).

Sentido reflexo ou filosófico –


teorias ou concepções filosóficas
da ética, como a ética da
responsabilidade, utilitarista, que
analisa os conceitos e busca dar-
-lhes fundamentos. É a metaética.

“A ética aborda, centralmente, nossa vida concreta, nossa prática cotidiana.


Mesmo teorias éticas muito abstratas como as de Platão e Kant tiveram como
ponto de partida o momento histórico em que esses filósofos viveram e bus-
caram dar respostas a questões e desafios que enfrentaram”. (MARCONDES,
2007, p. 11)

2.2.1  Ética e Moral

Moral vem do latim mos ou mores (costumes) e se refere ao comportamento


adquirido ou modo de ser conquistado pelo homem
Como já vimos, Ética, vem do grego ethos (caráter, modo de ser da sociedade).
Assim, na origem, “caráter” e “costume” estão referidos a um comporta-
mento que é adquirido pelo hábito. Esse caráter não natural do jeito de ser hu-
mano que, na Antiguidade, lhe conferia uma dimensão moral.

Então, podemos resumir a relação entre Ética e Moral da seguinte maneira:

A ética: Reflexão filosófica


sobre a moral; Procura
A moral tem um caráter:
justificar a moral; O seu
Prático, imediato, restrito,
objeto é o que guia a ação;
histórico e relativo.
objetivo é guiar e orientar
racionalmente a vida humana.

capítulo 2 • 41
2.2.2  Problemas morais e problemas éticos

Veja as seguintes questões:


a) Devo cumprir aquela promessa que fiz, mesmo sabendo que me causa-
rá prejuízos?
b) Devo dizer sempre a verdade ou há momentos em que posso mentir?
c) No caso de uma guerra, se o meu amigo colabora com o inimigo, devo
denunciá-lo como traidor ou calar-me?
d) Os soldados nazistas que praticaram crimes cumprindo suas ordens
militares podem ser moralmente condenados?
Os casos acima citados constituem problemas práticos, que resultam de
relações reais, que abrangem não somente a pessoa, mas outra ou outras que
sofrerão as consequências de seus atos.
Nestas situações, temos a necessidade de regular nossa conduta por nor-
mas internas que estimamos mais adequadas ou dignas de ser cumpridas.
Nesse caso, dizemos que aquela pessoa agiu moralmente, como o resulta-
do de uma ação refletida, não puramente espontânea ou natural. Ou seja, uma
ação moral.
Os outros indivíduos julgam, também de acordo com normas que estão co-
locadas, e estabelecem juízos como: “X agiu de forma boa ao mentir naquelas
circunstâncias”; “Y deveria denunciar o amigo traidor”, etc.
Tanto os atos quanto os juízos morais implicam em certas normas que
apontam o que se deve fazer. Assim, por exemplo:

Juízo Norma

• Y devia • Os interesses
denunciar o da pátria
seu amigo devem estar
traidor. acima dos das
amizades.

O problema do que se deve fazer em cada situação concreta é uma questão


prático-moral e não teórico-ético.

42 • capítulo 2
2.3  Cidadania

O vocábulo cidadania derivado latim civitas, quer dizer o mesmo que a pala-
vra pólis, que significa cidade. Importante apontar que esta palavra cidadania
foi empregada em Roma, na antiguidade, para sugerir a posição política de uma
pessoa e os seus direitos como titular ou para o seu exercício. Só que, naqueles
tempos, somente os homens livres poderiam ser considerados cidadãos. Desde
então, muita coisa mudou: acabou a escravidão e as mulheres conquistaram
aos poucos o seu lugar na cidadania, na maioria dos países do globo.
©© WIKIMEDIA.ORG

A luta pela cidadania feminina nos Estados Unidos, no início do século XX.

O professor Dalmo Dallari (1998. p.14) considera que:


“A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibili-
dade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem
cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de deci-
sões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.
A cidadania é exercida pelos cidadãos.

capítulo 2 • 43
Tradução: Direitos de cidadania. Nossos direi-
tos. Os seus direitos de cidadania lhe dão o
privilégio de juntar-se a seus companheiros
na defesa de sua honra e suas casas. Junte-
se ao Sistema do Grupo hoje e salvaguarde
ambos. Seu dever. Seu dever é lutar contra o
inimigo comum e conseguir que seus compa-
nheiros o acompanhem.

Cartaz da época da 1ª Grande Guerra. Dis-


ponível em: <http://hdl.loc.gov/loc.pnp/
cph.3g11035>. Acesso em 11 mai 2016.

Cidadão é um indivíduo que tem consciência de seus direitos e deveres e


participa ativamente de todas as questões da sociedade em que vive.

2.3.1  A questão da exclusão e das minorias

Democracia hoje é vontade da maioria com respeito às minorias.


Minorias: não podem ser oprimidas pela maioria, pois todos têm direitos.

A exclusão social diz respeito à im-


possibilidade de acesso do indivíduo
às mesmas condições de vida e de de-
senvolvimento pleno de suas poten-
cialidades possibilitadas aos demais
e pode ter como raiz uma série de cau-
sas, dentre a quais o fator econômico,
social, racial, de gênero, ou outro qual-
quer, sobressair como um fator deter-
minante causador de exclusão.

Foto da abertura dos Jogos Inclusivos, de


2012, em Olinda/PE.

44 • capítulo 2
2.3.2  Diferença

O direito à diferença é de fundamental importância e se revela nas diferenças


individuais: crença, gênero, idade.
Respeitar e dar espaço para estas diferenças se manifestarem é uma atitude
democrática e desejável. O grau de desenvolvimento de uma democracia pode
ser medido por este respeito.

Foto de Quilombolas que reivindicam reco-


nhecimento de territórios tradicionais. An-
tonio Cruz/Agência Brasil (Disponível em:
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/
noticia/2014-05/quilombolas-reivindicam
-reconhecimento-de-territorios>)

CURIOSIDADE
Quilombolas são comunidades de negros descendentes de escravos fugidos, que funda-
ram comunidades livres denominadas quilombos. O mais importante e maior de todos foi o
quilombo dos Palmares, localizado no estado de Sergipe. No Rio de Janeiro, há registradas
cerca de quinze comunidades quilombolas, a maioria na região dos lagos.

2.3.3  Desigualdade

É criada a partir das relações sociais.


Para os marxistas, a desigualdade social é fruto do modo de produção ca-
pitalista que estabelece uma sociedade de classes, em que existem explorados
(trabalhadores) e exploradores (patrões). Assim, a superação da desigualdade
somente se daria com o fim do capitalismo.
Ex.: ricos têm direito à educação e saúde de qualidade, pobres não; a sinali-
zação nas ruas é pensada apenas para quem “vê”.

capítulo 2 • 45
Boaventura Souza Santos, sociólogo português da atualidade, considera
que: "temos direito a reivindicar a igualdade sempre que a diferença nos infe-
rioriza e temos direito de reivindicar a diferença sempre que a igualdade nos
descaracteriza." Acabar com a exclusão social e com a discriminação às mi-
norias significa garantir a todos o respeito aos seus direitos fundamentais e
a eleição da dignidade da pessoa humana como farol iluminador de todas as
relações no seio da sociedade plural. (Adaptado de: <http://www.boaventurade-
sousasantos.pt/pages/pt/novidades.php>. Acesso em 13 jun 2016).
©© BEATRIZ ALONSO | WIKIMEDIA.ORG

Na cidade de São Paulo, nos deparamos frequentemente com situações


desprezíveis de desigualdade social. Em uma cidade onde poucos têm muito
e muitos têm pouco, é dominada por uma parcela da população egoísta, que
jamais abrirá mão de certos confortos para dividir algo com o outro. Na foto,
vemos que um senhor morador de rua, julgado por muitos como vagabundo,
drogado ou até ladrão, tenta incluir-se na sociedade pela qual é completamente
oprimido. A foto foi tirada na porta de um dos maiores museus da cidade de
São Paulo, o Museu da Imagem e Som. Enquanto as pessoas pegavam fila em
busca de cultura, o senhor fazia o mesmo, lendo seu jornal. E por que eles se
sentem diferente? Qual a diferença deles? Talvez eles apenas se diferenciem
pelas oportunidades que tiveram em um sistema de falsa meritocracia e de de-
sigualdade social.

46 • capítulo 2
2.3.4  Tolerância

Inicialmente, para se tratar do tema tolerância, precisamos considerar e defen-


der a noção segundo a qual os direitos humanos são tidos como produto de um
desenvolvimento que carece ser inclusivo e global, que considere a existência e
participação de uma diversidade de atores sociais habilitados e de uma socie-
dade, cujo símbolo seja o da solidariedade e da tolerância nesse processo.
Essa elaboração abrange, necessariamente, uma multiplicidade de atores
cuja contribuição tanto cultural quanto social, será de fundamental impor-
tância para a mudança da concepção, dos rumos e dos objetivos dos direi-
tos humanos.

2.3.5  Equidade

Equidade: é a diferença dentro da igualdade. Sem equidade não existe demo-


cracia. É a adaptação da regra aos critérios de igualdade e de justiça.
Todos são iguais em direitos. Exemplo: Direito de ir e vir, implica na ga
Mas...tratar a todos, sem considerar suas necessidades específicas, gera
a desigualdade.

2.3.6  Direitos humanos fundamentais

4ª 1ª
Dimensão Dimensão

3ª 2ª
Dimensão Dimensão

1ª Dimensão: as liberdades públicas e os direitos políticos são fruto do arbí-


trio governamental. (Estado Liberal-burguês) = LIBERDADE.
Ex.: liberdade de voto, de culto, de planejamento familiar.

capítulo 2 • 47
2ª. Dimensão: a fase ditada em face dos desníveis sociais, com os direitos
econômicos e sociais. (Estado do Bem-Estar Social) = IGUALDADE
Ex.: direito ao trabalho, à seguridade social (art. 5º, XIII e art. 6º CRFB/1988).

3ª Dimensão: a defesa dos interesses difusos, com os direitos de solidarie-


dade. (Pós-2ª. Guerra Mundial) = FRATERNIDADE.
Ex.: proteção ao patrimônio histórico e cultural do povo (art. 5º, inc. LXXIII
CRFB/1988); a defesa coletiva dos direitos do consumidor (art. 81, inc. III CDC);
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225 CRFB/1988); 4ª
DIMENSÃO: o direito a ser diferente (momento atual).
Ex.: recusar tratamento à saúde (art. 15 CC/2002); não discriminação ou di-
reito à diferença.

4ª. Dimensão: a quarta dimensão, para muitos autores, corresponde ao di-


reito à informação e ao acesso ao ciberespaço. Envolve o acesso gratuito e de
qualidade à internet e o acesso às novas tecnologias que transformam o mun-
do numa “aldeia global”. Por fim, não há democracia sem direitos, deveres
e justiça.
Também é oportuno lembrar que nem sempre o que é justo é de direito e
nem sempre o que é de direito está na lei.

2.4  Ecologia, uma rápida definição:


©© DANILO PRUDÊNCIO SILVA | WIKIMEDIA.ORG

É uma ciência (ramo da Biologia)


que estuda os seres vivos e suas intera-
ções com o meio ambiente onde vivem.

48 • capítulo 2
Se você perguntar ao leigo o que é Ecologia, o que ele provavelmente
responderá?
Ele lhe dirá, possivelmente, que a ecologia é estudar a natureza, não deixá-la
morrer, evitar a contaminação da água dos rios e dos mares, a poluição do ar,
as queimadas, etc.
Mas, a questão do meio ambiente e sua relação com os seres nele habitantes
também compõe uma área de atuação desta ciência, já que a Ecologia possui
princípios e preceitos, que vão muito além da degradação promovida pelo ser
humano no ambiente em que vive.

2.4.1  Educação Ambiental

"Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o


indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilida-
des, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,
bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustenta-
bilidade." (Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº 9795/1999, Art 1º.)

“A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade inten-


cional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um
caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, vi-
sando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena
de prática social e de ética ambiental.” (Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação Ambiental, Art. 2°.)

“A educação ambiental é a ação educativa permanente pela qual a comuni-


dade educativa tem a tomada de consciência de sua realidade global, do tipo de
relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas
derivados de ditas relações e suas causas profundas. Ela desenvolve, median-
te uma prática que vincula o educando com a comunidade, valores e atitudes
que promovem um comportamento dirigido a transformação superadora des-
sa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo
no educando as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação.”
(Conferência Sub-regional de Educação Ambiental para a Educação Secundária
– Chosica/Peru – 1976)

capítulo 2 • 49
2.4.2  Biodiversidade

A Biodiversidade é o estudo da variedade de espécies de organismos vivos


que podem ser encontrados nos diversos ecossistemas do nosso planeta.
A Biodiversidade está vinculada tanto à quantidade de diferentes categorias
biológicas que existem quanto à abundância atinente a essas categorias.

CURIOSIDADE
O termo Biodiversidade foi utilizado pela primeira vez em 1980 pelo biólogo Thomas Lovejoy,
considerado o pai da biodiversidade, e desde 1986 essa nomenclatura vem sendo emprega-
da no que se refere à diversidade da natureza viva.

O Brasil é o país que tem a maior biodiversidade de flora e fauna do planeta.


Essa enorme variedade de animais, plantas, microrganismos e ecossistemas,
muitos únicos em todo o mundo, deve-se, entre outros fatores, à extensão terri-
torial e aos diversos climas do país.
A biodiversidade é definida pela Convenção sobre a Diversidade Biológica
(1992) como “a variabilidade entre os seres vivos de todas as origens, a terres-
tre, a marinha e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos dos
quais fazem parte: isso inclui a diversidade no interior das espécies, entre as
espécies e entre espécies e ecossistemas”.

CURIOSIDADE
O Brasil possui o maior número de espécies conhecidas de mamíferos e de peixes de água
doce, o segundo de anfíbios, o terceiro de aves e o quinto de répteis.

•  Com mais de 50 mil espécies de árvores e arbustos, tem o primeiro lugar


em biodiversidade vegetal.
•  Nenhum outro país tem registrado tantas variedades de orquídeas e pal-
meiras catalogadas.

50 • capítulo 2
•  Os números impressionam, mas, segundo estimativas aceitas pelo
Ministério do Meio Ambiente o MMA, eles podem representar apenas 10% da
vida no país.
©© RENATO GAIGA | WIKIMEDIA.ORG

Perereca-das-folhagens - Phyllomedusa vaillantii - registrada no Parque Nacional Mapin-


guari. Mesmo sendo considerados animais de "sangue frio", os anfíbios também se expres-
sam muito bem e representam o Parna, sendo encontrados por todas as partes e em todos
os substratos da floresta. O animal aqui registrado está "fingindo de morto" para passar
despercebido.

Como várias regiões ainda são muito pouco estudadas pelos cientistas, os
números da biodiversidade brasileira tornam-se maiores na medida em que
aumenta o conhecimento.
É necessário consciência ecológica de preservação do planeta por parte de
todos os habitantes do planeta Terra.

2.4.3  Multiculturalismo

Vivemos atualmente o contexto do mundo globalizado, a era da informação.


Dentro desta realidade, tem-se que o mundo é multicultural.
O que, afinal, significa o vocábulo multiculturalismo?
•  O multiculturalismo ou pluralismo social é o termo usado para tratar uma
sociedade/localidade/país ou região onde podemos encontrar muitas culturas,
mas sem que nenhuma delas seja predominante.

capítulo 2 • 51
•  No que diz respeito às reivindicações e conquistas, o multiculturalismo/
pluralismo social representa uma bandeira de luta para as minorias (considera-
das não como quantidade de pessoas, mas como qualidade de reconhecimento
social), como o caso de negros, índios, homossexuais, mulheres, etc.
•  Assim, falar em multiculturalismo é reconhecer que existem as diferen-
ças, que há uma individualidade em cada ser humano e em cada grupo social.
Por isso, pode surgir certa confusão: se o nosso discurso é pela igualdade de
direitos, falar em respeito às diferenças parece uma contradição. Mas, queridos
alunos, não é bem assim.
•  A igualdade de que falamos é a denominada isonomia perante a lei, ou
seja, uma igualdade quanto à titularidade em relação aos direitos e deveres.
•  Por isso é que aquelas diferenças às quais o multiculturalismo se refere
são diferenças em relação aos valores culturais, morais, de costumes, etc., na
medida em que existem nesse mundo pessoas de raças, credos e valores dife-
rentes entre si.

