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PROGRAMA DE APRIMORAMENTO

PROFISSIONAL
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS
FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO -
FUNDAP

ANA CECÍLIA CAPOANI ANGÉLICO

Avaliação Clínica, Funcional e Radiográfica em crianças e


adolescentes com escorregamento epifisário proximal do fêmur

RIBEIRÃO PRETO
2015
2

PROGRAMA DE APRIMORAMENTO
PROFISSIONAL
SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE
COORDENADORIA DE RECURSOS HUMANOS
FUNDAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ADMINISTRATIVO
– FUNDAP

ANA CECÍLIA CAPOANI ANGÉLICO

Avaliação Clínica, Funcional e Radiográfica em crianças e


adolescentes com escorregamento epifisário proximal do fêmur

Monografia apresentada ao Programa de


Aprimoramento Profissional/CRH/SES-SP e
FUNDAP, elaborada no Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo – USP/
Departamento de Biomecânica, Medicina e
Reabilitação do Aparelho Locomotor
Área: Fisioterapia em Ortopedia e
Traumatologia
Orientadora: Ms. Larissa Martins Garcia
Co-orientador: Prof. Dr. Daniel Augusto
Carvalho Maranho
Supervisora Titular: Profa. Dra. Marisa C.R.
Fonseca

RIBEIRÃO PRETO
2015
3

Angélico, Ana Cecília Capoani


Avaliação Clínica Funcional e Radiográfica em crianças e
adolescentes com escorregamento epifisário proximal do
fêmur
Orientador: Larissa Martins Garcia.
Monografia (aprimoramento) – Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de
São Paulo - USP, Fisioterapia. Ribeirão Preto, 2015
4

Resumo

O escorregamento epifisário proximal do fêmur (EEPF) é a afecção mais comum


do quadril de crianças e adolescentes, consistindo no deslizamento da epífise em
relação à metáfise femoral. Sua etiologia é desconhecida, mas traumatismos locais e
obesidade podem influenciar em seu aparecimento. Várias alterações tanto clínicas
como radiográficas podem resultar da EEPF. O tratamento é cirúrgico e busca melhora
da função e redução de riscos de alterações degenerativas. Este estudo teve como
objetivo, primariamente, a avaliação de amplitude de movimento (ADM), força da
musculatura abdutora de quadril e presença do sinal de Trendelenburg em pacientes
com EEPF submetidos à correção cirúrgica e, secundariamente, a comparação dessas
variáveis com o angulo cervicodiafisário (ACD) aos seis e 12 meses de PO. Foram
avaliados 12 voluntários aos seis meses e 11 aos 12 meses de PO. A ADM de abdução
foi mensurada com goniômetro e a força abdutora com dinamômetro isocinético a 60°/s
e 120°/s. Para análise estátisca foi usado teste de Shapiro-Wilk para verificar
normalidade e as correlações de Pearson e Spearman para dados que apresentavam e
que não apresentavam normalidade respectivamente. Para comparação das variáveis
contínuas com as binárias foram utilizadas regressões logísticas. Foi adotado nível de
significância de 5%. Os resultados consistiram, para a maior parte dos casos, em ADM
de abdução, ACD e torque abdutor do lado acometido diminuídos, quando comparados
ao lado não acometido. Aos seis meses de PO, metade dos voluntários apresentaram
sinal de Trendelenburg positivo, sendo que com 12 meses de PO, esse índice cai
expressivamente. Só foi encontrada correlação estatística significativa entre ACD e
sinal de Trendelenburg. Isto ocorre devido às alterações biomecânicas resultantes de
cirurgias do quadril que incluem o aumento do ACD e da linha de ação do glúteo médio,
favorecendo sua contratilidade e ativação, diminuindo a chance do Trendelenburg ser
positivo. Mais estudos são necessários para verificar a persistência das alterações
biomecânicas no quadril e a maneira como influenciam a reabilitação no PO.

Palavras chave: escorregamento epifisário, avaliação, Trendelenburg, ângulo


cervicodiafisário, força abdutora.
5

Abstract

The slipped capital femoral epiphysis (SCFE) is the most common disease of the hip in
children and adolescents, consisting of the sliding of the epiphysis from the femoral
metaphysis. Its etiology is unknown, but local trauma and obesity can influence its
appearance. Several both clinical and radiographic changes as may result from SCFE.
The treatment is surgical and improved search function and reducing the risk of
degenerative changes. This study aimed, primarily, the assessment of range of motion
(ROM), strength of the abductor muscles of the hip and presence of Trendelenburg sign
on patients with SCFE undergoing surgical correction and, secondly, the comparison of
these parameters with the cervico diaphyseal angle (CDA) at six and 12 months of PO.
We evaluated 12 volunteers at six months and 11 at 12 months postoperatively. ROM
abduction was measured with a goniometer and the abduction force with isokinetic
dynamometer at 60°/s and 120°/ s. To statistic analysis was used the Shapiro-Wilk test
to check normality and Pearson's correlations and Spearman to data presented and did
not show normal respectively. To compare continuous variables with binary logistic
regressions were used. 5% significance level was adopted. The results consisted, for
the most part, in a ROM abduction, CDA and abductor torque in the affected reduced
when compared to non affected side. At six months postoperatively, half of the
volunteers had a positive Trendelenburg sign, and with 12 months postoperatively, this
rate drops significantly. Only significant statistical correlation between CDA and
Trendelenburg sign. This is due to biomechanical changes resulting from hip surgeries
that include increasing the CDA and the gluteus medius course of action, favoring its
contractility and activation, decreasing the chance of Trendelenburg be positive. More
studies are needed to verify the persistence of biomechanical changes in the hip and the
way they influence the rehabilitation postoperatively.

