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DRABACH. Nadia, P.

Gestão Gerencial: a ressignificação dos princípios da


Gestão Democrática. Anped. 2011

Até a década de 1970, o modelo de produção Taylorismo/Fordismo era o que regia


a organização da sociedade capitalista. A gestão da educação, por influência do modelo
administrativo empregado na fábrica, adquiria um caráter científico e tecnicista, baseado
na divisão do trabalho.

Com a crise deste modelo de produção, o neoliberalismo se apresenta como uma


reação teórica e política contra o Estado intervencionista e de Bem Estar Social e como a
única alternativa viável para superar os problemas econômicos daquela sociedade.

O problema era que esse modelo anterior de Estado tinha elevado gastos sociais e
com a queda da taxa de lucros essa lógica estava se tornando insustentável. A saída então
foi apontar o Estado como ineficiente, ocultando o fato de que na verdade, o problema
estava no modo de produção capitalista, que estava em crise.

O Brasil da década de 1980 inicia o processo de redemocratização após o Regime


Ditatorial. Os ideais democráticos e a luta por liberdade, invadem os espaços políticos e
os movimentos sociais. Inserindo-se, inclusive, na Constituição Federal de 1988, que
garante a educação como parte dos direitos sociais, assim como a sua gestão democrática.

No entanto, o Neoliberalismo ao reduzir a atuação do Estado, redefine o seu papel,


colocando em risco a construção social democrática almejada. Na década de 1990,
sobretudo, vivemos a tensão de ter conquistado direitos, mas de ter dificuldade de
implementá-los.

A Reforma do Estado no Brasil durante o Governo Fernando Henrique Cardoso


sofreu fortes influências do Neoliberalismo e significou a transferência para o setor
privado de algumas funções que, na visão dos reformistas, poderia ser regulada pelo
mercado.

O movimento Neoliberal e as estratégias de reorganização do Estado conduziram


uma separação entre as esferas política e econômica e como consequência, a um
esvaziamento de conteúdo democrático e um enfraquecimento na luta e na concretização
dos direitos sociais.

A década de 1990, portanto, é considerada um marco teórico para uma nova


prática na administração pública: a abordagem gerencial. Inspirado na administração
empresarial – voltada para o aumento da produtividade e competitividade, este novo
modelo tem o propósito de substituir a perspectiva burocrática que caracterizava a
administração anterior, para uma forma de gestão centrada no indivíduo e em suas
capacidades.

Com isso, o Estado perde a sua importância, tendo inclusive que repassar algumas
responsabilidades para a sociedade civil e o mercado a fim de favorecer o
desenvolvimento econômico e o aumento do capital.

A política neoliberal empregada na Gestão Educacional se baseia no princípio de


que são os fatores internos, problemas técnicos, que impedem o desenvolvimento dos
sistemas de ensino. Por isso, defende-se uma gestão escolar fundada nos princípios da
globalização, do neoliberalismo, inclusive como forma e reduzir a pobreza, uma vez que
estaria preparando trabalhadores qualificados para o mercado.

Passou-se então, de um modelo hierárquico-centralizador, para um modelo


flexível-descentralizado, cuja forma de gestão se apropria de termos característicos da
gestão democrática: autonomia, participação, descentralização, porém, imprime sobre
eles uma marca própria, contradizendo o sentido político dado pela gestão democrática.

Na lógica gerencial, a autonomia é entendida no sentido da responsabilização das


unidades escolares pelo sucesso ou o fracasso das políticas educacionais. É adotada,
portanto, como meio que contribui para aumentar a eficiência da escola, maximizando os
resultados educacionais e aumentando os meios de controle sobre o trabalho desenvolvido
na escola.

Já a participação, de acordo com a lógica gerencial, consiste no estabelecimento


de parcerias com setores sociais que disponham a colaborar com a melhoria do ensino
público. Delegando à sociedade civil a responsabilidade pela manutenção dos
estabelecimentos de ensino, a realização de atividades extracurriculares e a prestação de
outros serviços desenvolvidos de forma solidária no âmbito escolar.

Por fim, a descentralização através da tomada de decisão acaba tornando-se


produtora do individualismo, contradizendo o princípio democrático de tomada de
decisões coletivas para o bem comum. À medida que cada escola possui autonomia para
decidir e buscar recursos para sua manutenção, inclusive no setor privado.
Neste sentido, a partir da lógica gerencial, a descentralização se justifica pelo
caráter explicitamente econômico, à medida em que diminui as estruturas administrativas
do setor público, e consequentemente, o custo de sua manutenção. Ela está associada com
uma série de instrumentos avaliativos que visam medir o desempenho da escola,
padronizando metas e resultados e apontando o seu nível de produtividade.

O caráter mercadológico empregado no âmbito educacional gera um novo modo


de pensar a ética profissional, agregada mais a valores financeiros do que a valores
morais. A performatividade da lógica de mercado incute no setor público a preocupação
com a imagem, a propaganda e com o valor simbólico que constroem sobre si,
contribuindo para o desenvolvimento da competitividade.

Com isso, a ideia de educação como forma de produção desconsidera as


especificidades decorrentes das interações humanas - inerentes ao processo educativo e
que não são passíveis de quantificação – e desencorajam a luta pela democratização
efetiva da educação.

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