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O USO DAS TECNOLOGIAS MÓVEIS E SEM FIO EM SALA DE AULA:

DISPOSITIVOS DE INTERATIVIDADE NA EDUCAÇÃO

1
Márcia Guterres Dias
2
Raul Maia Andrade Neves
3
Silvana F. Pereira

RESUMO

Este artigo tem por finalidade apresentar e discutir as condições


teórico-práticas da utilização de recursos tecnológicos entre professores e
alunos nos ambientes educativos. Este estudo refere-se as tecnologias móveis
e sem fio em sala de aula. A partir disto, pensamos que o uso e a
acessibilidade da tecnologia móvel e sem fio na sala de aula podem mostrar
que a possibilidade de saber comunicar e construir conhecimento está para
além do saber fazer. A inquietação da proposta refere-se a interatividade como
recurso ​pedagógico. Buscamos, basicamente, nas teorias da Ação
Comunicativa de Jurgen Habermas, na Epistemologia Interacionista de l​ev
Semenovitch ​Vygotsky e Jean Piaget e na pedagogia de Paulo Freire as bases
teóricas para interpretar, compreender e explicar esta pesquisa como
possibilidade de uma melhor interação entre o corpo docente e discente e a
construção do conhecimento.

Palavras-chave​: Tecnologia móvel. Capacitação docente. Educação​.

1
Discente do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro Universitário La
Salle-Unilasalle Canoas/RS ​mgutterres807@gmail.com
2
Discente do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro Universitário La
Salle-Unilasalle Canoas/RS ​yahaul@yahoo.com.br
3
Discente do Programa de Pós-Graduação em Educação do Centro Universitário La
Salle-Unilasalle Canoas/RS ​silvana.fpereira@gmail.com
INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, percebemos o aumento pela demanda de aquisição


das novas tecnologias móveis e sem fio tais como iphones, smartphones,
tablets e principalmente, a necessidade do uso desses dispositivos em todos
os lugares. Esta mobilidade tecnológica crescente nos leva ao seguinte
questionamento: nos tornamos reféns ou escravos de uma mídia convergente?
Rendidos à evolução e à invasão dos dispositivos móveis na vida
contemporânea, primordiais, já quase não se concebe a ideia de viver longe
deles. Na era da mobilidade, os potenciais tecnológicos podem contribuir
substancialmente para uma nova forma de aprendizagem pedagógica nos
ambientes formais e informais no campo educacional. Dentre uma das
possibilidades de formas de aprendizagem propostas, o uso das redes sociais
virtuais têm sido o foco de pesquisas na área da educação, por exemplo, o
Facebook conforme estudo de Allegretti (2012), devido às características
comunicacionais quanto à facilidade de conversação, menor distanciamento
entre professor e alunos, maior interação entre os alunos possibilitando
substituir plataformas de aprendizagem formais como a do Moodle. A
investigação do estudo se concentra no foco do ambiente virtual como um
locus privilegiado para os processos de aquisição e construção do
conhecimento. A aprendizagem em redes virtuais, vista como tendência da
atualidade pela autora, nos dá pista de que as tecnologias móveis e sem fio
podem facilitar a produção do conhecimento nos ambientes colaborativos
formados em sala de aula, intensificando o processo comunicativo e permitindo
a troca de experiências e de práxis curriculares adaptadas.
A questão da problemática quanto à incerteza do uso das tecnologias
móveis e sem fio no ambiente escolar tem atraído a atenção de pesquisadores
e interessados no assunto, tais como Oliveira e Medina (2007) que trazem
como referência que o desenvolvimento de tais objetos de aprendizagem
sempre foram um bom exemplo do emprego da tecnologia. Embora, tenham
vantagens, desvantagens e contribuições, a acessibilidade e o
compartilhamento dos conteúdos educacionais a partir dos dispositivos móveis
e sem fio, em qualquer horário e lugar, parece ser entre as vantagens, a
melhor delas. A desvantagem percebida pelos autores, dá-se no sentido das
limitações que alguns aparelhos apresentam, como o preço e recursos
tecnológicos de software. As contribuições, ocorrem no âmbito da
adaptabilidade dos conteúdos para a realização de atividades curriculares.
Em estudos recentes Marçal, Andrade e Rios (2005); Silva e Consolo
(2008); Barbosa, Roesler e Reategui (2009); Santos (2011) abordam como os
dispositivos móveis e sem fio podem atuar como agentes complementares e
facilitadores na mediação pedagógica. Mas de que maneira a aprendizagem
pode acontecer entre a tríade alunos-tecnologias móveis e sem fio-professor
em sala de aula? Encontramos em Bakhtin (2006, p. 125) o entendimento para
este questionamento:
O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro, senão
uma das formas, é verdade que das mais importantes, da interação
verbal. Mas pode-se compreender a palavra “diálogo” num sentido
amplo, isto é, não apenas como a comunicação em voz alta, de
pessoas colocadas face a face, mas toda comunicação verbal, de
qualquer tipo que seja.