Keywords: slipped epiphysis, evaluation, Trendelenburg, cervico diaphyseal angle,


abduction force.
6

Lista de figuras

Figura 1 - Reconstrução tridimensional da porção proximal do fêmur com


escorregamento epifisário grave. Note a excentricidade da cabeça em relação ao colo,
com grave desvio posterior. Na figura 1C está identificada a posição anatômica que a
cabeça femoral normalmente ocupa (Fonte: Maranho DAC. Escorregamento epifisário
Proximal do Fêmur. Em: Volpon JB. Fundamentos de Ortopedia e Traumatologia. 2013)
......................................................................................................................................... 9
7

Lista de tabelas
Tabela 1 - Características dos voluntários com seis meses de PO (n = 12) .................. 17

Tabela 2 - Características dos voluntários com 12 meses de PO (n = 11) ..................... 17

Tabela 3 - Lado acometido, presença de sinal de Trendelenburg, valores de amplitude


de movimento de abdução, ângulo cervicodiafisário e média do pico de torque abdutor a
60º/s e 120º/s para ambos os quadris dos voluntários com seis meses de PO ............. 18

Tabela 4 - Lado acometido, presença de sinal de Trendelenburg, valores de amplitude


de movimento de abdução, ângulo cervicodiafisário e média do pico de torque abdutor a
60º/s e 120º/s para ambos os quadris dos voluntários com 12 meses de PO ............... 18

Tabela 5 - Correlações entre ACD e ADM de Abdução ativa e passiva do quadril dos
voluntários deste estudo ................................................................................................ 20

Tabela 6 - Correlações entre ACD e Torque Abdutor do quadril a 60°/s e 120°/s dos
voluntários deste estudo ................................................................................................ 20

Tabela 7 - Correlações entre Sinal de Trendelenburg e Ângulo de Abdução, ACD,


Torque Abdutor do quadril a 60°/s e 120°/s dos voluntários deste estudo ..................... 21
8

Sumário

1. Introdução .................................................................................................................... 9
2. Materiais e método ..................................................................................................... 12
2.1. Sujeitos.............................................................................................................. 12
2.2. Anamnese e Exame Físico ................................................................................ 12
2.3. Avaliação da força ............................................................................................. 13
2.4. Avaliação radiográfica ....................................................................................... 14
2.5. Procedimentos .................................................................................................. 15
2.6. Aspectos Éticos ................................................................................................. 15
2.7 Análise estatística .............................................................................................. 16
3. Resultados ................................................................................................................. 16
3.1. Voluntários ........................................................................................................ 16
3.2. Avaliação ........................................................................................................... 17
3.3. Correlações ....................................................................................................... 19
4. Discussão ................................................................................................................... 21
5. Conclusão .................................................................................................................. 24
6. Referências ................................................................................................................ 26
ANEXO I - Ficha de Avaliação ....................................................................................... 28
Anexo II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos voluntários ...................... 31
Anexo III – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos representantes legais .... 32
Anexo IV – Parecer do Comitê de Ética ......................................................................... 33
9

1. Introdução

O escorregamento epifisário proximal do fêmur (EEPF) é a afecção ortopédica


mais comum do quadril de crianças e adolescentes, principalmente entre 9 e 12 anos.
Tal alteração ocorre na placa de crescimento proximal do fêmur, que fica enfraquecida,
de modo a haver instabilidade epifisária e consequente migração do colo em relação à
cabeça femoral (HART; GROTTKAU; ALBRIGHT, 2007; LIM et al., 2007).
Especificamente, ocorre deslizamento posterior e inferior da epífise em relação à
metáfise femoral, com deslocamento anterior e em rotação externa do colo em relação
à cabeça do fêmur (SHARMA, 2014). Essas mudanças estruturais podem ser
visualizadas na Figura 1.

Figura 1 - Reconstrução tridimensional da porção proximal do fêmur com


escorregamento epifisário grave. Note a excentricidade da cabeça em relação ao colo,
com grave desvio posterior. Na figura 1C está identificada a posição anatômica que a
cabeça femoral normalmente ocupa (Fonte: Maranho DAC. Escorregamento epifisário
Proximal do Fêmur. Em: Volpon JB. Fundamentos de Ortopedia e Traumatologia. 2013)

Estudos revelam que a EEPF afeta cerca de 2 a 10 em cada 100 mil


adolescentes nos Estados Unidos e que costuma se manifestar no início da
adolescência, quando ocorre rápido estirão de crescimento (HART; GROTTKAU;
ALBRIGHT, 2007). Em média, surge aos 13,5 anos para os meninos e 12 anos para as
meninas (HUBER et al., 2011), sendo que o gênero masculino é mais frequentemente
10

afetado que o feminino, numa proporção de 2,5 homens para 1 mulher (HART;
GROTTKAU; ALBRIGHT, 2007).
A etiologia da EEPF ainda é desconhecida, mas acredita-se que fatores
mecânicos, biológicos e hereditários possam provavelmente ter influência sobre essa
doença (LEHMANN et al., 2011). Alguns autores, então, defendem a etiologia
multifatorial, em que traumas locais, fatores inflamatórios, alterações endócrinas e a
obesidade possam influenciar na gênese da doença (HART; GROTTKAU; ALBRIGHT,
2007). Estudos recentes, inclusive, têm sugerido aumento da incidência de EEPF ao
longo dos anos e comparam tal fato com o recente aumento da prevalência da
obesidade infantil (SHARMA, 2014).
A EEPF é manifestada de forma unilateral, mas pode ser bilateral em 30 a 50%
dos casos, sendo que o início do deslizamento contralateral pode ser assintomático.
Justamente por isso se dá a importância de acompanhar cada paciente com exames
radiográficos de ambos os quadris, principalmente em incidências anteroposterior e em
perfil. As radiografias justificam-se também por permitirem visualização de
irregularidades na placa de crescimento, facilitar e confirmar o diagnóstico (SHARMA,
2014).
Alterações radiográficas como deformidades da cabeça femoral ou acetábulo
são, portanto, comuns em indivíduos acometidos por essa doença, o que promove dor
e disfunção do quadril (FU et al., 2014; LARSON et al., 2012; GEKELER, 2002),
impacto femoroacetabular (Maranho et al., 2013), limitação da amplitude de movimento
(ADM) e anormalidades na marcha (MAMISCH et al., 2009). Isso pode afetar
significativamente as atividades de vida diária e o bem estar desses indivíduos (LIM et
al., 2007; LEUNIG et al., 2010).
Os principais objetivos do tratamento da EEPF são a restauração da função do
quadril, prevenção de maiores desvios e redução dos riscos de possíveis alterações
degenerativas subsequentes (LEHMANN et al., 2011; LIM et al, 2007; SHARMA, 2014).
Ainda não há consenso sobre qual seria a melhor opção de tratamento para a
EEPF e essa decisão varia de acordo com a gravidade do escorregamento epifisário,
bem como com a experiência do cirurgião (SHARMA, 2014). As osteotomias são
técnicas amplamente aceitas, já que são capazes de reajustar o posicionamento
11

