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Profissional Documentos
Cultura Documentos
Orientações pedagógicas............................................................................................................................................... 4
Modelo de plano de aula................................................................................................................................................ 6
Bibliografia....................................................................................................................................................................163
Métodos de Ensino na Escola Dominical...........................................................................................................173
Expediente
Em Marcha Eber Borges da Costa Angular Editora
Revista para Escola Edson Cortasio Sardinha Departamento Editorial - Associação
Dominical – Adultos Guilherme Aguiar Magalhães da Igreja Metodista
Professor(a) Hideide Brito Torres Av. Piassanguaba, 3031 – Planalto
Ivan Carlos Costa Martins Paulista - 04060-004 – São Paulo
Secretaria Executiva Editorial José Ronaldo Campos Moura Tel. (11) 2813-8643 / (11) 2813-8600
Joana D’Arc Meireles Leandro Miranda de Paula escoladominical@metodista.org.br
Marcio Divino de Oliveira www.angulareditora.com.br
Colégio Episcopal www.metodista.org.br/escola-dominical
Mauren Julião
Hideide Brito Torres –
bispa assessora É proibida a reprodução total de textos, fotos
Revisão e ilustrações, por qualquer meio, sem prévia
Mauren Julião autorização do editor da revista. Quando repro-
Departamento Nacional de Escola
Dominical duzidas parcialmente, devem constar a edição,
Andreia Fernandes Oliveira Os textos bíblicos utilizados nas lições com ano e a página da publicação.
foram extraídos da Bíblia Sagrada, tra-
Redação duzida em Português por João Ferreira Todos os direitos nacionais e
Roseli Oliveira de Almeida, Edição Revista e Atualizada internacionais reservados à
no Brasil. 2018.2
Colaboração
Andreia Fernandes Projeto Gráfico e Editoração
Danielle Lucy B. Frederico NLopez Publicidade
Palavra
da redação
Olá professor, olá professora,
Saudações em Cristo!
É uma alegria compartilhar com vocês esta nova revista. Ao longo do nosso tra-
balho como equipe de redação temos acompanhado o testemunho de muitos alu-
nos e alunas de nossas Escolas Dominicais que atestam ter sido edificados pelas
lições propostas em nossas revistas. Sabemos que o êxito dessa conquista se dá
exclusivamente pela graça divina. A Escola Dominical, que é um espaço de ensi-
no, aprendizado e crescimento, também é espaço de libertação, cura e salvação, e
sabemos que isso tem acontecido devido ao grande amor de Deus por nós e pelo
mover do seu Espírito.
Todavia, reconhecemos em todo esse processo, a participação e dedicação de
cada professor e professora desta escola. Seu desempenho e preparo tem sido
fundamental para que aquilo que nós, como redação, almejamos fazer, se cumpra.
Certamente você tem sido um canal de bênção para o agir de Deus. Assim, louva-
mos a Deus por sua vida e rogamos que o Espírito Santo continue lhe capacitando e
sustentando nesta missão que Ele lhe designou a fazer.
Sabemos que nosso povo tem recebido um alimento sólido em nossas igrejas,
todavia, há influências doutrinárias se espalhando facilmente, muitas das quais
nem sempre estão de acordo com nossa doutrina e os verdadeiros princípios bí-
blicos. Assim, nossa finalidade nesta edição, é orientar acerca daquilo que cremos,
com o desejo de que Deus nos ajude a nos manter firmados e firmadas na Verdade.
No amor de Cristo,
A Redação
ORIENTAÇÕES
PEDAGÓGICAS
Caro(a) Professor(a):
Esperança e paz!
• Faça uma leitura prévia de toda a revista para que você tenha uma visão total
do material e assuntos tratados na edição; assim você poderá adaptá-la à sua igreja
local. Caso perceba que é preciso inverter a ordem das lições, por exemplo, faça.
Para isso, é preciso ter uma visão geral do material.
• Quanto mais tempo dedicado ao planejamento, mais possibilidades de cons-
truir uma aula criativa e bem embasada. Se possível comece o preparo da lição no
início da semana, e observe as notícias cotidianas e situações da sua igreja, bem
como vídeos e imagens que possam ser úteis em sua aula. A seguir apresentamos
um modelo de plano de aula que pode ajudar neste sentido.
• Ao estudar as lições, tenha por perto, se possível, um dicionário de português,
mais de uma versão da Bíblia Sagrada para comparação dos textos e outros mate-
riais de apoio. Dialogue sobre as dúvidas com o ministério pastoral ou alguém da
equipe pedagógica. Não tenha receio de buscar ajuda.
• Aproveite os recursos humanos da sua igreja, convide pessoas que possam
contribuir com a exposição da lição (inclusive equipe pastoral), proponha parcerias
com outras classes. Essas experiências, além de enriquecer e dinamizar a aula, pro-
movem comunhão;
• Escola Dominical é também espaço de relacionamento, que se estende para
além da sala de aula! O controle de frequência nos ajuda a buscar e cuidar das pes-
4 EM MARCHA
soas ausentes. Visite, ligue e converse com seus alunos e alunas, estreite os laços,
proponha atividades de lazer e comunhão. Utilize também as redes sociais ou outro
meio adequado para sua realidade.
• Cuide do ambiente de sua sala de aula, deixe-a mais aconchegante. Você pode
envolver o grupo nesse projeto; se houver possibilidade, vá construindo um am-
biente que lembre a classe os conteúdos estudados através de cartazes e banners.
• Cuidado com a linguagem, seja simples e objetivo(a). Tenha paciência com
quem não compreende o conteúdo da maneira que você gostaria, e tenha cuidado
em como abordar comentários e dúvidas.
• Procure uma pedagogia, um modo de ensinar, que facilite o envolvimento do
grupo no processo de aprendizagem. A Bíblia é estudada para iluminar a vida, uti-
lize-se de exemplos práticos, comuns para a turma e, ao final do estudo, proponha
desafios de transformação da vida cristã; sempre que possível use dinâmicas que
facilitem a participação de todas as pessoas; discussões em grupos menores são
uma boa tática para que as pessoas mais tímidas participem. No final da revista
apresentamos alguns métodos que podem enriquecer as aulas. Você pode usá-los
alternadamente para obter melhores resultados.
