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possibilidade de
desenvolvimento
Brasília, 2013
© 2013 Fundação Vale.
Todos os direitos reservados.
ISBN: 978-85-7652-161-7
Esta publicação tem a cooperação da UNESCO no âmbito do projeto 570BRZ3002, Formando Capacidades e Promovendo
o Desenvolvimento Territorial Integrado, o qual tem o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de
jovens e comunidades.
Os autores são responsáveis pela escolha e apresentação dos fatos contidos neste livro, bem como pelas opiniões nele
expressas, que não são necessariamente as da UNESCO, nem comprometem a Organização. As indicações de nomes e a
apresentação do material ao longo desta publicação não implicam a manifestação de qualquer opinião por parte da
UNESCO a respeito da condição jurídica de qualquer país, território, cidade, região ou de suas autoridades, tampouco da
delimitação de suas fronteiras ou limites.
Esclarecimento: a UNESCO mantém, no cerne de suas prioridades, a promoção da igualdade de gênero, em todas suas ati-
vidades e ações. Devido à especificidade da língua portuguesa, adotam-se, nesta publicação, os termos no gênero mas-
culino, para facilitar a leitura, considerando as inúmeras menções ao longo do texto. Assim, embora alguns termos sejam
grafados no masculino, eles referem-se igualmente ao gênero feminino.
O esporte como
possibilidade de
desenvolvimento
Sumário
Prefácio ............................................................................................................................................... 7
1. Introdução ...................................................................................................................................... 8
2. Caracterização do esporte ........................................................................................................... 9
3. Princípios da pedagogia do esporte ......................................................................................... 15
4. Considerações finais ..................................................................................................................... 26
Bibliografia ......................................................................................................................................... 28
Prefácio
O Programa de Esportes da Fundação Vale, intitulado Brasil Vale Ouro, busca promover o esporte como um
fator de inclusão social de crianças e adolescentes, incentivando a formação cidadã, o desenvolvimento
humano e a disseminação de uma cultura esportiva nas comunidades. O reconhecimento do direito e a
garantia do acesso da população à prática esportiva fazem do Programa Brasil Vale Ouro uma oportunidade,
muitas vezes ímpar, de vivência, de iniciação e de aprimoramento esportivo.
É com o objetivo de garantir a qualidade das atividades esportivas oferecidas que a Fundação Vale realiza a
formação continuada dos profissionais envolvidos no Programa, de maneira que os educadores sintam-se
cada vez mais seguros para proporcionar experiências significativas ao desenvolvimento integral das crianças
e dos adolescentes. O objetivo deste material pedagógico consiste em orientar esses profissionais para a
abordagem de temáticas consideradas essenciais à prática do esporte. Nesse sentido, esta série colabora
para a construção de padrões conceituais, operacionais e metodológicos que orientem a prática pedagógica
dos profissionais do Programa, onde quer que se encontrem.
Este caderno, intitulado “O esporte como possibilidade de desenvolvimento”, integra a Série Esporte da
Fundação Vale, composta por 12 publicações que fundamentam a prática pedagógica do Programa, assim
como registram e sistematizam a experiência acumulada nos últimos quatro anos, no documento da “Proposta
pedagógica” do Brasil Vale Ouro.
Composta de informações e temas escolhidos para respaldar o Programa Brasil Vale Ouro, a Série Esporte da
Fundação Vale foi elaborada no contexto do acordo de cooperação assinado entre a Fundação Vale e a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) no Brasil. A série contou
com a participação e o envolvimento de mais de 50 especialistas da área do esporte, entre autores, revisores 7
técnicos e organizadores, o que enriqueceu o material, refletindo o conhecimento e a experiência vivenciada
por cada um e pelo conjunto das diferenças identificadas.
Portanto, tão rica quanto os conceitos apresentados neste caderno será a capacidade dos profissionais,
especialistas, formadores e supervisores do Programa, que atuam nos territórios, de recriar a dimensão
proposta com base nas suas próprias realidades.