articular e melhorar as propriedades biomecânicas do quadril (FU et al., 2014), o que


resulta em melhora da funcionalidade e da dor, além de reduzir os riscos de osteoartrite
(WENGER et al., 2010; MAMISCH et al., 2009). No entanto, em casos menos graves, a
opção mais aceita é a fixação in situ, que utiliza parafusos canulados para conter o
escorregamento por meio da epifisiodese (HUBER et al., 2011; LEHMANN et al., 2011).
Há, inclusive, estudos que consideram que escorregamentos epifisários menores que
10 milímetros devem ser tratados por fixação in situ, mas que qualquer deformidade
maior deve ser tratado com técnicas de osteotomia (KRAMER; CRAIG; NOEL, 1976).
Distúrbios funcionais e da marcha após intervenção cirúrgica são comumente
relatados em crianças e adolescentes com disfunção no quadril. Acredita-se que
alteração progressiva na marcha e amplitude de movimento do quadril possam ocorrer
para evitar impacto da porção metafisária do colo femoral. Contudo, poucos estudos
avaliaram esses défices a curto e longo prazo em crianças e adolescentes submetidos
à cirurgia do quadril (SONG et al., 2004).
Devido à escassez de estudos que avaliaram a amplitude de movimento, a força
muscular do quadril, as características radiográficas de crianças e adolescentes com
EEPF, há uma falta de padronização de ferramentas confiáveis para realização da
avaliação abrangente desses pacientes. Tal padronização facilitaria a detecção de
défices e alterações funcionais persistentes, e possibilitaria melhor condução da
reabilitação dos pacientes. Além disso, não há estudos que comparem resultados de
interpretação radiográfica com demais resultados clínicos e funcionais, sendo que
associações positivas entre essas variáveis poderiam levar a um tratamento mais
específico no pós-operatório e alcançar melhores resultados terapêuticos.
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo inicial a avaliação de
amplitude de movimento, força da musculatura abdutora de quadril e presença do sinal
de Trendelenburg de pacientes com EEPF submetidos à correção cirúrgica buscando
verificar se há alterações nessas variáveis após o procedimento cirúrgico e por quanto
tempo elas persistiram. Secundariamente, o estudo objetivou a comparação da força da
musculatura abdutora, da amplitude de movimento de abdução do quadril e da
presença do sinal de Trendelenburg com o ângulo cervicodiafisário radiográfico, bem
12

como da análise criteriosa da relação entre essas variáveis e de que forma elas podem
interferir na funcionalidade dos pacientes avaliados.

2. Materiais e método

2.1. Sujeitos

Foram incluídos pacientes com diagnóstico de escorregamento epifisário


proximal do fêmur submetidos à fixação in situ e/ou osteotomia. Para indivíduos com
envolvimento bilateral, a articulação do quadril mais comprometida foi definida como a
principal. Foram excluídos indivíduos submetidos a outras intervenções cirúrgicas nos
membros inferiores devido intercorrências ocorridas no período de até 12 meses de
pós-operatório.

2.2. Anamnese e Exame Físico

Foram coletados os dados referentes à idade (anos), IMC (Kg/m²), altura


(metros) e peso (Kg). Além disso, os voluntários foram submetidos ao teste de
Trendelenburg bilateralmente e mensuração do ângulo de abdução ativo e passivo dos
quadris com auxílio de goniômetro. O exame físico de todos os pacientes foi realizado
por um único avaliador. A ficha de avaliação completa pode ser encontrada no Anexo I.
Para a mensuração dos ângulos de abdução dos quadris, o paciente foi
posicionado em decúbito dorsal, sendo o eixo do goniômetro colocado sobre a espinha
ilíaca ântero superior do membro a ser avaliado, seu braço móvel alinhado com a
diáfise femoral e o braço fixo alinhado com a espinha ilíaca ântero superior
contralateral.
O teste de Trendelenburg leva o nome de seu criador, o médico alemão Friedrich
Trendelenburg. Foi descrito em 1897 como ferramenta útil para avaliar a função da
musculatura abdutora do quadril em pacientes portadores de luxação congênita desta
articulação (HARDCASTLE; NADE, 1985). O teste consiste em posicionar o paciente
em posição ortostática e solicitar elevação de um dos membros inferiores e o lado
13

testado é o lado de apoio. Em indivíduos considerados saudáveis, é esperado que haja


leve inclinação do tronco para o lado do membro inferior apoiado no chão, sem que
haja queda pélvica contralateral, ou seja, se a função abdutora do membro inferior de
apoio estiver boa, o voluntário conseguirá sustentar o peso sem que haja rotação
pélvica para o lado da perna elevada e isso caracteriza um teste negativo (PELTIER,
1966).
Em contrapartida, um sinal e/ou teste de Trendelenburg positivo pode ser notado
quando, ao posicionar o paciente na posição do teste, ele realize rotação pélvica para o
lado do membro inferior elevado do solo, necessitando de um desvio de tronco maior
para o lado da perna de apoio para manter o equilíbrio. Dessa forma, pode-se
interpretar que a musculatura abdutora do quadril do membro inferior de apoio não foi
capaz de manter a pelve em posição horizontal, levando à queda da pelve para o lado
da perna elevada e, portanto, sugere disfunção dos abdutores do quadril (PELTIER,
1966).
Foi solicitado que o paciente permanecesse em apoio unipodal primeiramente no
membro inferior mais acometido, com flexão de quadril de 90°, por cinco segundos. O
teste foi aplicado e ambos os membros inferiores.

2.3. Avaliação da força

Após seis meses e 12 meses de pós-operatório, a força muscular isocinética


concêntrica/concêntrica de abdução dos quadris nas velocidades angulares de 60º/s e
120º/s foi mensurada com auxílio de um dinamômetro isocinético (System 4 Pro -
Biodex®) primeiramente do membro não acometido e posteriormente do membro
acometido. Antes do teste de força, os indivíduos foram submetidos a cinco minutos de
aquecimento em cicloergômetro (50-100Watt).
O eixo mecânico de rotação do dinamômetro foi alinhado com o trocânter maior
do fêmur (FROST et al., 2006; CASARTELLI et al., 2011). A alavanca do dinamômetro
foi colocada 5 cm acima da interlinha articular do joelho do membro avaliado. O
paciente foi posicionado em decúbito lateral e, portanto, o quadril avaliado foi colocado
superiormente e com alinhamento neutro em todos os 3 planos (NAKAGAWA et al.,
14

2012). O joelho permaneceu a 0° de flexão (BALDON et al., 2009) e a pelve e o tronco


foram fixados à cadeira do dinamômetro por meio de cintos (CASARTELLI et al., 2011).
Para tal grupo muscular, os indivíduos completaram uma familiarização
submáxima seguida de 3 repetições máximas com duração de 5 segundos cada contra
o braço de alavanca fixo do dinamômetro, com intervalo de 60 segundos entre uma
repetição e outra (FROST et al., 2006; CASARTELLI et al., 2011). Comando verbal
padronizado foi oferecido pelos investigadores durante a realização do teste
(CASARTELLI et al., 2011).
Foi analisada a variável média de pico de torque (Nm) durante contração
concêntrica dos abdutores dos quadris.