• Lembre-se: Um conteúdo nunca está desligado da pessoa que o comunica. A
bondade e o amor que transparecem nas palavras, precisam fazer parte do conteú-
do total do(a) professor(a), pois só assim será possível estabelecer um relaciona-
mento com alunos e alunas que facilite a aprendizagem.
• Ore sempre por seus alunos e alunas e incentive-os a ler e reler as lições, e em
especial os textos bíblicos da semana (que são para leitura na semana seguinte à da
aula, para reforçar a aprendizagem).
Bom trabalho!
RAÍZES DA NOSSA FÉ 5
MODELO DE PLANO
DE AULA
Prezado(a) professor(a):
Data:
Título da Lição:
Texto Bíblico:
Objetivos: No final da lição o aluno deverá:
Saber:...................................................................................................................................................
Sentir: ..................................................................................................................................................
Fazer: ...................................................................................................................................................
Que materiais vou usar para dar esta aula (além da revista):
...............................................................................................................................................................
6 EM MARCHA
Introdução ao tema: como vou começar a falar deste tema?
Neste momento você pode utilizar dinâmicas, fotos, vídeos, pedir opiniões sobre o
tema, apresentar algum conteúdo do(a) professor(a). Você pode usar a sugestão da
revista ou criar outra dinâmica de introdução.
Conclusão: pense em como recapitular com os alunos e alunas tudo o que foi falado
de forma bem resumida e objetiva, para fixar o conteúdo. Também pode haver um
desafio prático diante do tema aqui.
Semana que vem: deixe uma “deixa” para próxima aula, de forma que a classe sinta
um gostinho de “quero mais”.
Pós aula:
É hora de pensar sobre a aula que eu dei (auto avaliação):
• Eu achei que a minha aula foi...
• Como posso melhorar a minha aula?
• O que devo evitar?
Professor(a):
RAÍZES DA NOSSA FÉ 7
Lição 01
8 EM MARCHA
Fundamento bíblico Assim, a Bíblia é a mensagem de
Deus a nós transmitida, “muitas vezes e
Timóteo, jovem pastor (1Timóteo de muitas maneiras” e que, finalmente,
4.12) e companheiro do apóstolo Paulo, foi encarnada em Jesus Cristo (Hebreus
chamado por este de “homem de Deus” 1.1-2).
(1Timóteo 6.11), é apresentado como
seu “verdadeiro filho na fé” (1Timóteo Palavra que ilumina a
1.2) e seu representante junto às comu- vida
nidades de Éfeso (1Timóteo 1.3).
Filho de mãe e avó cristãs (2Timóteo Segundo as orientações de Paulo a
1.3-5), recebeu destas o bom exemplo Timóteo, devemos ler e estudar a Bíblia
e testemunho para permanecer na fé porque ela nos ensina, repreende, corri-
em que foi instruído. Certamente elas ge e educa. Vejamos:
também foram responsáveis por ensi- Útil para o ensino (didaskalia): ela é
nar-lhe as sagradas letras (2Timóteo útil para o ensino porque nos revela as
3.14-15), o que mais tarde foi aperfei- três linhas de desdobramento da histó-
çoado pela instrução de Paulo. ria da salvação: o idealizador da salva-
É o apóstolo quem afirma a eficácia ção (Deus), o caminho da salvação (Jesus
das Escrituras, declarando que toda ela Cristo) e o povo herdeiro da salvação
“é inspirada por Deus e útil para o ensi- (todas as pessoas que nele creem).
no, para a repreensão, para a correção, Deus criou os seres humanos desti-
para a educação na justiça” (v.16). nando-os à felicidade, paz e comunhão
A Bíblia é o conjunto de Livros do com Ele. Com o pecado, houve a sepa-
Antigo e Novo Testamentos escritos ração entre as criaturas e seu Criador.
sob a orientação do Espírito Santo. Ao Mas Deus, não conformado com isso,
escrever, os autores bíblicos foram in- idealizou uma forma de tornar possível
fluenciados de tal maneira pela ação do a antiga amizade, iniciando a história da
Espírito de Deus que seus escritos são, salvação. Estendeu sua graça a fim de
ao mesmo tempo, a sua própria obra, despertar em seu povo uma resposta
mas também uma obra de Deus. manifestada pela fé e pela obediência.
Embora respeitando a cultura, as li- Com Jesus manifesta-se a presença
mitações e o estilo próprio de cada au- de Deus entre nós, indicando-nos ser
tor humano, Deus os instruiu a escrever Ele mesmo o caminho da salvação. Ele
o que Ele queria, para que sua Palavra ensina, em viva voz, sobre o amor e a
chegasse até nós. A autoridade da Bíblia vontade do Pai. Na Bíblia encontramos
repousa no fato de que Deus é o seu au- o registro da sua vida, seus ensinos, sua
tor maior. morte e vitória.
RAÍZES DA NOSSA FÉ 9
Por meio das Escrituras descobrimos como vindas de Deus para nossa vida.
o grande amor de Deus por toda huma- Todas as pessoas, independentemente
nidade (João 3.16). Por sua graça e mi- do tempo de membresia em uma Igreja,
sericórdia, Deus perdoa o ser humano ou de vivência da fé cristã, precisa se abrir
pecador e lhe concede a salvação eter- para o arrependimento e transformação
na por meio de Jesus Cristo (Romanos cotidiana do caráter, à luz da Bíblia.
