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E-books Evangélicos
A REVELAÇÃO
BÁSICA NAS
ESCRITURAS
SAGRADAS

Witness Lee
©1984 Living Stream Ministry

Edição para Língua Portuguesa


© 1991 Editora Árvore da Vida

Título do Original Inglês:


The Basic Revelation in me Holy Scriptures

Primeira Edição - Agosto/91


Segunda Edição - Abril/92

Traduzido e publicado com a devida autorização do Living Stream Ministry e todos os


direitos reservados para a língua portuguesa pela Editora Árvore da Vida

Editora Árvore da Vida


Rua Gravi, 71, Saúde – 04143
São Paulo-SP – Brasil

Impresso no Brasil
pela Copiadora Árvore da Vida
ÍNDICE
Prefácio

1 O Plano de Deus

2 A Redenção de Cristo

3 A Aplicação do Espírito

4 Os Crentes

5 A Igreja

6 O Reino (1)

7 O Reino (2)

8 A Nova Jerusalém — a Consumação Final e Máxima (1)

9 A Nova Jerusalém — a Consumação Final e Máxima (2)

10 A Nova Jerusalém — a Consumação Final e Máxima (3)

11 A Nova Jerusalém — a Consumação Final e Máxima (4)


PREFÁCIO
Os capítulos neste livro são extraídos de mensagens dadas por
Witness Lee em Irving, Texas, no outono de 1983. Eles cobrem a revelação
básica e fundamental contida na Palavra de Deus. A Bíblia como a
completa revelação divina é profunda, e embora revele muitas verdades,
sua revelação essencial abrange sete verdades. São elas: O plano de Deus,
a redenção de Cristo, a aplicação do Espírito, os crentes, a igreja, o reino e
a Nova Jerusalém.
O plano de Deus inclui Seu bom prazer, Seu propósito, e Sua
economia divina com Sua eleição, predestinação e criação do homem. Tudo
o que Deus planejou foi cumprido por meio da redenção de Cristo. Para o
cumprimento da redenção, Cristo deu quatro passos principais —
encarnação, crucificação, ressurreição e ascensão. O Espírito todo-
inclusivo que dá vida aplica tudo o que o Pai planejou e tudo o que o Filho
cumpriu aos crentes, que são os componentes da igreja, a qual é o objetivo
de Deus. O reino é a esfera ou o domínio onde Deus leva a cabo o Seu
propósito, cumpre Sua vontade, exerce Sua justiça, exibe Sua multiforme
sabedoria e governa em Sua vida. A Nova Jerusalém é a conclusão da
revelação completa de Deus em Sua economia. Ela é a consumação final e
máxima da obra de edificação de Deus ao longo de todas as gerações.
Aqueles de nós que estávamos nas reuniões quando estas mensagens
foram dadas nunca poderemos esquecer a profundidade da revelação que
fluiu. Muitos de nós sentimos que, pela primeira vez, vimos
verdadeiramente a essência da revelação divina. A visão concernente a
todas estas verdades preciosas foi profundamente trabalhada para dentro
de nós enquanto a Palavra estava sendo aberta. Esta é uma palavra que
todos os filhos do Senhor necessitam ouvir, e oramos para que o conteúdo
deste livro seja uma palavra oportuna para muitos. Adoramos ao Senhor,
pois Ele nos tem falado tal palavra todo-abrangente por intermédio de
nosso irmão; e que ela possa tornar-se disponível a todos neste momento.
Precisamos orar e ter comunhão sobre todos os versículos e assuntos
contidos nos capítulos seguintes, confiando no Senhor a fim de que nos
conceda uma visão clara sobre a revelação básica nas Escrituras Sagradas.
Que o Senhor conceda a cada um de nós um espírito de sabedoria e de
revelação no pleno conhecimento de todas essas verdades e que possamos
experiencialmente entrar na realidade de cada uma delas. Oramos também
para que essas mensagens produzam muitos frutos em toda parte da terra.

Dezembro de 1984 Benson Phillips


Irving, Texas
CAPÍTULO UM

O PLANO DE DEUS
Leitura da Bíblia: Ef 1:4, 5, 9-11; 3:2, 8, 9, 11; Cl 1:25; 1 Co 9:17; 1
Pe 1:1,2; Rm 8:30; Gn 1:26a, 27; 2:7; Zc 12:1

A revelação divina nos sessenta e seis livros da Bíblia é extremamente


profunda. Existem sete pontos básicos nesta revelação profunda. Os
primeiros três pontos são o plano de Deus, a redenção de Cristo e a
aplicação do Espírito. Esses três pontos envolvem a Trindade divina —
Deus, Cristo e o Espírito. O que Deus planejou, Ele cumpriu pela redenção
de Cristo. O que Ele cumpriu em Cristo, Ele aplica a nós por meio do
Espírito. Os últimos quatro pontos são os crentes, a igreja, o reino e a
consumação final e máxima, a Nova Jerusalém. Neste capítulo cobriremos
o primeiro item da revelação básica na Bíblia — o plano de Deus.

