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Considerações iniciais
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Estudo produzido em 2017 pelo professor dr. Yuri Simonini.
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Aluno de graduação de Licenciatura em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
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Aluna de graduação de Licenciatura em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
terra, os homens e os sonhos: A cidade de Natal no inicio do século XX presente na
obra Uma Cidade Sã e Bela de organização da mesma; e Eloy de Souza em Calçamento
da Cidade, publicado pelo jornal A República de 1944, Devastação Criminosa4, como
também, os artigos publicados na série Economia das Sêcas, pelo jornal A Ordem entre
1951 e 1952, escolhemos tratar de três: Florestas e Dunas (24 de setembro de 1951),
Fixação das Dunas (26 de setembro de 1951) e As Dunas (28 de setembro de 1951).
Artigos estes pertinentes ao tema aqui proposto.
A cidade do Natal é conhecida atualmente por suas belezas naturais, formada por
grandiosas paisagens representadas em diversos pontos turísticos que se tornaram
atrativos e a colocaram na lista das mais procuradas por turistas dentre as cidades
brasileiras. A atividade turística é apontada como uma das principais responsáveis por
movimentar a economia da capital potiguar. Porém, por volta dos séculos XIX e XX,
Natal sofreu com um isolamento causado por sua localização geográfica, cercada por
dunas, e enfrentava dificuldades com o acesso aos demais municípios vizinhos.
A cidade do Natal foi construída sobre dunas móveis, com morros que
se deslocavam conforme a ação do vento e por essa razão ficou
isolada do restante do Estado desde a sua fundação, durante quase
trezentos anos, uma vez que não dispunha de conhecimentos técnicos
para construir estradas sobre dunas. Restando à cidade apenas uma
“picada” sobre o terreno úmido à margem do rio Potengi como a única
ligação da capital com o interior, além do uso de embarcações que por
ele circulavam. (OLIVEIRA, 2005, p. 4)
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Esse artigo foi encontrado no endereço eletrônico: https://blogeloydesouza.blogspot.com.br/, datado
de dezembro de 2006, que contém textos e imagens do acervo pessoal de Eloy de Souza, organizado
pela jornalista Rejane Cardoso.
comparada com localidades próximas que conseguiam se desenvolver com mais
eficiência, produzindo e comercializando com o interior, fortalecendo seus comércios,
enquanto Natal estava perdendo seu protagonismo de capital.
Nas análises realizadas a partir da visão aérea da cidade, que foram registradas
em relatório assinado pelo Escritório, apontaram características fisiográficas de Natal,
tendo como uma das particularidades do seu relevo o cordão de dunas que garantiam
aspecto salubre a localidade em razão da delimitação dos arredores da cidade, locais
quase sempre abandonados e/ou mal cuidados. Ferreira et. al. explica (2008, p. 147) que
as dunas foram apontadas como de suma importância para o equilíbrio
ambiental da cidade, ressaltando a riqueza da qualidade e quantidade
da água disponível no lençol profundo nelas situado, cuja captação
consistiria na principal fonte do abastecimento da cidade.
O local onde hoje situa-se o Parque das Dunas, foi considerado o lugar mais
apropriado para a captação subterrânea no quesito abundância e qualidade da água e foi
onde o principal volume de água pôde ser obtido. A área foi dividida em duas zonas, A
e B, e em cada uma delas foram perfurados oito poços tubulares. Nas duas zonas a
elevação era obtida por meio de bombas turbinas de poço. A água que era capitada nas
dunas era conduzida a um dos reservatórios de abastecimento, mais precisamente o
reservatório R3.
Nesse momento Souza (1944, s.p.) expõe sua ideia de que a inexistência de
pavimentação nas ruas dos bairros de Petrópolis e do Tirol causava, em determinado
período do ano em que os ventos aumentavam e se tornavam mais imperiosos, a
canalização das areias dos morros nas ruas e avenidas destes bairros, aumentando assim
a quantidade de sedimentos e dificultando a vivência dos moradores.
Além de todos esses prejuízos a areia que se acumulava nas vias urbanas dificultava a
marcha dos pedestres e cansava os velhos que nem sempre encontravam um veículo
para que os poupasse de tão dificultoso trajeto. Na época invernosa, essa mesma
avalanche era arrastada para a parte mais baixa da cidade, favorecendo as inundações
por causa do seu acúmulo nos bueiros o que constituía muitas vezes graves dificuldades
não só ao trânsito, mas também agravava a prefeitura com despesas vitais ao
escoamento das águas, portanto, as dunas desempenhavam, por vezes, um papel
dispendioso à sociedade de uma maneira geral, desde os moradores, das mais diversas
camadas sociais, até os dirigentes locais.