2.4. Avaliação radiográfica

O arquivo radiográfico de cada paciente foi consultado no Sistema de


Comunicação e Arquivamento de Imagens (PACS) do Hospital das Clínicas de Ribeirão
Preto, pela equipe médica da Ortopedia e Traumatologia da Criança e do Adolescente.
Os resultados da interpretação radiográfica foram comparados aos resultados clínicos e
funcionais com o objetivo de identificar possíveis associações.
O critério radiográfico analisado neste estudo foi o ângulo cervicodiafisário
(ACD), ou seja, ângulo entre o eixo do colo e o eixo da diáfise femoral, o que
caracteriza a presença ou não de coxa vara nos quadris dos voluntários avaliados. Tal
ângulo tende a diminuir conforme ocorre o amadurecimento ósseo e enquanto pode ser
esperado num recém-nascido sem patologias na articulação do quadril um ângulo
cervicodiafisário de 150 graus, num quadril adulto sadio é esperado um valor de 125 ± 5
graus (POLKOWSKI; CLOHISY, 2010).
Em pacientes com EEPF, devido ao deslizamento inferior da epífise em relação à
metáfise, é esperada uma diminuição do ângulo cervicodiafisário e, portanto, busca-se
no procedimento cirúrgico um aumento deste ângulo através do aumento do valgo do
fêmur.
15

2.5. Procedimentos

Os pacientes foram encaminhados do ambulatório de Ortopedia e Traumatologia


do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) sob
chefia dos professores doutores Daniel Augusto Carvalho Maranho e José Batista
Volpon para o Centro de Reabilitação (CER) do HCFMRP, onde foram convidados a
participar do estudo e esclarecidos sobre os objetivos e metodologia dele, podendo a
qualquer momento solicitar a saída do mesmo.
Os sujeitos da pesquisa foram seguidos rotineiramente no ambulatório de
Ortopedia Pediátrica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto da Universidade de São Paulo (HC-FMRP), independentemente de que tenham
sido incluídos na pesquisa ou não e isto não os diferenciou dos demais, em termos de
rotina.
Para que os dados coletados pudessem ser utilizados foram elaborados dois
termos de consentimento livres e esclarecidos, sendo um deles destinado aos
voluntários (Anexo II) e o outro aos seus respectivos responsáveis legais (Anexo III).
Em seguida, os voluntários foram submetidos à anamnese e exame físico e avaliação
da força nos períodos de 6 meses e 12 meses de pós-operatório.

2.6. Aspectos Éticos

O pesquisador esclareceu e orientou os voluntários e seus representantes legais


sobre os objetivos e procedimentos do presente estudo, dos benefícios e desconfortos
do mesmo, além da liberdade de poderem desistir de participar da pesquisa a qualquer
momento sem prejuízo algum. Só fizeram parte do estudo as crianças e adolescentes
que voluntariamente aceitaram participar do mesmo e assinaram o termo de
consentimento livre e esclarecido. Além do consentimento dos voluntários, só foram
inclusos na pesquisa aqueles cujos representantes legais também consentiram a
participação. Também foi cobrada assinatura dos representantes legais em um termo
de consentimento livre e esclarecido voltado a eles.
16

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital das
Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (processo HCRP 942.952, Anexo
IV).

2.7 Análise estatística

Os valores dos limiares dos ângulos de abdução ativo e passivo, ângulo


cervicodiafisário, média de pico de torque da musculatura abdutora em 60°/s e 120°/s
foram coletados e analisados com seis meses e com 12 meses de PO. Além disso,
também foram feitas análises correlacionando entre si o torque da musculatura
abdutora do quadril com o ângulo cervicodiafisário, amplitude de movimento do quadril
e a presença do sinal de Trendelenburg.
O software Small Stata 13.1 (2013) (StataCorp, College Station, EUA) foi
utilizado para a análise estatística. Foi aplicado o teste de Shapiro-Wilk para verificar a
normalidade dos dados para cada variável contínua. Para a realização de medidas de
correlação entre as variáveis contínuas, adotou-se a Correlação de Pearson para as
variáveis “ângulo cervicodiafisário” e “torque da musculatura abdutora”, já que tais
dados foram contínuos e apresentaram normalidade. Já para correlações utilizando a
variável “ângulo de abdução do quadril” foi utilizada Correlação de Spearman, visto que
para esta variável a normalidade foi rejeitada. Para comparar as variáveis contínuas
“torque de abdução”, “amplitude de movimento” e “ângulo cervicodiafisário” com as
variáveis binárias quadril afetado e o não afetado, e o período de avaliação de “seis
meses” e “12 meses”, e o teste de Trendelenburg presente ou ausente, foram utilizadas
regressões logísticas. Foi adotado nível de significância de 5%.

3. Resultados

3.1. Voluntários

Este estudo incluiu pacientes com idades entre 11 e 16 anos, com diagnóstico de
EEPF, sendo que todos realizaram procedimentos cirúrgicos para estabilização do
17

quadro. Foram avaliados 12 indivíduos com seis meses de pós-operatório (11 do


gênero masculino e 1 do gênero feminino) e 11 indivíduos com 12 meses de pós
operatório (oito representantes masculinos e três femininos). As características desta
amostra podem ser visualizadas nas Tabela 1 e 2, respectivamente para seis e 12
meses de pós-operatório.

