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Superior Tribunal de Justiça

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 6.834 - MG (2011/0058173-9)

RELATOR :
MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES
AGRAVANTE :
ESTADO DE MINAS GERAIS
PROCURADOR :
MARCELO CÁSSIO AMORIM REBOUÇAS E OUTRO(S)
AGRAVADO :
SERVIÇO AUTÔNOMO DE ÁGUA E ESGOTO DE UNAÍ - SAAE
ADVOGADA :
LUCIANA DE CASTRO MACHADO E OUTRO(S)
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. IPVA. IMUNIDADE RECÍPROCA.
AUTARQUIA. SERVIÇO PÚBLICO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO.
AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO ART. 535 DO CPC. CONTROVÉRSIA
DIRIMIDA NA INSTÂNCIA DE ORIGEM À LUZ DO DIREITO LOCAL
E FUNDAMENTAÇÃO CONSTITUCIONAL. SÚMULA 280/STF.
COMPETÊNCIA DO STF.

DECISÃO

Trata-se de agravo contra decisão que negou trânsito a recurso especial interposto em
face de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, assim
ementado (e-STJ fl. 191):

IPVA - IMUNIDADE RECÍPROCA - AUTARQUIA. A imunidade recíproca ou


intergovernamental alcança os impostos sobre o patrimônio, a renda ou serviços,
sendo extensiva às autarquias e as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços, vinculados a suas
finalidades essenciais ou às delas decorrentes.

No recurso especial, interposto com base na alínea "a" do permissivo constitucional,


o ora agravante alega violação aos artigos 165, 458 e 535 do CPC e aos artigos 9º, inciso IV,
alínea "a", e 12 do CTN. Sustenta: (i) que o Tribunal a quo foi omisso ao não se manifestar
acerca da não comprovação da utilização dos veículos na atividade-fim da recorrida; (ii) que a
extensão da imunidade tributária do IPVA às autarquias não é direta e imediata, dependendo
do atendimento de alguns requisitos, vale dizer, da vinculação do patrimônio, da renda e dos
serviços às finalidades essenciais e, constitucionalmente, pela impossibilidade de recebimento
de contraprestação ou pagamento de tarifa ou preço pelo usuário (fls. 238/239).
É o relatório. Passo a decidir.
Primeiramente, não viola o artigo 535 do CPC, tampouco nega prestação
jurisdicional, acórdão que, mesmo sem ter examinado os argumentos trazidos pelo vencido,
adota fundamentação suficiente para decidir de modo integral a controvérsia, conforme
ocorreu no caso em exame.
Quanto ao mérito, o recurso não merece melhor sorte.
Dessume-se do exame dos autos que a controvérsia foi essencialmente dirimida à luz
da interpretação dada ao art. 1º da Lei Municipal nº 604/67, bem como ao artigo 150, inciso
VI, alínea "a", §§2º e 3º, da Constituição Federal. Em outras palavras, o Tribunal de origem,
sob a ótica da legislação local e de dispositivos constitucionais, decidiu pela imunidade do
recorrido em relação ao IPVA sobre os veículos descritos na inicial.
No que diz respeito ao primeiro aspecto, mostra-se descabida a revisão de tal
Documento: 15891231 - Despacho / Decisão - Site certificado - DJe: 08/06/2011 Página 1 de 2
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entendimento, em virtude da incidência, por analogia, do enunciado da Súmula 280/STF: "Por
ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário".
Quanto à fundamentação constitucional, é defeso ao STJ a apreciação de eventual
ofensa, cabendo, tão-somente, ao STF o seu exame.
Ademais, mesmo que superados tais óbices, o Supremo Tribunal Federal assentou
que a imunidade tributária recíproca dos entes políticos, prevista no art. 150, inciso VI, alínea
a, da Constituição da República, é extensiva às autarquias, “no que se refere ao patrimônio, à
renda e aos serviços vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes” (RE
203.839, Rel. Min. Carlos Velloso, Plenário, DJ 2.5.1997).
Ocorre que, nessa linha de entendimento, a Corte Suprema consignou que quando há
a prestação exclusiva de serviço público essencial, no caso, fornecimento de água e
tratamento de esgoto, por ente da Administração Pública Indireta (autarquia), que não
distribui lucro nem desempenha atividade econômica, cabível a imunidade recíproca.
Nesse sentido:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE RECÍPROCA.


AUTARQUIA. SERVIÇO PÚBLICO DE ÁGUA E ESGOTAMENTO.
ATIVIDADE REMUNERADA POR CONTRAPRESTAÇÃO.
APLICABILIDADE. ART, 150, §3º DA CONSTITUIÇÃO. PROCESSUAL
CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL.
1. Definem o alcance da imunidade tributária recíproca sua vocação para servir
como salvaguarda do pacto federativo, para evitar pressões políticas entre entes
federados ou para desonerar atividades desprovidas de presunção de riqueza.
2. É aplicável a imunidade tributária recíproca às autarquias e empresas públicas
que prestem inequívoco serviço público, desde que, entre outros requisitos
constitucionais e legais não distribuam lucros ou resultados direta ou
indiretamente a particulares, ou tenham por objetivo principal conceder acréscimo
patrimonial ao poder público (ausência de capacidade contributiva) e não
desempenhem atividade econômica, de modo a conferir vantagem não extensível
às empresas privadas (livre iniciativa e concorrência).
3. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto é imune à tributação por impostos (art.
150, VI, a e §§ 2º e 3º da Constituição). A cobrança de tarifas, isoladamente
considerada, não altera a conclusão. Agravo regimental conhecido, mas ao qual se
nega provimento. (RE 399.307-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, Segunda
Turma, Dje 30.4.2010).

Dessa orientação não divergiu o acórdão recorrido.


Pelas razões expostas, NEGO PROVIMENTO agravo.
Publique-se. Intimem-se.
Brasília (DF), 06 de junho de 2011.

MINISTRO MAURO CAMPBELL MARQUES


Relator

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