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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CARIRI

INSTITUTO INTERDISCIPLINAR DE SOCIEDADE, CULTURA E ARTES


CURSO DESIGN DE PRODUTO

DESIGN EDITORIAL: CONSTRUÇÃO DE UM LIVRO INFANTIL ES-


CRITO E ILUSTRADO POR UMA CRIANÇA

DÉBORA RODRIGUES DOS SANTOS

JUAZEIRO DO NORTE - CE
2018
DÉBORA RODRIGUES DOS SANTOS

DESIGN EDITORIAL: CONSTRUÇÃO DE UM LIVRO INFANTIL ES-


CRITO E ILUSTRADO POR UMA CRIANÇA

Trabalho de Conclusão de Curso apre-


sentado como requisito para obtenção ao
grau de Tecnólogo em Design de Produto
pela Universidade Federal do Cariri.
Orientador: Prof. Ms. Manoel Deisson Xe-
nofonte

JUAZEIRO DO NORTE - CE
2018
À Artur Rodrigues Farias
AGRADECIMENTOS

A Deus e ao mestre Gabriel.

Ao professor Deisson Xenofonte, pelo incentivo e dedicação.

Ao meu filho Artur Rodrigues Farias, fundamental importância no desenvolvimento


deste projeto, e em toda a minha vida.

A Reginaldo Farias, pelos auxílios, incentivo e compreensão da minha bagunça.

Aos familiares, que sempre vem nos auxiliando.

Aos amigos Waleska Felix, Nagella Benetti, Cicero Cabral, Rosi Vidal, Andreia Fur-
tado, Adriano Sousa, Kely Linhares, Marcio Santos, pela amizade, contribuição nes-
ta pesquisa, empréstimo de livros, conserto do meu notebook, comentários etc.

Aos professores que contribuíram para minha formação: Adriana Botelho, Ana Vide-
la, Cleonísia do Vale, Aglaíse Damasceno, Deisson Xenofonte, Issac Brito, Fernanda
Loss, Eva Regina, Juliana Loss, Thiago Santiago, Cris Silva.

Aos demais amigos.


RESUMO

Este projeto consiste na diagramação e editoração de um livro infantil, considerando


seus elementos visuais e textuais: tipografia, ilustrações, cores, formato, a partir da
proposta literária de um autor de 5 anos de idade, meu filho.

Partimos da problemática de como o design pode contribuir na construção de um


livro infantil, visando torna-lo interativo para o público em questão, propiciando um
mundo de ludicidade às crianças e contribuindo para estimular a leitura na infância.

Percebemos que o livro infantil vai além do seu objetivo de contar histórias, pois po-
de comunicar também através do material e das estruturas cromáticas, tipográficas e
estilísticas, independentemente das palavras, podendo levar a criança a manusear,
sentir, e ter uma melhor interação com o mesmo.

Palavras-chave: design gráfico, design editorial, ilustração, literatura infantil.


ABSTRACT

This project consists of the diagramming and publishing of a children's book, consid-
ering its visual and textual elements: typography, illustrations, colors, format, from the
literary proposal of a 5-year-old author, my son.

We begin from the problematic of how the design can contribute in the construction
of a children's book, aiming to make it interactive for the public in question, providing
a world of playfulness to children and helping to stimulate the habit of reading in
childhood.
We realize that the goal of a children's book goes beyond their aim of telling stories,
because they can communicate through material and chromatic, typographic and
stylistic structures, independently of words, and can lead children to handle, feel, and
have a better interaction with the one.

Keywords: graphic design, editorial design, illustration, children's literature.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1. LIVRO COM TÉCNICAS DE XILOGRAVURAS ......................................... 13


Figura 2. TÉCNICA DE LINOLEOGRAVURA ........................................................... 13
Figura 3. TÉCNICA DE CALCOGRAVURA............................................................... 13
Figura 4. TÉCNICA DE LITOGRAFIA ....................................................................... 14
Figura 5. LIVRO | SENDAK, Maurice, Onde vivem os monstros, 1963 – São Paulo:
Cosac Naify, 2009 ..................................................................................................... 14
Figura 6. LIVRO | NEWELL, Peter, O livro inclinado, 1910. São Paulo: Cosac Naify,
2008 .......................................................................................................................... 15
Figura 7. LIVRO | MUNARI, Bruno. Na noite escura. Ilustrador: Bruno Munari Editora:
Cosac Naify, 2008 (Edição original de 1956) ............................................................ 17
Figura 8. LIVRO | MARI, Enzo. O jogo de Fábulas. Editora: Corraini, (Edição original
de 1965) .................................................................................................................... 18
Figura 9. INÍCIO DAS ILUSTRAÇÕES DO LIVRO .................................................... 20
Figura 10. TÉCNICA COM LÁPIS DE COR .............................................................. 23
Figura 11. COMBINAÇÃO DE TRAÇO E COLORAÇÃO .......................................... 24
Figura 12. TÉCNICA COM CORES CHAPADAS ...................................................... 24
Figura 13. TÉCNICA COM DESENHO E COLORAÇÃO .......................................... 24
Figura 14. TÉCNICAS MISTAS ................................................................................. 25
Figura 15. MATIZ, SATURAÇÃO, VALOR E TEMPERATURA ................................. 27
Figura 16. ESCALA DO PODER DE ATRAÇÃO DAS CORES ................................. 28
Figura 17. EXEMPLOS ............................................................................................. 28
Figura 18. USO DE CORES COMPLEMENTARES COM MESMO PESO ............... 29
Figura 19. EXEMPLO DA TIPOGRAFIA AVANT GARDE GOTHIC .......................... 31
Figura 20. ESPAÇAMENTOS ................................................................................... 32
Figura 21. LEGIBILIDADE E LEITURABILIDADE ..................................................... 32
Figura 22. TIPOGRAFIA NORMSCHRIFT ................................................................ 33
Figura 23. TIPOGRAFIA SASSON PRIMARY .......................................................... 33
Figura 24. TIPOGRAFIA SASSOON MONTESSORI ................................................ 33
Figura 25. VERSÃO ORIGINAL DA TIPOGRAFIA FABULA ..................................... 34
Figura 26. SEGUNDA VERSÃO DA TIPOGRAFIA FABULA .................................... 35
Figura 27. FORMATO HORIZONTAL ABERTO........................................................ 36
Figura 28. FORMATO ACORDEÃO .......................................................................... 36
Figura 29. DISSOCIAÇÃO ........................................................................................ 38
Figura 30. ASSOCIAÇÃO.......................................................................................... 38
Figura 31. CONJUNÇÃO........................................................................................... 38
Figura 32. COLAGENS ............................................................................................. 40
Figura 33. IMAGENS DO LIVRO: É UM GATO?....................................................... 41
Figura 34. IMAGENS DO LIVRO BOCEJO ............................................................... 42
Figura 35. PRIMEIRAS ILUSTRAÇÕES DE ARTUR ................................................ 44
Figura 36. PROPORÇÃO ÁUREA............................................................................. 45
Figura 37. REPRESENTAÇÃO DA TIPOGRAFIA UTILIZADA ................................. 46
Figura 38. ALTERNATIVA 1 ...................................................................................... 47
Figura 39. ALTERNATIVA 2 ...................................................................................... 47
Figura 40. ALTERNATIVA 3 ...................................................................................... 48
Figura 41. ESQUEMA DE MONTAGEM ................................................................... 49
Figura 42. MATERIAL EDITORADO PARA IMPRESSÃO ........................................ 50
Figura 43. PÁGINAS COM PERSONAGENS ........................................................... 52
Figura 44. PROTÓTIPO ............................................................................................ 54
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1. O LIVRO ILUSTRADO ........................................................................................ 12

2. O DESENHO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL ......................................... 19

3. DESIGN EDITORIAL .......................................................................................... 22

3.1 Ilustração .................................................................................................... 22

3.2 Cor .............................................................................................................. 26

3.3 Tipografia .................................................................................................... 30

3.4 Formato....................................................................................................... 35

3.5 Diagramação............................................................................................... 37

4. METODOLOGIA ................................................................................................. 39

4.1 Levantamento de dados ............................................................................. 39

4.1.1 Análises sincrônicas ................................................................................ 40

4.2 Concepção .................................................................................................. 43

4.2.1 Geração de alternativas ........................................................................... 47

4.3 Implementação ........................................................................................... 48

4.3.1 Protótipo................................................................................................... 53

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 55

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 56
10

INTRODUÇÃO

A realização desse projeto foi motivada a princípio pela proximidade e


identificação minha com o público-alvo, e em segundo lugar pela percepção do po-
der de contribuição do design na editoração de um livro infantil, sendo este elabora-
do e ilustrado por um autor de 5 anos de idade, Artur Rodrigues, meu filho.