O BOM PRAZER DE DEUS - O DESEJO DO SEU CORAÇÃO


A Bíblia revela claramente o plano de Deus. A maioria dos cristãos
valorizam dois livros entre os escritos de Paulo — Romanos e Efésios.
Romanos começa com a nossa condição como pecadores, gênero humano
caído, mas Efésios inicia levando-nos para dentro do coração de Deus. Em
Romanos 1 podemos ver a nossa condição de pecadores, mas em Efésios
podemos ver que há alguma coisa no coração de Deus. A palavra
beneplácito é usada duas vezes neste capítulo (vs. 5 e 9). Deus tem um
beneplácito, e esse bom prazer é o desejo do Seu coração. Na eternidade
passada Deus estava só. Não podemos imaginar como era a eternidade
passada, mas Efésios 1 nos diz que antes da criação do universo Deus
tinha um desejo no coração. Ele tinha um bom prazer. O que Ele queria
pode ser expresso pela simples palavra "filiação" (1:5). Filiação é o desejo do
coração de Deus.
Depois de Deus ter feito Adão, Ele disse que não era bom que o
homem estivesse só (Gn 2:18). Esta palavra pode ser também aplicada a
Deus na eternidade passada. Não era bom que Deus estivesse só. Ele tinha
um desejo de gerar muitos filhos. Efésios 1 nos diz que Deus nos
predestinou para a filiação. Muitos cristãos podem pensar que a
predestinação de Deus é para a salvação; mas de acordo com Efésios, na
eternidade passada o primeiro pensamento no coração de Deus não era
salvação. Seu pensamento principal era a filiação. Deus preconhecia que
Sua criação cairia. Por causa da queda, houve o plano de salvação, de
modo que a salvação foi proposta para a filiação. O desejo de Deus é gerar
muitos filhos.
Recentemente numa reunião de oração em Irving, Texas, vi três
jovens. Ao olhar para a face deles, pude ver que eles eram os filhos de um
certo irmão. Todos os três possuem uma forte semelhança com o pai; eles
são a sua própria expressão.
Quanto mais filhos um pai tem, mais expressão ele tem. Romanos
8:29 nos diz que o Filho unigênito de Deus tornou-se o primogênito entre
muitos irmãos. O Filho unigênito de Deus em João 1:18 e 3:16 tornou-se,
por meio da ressurreição (At 13:33), o Filho primogênito. Primogênito
implica que outros filhos vieram depois. Agora Deus não somente tem um
Filho, mas muitos. O Filho primogênito de Deus, Cristo, tem milhões de
irmãos. Ao longo destes vinte séculos muitos têm sido regenerados e,
assim, têm-se tornado filhos de Deus. Todos esses filhos são os irmãos do
primogênito Filho de Deus (Jo 20:17; Hb 2:10-12). Que filiação enorme!
Quando jovem, estive com alguns santos que conheciam muito bem a
Bíblia. Eles enfatizavam a predestinação de Deus, mas nunca os ouvi dizer
qual é o alvo da predestinação de Deus. Depois de muitos anos de estudo
da Bíblia, vi que nós fomos predestinados para filiação.
Subconscientemente eu pensava que éramos predestinados para salvação.
Alguns diriam que fomos predestinados para os céus. Não é nem salvação
nem os céus o alvo da predestinação de Deus; é a filiação (Ef 1:5).
A versão de João Ferreira de Almeida traduz essa palavra por "adoção
de filhos", mas a palavra na língua original significa filiação. Ela não quer
dizer filhos adotados por um pai, mas filhos nascidos diretamente de um
pai gerador. O desejo do coração de Deus, então, é ter uma grande
multidão de filhos que O expressem, não somente nesta era mas também
pela eternidade.

O PROPÓSITO DE DEUS - SEU PLANO


Baseado no desejo do Seu coração, Deus estabeleceu um propósito
(Ef 3:11). O propósito de Deus foi estabelecido de acordo com Seu bom
prazer. Efésios 1:9 diz que Deus propôs Seu bom prazer. Isso significa que,
de acordo com o que Ele desejava, Ele fez um plano. Desde que Deus tinha
tal bom prazer, Ele fez um plano. Em Efésios 3:11 Paulo nos diz novamente
que Deus fez um plano em Cristo, um plano eterno, um propósito eterno.