11.17; Efésios 2.4-8). Útil para correção (epanorthosis):
Assim, devemos ler a Bíblia, enxer- a correção é diferente da repreensão.
gando-a como fonte de Vida, cuja ins- Enquanto a repreensão aponta o erro
trução ilumina o nosso caminho (Salmo e não o aprova, a correção busca endi-
119.93-105). reitar os caminhos. Tem a finalidade de
Útil para a repreensão (elegchos): a aperfeiçoar a vida e o caráter. A Bíblia
repreensão aqui tem o sentido de ad- aponta sinais para a correção de rotas.
vertência, de censura, ou seja, é a não Ao alertar, por exemplo: “não julgueis
aprovação de algo ou alguma prática. As para que não sejais julgados” (Mateus
narrativas bíblicas não escondem nem 7.1), Jesus tentava recuperar aqueles e
diminuem a intensidade da maldade, aquelas que costumavam fazer juízos
dos erros, fraquezas ou fracassos das temerários de outras pessoas. E fez ou-
pessoas. Em toda a Bíblia há constan- tras advertências:
tes repreensões, como a recebida por
Caim (Gênesis 4.9-10); a que foi revela- 1. “Não acumuleis para vós outros te-
da por Amós (Amós 5.21-24); a lançada souros sobre a terra” (Mateus 6.19);
por Jesus contra os escribas e fariseus 2. “Amai os vossos inimigos” (Mateus
(Mateus 15.7-8); a que foi feita à igreja de 5.44);
Pérgamo (Apocalipse 2.16), entre outras. 3. “Dá a quem te pede” (Mateus 5.42);
Como somos passíveis de cometer 4. “Guardai-vos de exercer a vossa justi-
os mesmos erros, devido à nossa na- ça diante dos homens” (Mateus 6.1);
tureza pecadora, as repreensões regis- 5. “Não andeis ansiosos” (Mateus 6.25).
tradas na Bíblia são válidas em qualquer
tempo. Por isso, a Bíblia continua atual, Jesus conhecia o mais íntimo dos
falando ainda em nosso tempo, a pes- seres humanos e se compadecia deles.
soas com atitudes semelhantes às do Percebia o esforço de seus discípulos
passado, com índole, tendências e sen- e discípulas para segui-lo e tê-lo como
timentos parecidos. exemplo. Via também as multidões
Sendo ela útil para repreensão, deve- como ovelhas sem pastor. O Mestre sa-
mos lê-la em atitude de oração e humil- bia que era preciso corrigir as atitudes
dade, a fim de aceitarmos suas palavras erradas, para nortear a caminhada do
10 EM MARCHA
crescimento espiritual. Assim, Ele con- nuínas, e nos habilitar à prática de toda
tinua corrigindo em amor, apontando o boa obra (2Timóteo 2.17). Ela é instru-
novo caminho que nos propôs. A corre- mento que transforma as nossas vidas
ção divina não é punição, deve ser enca- para que sejamos agentes transforma-
rada como zelo, como preocupação para dores no mundo em que vivemos.
que não nos afastemos do chamado e
propósito de Deus para nós (Apocalipse Conclusão
3.19-21).
Útil para a educação na justiça: a Timóteo recebeu de seu mestre vá-
justiça de Deus excede a justiça hu- rios ensinamentos e incentivos para
mana. Jesus afirma: “se a vossa justiça que tivesse uma melhor condição es-
não exceder em muito a dos escribas e piritual e intelectual na atuação do seu
fariseus, jamais entrareis no reino dos ministério (2Timóteo 2.15). De igual
Céus” (Mateus 5.20). forma, somos desafiados e desafiadas
No Sermão do Monte, proferido por a buscar os conselhos de Deus e, por
Jesus (Mateus 5-7), encontram-se os meio deles, enfrentar os desafios do
pilares da ética e da justiça que Deus cotidiano. Para isso, a Bíblia deve ser a
requer dos seres humanos. A justiça a nossa companhia diária.
que Ele se refere tem a ver com o fa-
vor e a graça de Deus. E se quisermos Para conversar
ser perfeitos e perfeitas como o Pai
Celestial (Mateus 5.48), a misericórdia, A instrução, repreensão, correção e
o amor, o perdão e todo o cumprimen- educação, promovidas pela Palavra de
to da Lei precisam refletir o próprio Deus, têm atingido seu coração? De que
Deus em nós. maneira isso tem acontecido?
Quando nos abrimos ao ensino, à re-
preensão e à correção divinas, alcança- Leia durante a semana*:
mos, pela graça de Deus, uma postura
de quem foi educado(a) para a justiça. É Domingo: 2Timóteo 3.14-17
assim que nos tornamos sal da terra e Segunda-feira: 2Timóteo 2.15-17
luz do mundo, fazendo a diferença onde Terça-feira: 1Timóteo 4.13-16
estivermos (Mateus 5.13-16). Quarta-feira: 2Timóteo 1.1-5
A Bíblia nos ensina, repreende, corri- Quinta-feira: Hebreus 4.12
ge e educa na justiça para colaborar com Sexta-feira: Mateus 4.4
a nossa perfeição e espiritualidade ge- Sábado: Salmo 119.97-103
*Leia os textos desta seção durante a semana para fixar a lição de hoje. Faça isto semanalmente para cada lição.
RAÍZES DA NOSSA FÉ 11
CONTEÚDO PARA O(A) PROFESSOR(A)
12 EM MARCHA
bem viver. Nela está o sentido de uma em suas leis e preceitos, seu caminho e
comunidade que age segundo a instru- vontade.
