Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Ele não estava sendo impertinente. Ele não tinha nenhuma obrigação legal de
testemunhar contra si mesmo, particularmente antes que qualquer acusação fosse feita
contra ele. Anás teria que declarar as acusações contra Jesus antes de interrogá-lo numa
audiência desse tipo. Visto que nenhuma acusação especifica tinha sido feita contra ele,
não era obrigação de Jesus fornecer a Anás qualquer tipo de informação que ele poderia
usar para incriminá-lo posteriormente. Anás, é claro, sabia disso.
Todavia, diante de sua resposta Jesus foi esbofeteado por um dos guardas, talves
essa atitude tenha decorrido para encobrir o embaraço do Sumo Sacerdote ou para
provocar Jesus, tentando a fazê-lo dar uma resposta colérica que poderia ser usada
contra ele.
Se Jesus tinha dito uma blasfêmia ou tinha tentado fomentar uma revolução, era
responsabilidades dos acusadores dele oferecer um relato detalhado e prova do seu mau
procedimento. Se eles, não tivessem nenhum conhecimento de algum crime de que ele
poderia ser acusado, eles não teriam o direito de prendê-lo, muito menos bater nele.
Diante desses fatos, Anás finalmente o amarrou e o enviou para a casa de Caifás,
onde os membros do Sinédrio já haviam se reunido para o julgamento. O fato de que
acusações formais ainda não haviam sido feitas contra Jesus provavelmente era um
embaraço e seguramente uma frustração para o conselho, mas definitivamente não era
nenhum impedimento aos planos deles. Eles já tinham uma conspiração de testemunhas
falsas que estavam preparadas para testemunhar contra Jesus.
Destarte, não obstante a estas considerações imediatas, convém admitir que
foram cometidas, desde o primeiro momento, inúmeras irregularidades procedimentais
no julgamento de Cristo, mesmo levando-se em consideração a incipiente noção
processualista hebraica. Outrossim, cuidaremos de elencar algumas delas:
a. A prisão de Cristo não poderia ter sido efetuada durante a noite,
principalmente, porque era a época da celebração da Pessach – a mais importante
festividade do calendário judaico.
b. O interrogatório não poderia ter sido conduzido fora das dependências do
Sinédrio. Os textos dos Evangelhos, por sua vez, ratificam com muita ênfase, o fato de
que as acusações contra Jesus foram formalizadas na casa de Anás, sogro do sumo
sacerdote. Lá igualmente, procedeu-se a oitiva das primeiras testemunhas. Todavia,
deve-se observar que é exatamente nesse contexto, que ocorreram as primeiras
agressões contra o réu.
c. Não era a praxe a realização de julgamentos e audiências a noite, bem como,
nos Shabatts e dias festivos. Vale dizer, neste ínterim, que a sentença foi pronunciada
sumariamente pelo Sumo Sacerdote, logo na alvorada, quiçá, para disfarçar as inúmeras
irregularidades procedimentais ocorridas naquela longa madrugada.
d. O direito ao amplo exercício de defesa oral, que deveria ser concedido a Jesus,
foi inexplicavelmente tolhido. A condução do interrogatório demonstra que o réu já se
encontrava condenado por antecipação. A parcialidade da alta cúpula do Sinédrio
constitui-se fio condutor que orienta os procedimentos que, na ocasião, foram adotados.
Não houve em nenhum momento, qualquer consideração a presunção de inocência de
Jesus de Nazaré.
e. Jesus foi prontamente sentenciado a morte pelas autoridades do colegiado
judaico. No entanto, sabe-se que o Sinédrio não tinha competência para aplicar a pena
capital. Essa era uma prerrogativa inerente a jurisdição romana.