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10 A Sustentabilidade dos Materiais de Construção

1.1 Enquadramento
“No fundo da China existe um mandarim mais rico que todos os reis...Dele nada
conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu
herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha... Ele soltará
apenas um suspiro...Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que
pode sonhar a ambição de um avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás
tu a campainha?”
Eça de Queirós in “O Mandarim”

Corria o ano de 1880 quando foi publicado o livro “O Mandarim”, da autoria


de Eça de Queirós. Nele o escritor fala do dilema de um indivíduo que
poderá ficar imensamente rico se aceitar viver com o facto de que essa opção
implicará a morte de alguém; alguém que ele não conhece e que nunca viu
residindo nos confins da China. Enunciado pela primeira vez em 1802 pelo
escritor François-René de Chateaubriand o “paradoxo do mandarim” como
ficou conhecido, coloca em evidência as implicações morais relacionadas
com as consequências que as nossas acções podem trazer a terceiros. A
versão moderna deste dilema é nos trazida por Singer (1997), já que de
acordo com este autor, um condutor de um jipe num país Ocidental pode ser
responsável pela morte de um camponês no Bangladesh, ao contribuir com
um elevado nível de emissões de CO2 para as alterações climáticas, que
provocam o aumento do nível das águas naquele país, causando a ruína das
suas colheitas e a disseminação de doenças tropicais.

Entendem os autores que a este respeito também teriam algum nível de


culpa se por omissão nada fizessem, sabendo como sabem que o sector da
construção é responsável por elevados impactos ambientais, não só em
termos de emissões de carbono como também de consumo de recursos não
renováveis e da produção de resíduos banais e perigosos. O presente livro
constitui por isso um pequeno contributo na consciencialização dos leitores,
relativamente ao facto do Planeta Terra enfrentar hoje um desafio ambiental
cuja falta de resolução ou adiamento, poderá vir a ditar o fim da civilização
humana tal como a conhecemos. É assim imperativo no que aos materiais de
construção diz respeito que se desenvolvam novas práticas e se tomem
novas atitudes, pois que o passado e mesmo o presente já comprovaram a
ineficácia das actuais.

O problema mais premente com que se depara o Planeta Terra está


relacionado com o aumento da temperatura média do ar (IPCC, 2007;
Schellnhuber, 2008), o que por sua vez está directamente relacionado com a
concentração de CO2 presente na atmosfera (Figura 1.1).

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