ção concedida por Deus e que tem nes- A sã doutrina visa um relacionamen-
se ensino a luz que ilumina o caminho. to humano com Deus e, essencialmente,
É importante destacar que a Torá tem a a sujeição à autoridade da mensagem
intenção de ajudar a comunidade na sua de Deus. Assim, não é o ser humano que
vivência diária para o desenvolvimento faz uso da doutrina para o estabeleci-
de uma espiritualidade madura e que mento das diretrizes de sua vida; antes,
promove frutos de misericórdia. é a doutrina bíblica que estabelece as
Através do conhecimento e práti- diretrizes da vida humana.
ca da Bíblia, o testemunho cristão é
aperfeiçoado. Infelizmente hoje em dia Por fim
lê-se muito sobre a Bíblia (os comentá-
rios das páginas do Facebook que o di- A Bíblia é instrumento para conhecer-
gam), mas não se lê o texto bíblico. Em mos a Deus e nos pautarmos em nosso
Deuteronômio 6.4-9, há a descrição da cotidiano. Ela nos ajuda a dar razão a nos-
Palavra como princípio para a vida, por sa fé, que está baseada em Jesus Cristo,
isso, ela deveria fazer parte do cotidiano Filho de Deus, que veio ao mundo para
de todas as pessoas. salvar toda a pessoa que nele crê. Por
A Bíblia é para os cristãos e cris- meio dos escritos bíblicos aprendemos
tãs, o caminho mais seguro para o co- a vivenciar a simplicidade do Evangelho
nhecimento da vontade de Deus. Ela que nos foi apresentado pelo próprio
é o registro da experiência do antigo Cristo. A vida cristã deve ser vivida no co-
povo de Israel e das primeiras comu- tidiano, pelos homens e mulheres que de
nidades cristãs com Deus. Ou seja, a fato amam a Deus sobre todas as coisas
Bíblia narra como Deus se revela em e ao próximo como a si mesmos, através
diferentes períodos históricos, até ser do conhecimento e prática da Palavra.
conhecido como o Senhor e Redentor Encerre a aula enfatizando a importância
do mundo. de lermos e estudarmos a Bíblia.
Nos tempos de Timóteo, havia um
conflito acerca do verdadeiro entendi- Para saber mais
mento da sã doutrina (1Timóteo 6.3).
Para o povo grego, doutrinar significa- MESTERS, Carlos. Bíblia: livro feito
va comunicar um conhecimento para o em mutirão. Disponível em: http://portal.
desenvolvimento das habilidades hu- metodista.br/fateo/noticias/sobre-o-
manas. Já o uso bíblico da palavra dou- -dia-da-biblia-o-livro-feito-em-muti-
trina aponta para a revelação de Deus rao-1. Acesso em 14/05/2018.
RAÍZES DA NOSSA FÉ 13
Lição 02
O Deus Trino
Texto bíblico: 2Coríntios 13.13
Em muitas igrejas o culto termina com a bênção apostólica impetrada pela pas-
tora ou pastor. Impetrar a bênção apostólica é invocar a bênção da Trindade seguin-
do o modelo de Paulo em 2Coríntios 13.13. Nosso culto começa e termina tendo
como centro o Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo. Neste estudo vamos conhecer
um pouco mais sobre este mistério da nossa fé: a Trindade.
14 EM MARCHA
Fundamento bíblico enviou a única fonte possível da nossa
redenção: seu Filho Jesus (João 3.16).
O apóstolo Paulo termina sua se- Espírito e Comunhão: “...e a comu-
gunda carta aos Coríntios dizendo: “A nhão do Espírito Santo sejam com todos
graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor vós” (2Coríntios 13.13). É o Espírito Santo
de Deus, e a comunhão do Espírito quem nos mantém na comunhão da
Santo sejam com todos vós” (2Coríntios Trindade e na comunhão da Igreja. Paulo
13.13). Ele sempre menciona em seus exorta os Filipenses dizendo: “Portanto,
escritos a graça de Deus como a força se há algum conforto em Cristo, alguma
que acompanha a Igreja e seus leitores consolação de amor, alguma comunhão
e leitoras em todas as situações. Nas no Espírito, se alguns entranháveis afe-
demais cartas, ele termina citando as tos e compaixões, completai o meu gozo,
pessoas do Pai e do Filho, mas para para que sintais o mesmo, tendo o mes-
Corinto Paulo acrescenta a pessoa do mo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma
Espírito Santo. mesma coisa” (Filipenses 2.1-2 ACF).
Para cada pessoa da Trindade Paulo A segunda Carta aos Coríntios foi uma
relaciona uma palavra que, na verdade, obra difícil de ser escrita. É considerada
revela algo de sua personalidade: como a alma de Paulo. Ali ele rasga seu
Filho e Graça: “A graça do Senhor coração, desabafa, defendendo seu mi-
Jesus Cristo...”: Ele inicia sua bênção nistério e exortando a Igreja. Contudo, o
apostólica pelo Filho e não pelo Pai. É o apóstolo termina sua epístola abençoan-
Filho que leva ao Pai. Através de Jesus do a Igreja na Trindade, pois somente
temos acesso e conhecimento do Pai com a graça, o amor e a comunhão, ela
(João 14.6-8). É somente pela graça que conseguiria cumprir sua missão.
alcançamos a presença de Deus. Ela é
um Dom imerecido que nos foi revelado Palavra que ilumina a
pelo Filho. O Filho é a perfeita manifes- vida
tação da graça do Pai.
Pai e Amor: “...e o amor de Deus...”: Nossa base doutrinária está na
Foi o amor de Deus Pai que enviou Jesus. Santíssima Trindade: Cremos em um
Em Romanos 5.7-8 Paulo escreve: único Deus em três pessoas, Pai, Filho e
“Dificilmente, alguém morreria por um Espírito Santo.
justo; pois poderá ser que pelo bom al- Para aplicar esta doutrina à nossa
guém se anime a morrer. Mas Deus pro- vida cristã, precisamos compreender:
va o seu próprio amor para conosco pelo 1. Quem é Deus? Deus é o Todo
fato de ter Cristo morrido por nós, sendo Poderoso, criador de todas as coisas
nós ainda pecadores”. Com tal amor, o Pai (Hebreus 11.3). Ele é Espírito (João 4.24),
RAÍZES DA NOSSA FÉ 15
e subsiste em três pessoas: Pai, Filho e dos homens” (1oArtigo de Religião do
Espírito Santo. É um único ser com três Metodismo Histórico). Cristo ressusci-
diferenciações estruturais dentro de si. tou dentre os mortos, subiu ao céu e lá
São elas: Pai, Filho e Espírito Santo. Três está, até que volte para julgar todas as
pessoas da mesma substância, poder e pessoas no último dia (Colossenses 2.9).