Os livros infantis tem uma grande significância no desempenho das crian-


ças em seu processo de aprendizagem. Por essa razão, elementos como a diagra-
mação, tipografia, cores e material do impresso devem transmitir ideias inteligíveis e
um conforto visual, para que, ao ser submetido a uma criança, possa trazer aportes
no seu desenvolvimento intelectual.

A leitura em toda sua imponência deve ser compreendida de modo a


permitir a viagem ao mundo da imaginação, fenômeno tão presente naturalmente na
infância. Portanto, partimos da premissa de como o design pode contribuir para mo-
tivar e conquistar o leitor, problemática esta bem mais complexa nos dias atuais, di-
ante de tantas mídias eletrônicas existentes no mercado que atraem com grande
exclusividade a atenção das crianças.

Com a ascensão tecnológica e apesar do crescente envolvimento do pú-


blico infantil ao meio digital, o mercado de livros impressos segue seu curso sem
grandes intimidações. Estudos comprovam a eficácia dos livros no aprendizado, os
quais melhoram as capacidades cognitivas e motoras, além de acrescerem a intera-
ção de pais e filhos, gerando vínculos afetivos mais fortes e contribuindo para seu
desenvolvimento cognitivo.

Seguindo esse pressuposto, a problemática que motivou essa pesquisa é


de como o design pode contribuir para esse desenvolvimento intelectual e motivar o
leitor, uma vez que a configuração dos livros infantis cumpre um papel importante no
envolvimento físico da criança com o livro, estabelecendo um vínculo emocional que
se assemelha à sua relação com um brinquedo.

Dessa maneira, relacionando o design com a ludicidade de objetos, temos


o objetivo de desenvolver um projeto gráfico de um livro infantil, elaborado e ilustra-
do por um autor de 5 anos de idade, visando torná-lo interativo e estimular a curiosi-
dade da leitura nas crianças. Como objetivos secundários, procuramos identificar a
11

importância do design gráfico na construção de um livro infantil; explorar possibilida-


des gráficas e técnicas características desse tipo de produção; identificar o material
mais adequado, considerando a estética o manuseio do impresso; desenvolver um
produto impresso gráfico com base nos princípios do design e contribuir para práti-
cas de interação entre pais e filhos a partir da leitura.

Assim, neste projeto será apresentado um breve histórico do livro ilustra-


do e suas singularidades. Discorreremos também sobre a temática da criança, com
o intuito de compreender o desenvolvimento infantil a partir do desenho, consideran-
do o imaginário do autor do livro a ser diagramado. Seguem também abordagens
referentes aos fundamentos do design gráfico, como tipografia, ilustração e diagra-
mação, e suas aplicações na construção de livro infantil, atentando para sua impor-
tância no que se refere à estimulação da criatividade e imaginação da criança. Na
sequência serão detalhados os processos de elaboração de editoração do livro e
especificações sobre a metodologia utilizada, onde serão descritas a análise de da-
dos, a concepção, definições de formato e materiais, até chegar ao resultado final.
Consideraremos ainda alguns fatores como: o público-alvo, análise de similares e os
elementos baseados nos princípios do design, buscando uma ludicidade e interação
com o leitor. A partir do resultado final, esperamos atingir o objetivo, de modo a
atender as necessidades do público e proporcionar uma aceitação do material im-
presso por parte dos leitores.
12

1. O LIVRO ILUSTRADO

O livro ilustrado basicamente apresenta duas linguagens: texto e imagem,


onde um complementa o outro. Pode ainda ser definido como obras em que a ima-
gem é preeminente em relação ao texto, podendo este estar ausente. Segundo Bar-
biere (2012, p. 134), “os livros ilustrados são obras de arte com as quais as crianças
convivem desde muito cedo, e são uma oportunidade para gerar ricas conversas e
grandes aprendizados, [...] é um objeto narrativo, no qual uma história acontece em
uma sucessão de páginas com textos e imagens, ou somente com imagens.”

Também Linden (2011, p.7), diz que há tempos “o livro ilustrado é consi-
derado um tipo de obra cuja criação de seus autores e ilustradores [...] permite apre-
ciar ao máximo o seu funcionamento”. Portanto, ler um livro ilustrado vai além de ler
imagens e texto, havendo todo um conjunto coerente que envolve o uso de um for-
mato, de um enquadramento, capa etc.

De acordo com Linden (2011, p. 8), “ao longo de sua evolução histórica, o
livro ilustrado infantil conheceu grandes inovações”, e na atualidade, os ilustradores
exploram ao máximo a diversidade de técnicas utilizadas.

A forma mais antiga de impressão é a gravura à relevo, onde a matriz é


escavada para criar áreas que ficarão brancas, possibilitando a reprodução da ima-
gem. Entre suas variações pode-se gravar em linóleo (linoleogravura), pedra, metal
(calcogravura), madeira (xilogravura), sendo esta última a técnica mais utilizada para
a realização dos primeiros livros para crianças que continham imagens, até o final do
século XVIII. Ainda segundo Linden (2011, p. 13), a litografia (gravura em plano),
cujas primeiras impressões datam no início do século XIX, “possibilita desenhar dire-
tamente na pedra (com lápis, pincel, pena)”, e “a impressão acontece devido à in-
compatibilidade da água com um corpo gorduroso (a tinta)”. Por fim, tem a forma
gravura à estampilha, onde o processo de impressão se dá por meio de uma super-
fície vazada. Tratam-se do pochoir ou estêncil, e da serigrafia. Com o uso do estên-
cil, as páginas oferecem diversas ilustrações coloridas.
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Figura 1. LIVRO COM TÉCNICAS DE XILOGRAVURAS

OBEID. Cesar. João e o Pé de Feijão. Editora: Mundo Mirim


Fonte: http://www.teatrodecordel.com.br/livro%20joao%20e%20o%20pe.html

Figura 2. TÉCNICA DE LINOLEOGRAVURA

Fonte: http://epvytecnico.blogspot.com.br/2010/05/trabajando-el-linoleo.html

Figura 3. TÉCNICA DE CALCOGRAVURA

Fonte: https://www.artematriz.com/tecnicas-del-grabado-mezzotinta/
14

Figura 4. TÉCNICA DE LITOGRAFIA

 Alfons Mucha. Litografia. As artes, dança 1898.


Fonte: http://anukbh.blogspot.com.br/2013/04/litografia.html

O livro ilustrado contemporâneo contempla a importância do aspecto vi-


sual. Linden (2011, p. 17), aponta que, “a publicação em 1967, na França, da obra-
prima de Maurice Sendak, Onde vivem os monstros (1963/2009), introduz uma nova
concepção da imagem, que passa a permitir representar o inconsciente infantil.”

Figura 5. LIVRO | SENDAK, Maurice, Onde vivem os monstros, 1963 – São Paulo: Cosac Naify, 2009

Fonte: http://literaturaemultimodalidade.blogspot.com.br/2014/11/o-papel-do-imaginario-infantil-em-onde.html
15

Dentro dessa perspectiva, Powers (2008, p.9) afirma que, entre meados
do século XVIII “houve uma enorme diversificação nos tratamentos dados ao projeto
gráfico de livros para criança, com uma inventividade que demorou a ser superada”.
Diz ainda, que “esses livros surgiram de um mundo cada vez mais complexo, embo-
ra relativamente pequeno, de editores, livretos e gráficas, numa época em que essas
funções estavam apenas começando a se distinguir”.

No livro ilustrado comumente, “o trabalho do texto interage com as ima-


gens e o conjunto dos dispositivos formais dentro de um formato quadrado” (LIN-
DEN, 2011, p. 19). Exatamente o contrário do que é conferido no livro ilustrado con-
temporâneo, onde os aspectos visuais são primordiais, e os aspectos linguísticos se
adaptam a estes, oferecendo ainda grande variedade de formatos. Em 1965 a edito-
ra L’École des Loisirs, fundada por Jean Fabre e Arthur Hubschmid, já considerando
essas representações, “recorre aos maiores artistas internacionais e se dedica a ofe-
recer livros ilustrados ditos “de qualidade”” (LINDEN, 2011, p. 18).

