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Ideias Psicossociais no
Século XIX
Núcleo de Educação a Distância
www.unigranrio.com.br
Rua Prof. José de Souza Herdy, 1.160
25 de Agosto – Duque de Caxias - RJ
Reitor
Arody Cordeiro Herdy
1ª Edição
Produção: Gerência de Desenho Educacional - NEAD Desenvolvimento do material: Patricia Castro de Oliveira
e Silva
4 Psicologia Social
Objetivo
Compreender o surgimento das teorizações sobre sociedade moderna
e os processos psicossociais.
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1. As Primeiras Teorizações sobre a Formação das
Cidades e Novos Modos de Produção
A literatura aponta que o termo Psicologia Social foi usado pela
primeira vez no século XX, sendo registrado no ano de 1908, com a
publicação de dois livros nos Estados Unidos (MACDOUGALL, 1908;
ROSS, 1908 apud FARR, 1999) que se tornaram referência para área em seus
primórdios. Historiadores também identificam a consolidação da Psicologia
Social enquanto ciência, em especial no século XX no período pós-guerra
(FARR, 1999; TORRES, NEIVA, 2011). No entanto, ainda no século XIX,
surgiu uma produção importante que se dedicou a analisar os fenômenos
indivíduo-sociedade com maior rigor científico. As contribuições para
pensar as relações entre indivíduo e sociedade vinham de diferentes áreas
do conhecimento, entre elas, Filosofia, Antropologia, Biologia, Psicologia e
Sociologia (TORRES; NEIVA, 2011).
6 Psicologia Social
▪▪ A concentração da produção de bens no sistema econômico fabril,
ou seja, na fábrica.
▪▪ “Cidadãos”, como nova categoria populacional política de pessoas
livres e com direitos iguais perante a um Estado-nação.
Curiosidade
A Revolução Industrial, ocorrida entre 1760 e em torno de 1840, diz respeito ao processo de
passagem do sistema artesanal de produção para o sistema industrial que se estendeu desde
a segunda metade do século XVIII até o século XX. Ocorreu em três fases, sendo a Inglaterra
a pioneira no processo de invenção e uso de novas tecnologias nos meios de transportes
como trens e navios impulsionados a vapor. Essa fase foi marcada pela exploração da mão
de obra trabalhadora que recebia baixos salários, trabalhavam em péssimas condições e
não tinham qualquer direito trabalhista, houve utilização de mão de obra infantil e feminina
com salários ainda menores que os homens. Tudo isso acaba provoca uma série de greves e
movimentos organizados de trabalhadores e trabalhadoras que denunciavam essas condições
e buscavam melhores condições de trabalho.
Psicologia Social 7
Já a Terceira Revolução Industrial teve início a partir de 1950 e se
estende até a atualidade. Nesse período, ocorreu um grande avanço da ciência,
da tecnologia, da informática, da robótica e da eletrônica. Além disso, vimos
surgir elementos da modernidade, como o computador, a rede de internet e
dispositivos móveis que marcam definitivamente a história da humanidade,
nas relações tempo-espaço, relações sociais, acesso ao conhecimento, dentre
outros. Esse é um momento de consolidação e expansão do sistema capitalista.
O processo de globalização também marcou essa fase como importante fator
de incremento da produção e das relações comerciais entre diversos países do
mundo, proporcionando também um processo de massificação dos produtos,
sobretudo na área da tecnologia.
Glossário
Os movimentos e processos
da chamada “dupla revolução” são Subjetividade diz respeito a um processo de
fundantes do mundo moderno, tendo produção de modos de existências, ou seja, formas
modificado os estilos de vida, práticas de agir, de sentir, de dizer e estar no mundo. Um
cotidianas, cultura das populações, processo de produção que tem a si mesmo, o
processos de subjetivação, além sujeito, como processo e produto. Processo de criar
das mudanças na forma, ritmo e a si mesmo enquanto produto de um jogo de forças
organização do mundo do trabalho. de várias outras subjetividades e atravessamentos
Os trabalhadores rurais foram da vida cotidiana. Félix Guattari, no final do anos
expulsos de suas terras ainda nos 1970, propôs o pensamento em relação à produção
primeiros momentos da Revolução das subjetividades como processo e produto do
Industrial, o que forçou sua ida para Capitalismo Mundial Integrado (CMI). Isto é, um
as cidades em busca de trabalho, sistema econômico integrado mundialmente, com
contribuindo para um crescimento caráter neoliberal de supressão de direitos e Estado
urbano acelerado e desorganizado. mínimo que, na atualidade, forja as subjetividades.