eternidade. Observe a presença da trin- 4. Qual a função do Espírito Santo?
dade no Batismo do Senhor, registrado Sua função é convencer a pessoa pe-
em Mateus 3.16-17. cadora do seu pecado e convertê-la
Deus é onipresente (está em todo mediante o arrependimento. A Ele tam-
lugar), onisciente (sabe todas as coisas) bém está relacionada à missão da Igreja,
e onipotente (pode todas as coisas). Só fortalecendo-a, enviando-a a cumprir o
compreendemos as diferenciações do propósito de Deus na terra e capacitan-
Pai, do Filho e do Espírito Santo median- do-a para testemunhar.
te suas funções. É o Espírito que nos move para fa-
2. Qual a função do Pai? O Deus Pai é zer novos discípulos e discípulas para
o criador e sustentador do Universo. Sua Deus, nos capacita com dons espiri-
função diz respeito a criar, gerar, manter tuais, nos transforma, nos reveste, nos
o universo e o ser humano. O Plano de prepara para o serviço e para a glória
Redenção, que é atribuído ao Pai, foi o eterna (Atos 1.8). O Espírito Santo está
de enviar o seu Filho para salvar o mun- preparando a Igreja para a volta do seu
do (João 3.16). Senhor. “O Espírito Santo, que procede
3. Qual a função do Filho? Ele é o re- do Pai e do Filho, é da mesma substân-
dentor das nossas almas. Deus revelou-se cia, majestade e glória com o Pai e com o
em Jesus Cristo, salvando o homem e a Filho, verdadeiro e eterno Deus” (Artigo
mulher através de sua vida e morte na cruz 4 de Religião do Metodismo Histórico).
do calvário (Filipenses 2.6-8; Hebreus 1.8). 5. Como podem três pessoas ser
O Filho, que é o verbo do Pai (João apenas uma? Quando refletimos sobre
1.1-3), “verdadeiro e eterno Deus, da a Trindade, a primeira coisa que pergun-
mesma substância do Pai, tomou a na- tamos é: como pode Deus ser Pai, Filho
tureza humana no ventre de Maria, de e Espírito Santo, mas apenas um? “...
maneira que duas naturezas inteiras e Segundo o testemunho do livro de Atos
perfeitas, a saber, a divindade e a huma- dos Apóstolos, a partir do dia da des-
nidade, se uniram em uma só pessoa... cida do Espírito Santo Deus torna-se
Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro atuante em três figuras inter-relacio-
homem, que foi crucificado, morto e se- nadas em uma só unidade divina: o Pai,
pultado, para nos reconciliar com o Pai o Filho e o Espírito Santo. Vive-se agora
e para ser um sacrifício pelos pecados no tempo de Pentecostes ou Trindade,
16 EM MARCHA
a unidade pericorética das três pessoas Igreja Cristã. Nas Escrituras Deus se re-
da Trindade.” (REIMER, 2007). vela como Pai, Filho e Espírito Santo. Foi
Na Trindade, embora tenhamos três Jesus quem nos revelou este mistério.
pessoas, não é possível imaginar uma Ele falou do Pai, do Espírito e dele mes-
rejeitando a outra. Crer no Pai, que criou mo como Deus. Logo, não é uma verda-
o mundo para sermos felizes, só tem de inventada pela Igreja, mas revelada
sentido se crermos no Filho que nos re- por Jesus. Não a podemos compreender,
concilia com o Pai e com sua criação, bem porque o Mistério de Deus não cabe em
como no Espírito Santo que nos vivifica. nossa cabeça, mas é a verdade revelada.
A mesma comunhão presente nas três
pessoas da Trindade, comunhão esta que Para conversar
possui uma unidade sem excluir as diferen-
ças, deve ser a inspiração para a nossa vida Como você se relaciona com a
e missão. Na Trindade os Três diferentes Santíssima Trindade? Você consegue
são Um e quando um age os outros dois se perceber distintamente a presença das
envolvem. Não há um que seja maior que três pessoas nas páginas dos evange-
outro e ninguém pode ser excluído. Mesmo lhos? Dê exemplos.
que não esteja tão claro como essa relação Como o Pai, o Filho e o Espírito Santo
se constitui, o fundamental é experimentar nos auxiliam na Missão?