Percebemos que tal fato é evidenciado no exercício do ensinar, onde o


professor estimula o desenvolvimento cognitivo dos alunos através da
transmissão de conteúdos pelos dispositivos móveis e sem fio, estabelecido
por intermédio ​da interação criada no espaço pedagógico.

1.1 As tecnologias móveis e sem fio


No intuito de conhecer a dimensão alcança da por tais tecnologias quanto
ao uso na rotina diária, o PNAD (Pesquisa Nacional por amostra de domicílios)
em análise referente à posse de telefonia móvel para uso pessoal, divulgada
pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), estimou que no Brasil
há em torno de 130.176 milhões de usuários de aparelhos eletrônicos. Ou seja,
as tecnologias móveis e sem fio possibilitam aos seres humanos de realizarem
uma necessidade que lhes é inerente: o ato de se comunicar.

1.2 Os processos de Comunicação e construção do conhecimento


A etimologia do verbo comunicar vem do latim ​communicare ​que significa
"usar em comum, partilhar". ​O ato comunicativo, refletido à luz Vigotskiana, é
postulado como função primária da linguagem, ato de se relacionar, mediar
àqueles que estão no ambiente social de convivência e aprendizagem. Sendo
assim, “a linguagem é, antes de tudo, um meio de comunicação social, de
enunciação e compreensão” (VIGOTSKI, 2001, p. 11). Neste sentido, o ato de
se comunicar, estabelece por meio do uso da linguagem, uma intencionalidade
de troca, transmissão de um contexto que foi ou está sendo vivenciado e
compreendido racionalmente e intersubjetivamente.
Para Habermas (1982, p. 7), a comunicação racional se traduz na Teoria
da Ação Comunicativa, cujo agir comunicativo, parte de um processo que
conduz ao entendimento mútuo da vida em sociedade. Desta forma, discorre o
autor:
Se entendemos o agir em geral como consistindo em dominar
situações, o conceito do agir comunicativo extrai do domínio da
situação, ao lado do aspecto teleológico da execução de um plano de
ação, o aspecto comunicativo da interpretação comum da ação,
sobretudo a formação de um consenso. (HABERMAS, 1989, p. 166)

​Orientado pela mesma lógica, a construção da ação dialógica na


comunicação aparece também fundamentada nas concepções de Bakhtin
(2006):
Não é tanto a pureza semiótica da palavra que nos interessa na
relação em questão, mas sua ubiquidade social​. ​Tanto é verdade que a
palavra penetra literalmente em todas as relações entre indivíduos, nas
relações de colaboração, nas de base ideológica, nos encontros
fortuitos da vida cotidiana, nas relações de caráter político, etc. As
palavras são tecidas a partir de uma multidão de fios ideológicos e
servem de trama a todas as relações sociais em todos os
domínios.(BAKHTIN, 2006, p. 32)

Aqui o autor ressalta a importância da palavra de estar onipresente em


todos os lugares, em todas as relações e em diferentes contextos ao mesmo
tempo.

1.3 A interatividade no ambiente​ ​pedagógico

Nas palavras de Munari (2010, p. 37), de acordo com os seus estudos


piagetianos, a inteligência parcialmente estruturada precede a linguagem,
supõe-se uma intencionalidade ligada ao poder de evocar imagens. A
construção deste conhecimento surge a partir da interação entre sujeito e
objeto, de forma dinâmica, adaptando-se à realidade de modo a poder melhor
assimilá-la.
De uma parte, o conhecimento não procede, em suas origens, nem de
um sujeito consciente de si mesmo nem de objetos já constituídos (do
ponto de vista do sujeito) que a ele se imporiam. O conhecimento
resultaria de interações que se produzem a meio caminho entre os
dois, dependendo, portanto, dos dois ao mesmo tempo, mas em
decorrência de uma indiferenciação completa e não de intercâmbio
entre formas distintas. (MUNARI, 2010, p. 132)