Curiosidade
A Revolução Francesa ocorreu entre 1789 a 1799, tendo como resultado a derrubada da
monarquia absolutista e dos privilégios feudais, religiosos e aristocráticos. Nesse contexto, foi
instituída entre 1789 a 1791, a Assembleia Constituinte que aprova a Declaração Universal
dos Direitos do Homem e Cidadão. Durante a Revolução Francesa a palavra cidadão era
utilizada em uma referência à igualdade de todos, ratificando a inexistência das categorias
nobres e plebeus, livres e escravos. Todos eram cidadãos vinculados a um Estado-Nação:
cidadãos franceses, ingleses, alemães etc.
8 Psicologia Social
Importante observar, no entanto, que nesse mesmo período houve a proposição por
Olympe de Gouges da Declaração Universal dos Direitos da Mulher e Cidadã. Essa
proposição não apenas não foi aprovada, como a Olympe de Gouges foi executada,
demonstrando que, ainda que a Monarquia tivesse sido derrubada, os privilégios de
determinadas categorias de pessoas sobre outras ainda era uma realidade, como dos
homens cidadãos sobre as mulheres cidadãs.
Psicologia Social 9
vista como uma sociedade irracional, era um dos principais objetivos da
emergente burguesia. Nesse contexto, a perspectiva de um indivíduo, no
sentido de uma sociedade individualista e racional foi associada à perspectiva
de um crescimento econômico incessante. O que conta nessa nova sociedade,
não é mais o nascimento, seu lugar original de pertencimento na hierarquia,
em muito fundamentada na religião, mas como o indivíduo racional vai
se colocar na nova dinâmica social. O desejo de compreensão e explicação
desses fenômenos de aglomeração das pessoas, percebido como massas que
se desenvolveram no processo de urbanização promovido pela implantação e
expansão do capitalismo, moveu as primeiras teorizações psicossociais, como
veremos a seguir.
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de obra, ao mesmo tempo em que surge o indivíduo racional como capaz de
se sobrepor e superar todas as adversidades para encontrar seu lugar no novo
cenário social a partir de si mesmo, de sua individualidade. Os estudos sobre
as massas surgiram no século XIX nesse contexto socioeconômico e cultural
e tem como principais expoentes desse momento as contribuições de Gustave
Le Bon e Gabriel Tarde .
Psicologia Social 11
As primeiras produções nacionais da Psicologia Social sob influência
da obra de Le Bon tinham como objetivo a compreensão das multidões e
seu controle, buscando através entender as características e o papel do líder a
partir de um referencial psicológico, ainda estigmatizante e patologizante das
massas. Em uma nota de rodapé da sua obra Psicologia da evolução dos povos,
falando sobre a miscigenação, Le Bon se refere ao Brasil da seguinte forma:
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de tipos de comportamentos coletivos, dando destaque aos “tumultos
urbanos”, e em obras mais recentes como Canetti (1995 apud JESUS, 2013)
e Surowiecki (2004 apud JESUS, 2013) que em seus trabalhos postulam a
natureza racional das multidões, propondo que estas caracterizam-se por
regularidade, cooperação, inibição de conflito e adaptação.
Psicologia Social 13
Suas postulações deixam claro que o povo é entendido como
desprovido de capacidade crítica, de consciência e de desenvolver atitudes,
comportamentos e uma cultura capaz de ser imitada. As ideias de Tarde
influenciaram o trabalho de Ross, citado acima, pesquisador autor de um dos
primeiros livros de Psicologia Social em 1908 (TORRES; NEIVA, 2011).