Figura 6. LIVRO | NEWELL, Peter, O livro inclinado, 1910. São Paulo: Cosac Naify, 2008

O livro tem um corte diagonal superior e inferior que junto às ilustrações dão a sensação de personagens
correndo.
Fonte: http://bllij.catedra.puc-rio.br/index.php/2016/11/11/o-livro-inclinado/

Segundo Powers (2008, p. 42), “o movimento arts and crafts havia gerado
o sentimento de que o livro era um objeto coeso”, e isso implicava que o projeto grá-
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fico “deveria apresentar unidade em todos os seus elementos, desde o tamanho da


página e layout, até a escolha de papel, tipografia, ilustração e encadernação”.

Os demais elementos gráficos que integram a composição de um livro,


são os chamados paratextos, e “correspondem a um conjunto de produções verbais
ou não que apresentam e reforçam o texto, por exemplo, a capa e a contracapa, a
lombada, as orelhas, as guardas, a página de rosto, a tipografia etc.” (MATTOS,
2016, p.350).

Não custa reconhecer que o livro ilustrado, principalmente na atualidade,


“constitui efetivamente uma forma específica de expressão” (LINDEN, 2011, p. 29).
Linden (Op. Citi), afirma ainda que o mesmo trata-se de um objeto conferido aos não
leitores, cuja suas especificidades são orientadas em função das perspectivas de
seus mediadores, que compram e lêem para eles. Portanto, é muito relevante consi-
derar paratextos que se encontram no exterior do livro (capa e contracapa), onde
normalmente são visualizadas as primeiras informações sobre o mesmo.

De fato, a capa é parte integrante da história de qualquer livro e, no caso


de um livro ilustrado, podem desempenhar funções diversas como: o vínculo emoci-
onal, uma amostra das delícias que virão, e cumpre ainda um papel no processo de
envolvimento físico com o livro, podendo o definir como um objeto a ser apanhado,
deixado de lado ou conservado ao longo do tempo. (POWERS, 2008, p. 6-7).

De acordo com Mattos (2016, p.351), a capa de um livro é formada por


quatro páginas: a primeira capa, a segunda capa, a terceira capa e a quarta capa,
ou contracapa. Também a lombada, quando existe, é parte integrante da capa. Tra-
ta-se portanto, de um elemento gráfico que apresenta uma unidade material.

Em síntese, Linden (2011, p.24-25) traz uma organização dos tipos de li-
vros para crianças que contém imagens, citando algumas definições:

LIVROS COM ILUSTRAÇÕES Obras que apresentam um texto acompa-


nhado de ilustrações. O texto é espacialmente predominante e autônomo do
ponto de vista do sentido. O leitor penetra na história por meio do texto, o
qual sustenta a narrativa.
LIVROS ILUSTRADOS Obras em que a imagem é espacialmente predomi-
nante em relação ao texto, que aliás pode estar ausente [...]
LIVROS POP-UP Tipo de livro que no espaço da página dupla acomoda sis-
temas de esconderijos, abas, encaixes etc., permitindo mobilidade dos ele-
mentos, ou mesmo um desdobramento em três dimensões.
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LIVROS-BRINQUEDO Objetos híbridos, [...] que apresentam elementos as-


sociados ao livro, ou livros que contêm elementos em três dimensões (pelú-
cia, figuras de plástico etc.)
LIVROS INTERATIVOS Apresentam-se como suporte de atividades diver-
sas: pintura, construções, recortes, colagens...

O mesmo autor (Op. Citi), destaca dois criadores que a partir dos anos
1950 “iriam marcar o livro para crianças com sua genialidade: Bruno Munari e Enzo
Mari.” A partir de então nasce o livro enquanto objeto, no qual seus desenvolvedores
interagem, de certa forma, com o público alvo.

Figura 7. LIVRO | MUNARI, Bruno. Na noite escura. Ilustrador: Bruno Munari Editora: Cosac Naify, 2008
(Edição original de 1956)

O livro como objecto explorado pelo ritmo visual dos recortes nas páginas, pela variação das texturas do
papel e pelas manchas de cor simples que dão forma à coerência visual da história.
Fonte: http://panoramadolivro.blogspot.com.br/p/panorama-do-livro-para-criancas-dolores.html
18

Figura 8. LIVRO | MARI, Enzo. O jogo de Fábulas. Editora: Corraini, (Edição original de 1965)

Um livro para compor, desconstruir e construir: uma aventura que nunca termina. É um jogo apreciado de geração
em geração pela sua simplicidade e beleza. Nos seis cartões que compõem o jogo são sorteados 45 animais, plan-
tas e outros objetos. Há muitas maneiras de entrelaçá-las, o que permite inúmeras histórias possíveis.
Fonte: http://www.watermeloncat.nl/epages/62791642.sf/es_ES/?ObjectPath=/Shops/62791642/Products/COR002-
fabula
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2. O DESENHO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo, e com cinco ou seis retas
é fácil fazer um castelo... Corro o lápis em torno da mão e me dou uma luva
e se faço chover com dois riscos tenho um guarda-chuva... Se um pinguinho
de tinta cai num pedacinho azul do papel, num instante imagino uma linda
gaivota a voar no céu... (TOQUINHO)

O desenho está presente em muitos momentos na vida da humanidade,


pois com ele temos uma forma de imaginar, descrever, narrar, planejar, inventar etc.
Normalmente, grande parte dos objetos desenvolvidos pelo homem foram desenha-
dos antes de serem feitos. O ato de desenhar consolida uma ideia, é quando pode-
mos pensar o mundo e concretizá-la.

Ao vermos o desenho de uma criança, não temos ideia de quanta elabo-


ração e diálogo ela manteve com aquele desenho antes de considerá-lo concluído,
conforme afirma Barbiere (2012, p.42). A autora ainda complementa que “a produ-
ção das crianças, assim como obras dos artistas, possibilita trocas de percepções,
ideias, informações e conhecimentos são verdadeiros momentos de experiências
que podem ser compartilhadas”. (BARBIERI, 2012, p.43)

Contudo, o desenvolvimento deste projeto surge a partir da criação do


meu filho, narrativa e ilustrativamente, de 5 anos de idade. Artur, a criança em ques-
tão, já tem o hábito de desenho desde muito cedo, pelo incentivo, motivação e parti-
cipação conjunta dos pais. O mesmo passa longos períodos de tempo dedicados ao
desenho, e demonstra uma seriedade e uma concentração eminentes. Por esses
atributos, podemos fazer um comparativo a afirmação de Greig (2004), que diz que o
desenho trata-se de um processo que caracteriza a expressão.

Desde os primeiros anos de vida, Artur já evidencia uma habilidade e um


gosto considerável para o desenho. Seus pais seguem carreira em design e seu pai
também é ilustrador, de maneira que o hábito de desenhar faz parte do meio no qual
está inserido. Em seu âmbito familiar tem também a convivência com pessoas mais
idosas, como uma tia-avó e uma tia-bisavó, portanto, outra característica marcante é
a de conversar muito e ouvir muitas histórias. Artur também tem acesso a livros in-
fantis desde quando ainda bebê.

Aqui vale salientar a observação de Barbieri (2012, p.25), o que nos diz
que “as crianças são sinestésicas, ou seja, todos os seus sentidos estão despertos a
20

cada momento”, e diz ainda que “o espaço em si é um educador, e o ambiente que


criamos no espaço também” (BARBIERI, 2012, p.45). Não obstante, em sua trajetó-
ria, Artur tem um contato constante com músicas, cultura popular, e muitas imagens,
(desenhos infantis, filmes animados, reisado etc.). A ideia para desenvolver um livro
surgiu quando o mesmo, em um determinado momento que presenciou seu pai ilus-
trando um livro infantil, disse que também iria fazer um. Gravou a narrativa em um
celular, e começou a desenhar.

Figura 9. INÍCIO DAS ILUSTRAÇÕES DO LIVRO

Fonte: arquivo próprio

O desenho representa uma importante ferramenta para o desenvolvimen-


to da criança, seja como mecanismo de autoexpressão ou como desenvolvimento da
capacidade criativa, proporcionando uma interação do mundo interior com o exterior.
Portanto, o desenho da criança não deve ser considerado somente como uma ex-
pressão ou representação da realidade, mas também como um resultado de um en-
volvimento cognitivo e emotivo, em consonância com a realidade com a qual convive
(PEREIRA, 2006).

Ferreira (2005) por sua vez, afirma que o desenho de uma criança não se
trata de uma representação visual de um objeto, mas sim uma representação da ex-
periência que a mesma tem com este objeto, onde se deixa manifestar suas emo-
ções. Crotti (2011, p.12), explica que “assim é como o autor do desenho dialoga com
21

o mundo dos adultos [...] está lhe mostrando uma parte do seu mundo, uma parte
dela mesma”.