A ECONOMIA DE DEUS -SEU ARRANJO ADMINISTRATIVO


Economia é uma palavra aportuguesada do grego oikonomia. Ela
significa a lei de uma casa, ou administração familiar. Em 1 Timóteo 1:4
essa palavra é usada para arranjo, plano, administração ou gerenciamento.
No Velho Testamento a casa de Faraó necessitava de alguma administração
familiar ou arranjo, e José foi colocado ali para tomar conta daquela
administração. O que ele fazia era principalmente distribuir o rico alimento
aos famintos (Gn 41:33-41, 54-57); e aquela distribuição era um dispensar.
A administração da casa de Faraó foi uma economia levada a cabo para
dispensar as riquezas ao povo. No Novo Testamento essa palavra é
principalmente usada por Paulo. Mas a mesma palavra é usada pelo
Senhor Jesus em Lucas 16:2-4, referindo-se ao mordomado de um
despenseiro. José podia ser considerado como o despenseiro de Faraó, e
sua responsabilidade, como sua economia. Aquela atribuição, seu
mordomado, era para dispensar a rica comida que Faraó possuía para
alimentar os famintos.
Sua Dispensação
Em Efésios, Paulo nos diz que ele foi designado por Deus como um
despenseiro, e que, com isso, Deus deu-lhe a responsabilidade, o dever, o
qual é chamado mordomado (3:2). A palavra grega para mordomado é a
mesma palavra para dispensação. Quer seja ela traduzida por mordomado
quer por dispensação, isso depende do contexto. Em Efésios 3:2, Paulo diz
que Deus deu-lhe o mordomado da Sua graça. Então, a mesma palavra
grega, oikonomia, é encontrada em 1:10 e 3:9, onde parece melhor traduzi-
la por dispensação. Esta palavra "economia" denota principalmente um
plano, uma administração, um gerenciamento, para dispensar as riquezas
de uns para outros.
Paulo considerava que Deus tinha uma grande família para suprir
com Suas riquezas. Em Efésios 3:8 ele diz que Deus o designou para
pregar, ministrar, distribuir ou dispensar as riquezas insondáveis de
Cristo. Essas riquezas estão na casa de Deus. Existe um depósito das
riquezas insondáveis de Cristo, e Deus designou os apóstolos (Pedro, João,
Tiago e Paulo) para serem despenseiros a fim de dispensar essas riquezas a
todo o povo escolhido de Deus.
Mordomado é o mesmo que dispensar. José cumpriu seu mordomado
dispensando comida. Sua responsabilidade, seu ofício, seu dever era
distribuir a rica comida aos necessitados. Aquela distribuição era um
dispensar.
Alguns mestres da Bíblia têm ensinado que existem sete
dispensações na Bíblia. No Velho Testamento há as dispensações da
inocência, consciência, governo humano, promessa e lei. Então, no Novo
Testamento há a dispensação da graça nesta era e a dispensação do reino
na era vindoura. Nessas sete dispensações, dizem eles, Deus trata com o
homem de sete maneiras diferentes.
Isso pode estar correto, mas não se esqueçam que as dispensações
são a administração familiar de Deus. Deus tem uma grande família, e
nesta família Ele necessita de uma administração, um plano, um
gerenciamento, para dispensar a Si mesmo para dentro de Sua família. O
pensamento principal de Deus, desde a eternidade passada, era ter um
arranjo ao longo das eras para dispensar-se para dentro de Seu povo
escolhido e predestinado. A esses Ele faria Seus filhos infundindo-se para
dentro deles para que pudessem ter a vida divina pelo novo nascimento.
Nas catorze epístolas de Paulo podemos ver que Deus tinha um bom
prazer, de acordo com o qual Ele fez um plano, um propósito. Ele criou o
homem à Sua própria imagem, e na plenitude dos tempos infundiu-se para
dentro de todos aqueles criados e escolhidos para que eles pudessem
tornar-se Seus filhos, expressando-O. Este é o plano de Deus e esta é a
dispensação de Deus para o Seu dispensar.
Em português, as palavras dispensação e dispensar são ambas
formas do verbo dispensar. Quando uso a palavra dispensação, quero dizer
economia, arranjo ou gerenciamento. Mas, quando uso a palavra
dispensar, quero dizer o distribuir das riquezas divinas para dentro do
povo de Deus. Dispensação denota o arranjo, o gerenciamento, o plano, a
economia. Dispensar refere-se ao distribuir do próprio Deus como vida e
suprimento de vida para dentro de Seu povo escolhido em Cristo.

Seu Dispensar
Em Efésios 1:10 e 3:9, a palavra oikonomia é usada para
administração familiar, a qual é o plano de Deus para dispensar-se para
dentro de Seu povo escolhido. Em Efésios 3:2, Colossenses 1:25 e 1
Coríntios 9:17 a mesma palavra refere-se ao mordomado de Paulo. A
palavra mordomado é usada no sentido de dispensar. O mordomado de
Paulo era o dispensar das riquezas insondáveis de Cristo para dentro do
povo escolhido de Deus. Com Paulo, a palavra mordomado refere-se ao
dispensar divino.
A palavra despenseiro é usada em 1 Pedro 4:10, que diz que todos
nós precisamos ser bons despenseiros da multi-forme graça de Deus. A
multiforme graça do rico Deus necessita de muitos despenseiros para
dispensá-la; este dispensar é o mordomado deles.
O que estou fazendo neste ministério é dispensar as riquezas de
Cristo. Se você me disser que sou um bom mestre da Bíblia, aprecio sua
palavra, mas não gosto de ouvi-la. Não me considere um mestre! Sou um
despenseiro! Não estou meramente ensinando a Bíblia; estou dispensando.
Certa vez fui tomar uma injeção contra gripe. Havia uma longa fila de
pessoas, e todos tínhamos de oferecer nosso braço de modo que
pudéssemos tomar a injeção. Em meu ministério quero dar às pessoas uma
injeção das riquezas de Cristo! Tenho a plena certeza de que quem quer
que venha a este ministério, obterá tal injeção!
Nosso mordomado hoje é o mesmo de Paulo. O mordomado de Paulo
era simplesmente aplicar uma injeção nas pessoas, isto é, distribuir,
dispensar as riquezas insondáveis de Cristo para dentro do povo escolhido
de Deus. Esta é a economia de Deus, Seu plano, Sua administração.