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da organização ou das qualidades da liderança, mas de sua capacidade de
expressar sentimentos, ressentimentos, preocupações, temores, ânsias e
esperanças de uma coletividade, e que pode ser visto como veículo para
solução de problemas generalizados. Como estudos psicossociais da
atualidade que se aproximam de uma análise qualificada das massas, temos
os estudos sobre movimentos sociais de Prado (2001), Toneli e Perucchi
(2006), e Prado e Costa (2011), que têm analisado estratégias discursivas
contra os discursos hegemônicos em processos de mobilização de grupos
historicamente discriminados (JESUS, 2013).
Psicologia Social 15
com maior capacidade adaptativa sobrevivem e se reproduzem. Nesse sentido,
o autor propôs que a espécie humana seria o produto final de um processo
evolucionista, o ser humano, então tomado como um animal social que
desenvolveu maior capacidade adaptativa às mudanças ambientais e sociais.
Darwin postula a singularidade da espécie humana propondo não existir
continuidade entre ela e espécies não humanas (NEIVA, TORRES, 2011).
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3.2 Influências da França
Entre os precursores da Psicologia Social na França, encontram-se
Le Bon, Tarde e Emile Durkheim (1858-1917). Anteriormente, você viu as
contribuições de Le Bon e Tarde na chamada Psicologia das Massas, aqui, você
verá, em especial, as teorizações do sociólogo Durkheim que influenciaram a
Psicologia Social.
Biografia
Émile Durkheim nasceu na região da Lorena, na França, em 15 de abril de 1858. É
considerado o pai da Sociologia Moderna e, juntamente com Karl Marx e Max Weber, é
considerado um dos pilares dessa área do conhecimento. Dentre suas principais obras,
podemos citar: Divisão do Trabalho Social (1893) que analisa funções sociais do trabalho
e questiona a excessiva especialização e a desumanização do trabalho, fruto da Revolução
Industrial. Outra obra de grande relevância é As Regras do Método Sociológico (1895), que
propõe a constituição da sociologia como uma nova ciência social. Além da publicação de O
suicídio (1897) e os estudos sobre a religião em As formas elementares da vida religiosa
(1912). Após uma vida profícua enquanto intelectual na área das ciências humanas e
sociais, Émile Durkheim morreu em Paris, França, no dia 15 de novembro de 1917.
Fato social diz respeito aos instrumentos sociais e culturais que irão
determinar os modos como o indivíduo irá pensar, agir e sentir a vida e, nesse
sentido, obriga os indivíduos a se adaptarem às regras sociais. São exemplos
de fato social as normas, valores, leis, convenções e regras de uma sociedade,
ou seja, constructos que existem independentemente da vontade do indivíduo,
e que são percebidos por meio de uma percepção condicionada por realidades
Psicologia Social 17
sociais que impõem limites ao comportamento para que o indivíduo seja
aceito na sociedade.
Curiosidade
O fato social é caracterizado da seguinte forma: generalidade, exterioridade e coercitividade.
A generalidade é identificada no caráter coletivo e não individual, de modo que atinja toda
a sociedade. A exterioridade diz respeito ao fato social ser exterior ao indivíduo e já estarem
postas desde antes de seu nascimento e apesar dele. A coercitividade diz respeito à força que os
padrões culturais têm sobre os membros de uma sociedade. Hábitos do cotidiano como escovar
os dentes, pagar as contas, vestir-se para ir a faculdade ou trabalho são fatos sociais, são ações
organizadas que obedecem a uma rotina que tem real poder sobre a vida do indivíduo.
Ferreira (2011, p.15) nos coloca que a Psicologia dos Povos, de Wundt,
surgiu num contexto de reunificação da Alemanha no pós-guerra, como uma
área de estudos que objetivava conhecer as características do pensamento
coletivo alemão. No entanto, sua obra foi sendo aprimorada ao longo dos
tempos. Inicialmente, Wundt propôs a Psicologia como uma ciência natural
de metodologia experimental para o estudo de fenômenos mentais como
sensação, imagem e sentimentos.