Multiculturalismo latino-americano
Alejo Carpentier (1969): terceiro estilo
•  Contextos raciais: homens de uma mesma nacionalidade pertencentes às etnias
diferentes, diferentes culturas;
•  Contextos econômicos: instabilidade de uma economia sob interesses alheios;
•  Contextos crônicos: crenças e práticas antigas se incorporaram em práticas culturais
e religiosas;
•  Contextos de desajustamento cronológico: retardamento da chegada de bens inte-
lectuais, científicos ideias políticas, etc;
•  Contextos culturais: absorve teorias e práticas diferentes;
•  Contextos políticos: golpes militares, esquerda tardia e caduca.

2.4.4  Preconceito

O racismo pode ser conceituado como a convicção de que alguns indivíduos


e seus traços físicos hereditários e determinadas características de caráter e
mesmo de inteligência ou manifestações culturais, são consideradas como su-
periores a de outros indivíduos.

52 • capítulo 2
RACISMO

É importante demarcar que o racismo não é uma teoria científica, mas tão
somente um conjunto de opiniões pré-concebidas, cuja fundamental coloca-
ção é valorizar as diferenças biológicas entre determinados seres humanos, na
medida em que alguns creem ser superiores aos outros tendo em conta a sua
matriz racial.
Essa crença, equivocada na existência de raças superiores e inferiores, foi
empregada muitas vezes para justificar a escravidão, o domínio de determina-
dos povos por outros e os genocídios, que ocorreram durante toda a história da
humanidade .

Globalização
•  O fenômeno do multiculturalismo força as origens a se esconderem porque são con-
sideradas menores e vergonhosas diante do padrão imposto pela mídia, pelos ‘mais
evoluídos’.
•  Bolsões culturais, estratos semióticos são descaradamente negados em nome da
qualidade da Educação (cujo padrão foi forjado nas culturas ‘superiores’).

ATIVIDADE
Esta questão é do ENADE 2012. Vamos tentar resolver?

01. É ou não ético roubar um remédio cujo preço é inacessível, a fim de salvar alguém, que,
sem ele, morreria? Seria um erro pensar que, desde sempre, os homens têm as mesmas
respostas para questões desse tipo.
Com o passar do tempo, as sociedades mudam e também mudam os homens que as
compõem. Na Grécia Antiga, por exemplo, a existência de escravos era perfeitamente legíti-

capítulo 2 • 53
ma: as pessoas não eram consideradas iguais entre si, e o fato de umas não terem liberdade
era considerado normal. Hoje em dia, ainda que nem sempre respeitados, os Direitos Huma-
nos impedem que alguém ouse defender, explicitamente, a escravidão como algo legítimo.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fundamental. Ética. Brasília,
2012. Disponível em: <portal.mec.gov.br>. Acesso em: 16 jul. 2012 (adaptado).

Com relação à ética e cidadania, avalie as afirmações seguintes.


I. Toda pessoa tem direito ao respeito de seus semelhantes, a uma vida digna, a oportuni-
dades de realizar seus projetos, mesmo que esteja cumprindo pena de privação de liberdade,
por ter cometido delito criminal, com trâmite transitado e julgado.
II. Sem o estabelecimento de regras de conduta, não se constrói uma sociedade democrática,
pluralista por definição, e não se conta com referenciais para se instaurar a cidadania como valor.
III. Segundo o princípio da dignidade humana, que é contrário ao preconceito, toda e qual-
quer pessoa é digna e merecedora de respeito, não importando, portanto, sexo, idade, cultura,
raça, religião, classe social, grau de instrução e orientação sexual.

É correto o que se afirma em:


a) I, apenas. c) e II, apenas. e) I, II e III.
b) III, apenas. d) II e III, apenas.

REFLEXÃO
Neste primeiro capítulo, você conheceu:
•  O conceito de ética, cidadania e a relação entre cidadania e dignidade humana.
•  Foi apresentado aos conceitos de biodiversidade e sociodiversidade.
•  Pôde conhecer a questão das minorias e das desigualdades num mundo globalizado.
•  Conheceu as diversas dimensões dos direitos humanos.

Filmes recomendados:
1. À ESPERA DE UM MILAGRE. Direção de Frank Darabont. 2000. EUA. 188min. (Tema:
importante para reflexão sobre a pena de morte).

2. A HISTÓRIA DE RUBY BRIDGES. Direção de Euzhan Palcy. EUA. 96min. (Tema: a partir
da história da pequena Ruby Bridges, permite compreender a temática do racismo nos EUA
e as dificuldades para se efetivar a decisão da Suprema Corte no Caso Brown x Board of
Education of Topeka, que em 1954 superou a doutrina “separados mas iguais (separate but

54 • capítulo 2
equal)”, vigente nos Estados Unidos desde o final do século XIX, com a decisão no Caso
Plessy x Ferguson).
3. A MAIOR LUTA DE MUHAMMAD ALI. Direção de Stephen Frears. 2013. EUA. 97 mim.
(Tema: o filme mostra os bastidores da Suprema Corte dos Estados Unidos no julgamento da
condenação de Ali à prisão por se recusar a servir o exército para lutar no Vietnã depois de
se converter ao islamismo).

LEITURA
SHORAT, Ella e STAM, Robert. Crítica da imagem eurocêntrica: Multiculturalismo e repre-
sentação. Disponível em: <http://marcoaureliosc.com.br/cineantropo/shohat_stam.pdf>.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARPENTIER, Alejo. Conferencia Debate. In Conferencia. La Habana, Letras Cubanas,1969.
DALLARI. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.
WOLKMER, Antonio Carlos (Org.). Pluralismo Jurídico. Novos Caminhos da Contemporaneidade. 2.
ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

capítulo 2 • 55
56 • capítulo 2
3
Políticas Públicas:
educação,
habitação,
saneamento,
saúde, transporte,
segurança e defesa
3.  Políticas Públicas: educação, habitação,
saneamento, saúde, transporte, segurança e
defesa
No presente capítulo, vamos falar sobre políticas públicas e sua importância
para a concretização dos ideais de cidadania numa sociedade democrática.
Para tal, temos que, inicialmente, fixar o conceito sobre o que vem a ser essa
expressão “Políticas Públicas”.
Você terá a oportunidade de descobrir que as Políticas Públicas correspondem
ao conjunto de programas, atividades e ações realizadas pelo Estado, seja di-
retamente por meios de seus entes estatais públicos ou indiretamente, com a
participação de entes privados, que buscam assegurar algum dos direitos de
cidadania, de forma geral ou para um determinado setor da sociedade, em seus
aspectos cultural, étnico, social ou econômico.
As políticas públicas satisfazem os direitos constitucionalmente dispostos ou
aqueles que se afirmam como produto do reconhecimento, seja pela socieda-
de e/ou pelos poderes públicos como novos direitos conquistados pelas pes-
soas individualmente, seja pelas comunidades, ou em relação a bens materiais
ou imateriais.
As políticas públicas, que serão objeto de nossa breve análise nesse capítulo
são: educação, habitação, saneamento, saúde, transporte, segurança e defesa.

OBJETIVOS
•  Refletir sobre a importância das políticas públicas para a sociedade em geral;
•  Identificar os aspectos fundamentais dos múltiplos aspectos que envolvem o desenvolvi-
mento de políticas públicas efetivas;
•  Compreender a importância do terceiro setor para a realização das políticas públicas;
•  Perceber em que medida as questões ligadas às políticas públicas refletem no desenvol-
vimento nacional.

58 • capítulo 3
3.1  Vamos falar de políticas públicas

Começamos o presente capítulo explicando a você o que são as políticas pú-


blicas e como podem ser desenvolvidas tanto pelo Estado e seus entes, como
pela iniciativa privada, que se organiza para promovê-las. Sabemos, então, que
as políticas públicas configuram-se como diretrizes, princípios norteadores de
ação do poder público que se oferece por intermédio dos programas, ações e
atividades promovidas pelo Estado diretamente ou não, utilizando-se da par-
ticipação de entes públicos ou privados, no sentido da garantia de um direito
de cidadania.

3.1.1  Como são concebidas as políticas públicas

Via de regra, as políticas públicas costumam ser estabelecidas principalmente


por iniciativa de um dos poderes do Estado: executivo ou legislativo, de manei-
ra isolada ou conjunta, tomando como ponto de partida as reivindicações e pro-
postas provenientes da sociedade, em seus diversos seguimentos organizados.
Importante apontar que esse protagonismo da sociedade na concepção,
construção, acompanhamento e estimativa das políticas públicas em alguns
casos está previsto na própria lei que as estabelece. É o que podemos ver no
caso da Educação e da Saúde, em que a própria legislação garante que a socie-
dade participe através do estabelecimento dos Conselhos nos diversos níveis:
nacional, estadual e municipal. O instrumento legal previsto para a materia-
lização dessa participação está configurado pelas audiências públicas, encon-
tros e conferências setoriais que vêm se afirmando paulatinamente como for-
ma de garantir o comprometimento dos diversos segmentos da sociedade num
processo em que importa não somente a participação, mas principalmente o
controle por parte da sociedade.
Exemplos de políticas públicas:
•  As políticas públicas de educação e saúde.
•  A Política Nacional do Meio Ambiente, instituída pela Lei Federal n.º
6.938.
•  A Política Nacional de Recursos Hídricos mediante a Lei Federal nº 9.433.

No que diz respeito à participação da sociedade, a Lei Complementar


n.º 131, de 27 de maio de 2009, também conhecida como a Lei da Transparência,
assim dispõe:

capítulo 3 • 59
I. Incentivo à participação popular e realização de audiências públicas, durante os
processos de elaboração e discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e orça-
mentos;
II. Liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo
real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em
meios eletrônicos de acesso público;

Do texto dessa lei, podemos concluir que todos os poderes públicos, em ter-
mos de administração pública, municipal, estadual ou federal, estão obrigados
a garantir uma necessária participação popular. Isso significa que a participa-
ção popular, no tocante às políticas públicas com previsão legal, não se trata de
mero capricho dos administradores ou governantes, mas um dever do Estado e,
portanto, um direito de todos nós, da população.

3.1.2  Como e por que são alteradas as políticas públicas

Depende do grau de empoderamento (capacitação para a cidadania plena)


da sociedade e do nível de organização social dos atores sociais interessados,
que podem ser os trabalhadores de determinado setor (indústria, comércio ou
setor rural), moradores urbanos ou rurais, jovens estudantes, etc.
©© WIKIMEDIA.ORG

Nessa foto, podemos ver trabalhadoras rurais que realizam a Marcha das Margaridas em
protesto por mais educação, mais políticas públicas para o campo e em prol do direito das
mulheres. A manifestação ocorre de quatro em quatro anos.

60 • capítulo 3
Em resumo, as chamadas políticas públicas foram concebidas para ser as
ações de governo nas áreas de educação, habitação, saúde, segurança, meio
ambiente e distribuição de renda, atingindo diretamente a vida de um conjun-
to de cidadãos que dependem de tais políticas para sua sobrevivência, para a
garantia de sua dignidade e cidadania e para a garantia dos direitos sociais.

CURIOSIDADE
A nossa primeira Constituição da República, de 1891, nada dispunha sobre a obrigatorieda-
de do Estado em promover o ensino público (educação) e socorros públicos (saúde), mas
exigia que eleitores e candidatos a cargos políticos fossem alfabetizados.
Está aí a razão pela qual durante muito tempo o Brasil foi o recordista mundial
em analfabetismo!

3.1.3  Políticas públicas educacionais no Brasil

Segundo Santos (2012), “Compreender o sentido que as atuais políticas públi-


cas educacionais assumem na relação entre Estado e sociedade, implica o res-
gate histórico acerca da própria formaçãosocial brasileira e da influência que
exerce sobre as políticas educacionais de cada época”.
Razão pela qual necessário se revela realizar uma análise histórica, ainda
que breve, acerca do papel social devido à educação nos diversos períodos da
história do Brasil, para que se possa apontar alguns dos conflitos e contradições
que efetivamente marcaram a organização do sistema educacional brasileiro,
bem como, as idas e vindas das políticas educacionais brasileiras em diferentes
períodos históricos, sempre articulada com os modelos sociais dominantes:
a) Período Colonial – desnecessária a formação educacional da mão de
obra, na medida em que a base da economia era agrícola e escravista. Educação
restrita à classe dominante.
b) Período Imperial – não há mudanças nessa relação existente na Colônia.
A ressaltar-se a criação das escolas militares e de ensino superior (primeiras
Faculdades de Direito são criadas em 1827, em São Paulo e depois em Recife),
voltadas para formar os futuros quadros políticos e administrativos.
c) República Velha – acesso à educação restrito à elite e sem previsão
constitucional como um direito fundamental. Ensino de caráter classista e
acadêmico. A denominada república dos “bacharéis”. Há a predominância do

capítulo 3 • 61
ensino superior. Com a chegada dos imigrantes, começam as manifestações
pela universalização da educação.
d) Era Vargas – as transformações políticas, sociais e econômicas ocorri-
das a partir da Revolução de 1930, que colocou Getúlio Vargas no poder, tive-
ram importância fundamental para a reorganização do sistema educacional
brasileiro. A Constituição de 1934 consagra o direito à educação como um de-
ver do Estado e prevê a produção de um Plano Nacional de Educação.
e) Segunda Guerra Mundial – criação da Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO): democratização do acesso
à educação.
f) Anos 60 – surgem os movimentos de Educação Popular. É lançada a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961, e cursos profissionalizan-
tes de nível médio. (XAVIER; RIBEIRO; NORONHA, 1994).
g) Ditadura militar (1964-1984) – reformas no sistema educacional por
exigência dos organismos internacionais. Xavier; Ribeiro; Noronha, (1994),
considera que tais reformas legitimam o modelo de desenvolvimento desigual
e injusto consagrado na sociedade brasileira. Caráter profissionalizante.
h) Constituição de 1988 – contemplou diversas das reivindicações da so-
ciedade civil e, em termos de política educacional da educação, já se aponta-
va para a necessidade de uma nova lei de Diretrizes e Bases para a educação
Nacional e volta-se para uma educação em consonância com a justiça social,
ampliando o acesso à educação básica. (XAVIER; RIBEIRO; NORONHA, 1994).

Nos dias de hoje, diversas políticas públicas voltadas para a educação são
fundamentais para a democratização do ensino, seja ele básico ou superior.
São bons exemplos os seguintes programas:
– FIES - O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) é um programa do
Ministério da Educação (MEC) que se destina à concessão de financiamento
para os estudantes que estejam regularmente matriculados em cursos superio-
res presenciais de Instituições de Ensino Superior – IES privadas. Ou seja, pos-
sibilita a quem não tem condições de pagar as mensalidades, estudar em uma
faculdade privada.
– PROUNI - O Programa Universidade para Todos (Prouni) do Ministério da
Educação - MEC, foi criado pelo governo federal em 2004. Consiste no ofereci-
mento de bolsas de estudos, integrais e parciais (50%), em instituições particu-
lares de educação superior para estudante das classes economicamente desfa-
vorecidas, democratizando o acesso à educação superior.