Tabela 1 - Características dos voluntários com seis meses de PO (n = 12)

Dados Média ± Desvio Padrão


Idade (Anos) 13,4 ± 1,5
Peso (Kg) 77,8 ± 17,23
Altura (metros) 1,65 ± 0,06
IMC (Kg/m²) 28,5 ± 5,3

Tabela 2 - Características dos voluntários com 12 meses de PO (n = 11)

Dados Média ± Desvio Padrão


Idade (Anos) 13,8 ± 1,5
Peso (Kg) 73,9 ± 17,85
Altura (metros) 1,66 ± 0,07
IMC (Kg/m²) 26,4 ± 4,7

3.2. Avaliação

Os dados de presença ou não do sinal de Trendelenburg, bem como a amplitude


de movimento ativa e passiva (a/p) de abdução dos quadris, o ângulo cervicodiafisário,
e os valores de média de pico de torque abdutor a 60º/s e 120º/s de ambos os
membros inferiores dos voluntários do presente estudo com seis meses de PO são
apresentados na tabela 3 e os mesmos dados dos voluntários com 12 meses de PO
são apresentados na tabela 4.
18

Tabela 3 - Lado acometido, presença de sinal de Trendelenburg, valores de amplitude


de movimento de abdução, ângulo cervicodiafisário e média do pico de torque abdutor
a 60º/s e 120º/s para ambos os quadris dos voluntários com seis meses de PO

Ang. Média de pico de torque (Nm)


Sinal de
Lado Ang. Abdução (a/p) Cervico
Pacientes Trendelenburg** Acometido Não acometido
Acometido* Diafisário
D E D E D E 60°/s 120°/s 60°/s 120°/s
A.G.Q. Bilat/ D - + 18°/22° 18°/20° 92 103 30,7 26,4 29,6 28,6
C.V.M. E - - 34°/44° 22°/24° 140 136 37,3 43,2 56,6 58,7
C.H.S. E - - 42°/42° 36°/36° 138 134 34,5 38,8 41,5 44,5
D.C.F. Bilat/ E - - 22°/24° 20/20° 132 137 45,5 37,7 67,9 74,6
F.C.D.O. Bilat/ E - + 32°/36° 30°/38° 141 141 21,9 25 35,5 27,9
G.S.S. Bilat/D - - 28°/30° 14°/18° 124 126 42,2 35,2 50,2 39,5
G.S.M. D - - 30°/30° 26°/30° 125 129 35,7 39,9 40,2 41,7
J.B.F. Bilat/E - - 30°/32° 26°/28° 138 132 30,2 29,9 39,1 41,5
J.W.F. D + - 20°/24° 12°/16° 121 136 30,6 32,3 50 39,2
L.R.S.A. Bilat/ E - + 30°/32° 30°/34° 135 125 21,7 20,1 34,8 32,3
P.A.A.C. D + - 20°/24° 26°/30 104 135 23,2 24,9 47,2 40,1
V.O.F. D + - 30°/36° 35°/40° 107 140 23,3 24,8 31,7 33,1
* Bilat = bilateral; D = direito; E = esquerdo;
** Sinal presente = +; ausente = negativo

Tabela 4 - Lado acometido, presença de sinal de Trendelenburg, valores de amplitude


de movimento de abdução, ângulo cervicodiafisário e média do pico de torque abdutor
a 60º/s e 120º/s para ambos os quadris dos voluntários com 12 meses de PO

Ang. Média de pico de torque (Nm)


Sinal de
Lado Ang. Abdução (a/p) Cervico
Pacientes Trendelenburg** Acometido Não acometido
Acometido* Diafisário
D E D E D E 60°/s 120°/s 60°/s 120°/s
A.C.R.R. Bilat/E - - 24°/26° 32°/34° 122 123 16,9 17,7 26,4 19,8
C.H.S. E - - 40°/44° 30°/40° 134 135 37,3 41,3 36,4 36
D.L.V.G. E - - 34°/36° 30°/34° 133 110 36,2 31,1 48,4 43,6
D.C.F. Bilat/E - - 30°/36° 26°/30° 134 134 46,1 46,3 70,7 67,1
G.S.S. Bilat/D - - 30°/38° 12°/12° 126 124 95,6 88,7 55,8 55
G.F.S. D - - 30°/34° 30°/34° 124 125 52,2 40,4 63,8 56,3
G.S.M. D - - 22°/24° 28°/30° 125 129 49 41,9 51,4 42,4
K.L.B.L. E - - 44°/44° 30°/32° 135 119 19,7 18,3 42,4 45,3
P.A.A.C. D + - 24°/24° 26°/28° 105 134 55,9 52,9 67,4 60,6
T.D.S. Bilat/E - - 28°/32° 20°/30° 136 136 36,3 28,1 30,1 32,8
V.P.S. D - - 32°/36° 32°/34° 120 132 58,8 51,6 43,4 42,2
*Bilat = bilateral; D = direito; E = esquerdo
** Sinal presente = +; ausente = -
19

A avaliação criteriosa das tabelas 3 e 4 mostra que, embora na maior parte dos
casos, os ângulos de abdução ativa e passiva, o ângulo cervicodiafisário e o torque da
musculatura abdutora do lado acometido sejam reduzidos quando comparados ao lado
não acometido, isso não é uma regra. Há casos em que mesmo não havendo
comprometimento bilateral, a mensuração da amplitude de movimento de abdução,
bem como os valores do ângulo cervicodiafisário se mantém idênticos entre os lados ou
até maiores no lado acometido e isso pode ser visto tanto com seis como com 12
meses de PO. Com relação ao torque abdutor nota-se que, com seis meses de PO,
todos os pacientes exceto um apresentaram valores reduzidos no lado mais acometido
quando comparado ao menos ou não acometido para 60°/s. Já para 120°/s todos os
pacientes apresentaram valores reduzidos no lado mais acometido quando comparado
ao menos ou não acometido. Todavia, com 12 meses de PO, em alguns casos, os
valores do lado acometido ultrapassam os do lado sadio.
Além desses dados, as tabelas fornecem informações sobre presença ou não do
sinal de Trendelenburg, mostrando que, aos seis meses de PO, metade dos pacientes
avaliados apresentaram esse sinal positivo unilateralmente, mas não necessariamente
no membro inferior mais acometido. No entanto, com 12 meses de PO, apenas um dos
11 pacientes apresentou Trendelenburg positivo e correspondente ao lado mais
acometido.