18 Psicologia Social
superiores, tais como memória e pensamento, não poderiam ser explicados
e estudados pelo método experimental. Assim, “propôs uma distinção entre
a psicologia experimen- tal, responsável pelo estudo dos processos mentais
básicos, e a Völkerpsychologie (psicologia dos povos), dedicada ao estudo dos
processos mentais superiores por meio do método histórico-comparativo.”
(FERREIRA, 2011, p.15).
Psicologia Social 19
Social Crítica da América Latina, tais como a Psicologia da Libertação, do
el-salvadorenho Ignácio Martin-Baró, ou na Psicologia Social Comunitária
brasileira, cuja expoente mais reconhecida é Silvia Lane.
20 Psicologia Social
O conceito de representações coletivas é apresentado de maneira
mais consistente por Durkheim em sua obra As formas elementares da vida
religiosa”(1912), na qual o pensador discorre sobre a dimensão coletiva e
científica do conhecimento produzido pela vida religiosa, mas também pela
vida de modo geral. Na obra, Durkheim pensa as categorias religiosas como
representações sociais e lógicas como qualquer outra categoria social, dando
a elas um status científico, um status epistemológico que ainda não tinham.
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que vivemos. As representações coletivas referem e resumem o que as pessoas
pensam sobre si e sobre a realidade social. Assim, as representações coletivas são
uma forma de conhecimento socialmente produzida, daí o status científico e
epistemológico que adquirem na obra de Durkheim.
Curiosidade
A Teoria das Representações Sociais (TRS) foi apresentada pela primeira vez pelo
psicólogo social romeno naturalizado francês, Serge Moscovici na obra intitulada A
Representação Social da Psicanálise, publicada em 1978. Sob a influência das proposições
de representações coletivas e individuais de Émile Durkheim, Moscovici vai formular a teoria
no interstício entre os campos da Psicologia e a Sociologia, se ocupando da inter-relação
entre sujeito e objeto, buscando compreender o processo de construção do conhecimento,
de construção da Representações Sociais, como algo ao mesmo tempo individual e
coletivo. Para Moscovici não existe separação entre um sujeito interno e externo, nas
funções representativas o sujeito não é passivo, não assimila e reproduz passivamente o
que lhe chega, mas transforma e, ao transformar se constitui sujeito. Nesse sentido, as
representações são ao mesmo tempo, produto e processo de uma atividade mental pela
qual um indivíduo ou um grupo reconstitui o real, confrontando e atribuindo significados
específicos. A representação é um sistema sociocognitivo e contextualizado que supõe
um sujeito ativo produtor de conhecimento acerca dos objetos. Tais representações, ainda
que submetidas aos processos cognitivos, são determinadas inicialmente pelas condições
sociais nas quais são elaboradas e transmitidas. A TRS traz questões importantes ao campo
do conhecimento, uma delas é a discussão sobre o conhecimento do senso comum em
perspectiva com o conhecimento dito acadêmico. Para Moscovici, o senso comum aporta
informações e impressões significativas, fundamentais para a compreensão dos fenômenos
em estudo e ressalta ainda a necessidade de academicamente valorizarmos e trabalharmos
com esse conhecimento.
22 Psicologia Social
Moscovici registra que sua postulação de representações sociais tem
origem em um projeto de retomada e atualização de Durkheim. Esse autor
parte do conceito de representações coletivas, tomado como um conceito
abrangente e primariamente sociológico, que abrangia religiões, ciência e
noções de espaço e tempo, como construções coletivas externas e autônomas
que se impunham de maneira coercitiva aos indivíduos, para pensá-lo na
contemporaneidade em que religião e ciência perderam seu caráter unificado
e estabilizador sobre as relações sociais e onde a mídia de massa passa a ter um
papel importante como socializador de toda sorte de conhecimento.
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Referências
DURKHEIM, É. Sociologia e Filosofia. Ed. Martin Claret, São Paulo, 1970.
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PORTUGAL, F.; GONÇALVES, M.; BOECHAT, F.; PIZZI, B. Algumas
aproximações entre psicologia social e marxismo. ECOS, v.2, n.1, p.46-60,
2012.
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