62 • capítulo 3
– Lei de Cotas para o Ensino Superior - A Lei nº 12.711/2012 reserva 50% (cin-
quenta por cento) das matrículas por curso e turno nas universidades federais e
nos institutos federais de educação, ciência e tecnologia a alunos oriundos in-
tegralmente do ensino médio público, em cursos regulares ou da educação de
jovens e adultos. Os demais 50% (cinquenta por cento) das vagas permanecem
para ampla concorrência. As vagas reservadas às cotas (50% do total de vagas
da instituição) serão subdivididas: metade para estudantes de escolas públicas
com renda familiar bruta igual ou inferior a um salário mínimo e meio per ca-
pita e metade para estudantes de escolas públicas com renda familiar superior
a um salário mínimo e meio. Em ambos os casos, também será levado em conta
o percentual mínimo correspondente ao da soma de pretos, pardos e indígenas
no estado, de acordo com o último censo demográfico do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). (Texto retirado do site: <http://portal.mec.gov.
br/cotas/perguntas-frequentes.html>. Acesso em 13 jun 2016)

3.1.4  A necessidade de uma política urbana de habitação

O texto abaixo foi retirado do Caderno n.4, de novembro de 2004, publicado


pelo Ministério das Cidades, que trata da política nacional de habitação no
Brasil, e traz para nós uma série de informações importantes sobre a situação
habitacional em nosso país nos últimos tempos, a partir dos dados obtidos na
Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), 1999:
“No Brasil, milhões de famílias estão excluídas do acesso à moradia digna.
A necessidade quantitativa corresponde a 7,2 milhões de novas moradias, das
quais 5,5 milhões nas áreas urbanas e 1,7 milhões nas áreas rurais. A maior par-
cela da necessidade habitacional concentra-se nos estados do Sudeste (39,5%)
e do Nordeste (32,4%), regiões que agregam a maioria da população urbana
do país.
•  As necessidades habitacionais, quantitativas e qualitativas, concentram-
se cada vez mais nas áreas urbanas e nas faixas mais baixas de renda da po-
pulação e estão localizadas, principalmente, nas Regiões Metropolitanas. Em
2000, 88,2% do déficit habitacional urbano do país correspondiam a famílias
com renda de até cinco salários mínimos;
•  O déficit quantitativo tem se ampliado nas faixas de renda de até 2 (dois)
salários mínimos, fenômeno que se verifica em todas as regiões do país, prin-
cipalmente nas metropolitanas, e representa cerca de 4,2 milhões demoradias.

capítulo 3 • 63
Ao mesmo tempo, observa-se uma certa retração nas faixas acima de 5 (cinco)
salários mínimos, cujo déficit correspondia a 15,7% do total em 1991 e em
2000, passa para 11,8%;
•  A qualidade do estoque existente é outro problema a ser enfrentado. É
expressivo o número de unidades habitacionais urbanas com algum tipo de
carência de padrão construtivo, situação fundiária, acesso aos serviços e equi-
pamentos urbanos, entre outros, o que revela a escassa articulação dos progra-
mas habitacionais com a política de desenvolvimento urbano, como a política
fundiária, a de infra-estrutura urbana e saneamento ambiental;
•  A ausência de infra-estrutura urbana e saneamento ambiental é o maior
problema e envolve 10,2 milhões de moradias, ou seja, 32,1% do total de domi-
cílios urbanos duráveis do país têm pelo menos uma carência de infra-estru-
tura (água, esgoto, coleta de lixo e energia elétrica), sendo 60,3% nas faixas de
renda de até 3 salários mínimos. Na região Nordeste, existe mais de 4,4 milhões
de moradias com esse tipo de deficiência, o que representa cerca de 36,6% do
total do Brasil;
•  No Brasil, quase a metade da população (83 milhões de pessoas) não é
atendida por sistemas de esgotos; 45 milhões de cidadãos carecem de serviços
de água potável. Nas áreas rurais, mais de 80% das moradias não são servidas
por redes gerais de abastecimento de água e quase 60% dos esgotos de todo o
país são lançados, sem tratamento, diretamente nos mananciais de água.
Esse conjunto de deficiências está presente nos bolsões de pobreza das
grandes cidades, especialmente nas regiões Norte e Nordeste;
•  O serviço de coleta de lixo não atende a 16 milhões de brasileiros. Nos
municípios de grande e médio porte, o sistema convencional de coleta poderia
atingir toda a produção diária de resíduos sólidos, contudo não atende adequa-
damente aos moradores das favelas, das ocupações e dos loteamentos popula-
res, devido à precariedade da infra-estrutura viária naquelas localidades;
•  O adensamento excessivo (mais de três pessoas por cômodo) está presen-
te em mais de 2,8 milhões de domicílios urbanos, e é fortemente concentrado
na Região Sudeste, que agrega 52,9% dos domicílios com esse tipo de inadequa-
ção, grande parte dele no estado de São Paulo, com 31,7% (900.686) do total e
com 23,6% (670.686) em suas três Regiões Metropolitanas;
•  Estima-se que 836.669 unidades apresentam condições inadequadas de
moradia em virtude da depreciação. Trata-se de um problema habitacional e
urbano recente e que deverá se agravar nos próximos anos, pois grande parte
do estoque de domicílios urbanos foi construída a partir da década de 60. As

64 • capítulo 3
regiões Sudeste e Nordeste concentram a maioria dos domicílios depreciados,
respectivamente 505.510 e 221.782 unidades, ou seja, 86,5% do total;
•  As necessidades qualitativas se diferenciam entre as regiões do País. No
Norte, Nordeste e Centro Oeste, mais de 50% dos domicílios urbanos perma-
nentes têm algum tipo de carência de infra-estrutura urbana e saneamento am-
biental, porcentagem que diminui para 15% no Sudeste, onde o adensamento
excessivo e a depreciação são expressivos”. (Caderno n.4. MCidades/ Brasil,
2004, p.p. 17-18).

3.1.5  Políticas públicas voltadas para a saúde

O Brasil, à semelhança de outros países como Inglaterra, Chile e Cuba, con-


quistou um sistema de saúde universal, ou seja, que procura atender a todos os
cidadãos; no entanto, a saúde de boa qualidade deve ser implementada através
de políticas públicas bem fundamentadas e pensadas para o modelo da cultu-
ra brasileira e por gestores competentes que saibam aplicar, da maneira mais
acertada, os recursos disponíveis.
Reconhecemos que as condições de efetivação de um direito universal à
saúde não são apenas jurídicas – são ao mesmo tempo sociais e políticas, em
seus múltiplos sentidos; discuti-las significa abordar uma série de ações em-
preendidas na perspectiva de tornarem cada vez mais efetivo um direito fun-
damental especialmente complexo. Questão que tem alcançado notável densi-
dade na conjuntura brasileira atual, haja vista os problemas intrincados que se
relacionam com a gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), o qual queiram ou
não os seus críticos mais veementes (ou até mesmo os seus detratores), consti-
tui uma conquista inegável da democracia brasileira.
A definição de saúde sustentada pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a
ausência de afecções ou de doenças, acena para um avanço nada desprezível:
em nossa época, conquanto se viva numa sociedade de risco global, o direito à
saúde conta com um desenvolvimento normativo, doutrinário e jurispruden-
cial capaz de contemplar um enfoque integral (ou unitarista) da saúde. Neste,
o desfrute do máximo nível possível de saúde está determinado não somente
pela condição de saúde física e mental da pessoa, mas também pelos fatores
socioeconômicos determinantes do meio ambiente, tais como acesso à água
limpa e potável e condições sanitárias básicas, condições ambientais apropria-
das, alimentação e nutrição, moradia e, ainda, condições de trabalho seguras.

capítulo 3 • 65
A perspectiva de compreensão teórica da efetividade do direito à saúde,
enquanto direito fundamental, assimila alguns pontos de vista ou “teses” que
gozam, na atualidade, de extenso respaldo doutrinário. Dentre esses, vale lem-
brar a defesa incondicional dos direitos fundamentais, assumida mesmo dian-
te da identificação da crise do Estado Social, há tanto tempo elucidada pelo
Professor Boaventura de Sousa Santos (2008).

3.1.5.1  O impasse no acesso igualitário à saúde no Brasil

Importante defender a aplicabilidade imediata da norma constitucional relati-


va ao direito universal à saúde. Todavia, temos sempre em vista a problemática
da gestão do setor da saúde e, por extensão, do SUS e do seu agravamento nos
últimos vinte anos - portanto, já em uma conjuntura histórico-jurídica afeta-
da pelas políticas de cunho neoliberal. A adoção do programa “Mais Médicos”
pelo Governo Federal, no Brasil, verificada em 2013, se insere nesse quadro
onde foi possível assimilar o impasse no acesso igualitário à saúde, a contrastar
com o vigor dos dispositivos constitucionais que tratam de tal direito em sua ar-
ticulação essencial com o princípio da dignidade da pessoa humana, pensado
como o pilar axiológico do Estado Democrático de Direito. Têm ocorrido pro-
nunciamentos importantes — em defesa desse direito e contra as posições res-
tritivas ou omissivas sustentadas pela Administração — por parte dos nossos
tribunais superiores e, em especial, do Supremo Tribunal Federal. No entanto,
ainda nos falta uma mais vigorosa jurisdição constitucional no sentido preciso
de promover a concretização de direitos (sobretudo os fundamentais) por seu
caráter marcadamente finalístico.
É necessário procurar ultrapassar (em sua dupla acepção de “passar por” e
“transcender”) a chamada teoria liberal dos direitos fundamentais e assumir
o desafio de proceder à desconstrução dos argumentos defendidos, na seara
judicial, pelo Poder Público, sobretudo com o fito de negar o fornecimento de
um dado serviço de saúde e eventualmente de medicamentos. Eles podem ser
assim sintetizados:
a) que o art. 196 da nossa Carta Magna, que assegura a todos o direito à
saúde, neste reconhecendo um dever indeclinável do Estado, não tem o alcance
nem a dimensão valorativa que lhe vêm sendo atribuídos pelo Judiciário, sob a
alegação de que se trata de norma constitucional de eficácia contida ou limita-
da – ponto de vista amplamente derrotado pelos novos conceitos de efetivida-
de, Direitos Fundamentais e outros;

66 • capítulo 3
b) que a Constituição Federal tem como princípio norteador básico a re-
serva do possível, o que significa admitir que os direitos ditos sociais só podem
ser respeitados quando houver recursos financeiros públicos suficientes para
tanto;
c) que o Poder Judiciário não tem competência para decidir sobre a aloca-
ção e destinação de recursos públicos.
Essas alegações da Administração devem ser resultadas em defesa da vin-
culação normativo-constitucional própria aos direitos fundamentais do porte
do direito à saúde — isso se sustenta num quadro histórico-político em que as
principais críticas construídas contra o sistema de direitos fundamentais ga-
rantidos por nossa Constituição cidadã se relacionam aos direitos ditos sociais,
entre os quais se costuma ainda alinhar erroneamente o direito à saúde, que
transitou para o patamar de um direito universal, individual, fortemente sub-
jetivo — e é assim que este se converte em objeto de ação no âmbito judicial.

3.1.6  Políticas públicas para o transporte

Em julho de 2003, Alexandre de Ávila Gomide, publicou o texto intitulado:


“Transporte urbano e inclusão social: elementos para políticas públicas”, do
qual trazemos um trecho que se revela muito atual, senão vejamos:
“Segundo Kranton (1991), o transporte pode influenciar as decisões de mo-
radia dos mais pobres. Para o autor, o transporte é uma das variáveis-chave na
escolha do local de residência. Os mais ricos podem adaptar seus meios de
transporte em função da localização de suas residências e do trabalho – nes-
se sentido, o automóvel é o meio de transporte preferido das classes de renda
mais alta pela flexibilidade que proporciona.
Para os pobres, isso não acontece. Estando a escolha do local de trabalho
fora de seu alcance (em razão das baixas oportunidades de empregos e dos al-
tos custos com deslocamentos), os pobres acabam optando por morar próximo
do local do trabalho, minimizando, assim, seus gastos. Os que não conseguem
habitação nos espaços regulares vão para as favelas e cortiços localizados nas
áreas centrais. Quando não acham espaço nesses lugares, vão para a periferia.
Morais, Cruz e Oliveira (2002) testaram algumas hipóteses sobre o conjun-
to de variáveis que explicariam o surgimento de favelas, a partir de dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) do IBGE de 1999 para as
dez áreas metropolitanas brasileiras. Entre os resultados encontrados, o mode-
lo testado corroborou os estudos que afirmam que as favelas centrais surgem

capítulo 3 • 67
em razão da necessidade de a população de baixa renda morar próximo do seu
local de trabalho.
Os custos de transporte também limitam o acesso às oportunidades de tra-
balho, pois procurar emprego inclui despesas com tarifas de transporte públi-
co, chegando a ser proibitivo para determinadas parcelas da população. Nesse
sentido, os pobres das periferias levam desvantagem em relação aos moradores
das áreas centrais. Tendo em vista que no mundo da informalidade as relações
de trabalho são inconstantes e se dão numa base diária, morar longe do traba-
lho significa alto gasto e menos renda disponível para atender outras necessi-
dades básicas. Muitas pessoas também vêem limitadas suas oportunidades de
trabalho se tiverem de pagar mais de duas tarifas por dia.
Reportagem especial da Revista Istoé, de 20/11/2002, mostrou que, de cada
quatro moradores que dormem nas ruas e praças do Rio de Janeiro, um tem casa
ou lugar para dormir, conforme informações da Secretaria de Desenvolvimento
Social da Prefeitura do Rio de Janeiro. Em virtude dos baixos rendimentos, se
voltassem para casa todos os dias, de ônibus ou trem, teriam de usar o dinheiro
guardado para a comida.
A maioria exerce atividades no mercado informal. São os chamados “desa-
brigados com teto”, trabalhadores sem o direito de ir e vir por falta de dinheiro
para pagar o transporte.
Reportagem do jornal Correio Braziliense, de 15/3/2003, mostra também
como vários trabalhadores estão abrindo mão do descanso para reduzir gastos
com transporte.
Um servente de pedreiro, por exemplo, dorme no local de trabalho durante
a semana, já que se voltasse para casa diariamente gastaria R$ 8,20/dia com o
ônibus. Como trabalha cinco dias na semana, seriam R$ 164,00 por mês: meta-
de de seu salário de R$ 330,00. Ressalte-se que, por não possuir carteira assina-
da, esse trabalhador não tem direito ao vale-transporte.
Essas são importantes manifestações de exclusão social que vêm aconte-
cendo nas grandes metrópoles atualmente, causadas, sobretudo, pela privação
do acesso aos serviços públicos de transporte coletivo pelas populações mais
pobres”. (GOMIDE, 2003, p. 16).

3.1.7  Políticas públicas de segurança

No Fórum Brasileiro de Segurança Pública, edição de 2011, Souza afirmou que


“os problemas da segurança pública brasileira são reflexos de um legado polí-

68 • capítulo 3
tico autoritário: uma engenharia político-institucional que conecta os dilemas
da violência urbana atual ao passado da violência rural. As bases do sistema
público de segurança (ainda) estão assentadas numa estrutura social historica-
mente conivente com a violência privada, a desigualdade social, econômica e
jurídica e os “déficits de cidadania” de grande parte da população”.
Por isso, construir uma política de segurança pública que não leve em conta
os aspectos relativos à profunda desigualdade social que ainda existe em nosso
país, que não contemple uma perspectiva de superação do abismo econômico
que separa as classes sociais e as dificuldades objetivas de acesso à justiça por
significativas parcelas de nossa população e que importam em exclusão da ci-
dadania, ficará muito difícil superar ou diminuir os índices da violência, seja
ela no âmbito urbano ou rural.

ATIVIDADES
Esta questão é do ENADE 2004. Vamos tentar resolver?