Conforme é ressaltado por Barbiere (2012, p.85), o desenho é uma ma-


neira de brincar no mundo, pensar o mundo, de estar no mundo, de se comunicar.
Nesse sentido, Sio (2014) considera que, ao desenhar a criança também se diverte,
percebe-se aí um prazer ao rabiscar, se tratando portanto, de uma auto-afirmação.
Assim, ao prolongar esse prazer, há uma intensa atividade interna. Contudo, é im-
portante que haja uma atenção que estimule o interesse da criança, encorajando-a a
continuar, e dessa forma contribuindo também para seu desenvolvimento.

Os desenhos fazem parte de representações do que a criança conhece e


tem registrado na memória, conforme afirma Ferreira (2005, p.59). A mesma diz ain-
da que “o objeto figurativo testemunha os objetos da cultura da criança, [...] e é re-
sultado de “recortes” perceptivos da realidade que a criança conhece”. De acordo
com esse pressuposto, o desenho da criança emerge de três vertentes básicas, que
são do imaginário, do percebido e do real.

Para Hanauer (2011, p.12), “a prática do desenhar é parte da vida, e ao


desenhar, a criança desenvolve seus processos criativos, ampliando suas potencia-
lidades de expressão”. Sobre esse assunto, Crotti (2011, p. 21) considera ainda ou-
tros elementos, como a motricidade, a percepção, o espaço, a função simbólica, a
linguagem etc., que também colaboram na estruturação da capacidade expressiva
gráfica. Nesse sentindo, a fantasia e a criatividade são notáveis nos desenhos de
Artur, e suas experiências só enriquecem cada vez mais sua expressão gráfica.

Outrossim, Crotti (2011, p.65) destaca também para o uso das cores, que
geralmente revela um significado da energia vital e da afetividade. Esse é outro pon-
to marcante que encontraremos nas ilustrações do livro.

Com o desenho cria-se também um jogo imaginativo, conforme afirma


Barbieri (2012), onde se pode experimentar vários caminhos. Ao inventar um perso-
nagem, também é inventado o seu modo de ser, seu universo, que se complexifica a
cada informação que se é acrescentada. O desenho nos informa sobre o próprio
processo de desenhar. (BARBIERI, 2012, p.88)
22

3. DESIGN EDITORIAL

Uma das ramificações do design gráfico, o design editorial além de de-


terminar as características funcionais e estéticas do livro, projeta a forma, materiali-
zando o conteúdo do mesmo. Na diagramação, o papel do designer no projeto de
um livro infantil tem como função organizar os elementos de forma harmoniosa, de
modo a atrair a atenção do leitor e facilitar a leitura de textos e imagens, tornando-o
adequado para crianças.

Considerando portanto a definição de design gráfico, enquanto uma forma


de comunicar visualmente, procuramos encontrar a melhor solução para tal, utilizan-
do-se não só da criatividade para se atingir esse objetivo, mas também do estudo do
público-alvo, que é a chave para se determinar a escolha tipográfica, o tipo de dia-
gramação, as cores utilizadas, entre outras.

Em vista disso, Hofmann (2012, p.47) ressalta que “a criança interage me-
lhor com livros pensados especialmente para elas”, uma vez que a mesma conhece
o mundo através dos sentidos. Portanto, devemos considerar no projeto de um livro
infantil, o seu manuseio pela criança (tamanho, material, peso etc).

A seguir, abordaremos elementos referentes aos fundamentos do design


gráfico que serão considerados no desenvolvimento do projeto, a saber: ilustração,
cor, tipografia, formato e diagramação.

3.1 Ilustração

O papel da ilustração num livro, principalmente nos infantis, permite ao


leitor estimular sua imaginação, e proporciona a exploração da história, pelo simples
contato com o livro. Dentro desta ótica, Barbieri (2012, p.134) nos diz que:

Quando as crianças estão ouvindo ou lendo a história de um livro, a relação


da narrativa com as ilustrações traz muitas informações. A ilustração pode
ampliar a leitura da história trazendo novos elementos, atuando sobre seus
significados. É uma possibilidade de a criança olhar para o que outra pes-
soa imaginou sobre a história em questão. As ilustrações de um livro, assim
como as obras de arte, possibilitam novas leituras do mundo.
23

Sendo a ilustração um dos elementos principais em um livro infantil, deve


ser pensada de forma a agregar valores ao livro/história, possibilitando assim a cria-
ção de um novo texto visual. Dessa forma, deve-se também ter atenção para não
incorrer de um erro, explicando o que já está escrito.

As técnicas de ilustração em livros infantis apresentam uma diversificação


constante desde o início dos anos 1990, conforme afirma Linden (2011). Contudo, o
mesmo ressalta ainda algumas observações sobre as principais técnicas.

A presença do traço simples é pouco frequente no livro ilustrado. [...] Uma


das técnicas mais difundidas no livro ilustrado consiste na combinação de
um traçado (lápis, pena, caneta nanquim...) com uma cor, aquarela ou tinta
(como fazem Philippe Dumas e François Place). Observa-se o retorno do
lápis de cor, seja nos traços, seja para colorir, às vezes de modo grosseiro
[...] O emprego de tinta também é bastante disseminado, inclusive em livros
ilustrados de grande difusão destinados a crianças pequenas. (LINDEN,
2011, p.35-36)

Figura 10. TÉCNICA COM LÁPIS DE COR

[CROWTHER, Kitty. Eu e Nada. Bruxelas: Pastel, 2000].


Fonte: https://bokmal.com.ua/books/teaser-ja-ta-nishcho-kitty-crowther/
24

Figura 11. COMBINAÇÃO DE TRAÇO E COLORAÇÃO

[PLACE, François. Os últimos Gigantes. Bruxelas: Casterman, 1993].


Fonte: https://biblioabrazo.wordpress.com/2011/01/19/los-ultimos-gigantes-francois-place/

Figura 12. TÉCNICA COM CORES CHAPADAS

[LE SAUX, Alain. Como Educar seu pai. Paris: Rivages, 2005].
Fonte: http://next.liberation.fr/culture/2015/03/18/alain-le-saux-le-papa-des-papas-est-parti_1223303

Figura 13. TÉCNICA COM DESENHO E COLORAÇÃO

[VICENT, Gabrielle. Ernest e Celestine: as perguntas de Celestine. Bruxelas: Casterman, 2001].


Fonte: https://kidpix.livejournal.com/1870267.html
25

Considerando ainda as diversas técnicas de ilustração utilizadas, Ho-


fmann (2012, p.55) diz que:

para a ilustração infantil não é necessário seguir nenhuma técnica específi-


ca. Pelo contrário, quanto mais diversas e criativas forem as ilustrações,
maior será o incentivo ao espírito criativo da criança, dessa forma expondo
a ela a diversidade. Os diferentes estilos de ilustrações devem colaborar
com o livro e a história [...]

Essa colocação aproxima-se da afirmação de Linden (2011, p. 37), onde


o mesmo destaca para o uso de técnicas mistas:

Recorrer a técnicas mistas revela-se de suma importância, em particular na


virada do século XXI. A partir de então, várias imagens apresentam uma
combinação de pintura, desenho e colagem. Trata-se de um fenômeno re-
cente, que constitui uma das técnicas contemporâneas mais utilizadas.

Figura 14. TÉCNICAS MISTAS

[CARRER, Chiarar. Um Dia. Mexico: Petra Ediciones, 2010].


Fonte: http://blog.picturebookmakers.com/post/146250131771/chiara-carrer

Na atualidade, com o avanço tecnológico na área gráfica e o uso de sof-


twares para desenhos digitais, nos deparamos com o desenvolvimento e aperfeiço-
amento de novas técnicas de ilustrações. E com a utilização de diferentes tipos de
materiais e a criatividade humana, parece não haver mais limites para essas técni-
cas, das quais podemos citar o uso de bordados, retalhos de tecidos etc.
26

A seguir, destacaremos outro elemento, que compõe uma ilustração e


pode contribuir para a qualidade da mesma.

3.2 Cor

É por meio da percepção visual que o homem mantém contato com mun-
do. A cor é uma sensação produzida pelos raios luminosos sobre os objetos, no qual
é interpretada no cérebro, constituindo assim, estímulos para a sensibilidade huma-
na. A mesma constitui um dos elementos visuais que compõe uma ilustração, po-
dendo colaborar para a qualidade da mesma nos livros infantis, e contribuem ainda
para emocionar, atrair e despertar interesse do leitor.

