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À meia-noite, no cemitério...

Parado em frente ao cemitério estava eu, também fumando um cigarro naquela noite
escura, sombria e fria. Esperava uma pessoa para acertar um acordo que fizemos. O
relógio mostrava 23:00 horas. E eu ali, na solitária calada da noite. Ninguém passava
pelo local, apenas o som do silêncio se ouvia; era presente e minha companhia

De repente, por entre um beco estreito e inacessível a visão humana, eis que surge o
meu esperado. Um rapaz de pele clara, cabelos loiros beges e de olhos verdes.
Reconhecendo um ao outro, apenas nos conectamos pelo olhar. E vendo que será
inevitável não trocar uma palavra sequer, pergunto, seriamente, se trouxe o
combinado.

Um papel parecendo um pergaminho datilografado e, abaixo do texto, a linha onde


seria selado o acordo, mais conhecido como: pacto. Olho o relógio que me avisa: onze
horas e trinta minutos (23:30h). Acendo mais um cigarro, um negro, que secretamente
alguém comercializa devido sua composição especial. Aceso, vou tirando do bolso
direito do sobretudo escuro uma agulha; no entanto resolvo fazer aquilo de outra
forma.

Tendo o cigarro em mãos peço ao jovem que estenda sua mão direita para mim. Ele
o faz, mas quando vejo ser 23:40 digo que ainda não é o momento e que por isso
antes um ritual se é necessário fazer.

Adentramos ao cemitério por uma abertura irregular nos grandes portões de grades
já tomados por ervas daninhas, ocultando até sua verdadeira cor. Procuramos por um
túmulo que recentemente fora sepultado alguém. Parando diante dele, ainda com a
terra úmida e aquele cheiro de podridão, olhei fixamente ao tapete de terra ali
estendido e, não direcionando o olhar ao jovem, disse-lhe para cavar até encontrar o
defunto soterrado. Feito isso, gesticulei a próxima ação: tocá-lo, cheirá-lo e beijá-lo.
Era um velho com o corpo coberto de pelos grossos e negros. Dessa forma, mesmo
hesitando nos primeiros minutos, fez o que lhe indicara depois de mostrar-lhe um
punhal já manchado de sangue que levo comigo em um dos bolsos do sobretudo.
Vendo novamente a hora, 23:55, insinuei que rapidamente cobrisse o defunto com
terra, pois estava no momento do combinado.

Cobri-lo novamente de terra foi o tempo suficiente para o sino da capela mais
próxima soar 00:00 horas, mais conhecido como: meia-noite. Sem mais demora, tirei o
pergaminho do bolso, acendi um cigarro e com a brasa fiz sangrar o punho do jovem,
derramando seu sangue na linha pontilhada abaixa. Derramei meu sangue também e,
por fim, firmando o pacto. Olhei fundo em seus olhos e já estavam vermelhos, muito
vermelhos, feito sangue. Ele quis voltar ao túmulo que fizera o ritual. Ali ajoelhou na
frente e... pareceu cair em um sono profundo que jamais acordaria, todavia... Eu
esperei minutos e nada dele. Saí andar. Vi baratas, escorpiões, ratos e gatos. O
escuro era imenso e as poucas luzes existentes iluminavam apenas alguns lugares.
Eu também pude ver um casal nu em cima de um túmulo; eles não me viram. Então
resolvi voltar.

Ao voltar, o jovem já não estava mais lá e o mais estranho: aquele túmulo que
fizemos o tal ritual estava com as terras jogadas para fora e o defunto não se
encontrava mais lá. O cheiro de podridão era forte, imenso; mas..., nenhum sinal do
jovem.

Eu continuei no cemitério. O jovem saiu para nunca mais ser visto por alguém.

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