A devastação florestal não foi aqui tão extensa quanto terá sido em
outros Estados [...] Grande ou pequena ela não deixou de ser
criminosa, não porque a floresta possa influir na formação e queda das
chuvas, mas pela infiltração com que atua retendo as águas pluviais e
encaminhado-as para o sub-solo.
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Em nossas pesquisas não conseguimos identificar que bairro seria esse, pois, não é mencionado nos
mapas da cidade da época e tampouco atualmente.
O autor cita sua viagem ao Egito e as experimentações de bloqueio do avanço das areias
no Canal de Suez, localizado em região desértica, com a utilização de cercas e muros.
Por fim, Souza (1951, p.4) explica que “os elementos que permitiram vencer as dunas
nas areias dos desertos africanos e australianos não são sempre os mesmos”, ou seja,
que o enfrentamento as dunas da cidade de Natal deve ser buscado por meio da
experimentação árdua, sem a simples imitação de outros casos.
Souza (1951), também, alerta os poderes públicos se caso a devastação florestal das
dunas continue e prevê a estes poderes uma calamidade a médio e longo prazo com
sérias consequências as futuras gerações, além de indicar como partícipes do
desflorestamento dos morros os machados dos lenhadores, o fogo dos carvoeiros e as
patas dos bovinos, que a cada ano tornavam as dunas mais calvas e propícias ao
empobrecimento dos lençóis aquíferos, única fonte de abastecimento da cidade;
considera como fato concreto o aumento da população que terá a necessidade cada vez
maior de água para beber e para o uso doméstico, e indaga onde a população iria buscar
água em quantidade e qualidade sadias e agradáveis ao paladar, sua resposta reside
apenas nas águas do subsolo dunar, ao que se supunha, eram preservadas dos germes
nocivos à saúde e sua utilização garantiria uma economia monetária.
Considerações finais
Quando nos deparamos com a questão da presença das dunas na paisagem da
capital do Rio Grande do Norte, e analisamos a partir de perspectivas individuais, sendo
essas opiniões presentes na historiografia do estado, concluímos que a forma de
interpretar a existência e influência desses morros de areia podem ser modificadas a
partir de análises que consideram outros pontos de vistas.
Nos escritos nesse presente trabalho analisados, as dunas são descritas de formas
distintas. Manual Dantas as relata como um perigo iminente, pontua a urgência na
construção de novas vias de acesso e expõe seu projeto futurístico para a cidade; já
Raimundo Arrais, explana sobre as desvantagem econômicos relacionadas a localização
geográfica e pelo isolamento por elas causadas a localidade; Ângela Lúcia Ferreira
relaciona as dunas com a questão do abastecimento hídrico; e Eloy de Souza as descreve
como uma fonte de inconvenientes, afetando não só as casas, bem como a saúde da
população.
FERREIRA, Angela Lúcia et. al. A terra, os homens e os sonhos: A cidade de Natal no
inicio do século XX. In:______. Uma cidade sã e bela: a trajetória do saneamento de
Natal - 1850 a 1969. Natal: Editoras IAB-RN e CREA, 2008.
MOURA, Danieli Veleda. A importância das dunas costeiras e o caso das dunas no
balneário Cassino (RIO GRANDE-RS). 2009. Disponivel
em: https://www.webartigos.com/artigos/a-importancia-das-dunas-costeiras-e-o-caso-
das-dunas-no-balneario-cassino-rio-grande-rs/20969#ixzz502MYG4mL. Acesso em: 04
de dez. 2017.
SOUZA, Eloy de. Calçamento da cidade. Jornal A República, 1944. Disponivel em:
https://blogeloydesouza.blogspot.com.br/. Acesso em: 30 de nov. 2017.
______. As Dunas. In: Economia das Sêcas. Jornal A Ordem, 1951. Disponível em:
http://www.bczm.ufrn.br/jornais/A%20ORDEM/1951/00000ED5.004%20-
%20A%20ORDEM%20ano16,%20n.4696,%2028set.1951,p.4.png. Acesso em: 30 de
nov. 2017.
______. Fixação das Dunas. In: Economia das Sêcas. Jornal A Ordem, 1951.
Disponível em:
http://www.bczm.ufrn.br/jornais/A%20ORDEM/1951/00000ED3.004%20-
%20A%20ORDEM%20ano16,%20n.4694,%2026set.1951,p.4.png. Acesso em: 30 de
nov. 2017.
______. Florestas e Dunas. In: Economia das Sêcas. Jornal A Ordem, 1951. Disponível
em: http://www.bczm.ufrn.br/jornais/A%20ORDEM/1951/00000ED1.004%20-
%20A%20ORDEM%20ano16,%20n.4692,%2024set.1951,p.4.png. Acesso em: 30 de
nov. 2017.