Nesse sentido, Lupton (2008, p.71) afirma que “a cor serve para diferen-
ciar e conectar, ressaltar e esconder”, de modo que podemos perceber “uma deter-
minada cor em função das outras em torno dela”. Segundo Collaro (2007, p.15), a
exposição a determinadas cores básicas provoca reações diferentes no consciente e
no inconsciente de diferentes tipos de pessoas.

Complementando as afirmações acima, Samara (2011, p.26) nos diz que,


poucos estímulos visuais são tão poderosos quanto a cor. Ela está intimamente co-
nectada ao mundo natural e, portanto, é uma ferramenta de comunicação profunda-
mente útil.

O autor explica ainda os aspectos formais da cor, onde uma única cor po-
de ser definida por quatro qualidades: matiz, saturação, temperatura e valor. Contu-
do, a alteração de qualquer uma dessas características pode afetar a cor de manei-
ras distintas.

O matiz se refere à identidade essencial de uma cor – vermelho, violeta,


verde, amarelo, e assim por diante. A saturação descreve sua intensidade:
uma cor saturada é muito intensa ou vibrante, enquanto uma cor opaca é
mais apagada. A temperatura de uma cor é uma qualidade subjetiva relaci-
onada às experiências: uma cor quente, como vermelho ou laranja, faz-nos
lembrar de fogo; uma cor fria, como verde ou azul, nos remete a objetos
frios como plantas ou água. O valor de uma cor é seu aspecto de escuro ou
claro [...] (SAMARA, 2011, p.27)
27

Figura 15. MATIZ, SATURAÇÃO, VALOR E TEMPERATURA

Alterar qualquer dos quatro atributos de uma cor afeta a cor de maneiras diferentes.
Fonte: SAMARA, 2011, p. 27

De acordo com Collaro (2007), as cores tem função de codificar informa-


ções, transmitir sensações e reações diversas, e alguns fatores influenciam as prefe-
rências por determinadas cores, como: o sexo, a idade, a cultura, o clima, e gosto
pessoal.

As preferências quanto às cores se alteram dependendo do sexo das pes-


soas, mas não exatamente desta maneira. Na verdade, os matizes azuis
são cores femininas, enquanto o rosa é uma cor que agrada aos homens
[...], consciente ou inconscientemente, temos o hábito de usar cores para
agradar o sexo oposto, daí a troca. [...] As crianças são influenciadas por
cores vivas, e os contrastes são interessantes nessa fase. O fato de enxer-
garem o vermelho primeiro torna as cores com essa base muito entusias-
mantes para crianças – e esse reflexo nos acompanha por toda a vida.
(COLLARO, 2007, p. 16)

Conhecer a psicologia das cores é importante para entender sua influên-


cia no cérebro humano, pois as mesmas podem transmitir sensações que vão além
do conhecimento de tons e matizes. Collaro (2007) esclarece ainda que, nosso olho,
ou o cérebro, tem tendência a procurar cores complementares para completar a in-
formação a qual está exposto. E acrescenta ainda que, baseado em estudos, pode-
28

mos comprovar que o laranja tem o maior poder de atração, seguido do vermelho,
depois o azul, o preto, o verde, o amarelo, o violeta e, no fim, o cinza (COLLARO,
2007, p.28).
Figura 16. ESCALA DO PODER DE ATRAÇÃO DAS CORES

Fonte: https://pt.slideshare.net/escolaanice/cores-16202436

Abaixo, seguem exemplos onde há predominância de cores quentes, res-


saltando as afirmações anteriores.

Figura 17. EXEMPLOS

 [FALCÃO, Adriana. Mania de Explicação –


 [CHILD, Lauren. Tem um lobo no meu Quarto – Editora Salamandra]. Fonte:
Londres: Hodder Children’s Books, 2000]. Fonte: http://encantamentosdaliteratura.blogspot.com
http://www.readwithmebookshop.com/product/5177/ .br/2011/03/mania-de-explicacao-adriana-
beware-of-storybook-wolves falcao.html
29

Não existe uma regra para a utilização da cor, porém os conceitos sensiti-
vos transmitidos em relação à sentimentos como a alegria, a tristeza, a seriedade, a
agitação, etc. produzem uma reação que deve ser considerada quando elaboramos
um projeto (COLLARO apud HOFFMANN, 2012, p.59).

Para Collaro (2007, p. 25), as cores comportam-se de maneira diferentes,


dependendo da intensidade da luz a que está exposta e também das características
do suporte, impresso ou digital. Portanto, o uso de duas cores complementares de
mesmo peso, pode causar mal-estar pelo impacto no cérebro, com certo tempo de
exposição.
Figura 18. USO DE CORES COMPLEMENTARES COM MESMO PESO

Layouts usando cores complementares com o mesmo peso, como o da esquerda, podem chamar a atenção
inicialmente, mas sua exposição contínua pode se tornar irritante. O da direita, contudo, explora bem a tendência
do olho de procurar a complementar de uma cor. Fonte: Collaro, 2007, p. 26

Embora a cor seja um fenômeno subjetivo, tanto física como culturalmen-


te, ao longo do tempo, estabeleceu-se um vocabulário preciso para que designers,
programas, gráficas e editoras pudessem se comunicar com algum grau de clareza.
(LUPTON, 2008, p. 71). A autora diz ainda que o entendimento em relação a intera-
ção das cores umas com as outras, pode ajudar o designer a “controlar o poder da
cor e a testar, sistematicamente, variações de uma mesma ideia”. (LUPTON, 2008,
p.78)
30

Em suma, as cores em um projeto gráfico para um livro infantil devem ser


bem vivas e contrastantes, pois assim, reforçam a alegria ou o bom humor sugerido
pelo desenho. (COELHO apud HOFFMANN, 2012, p.60)

3.3 Tipografia

Entender a estrutura das letras é importante para ajudar profissionais a


fazer uso, avaliar e sugerir escolhas tipológicas. Francis Thibedeau (século XVIII) em
seus estudos, de acordo com análise da estrutura das letras, as classificou por gru-
pos de letras com a mesma característica estrutural. (COLLARO, 2007, p.9).

- FAMÍLIA ROMANA ANTIGA: Originária da tipografia clássica, seu desenho


é insuperável quando se busca um alto grau de legibilidade. O contraste de
suas hastes, associado às serifas em formato triangular, proporciona a es-
ses caracteres um rápido acesso do código ao cérebro, pois os agrupamen-
tos de símbolos facilmente legíveis provocam rápida absorção e resposta.
Ex.: TIMES NEW ROMAN

- FAMÍLIA ROMANA MODERNA: Caracterizada pela evolução dos romanos


clássicos, também tem um alto grau de legibilidade e de velocidade de ab-
sorção, pois suas hastes possuem um contraste ainda mais acentuado [...]
Suas serifas em formato reto, permitem uma boa legibilidade durante a leitu-
ra. É menos aconselhável para uso em corpos pequenos e em alguns sis-
temas de impressão. Ex.: BODONI

- FAMÍLIA EGÍPICIA: Criada com o advento da revolução industrial, esses


tipos são caracterizados estruturalmente por hastes de espessura uniforme
ou quase uniforme e serifas retangulares. Por terem desenhos muito robus-
tos, sua utilização está ligada a textos curtos e de informação rápida. Ex.:
GEOMETRIC SLABSERIF MÉDIA

-FAMÍLIA LAPIDÁRIA OU BASTÃO: Pela simplicidade de seus desenhos –


hastes de espessura quase uniforme e sem serifa -, presta-se muito a peças
publicitárias e de embalagens, por seu alto grau de visibilidade. Ex.: HEL-
VETICA

- FAMÍLIA CURSIVA: Seus desenhos envolvem adornos, sombras, liberda-


de de traços. Porém, quando o quesito é legibilidade e visibilidade, são as
letras que mais comprometem a comunicação. Ex.: Kuenstler Script, Abrazo
Script, Dorchester Script. (COLLARO, 2007, p. 9-11)
31

Portanto, sob esse aspecto, Lupton (2013, p.28) acrescenta que,

na escolha das fontes, os designers consideram a história dos tipos e suas


conotações atuais, bem como suas qualidades formais, de modo a encon-
trar uma combinação apropriada entre o estilo das letras, a situação social
específica e o conteúdo que definem o projeto.