3.3. Correlações

Dentre as correlações estatísticas realizadas neste estudo, a primeira


correlacionou “ângulo cervicodiafisário” (variável contínua e com distribuição normal)
com a amplitude de movimento de abdução (tanto ativa quanto passiva) do quadril
acometido dos voluntários. Para isso foi utilizada a Correlação de Pearson e os valores
dos níveis de significância podem ser verificados na Tabela 5 abaixo.
20

Tabela 5 - Correlações entre ACD e ADM de Abdução ativa e passiva do quadril dos
voluntários deste estudo

Variáveis Ângulo Cervicodiafisário


Abdução ativa p = 0,3008
Abdução passiva p = 0,3576

Como pode ser percebido na tabela acima, não houve correlação estatística
significativa entre o ângulo cervicodiafisário e as amplitude de movimento de abdução
ativa e passiva (p > 0,05). Ou seja, de acordo com os valores obtidos, um ângulo
cervicodiafisário baixo pode estar relacionado com uma amplitude alta ou baixa de
abdução, sem diferença estatística.
A segunda correlação feita comparou o “Torque abdutor” (variável contínua e
também com distribuição normal) com Ângulo cervicodiafisário, ambos tanto para
quadril afetado quanto para não afetado. Para tal também foi utilizada a Correlação de
Pearson e os valores dos níveis de significância estão expostos na tabela 6.

Tabela 6 - Correlações entre ACD e Torque Abdutor do quadril a 60°/s e 120°/s dos
voluntários deste estudo

Variáveis Ângulo Cervicodiafisário


Torque 60°/s p = 0,1554
Torque 120°/s p = 0,2156

Os dados da tabela 6 mostram que também não houve diferença estatística


significativa entre essas variáveis.
Analisando os valores de ângulo cervicodiafisário, foi possível constatar
diferença significativa ente lado afetado e não afetado (p = 0,034). No entanto, quando
utilizada técnica de regressão logística para variáveis binárias “6 meses de PO” (1) e
“12 meses de PO” (2), e considerando, portanto, o tempo de seguimento como variável
dependente, foi possível verificar que o Torque abdutor a 60°/s mostrou diferença
significativa estatística (p = 0,019). Ou seja, o tempo de 6 meses de pós operatório não
foi suficiente para que o valor de torque abdutor do quadril a 60°/s fosse reestabelecido,
21

uma vez que esse valor ainda demonstrou sofrer alterações com 12 meses de pós-
operatório.
Outra correlação realizada comparou a amplitude de movimento de abdução do
quadril com o torque abdutor, levando em consideração o lado afetado (1) e o não
afetado (2). Também foi realizada a regressão logística para a variável binária “quadril
afetado” e “quadril não afetado”. Não foi encontrada correlação entre amplitude de
movimento de abdução do quadril e torque abdutor.
A tabela 7 fornece dados sobre correlações entre sinal de Trendelenburg e
ângulo de abdução, ângulo cervicodiafisário, torque abdutor do quadril a 60°/s e 120°/s.
Também foi realizada regressão logística para a variável binária Sinal de Trendelenburg
“presente” ou “ausente”. A partir desses dados pode-se compreender que apenas o
ângulo cervicodiafisário pode estar associado com o sinal de Trendelenburg e, portanto,
quanto maior for o ângulo, menor a chance do sinal de Trendelenburg estar presente.

Tabela 7 - Correlações entre Sinal de Trendelenburg e Ângulo de Abdução, ACD,


Torque Abdutor do quadril a 60°/s e 120°/s dos voluntários deste estudo

Variáveis Trendelenburg
Torque 60°/s p = 0,402
Torque 120°/s p = 0,592
Abdução ativa p = 0,261
Abdução passiva p = 0,223
Ângulo Cervico
p = 0,040
Diafisário

4. Discussão

Apesar de poucos estudos terem avaliado déficits de ADM a curto e longo prazo
em crianças e adolescentes submetidos à cirurgia do quadril (SONG et al., 2004), é
importante mensurar esses valores porque eles podem ser um dos indicadores da
presença de impacto fêmoroacetabular, uma vez que alteração progressiva na ADM de
indivíduos com EEPF pode acontecer como uma tentativa de evitar impacto na porção
22

metafisária do colo femoral (RAB, 1999). O presente estudo, portanto, avaliou ADM de
abdução de ambos os quadris dos voluntários.
A ADM de abdução necessária para a realização de atividades de vida diária
sem prejuízo algum ao paciente é de 20° segundo o estudo de revisão de biomecânica
do quadril desenvolvido em 2010 por Polkowski e Clohisy, os quais citam pesquisas
realizadas com eletrogoniômetro. Tomando este parâmetro como base, foi possível
concluir a partir da análise das tabelas deste estudo que, aos seis meses de PO,
nenhum dos pacientes apresentou ADM de abdução passiva inferior a 20° no membro
mais afetado. Mas, 8,3% deles apresentou tal movimento inferior a 20° no membro não
afetado e também 8,3% no membro menos afetado. Aos 12 meses de PO, entretanto,
apenas 9% dos pacientes apresentou ADM passiva de abdução menor de 20° e isso
correspondeu ao membro menos afetado. Dessa forma, nenhum dos voluntários
apresentou ADM de abdução de quadril do lado afetado ou mais afetado inferior a 20° e
isso é válido tanto para os seis meses quanto para 12 meses de PO. Tal informação
mostra que mesmo após osteotomia para correção da EEPF, os pacientes não
apresentaram restrições funcionais da abdução do quadril. Além disso, menos de 10%
apresentaram ADM de abdução não funcional tanto aos seis quanto aos 12 meses de
PO para o lado menos acometido.
No que diz respeito à força muscular isocinética concêntrica/concêntrica dos
abdutores do quadril, esta se mostrou reduzida para o lado mais acometido em 91,6%
dos casos na velocidade angular de 60°/s e em 100% deles na velocidade angular de
120°/s aos 6 meses de PO. Já aos 12 meses de PO, apenas 63,6% dos voluntários
apresentaram menor força abdutora no quadril mais acometido tanto a 60°/s quanto a
120°/s. Ou seja, um número maior de pacientes apresentou melhora da força abdutora
aos 12 meses de PO quando comparado aos seis meses. Portanto, acredita-se que o
período de seis meses não seja suficiente para que indivíduos submetidos à correção
cirúrgica devido EEPF ganhem força da musculatura abdutora.
Concordando com os dados do presente estudo, Song et al (2004) também
verificaram diminuição da força muscular abdutora em 30 indivíduos diagnosticados
com epifisiólise unilateral e submetidos à fixação in situ. Esses autores mensuraram
força da musculatura abdutora do quadril com dinamômetro isocinético.
23