A ESCOLHA DE DEUS
Deus tem um bom prazer, e segundo o Seu bom prazer Ele fez um
plano. Por conseguinte, Ele arranjou uma administração universal de Sua
casa para dispensar Suas riquezas para dentro de Seu povo escolhido.
Então nos selecionou, não somente antes de sermos criados, mas também
antes da fundação do mundo (Ef 1:4; 1 Pe 1:1, 2). Nada de Sua criação
tinha vindo ainda à existência quando Ele nos selecionou.
E difícil comprar coisas em um shopping center porque existem
muitas coisas para escolher. As pessoas não compram cegamente; elas
consideram e escolhem cuidadosamente o que comprarão. Na eternidade
passada, antes de Sua criação, Deus me viu e disse: "Eu gosto deste." Sem
ter sido escolhido, não creio que me teria tornado um cristão. Mesmo tendo
nascido no cristianismo, eu não era um cristão até os dezenove anos. Fui
educado dentro do cristianismo, mas ainda não cria. Entretanto, um dia
Deus me tocou e disse: "Eu quero você." Naquele dia fui capturado. E
quanto a vocês? Atrás do cenário há uma mão poderosa e eterna dirigindo
todas as coisas. Nossa seleção é uma coisa maravilhosa.
Nosso Pai celestial fica alegre quando nos vê. Somos o desejo de Seu
coração, Seu bom prazer. O prazer de Deus não está na lua, no sol, no céu
ou na terra. Ele nos diz claramente em Sua Palavra que Ele não fica
satisfeito apenas com a terra e o céu. O que O satisfaz é Seu povo
escolhido. Somos Seu bom prazer, e Seu plano foi feito para nós.

SUA PREDESTINAÇÃO
Seguindo Sua escolha, Deus nos predestinou (Ef 1:5; Rm 8:30). A
Nova Tradução Bíblica de Darby* traduz esta palavra "predestinados" em
Efésios 1:5 como "marcados de antemão." Você já havia percebido que
antes da fundação do mundo fora marcado? Você não pode escapar da mão
de Deus. Tentei um bom número de vezes, mas nunca consegui! Quanto
mais tentava, mais forte Ele me agarrava. Aonde você irá para escapar de
Deus? Aonde quer que você vá, ali está Ele (SI 139:7-10). Algumas vezes
pode ser que você tenha se aborrecido por vir às reuniões da igreja e
decidiu ir a algum outro lugar. Quando chegou lá, o Senhor Jesus estava
lhe esperando! Isso mostra que você foi marcado.

A CRIAÇÃO DE DEUS
Após o bom prazer de Deus, após o Seu plano (arranjo,
administração, economia), após Sua escolha e Sua predestinação, Ele veio
à Sua criação. O registro da criação do homem por Deus é muito breve. Há
somente dois versículos. Gênesis 1:26 é a própria palavra de Deus, e o
versículo seguinte é o registro de Moisés. Nesses dois versículos estão
três pontos cruciais.

__________
*N. do T.: Versão em inglês.

O Conselho da Trindade Divina


Primeiro, o versículo 26 indica a Trindade divina. A palavra Elohim
(Deus) é plural, e na Sua própria fala Deus usa as palavras "Façamos" e
"nossa": "Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança." Os pronomes referentes a Deus estão no plural. É fácil
perceber que isso implica na Trindade divina.
Alguns mestres têm salientado que quando Deus disse: "Façamos o
homem...", isso era uma conversa em uma reunião. A Trindade divina teve
uma reunião para considerar a criação do homem. Ao criar outras coisas,
não houve tal conversa registrada. A criação do homem, então, deve ter
sido crucial. Criar o céu e a terra não foi tão importante como a criação do
homem. O homem é o centro do propósito de Deus na criação.
A Criação do Homem à Imagem de Deus, Conforme a Sua
Semelhança
O segundo ponto é que somente o homem foi feito à imagem de Deus
e conforme a Sua semelhança. O tigre não foi feito à imagem de Deus, nem
o elefante foi feito conforme à Sua semelhança. Gênesis 1:26 diz: "Façamos
o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança."
Imagem refere-se ao ser interior; semelhança refere-se à expressão
exterior. Você pode referir-se a Colossenses 1:15, que fala de Cristo como a
"imagem do Deus invisível." Como pode um Deus invisível ter uma
semelhança exterior? Não posso explicar isso. Isso é um mistério. É como
em João 1:14, que diz que Deus como a Palavra tornou-se carne. Em
Gênesis 18, entretanto, Ele apareceu a Abraão como um homem. Abraão
lavou Seus pés e preparou uma refeição para Ele (vs. 4-8). Ele apareceu
novamente em Juizes 13, dessa vez à mãe de Sansão. Ela viu esse Homem,
que, após falar-lhe e a seu marido, ascendeu (v. 20). Eis aqui uma
ascensão antes de Atos 1! Como podemos conciliar essas porções do Velho
Testamento com o Novo? Não podemos.
É igualmente uma maravilha, um mistério, que Deus tenha criado o
homem à Sua imagem. Em 2 Coríntios 3:18 diz que estamos sendo
transformados à Sua imagem. Em Romanos 12:2 diz que somos
"transformados pela renovação da mente." Esses versículos indicam que a
imagem é algo interior, composta da mente, emoção e vontade. O órgão que
pensa, o órgão que ama e o órgão que decide compõem o ser interior. O
homem é feito de modo maravilhoso. Mesmo depois da queda, o homem
ainda é maravilhoso (SI 139:14). Somos seres maravilhosos porque fomos
criados por Deus desta forma.

