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Fichamento com citações no corpo do texto

Tiago Souza de Jesus. No. 76630 – Noturno.

Referência: LIMA, Tania Andrade. Arqueologia como ação socio-política. O caso do cais do
Valongo, Rio e Janeiro, século XIX. VESTÍGIOS. Revista Latino-Americana de
Arqueologia Histórica. 2013. Vol. 7, no 1.

A autora inicia seu trabalho apresentando os motivos nos quais levou o texto apresentado.
Afirma que durante as obras no Rio para as olimpíadas de 2016, o IPHAN monitorou algumas
regiões de preservação histórica. Dentre eles a praça Jornal do Commercio, que com seu espaço
exposto e nome já remetem à imperatriz. Justifica que a preservação do cais que se encontra no
subsolo não se dá pelo fato de preservar um momento da história já lembrado, mas sim, trazer à
nossa sociedade um fato histórico esquecido, a presença dos negros africanos que desembarcavam
ali. Lembra que “suas evidências materiais foram soterradas, de modo que nada restasse ou
lembrasse esse vergonhoso capítulo da história”(p.181). Continua afirmando que as camadas mais
baixas da sociedade não participam da escolha do que deve ser lembrado pela sociedade ou não.
Neste sentido, o cais do Valongo vem como rememoração do que foi esquecido, de um dos muitos
fatos acontecido nas camadas mais baixas que foi apagado. Todavia, a arqueologia apresentará aqui
um “antídoto” contra amnésia social(181).

O cais do Valongo, em seu tempo ativo, coloca a autora, era o principal ponto de entrada das
Américas. Após a lei de 1831, afirmando que todo africano que entrasse no território seria livre,
estimulando uma baixa no tráfico, o cais foi desativado. Anos depois, em cima deste cais, foi feito o
cais “para receber a princesa das duas Sicílias, Teresa Cristina Maria de Bourbom, que chegaria no
Brasil para casar com D. Pedro II. Em 2011, foi iniciada as escavações e “foi encontrado um
fragmento de cachimbo cerâmico tradicionalmente atribuído aos escravos”(p.185). Haviam
camadas do cais que se conservaram, como por exemplo a camada mais baixa do cais. Ali,
encontraram diversos objetos brincos e cobres, anéis, pulseiras, objetos que levam a crer que as
classes mais altas estiveram ali e cachimbos de cerâmica, que como foi dito, eram atribuídos aos
escravos, miniaturas de cerâmicas de uso ritual, objetos impregnados com o pó branco que
simbolizava os mortos, o efun, nome gege-nagô, ou mpemba, designação angola. (p. 185-86).

A autora coloca que a concepção de que a arqueologia trabalha “contra a corrente” e a favor
das libertações marginais, é muito recente (p. 186). Essa afirmação trás a luz a ideia de que a
arqueologia está longe de ser uma disciplina desprendida da politica e que hoje, mais do que nunca,
trabalha com os diversos segmentos da sociedade, como a sexualidade, raça, religiosidade, gênero
(p. 187). Neste sentido, ao procurar a origem das desigualdades, nos remetemos ao passado, e é aqui
que a arqueologia entra, como afirma a Lima citanto Pinsky (1989: 95) que a arqueologia torna-se
“um locus de ação política” e um “indiscutivelmente ideológico”(p. 187), envolvendo os
marginalizados, dando voz a estes. É neste sentido que surge a importância da arqueologia no cais
de Valongo que “exala opressão, racismo, intolerância, desigualdade, e marginalidade no
limite”(p.188).

A equipe de arqueólogos, ao iniciarem os trabalhos, esperavam um público que iriam lá para


reivindicar o que é seu, no entanto, não apareceu ninguém nas primeiras semanas de trabalho. Após
um convite, muitos dos líderes de movimentos negro apareceram, e “se mostraram bastante
emocionados” (p. 189). Os grupos que ali encontraram um motivo de reivindicação da memória,
redigiram uma Carta do Valongo onde reivindicavam o local como memória dos afro-
descendentes., tornando o lugar como “seu, em primeiro lugar, por direito de descendência” (p.
193). Além dos movimentos sociais locais e nacionais, as escavações provocaram um reboliço na
imprensa internacional, tendo recebido visitas de líderes do BID, UNESCO, professores de diversas
universidades do mundo. “Essa ampla divulgação levantou o tema do racismo e da escravidão
mundo afora, despertando reflexões e consciências críticas sobre o sofrimento intenso que o seres
humanos são capazes de infligir uns aos outros, quando movidos por preconceitos raciais”(p. 195).
Abdias Nascimento foi homenageado em “sua cerimônia religiosa de sétimo dia”, colocando o local
como “lugar dos ancestrais”. Desde aí, a arqueóloga expõe que sentia que a comunidade local
estava tomando posse do local (p. 195).

A autora continua seu trabalho expondo os diversos rituais e cerimônias que ali foram feitos
em prol dessa descoberta arqueológica. Coloca que muitos religiosos se apropriaram também do
local, foi feito uma oferenda à Xangô, deus da justiça, no meio de praça, quando ainda se
descobriam o Valongo.

Lima finaliza, colocando que o lugar foi apropriado por dois tipos de grupos, os religiosos,
por descendência, e os estudiosos. Tempos atrás, a Fundação Palmares tentou transformar o Valongo
em um memorial da Escravidão. O que está posto a forma como as pessoas lidam com a memória
da dor de um passado cruel. Muitos discordaram em transformar o local em um memorial da
escravidão, inclusive o grupo de arqueólogos, afirmando que deveria ser um lugar de apropriação e
uso de todos, um espaço habitado com lembranças do passado, mas sem a lembrança do peso da
escravidão tão evidente. A autora nos mostra de forma clara como as ações arqueológicas mexem
com os locais e trazem à tona questões esquecidas, muitas vezes como no caso do Valongo, que
remetem o presente. A politica esteve intimamente ligada às questões ali descobertas, religiosidade,
etnicidade, etc. O potencial de atingir diversos segmentos da sociedade a partir de descobertas
arqueológicas está mais evidente do que nunca.

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