Com relação ao sinal de Trendelenburg foi possível notar que 50% dos voluntários
avaliados aos seis meses de PO apresentaram este sinal positivo em um dos lados e
destes, 83,3% corresponderam ao lado acometido ou mais acometido. Por outro lado,
aos 12 meses de PO, apenas 9% dos pacientes apresentaram esse sinal positivo e
somente no lado acometido.
Isso mostra que houve uma redução importante da insuficiência do glúteo médio aos
12 meses de PO e reitera a hipótese de que o período de seis meses não é suficiente
para que indivíduos submetidos à correção cirúrgica devido EEPF tenham força
satisfatória da musculatura abdutora.
A presença de insuficiência do glúteo médio em pacientes submetidos a
determinadas cirurgias de quadril como, por exemplo, a osteotomia de Kramer, é
comum primeiramente porque a incisão cirúrgica é realizada no próprio músculo glúteo
médio, mais especificamente na sua porção anterior. Isso promove lesão das fibras
musculares e consequentemente diminui a força desse músculo (Song et al, 2004).
Outro motivo pelo qual a força pode ser reduzida é a presença de dor, que é própria do
quadro clínico da doença e é ainda mais intensificada pelo procedimento cirúrgico. Ou
seja, o quadro álgico promove inibição da musculatura abdutora e a longo prazo essa
inibição pode levar a uma atrofia muscular, perpetuando a fraqueza muscular.
No que diz respeito às correlações analisadas, acredita-se que a primeira (entre
ADM de abdução do quadril e ACD) não tenha sido considerada significativa pelo fato
de existirem muitas outras variáveis que não foram avaliadas neste estudo, mas que
podem interferir na ADM de abdução do quadril sem alterar o ACD, como a altura do
trocânter maior e o tamanho do colo femoral, uma vez que a elevação do trocânter
maior pode levar a um “choque” ósseo entre o mesmo e o ilíaco justamente durante o
movimento de abdução, limitando então este arco de movimento.
O mesmo é válido para a segunda correlação, entre ACD e torque abdutor do
quadril. Garcia, Picado e Cardinalli (2010) verificaram que, quando há redução ou
parada de crescimento longitudinal do colo femoral, juntamente com crescimento
normal do trocânter maior, ocorrem mudanças na anatomia da região proximal do
fêmur. A associação da redução do colo e a elevação da extremidade proximal do
trocânter em relação ao centro de rotação da cabeça do fêmur podem culminar numa
24

situação de insuficiência muscular abdutora, visto que ocorre diminuição da distância


entre origem e inserção desses músculos, além da redução do seu braço de alavanca.
Ou seja, é possível que haja alterações capazes de modificar o torque abdutor sem
interferir no valor do ACD.
Com relação à única correlação significativa encontrada neste estudo que
demonstrou que quanto maior for o ACD, menor a chance do sinal de Trendelenburg
estar presente, alterações biomecânicas na articulação do quadril ocorridas após
procedimento cirúrgico auxiliam no entendimento dela. Na osteotomia de Kramer a que
os pacientes foram submetidos, por exemplo, buscando-se a estabilização da
articulação do quadril, é realizada retirada de cunha óssea da base do colo femoral
(KRAMER; CRAIG; NOEL, 1976), deixando-o mais inclinado, de forma a aumentar o
valgo dessa articulação e, portanto, aumentando o ACD e inferiorizando o trocânter
maior. Tais mudanças aumentam o comprimento da linha de força do glúteo médio,
melhorando a efetividade contrátil dessa musculatura, ou seja, tornando menor a
chance do sinal de Trendelenburg ser positivo.
Uma limitação importante deste estudo é sua própria amostragem, visto que além de
possuir amostra pequena (de apenas 12 voluntários com seis meses de PO e 11 com
12 meses de PO), tais voluntários não são os mesmos para as duas datas avaliadas e,
portanto, não permitem comparações entre os resultados obtidos aos seis meses com
os de 12 meses de PO, mas sim apenas estimativas. O número restrito de voluntários
se deve ao fato desta pesquisa ser parte de um estudo maior. São necessários mais
estudos com uma amostra e tempo de seguimento maior para verificar em que
momento a maioria dos pacientes consegue alcançar um equilíbrio da força muscular
abdutora.

5. Conclusão

Pacientes submetidos à correção cirúrgica devido EEPF mantém ADM funcional de


abdução do quadril, inclusive a longo prazo (12 meses).
O período de seis meses não é suficiente para que indivíduos submetidos à
correção cirúrgica devido EEPF tenham força satisfatória da musculatura abdutora, e
por isso a reabilitação deve enfatizar, desde o início, o ganho dessa força.
25

Além disso, pode-se notar a importância do aumento do ângulo cervicodiafisário


pela cirurgia de osteologia, uma vez que este está relacionado à maior efetividade
contrátil da musculatura abdutora do quadril.
Mesmo evidenciando tais resultados, ainda são necessários novos estudos com
tempo de seguimento e amostra maiores, visando aprofundar os conhecimentos sobre
quanto tempo as alterações biomecânicas persistem nos quadris de crianças e
adolescentes submetidos a cirurgias de correção de EEPF e como isso pode influenciar
nos resultados terapêuticos.
26

6. Referências

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WENGER, D.R. et al. Advanced Containment Methods for Legg-Calvé-Perthes Disease:


Results of Triple Pelvic Osteotomy. J Pediatr Orthop, v.30, n. 8, p.749-757, dez. 2010.
28