Para a Expressão de Deus


O terceiro ponto é que o homem foi feito para expressar Deus. Tanto
imagem como semelhança denotam expressão. Quando Deus criou o
homem à Sua imagem e à Sua semelhança, Ele não colocou a vida divina
dentro dele. A vida divina não foi infundida ao homem criado até que Jesus
por nós veio, morreu e foi ressuscitado. Agora, quem quer que creia Nele
tem a vida eterna (Jo 3:16). Se temos o Filho, temos esta vida divina. Se
não temos o Filho, não temos esta vida (1 Jo 5:12). A vida de Deus não
entrou no homem criado até o cumprimento da plena redenção de Cristo.

De Três Partes
Deus criou o homem com a intenção de um dia entrar nele e de que o
homem fosse capaz de recebê-Lo. Romanos 9 revela que o homem criado
por Deus é um vaso com o propósito de conter algo. Assim como um copo é
um recipiente para conter água, também o homem foi feito um recipiente
para conter Deus.
Gênesis 2:7 nos diz como Deus fez o homem. Primeiro, Ele fez o corpo
do homem do pó da terra. Em seguida, Ele soprou o fôlego de vida para
dentro das narinas desse corpo de barro, e o homem tornou-se uma alma
vivente. Aqui neste versículo há o corpo, a alma e o fôlego de vida. A
palavra em hebraico para fôlego em Gênesis é traduzida por "espírito" em
Provérbios 20:27, o qual diz: "O espírito do homem é a lâmpada do
Senhor." Isso indica que o próprio fôlego de vida soprado para dentro de
Adão era o espírito humano. Dois materiais, então, foram usados para
formar o homem: o pó e o fôlego de vida. O pó tornou-se o corpo, e o fôlego
de vida tornou-se o espírito. Quando estas duas coisas juntaram-se um
subproduto surgiu: a alma. Assim, Paulo nos diz em 1 Tessalonicenses
5:23 que o ser humano é de três partes: espírito, alma e corpo.
Gênesis 1 nos diz que Deus criou o homem à Sua própria imagem e
semelhança; foi assim para que ele pudesse conter Deus. Um recipiente
deve ser do mesmo formato da coisa que ele conterá. Se algo é quadrado,
você não faria um recipiente redondo para ele. Se algo é redondo, você não
faria um recipiente quadrado para ele. O formato do recipiente é feito de
acordo com o formato do conteúdo. O homem foi feito à imagem e
semelhança de Deus.
Gênesis 1 nos diz que todas as coisas criadas produziram frutos
segundo a sua espécie (vs. 11, 12, 21, 24, 25). A macieira produz frutos
segundo a sua espécie, e o tigre segundo a sua espécie. O homem foi feito
segundo a espécie de Deus. Se duas árvores estão enxertadas juntas, elas
devem ser da mesma espécie; do contrário, o enxerto não funcionará.
Aleluia! O homem é da mesma espécie de Deus! Porque fomos criados
segundo a espécie de Deus, com a intenção de que fôssemos enxertados
juntos com Deus, esse "enxerto" funcionará e podemos tornar-nos um com
Deus.

A Parte Crucial — O Espírito do Homem


Deus criou o homem com um espírito, embora na época da criação
ele não tivesse a vida de Deus. Assim, a Bíblia nos diz: "Há um espírito no
homem" (Jó 32:8). Vinte e dois anos atrás, quando comecei a ministrar
neste país, dei mensagem após mensagem sobre o espírito humano. Muitos
santos me disseram que eles nunca haviam escutado isso antes. Tanto
Andrew Murray como a senhora Jesse Penn-Lewis enfatizaram o espírito.
Deus nos criou não somente com uma boca e um estômago para receber
alimento; Ele também nos criou com um espírito para recebê-Lo.
Dentro de um rádio existe um receptor. Sem o receptor, nenhuma das
ondas radiofônicas que estão no ar poderia ser recebida pelo rádio. O nosso
receptor para receber Deus é o nosso espírito. O Senhor Jesus disse em
João 4:24: "Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em
espírito e em verdade." Somente espírito pode adorar Espírito. Porque o
próprio Deus é Espírito, Ele criou-nos com um espírito com um propósito
definido para que pudéssemos adorá-Lo. Adorá-Lo inclui contatá-Lo,
conversar com Ele e recebê-Lo. Ele vem para dentro de nós por entrar no
nosso espírito.
Romanos 8:16 diz que o Espírito e o nosso espírito testificam juntos.
Isso quer dizer que o Espírito de Deus, ao crermos no Senhor Jesus, entra
no nosso espírito. Em 1 Coríntios 6:17 diz: "Aquele que se une ao Senhor é
um espírito com ele." No começo da Bíblia Deus preparou um homem à
Sua imagem, conforme à Sua semelhança, e com um espírito para recebê-
Lo, contê-Lo e expressá-Lo. Entretanto, na época da criação o homem não
recebeu Deus, o Espírito divino, para dentro de seu espírito.
Todo ser humano tem a imagem de Deus, a semelhança de Deus e
um espírito humano. Quando o evangelho nos alcançou, ele nos tocou a
consciência, que é uma parte do espírito (Rm 8:16; 9:1). Por causa daquele
toque nosso espírito foi estimulado e nos arrependemos. Abrimos nosso ser
interior para arrepender-nos, crer e receber o Senhor Jesus; Ele veio para
dentro de nós e fomos salvos. Muitos pregadores do evangelho perguntam:
"Você quer se abrir e convidar Jesus para entrar em seu coração?" Não há
nada de errado com isso, mas para experimentar Cristo como nossa vida
depois de sermos salvos, precisamos saber que Ele está agora em nosso
espírito (2 Tm 4:22).
O propósito de Deus é a filiação, e a filiação é cumprida pelo
dispensar do que Deus é para dentro de nós como nossa vida. Esse
dispensar está em nosso espírito. João 3:6 diz: "O que é nascido da carne é
carne, e o que é nascido do Espírito é espírito." Aqui estão novamente os
dois espíritos. Não fomos regenerados na mente, nem no corpo. Nicodemos
pensou que nascer de novo fosse tornar a nascer no corpo físico, mas o
Senhor Jesus o corrigiu. Nascer de novo é nascer de Deus o Espírito, em
nosso espírito, não de nossos pais. Mesmo se pudéssemos voltar ao ventre
de nossa mãe e nascer fisicamente cem vezes, nós ainda seríamos carne.
Temos de nascer no nosso espírito do Espírito divino.
Zacarias 12:1 nos diz que existem três coisas cruciais na criação de
Deus: o céu, a terra e o espírito do homem. Ali diz que Jeová é Aquele que
"estendeu os céus, fundou a terra e formou o espírito do homem dentro
nele." Quão grande é o nosso espírito! O céu é para a terra. Sem o céu, a
terra não poderia ter nada orgânico. A terra é para o homem, e o homem é
para Deus. Para o homem ser para Deus, ele precisa de um receptor. Esse
receptor é nosso espírito humano. Louvado seja o Senhor por estarmos
aqui sob o plano de Deus e em Seu plano; por termos sido feitos por Ele à
Sua imagem e semelhança; por termos um espírito para recebê-Lo; e por
Ele, como o Espírito divino, ter entrado em nosso espírito humano,
fazendo-nos Seus filhos para Sua expressão! Este é Seu plano.
CAPÍTULO DOIS