Convém ressaltar que “no final da década de 1930, o design do livro in-
fantil foi influenciado pela “Nova Tipografia”, tipografia definida pela Bauhaus, sob a
forma de fontes sem serifa e composições assimétricas.” (ROMANI, 2011, p. 32)

Enquanto podemos nos questionar quanto à preocupação com os carac-


teres tipográficos em livros para crianças não alfabetizadas, outros autores esclare-
cem que o fato da criança ainda não saber ler não é relevante, pois é aí onde sur-
gem os primeiros contatos entre a criança e a letra escrita. As crianças em idade de
aprendizagem (entre 3 e 5 anos), impõem condições especiais, uma vez que esse
contato poderá ajudar ou dificultar o processo.

Nesse âmbito, Hofmann (2012, p.66) coloca ainda que crianças em pro-
cesso de alfabetização levam em conta o desenho de cada caractere individual.
Dessa forma, famílias tipográficas como a Avant Garde, com caracteres muito seme-
lhantes, como mostra a figura abaixo, acabam por confundir e prejudicar a leitura da
criança.
Figura 19. EXEMPLO DA TIPOGRAFIA AVANT GARDE GOTHIC

Fonte: LOURENÇO, D. A. 2011 apud Hofmann, 2012

É importante considerar dois conceitos tidos como fundamentais quando


se trata de tipografia adequada ao público infantil, que são a leiturabilidade e a legi-
bilidade, onde a primeira está ligada a compreensão e a fluidez da leitura, e a se-
gunda está associada ao reconhecimento de cada caractere individualmente. Base-
32

ado nesses conceitos, podemos concluir que ambos são diretamente relacionados,
contudo temos ainda que considerar outros fatores como os espaçamentos (entre
linhas, entre palavras e entre letras), o tamanho do caractere, cor e alinhamento do
texto.
Figura 20. ESPAÇAMENTOS

Imagem representativa. Fonte: LOURENÇO, D. A. 2011

Figura 21. LEGIBILIDADE E LEITURABILIDADE

Imagem representativa das diferenças entre a legibilidade e a leiturabilidade.


Fonte: LOURENÇO, D. A. 2011

Para Lourenço (2011), em relação ao público infantil, requer um cuidado


mais específico, como o uso de espaçamentos maiores, maior tamanho da fonte ti-
pográfica, e justificar um texto somente se for absolutamente necessário.

Na Alemanha, após considerar os prós e contras, adotaram a tipografia


NormSchrift para uso nas escolas, após concluírem ser uma fonte simples e direta,
sem serifas, sem ornamentos, e muito próxima daquela em as crianças costumam
ver impressa na grande maioria dos livros escolares (HEITLINGER, 2007).
33

Figura 22. TIPOGRAFIA NORMSCHRIFT

Fonte: http://www.flashkit.com/fonts/I/ISO-Norm-unknown-1560/index.php

Segundo Heitlinger (2007), a pedagoga e designer Rosemary Sassoon


desenvolveu uma série de fontes, baseada em suas pesquisas, considerando tam-
bém a opinião das crianças, como sendo apropriada para as mesmas aprenderem a
ler e escrever com menos esforço e maior sucesso, entre elas está a fonte Sassoon
Primary School.
Figura 23. TIPOGRAFIA SASSON PRIMARY

Fonte: http://tipografos.net/tipos/fontes-para-crian%E7as.html

Figura 24. TIPOGRAFIA SASSOON MONTESSORI

Designers: Rosemary Sassoon and Adrian Williams Year: 1988-1998 Copyright: Sassoon & Williams Publisher:
Club Type. Fonte: http://tipografos.net/tipos/fontes-para-crian%E7as.html
34

O autor ainda cita outros trabalhos e pesquisas sobre esse tema, que in-
clui livros infantis, como por exemplo, as pesquisadoras Sue Walker e Linda Rey-
nolds, onde abordam em suas análises para o fato de não existirem estudos que
comprovem se tipos serifados ou sem serifas são mais legíveis.

Sobre essa questão, o que geralmente ocorre é uma preferência por parte
de educadores, sem um conhecimento aprofundado sobre desenhos de tipos, para
as fontes sem serifas por terem formas mais simples. Porém há uma grande varie-
dade de fontes tipográficas no qual as crianças se deparam constantemente em seu
dia-a-dia e dificilmente há um questionamento sobre a opinião das mesmas quanto à
tipografia dos livros presentes em seu cotidiano.

Em seus testes, as pesquisadoras acima mencionadas, compararam a


quantidade de erros que as crianças cometem ao ler textos compostos em tipos seri-
fados e não serifados, concluindo por fim que essa diferença é pequena, sendo mais
importante diferenças mais evidentes entre os caracteres (o, a e g), conforme já ci-
tado anteriormente. Fontes como Avant Garde Gothic ou Helvetica, não apresentam
tais atributos (HEITLINGER, 2007). Baseado em seus estudos, desenvolveram a
fonte Fábula, uma fonte adequada para titulação e configuração de texto em tama-
nhos grandes.

Figura 25. VERSÃO ORIGINAL DA TIPOGRAFIA FABULA

Fonte: http://www.kidstype.org/?q=node/49
35

Figura 26. SEGUNDA VERSÃO DA TIPOGRAFIA FABULA

Segunda versão do Fabula, com um único andar, foi projetada a pedido do editor, Collins, para uma série de
dicionários infantis Fonte: http://www.kidstype.org/?q=node/49

Mediante o exposto, e apesar de alguns autores considerarem os tipos


com sefifas mais favoráveis quanto à legibilidade e leiturabilidade, Lourenço (2011,
p.99) esclarece que “a necessidade das crianças por tipografias que remetem à cali-
grafia é muito forte, e os tipos sem serifa se aproximam mais desses anseios.” O
autor enfatiza também quanto a importância da utilização de letras limpas e claras
para não dificultar a identificação e leitura pelas crianças.

3.4 Formato

É grande a diversidade de formatos de livro ilustrado infantil contemporâ-


neo, o que para Linden (2011, p.52), o mesmo se torna determinante para a expres-
são. Contudo, não é incomum se deparar com alguns tipos de limitações por parte
das editoras, que podem impor um determinado tipo de formato.

Alguns autores citam o formato vertical, com uma altura maior que a lar-
gura, como o mais comum no mercado. Collaro (2007, p.68) nos diz que o formato
horizontal tem surgido como uma alternativa de inovação, o que proporciona uma
quebra na monotonia. Os formatos quadrados também são bastante utilizados, e
fogem do tradicional. Linden (20011, p. 53) diz ainda que o “formato horizontal (dito
“a italiana”), mais largo que alto, permite uma organização plana das imagens, favo-
recendo a expressão do movimento e do tempo, e a realização de imagens sequen-
ciais”.
36

Figura 27. FORMATO HORIZONTAL ABERTO

Livro: Fico à Espera. David Cale/Serge Bloch


Fonte: http://www.bruaa.pt/loja/eu-espero/

Não é incomum encontrarmos no mercado outros formatos, irregulares,


com dobraduras, o que também envolve a questão do tamanho do livro. Linden
(2011) esclarece sobre a distinção de três tamanhos e formatos em categorias:

[...] em função da mão do leitor: livros que abertos são segurados facilmente
com uma mão, como os de bolso; livros que podem ser pegos com uma
mão quando fechados, mas que seguramos com as duas durante a leitura;
livros que pegamos com as duas mãos e devem ser lidos com algum supor-
te. Essa distinção permite determinar espaços e margens que precisam ser
reservados para as mãos do leitor. (LINDEN, 2011, p. 55)

Figura 28. FORMATO ACORDEÃO

LIVRO O gato de Botas | Charles Perrault.


Fonte: https://misprimeraspalabrasabc.wordpress.com/2016/05/10/fomentarmos-la-lectura-de-forma-muy-
original/cuento-gato-botas-sombras-blume/
37

3.5 Diagramação

Para Linden (2011, p. 47), “no livro ilustrado, a diagramação é trabalhada


no intuito de articular formalmente o texto com as imagens. Assim, os textos depen-
dem do suporte, do tamanho das imagens, e em geral devem acompanhá-las tanto
quanto possível”.

Ainda sobre esse assunto, Hoffmann (2012, p.76) nos acrescenta que a
diagramação também tem a função de conduzir o leitor, conforme são dispostos os
textos, imagens e demais elementos em uma página, a leitura pode ser favorecida
ou não.