ANEXO I - Ficha de Avaliação


29
30
31

Anexo II – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos voluntários

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Estamos convidando você a participar de um estudo sobre a força muscular, amplitude de movimento do
quadril, encurtamento muscular, capacidade de andar e qualidade de vida depois da cirurgia que você fez por
causa da deformidade no quadril.
Alguns estudos mostraram que crianças e adolescentes que tem deformidade no quadril terão diminuição na
força muscular e amplitude de movimento do quadril, dificuldade para atividades do dia-a-dia como por
exemplo andar mesmo após serem submetidas à cirurgia. Nós queremos saber se a cirurgia ajudou você e
outros pacientes a recuperarem a força muscular, qualidade de vida e capacidade de andar, pois assim
poderemos recomendar um tratamento de reabilitação melhor e mais padronizado para outras pessoas que
venham a fazer a mesma cirurgia no futuro. Além do mais, queremos saber se essas perdas e dificuldades
causadas pela doença são mantidas a longo prazo, por isso as avaliações são também realizadas com 1 e 2
anos de pós-operatório.
Se você concordar em participar deste estudo, pediremos que você nos autorize a utilizar alguns dados do seu
prontuário, assim como alguns resultados das avaliações que você já fez no Centro de Reabilitação. Os
arquivos de imagens que contêm radiografias e outros exames serão consultados.
Você não sofrerá nenhum dano físico com este estudo, uma vez que não precisará vir ao CER novamente, só
usaremos as informações do seu prontuário. Os possíveis riscos deste estudo são mínimos, e envolvem o
desconforto muscular ou articular que podem ter ocorrido durante as avaliações, mas são eventos que passam
rapidamente e se houver necessidade, uma medicação será fornecida. Todavia, precisamos que você nos
autorize a usar os seus dados, se você não achar problema nisso.
A qualquer momento do estudo, você pode pedir para ver as suas informações e questionar novamente os
pesquisadores sobre a pesquisa, os riscos ou outras dúvidas que tiver. As formas de acompanhamento e
assistência são as habitualmente realizadas pela equipe de Ortopedia Pediátrica e do CER. Se você não
quiser mais participar deste estudo, pode pedir para sair - isso não vai afetar o seu tratamento no Centro de
Reabilitação do Hospital das Clínicas, que vai continuar sendo administrado para você. Não haverá
ressarcimento do ponto de vista financeiro por parte dos pesquisadores ou da Instituição, inclusive em relação
ao transporte ou alimentação durante o tratamento e seguimento. O participante tem direito à indenização se
houver dano decorrente exclusivamente pela participação na pesquisa, sem considerar os riscos próprios da
doença e tratamento. As suas informações serão guardadas em sigilo, ou seja, somente os pesquisadores
poderão ver os seus dados e ninguém mais.
Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado,
consinto em participar do presente Protocolo de Pesquisa. Após as assinaturas, você receberá uma cópia
desse termo de consentimento, assinado e rubricado pelos pesquisadores.

Nome do Voluntário: _________________________Assinatura __________________________ Data


_________

Nome do Pesquisador: _________________________Assinatura e carimbo __________________ Data


_________

Contato do Comitê de Ética em Pesquisa do HC e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - (16)


3602-2228

E-mail: larissam@hcrp.usp.br; Telefones: (16) 3602-2354 / 3602-5170


Pesquisadores responsáveis pelos exames: Larissa Martins Garcia e Daniel Augusto Carvalho Maranho
32

Anexo III – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos representantes


legais

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pedimos a sua permissão que seu(a) filho(a) possa participar de um estudo sobre a força muscular, amplitude
de movimento do quadril, encurtamento muscular, capacidade de andar e qualidade de vida depois da cirurgia
realizada por causa da deformidade no quadril.
Alguns estudos mostraram que crianças e adolescentes que tem deformidade no quadril terão diminuição na
força muscular e amplitude de movimento do quadril, dificuldade para atividades do dia-a-dia como por
exemplo andar mesmo após serem submetidas à cirurgia. Nós queremos saber se a cirurgia ajudou seu(a)
filho(a) e outros pacientes a recuperarem a força muscular, qualidade de vida e capacidade de andar, pois
assim poderemos recomendar um tratamento de reabilitação melhor e mais padronizado para outras pessoas
que venham a fazer a mesma cirurgia no futuro. Além do mais, queremos saber se essas perdas e dificuldades
causadas pela doença são mantidas a longo prazo, por isso as avaliações são também realizadas com 1 e 2
anos de pós-operatório.
Se você concordar na participar deste estudo, pediremos que você nos autorize a utilizar alguns dados do
prontuário, assim como alguns resultados das avaliações já realizadas no Centro de Reabilitação. Os arquivos
de imagens que contêm radiografias e outros exames serão consultados.
Você e seu(a) filho(a) não sofrerão dano físico algum com este estudo, uma vez que não precisará vir ao CER
novamente, só usaremos as informações do seu prontuário. Os possíveis riscos deste estudo são mínimos, e
envolvem o desconforto muscular ou articular que podem ter ocorrido durante as avaliações, mas são eventos
que passam rapidamente e se houver necessidade, uma medicação será fornecida. Todavia, precisamos que
você nos autorize a usar os dados, se você não achar problema nisso.
A qualquer momento do estudo, você pode pedir para ver as suas informações e questionar novamente os
pesquisadores sobre a pesquisa, os riscos ou outras dúvidas que tiver. As formas de acompanhamento e
assistência são as habitualmente realizadas pela equipe de Ortopedia Pediátrica e do CER. Se você não
quiser que seu(a) filho(a) participe mais deste estudo, pode pedir para sair - isso não vai afetar o seu
tratamento no Centro de Reabilitação do Hospital das Clínicas, que vai continuar sendo realizado
habitualmente. Não haverá ressarcimento do ponto de vista financeiro por parte dos pesquisadores ou da
Instituição, inclusive em relação ao transporte ou alimentação durante o tratamento e seguimento. O
participante tem direito à indenização se houver dano decorrente exclusivamente pela participação na
pesquisa, sem considerar os riscos próprios da doença e tratamento. As suas informações serão guardadas
em sigilo, ou seja, somente os pesquisadores poderão ver os dados e ninguém mais.
Declaro que, após convenientemente esclarecido pelo pesquisador e ter entendido o que me foi explicado,
concordo que meu filho (minha filha) participe do presente estudo. Após as assinaturas, você receberá uma
cópia desse termo de consentimento, assinado e rubricado pelos pesquisadores.

Nome do responsável legal: ______________ Assinatura __________________________ Data _________

TERMO DE ASSENTIMENTO

Declaro ter compreendido as explicações e objetivos da pesquisa que foram feitas para mim e para meu pai ou
minha mãe (ou outro responsável) e concordo em participar do estudo.

Nome do Voluntário: __________________Assinatura __________________________ Data _________

Nome do Pesquisador: __________________Assinatura e carimbo __________________ Data _________

Contato do Comitê de Ética em Pesquisa do HC e da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - (16)


3602-2228
E-mail: larissam@hcrp.usp.br; Telefones: (16) 3602-2354 / 3602-5170
Pesquisadores responsáveis pelos exames: Larissa Martins Garcia e Daniel Augusto Carvalho Maranho
33

Anexo IV – Parecer do Comitê de Ética


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