A REDENÇÃO DE CRISTO

Leitura da Bíblia: Jo 1:14; Hb 2:14; Rm 8:3; 2 Co 5:21; Jo 3:14; 1 Pe


2:24; 1 Co 15:3; Hb 9:28; Rm 6:6; Gl 2:20; Ef 2:15; Jo 12:24, 31; 19:34;
7:39; Lc 24:26; At 13:33; Rm 8:29; Hb 2:11, 12; 1 Pe 1:3; Ef 2:6; 1 Co
15:45; 2 Co 3:17,18; Jo 20:22; Ef 1:20, 21; At 2:36; Ef 1:22, 23; At 2:33

Deus criou o céu e a terra com o homem como o cabeça e o centro.


Então o homem caiu. Aos olhos de Deus, a queda do homem envolveu toda
a criação. Para redimir essa criação caída, Deus veio no Filho.
Redenção não foi um pensamento posterior. Ela foi preordenada por
Deus. Em 1 Pedro 1:19, 20 nos diz que o Redentor, Cristo, era
preconhecido por Deus antes da fundação do mundo. Neste versículo,
"mundo" refere-se a todo o universo. Antes da fundação do universo, Deus
sabia que o homem cairia. Assim, Deus preordenou o Filho, Cristo, para
ser o Redentor. Podemos ver nisso que a redenção de Deus não foi
acidental.
Mais adiante, Apocalipse 13:8 diz que o Cordeiro, isto é, o Redentor,
Cristo, foi imolado "desde a fundação do mundo." Desde o tempo em que a
criação veio à existência, aos olhos de Deus, Cristo, como o Cordeiro
ordenado por Deus, foi imolado. Aos nossos olhos, Cristo foi crucificado a
menos de dois mil anos atrás. Mas, à vista de Deus, Ele foi imolado desde o
dia em que a criação veio à existência, porque Deus preconhecia que Sua
criação cairia.
Esses versículos mostram que a redenção de Deus não era um
pensamento posterior, mas algo ordenado, planejado, e preparado por
Deus na eternidade passada. Como devemos valorizar este fato acerca da
redenção que desfrutamos em Cristo!

DEUS ENCARNADO
O primeiro passo no cumprimento da redenção de Deus foi a
encarnação. Foi certamente uma coisa maravilhosa para Deus vir para
dentro do homem e nascer da humanidade por meio de uma virgem. O
nosso Deus tornou-se um homem! Na criação, Ele era o Criador. Mas
embora tivesse criado todas as coisas, Ele não entrou em nenhuma das
coisas que Ele criara. Mesmo ao criar o homem, Ele somente soprou o
fôlego de vida para dentro dele (Gn 2:7). Ele ainda estava fora do homem.
Seu sopro, de acordo com Jó 33:4, deu vida ao homem; entretanto, Ele
próprio não veio para dentro do homem. Até a encarnação, Ele estava
separado do homem. Mas com a encarnação, Ele pessoalmente entrou no
homem. Ele foi concebido e então permaneceu no ventre da virgem por
nove meses, após o que Ele nasceu.
A Palavra Tornando-se Carne
De acordo com João 1:14, Ele tornou-se não somente um homem; Ele
tornou-se carne. A carne nesse versículo refere-se ao homem depois da
queda. O homem em Gênesis 1 e 2 não havia caído, mas depois, em
Gênesis 3, ele caiu. A palavra carne, referindo-se ao homem depois da
queda, sempre possui uma conotação negativa. Nenhuma carne pode ser
justificada perante Deus por obras (Rm 3:20). Carne refere-se ao homem
caído, e Cristo, como o Filho de Deus, tornou-se um homem. Ele tornou-se
carne.