O objetivo do layout é a elaboração de uma apresentação clara e equili-


brada dos elementos que compõem a página, portanto, considerando um projeto
gráfico de livro infantil, a diagramação deve conter além da criatividade, uma funcio-
nalidade, permitindo assim uma melhor compreensão por parte dos leitores.

A propósito, Linden (2011, p.68-70) traz definições de alguns tipos de dia-


gramação:

DISSOCIAÇÃO: O livro ilustrado herdou do livro com ilustração tradicional a


alternância entre página de texto e página com imagens. Nesse tipo de or-
ganização, a imagem costuma ocupar aquilo que os tipógrafo chamam de
“página nobre”, a da direita – aquela em que o olhar se detém na abertura
do livro -, ao passo que o texto fica na página da esquerda. [...]
ASSOCIAÇÃO: [...] reúne pelo menos um enunciado verbal e um enunciado
visual no espaço da página [...] vários textos e várias imagens, claramente
distintos, podem ainda se organizar no espaço da mesma página ou da pá-
gina dupla. [...] A leitura se torna mais dinâmica por meio dessa rápida su-
cessão de imagens e textos curtos.
COMPARTIMENTAÇÃO: [...] diagramação próxima à da história em quadri-
nhos – dividem o espaço da página ou da página dupla em várias imagens
molduradas.
CONJUNÇÃO: [...] ocorre uma organização que mescla diferentes enuncia-
dos sobre o suporte. Textos e imagens já não se encontram dispostos numa
composição geral, na maioria das vezes realizado em página dupla. [...] As-
sim é difícil isolar o texto da imagem nesse tipo de diagramação, pois um
participa do outro no âmbito de uma expressão decididamente plástica. Os
diferentes enunciados se organizam de modo coerente numa composição
única que poderia ser comparada à de um cartaz.
38

Figura 29. DISSOCIAÇÃO

Le Dame Hiver [A Dama Inverno]. Irmãos Grimm/Nathalie Novi (ils.) Paris: Didier Jeunesse, 2002.
Fonte: http://surlalunefairytales.blogspot.com/2012/01/france-month-dame-hiver-by-nathalie.html

Figura 30. ASSOCIAÇÃO

L'ogre, le loup, la petite fille et le gâteau [O ogro, o lobo, a menina e o bolo]. Philippe Corentin. Paris: L’École des
Loisirs, 1995. Fonte: http://lebazarlitteraire.fr/les-ogres-dans-la-litterature-de-jeunesse/

Figura 31. CONJUNÇÃO

Ma Maison [Minha casa]. Delphine Durand. Rodez: Éditions du Rouergue, 2000.


Fonte: http://delphinedurand.blogspot.com/2007/12/my-house.html#.WxRoojQvwy4
39

4. METODOLOGIA

Partindo do objetivo geral de desenvolver projeto gráfico de um livro infan-


til, baseado na proposta literária de um autor de 5 anos de idade, foi elaborada uma
metodologia de projeto baseada na de Camila Volpatto Hoffmann, em seu trabalho
de conclusão de curso, de acordo com as seguintes etapas:

Levantamento de dados que inclui identificação dos objetivos do projeto e


delimitação do público-alvo;

Análises diacrônica e sincrônica.

Concepção que inclui o estudo dos elementos gráficos, que


compõem o livro (cores, ilustrações, tipografia e di-
agramação);

Geração de alternativas.

Implementação Layout;

e protótipo.

Segue na sequência, o detalhamento de cada uma das fases realizadas


no desenvolvimento deste projeto.

4.1 Levantamento de dados

A primeira etapa se deu a partir da problemática que motivou essa pes-


quisa, de como o design pode contribuir na construção de um livro infantil. Definidos
os objetivos, delimitamos o público-alvo com faixa etária de 3 a 5 anos de idade,
considerando a faixa etária do próprio autor do livro, como também seu conteúdo e
manuseio, não impedindo, porém, o interesse de outros grupos etários.
40

Paralelo às análises do desenvolvimento histórico do livro ilustrado infan-


til, e dos elementos gráficos utilizados para confecção do mesmo, análises diacrôni-
cas, ocorreram também os testes com as ilustrações, elaboradas pelo autor, Artur,
incorrendo a diversas técnicas, desenhos seguidos de pinturas em aquarela, lápis de
cor, giz de cera e colagens. As técnicas de colagem partiram de iniciativa dele pró-
prio.
Figura 32. COLAGENS

Fonte: Arquivo próprio

Seguimos então para pesquisa e análises de similares, análises sincrôni-


cas. Citaremos dois livros pelos quais o autor Artur, tem um apreço especial, princi-
palmente pelo seu tamanho, pois segundo ele, gosta de livros assim, grandes.

4.1.1 Análises sincrônicas

Análise 1 | Livro: É um gato?, texto e ilustrações de Guido Van Genechten, São


Paulo: Gaudí Editorial, 2008

Este livro, destinado a um grupo etário de 0 a 4 anos, faz parte da coleção


“O que é? O que é?”, desenvolvido pelo autor e ilustrador Guido Van Genechten,
artista gráfico belga. Em suas páginas, caracterizado pela dobradura, contém sur-
presas onde leitor pode estimular sua imaginação ao se deparar com imagens dife-
41

rentes que vão se revelando. Além de incentivar a criatividade da criança, possibilita


que a mesma brinque aprendendo.

O livro possui altura de 22cm e largura de 12cm, a medida em que vai


sendo desdobrado, o animal da capa vai sendo transformado em outros, e o último
tem 70cm (aberto).

Figura 33. IMAGENS DO LIVRO: É UM GATO?

GENECHTEN. Guido Van. É um gato? São Paulo: Gaudí Editorial, 2008.


Fonte: http://dobrasdaleitura.blogspot.com.br/2013/12/e-livro-de-imagem-ou.html
42

Análise 2 | Livro: Bocejo, autor Ilan Brenman e ilustrações de Renato Moriconi, São
Paulo: Companhia das Letrinhas, 2012

Trata-se de um livro-imagem, onde as ilustrações são em pinturas a óleo,


possui um tamanho de 36,5cm x 26,7cm, com acabamento em brochura, impresso
em papel Couché Reflex Matte. As imagens por si só podem falar muitas coisas,
despertam a criatividade e a imaginação, chamando mais atenção ainda pelo tama-
nho, formas gráficas, e o conteúdo do livro, que acaba por conduzir o leitor a se con-
tagiar com os bocejos dos personagens.

Figura 34. IMAGENS DO LIVRO BOCEJO

BRENMAN, Ilan e MORICONI, Renato. Bocejo. São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2012.
Fonte:http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/1200444-autores-usam-imagens-para-fazer-a-crianca-
bocejar.shtml
43

Tais análises nos serviram de base para o desenvolvimento do livro, onde


foram observados alguns pontos em acordo com a afirmação de Munari (2008,
p.96), no qual aponta que devemos considerar em projeto aspectos como a funcio-
nalidade, a manuseabilidade, a cor, a forma, o material, e assim por diante.

4.2 Concepção

Nesta etapa aplicamos os estudos dos fundamentos do design gráfico no


projeto. O conteúdo do livro, a história, os personagens, as cores e ilustrações foram
elaboradas pelo autor, Artur, cabendo a mim a organização dos elementos e layout
do mesmo.

Foram considerados alguns pontos na construção do mesmo, como o pú-


blico-alvo, um número pequeno de páginas (e ilustrações) e a ludicidade. Nesse
sentido, o lúdico consiste em um sistema de regras voltado a uma atividade física ou
mental que permite o desenvolvimento de habilidades infantis, cognitivas e motoras,
além de novos experimentos. (ROMANI, 2011, p. 20).

Primeiramente, seguimos com a utilização de técnicas mistas nas ilustra-


ções, com uso de aquarela, lápis de cor e colagens. Nessa etapa, minha participa-
ção se conteve ao recorte das ilustrações para posterior colagem, cabendo a Artur
total autonomia em relação aos desenhos, pinturas e colagens.
44

Figura 35. PRIMEIRAS ILUSTRAÇÕES DE ARTUR

Fonte: Arquivo próprio

Quanto ao formato, analisamos as considerações de Romani (2011,


p.28), onde a autora sugere levar em conta uma proporção conveniente à leitura e
ao manuseio, além de considerar também a viabilidade econômica. A partir de então
foram realizados testes com dobraduras em papel cartão, onde foram observadas
algumas limitações por parte da manuseabilidade e resistência do material. Esse
modelo se mostrou insatisfatório e teve de ser repensado, com experimentações de
novas alternativas.