Para o autor, a ideologia de uma escola piagetiana se caracteriza pelo


trabalho de construção em grupo onde o aluno é convidado a experimentar
para reconstruir por si mesmo aquilo que tem de aprender. Tais atividades em
sala de aula favorecem o desenvolvimento das estruturas mentais e da
inteligência em geral, equilíbrio da afetividade e superação de limitações
individuais.
No caso do uso das tecnologias móveis e sem fio em sala de aula, o
conhecimento é construído a partir da relação de interação entre
alunos-objetos tecnológicos-professor, não residindo o conhecimento tão
somente no aluno ou professor. O conhecimento é visto como um processo em
construção com o outro naturalmente desenvolvido no ambiente pedagógico.
Em síntese, a interação não é sinônimo de um processo inerte, ele requer
participação ativa de ambas as partes.
Retomando o processo comunicativo, Habermas (1989, p. 166) fala em
papéis comunicacionais que analisados a partir de uma ideação cíclica,
percebe os atores envolvidos como socializadores e ao mesmo tempo
iniciadores enquanto dominantes das ações que experienciam e também
produtos de uma cultura que se forma nos grupos sociais aos quais pertencem,
criam ou se encontram inseridos.
Seguindo o pensamento freireano, a questão dialógica quanto ao uso dos
dispositivos em sala de aula a partir de uma realidade adaptada permite aos
educandos um exercício de autotransformação. Seguindo a lógica de Paulo
Freire na construção do conhecimento, a arte de dialogar reside no ato de
saber como perguntar, instigando curiosidades, o ato de se pensar em
respostas que gostariam de desvelar e de colocar-se diante das novas
aventuras dos saberes.
Neste caso, o aprendiz funciona muito mais como paciente da
transferência do objeto ou do conteúdo do que como sujeito crítico,
epistemologicamente curioso, que constrói o conhecimento do objeto
ou participa de sua construção. É precisamente por causa desta
habilidade de apreender a substantividade do objeto que nos é
possível reconstruir um mal aprendizado, o em que o aprendiz foi
puro paciente da transferência do conhecimento feita pelo educador.
(FREIRE, 1996, p.28)

Acompanhando o pensamento de Jurgen Habermas através da


racionalidade comunicativa e na dialógica de Paulo Freire e Jean Piaget
também pode nos oferecer pistas sobre como os professores na sua prática
pedagógica, mediar os aprendentes para que além de dominar a técnica e
construir conhecimento, possam também, através de atividades intersubjetivas
junto às tecnologias móveis e sem fio promover a cooperação dos sujeitos da
aprendizagem.
Piaget (1980) explica que ao educador é imprescindível saber fazer a
escolha pedagógica, e essa escolha requer a operação de métodos ativos.
Da mesma forma, os métodos “ativos” que são os únicos capazes de
desenvolver a personalidade intelectual, pressupõem
necessariamente a intervenção de um meio coletivo ao mesmo tempo
formador da personalidade moral e fonte de trocas intelectuais
organizadas. Não seria possível constituir, com efeito, uma atividade
intelectual verdadeira, baseada em ações experimentais e pesquisas
espontâneas, sem uma livre colaboração dos indivíduos, isto é, dos
próprios alunos entre si, e não apenas entre professor aluno.
(​PIAGET,1980, p. 61.)

Compreendemos como métodos ativos as oportunidades em que os


alunos e os professores podem dialogar, interagir, construir conhecimento
sobremaneira intersubjetiva. Neste sentido, a cooperação será a possibilidade
dos sujeitos da aprendizagem se colocarem no lugar do outro, analisando
outros pontos de vista distintos do seu na realização de uma atividade
utilizando como recurso pedagógico as tecnologias móveis e sem fio. .

CONCLUSÃO

Com o desenvolvimento tecnológico e científico no Brasil, percebemos


que as pessoas na sua maioria desenvolveram o domínio do conhecimento
técnico, principalmente os jovens, com o advento da Internet. O uso das
tecnologias móveis e sem fio não foi acompanhada totalmente pela maioria.
Compreendemos que, só o saber fazer sem ter conhecimento técnico não pode
dar conta de uma consciência dialógica humanizadora. O que se espera é que
os educandos possam utilizar as tecnologias móveis e sem fio nos ambientes
escolares de forma autônoma, ou seja, com consciência crítica, tanto quanto
saber cooperar intersubjetivamente, como teorizado na obra de Habermas.
Considerando a perspectiva interacionista de Piaget, de fato, não se aprende
uma nova experiência assistindo o professor em uma experiência solitária em
sala de aula despejando conteúdos organizados: A interação só acontece
quando discentes e docentes aprendem a experimentar juntos, explorando,
atuando e cooperando em conjunto.
REFERÊNCIAS
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virtuais: o potencial da conectividade em dois cenários. ​Revista Cet​, v. 1, n. 2,
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MARÇAL, Edgar; ANDRADE, Rossana; RIOS, Riverson. Aprendizagem


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de: Paulo Bezerra. - São Paulo: Martins Fontes, 2001.

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