01. Embora a expectativa de vida da população brasileira venha aumentando nas últimas dé-
cadas, preocupam as autoridades sanitárias os níveis elevados de mortalidade da população
jovem, especialmente na faixa etária entre 15 e 29 anos, nos grandes e médios centros ur-
banos. As ações de maior impacto potencial para a diminuição da mortalidade da população
adulta jovem brasileira devem estar centradas em:
a) prevenção da AIDS.
b) prevenção das mortes violentas e por acidentes.
c) melhoria das condições sanitárias.
d) elevação da renda per capita da população.
e) combate à fome.

REFLEXÃO
Neste primeiro, capítulo você conheceu:
•  O conceito de políticas públicas e sua relação com o Estado e o setor privado;
•  Conheceu a gênese histórica das políticas públicas voltadas para a educação no Brasil;
•  Pôde conhecer a questão das políticas de habitação e suas carências.
•  Conheceu os pressupostos sociais necessários para uma eficiente política de seguran-
ça pública.

capítulo 3 • 69
Filmes recomendados:
a) A Educação Proibida - Gravado em oito países da América Latina, o documentário pro-
blematiza a escola moderna e apresenta alternativas educacionais em mais de 90 entrevistas
com educadores. O filme é independente e foi financiado de forma coletiva. Disponível em:
<https://youtu.be/-t60Gc00Bt8>.
b) Cidade de Deus - Cidade de Deus marcou época na história do cinema brasileiro. Agora,
você poderá conferir a história do conjunto habitacional Cidade de Deus, criado pelo governo
do Rio de Janeiro em meados dos anos 60 e que se tornou um dos maiores pólos do controle
do tráfico na região. Dadinho e Buscapé tinham mais ou menos a mesma idade quando se
mudaram para a Cidade de Deus. Dadinho, com instinto assassino e sede de poder, muda de
apelido para Zé Pequeno e se transforma no traficante mais temido da favela nos anos 70.
Enquanto isso, Buscapé tenta levar uma vida honesta, trabalhando como caixa de supermer-
cado. Disponível em: <http://www.filmesonlinegratis.net/assistir-cidade-de-deus.html>.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DALLARI. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.
GOMIDE, Alexandre de Ávila. Transporte urbano e inclusão social: elementos para políticas públicas, in
Texto Para Discussão No. 960, IPEA, 2003.
SANTOS, Magda. A abordagem das políticas públicas educacionais para além darelação estado e
sociedade, in IX ANPED Sul, 2012.

70 • capítulo 3
4
Temas transversais:
relações de
trabalho e
de gênero,
responsabilidade
social
4.  Temas transversais: relações de trabalho e
de gênero, responsabilidade social

No presente capítulo, vamos falar sobre alguns temas transversais de rele-


vância nas sociedades contemporâneas e que fazem parte das pautas de reivin-
dicações das principais sociedades, a saber, as relações de trabalho e de gênero,
bem como alguns aspectos relativos à responsabilidade social.
Vamos começar falando sobre a questão das relações laborais (de trabalho)
e sobre a importância da existência de uma legislação trabalhista em nosso
país, que assegura um equilíbrio entre as partes envolvidas, trabalhadores e
patrões e como tal equilíbrio se revela instável diante das situações objetivas
de desrespeito da legislação e de transformação dessas relações com o advento
do fenômeno do neoliberalismo que trouxe em seu bojo questões como a ter-
ceirização e a quarteirização das relações trabalhistas, num cenário objetivo de
precarização dos direitos laborais.
Também iremos tratar de um assunto de relevante significado para a atua-
lidade, pois que se refere, no caso particular do Brasil, à maioria de sua popula-
ção, na medida em que há mais mulheres que homens na composição de nossa
população. As questões de gênero ultrapassam as barreiras da raça, da condi-
ção social e da religião. A violência contra meninas e mulheres, infelizmente,
faz parte do cenário cotidiano de nossas cidades e é página constante dos noti-
ciários, mormente no que diz respeito à denominada “cultura do estupro”, da
qual somos referência infeliz em termos mundiais.
Por fim, abordaremos a necessidade da ênfase em políticas voltadas para
a responsabilidade social, que diz respeito não somente à pessoa humana,
mas às suas relações intersubjetivas, e, não menos importante, à sua relação
com o entorno natural que nos cerca (o meio ambiente e os demais seres que
nele habitam).

OBJETIVOS
•  Refletir sobre a importância das relações trabalhistas no contexto da socieda-
de contemporânea;
•  Identificar os múltiplos aspectos fundamentais que envolvem as questões de gênero e a
importância histórica do movimento feminista;

72 • capítulo 4
•  Compreender a importância da discussão sobre os conflitos sociais, econômicos e cultu-
rais decorrentes e afirmação dos direitos sexuais;
•  Perceber em que medida a responsabilidade social se apresenta no cenário atual como
ponto elementar das pautas do cenário da globalização neoliberal.

4.1  Vamos falar sobre o trabalho e os direitos trabalhistas

Refletir sobre a evolução das relações de trabalho ao longo da história exi-


ge contemplar o trinômio inseparável: homem, sociedade e poder, vez que não
há sociedade sem poder, nem poder sem sociedade, sendo certo que, desde os
primórdios, a sociedade era submetida a um poder que, com o tempo, sofreu
adaptações em relação dialética com a evolução social.
Grandes civilizações foram construídas e destruídas sob esse modo de ex-
ploração do trabalho. As pirâmides do Egito, o Império Romano, entre outras
realizações das civilizações da Antiguidade apoiaram-se em base escravocrata,
sem olvidar as colônias de exploração na América, África e Ásia, na era das gran-
des conquistas europeias.
Começamos, porém, falando sobre o direito trabalhista no Brasil, a partir
das distintas influências por este recebido ao longo do tempo.
©© WIKIMEDIA.ORG

Loja de Sapateiro Aquarela Jacby Jean-Baptiste Debret 1820-1830

capítulo 4 • 73
Superada a fase em que o trabalho braçal era delegado aos escravos, no
Brasil Colônia e Império, temos vivido uma sequência de avanços e de retroces-
sos nesse campo, em muito decorrentes das influências recebidas ao longo de
nossa história.

4.1.1  Influências externas

a) As transformações que ocorriam na Europa e a crescente elaboração le-


gislativa de proteção ao trabalhador em muitos países.
b) O compromisso internacional assumido pelo país ao ingressar na
Organização Internacional do Trabalho, criada pelo Tratado de Versalhes
(1919), propondo-se a observar normas trabalhistas.
c) A Carta del Lavoro, de Benito Mussolini, na Itália, legislação trabalhista
italiana do período fascista.
©© VICSINCKET | WIKIMEDIA.ORG

I
O T

Insignia da Organização Internacional do Trabalho.

4.1.2  Influências Internas

a) A Constituição de 1824, seguindo o liberalismo, aboliu as corporações


de ofício (art. 179, n. 25), devendo haver liberdade de exercício de profissões.
b) O movimento operário, do qual participaram imigrantes anarquistas,
demarcados por inúmeras greves em fins de 1800 e início de 1900.

74 • capítulo 4
c) O surto industrial, efeito da Primeira Grande Guerra Mundial, com a
elevação do número de fábricas e de operários – em 1919 havia cerca de 12.000
fábricas e 300.000 operários.

©© ROYAL NAVY OFFICIAL PHOTOGRAPHER | WIKIMEDIA.ORG

d) A primeira Constituição brasileira a ter normas específicas de Direito


do Trabalho foi a de 1934, com garantia a liberdade sindical, isonomia salarial,
salário mínimo, jornada de oito horas de trabalho, proteção do trabalho das
mulheres e menores, repouso semanal, férias anuais remuneradas.
e) A criação da Justiça do Trabalho, no governo de Getúlio Vargas, encar-
regada de julgar e conciliar os dissídios surgidos, individual ou coletivamente,
entre empregados e empregadores, bem como quaisquer controvérsias surgi-
das no âmbito das relações de trabalho.
©© PIXABAY.COM

capítulo 4 • 75
f) A existência de diversas leis esparsas sobre Direito do Trabalho levou
à necessidade de sua sistematização, por meio da Consolidação das Leis do
Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-lei 5.452, de 1º de maio de 1943.
g) A Constituição de 1946 reestabeleceu o direito de greve, rompendo, de
certa forma, com o corporativismo da Carta de 1937, passando a trazer elen-
co de direitos trabalhistas superior àquele das Constituições anteriores. Nesta
Constituição, (1946) encontramos a participação dos empregados nos lucros,
repouso semanal remunerado, estabilidade, etc.
h) A Constituição de 1988 igualou os direitos trabalhistas dos trabalhado-
res urbanos aos trabalhadores rurais.

4.1.3  A situação dos direitos dos trabalhadores

A evolução dos direitos dos trabalhadores é resultado de conquista histórica


dos movimentos sociais, em busca de reconhecimento dos direitos fundamen-
tais. Em contrapartida, de longa data, verificamos que o modo de produção
capitalista, determinante para as relações laborais, tem conseguido manter-se,
muito devido ao considerável crescimento científico e tecnológico.
Na prática, há uma crescente revitalização nas relações de trabalho, que se
manifesta pela emergência de uma sociedade globalizada, em que predomi-
nam empresas multinacionais, conectadas em rede, algumas fortalecidas por
processos de fusão, incorporação e similares, cuja gestão favorece a racionali-
zação do processo produtivo, em sua expressão mais consentânea com o revigo-
rado ideário do liberalismo, hoje exposto sob uma nova roupagem.
Em síntese, verificamos que, apesar de o capitalismo apresentar-se sob
uma nova feição – hoje temos jornada de trabalho, direitos e garantias para os
trabalhadores que outrora inexistiam – cujo discurso ideológico em sua “face
humanizada” promove inclusive a substituição de expressões, tais como: em
vez de trabalhador o “politicamente correto” é colaborador, parceiro, além das
técnicas gerenciais e midiáticas de manipulação do pensamento e da consciên-
cia, preserva antigos ideais, como o incremento dos resultados da produção e
consequente acumulação em favor do capital, em paralelo à redução de custos,
ou seja, no fundo permanece intacta a velha fórmula do “ lucro pelo lucro”.
Nesse intuito, também merecem referência novos mecanismos opera-
cionais, como a terceirização da produção e os aludidos processos de fusões,
incorporações, que mal conseguem disfarçar a tendência ao monopólio e a

76 • capítulo 4
desenfreada competição, apoiada na máxima de que os fins justificam os meios,
tendo como consequência o desemprego e a extinção de postos de trabalho.
Como consequência, essa nova vertente do capitalismo se projeta nos di-
reitos dos trabalhadores. A esse respeito, vale sublinharmos que, não obstante
avanços conquistados pelos trabalhadores quanto à consagração de seus direi-
tos em termos dos constitucionais, infraconstitucionais e em relevantes docu-
mentos internacionais, o segmento defronta-se com graves dificuldades, entre
as quais situam-se as seguintes:
a) precariedade das condições de trabalho;
b) insegurança quanto à estabilidade no emprego;
c) acirramento de conflitos vinculados às relações de poder no cotidiano
do trabalho, expressos em afronta à dignidade humana, como assédio moral
no trabalho;
d) alienação do trabalhador na participação dos resultados do processo
produtivo e;
e) fragilidade do movimento sindical.
Ainda entre os indicadores objetivos dessa problemática, convém chamar
atenção ao agravamento do desemprego e da extinção de postos de trabalho, do
trabalho informal, em suas várias dimensões, os quais atingiram abrangência
tão significativa, a ponto de alcançar inclusive e gravemente países desenvolvi-
dos da Comunidade Europeia, Estados Unidos e, como historicamente verifica-
do, na América Latina.

4.1.4  A Globalização e seus reflexos nas relações de trabalho subordinadas

O cenário de mudanças dos modelos sociais existentes (paradigmas), sobretu-


do a partir do final do século XX, com reflexos econômicos, sociais, políticos,
culturais, tecnológicos, que culminou com a criação da Organização Mundial
do Comércio (OMC), foi designado como globalização.
Embora não haja consenso acerca do significado preciso do termo, é certo
que sua conotação resultou da expansão da ideologia do liberalismo e da con-
sequente necessidade de abertura de mercados entre os países.
Sem sombra de dúvidas, a globalização é um tema recorrente na atualida-
de, uma expressão da moda, e que, independente de como a consideremos em
seus aspectos como bons ou ruins, diz respeito a um processo que está se re-
velando irreversível e que a todos afeta. Trata-se objetivamente de fenômeno

capítulo 4 • 77
tipicamente capitalista, fruto de diversos fatores sociais, como as colonizações,
a Revolução Industrial, as Guerras Mundiais, o avanço do Liberalismo e da
ciência e tecnologia, enfim, ligado intimamente aos momentos e fenômenos
sociais que se sucedem no seio social e que será objeto de análise no presen-
te livro.
Faria (2010, p.3) adverte que a globalização, conceito aberto e multiforme,
denota a sobreposição do mundial sobre o nacional, asseverando tratar-se de
”um conceito relacionado às ideias de “compressão” de tempo e espaço, de co-
municação em tempo real, online, de dissolução de fronteiras geográficas, de
multilateralismo político-administrativo e de policentrismo decisório”.
Faria (2010) entende que a globalização foi responsável por uma “reestru-
turação do capitalismo”, provocando uma série de consequências à sociedade,
com reflexos no Direito. O autor aponta cinco consequências da globalização
para o Direito, a saber:
1. a velocidade e a intensidade do desenvolvimento científico, o poder po-
lítico-normativo propiciado pelas expertises e habilidades práticas decorrentes
da expansão da tecnologia e a comoditização de conhecimentos especializados
cada vez mais voltados a resultados de curto prazo e dividendos imediatos;
2. a redução da margem de autonomia dos governos nacionais na formu-
lação, implementação e execução de políticas macroeconômicas de um modo
geral, e nas políticas monetária e cambial, de modo específico;
3. a crescente diferenciação da economia em sistemas e subsistemas cada
vez mais especializados – um processo que se torna particularmente visível no
âmbito do sistema financeiro a partir do momento da distância entre a riqueza
abstrata dos mercados de capitais e a riqueza concreta dos setores produtivos
da economia real;
4. o fenômeno da “relocalização industrial” propiciado pelo advento de
técnicas mais informatizadas e flexíveis de produção, também conhecidas
como técnicas pós-fordistas e a tendência de crescimento do tamanho das em-
presas transnacionais relativamente ao peso econômico e político dos países;

78 • capítulo 4
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5. o empalidecimento da ideia de Estado-nação, em decorrência de uma


crescente e complexa trama de relações motivadas por interesses distintos en-
tre organismos multilaterais, conglomerados mundiais, centros de expertise e
organizações não-governamentais (ONGs).