a presença do Deus Trino em nossa vida,
algo que ocorre por meio da fé. Algo que Leia durante a semana:
podemos abstrair ao crer no Deus único, é
a sua dimensão comunitária, a comunhão Domingo: 2Coríntios 13.13
existente entre as três pessoas. Segunda-feira: João 14.6-8
Terça-feira: Mateus 3.16-17
Conclusão Quarta-feira: João 4.24
Quinta-feira: Filipenses 2.6-8
O Mistério da Santíssima Trindade Sexta-feira: João 14.16-17
ocupa lugar central em nossa fé como Sábado: João 16.7-15
RAÍZES DA NOSSA FÉ 17
CONTEÚDO PARA O(A) PROFESSOR(A)
18 EM MARCHA
a nova Igreja americana parafraseou o Concílios Ecumênicos, respectivamente
Artigo 23. em Nicéia (325) e em Constantinopla
Wesley não escreveu nenhum arti- (381), respondeu: “Jesus Cristo é ple-
go novo. Por isso os 25 artigos de reli- namente Deus, a segunda pessoa da
gião não são doutrinas suas ou criadas Trindade” (ao lado do Pai e do Espírito
pelos metodistas. Ele simplesmente Santo). A segunda, a Igreja afirmou sua
copiou integralmente, em geral palavra crença na encarnação, a saber, que Jesus
por palavra, e divulgou como artigo de fé é uma só pessoa que possui duas natu-
(nunca diga que Wesley escreveu os 25 rezas completas, a humana e a divina. A
Artigos de Religião!). solução definitiva a essa questão só se
obteve no quarto Concílio Ecumênico,
2. Como estudar os 25 Artigos de o de Calcedônia (ano 451). Portanto, os
Religião Artigos de 1 a 3 colocam os metodistas
Duncan Alexander Reily, no li- (seguindo a igreja anglicana) na tradição
vro Fundamentos Doutrinários do do cristianismo histórico, o que inclui
Metodismo, página 10, fala sobre as não apenas as Igrejas Protestantes, mas
duas maneiras principais de usar os também a Igreja Ortodoxa e a Católica
Artigos de Religião. “Uma maneira, Romana. O Artigo n° 4 se relaciona à
certamente a mais comum, é tratar os doutrina da Trindade, e lembra a con-
Artigos como um compêndio de fé dos trovérsia no Concílio de Constantinopla
metodistas, ou seja, uma série de bre- onde se defendeu não apenas a plena
ves definições das doutrinas principais divindade do Espírito Santo como tam-
aceitas pelos metodistas; a segunda... é bém o Espírito Santo como pessoa. Mas
a leitura histórica dos Artigos, e a leitura o Artigo ainda se refere a um momen-
deles em blocos”. to na história do pensamento cristão
quando Santo Agostinho, grande teólo-
3. A história da Doutrina da go do Ocidente, manifestava temor com
Santíssima Trindade a tendência Oriental, desde Orígenes, de
Reily nos informa que os “Artigos de 1 a subordinar hierarquicamente o Filho ao
4 tratam da resposta que a Igreja cristã Pai. Para contrabalançar essa tendência,
deu à grande pergunta: Quem é Jesus Agostinho insistia que o Espírito Santo
Cristo? Na realidade, essa pergunta tem procedia igualmente do Pai e do Filho.
duas ramificações principais: 1) Quem é Séculos mais tarde, quando a Igreja já
Jesus em relação a Deus Pai? e 2) Quem é havia assumido um determinado modo
Jesus em si mesmo? A primeira pergun- de ser compatível com as respecti-
ta tem a ver com a Santíssima Trindade; vas culturas do Oeste (Roma) e Leste
a ela, a Igreja, nos primeiros dois (Constantinopla), foi esse ponto doutri-
RAÍZES DA NOSSA FÉ 19
nário (ou seja, a questão da procedência verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, que
do Espírito Santo) que foi a “gota” que realmente sofreu, foi crucificado, morto e
transbordou, resultando na triste rup- sepultado, para nos reconciliar com seu
tura entre o Cristianismo Ocidental e Pai e para ser um sacrifício não somente
Oriental, em 1054, ou seja, entre a Igreja pelo pecado original, mas, também, pelos
Católica Romana e a Igreja Ortodoxa”. pecados atuais dos homens”.
Este artigo fala da encarnação de
4. Os Artigos de Religião sobre a Jesus, sua natureza, sua morte e sacrifí-
Santíssima Trindade cio para nos reconciliar com o Pai e apa-
O primeiro Artigo fala Da Fé na gar nossos pecados.
Santíssima Trindade. Quando usamos O terceiro Artigo fala Da Ressurreição
a nomenclatura “Santíssima Trindade” de Cristo. O Artigo diz: “Cristo, na verda-
na liturgia estamos fazendo referên- de, ressuscitou dentre os mortos, tomando
cia a este artigo “Da Fé na Santíssima outra vez o seu corpo com todas as coisas
Trindade”. necessárias a uma perfeita natureza huma-
O artigo diz: “Há um só Deus vivo e na, com as quais subiu ao Céu e lá está até
verdadeiro, eterno, sem corpo nem partes; que volte a julgar os homens, no último dia”.
de poder, sabedoria e bondade infinitos; O foco é a ressurreição de Cristo e sua
criador e conservador de todas as coi- ascensão. Está aguardando para voltar e
sas visíveis e invisíveis. Na unidade des- exercer o Juízo final.
ta Divindade, há três pessoas da mesma O quarto Artigo fala do Espírito
substância, poder e eternidade – Pai, Filho Santo. O Artigo diz: “O Espírito Santo,
e Espírito Santo”. que procede do Pai e do Filho, é da mesma
Nossa base doutrinária tem início substância, majestade e glória com o Pai
na Santíssima Trindade: Cremos em um e com o Filho, verdadeiro e eterno Deus”.
único Deus em três pessoas, Pai, Filho e Este bloco termina falando do
Espírito Santo. Espírito Santo como Pessoa que proce-
O segundo Artigo fala Do Verbo ou de do Pai e do Filho, sendo da mesma
Filho de Deus que se fez verdadeiro substância, majestade e glória. É verda-
Homem. O Artigo diz: “O Filho, que é o deiro e eterno Deus.
verbo do Pai, verdadeiro e eterno Deus, da Somos igreja em unidade com o
mesma substância do Pai, tomou a nature- cristianismo universal e histórico, por
za humana no ventre da bendita Virgem, de isso cremos na Santíssima Trindade,
maneira que duas naturezas inteiras e per- na Encarnação, Sacrifício, Ressurreição
feitas, a saber, a divindade e a humanida- e Ascensão de Cristo pela nossa salva-
de, se uniram em uma só pessoa para que ção. Cremos na pessoa do Espírito Santo
jamais se separem, a qual pessoa é Cristo, como Deus presente para nos consolar
20 EM MARCHA
e nos fortalecer para a missão de fazer mas cantada e celebrada. Uma sugestão
novos discípulos e discípulas. é o hino 83 do Hinário Evangélico:
Anotações
RAÍZES DA NOSSA FÉ 21
Lição 03
A ideia do ser humano como imagem de Deus nos é revelada logo no início da
Bíblia. Deus nos criou; Ele nos fez sua imagem e semelhança e isso sugere que
podemos nos relacionar com Ele. Contudo, essa relação com o Criador se inten-
sifica à medida que também nos relacionamos de forma amorosa com toda a sua
criação. Muito embora falhemos nessa missão, devido ao pecado que corrompeu
essa imagem de Deus em nós, é possível restaurar essa imagem e seguir em nosso
propósito.
