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QUEBRANDO A BANCA IADES - Concurso de Agente Prisional de Goiás

Disciplina: Direito Processual Penal


Tema: Inquérito Policial: noções essenciais e características
Professor: Rodolfo Souza

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Conceito
O inquérito policial é um procedimento administrativo informativo, destinado a apurar a
existência de infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação penal disponha de
elementos suficientes para promovê-la.
Natureza
Trata-se de uma instrução provisória, preparatória e informativa, em que se colhem elementos
por vezes difíceis de obter na instrução judiciária, como auto de flagrante, exames periciais, entre
outros.
Finalidade
Seu destinatário imediato é o Ministério Público (nos crimes de ação penal pública) ou o ofendido
(nos crimes de ação penal privada), que com ele formam a sua opinio delicti para a propositura
da denúncia ou queixa. Por outro lado, o inquérito tem como destinatário mediato o Juiz, que nele
também pode encontrar fundamentos para julgar.
Diz o artigo 12 do Código de Processo Penal: "o inquérito policial acompanhará a denúncia ou
queixa, sempre que servir de base a uma ou outra". Deste dispositivo deduz-se que o inquérito
não é indispensável para o oferecimento da denúncia ou da queixa. Além disso, o artigo 39, § 5º
e 46, § 1º, do mesmo codex, acentuam que o órgão do MP pode dispensar o inquérito. Por isso,
tem-se decidido que, tendo o titular da ação penal os elementos necessários para o oferecimento
da denúncia ou queixa, o inquérito é perfeitamente dispensável.
Ademais, o artigo 27 do código em comento determina que qualquer um do povo pode provocar
a iniciativa do MP fornecendo-lhe informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o
lugar e os meios de convicção.
O inquérito policial não se confunde com a instrução criminal. Por essa razão, não se aplicam ao
inquérito os princípios do processo penal, nem mesmo o contraditório, pois o inquérito não tem
finalidade punitiva, mas apenas investigativa. O que se assegura, unicamente, é a possibilidade
da vítima e do indiciado fazerem requerimentos ao delegado, as quais poderão ou não ser
atendidos.
Início do Inquérito Policial
O inquérito policial pode começar:
• de ofício, por portaria ou auto de prisão em flagrante;
• requisição do Ministério Público ou do Juiz;
• por requerimento da vítima;
• mediante representação do ofendido.
Características
O inquérito policial é:
Discricionário: a polícia tem a faculdade de operar ou deixar de operar dentro de um campo
limitado pelo direito. Por isso, é lícito à autoridade policial deferir ou indeferir qualquer pedido
de prova feito pelo indiciado ou pelo ofendido (art. 14/CPP), não estando sujeita a autoridade
policial à suspeição (art. 107/CPP). O ato de polícia é auto executável, pois independe de prévia
autorização do Poder Judiciário para a sua concretização jurídico material.
Escrito: porque é destinado ao fornecimento de elementos ao titular da ação penal. Todas as peças
do inquérito serão, em um só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso,
rubricadas pela autoridade (art. 9º /CPP).
Sigiloso: pois só assim a autoridade policial pode providenciar as diligências necessárias para a
completa elucidação do fato sem que lhe seja posto empecilhos para impedir ou dificultar a
colheita de informações, com ocultação ou destruição de provas, influência sobre testemunhas
etc. Por isso, dispõe a lei que "a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à
elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade" (art. 20/CPP). Tal sigilo não se estende
ao Ministério Público, que pode acompanhar os atos investigatórios, nem ao Poder Judiciário. O
advogado só pode ter acesso ao inquérito policial quando possua legimitatio ad procedimentum e,
decretado o sigilo, em segredo de Justiça, não está autorizada sua presença a atos procedimentais,
diante do princípio da inquisitoriedade que norteia nosso Código de Processo Penal quanto à
investigação. Pode, porém, manusear e consultar os autos findos ou em andamento (art. 7º, XIII
e XIV, do EOAB). Diante do art. 5º, LXIII, da CF, que assegura ao preso a assistência de
advogado, não há dúvida que poderá o advogado, ao menos nessa hipótese, não só consultar os
autos de inquérito policial, mas também tomar as medidas pertinentes em benefício do indiciado.
Com a edição da súmula vinculante nº 14, garantiu-se ao advogado o amplo acesso aos elementos
de prova colhidos durante o procedimento investigatório, desde que já documentados, a fim de
que o seu representado possa exercer seu direito de defesa.
Indisponível: porque uma vez instaurado regularmente, em qualquer hipótese, não poderá a
autoridade arquivar os autos (art. 17/CPP).
Obrigatório: na hipótese de crime apurável mediante ação penal pública incondicionada, a
autoridade deverá instaurá-lo de ofício, assim que tenha notícia da prática da infração (art. 5º, I,
do CPP).
Valor probatório
Como instrução provisória, de caráter inquisitivo, o inquérito policial tem valor informativo para
instauração da competente ação penal. Entretanto, nele se realizam certas provas periciais que
contém maior dose de veracidade, porque são baseadas em fatores de ordem técnica. Nessas
circunstâncias, têm igual valor a das provas colhidas em juízo.
O conteúdo do inquérito, tendo por finalidade fornecer ao detentor do direito de ação os
elementos necessários para a propositura de ação penal, não deixa de influir no espírito do juiz
na formação de seu livre convencimento para o julgamento da causa. Não se pode, porém,
fundamentar uma decisão condenatória apoiada exclusivamente no inquérito policial, o que
contraria o princípio constitucional do contraditório, que não existe no inquérito.
Vícios
Sendo o inquérito mero procedimento informativo, os seus possíveis vícios não afetam a ação
penal a que deu origem. A desobediência às formalidades legais podem acarretar a ineficácia do
ato em si (relaxamento de prisão em flagrante, por exemplo), mas não influi na ação já iniciada,
com denúncia recebida. Porém, tais irregularidades diminuem o valor dos atos a que se refiram,
merecendo consideração no exame do mérito da causa.

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