Como já dito, em paralelo ao que ocorre na sociedade, a globalização gera


crise no próprio Direito, mais precisamente, no Direito do Trabalho, pois as
transformações sociais têm reflexos diretos nas relações de trabalho. Trata-se
de um mercado extremamente competitivo, no qual, para sobreviver, exige-se
o melhor resultado, com menores custos, no cenário de um capitalismo sel-
vagem, que deixa à margem os direitos sociais conquistados, em benefício da
“sobrevivência” empresarial. Diante desse cruel panorama, o desafio repousa
em encontrar um equilíbrio.
No processo de transformação das relações de trabalho e da economia, é
pertinente a reflexão sobre a possibilidade de realização da democracia e das
garantias dos direitos fundamentais. O Estado do Bem-Estar Social, o Welfare
State (Estado que consagra e tutela os direitos sociais), entrou em crise, per-
dendo espaço às teses que propugnavam por um Estado-Providência, ou seja,
protecionista e garantidor dos direitos do hipossuficiente.
Há quem defenda que, não obstante as mazelas, a globalização constitui
“mal necessário” e caminho sem volta. Por outro lado, críticos ferrenhos do
sistema lideram movimento de antiglobalização, opondo-se ao ideário liberal
da sociedade globalizada e apontam como alternativa a adoção do socialismo,
do comunismo e/ou o anarquismo.

capítulo 4 • 79
4.1.5  Como fica a situação no Brasil

No Brasil, muito embora os direitos trabalhistas sejam irrenunciáveis por seus


titulares, que são os empregados, inseridos em uma estrutura protetiva e rígi-
da, a ordem constitucional foi obrigada a adaptar-se às novas exigências sociais
e prever hipóteses de flexibilização. Através da realização de acordos e conven-
ções coletivas de trabalho, instrumentos de negociação coletiva nos quais a
participação dos sindicatos da categoria profissional é obrigatória, na forma
do artigo 8º, VI, XIII e XIV, da Constituição Federal de 1988, direitos trabalhis-
tas, como o salário e a jornada, podem ser, temporária e excepcionalmente fle-
xibilizados, tendo como cerne a manutenção dos empregos em momentos de
extrema crise no setor da economia e a própria saúde do mercado de trabalho.
Há, todavia, quem defenda que a flexibilização não se demonstra suficien-
te e sustenta, no Brasil, a necessidade da desregulamentação, como ocorreu
em outros países da América e Europa. Desregulamentar seria despir-se das le-
gislações trabalhistas infraconstitucionais conquistadas até agora, mantendo
apenas os direitos sociais assegurados na Constituição como espinha dorsal e,
delegando às partes, através de acordos coletivos e convenções coletivas de tra-
balho, a instrumentalização dos seus direitos sociais. É difícil asseverar quem
está com a razão, pois são meios diversos de tentar driblar a crise e assegurar os
empregos e o tão sonhado equilíbrio das relações sociais de trabalho.

CURIOSIDADE
Hipossuficiente é a pessoa que não dispõe de algum tipo de recurso, seja econômico, social
ou técnico.

4.2  Vamos falar sobre as questões de gênero

A evolução e a complexização das relações sociais faz necessária a discussão


de temas que antes eram considerados secundários para o Direito. As questões
relativas ao gênero e toda a sua complexidade é um tema que envolve inúme-
ras áreas de conhecimento, sendo imperiosa a análise jurídica e social não so-
mente no que diz respeito ao direitos da mulher, como minoria qualitativa na
sociedade, mas também aliar a isso o estudo de outros ramos da ciência para a

80 • capítulo 4
efetivação dos direitos fundamentais daquelas pessoas que, na maioria das ve-
zes, por apresentarem características que fogem ao padrão estabelecido como
normal, em termos sexuais (homem-mulher, heterossexualidade) são taxadas
de ‘anormais’, vivendo à margem da sociedade.

4.2.1  Identidade de gênero e identidade sexual

A identidade de gênero é uma construção composta por vários componen-


tes que foram sendo estruturados em diferentes épocas históricas e por vá-
rias influências.
©© PIXABAY.COM

Muito embora sejam termos sinônimos, os autores preferem a expressão


identidade de gênero, porque o vocábulo sexo nos reporta a uma série de sig-
nificados, não necessariamente coincidentes. Silva (1997, p. 81) considera que

“A identidade sexual ou de gênero, é um conceito extremamente complexo, composto


por componentes conscientes e inconscientes. Possuindo elementos altamente as-
sociados ao sexo a que se pertence e às características estabelecidas pela estrutura
social a cada gênero. Assim, a ideia de gênero não é um constructo mental unitário,
pois grande número de diferentes componentes estruturados em diversas épocas do
desenvolvimento e advindos de várias influências, formarão a composição final do que
se convencionou chamar de identidade de gênero”.

capítulo 4 • 81
De tal sorte que, ao analisarmos esses dois conceitos, podemos chegar a al-
gumas constatações:
a) A identidade de gênero se refere ao sentimento que o indivíduo possui
quanto à sua identificação, seja como mulher ou como homem, a partir dos
padrões estabelecidos pela sociedade em que se insere para categorizá-lo numa
versão masculina ou feminina.
b) Existe uma tendência objetiva de classificarmos tudo e todos em fe-
minino ou masculino, sempre colocados em oposição objetiva, sem que haja
uma margem pequena que seja para o que não se enquadra nesses conceitos ou
categorias.
No entanto, a questão que circunscreve os conflitos relativos à identidade
sexual de uma pessoa revela-se muitíssimo mais complexa e singular do que
pode refletir o seu sexo morfológico. Ou seja, nascer com uma genitália do sexo
feminino ou do sexo masculino não é e nunca foi garantia de ser uma mulher
ou um homem no sentido mais exato que tais termos possam assumir.
Em verdade, cada vez mais fica provado que antes de tudo, devemos consi-
derar efetivamente o comportamento psíquico que cada um assume em rela-
ção ao seu próprio sexo, razão pela qual é possível afirmar que o que conside-
ramos como sexo é o resultado da união dos diversos aspectos, sejam físicos,
psíquicos e comportamentais da pessoa, que irão representar, de fato, o que se
considera como estado sexual.
Assim, podemos, em síntese, considerar:
Gênero: Caráter que as especificidades masculinas e femininas ostentam
nas diferentes formações sociais humanas, ao longo da história da humanidade.
Sexo: Aspectos distintos e relativos à feição anátomo-fisiológica que dife-
renciam os homens das mulheres.

82 • capítulo 4
4.2.2  A questão do nome social

A questão do nome social foi objeto de pesquisa dessa autora, que em artigo in-
titulado “O reconhecimento da identidade de gênero através do nome social”,
publicado na Revista da SJRJ, em 2014, assim tratou dessa temática, tão rele-
vante na atualidade (seguem alguns trechos transcritos):
A Constituição brasileira estabelece a proteção da dignidade do ser huma-
no enquanto tal e o respeito às diferenças individuais e de grupos sociais em
observância a ordem social. Nesse âmbito de tutela aos direitos do homem e
do cidadão, a devida adequação da designação nominativa de travestis, tran-
sexuais e transgêneros aponta ao nosso país integração e coerência com nos-
sa Constituição Federal, em necessária observância aos preceitos dos Direitos
Humanos e do Direito Internacional.
No entanto, nos dias atuais, há que se apontar que mesmo as pessoas que
conseguem ser submetidas à cirurgia de redesignação sexual não encontram
no Judiciário a agilidade e a prontidão necessárias a permitir a descontinuida-
de de situações constrangedoras (quando não preconceituosas) a que são ex-
postas diuturnamente. Necessário demarcar que a inexistência de leis especí-
ficas quanto a esta matéria faz com que a mudança de nome tão somente pela
via judicial se torne uma deliberação que depende de cada julgador (com a pos-
sibilidade do resultado ser penetrado por valores, costumes, moralismos e pre-
conceitos vinculados à condição de indivíduo que existe por trás de cada toga).
Eis o porquê de ser uma questão tão relevante ao exercício da cidadania, o uso
do nome social pelos transexuais como meio de adequação de sua identidade pes-
soal à sua identidade de gênero, ambas atributos dos direitos da personalidade.
[...] o nome social consiste no apelido público e notório pelo qual um transe-
xual, o travesti ou o transgênero são identificados em seu meio familiar e social
correspondente à sua identidade de gênero, cuja adoção visa garantir o respei-
to à sua dignidade, evitando constrangimentos psicológicos e vexame social.
Trata-se da forma como a pessoa é conhecida, independentemente de como
está em seus documentos oficiais. Vários órgãos e instituições reconhecem o
direito ao tratamento pelo nome social, bastando que a pessoa, ao apresentar a
sua identidade civil, registre, igualmente, o nome pelo qual deseja ser chamada.
A busca pelo reconhecimento do nome social tornou-se uma bandeira do
movimento LGBTT. No entanto, é de notar-se que também a classe dos artistas
esteja inserida nesse contexto, na medida em que a assinatura artística nem
sempre tem a ver com o nome que consta nos documentos.

capítulo 4 • 83
4.2.3  Feministas ou femininas: elas querem reconhecimento social

Comecemos esclarecendo que o feminismo é, antes de mais nada, um movi-


mento surgido desde o século XIX, com características sociais e políticas pró-
prias, cujo objetivo é garantir o acesso à igualdade de direitos para as mulheres
em relação aos homens.
Importante também esclarecer que o feminismo não é antônimo de ma-
chismo. Isso porque o feminismo tem por finalidade a construção de condi-
ções para a efetiva igualdade entre os gêneros. Mas, o machismo é um tipo de
comportamento que parte do pressuposto de que existe uma superioridade do
homem com relação à mulher.

4.2.3.1  Na luta pelos direitos das mulheres no Brasil: Nísia Floresta

Não podemos começar a falar sobre direitos das mulheres e, em especial so-
bre o movimento feminista aqui no Brasil, sem citar o nome da escritora Nísia
Floresta, cujo verdadeiro nome era Dionísia Gonçalves Pinto, infelizmente tão
pouco conhecida entre nós, mas cuja trajetória no cenário da luta pelos direitos
das mulheres representa um verdadeiro marco entre nós.

<www.nisiadigital.com.br>

84 • capítulo 4
No final do século XIX e início do século XX, começaram a emergir os pri-
meiros movimentos sociais na defesa do direito das mulheres. O feminismo
passou a se concretizar como movimento, e através dele, as mulheres passaram
a lutar por espaços, direitos políticos e depois, direitos civis e sociais.
Nesse contexto, Nísia Floresta contribui com fundamental importância
para comprovar, através dos seus escritos, que a ideologia higienista sobre a
incapacidade intelectual feminina era uma falácia. O projeto educacional pro-
posto pela autora em Opúsculo Humanitário deve ser visto, destarte, como uma
referência na consagração da educação enquanto direito humano conquistado
pela mulher no século XIX.
Dois anos depois de tecer uma crítica veemente ao sistema educacional bra-
sileiro, quanto à forma de educação das mulheres, Nísia escreve uma crônica
intitulada “Páginas de uma vida obscura”, de 1855, em que articula o pensa-
mento acerca da escravidão.
Alana Lima (2016, p.p.10-15) nos dá conta de que:
“Nísia Floresta sempre esteve atenta às questões sociais, e, diferentemente,
das mulheres de seu tempo, procurou não reproduzir o modelo patriarcal, de-
nunciando as injustiças sociais praticadas contra a mulher, e falando em defe-
sa dos sujeitos oprimidos.
Desde muito cedo, a vocação para as letras combinada com a irresignação
diante das injustiças sociais se fizeram presentes na vida e na obra dessa escri-
tora cuja preocupação era a de revelar a opressão que vivia a mulher na socieda-
de do século XIX, utilizando-se para isso do texto escrito.
Esses primeiros textos, escritos na forma de artigos, versaram sobre a condi-
ção da mulher no Brasil e em vários países. Publicados no jornal pernambuca-
no Espelho das brasileiras, entre o período de fevereiro a abril de 1831, marcam
o início da vida autoral de Nísia Floresta no mundo das letras.
Segundo nos dá conta Alana Lima (2016), o título Direitos das mulheres e
injustiça dos homens, escrito quando a autora tinha apenas 22 anos, represen-
ta o marco teórico do feminismo no Brasil, e aparece em resultado ao processo
de tradução do livro de Mary Wollstonecraft, de 1792, intitulado Vindications of
the rights of woman, o qual é também considerado o texto seminal dos direitos
das mulheres no plano mundial.
Esses dois escritos sinalizam, portanto, o começo de uma era em favor dos
direitos das mulheres, os quais vão sendo conquistados ao longo do tempo, em
meio a muitas lutas e reivindicações.

capítulo 4 • 85
Dedicado às brasileiras e aos acadêmicos brasileiros, o livro surge com o
propósito de interferir no pensamento dominante da época, a fim de provocar
uma tomada de consciência por parte das mulheres quanto aos seus direitos e
a sua capacidade intelectual. Configura-se, então, numa crítica à forma que a
sociedade enxergava a mulher, e ao mesmo tempo, em um apelo à importância
da mulher na vida social.
Traduzido do livro de Mary Wollstonecraft, a ele se aproxima e ao mesmo
tempo se distancia, já que não foi desenvolvido nas mesmas bases ideológicas
do original, ante as diferenças culturais, políticas e econômicas que separavam
os dois textos. O projeto de Nísia Floresta era falar sobre a situação das mulhe-
res no Brasil de 32, e não simplesmente traduzir os ideais feministas europeus.
Ponderar diante das necessidades da mulher brasileira, através de uma fala
da margem para o centro, que coloca a periferia como o lugar do discurso, do
saber e da práxis social, num exercício contra hegemônico, foi a opção encon-
trada por Nísia Floresta para apresentar um produto com origem no Brasil.
Assim sendo, é possível afirmar que Nísia, além de ser pioneira na luta pelo
direito das mulheres, foi precursora do movimento nacionalista, pois ajudou a
construir o sentimento de nacionalidade do povo brasileiro ao chamar a aten-
ção da sociedade por meio de sua literatura para a questão nacional, desprezan-
do a velha ordem que ainda tentava imperar, mesmo após a independência do
Brasil ocorrida em 1822.
Registramos que o momento histórico pelo qual passava o país na época em
que Nísia Floresta publicou Direitos das Mulheres e Injustiça dos homens, era de
um país conservador, sem muitos avanços no campo da política e economia, basi-
camente idêntico ao período do Brasil colonial, ou seja, escravocrata e patriarcal.
Daí porque dizer que Nísia se destaca na luta de interesses em construir a
nação com uma identidade nova, desapegada da metrópole, imbuída no desejo
de não mais importar os imaginários estrangeiros, e sim, mostrar o Brasil pelos
seus próprios sujeitos e com suas próprias características.
Observando o conjunto da obra de Nísia Floresta, percebe-se com uma niti-
dez surpreendente o diálogo que os textos realizam entre si, como se fossem pe-
ças complementares de um mesmo plano de ação. O propósito de formar e modi-
ficar consciências, já o disse, perpassa quase todos os livros, os quais se unem em
torno de um projeto coerente e consciente de alterar o quadro ideológico social.
Dentre os mais importantes temas que escreveu durante sua trajetória li-
terária, destacam-se as figuras do negro, do índio e da mulher, os quais eram

86 • capítulo 4
observados consoante o seu lugar de sujeito oprimido na sociedade, e em nome
de quem a autora passou a travar verdadeira luta ideológica por direitos bási-
cos, tais como liberdade, cidadania e educação.

©© WIKIMEDIA.ORG

August Geigenberger.

Recém-chegada no Rio de Janeiro, Nísia funda um estabelecimento de en-


sino destinado ao público feminino, por nome de Colégio Augusto, no qual
atuou na função de diretora, e através do qual pôde formar a opinião de diver-
sas mulheres quanto à necessidade de acesso ao conhecimento científico, ca-
minho apontado por ela como sendo o único capaz de se chegar à emancipação
feminina”.

4.2.3.2  O movimento feminista hoje

O movimento feminista brasileiro nos dias de hoje é mais que uma reali-
dade, na medida em que a mulher conseguiu, por sua luta e disposição, ocu-
par diversos lugares antes destinados tão somente aos homens. Elas estão em
toda parte: estudam, fazem pesquisas, produzem bens de consumo, pensam e
constroem os destinos do país, ainda que sofram o peso do machismo reinante
na sociedade e toda a sorte de discriminações dele decorrentes como menores
salários para funções idênticas às dos homens, dupla jornada de trabalho (tra-
balho profissional mais as tarefas domésticas), pouca valorização profissional,
entre outras.

capítulo 4 • 87
©© MONTSERRAT BOIX | WIKIMEDIA.ORG

Meeting of the World March of Women in the


World Social Forum Tunisia 2015. Partici-
pants of Palestine, Kurdistan, Africa and Asia
By Montserrat Boix.