22 EM MARCHA
Fundamento bíblico mensagem, que era dirigida a um povo
sofredor e que enfrentava ameaças de
Hebreus 2.5-18 é parte de um bloco apostasia, visava ajudá-lo a permanecer
maior de narrativas (1.1-4.13) que tratam, firme e fiel a Jesus Cristo diante das lu-
entre outros temas, da comunicação de tas, humilhações e perseguições (5.11-
Deus com a humanidade. Nesse deba- 14; 10.32-39; 12.1-7).
te são colocadas em paralelo a figura de Juntamente com o debate da comu-
Jesus e a dos anjos. A pergunta de fundo nicação da Palavra de Deus, aparece
presente no texto é: por intermédio de que também o tema da natureza de Jesus,
canal a Palavra de Deus é comunicada no dos anjos e dos seres humanos. A con-
tempo da graça? Por Jesus ou pelos anjos? clusão de Hebreus é que Jesus é supe-
O autor de Hebreus pontua que no rior aos anjos, pois é o Filho de Deus; os
passado Deus falou através dos profe- anjos são seres celestiais inferiores a
tas (1.1), de anjos (2.2a), e da Palavra em Jesus, e homens e mulheres, seres cria-
forma de Lei (2.2b), mas que no tempo da dos por Deus, um pouquinho menor que
Graça, em que a palavra é de Salvação, os anjos (vv.5-7).
Deus escolheu falar à humanidade por in- O texto de Hebreus destaca a figura
termédio de Jesus (seu Filho). Em outros humana diante da grandeza da glória de
termos, Deus escolheu revelar-se através nosso Senhor: “... que é o homem, que dele
de seu Filho, Jesus Cristo. te lembres? Ou o filho do homem, que o
O debate sobre anjos entra nessa epís- visites? Fizeste-o, por um pouco, menor
tola porque na comunidade dos hebreus que os anjos, de glória e de honra o co-
este tema era importante; havia muitas roaste (e o constituíste sobre as obras das
especulações a esse respeito, inclusive, tuas mãos). Todas as coisas sujeitaste de-
como indicado, dúvidas de como interpre- baixo dos seus pés...” (2.6-8). Tais palavras
tar o papel dos anjos diante da revelação são memória de uma citação do Salmo
do Cristo. As explicações apresentadas 8.4-6, em que o salmista apresenta o ser
aos hebreus ajudaram aquele povo cristão humano, não somente como parte da
a lidar com essa questão que ainda suscita criação divina (Salmo 8.5), mas também
especulações em nossos dias. como o resplendor da sua glória.
Assim, temos nesta narrativa a exal- Neste salmo Davi demonstra sua ad-
tação do senhorio de Cristo e a ênfase miração pelas grandezas de Deus mani-
em sua superioridade sobre os anjos festada em toda terra: elas estão nos céus
como canal de revelação de Deus. Em (Salmo 8.1); na boca das criancinhas (v.2);
outros termos, fica claro que na nova no firmamento (v.3); e também nos seres
aliança Deus se revela à humanidade humanos (vv.4-5), a quem o Senhor deu o
através de seu Filho, Jesus Cristo. Essa domínio de toda criação (vv.6-9).
RAÍZES DA NOSSA FÉ 23
Palavra que ilumina a de Deus no ser humano o permite expri-
mir valores divinos e estabelecer comu-
vida
nhão com Deus. É assim que entendemos
a sua busca pela transcendência, pelo di-
A carta aos Hebreus nos permite
vino. Isso facilita, em parte, a comunica-
pensar coisas importantes sobre a na-
ção do Evangelho, pois já há no coração
tureza humana: 1) a condição do ser hu-
humano essa abertura ao Criador. Cabe a
mano como imagem e semelhança de
Deus; 2) o impacto do pecado sobre essa cada discípulo e discípula de Cristo bus-
condição humana e o papel da obra re- car meios eficazes para fazer com que a
dentora de Jesus Cristo nesse processo. comunicação do Evangelho alcance cada
Vejamos como esses temas aparecem vez mais o coração das pessoas.
em Hebreus 2.5-18. Ao apresentar o ser humano como
O ser humano como a imagem de imagem e semelhança de Deus, a quem
Deus (v. 6-7). A carta indica que o ser foi designada a função de sujeitar a terra
humano foi feito um pouco menor que os e dominar sobre ela (Gênesis 1.26-28),
anjos, e que Deus o constituiu cheio de a Bíblia não intencionou colocá-lo como
“glória e honra”. A afirmação de que Deus superior à criação, mas como parte dela.
cobriu a humanidade de “glória e honra” As Escrituras ressaltam o quanto depen-
traz também à tona a doutrina cristã de demos de toda obra criada para vivermos
que o ser humano, em seu estado ori- (cosmo e outros seres humanos).
ginal, foi criado à imagem e semelhança De acordo com Genilma Boehler, es-
divina (Gênesis 1.26-27 e 2.7-17). tas narrativas da criação nos mostram
A doutrina cristã da humanidade que “estamos intrinsecamente vincula-
como “imagem e semelhança de Deus” dos a toda criação”. Seja cuidando da ter-
não deve ser entendida em termos fisio- ra, cultivando, guardando ou a povoando,
nômicos (aspectos físicos), mas, implica, “somos mais dependentes do que ima-
sobretudo, na capacidade humana de es- ginamos. Não podemos viver sem a
tabelecer comunhão com o Criador. comunidade ecológica que sustenta a
John Wesley, fundador do metodis- possibilidade da nossa existência. Não
mo, afirmava que essa “imagem” e “se- somos os donos da natureza, mas somos
melhança” deveria ser compreendida sob parte dela” (BOEHLER, 2002. pp. 6 e 7).
três aspectos: Imagem Moral, que é a Portanto, embora explícito, vale ressaltar
capacidade humana de exprimir virtudes que não é apenas a natureza que depen-
como amor, justiça, pureza e santidade; de da ação humana para sobreviver, mas
Imagem Natural, que indica que, como os seres humanos também dependem
ser espiritual, o ser humano é dotado de da ação renovadora da criação para ga-
inteligência, vontade livre e sentimento; rantir sua sobrevivência.
e Imagem Política, que está ligada ao po- O pecado trouxe corrupção à ima-
der ou a habilidade criativa humana de gem divina no ser humano, mas o Novo
administrar; esta é a sua condição de re- Nascimento pode mudar esta realida-
gente do mundo criado por Deus. de (v. 8-18). A fé cristã afirma que com
Em síntese, a imagem e semelhança a entrada do pecado no mundo a “ima-
24 EM MARCHA
gem” e “semelhança” de Deus no ser relacionamento. Deus busca se comuni-
humano foi corrompida (Gênesis 3.1-6). car com o ser humano.