Cabe destacar que a Fundação Vale não pretende esgotar o assunto pertinente a cada um dos cadernos,
mas sim permitir aos leitores e curiosos que explorem e se aprofundem nas temáticas abordadas, por meio
da bibliografia apresentada, bem como por meio do processo de capacitação e de formação continuada,
orientado pelas assessorias especializadas de esporte. Em complemento a esse processo, pretende-se permitir
a aplicação das competências, dos conteúdos e dos conhecimentos abordados no âmbito dos cadernos por
meio de supervisão especializada, oferecida mensalmente.
Ao apresentar esta coletânea, a Fundação Vale e a UNESCO esperam auxiliar e engajar os profissionais de
esporte em uma proposta educativa que estimule a reflexão sobre a prática esportiva e colabore para que as
vivências, independentemente da modalidade esportiva, favoreçam a qualidade de vida e o bem-estar social.
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Na tentativa de superar as dificuldades do processo de teorização da educação física e do esporte, Tubino assumiu
o desafio de propor uma nova epistemologia para as atividades físicas, inter-relacionando a educação física e o
fenômeno do esporte em uma proposta maior de cultura física, que somente foi possível a partir do pressuposto
do direito à educação física e ao esporte (TUBINO, 2002, p. 59-60), e apresentando em detalhes a chamada teoria do
direito à educação física e ao esporte (TUBINO, 2002, cap. 3, p. 62-67).
Fonte: TUBINO, 2002, p. 65; TUBINO, 2006, p. 112; TUBINO, 2010, p. 43.
A crítica tecida pelos redatores dos documentos da III CNE também recai sobre um
posicionamento que contrapõe as ideias de competitividade e educação na dimensão
do esporte educacional. Dito de outro modo, tem-se a impressão de que as situações
competitivas no esporte não são dignas da prática educativa, pois é enfatizado que a
competição seria, de um lado, um
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O sujeito heterônomo, do ponto de vista moral, obedece a regras impostas pelo mundo exterior, enquanto o sujeito
autônomo obedece àquilo que sabe ser o melhor para si e para o mundo.
O trecho acima demonstra o papel do professor de educação física que, com base na
proposta pedagógica do programa, bem como nos pressupostos orientadores de sua
prática didático-pedagógica, deve considerar as tensões implícitas no esporte e
trabalhá-las tendo em vista o desenvolvimento humano, independentemente da
manifestação ou dimensão esportiva priorizada.
Diante disso, corrobora-se com o posicionamento de Korsakas e Rose Jr. (2002) de que,
“se qualquer manifestação do esporte educa, a questão a ser respondida é em que
direção se deseja educar e, consequentemente, qual pedagogia é a mais adequada”.
Assim, não se pode desconsiderar a preocupação de exercer uma prática pedagógica
coerente com os princípios norteadores do Programa, explícitos no documento sobre
a proposta pedagógica (BRASIL, 2009).
Considerando essa discussão introdutória, destaca-se que a principal preocupação da
gestão do Programa deve estar em entender melhor e de forma mais abrangente o
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esporte, para que se possa balizar intervenções respaldadas e pautadas na sua prática.
As tensões observadas entre rendimento e educação revelam que não é possível
separar essas duas características do fenômeno esportivo. Aliás, deve-se reiterar, de
fato, essas “separações”.
Sobre esse ponto, cabe destacar que a fragmentação é uma categoria do raciocínio
cartesiano – de René Descartes, filósofo francês que viveu nos séculos XVI e XVII – que
separa as partes de um fenômeno para melhor compreender o todo, decompondo as
relações que constituem sua complexidade. Deve-se avançar nesse raciocínio e
compreender que as relações entre rendimento, lazer e educação são imbricadas de tal
modo que sempre se poderá observar uma prática educativa no âmbito do esporte de
rendimento, certa noção de desempenho no esporte de participação e, por fim – mas
sem querer esgotar essa teia de relações –, lazer e rendimento no esporte educacional.