No entanto, a luta segue e o movimento levanta uma série de bandeiras con-


catenadas com as necessidades objetivas de mulheres, jovens e meninas, no
campo e na cidade, nos centros e na periferia, entre as quais podemos destacar:
a) Combate à violência doméstica, cujos altos níveis em nosso país tor-
nam urgentes e necessárias medidas de contenção, como foi o caso da Lei Maria
da Penha;
b) Combate à discriminação no trabalho;
c) Legalização do aborto (que atualmente, nos termos do art. 228 do
Código Penal está restrito às condições excepcionais);
d) Adoção de estilo de vida independente.

88 • capítulo 4
ATIVIDADES
Vamos tentar resolver?

01. As mulheres frequentam mais os bancos escolares que os homens, dividem seu tempo
entre o trabalho e os cuidados com a casa, geram renda familiar, porém continuam ganhando
menos e trabalhando mais que os homens.
As políticas de benefícios implementadas por empresas preocupadas em facilitar a vida das
funcionárias que têm criança pequena em casa já estão chegando no Brasil. Acordados de
horários flexíveis, programas como auxílio-creche, auxílio-babá e auxílio-amamentação são
alguns dos benefícios oferecidos.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br>.
Acesso em: 30 jul. 2013 (adaptado).

JORNADA MÉDIA TOTAL DE TRABALHO POR


SEMANA NO BRASIL (EM HORAS)

Considerando o texto e o gráfico, avalie as afirmações a seguir:


I. O somatório de tempo pelas mulheres aos fazeres domésticos e ao trabalho remunerado
é superior ao dedicado pelos homens, independentemente do formato da família.

capítulo 4 • 89
II. O fragmento de textos e os dados do gráfico apontam para a necessidade de criação de
políticas que promovam a igualdade entre os gêneros no que concerne, por exemplo, a tempo
médio dedicado ao trabalho e remuneração recebida.
III. No fragmento de reportagem apresentado, ressalta-se a diferença entre o tempo dedi-
cado por mulheres e homens ao trabalho remunerado, sem alusão aos afazeres domésticos.
a) I, apenas d) II e III, apenas
b) III, apenas, e) I, II e III
c) I e II, apenas

REFLEXÃO
Neste primeiro capítulo, você conheceu:
•  O conceito de políticas públicas e sua relação com o Estado e o setor privado.
•  Conheceu a gênese histórica das políticas públicas voltadas para a educação no Brasil.
•  Pôde conhecer a questão das políticas de habitação e suas carências.
•  Conheceu os pressupostos sociais necessários para uma eficiente política de seguran-
ça pública.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DALLARI. Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.
FARIA, José Eduardo. Sociologia Jurídica. Direito e Conjuntura. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
GASPARETTO JR, A. Associações de Socorro Mútuo: estratégias dos trabalhadores imigrantes na
Primeira República. In: Anais do Seminário Cultura e Política na Primeira República, 2010, Ilhéus.
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967.
Sites Consultados:
JusticaTrabalho: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/PoliticaSocial/>

90 • capítulo 4
5
Tecnologias de
informação e
comunicação: inclusão/
exclusão digital -
sociodiversidade e
multiculturalismo
5.  Tecnologias de informação e
comunicação: inclusão/exclusão digital -
sociodiversidade e multiculturalismo
Nesse capítulo, abordaremos alguns dos assuntos mais candentes de nossa rea-
lidade, porque é inegável que os avanços no campo das tecnologias de informa-
ção e de comunicação modificaram significativamente o nosso dia a dia, tornan-
do por um lado, nossa vida mais fácil e menos complicada, mas, por outro, nos
afastaram do convívio interpessoal face a face – que o digam as redes sociais, os
Whatsapps e os Telegrams - e, para muitos, ainda é algo muito distante, porque o
acesso a tais mecanismos importa em dispêndio de recursos que não estão faci-
litados para a maioria da população. Por outro lado, poderemos ver que há uma
sequência de reivindicações no sentido da democratização do acesso ao ciberes-
paço como uma nova dimensão de direitos fundamentais difusos a ser estendido
a toda a população como forma possibilitadora do exercício da cidadania.
E por falar em cidadania, a segunda parte desse capítulo irá enfocar os con-
ceitos de sociodiversidade e de multiculturalismo, que são de fundamental
importância para que possamos compreender uma noção de cidadania que se
efetive para além das meras liberdades públicas e civis configuradas pelo direi-
to a votar e ser votado. Nesse aspecto, vamos apresentar como o Brasil se revela
como uma nação caracterizada pelo signo da sociodiversidade inclusiva, garan-
tida constitucionalmente pelos ditames consagrados na Constituição Federal
de 1988 e como esse texto legal, para que seja realmente eficaz, carece do reco-
nhecimento dos aspectos multiculturais de nossa formação, que se manifesta
muito além das meras questões étnicas e raciais.

OBJETIVOS
•  Refletir sobre a importância das tecnologias de informação e de comunicação no mun-
do contemporâneo;
•  Identificar os reflexos sociais, econômicos e jurídicos que envolvem o fenômeno da inclu-
são/exclusão digital;
•  Compreender a importância da discussão sobre os aspectos decorrentes da sociodiversidade;
•  Reconhecer as diversas posições doutrinárias e sociológicas que envolvem o
tema multiculturaslimo.

92 • capítulo 5
5.1  Sobre as tecnologias de informação e comunicação (TICs)

Começamos esse texto a partir de uma simples pergunta: As tecnologias de


informação e comunicação podem ser consideradas como aliadas para o de-
senvolvimento econômico e social?
©© PIXABAY.COM

Nossa resposta, em parte, fomos buscar em trechos do texto de Pereira e


Silva, publicado nos Cadernos de Ciências Sociais Aplicadas. N. 10, de 2010,
cujos trechos, a seguir transcritos, servem como referencial interessante a res-
peito dessa temática, cada dia mais presente no cotidiano das sociedades do-
minadas pela predominância da ocupação do espaço virtual e da estruturação
em redes sociais. Senão, vejamos:

“As mudanças ocorridas nas últimas décadas, sobretudo os avanços tecno-


lógicos, têm relevância nos setores público e privado, bem como nos contextos
social, político e econômico”.
“As modificações ocasionadas nos processos de desenvolvimento e suas
consequências na democracia e cidadania, convergem para uma sociedade ca-
racterizada pela importância crescente dos recursos tecnológicos e pelo avan-
ço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) com impacto nas
relações sociais, empresariais e nas instituições. É a denominada Sociedade
da Informação e do Conhecimento, que cogita uma capacidade constante
de inovação.

capítulo 5 • 93
Na administração pública, é notória a progressiva aplicação e abrangência
das Tecnologias de Informação e Comunicação – TICs, sobretudo com o uso da
Internet nas diferentes esferas do governo.
Aqui, o emprego das TICs inicia-se com o e-mail e a pesquisa eletrônica e
continua com a chamada “governança eletrônica” ou “e-governança”. A utili-
zação das TICs na Administração Pública possui vários objetivos: o alcance e a
melhoria contínua da qualidade, o aumento da eficácia e da eficiência, a trans-
parência dos atos administrativos, a fiscalização das ações governamentais e a
participação popular no exercício da cidadania, por meio da facilidade de aces-
so a serviços públicos ofertados na Internet.
No Brasil, a partir do início do século XXI, os gestores públicos despertaram
para o valor das TICs como instrumento na construção do futuro. A partir de
então, políticas públicas foram criadas para que as novas tecnologias impulsio-
nassem o desenvolvimento”. (PEREIRA e SILVA, 2010, p.p. 152-153)
Continuando, os autores explicitam as grandes mudanças decorrentes dos
avanços da microengenharia que irão aliar a eletrônica à informação, no se-
guinte sentido:
“Creditam-se ao período da Segunda Guerra Mundial e ao seguinte as prin-
cipais descobertas tecnológicas no campo da eletrônica, como o primeiro
computador programável e o transistor, fonte da microeletrônica, o verdadei-
ro cerne da revolução da tecnologia da informação no século XX. Apesar disso,
Castells (1999) defende que só houve ampla difusão das novas tecnologias de
informação na década de 70, o que acelerou seu desenvolvimento sinérgico e
convergiu para um novo paradigma.” (PEREIRA e SILVA, 2010, p. 156)
No que diz respeito à criação da Internet, Pereira e Silva (2010) esclarecem
que esse advento se deveu em muito à “junção de estratégia militar, cooperação
científica, inovação tecnológica e contracultural nas três últimas décadas do
século XX, desencadeou a criação e o desenvolvimento da Internet. A respon-
sável por essa ação foi a Agência de Projetos de Pesquisa Avançada (ARPA) do
Departamento de defesa norte-americano (DoD). Na década de 50, um dos pro-
jetos da ARPA visava desenvolver um sistema de comunicação invulnerável a
ataques nucleares, com base na tecnologia de troca de pacotes, em que o siste-
ma tornava a rede independente de centros de comando e controle, para que a
mensagem procurasse suas próprias rotas ao longo da rede, sendo remontado
para voltar a ter sentido coerente em qualquer ponto da rede” (p. 158).

94 • capítulo 5
Segundo nos dão conta os autores, a “ARPANET foi a primeira rede de com-
putadores e entrou em funcionamento em 1969, conectando seus quatro pri-
meiros nós, ou seja, universidades americanas. Na década de 80, a ARPANET
encerra suas atividades e cede lugar à Internet. A partir daí, a Internet parte
para sua difusão internacional, sem fronteiras nem rumos. Assim, conforme
a rede se expandia e ganhava mais adeptos, outras tecnologias relacionadas à
Internet foram criadas. Por volta de 1990, os “não iniciados” ainda tinham di-
ficuldade para usar a Internet e a capacidade de transmissão ainda era muito
limitada. Nessa época, surge um aplicativo que é denominado como teia mun-
dial (World Wide Web – WWW3), além da concepção do hipertexto (Hypertext
Markup Language – HTML) e a divisão de locais em sites.”

5.1.1  Sobre o contexto social em que ocorre a transformação tecnológica e o


advento da sociedade em rede

A promoção de um novo modelo tecnológico a partir da década de 70 pode estar


profundamente relacionada à dinâmica independente da abertura que possi-
bilitou a propagação tecnológica, com ênfase especial para as relações promo-
vidas, especialmente nos setores privados da vida social, mas que certamente
contou com os efeitos amplificadores e interativos entre as principais tecnolo-
gias produzidas nesse período.
Desse modo, é possível considerar que, a partir das investidas rumo aos
novos avanços tecnológicos que se deram a contar dos anos 60, em especial
realizados pelos setores militares, a tecnologia produzida nos Estados Unidos
da América (EUA) foi vocacionada para a promoção do grande progresso que
viria em seguida. Assim, temos que a primeira revolução em Tecnologia da
Informação começará nos EUA no curso dos anos 70, no denominado Vale do
Silício (pólo tecnológico situado no estado da Califórnia), fundado no progres-
so obtido no decorrer das décadas anteriores, sendo consequência do produto
de um sem-número de fatores tanto no nível institucional, quanto econômico
e cultural.

capítulo 5 • 95
©© PIXABAY.COM

A existência dessas novas tecnologias consubstanciou-se como essencial


para o processo de transformação tanto social quanto econômica que pudemos
assistir ao longo da década de 80 e, em seguida, a utilização dessas tecnologias
tornou-se a condição para o progresso alcançado, em muito, por conta de sua
utilização e maior sofisticação na década seguinte.
O que pudemos constatar foi um processo que irá redundar no nascimento
da denominada “sociedade em rede”, fato esse que só pode ser devidamente
entendido e decodificado a partir do processo que necessita a promoção da in-
fluência mútua entre duas tendências até certo ponto independentes, a saber,
o desenvolvimento de novas Tecnologias de Informação (TIs) e o movimento
promovido pela antiga sociedade em adequar-se pelo reaparelhamento com o
“uso do poder da tecnologia para servir à tecnologia do poder”.

5.1.2  A questão da inclusão e da exclusão digitais

Pereira e Silva (2010, p.p. 163-164) discorrem com especial propriedade em re-
lação a essas duas consequências objetivas da sociedade em rede e que muito
têm a ver com a participação do Estado, por meio das políticas públicas, que
possibilitam que parcelas substanciais da população possam inserir-se no
contexto da utilização do espaço virtual como signo de exercício de cidadania,
na medida em que possuir o acesso à rede mundial dos computadores e ao ci-

96 • capítulo 5
berespaço cada dia se revela mais um direito fundamental, no lastro do reco-
nhecimento dessa necessidade como parte da garantia da dignidade da pes-
soa humana.
©© MARCOS VINICIUS DE PAULO | WIKIMEDIA.ORG

Eis o trecho do texto dos autores que trabalha essa questão:


“Os temas inclusão e desenvolvimento local aparecem na agenda pública
atual como elementos de uma proposta de um novo modelo social e econô-
mico, difundido em escala internacional e provocado por um fenômeno cha-
mado globalização”. As tecnologias de informação e comunicação invadiram
o cotidiano das pessoas em todos os lugares de tal forma que a informação
em “tempo real” assume uma importância central no mundo atual. Castells
(1999) denomina “sociedade em rede” esse movimento que reduz as distâncias
geográficas e tem a Internet como principal veículo para viabilizar o trânsito
das informações.
Dada essa nova realidade, os governos passam a lidar com um problema
fundamental: a exclusão digital, que segrega a população entre os que têm e os
que não têm acesso às informações pela Internet.
Desse modo, a elaboração de políticas públicas de universalização do aces-
so à rede mundial de computadores, articuladas com estratégias de promoção
do desenvolvimento local, cuja base são os municípios e suas microrregiões, se
tornam prementes.

capítulo 5 • 97
Para Santos (2003, p. 3): “Constatando que a Internet é uma infovia de mão
dupla, dá para inferir que a falta de acesso alija o cidadão pobre dos circuitos
econômicos dominantes, e mais: retira-lhe a possibilidade de incluir na rede o
padrão cultural da sua realidade local. Portanto, incluir digitalmente é facilitar
o acesso dos excluídos ao novo modo de produção e estilo de desenvolvimento
social e cultural” (PEREIRA e SILVA, 2010, p.p. 163-164).

5.1.3  Como garantir o acesso à inclusão digital?

Pereira e Silva (2010) nos apresentam uma lista com os principais recursos usa-
dos pelos governos locais na perspectiva de garantir à população economica-
mente desprovida, ou seja, hipossuficiente, o acesso às novas TICs, em especial
à Internet, a saber:
•  Telecentros comunitários: são espaços multifuncionais que dispõem de
acesso público à Internet, promovem cursos de informática básica, de acesso
à rede mundial de computadores e correio eletrônico. Utilizam Software livre
(PEREIRA e SILVA, 2010, p.p. 163-164).
•  Redes wi-fi (sem-fio): redes de banda larga disponíveis para acesso gra-
tuito da população à Internet. O cidadão necessita de equipamento próprio
para conseguir se conectar e utilizar os serviços (PEREIRA e SILVA, 2010, p.p.
163-164).
•  Salas de informática em escolas e bibliotecas públicas: salas equipadas
com microcomputadores dotados de aplicativos básicos com ou sem acesso à
Internet (PEREIRA e SILVA, 2010, p.p. 163-164).
©© PIXABAY.COM

•  Cibercafés (lanhouses): são esta-


belecimentos comerciais com equipa-
mentos de TICs, conectados à Internet,
cuja cobrança é feita de acordo com
o tempo de uso dos equipamentos.
Parcerias com o poder público ou com
Organizações Não Governamentais

98 • capítulo 5
(ONG) permitem a prática de preços inferiores aos de mercado, viabilizando
o uso da rede por pessoas de baixa renda (PEREIRA e SILVA, 2010, p.p. 163-164).
•  Quiosques ou totens: semelhantes aos serviços de autoatendimento ban-
cário, são comuns em projetos que oferecem acesso rápido a serviços, informa-
ções e correio eletrônico (PEREIRA e SILVA, 2010, p.p. 163-164).