Isso criou a necessidade de um caminho Contudo, fica explícito que o ser hu-
para a salvação da humanidade. A Lei foi mano também precisa se comunicar e
uma primeira alternativa de Deus para relacionar com toda a criação de Deus
esse resgate, todavia somente em Cristo (fauna, flora, outros seres humanos), ain-
a redenção se tornou completa. Jesus é da que essa comunicação e relação se-
o Filho do homem que, por meio da en- jam diferenciadas.
carnação, se fez menor que os anjos, A imagem e semelhança de Deus
tornando-se semelhante aos seus ir- em nós não anula a responsabilidade de
mãos (Hebreus 2.8). Por meio da morte buscarmos a Deus, seu conhecimento e
de Cruz, ofereceu justificação do pecado santidade, para espelharmos a imagem
e salvação. Por isso, Deus fez de Jesus divina a outras pessoas através de nos-
sumo sacerdote, para permitir através sas vidas.
do novo nascimento que o ser humano Nosso desafio é testemunhar a Cristo
seja salvo e torne-se aquilo para o qual nesse tempo, pois a evangelização per-
foi criado – imagem de Deus. mite levar Cristo e sua salvação a mui-
A revelação radical de Jesus na obra tas pessoas e, além disso, a conversão
da redenção, se solidarizando com os produz não apenas a restauração da
seres humanos, convida a comunidade imagem de Deus na vida humana, como
cristã de Hebreus, que enfrentava um também a construção de um mundo me-
tempo de sofrimento, a se espelhar nos lhor, já que as pessoas que se identificam
sofrimentos de Cristo para vencer suas com Cristo e refletem a imagem divina,
lutas e tribulações. Também acentua a tornam-se sinal do amor, da paz, da so-
ação graciosa e amorosa de Deus Pai em lidariedade, da fé e da esperança de Deus
favor da humanidade. Isto é, em Jesus, no mundo.
Deus revela ao mundo o seu amor, de-
sejando salvar a todas as pessoas que Para conversar
crerem no seu nome, restaurando as-
sim, a imagem de Deus outrora perdida Como o Novo Nascimento propicia a
(manchada pelo pecado) em suas vidas. restauração da imagem de Deus na vida
A Igreja é porta voz dessa mensagem de humana?
amor e salvação.
Leia durante a semana:
Conclusão
Domingo: Hebreus 2.5-18
Tudo o que vimos até aqui nos mos- Segunda-feira: Hebreus 1
tra que existe uma forte ligação entre o Terça-feira: Hebreus 4.14-16
Criador e sua criação. Com a humanidade, Quarta-feira: Gênesis 1.26-27
Deus se revela de forma mais próxima e Quinta-feira: Jó 7.17-18
transcendente, haja vista existir entre Sexta-feira: Salmo 8
ambos a possibilidade de comunicação e Sábado: Hebreus 10.32-39
RAÍZES DA NOSSA FÉ 25
CONTEÚDO PARA O(A) PROFESSOR(A)
26 EM MARCHA
Há portanto, uma dimensão espiri- relacionamentos nos torna semelhan-
tual nas pessoas que as torna diferen- tes ao Senhor.
tes dos animais e semelhantes a Deus. A fé cristã compreende que, com o
Este elemento espiritual é o que torna pecado, essa natureza divina foi cor-
possível a comunhão com o Senhor. Há, rompida (Gênesis 3.1-6), por isso, Deus
em todo ser humano, uma capacidade e enviou seu Filho, para salvar o ser hu-
uma necessidade de encontrar-se com o mano e restaurar a imagem divina
seu Criador. Ela define, também, o tipo manchada e restabelecer a conexão
de relacionamento que podemos cons- do ser humano com o Criador, através
truir com Deus: uma relação de Pai para do novo nascimento (Hebreus 2.5-18).
filho; de proximidade, de amor, de liber- Esse novo nascimento não anula a res-
dade e de obediência. ponsabilidade humana de continuar
Outro aspecto importante é a neces- buscando a Deus e à santidade. A san-
sária comunhão com outro ser humano. tificação torna-nos cada vez mais pare-
Após criar Adão, Deus criou Eva para cidos com Deus, resgata em nós o ideal
que ele não estivesse só. De sua cos- que Deus sonhou.
tela providenciou uma companheira. A
expressão bíblica “Não é bom que o ho- Por fim
mem esteja só” não diz respeito apenas
à necessidade humana de um relaciona- É tarefa de cada cristão e cristã, a
mento conjugal, mas num sentido am- partir da evangelização, tornar conheci-
plo, de companhia. da a humanidade que há em Jesus. Deus
Não fomos feitos para viver sós, mas deseja se fazer amor na vida das pes-
para relacionarmo-nos com outras pes- soas e restaurar sua imagem perdida
soas. É no encontro com o outro que nos em cada indivíduo. A carta aos Hebreus,
completamos, e que o amor, princípio objeto de nosso estudo, evidencia isso.
fundamental da nossa fé, pode ser vivi- Conclua a aula convocando a turma para
do. Essa capacidade de amar e construir essa conscientização.
RAÍZES DA NOSSA FÉ 27