Na Semelhança da Carne do Pecado


Eu não quero dizer que Ele tornou-se um pecador. A Bíblia é muito
cuidadosa sobre esse assunto. Se a Bíblia contivesse somente João 1:14,
poderíamos pensar que Ele se tornou uma pessoa pecaminosa. Mas a
Bíblia também contém Romanos 8:3, que diz que Deus enviou Seu Filho
"na semelhança da carne do pecado". Cristo tornou-se carne, mas Ele
estava somente na semelhança da carne do pecado. Não havia pecado em
Sua carne. Ele tinha somente a semelhança, não a natureza pecaminosa,
da carne. Paulo compôs esta frase com três palavras: semelhança, carne e
pecado. Dizer somente carne do pecado indicaria carne pecaminosa.
Louvado seja o Senhor que a Escritura acrescenta "em semelhança",
indicando que na natureza humana de Cristo não havia pecado, mesmo
que aquela natureza possuísse a semelhança, a aparência da carne do
pecado. Mais ainda, Paulo não diz que Deus enviou Seu Filho na
semelhança da carne e parou aí. Ele acrescenta "do pecado". Semelhança
denota fortemente que a humanidade de Cristo não tinha pecado, mas que
Sua humanidade ainda estava de alguma maneira relacionada ao pecado.
Em outro versículo, em 2 Coríntios 5:21, Paulo diz que Cristo "não
conheceu pecado". Isso quer dizer que Ele não tinha pecado. Todavia, em 2
Coríntios 5:21 também diz que Aquele que não tinha pecado foi feito
pecado por Deus. A nossa mente não pode entender isso. Se as Escrituras
não fossem escritas desta forma, pareceria herético dizer que Cristo foi feito
pecado; mas Cristo foi feito pecado por nós como nosso substituto total. Se
isso não tivesse acontecido, não poderíamos ter sido salvos. "Aquele que
não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós." Aquele a quem Deus fez
pecado, não conheceu pecado.
Esse problema está retratado no Velho Testamento no tipo da
serpente de bronze, descrito em Números 21. Quando os filhos de Israel
pecaram contra Deus, eles foram picados por serpentes e morreram.
Moisés buscou a Deus por eles, e Deus disse a ele para fazer uma serpente
de bronze e erguê-la numa haste. Quem quer que olhasse para a serpente
de bronze viveria, e muitos olharam (vs. 6-9).
Então em João 3, o Senhor Jesus falou a Nicodemos acerca da
regeneração. Nicodemos era um mestre da Bíblia (v. 10) e ensinava o Velho
Testamento, especialmente o Pentateuco. "Nicodemos disse: Como pode um
homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, voltar ao ventre materno e
nascer segunda vez?" (v. 4). O Senhor quis dizer que, se ele pudesse voltar
ao ventre materno e tornar a nascer, ainda seria carne: "O que é nascido da
carne, é carne" (v. 6). Nascer de novo não é nascer uma segunda vez da
carne, mas nascer do Espírito. "O que é nascido do Espírito, é espírito"
(v.6).
Nicodemos queria saber como seriam essas coisas. Então o Senhor
Jesus disse a ele em um tom de repreensão: "Tu és mestre em Israel, e não
compreendes estas coisas?" (v. 10). Ele, em seguida, citou a Nicodemos a
passagem de Números 21: "E do modo por que Moisés levantou a serpente
no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que
todo o que nele crê tenha a vida eterna" (vs. 14,15).
Esse retrato indica claramente que a serpente de bronze possui
somente a aparência, a semelhança da serpente, mas não a sua natureza
venenosa. Isso corresponde à palavra de Paulo "na semelhança da carne do
pecado".
Quando Cristo morreu na cruz, Ele não somente era um Cordeiro aos
olhos de Deus, mas também uma serpente. Esses aspectos de Cristo estão,
ambos, em João. Em João 1:29 há referência ao Cordeiro de Deus, e 3:14,
ao Filho do homem, Cristo, erguido como a serpente de bronze no deserto.
Quando Cristo, nosso Redentor, estava sobre a cruz, por um lado, Ele era o
Cordeiro de Deus para levar embora o nosso pecado; por outro lado, Ele era
uma serpente. A Palavra Santa nos diz que quando Cristo morreu na cruz,
aos olhos de Deus Ele era como uma serpente de bronze. Enfatizo isso
porque precisamos conhecer que tipo de redenção o Senhor Jesus cumpriu
por nós.
A fim de cumprir uma redenção plena, Ele como c Filho de Deus
tornou-se carne. A Palavra encarnou-se. João, porém, não disse que a
Palavra tornou-se um homem; ele disse: "A Palavra se fez carne". No tempo
na encarnação, "carne" era um termo negativo. Mas devemos ser
cuidadosos ao dizer isso. A serpente certamente é negativa, mas esta ser-
pente é uma serpente de bronze. Ela possui somente a aparência de uma
serpente; ela não tem a sua natureza. Você acha que, quando Cristo foi
feito pecado, Ele tinha natureza pecaminosa? Absolutamente não! É por
isso que Paulo modifica sua palavra dizendo: "aquele que não conheceu
pecado ". Mesmo que Ele tenha sido feito pecado por Deus, Ele não tinha
pecado Nele e não conheceu pecado. O nosso Senhor é um Redentor
maravilhoso. A Bíblia nos diz que Deus tornou-se um homem na
semelhança da carne caída e pecaminosa.