5.2  Sociodiversidade: expressão da riqueza cultural

A expressão sociodiversidade foi concebida pela antropologia no sentido de


referência à multiplicidade de culturas que podem compor uma mesma so-
ciedade, em que seja possível a convivência harmoniosa e includente. Por esse
motivo, abordar o tema sociodiversidade significa conceber um agrupamento
social diversificado, que contenha em seu seio múltiplas formas de culturas;
uma sociedade que seja aberta e que possibilite oportunidades, uma sociedade
que apresente um contingente populacional que convive independente de ori-
gens, costumes, credos. Sem dúvida, essa é a sociedade brasileira.
©© PIXABAY.COM

No caso brasileiro, a sociodiversidade está intimamente relacionada à exis-


tência, por exemplo, das comunidades quilombolas, descendentes dos antigos
escravos que mantém costumes e tradições vivos, bem como das etnias indíge-
nas nacionais, na medida em que tais grupos sociais objetivamente compõem
uma sociedade à parte daquilo que se convencionou denominar “sociedade do-
minante”, ou seja, a comunidade do “homem branco”.

capítulo 5 • 99
A nossa atual Constituição Federal promulgada em 1988, dá um passo sig-
nificativo no tratamento da questão indígena no que diz respeito ao reconheci-
mento dessa sociodiversidade, mormente no que diz respeito ao direito desses
povos se organizar, inclusive territorialmente, na medida em que, além da pos-
se e usufruto exclusivo da terra, garante também, o reconhecimento da cultura,
costumes e tradições, evidenciando, ainda, a terra como elemento de expressão
física e cultural das comunidades. A CF/88 respeitou o direito dos indígenas a
continuarem sendo índios.
O centro das mudanças trazidas pela Constituição de 1988, precisamente
pelo artigo 231, é o reconhecimento e proteção à organização social e cultu-
ral dos povos indígenas. Sobre essa questão, Villares (2013, p. 14) afirma que o
“Estado passa a reconhecer os povos indígenas como tais, dotados de culturas,
organizações sociais, línguas, religiões, modos de vida, visões de mundo pecu-
liares a cada grupo ou povo”, abandonando assim, a ideia de que a cultura indí-
gena é inferior e que a aproximação com a sociedade brasileira seria necessária.
©© CMACAULEY | WIKIMEDIA.ORG

Índia Ianomâmi e seu filho (junho de 1997).

Sobre os direitos relacionados à terra, Souza Filho (2013, p. 234) esclarece


que “A Constituição brasileira vigente reconhece aos índios o direito originário
sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Por originário, quer dizer que o

100 • capítulo 5
direito dos índios é anterior ao próprio direito, à própria lei. A ocupação tradi-
cional é definida na Constituição e trata-se das terras habitadas pela comuni-
dade em caráter permanente, das utilizadas para suas atividades produtivas,
das imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu
bem-estar e das necessárias à sua reprodução física e cultural, segundo seus
usos, costumes e tradições”.

5.2.1  Por que é importante o estudo da sociodiversidade?

No sentido sociológico, quando nos voltamos ao estudo ou à compreensão da


noção ou da abrangência de sociodiversidade, isso importa em ir para além das
questões que envolvem os aspectos étnicos e raciais. Ou seja, significa ir para
além dos contornos que demarcam os costumes ou tradições, sejam de índios,
de brancos, ou negros, que formam a base da composição étnica brasileira,
porque a sociodiversidade representa a constatação da existência, por parte
dos diversos grupos sociais de recursos sociais próprios, de modelos próprios
de autoridade política, de acesso e utilização da terra ou mesmo de um padrão
próprio em termos habitacionais. Importa no reconhecimento e na aceitação
da existência de hierarquias específicas de valores ditadas por aquelas culturas
que convivem num mesmo país.
Por esse rol de motivos, conceber, estudar e, em especial, reconhecer a so-
ciodiversidade como um dado real, significa a compreensão de que possuímos
bem mais que uma sociedade diversificada etnicamente. Significa admitir que
temos uma sociedade verdadeiramente multicultural, com a existência, de vá-
rias comunidades culturalmente especificadas e distintas (natos ou imigran-
tes) dentro do território brasileiro. É o caso, por exemplo, das culturas alemãs,
italianas e orientais que são preservadas e reproduzidas nos estados do Sul e do
Sudeste, havendo uma convivência pacífica entre todos os tipos de imigrantes
que aqui chegaram e ficaram. Esta constatação reforça esta idéia de que nosso
país é uma sociedade multicultural, que expressa a tolerância em relação aos
valores das suas diversas comunidades e que em alguma medida busca a pro-
moção inclusiva das mesmas.
No entanto, é de notarmos que apesar dessa diversidade de culturas estarem
em permanente convivência, os conflitos não estão afastados. Ao contrário, ul-
timamente, o que mais vemos são manifestações de intolerância, mormente

capítulo 5 • 101
de ordem econômico-social e religiosa. Os casos de intolerância ou rejeição do
outro deixaram de ser tão raros assim: aqui e ali, podemos vislumbrar casos
de xenofobia, discriminação ou preconceito, afinal, não podemos evitar que os
conflitos se instaurem no seio social. Eles existem sempre e o que temos a fazer
é encontrar mecanismos de solução para os mesmos.

Ato contra a intolerância religiosa no Brasil. Fonte: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos


-humanos/foto/2015-01/no-dia-de-combate-intolerancia-religiosa-lideres-alertam>

É importante demarcar que as manifestações de intolerância e ódio pelo ou-


tro, por aquilo que é considerado diferente, tendem cada vez mais a acontecer
em qualquer país do mundo, inclusive e em especial nos países mais desenvol-
vidos, denominados como do “primeiro mundo.“
De qualquer modo, o mais relevante e significativo é que tais manifestações
não encontrem respaldo oficial, ou seja, não sejam parte de uma política esta-
tal, o que, infelizmente, está cada vez mais comum, mormente naquelas cul-
turas que são denominadas como ortodoxas e excludentes, o que não é o caso
do Brasil.
Ao contrário, nossa CF/88 garante e tutela os direitos fundamentais não so-
mente dos natos e naturalizados, como também de todos os estrangeiros que se
encontrem em solo brasileiro. Tais direitos, constitucionalmente consagrados,
incluem tanto a livre manifestação cultural e religiosa, como a aceitação dos
valores éticos e morais das distintas comunidades e, em especial, o direito de
participação social na economia nacional. Inegavelmente, a nossa legislação,

102 • capítulo 5
no que se relaciona à sociodiversidade, é considerada uma das melhores em
nível mundial, na medida em que inclusive admite as demonstrações de insa-
tisfação e reivindicações das minorias.
©© MIKAELE TEODORO | WIKIMEDIA.ORG

Parada do orgulho LGBT, em São Paulo-2012.

No entanto, temos que reconhecer que a real e total inclusão de todos os


grupos, de todas as minorias sociais, desafortunadamente, não depende só e
exclusivamente da existência de uma legislação que esteja em vigor. Em nosso
dia a dia, em especial, nos grandes centros, podemos nos deparar com as man-
chetes dos jornais estampando muitos casos de preconceito e discriminação
que ocorrem a despeito da existência da lei, e que ficam impunes, sem que seja
feita a justiça.
A luta pela real eficácia das leis vai além dos tribunais e carece da partici-
pação efetiva de todos os interessados ou não interessados nesses temas, pois
se trata de uma questão de reconhecimento e de exercício de cidadania. E, em
especial, por parte do Estado, cumpre a tarefa de garantir o espaço social para
todos os grupos, por meio de ações afirmativas.
Razão pela qual podemos afirmar, sem qualquer dúvida, que a sociodiver-
sidade é a demonstração da riqueza cultural de um Estado nacional. Uma so-
ciedade, quanto mais sociodiversificada for, tanto mais será rica em termos
culturais.

capítulo 5 • 103
A busca da padronização em torno do igual, sem respeitar o diferente, nos
empobrece e só leva à injustiça e ao preconceito. Somos todos seres diferentes
porque únicos e irrepetíveis e iguais, porque temos todos nossas diferenças ca-
recedoras de respeito, porque somos todos dignos!

5.3  Um novo paradigma (modelo): o multiculturalismo

O multiculturalismo diz respeito a uma pluralidade de culturas que convivem


num ambiente de harmonia. Esse termo é utilizado pelos sociólogos e antro-
pólogos em seus estudos quando procuram elucidar o modo de como as socie-
dades em que convivem grupos sociais com heranças culturais se comportam
entre si. Essa convivência faz parte da história de diversos países e está profun-
damente relacionada com a questão do colonialismo e da imposição de uma
cultura sobre outras e a necessidade do respeito às diferenças.
O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos entende que:
“O multiculturalismo, tal como eu entendo, é pré-condição de uma relação
equilibrada e mutuamente potenciadora entre a competência global e a legiti-
midade local, que constituem os dois atributos de uma política contra-hegemô-
nica de direitos humanos no nosso tempo.(..) Nesse domínio, a tarefa central
da política emancipatória do nosso tempo consiste em transformar a concep-
tualização e prática dos direitos humanos de um localismo globalizado num
projecto cosmopolita”. (SOUSA SANTOS, 2003, p. 18).

104 • capítulo 5
ATIVIDADES
Questão do ENADE. Vamos tentar resolver?

01. Desnutrição entre crianças quilombolas


“Cerca de três mil meninos e meninas com até 5 (cinco) anos de idade, que vivem em 60
comunidades quilombolas em 22 Estados brasileiros, foram pesados e medidos. O objetivo
era conhecer a situação nutricional dessas crianças.(...). De acordo com o estudo, 11,6%
dos meninos e meninas que vivem nessas comunidades estão mais baixos do que deveriam,
considerando-se a sua idade, índice que mede a desnutrição.
No Brasil, estima-se uma população de 2 milhões de quilombolas. A escolaridade ma-
terna influencia diretamente o índice de desnutrição. Segundo a pesquisa, 8,8% dos filhos
de mães com mais de quatro anos de estudo estão desnutridos. Esse indicador sobe para
13,7% entre as crianças de mães com escolaridade menor que quatro anos. A condição
econômica também é determinante. Entre as crianças que vivem em famílias da classe E
(57,5% das avaliadas), a desnutrição chega a 15,6%, e cai para 5,6% no grupo que vive na
classe D, na qual estão 33,4% do total das pesquisadas. Os resultados serão incorporados à
política de nutrição do País. O Ministério de Desenvolvimento Social prevê, ainda, um estudo
semelhante para as crianças indígenas.”
– BAVARESCO, Rafael. UNICEF/BRZ. Boletim, ano 3, n. 8, jun. 2007.
O boletim da UNICEF mostra a relação da desnutrição com o nível de escolaridade ma-
terna e a condição econômica da família. Para resolver essa grave questão de subnutrição
infantil, algumas iniciativas são propostas:
I. distribuição de cestas básicas para as famílias com crianças em risco;
II. programas de educação que atendam a crianças e também a jovens e adultos;
III. hortas comunitárias, que ofereçam não só alimentação de qualidade, mas também renda
para as famílias.
Das iniciativas propostas, pode-se afirmar que:
a) somente I é solução dos problemas a médio e longo prazo.
b) somente II é solução dos problemas a curto prazo.
c) somente III é solução dos problemas a curto prazo.
d) I e II são soluções dos problemas a curto prazo.
e) II e III são soluções dos problemas a médio e longo prazo

capítulo 5 • 105
REFLEXÃO
Neste capítulo, você conheceu:
•  O processo de união entre a ciência e a técnica que culminou com o advento de uma so-
ciedade da tecnologia e da informação.
•  Conheceu em que medida o acesso à informação em todos os seus matizes se configura
como um direito fundamental.
•  Pôde conhecer o significado do termo sociodiversidade e como se aplica à realida-
de brasileira.
•  Conheceu a relação entre os direitos humanos e a multiculturalidade.
Filmes e vídeos recomendados:
1. IÑÁRRITU, Alejandro González. Babel. Produção de Paramount Pictures, Paramount
Vantage, Anonymous Content, ZetaFilm, Central Films e Media Rights Capital. Direção de
Alejandro González Iñárritu. Roteiro de Guillermo Arriaga. França, EUA, México, 2006. DVD.
143 min.
2. Diversos vídeos sobre multiculturalismo, racismo e outros temas. Disponível em: <http://
multiculturalismo9a.blogspot.com.br/p/videos.html>.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DALLARI, Direitos Humanos e Cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.
FARIA, José Eduardo. Sociologia Juridica. Direito e Conjuntura.2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Comentário ao artigo 231. In: CANOTILHO, J.J. Gomes;
MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coodrs). Comentários a Constituição do
Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p.2149.
SOUSA SANTOS, Boaventura de Sousa. Por uma concepção multicultural de direitos humanos.
In: SOUSA SANTOS, Boaventura de (org.). Reconectar para libertar. Os caminhos do cosmopolismo
multicultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
VILLARES, Luiz Fernando. Direito e Povos Indígenas. 1ª ed, (ano 2009), 2ª reimpr. Curitiba: Juruá, 2013.

106 • capítulo 5
6
Temas transversais
– vida urbana e
rural. Violência e
terrorismo
6.  Temas transversais – vida urbana e rural.
Violência e terrorismo

Nesse último capítulo, vamos abordar assuntos que nos interessam em espe-
cial, na medida em que somos pessoas que vivem nas cidades brasileiras e que
convivem em seu dia a dia com problemas dos mais diversos, decorrentes do
aumento do nível de complexidade das relações intersubjetivas demarcadas
por individualismos, egoísmos, insegurança e perigos cada vez maiores.
A vida, que era em sua maior parte vivida no campo, mormente no Brasil,
um país que se formou como grande produtor agrícola, vai sendo pouco a pou-
co transferida para a cidade, para os pólos urbanos. Esse movimento, que nos
anos 70 recebeu a denominação de “êxodo rural”, o movimento do contingen-
te populacional, principalmente do Nordeste, que fugia dos campos por conta
das más condições de vida e que buscava outro meio de vida na cidade, levou as
cidades e a periferia a um crescimento desordenado e não planejado, que teve
como consequências diretas as habitações precárias (favelas), o subemprego,
as péssimas condições de locomoção urbana e, por fim, a violência.
As disputas pelo poder político num primeiro momento, aliadas ao compo-
nente da intolerância religiosa, por outro lado, levam a nos defrontarmos hoje,
pelos mais variados pontos do planeta e à demonstrações de violência através
de atos de terror que tanto podem se manifestar com o comportamento suicida
dos homens-bomba, quanto com atitudes irracionais ou o estupro coletivos de
meninas e mulheres.

OBJETIVOS
•  Refletir sobre os aspectos caracterizantes e condicionantes da vida na cidade e no campo;
•  Identificar os reflexos sociais, econômicos e jurídicos que envolvem o fenômeno
da urbanização;
•  Compreender a importância da discussão sobre os aspectos decorrentes da exacerbação
da violência nos grandes centros urbanos;
•  Reconhecer o fenômeno do terrorismo no cenário político e religioso internacional.

108 • capítulo 6
6.1  Sobre a vida urbana e a vida rural

Inicialmente cumpre esclarecer que quando nos referimos à vida urbana, es-
tamos tratando da vida que ocorre nas metrópoles, nas grandes cidades, em
especial nas grandes capitais. Quando nos referimos à vida rural, estamos nos
referindo ao ambiente do campo. A esse respeito também se revela especial ter
em consideração o tamanho das comunidades, de modo que as comunidades
rurais seriam menores tanto em termos objetivos quanto subjetivos. E, no que
se refere à população, esta teria um perfil cultural e social mais homogêneo que
as comunidades urbanas.
Também em relação à população, o que distingue o ambiente rural do am-
biente urbano é a distância entre as classes sociais e a pouca mobilidade social
existente. Isso porque os papéis sociais estão muito definidos e poucas são as
chances para se modificarem: o dono da fazenda costuma ser a figura mais rica
da comunidade e os colonos poucas chances têm de sair dessa condição social.
Na medida em que as comunidades costumam ser pequenas, todos acabam
se conhecendo. A interação entre os indivíduos no mundo rural, devido à restri-
ção do tamanho do grupo, é mais direta e concreta, as pessoas conhecem mais
“intimamente” seus interlocutores. Existe uma pessoalidade nas relações em
oposição à impessoalidade que reina nas relações urbanas. Finalmente, há a
questão da complexidade: o rural seria menos complexo que o urbano.