Segundo o documento da “Proposta pedagógica” do Programa Brasil Vale Ouro
(FUNDAÇÃO VALE, 2013), o esporte tem o potencial de construção de práticas e
vivências de grande impacto sobre a formação dos valores de crianças e adolescentes.
Destaca-se ainda que, para que esse potencial possa ser concretizado, é preciso que
exista clareza conceitual sobre o que se deseja atingir por meio das práticas esportivas.
Isso posto, cabe agora delinear e detalhar mais precisamente as concepções que
orientam a pedagogia do esporte, permeada pelas discussões e pelas abordagens
tratadas anteriormente. No tópico seguinte, destacam-se os princípios pedagógicos
que norteiam as práticas esportivas, com ênfase na formação humana e no esporte
René Descartes
(1596-1650) dentro de uma perspectiva ampla e educacional, com vistas ao desenvolvimento humano.
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Como afirmaram Tubino e Silva (2006), não é a simples prática do esporte que resultará
nos “milagres” da conquista da paz, da inclusão social, da promoção da saúde, do
fomento à educação e à compreensão desse fenômeno (esporte). Da mesma maneira,
7
Esses objetivos estão relacionados no documento “Proposta pedagógica de esporte: Brasil Vale Ouro”
(FUNDAÇÃO VALE, 2013).
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Corresponsabilidade (prefixo co = em conjunto) social é a capacidade do ser humano de compartilhar
responsabilidades entre dois ou mais atores envolvidos em uma situação ou contexto a ser vivenciado.
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O conceito de capital social utilizado aqui segue a teoria de Coleman referenciadas nas obras de Robert Putnam
(1993, 2000). A ênfase está no encontro presencial das pessoas e nas ações de fortalecimento dos elos de confiança,
de cooperação e de reciprocidade entre os indivíduos.
Figura 1.
Assim, nas assertivas acima, pode-se substituir o termo futebol por esporte, que o
significado permanecerá o mesmo. Segue-se adiante com base nesse entendimento,
com o intuito de ampliar e de justificar cada uma dessas assertivas.
Na medida em que se propõe ensinar o esporte a todos, toma-se como base a reflexão
de Freire (2003) com relação ao que ele chama de pedagogia da rua. A rua, literalmente
sem a mediação de um mestre, foi e ainda é um espaço de diversas aprendizagens
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Ronaldo Luís Nazário de Lima, mais conhecido como Ronaldo “Fenômeno” ou ainda “Ronaldinho” (Rio de Janeiro,
22 de setembro de 1976), é um ex-futebolista brasileiro que atuava como atacante. Maior artilheiro na história das
Copas do Mundo (com 15 gols), eleito três vezes o melhor do mundo pela FIFA, Ronaldo foi revelado pelo Cruzeiro
(MG), em 1993, e transferiu-se para o PSV (Holanda), em 1994 (Informações disponíveis em sites de esporte como:
<http://esporte.ig.com.br/futebol/ronaldo/l1237863664000.html>).
o esporte ensinado deveria contribuir para além do aprendizado dos gestos esportivos,
do bom posicionamento, do conhecimento das regras, para que a criança se
descobrisse, transpusesse limites, aprendesse cooperação e conquistasse autonomia
(SANTANA; REIS, 2006).
jamais poderá ser um ato solitário, pois somente ‘somos na medida em que os outros
também são’, o que inevitavelmente gera a necessidade de selar um compromisso
solidário com os outros homens em busca da libertação e transformação da realidade
desumanizadora. Aprender criticamente é, em suma, formar a autonomia. Não é um estado
de apropriar-se do conhecimento do professor, mas um ato de formação e de interação
da própria capacidade cognitiva do indivíduo com o meio (GEREZ et al., 2007, p. 228).
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