Partindo para novos testes no formato, nos orientamos a partir de estudos


de proporção já existentes, como a seção áurea e a série Fibonacci, como também a
partir de modelos de livros escolhidos pelo autor. Romani (2011, p.29), explica que
“para formar um retângulo de seção áurea a partir de um quadrado, este é dividido
ao meio. A diagonal do meio é girada para o lado, definindo o comprimento do re-
tângulo”.
45

Figura 36. PROPORÇÃO ÁUREA

Fonte: arquivo próprio

Dando seguimento ao desenvolvimento, salientamos ainda que as carac-


terísticas do papel incluem o formato, a gramatura, o sentido da fibra, opacidade,
acabamento superficial e cor, como descrito por Silva (2016, p.67). No projeto utili-
zamos o papel couché matte (fosco), adesivado, em formato A4 e gramatura de
140g/m². A escolha dessas características se deu a partir de observações em livros
infantis disponíveis em acervo próprio, analisando os formatos de papel existente no
mercado e buscando evitar o desperdício.

A tipografia utilizada foi a Sassoon Infant Std Regular, desenvolvida por


Rosemary Sassoon e Adrian Williams, por apreciarmos seus caracteres limpos e de
fácil compreensão, tendo como base a legibilidade e referenciando as considerações
dispostas no capítulo anterior.

Quanto à definição do tamanho tipográfico, dimensão da linha e entreli-


nha, utilizamos as ponderações de Burt (1959), elucidado por Lourenço (2011), co-
mo mostra a tabela a seguir. Os tipos do texto interno preponderam em caixa alta,
também para contribuir com a facilidade de reconhecimento das letras por parte das
crianças.
46

Tabela 1. PARÂMETROS TIPOGRÁFICOS, RECOMENDADOS POR BURT

Fonte: LOURENÇO, 2011, p. 106

Depois de alguns testes, e seguindo uma uniformidade e harmonia dos


elementos que compõe a página, optamos pelo tamanho de 20 pontos para o corpo
do texto e 48 pontos para a capa.

Figura 37. REPRESENTAÇÃO DA TIPOGRAFIA UTILIZADA

Fonte: Arquivo próprio

No projeto da capa foi estabelecido o uso de papel paraná, para assegu-


rar a rigidez necessária, com impressão em papel couché matte, 140g/m². A capa
dura se deu por sugestão do autor, Artur.

Na sequência apresentaremos todo o processo com imagens ilustrativas.


47

4.2.1 Geração de alternativas

Figura 38. ALTERNATIVA 1

Alternativa 1 – Dobradura | Fonte: Arquivo próprio

Figura 39. ALTERNATIVA 2

Alternativa 2 – Dobradura | Fonte: Arquivo próprio


48

Figura 40. ALTERNATIVA 3

Experimentação escolhida | Fonte: Arquivo próprio

4.3 Implementação

Para estimular o imaginário e a fantasia, propusemos o desenvolvimento


de um material que permita a criança brincar, acompanhada por um adulto ou indivi-
dualmente. Entendemos que a presença do adulto é importante para motivar e esti-
mular a leitura.

Tendo em vista a produção artesanal do protótipo e para a exploração do


livro como objeto, optamos pelo uso de folha de flandre1 nas páginas ilustradas e
folha magnética nos personagens, com o intuito de convidar a criança a interagir,
podendo deslocar os personagens e contribuir com a contação da história.

Atualmente, existem papéis que recebem cargas aditivas metálicas em


sua composição, permitindo a atração de ímãs que se ligam ao impresso (PAIVA,
1
Material laminado, composto por ferro e aço de baixo teor de carbono, revestido com estanho. Ge-
ralmente utilizado na fabricação de latas, utensílios domésticos e industriais, embalagens etc., devido
à sua alta resistência à corrosão. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Folha_de_flandres
49

apud SILVA, 2016). Porém, não encontramos esse material disponível na região, o
que nos levou a pensar em alternativas para substituição.

As ilustrações foram digitalizadas, passando por ajustes de tonalidade,


brilho, e contraste. Ocorreram também algumas modificações para a imposição do
texto na página, de modo a equilibrar de forma coerente os elementos que a com-
põe. Nesse sentido, a diagramação seguiu a ordem associativa.

A disposição das páginas internas (miolo) se dá na seguinte ordem: na


primeira guarda2 temos a folha de rosto. Na sequência, temos um tutorial contendo
explicações sobre a forma de interação, e em seguida, o início da história.

O processo de montagem se deu após a impressão das ilustrações, que


em seguida foram adesivadas à folha de flandre. Os personagens foram impressos
avulso, colados à manta magnética e recortados. O miolo foi costurado e colado pa-
ra garantir a durabilidade, e por fim, o acabamento incluiu todo o processo de finali-
zação, a saber: encadernação e refile3. Optamos por um formato em capa dura, com
tamanho de 25cm x 15,5cm, seguindo a proporção áurea, com sangria4 de 0,5 cm,
para refile.
Figura 41. ESQUEMA DE MONTAGEM

Fonte: arquivo próprio

2
Folhas de guarda, servem para unir a capa dura, ao corpo do livro. (LIMA, 2011)
3
Trata-se do corte do impresso, para a obtenção do tamanho desejado.
4
Quando a área de impressão gráfica ultrapassa o limite de corte da página.
50

Figura 42. MATERIAL EDITORADO PARA IMPRESSÃO


51

Fonte: Arquivo próprio


52

Figura 43. PÁGINAS COM PERSONAGENS

Fonte: Arquivo próprio


53

4.3.1 Protótipo

Segundo Barbiere (2012, p. 27) “as crianças trazem questões de suas vi-
das em seus trabalhos de arte. Muitas vezes, desenham e pintam contando histó-
rias, misturando super-herói com pai, com vizinho”.

O livro em questão narra a vida de uma formiga, e a vivência de suas


aventuras juntamente com sua família. Percebemos que partes dessa narrativa,
além da imaginação, trazem também vivências do autor, como os passeios em famí-
lia, experiências vividas na escola, etc.

As dificuldades enfrentadas ao longo do percurso de construção do livro


foram maiores por ocasião de em alguns momentos de impaciência e ansiedade tí-
picas de crianças, onde Artur dizia frases como: “não queria mais fazer esse livro, já
era chato, queria fazer outro livro”. Este fato nos levou a utilizar outros desenhos
seus, pra não tornar uma atividade obrigatória.

Essa atitude é compreensível, e se justifica ao fato de que no seu univer-


so favorece a exploração de outras atividades, incluindo também outras distrações
(brinquedos, filmes etc.). Isso nos induziu a criar condições para despertar o inte-
resse e o encorajasse a realizar o trabalho.

Na sequência, segue protótipo finalizado.


54

Figura 44. PROTÓTIPO

Fonte: Arquivo próprio


55

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Barbieri (2012, p.28), nos chama a atenção para a questão do mundo em


que vivemos atualmente, “onde não existe mais separação entre o universo da cri-
ança e o universo do adulto [...] É necessário preservar o universo da criança, para
que ela possa brincar e exercitar a sua potência de inventar e construir ”. Essa afir-
mação nos atenta para a importância do estímulo o qual podemos submeter às cri-
anças. Dentre os quais podemos citar o desenho, a pintura, o jogo, a brincadeira, a
leitura e principalmente, a interação com os pais em todos esses processos.

A partir do desenvolvimento deste projeto concluímos que o livro infantil


vai além do seu objetivo de contar histórias, pois o mesmo pode comunicar também
através do material e das estruturas cromáticas, tipográficas e estilísticas, indepen-
dentemente das palavras. A infinita variedade de formatos, cores, materiais, pode
levar a criança a manusear, sentir, e ter uma melhor interação com o mesmo.

O conhecimento de técnicas de diagramação nos permite aplicar melhor


as formas, tipologia e cores, favorecendo a comunicação adequada junto ao público-
alvo. É importante se considerar os aspectos aqui apresentados.

Apesar das dificuldades encontradas, a experiência de construção desse


livro teve contribuições relevantes profissional e pessoalmente. Artur nos dá diaria-
mente a oportunidade de viver momentos de cumplicidade como este, momentos
que nos traz novos pensamentos e percepções. Podemos dizer que nos proporcio-
namos sentir e ser protagonistas de nossas aprendizagens.

Por fim, concluímos ainda que o produto trabalha as áreas de desenvol-


vimento cognitivo da criança, e contribui para práticas de interação entre pais e filhos
a partir da leitura, atendendo as necessidades para o qual foi projetado.
56

REFERÊNCIAS

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