6.1.1  O fenômeno do êxodo rural

Você já deve ter percebido que em capitais como o Rio de Janeiro e São Paulo
existe uma concentração de pessoas oriundas de diversas regiões do interior
do Nordeste. Essas pessoas, em sua maioria, são nordestinos que buscaram
os grandes centros urbanos do sul e do sudeste em busca de oportunidade de
uma vida melhor, por conta da condição de vida precária, muito em razão do
fenômeno climático da seca. Esse contingente de “retirantes” consubstancia-
ram um movimento de emigração denominada “êxodo rural”. O êxodo rural é
o abandono das áreas rurais por causa das más condições para a sobrevivência
e o sonho da vida melhor.

capítulo 6 • 109
©© PIXABAY.COM

Aproveitamos para trazer até vocês um texto que reproduz, em essência, al-
guns aportes especiais a respeito do assunto que envolve as relações existen-
tes entre a ambiência urbana, derivada do desenvolvimento e do progresso das
forças produtivas alavancadas pelos tremendos avanços científicos e tecnológi-
cos, e a ambiência rural, da relação entre o homem e seu meio ambiente. Esse
texto expressa essa preocupação, que faz parte da agência de todas as nações
que buscam vincular seu processo de desenvolvimento com a necessidade de
unir progresso e sustentabilidade, tanto em termos econômicos quanto sociais
e ambientais.

6.1.2  Reflexões sobre o urbano e o rural

Vamos conhecer o texto intitulado “Reflexões sobre o urbano e o rural”, de au-


toria do professor Jones Godinho:
“Os estudos na área da geografia e da sociologia nos tempos atuais permi-
tem uma pergunta: onde está o limite entre o urbano e o rural? Talvez se espe-
ra uma única e simplista resposta, mas percebe-se que a interrogação é muito
mais complexa”.
Desde a Antiguidade, quando as condições políticas e sociais influenciaram
a divisão sócio-espacial do trabalho, originando o fenômeno rural e o urbano

110 • capítulo 6
por meio do exercício das diferentes formas de produção, as quais favoreceram
o desenvolvimento do capitalismo, definir os limites, a partir de então, tornou-
se um problema”. (GODINHO, 2016)
“Existem algumas concepções em relação à cidade e o campo: a cidade é
compreendida como a sede do trabalho intelectual, de organização das ativi-
dades políticas e administrativas, da elaboração do conhecimento científico,
da ideia de civilização, urbanização, de aglomeração demográfica, onde uma
parcela significativa da população está envolvida em atividades secundárias e
terciárias e, da diversidade de ocupação industrial; a cidade representa uma
condição social em que, teoricamente, é possível superar a precariedade, pois
considera a conquista de melhores condições materiais decorrentes de um alto
nível de produção e produtividade, técnica e cultural”. (GODINHO, 2016)
©© MARIORDO | WIKIMEDIA.ORG

“Quanto ao campo, o mesmo é visto como sinônimo de atrasado, ultrapas-


sado, imóvel no tempo, rude, como uma vida de privação, onde a sobrevivência
só é possível com muito trabalho, o qual oferece o mínimo necessário para vi-
ver, sendo definido como uma área de dispersão demográfica, dando lugar às
atividades primárias, principalmente agropecuárias”. (GODINHO, 2016)

capítulo 6 • 111
©© PIXABAY.COM

“O conceito de cidade e campo confunde-se com o urbano e o rural. A cida-


de, vista como área da centralidade administrativa e territorial, onde se fabrica,
origina o conceito de urbano, estende-se para além dela, não se restringindo
a um território fixo, mas passa a ser visto como um modo de vida, um estilo
de vida, onde se propagam, costumes e hábitos urbanos, os quais influen-
ciam, por meio dos instrumentos de comunicação e transporte, o meio rural.
Dessa forma, o modo de vida urbano alcança os limites geográficos dos inte-
resses e ações existentes na cidade, dos investimentos efetuados no campo”.
(GODINHO, 2016)
©© PIXABAY.COM

112 • capítulo 6
“O rural, atualmente desenvolvendo atividades múltiplas além das primárias,
passou a ser visto como uma questão territorial, onde o uso do solo e as ativida-
des da população residente no campo se vinculam à várias atividades terciárias,
sendo compreendido como não-urbano, ou seja, o que não pertence à cidade.
©© PIXABAY.COM

A discussão em torno desta problemática, evidencia o processo de mecani-


zação e qualificação do campo, o qual serve e abastece a cidade de seus produ-
tos. Os costumes rurais não são os mesmos do passado. As mudanças na forma
de produção, de vestir, do falar, no administrar o campo, seguem os ditames da
cidade, pois acredita-se que de lá é que vem o conhecimento, como menciona-
do anteriormente. O campo está sofrendo um processo de urbanização. Sendo
assim, rural e urbano se confundem, se completam e interdependem-se, pois
um não existiria sem o outro”. (GODINHO, 2016)
“Ainda na cidade, famílias ou pessoas procuram cultivar hábitos rurais, ti-
dos como mais saudáveis, de produzir alguns produtos para consumo próprio
em jardins, terraços e sacadas. Isso reflete o desejo de estar próximo da nature-
za, buscando uma melhora nas condições de vida e de saúde, ingerindo alimen-
tos sem agrotóxicos”. (GODINHO, 2016)
Mas, com o avanço da urbanização, percebe-se que ela é uma moeda de dois
lados: de um lado vê-se o aprimoramento das técnicas, das condições de vida, dos
atrativos culturais; de outro, vê-se a precariedade das favelas, a chaga do desempre-
go, da marginalidade. Mas, sabe-se que tudo tem um preço a ser pago, pois vive-se
sobre a certeza de que as pessoas não voltariam para o campo sem eletricidade e

capítulo 6 • 113
outros confortos”. Disponível em: <http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/geo-
grafia/reflexoes-sobre-urbano-rural.htm>. Acesso em 17 jun. 2016.

6.2  Violência e terrorismo

Os Direitos Humanos Sob O Prisma Ético do Ubuntu – Uma Resposta ao Terror?


Profa. Pós Dra. Edna Raquel Hogemann

Origens do terrorismo
Não há possibilidade de se fixar uma data para o surgimento na História das
primeiras ações terroristas como hoje entendemos.
O que se sabe é que o recurso ao emprego do terrorismo, no sentido de cau-
sar pavor e medo, tanto pode vir dos que se sentem oprimidos ou injustiçados
como pode originar-se daqueles que estão por cima e que, com os aparelhos
coercitivos do Estado, recorrem a ele como instrumento de intimidação.
O aspecto mais negativo da ação terrorista, de um indivíduo ou do próprio
Estado, é o enorme número de vítimas que geralmente causam, atingindo in-
discriminadamente homens, mulheres e crianças.

Exemplos históricos sobre o uso do terror no mundo:


•  Reino de Israel dominado pelos romanos (entre os séculos I a.C. e II)
Resistência aos romanos pelos zelotes, que tentavam proteger a tradição ju-
daica, e do seu setor mais radical, os sicários, que assassinavam tanto autorida-
des romanas como hebreus que colaboravam com a ocupação.
•  Oriente Médio: Palestina Síria e Egito (entre os séculos XI e XIII)
Ordem dos assassinos (de haxixe), liderada pelo Velho da Montanha,
Hassan ibn Sabbah, um muçulmano ismaelita que ordenava assassinatos con-
tra sunitas e cristãos.

Exemplos históricos sobre o uso do terror no mundo:


•  Índia sob domínio do Império Britânico (entre 1763 e 1856)
Thugs, seita de indianos que atacavam autoridades britânicas e viajantes
indianos endinheirados.
•  França durante a revolução de 1789 (particularmente entre 1793-1794)
O Reino do Terror imposto pelos jacobinos liderados por Robespierre e
Saint Just para esmagar a contra-revolução (17 mil guilhotinados e 300 mil de-
tidos ou aprisionados).

114 • capítulo 6
Exemplos históricos sobre o uso do terror no mundo:
•  Na autocracia russa (a partir da década de 1860 até 1905)
Narodniks, movimento populista que cometeu atentados e execuções visan-
do a atingir as autoridades do Czarado, como o assassinato do czar Alexandre
II, em 1881, com o objetivo de provocar a revolução social.
•  Nos sul dos EUA (pós-guerra da secessão, fundada em 1867 e reativada a
partir de 1915)
Ku Klux Klan, seita racista de brancos sulistas, que aterrorizava os negros
recém libertados (com queima de igrejas, proibição de votar, linchamentos pú-
blicos, etc.), impedindo-os de serem cidadãos de fato e de direito.

Exemplos históricos sobre o uso do terror no mundo:


•  Alemanha nazista (o Terror Pardo, entre 1933 e 1945)
O terror pardo (cor da camisa dos militantes da SA nazista) desencadeado
contra comunistas, judeus, ciganos etc., como parte da política de exclusivismo
genético e ideológico do Partido Nazista de Hitler. Foram mais de 6 milhões de
mortos, a maioria em campo de extermínio ou por fuzilamento.
•  Irlanda, Irlanda do Norte e Espanha
Na Irlanda, entre 1916 e 1920, celebrizou-se a organização Sinn Fein-IRA
que lutava contra a ocupação britânica de 600 anos. Na Irlanda do Norte, a par-
tir da de 1960 foi a vez do IRA (Irish Republican Army) lutar contra os irlandeses
protestantes apoiados pela GB. Na Espanha, alçou-se o grupo ETA (Pátria Basca
e Liberdade), ainda no tempo da ditadura de Franco, com objetivo de atingir a
independência dos países bascos espanhóis.

Exemplos históricos sobre o uso do terror no mundo:


•  Em diversas partes do Oriente Médio, estendendo-se aos EUA e Europa
Al-Qaeda (a base), organizada por Osama bin Laden em 1979 para lutar con-
tra os soviéticos no Afeganistão e, depois, contra os norte-americanos. Foram
os responsáveis pelo atentado de 11 de Setembro de 2001 nos EUA. Agem por
meio dos homens-bomba em ataques suicidas.

Responsabilidade pela propagação de atos terroristas


“Definir responsabilidades pela repressão aos atos terroristas tende a enco-
brir a necessidade de refletir sobre as causas deste fenômeno e sobre possíveis
políticas de prevenção”. (PEREIRA, 2015)

capítulo 6 • 115
Como enfrentar o problema:
É fundamental compreender as causas locais e as dinâmicas estruturais e
históricas para a ocorrência desses atos.
“O ciclo de violência que o terrorismo promove aprofunda a desestrutura-
ção dos laços políticos e sociais, sem propor soluções”.

Existe uma saída?


O terrorismo é um tipo específico de violência.
Mas, outras tantas violências fazem parte do nosso dia a dia, seja nas gran-
des cidades ou não.
Toda essa violência afronta diretamente o conjunto de direitos que con-
quistamos ao longo da história, através das sucessivas lutas e resistência contra
a opressão.
A saída é o resgate inclusivo dos Direitos Humanos.
Uma nova leitura dos Direitos Humanos.
A questão é que os Direitos Humanos, tal como tradicionalmente concebi-
dos, já revelam uma relação de conquistador/conquistado, incivilizado/civiliza-
do, vítima/salvador.

Uma Proposta - Ubuntu

CONCLUINDO
O caminho da paz requer, necessariamente, o reconhecimento do Outro e o diálogo entre as
culturas, sem o tacão da dominação ou do ódio, elementos estimuladores do terror.
Promover o cultivo do Ubuntu significa para Mandela recuperar, com todo o vigor, a inte-
ração com pares e não pares.
Em especial, investir massivamente na cultura da tolerância e da paz, sem exploração,
sem miséria, sem exclusão. Ubuntu!

ATIVIDADES
Questão do CESPE 2006. Vamos tentar resolver?

01. (CESPE 2006) Um fato lamentável, envolvendo o cenário mundial, produzido pelo terro-
rismo contemporâneo, acabou por atingir o Brasil.

116 • capítulo 6
Assinale a opção que corresponde a esse fato.
a) Rompimento das relações diplomáticas entre Brasil e EUA, haja vista que o governo
americano insistia na existência de células terroristas internacionais em Foz do Iguaçu.
b) Envio de tropas brasileiras ao Iraque, ainda que em número reduzido, para compor a
coalizão anglo-americana que invadiu aquele país árabe.
c) Fechamento das missões diplomáticas brasileiras em países muçulmanos que se recu-
saram a condenar explicitamente o terrorismo.
d) Assassinato, pela polícia britânica, em estação do metrô de Londres, de um imigrante
brasileiro, confundido com terrorista.

REFLEXÃO
Neste capítulo, você conheceu:
•  O processo de união entre a ciência e a técnica que culminou com o advento de uma so-
ciedade da tecnologia e da informação.
•  Conheceu em que medida o acesso à informação em todos os seus matizes se configura
como um direito fundamental.
•  Pôde conhecer o significado do termo sociodiversidade e como se aplica à realida-
de brasileira.
•  Conheceu a relação entre os direitos humanos e a multiculturalidade.
Filmes e vídeos recomendados:

02. IÑÁRRITU, Alejandro González. Babel. Produção de Paramount Pictures, Paramount Van-
tage, Anonymous Content, ZetaFilm, Central Films e Media Rights Capital. Direção de Alejandro
González Iñárritu. Roteiro de Guillermo Arriaga. França, EUA, México, 2006. DVD. 143 min.

03. Diversos vídeos sobre multiculturalismo, racismo e outros temas. Disponível em: <http://
multiculturalismo9a.blogspot.com.br/p/videos.html>

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ENDLICH, Ângela Maria. Perspectivas sobre o urbano e o rural. In: ENDLICH, Ângela Maria, SPOSITO,
Maria E. B. e WHITACKER, Arthur M. Cidade e campo: relações entre urbano e rural. São Paulo:
Expressão Popular, 2006. P. 11-31.

capítulo 6 • 117
FARIA, José Eduardo. Sociologia Jurídica. Direito e Conjuntura. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Comentário ao artigo 231. In: CANOTILHO, J.J. Gomes;
MENDES, Gilmar F.; SARLET, Ingo W.; STRECK, Lenio L. (Coords). Comentários à Constituição do
Brasil. São Paulo: Saraiva/Almedina, 2013. p.2149.
SOUSA SANTOS, Boaventura de Sousa. Por uma concepção multicultural de direitos humanos. In:
SOUSA SANTOS, Boaventura de (org.). Reconectar para libertar. Os caminhos do cosmopolismo
multicultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
VILLARES, Luiz Fernando. Direito e Povos Indígenas. 1. ed, (ano 2009), 2. reimpr. Curitiba: Juruá,
2013.

Capítulo 1
Sugestão de gabarito: O aluno deverá enfocar os seguintes aspectos em sua resposta:
•  funk é uma expressão da cultura das classes mais desfavorecidas que convivem nas comu-
nidades, outrora denominadas favelas.
•  representa um movimento composto por jovens pobres das comunidades, mas que já al-
cançou o asfalto.
•  revela todo um padrão de conduta, expressões, modismos que vieram para ficar no ideá-
rio social.

Capítulo 2
01. E

Capítulo 3
01. B

Capítulo 4
01. C

Capítulo 5
01. C

Capítulo 6
01. D

118 • capítulo 6
ANOTAÇÕES

capítulo 6 • 119
ANOTAÇÕES

120 • capítulo 6

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