Participando da Carne e Sangue do Homem


Encarnação também tem um lado positivo. Ela trouxe Deus para
dentro do homem. Ela fez Deus e o homem um. Aproximadamente dois mil
anos atrás, houve um Homem nesta terra que era uma combinação de
Deus e homem. Jesus Cristo era somente homem? Ele era somente Deus?
Ele era tanto Deus como homem. Muitos mestres da Bíblia chamam-No o
homem-Deus. Ele não era meramente um homem de Deus, mas um
homem-Deus. Ele era o Deus completo e um Homem perfeito.
De acordo com a revelação genuína da Bíblia, em tal encarnação,
nem a natureza de Deus nem a natureza do homem foram perdidas e nem
uma terceira natureza foi produzida. Cristo é um homem-Deus tanto com a
natureza divina como com a natureza humana existindo Nele distinta-
mente.
O nosso Redentor é um homem-Deus. Pela Sua encarnação para o
cumprimento da redenção, Ele, como o próprio Deus, tomou a iniciativa de
fazer-se um com o homem. Ele participou da carne e sangue do homem.
Hebreus 2:14 nos diz: "Visto, pois, que os filhos têm participação comum
de carne e sangue, destes também Ele, igualmente, participou." Se Ele não
tivesse o sangue do homem, como Ele poderia ter derramado Seu sangue
pelos pecados do homem? Sem derramamento de sangue não há perdão de
pecados (Hb 9:22). Como seres humanos, precisamos do sangue humano
para lavar os nossos pecados. Porque nosso Redentor participou do sangue
do homem, Ele pôde derramar Seu sangue por nossos pecados.

Ainda com o Pai


Quando o Filho de Deus encarnou-se, Ele não deixou o Pai nos céus.
Embora eu pensasse assim há mais de cinqüenta anos, gradualmente
descobri, por estudar a Palavra, que o Filho e o Pai não podem ser
separados. Eles são distintos, mas não separados. O próprio Filho nos diz
claramente que Ele veio em nome do Pai (Jo 5:43) e que o Pai estava com
Ele todo o tempo (Jo 16:32). Ele e o Pai são um (Jo 10:30; 17:22).
Como cristãos, cremos que há somente um Deus. Crer no triteísmo,
que há três Deuses, é uma grande heresia. Temos somente um Deus,
todavia nosso Deus é triúno. Ele é três em Sua Divindade: o Pai, o Filho, e
o Espírito. Todavia Ele é um Deus. Não temos como conciliar isso.
Entretanto, conhecemos o fato manifestado de que Deus é triúno, que Ele é
três-um.
O plano de Deus é principalmente a obra do Pai, Sua redenção é
principalmente a obra do Filho e Sua aplicação é principalmente a obra do
Espírito. O Pai planejou, o Filho redimiu e o Espírito aplica.
Os três são distintos mas não separados. Quando o Filho veio, o Pai
veio com Ele. Quando o Espírito veio, o Filho e o Pai vieram (Jo 14:17, 23).
Não cremos no modalismo, uma heresia que diz que quando o Filho veio, o
Pai deixou de existir, e então quando o Espírito veio, o Filho deixou de
existir. Cremos que Deus é três-um, o Pai, o Filho e o Espírito como um
Deus coexistindo e coinerindo de eternidade a eternidade.

CRUCIFICADO
A encarnação foi maravilhosa e a crucificação é maravilhosa. Não
temos palavras para explicar a encarnação na totalidade, nem podemos
explicar totalmente o fato da morte de Cristo.

Carregando os Nossos Pecados


Na cruz, Cristo carregou os nossos pecados. Três versículos são
muito claros a este respeito: 1 Pedro 2:24, 1 Coríntios 15:3 e Hebreus 9:28.
Todos estes versículos dizem que Cristo carregou os nossos pecados. De
acordo com Isaías 53:6, quando Cristo estava na cruz, Deus tomou todos
os nossos pecados e os colocou sobre este Cordeiro de Deus.
Se ler nos quatro Evangelhos a respeito da morte de Cristo, você verá
que Ele foi crucificado das nove horas da manhã, a hora terceira (Mc
15:25), até às três horas da tarde, a hora nona (Mc 15:33; Mt 27:46). Entre
estas seis horas houve o meio-dia, a hora sexta (Mc 15:33). O meio-dia
dividiu estas seis horas em dois períodos de três horas cada. A perseguição
humana ocorreu nas três primeiras horas. O homem pregou-O na cruz,
escarneceu Dele e afligiu-O de toda maneira possível. Então, nas últimas
três horas, Deus veio para julgá-Lo (Is 53:10). Isso é demonstrado pela
escuridão que veio sobre toda a terra ao meio-dia. Deus colocou todos os
pecados da humanidade sobre Ele.

Feito Pecado por Nós


Nas últimas três horas, aos olhos de Deus, Cristo foi feito pecado.
Foi, então, na cruz que Deus condenou o pecado na carne de Cristo.
Romanos 8:3 diz que Deus, mandando Seu próprio Filho na semelhança da
carne do pecado (como a serpente de bronze na forma de uma serpente —
Jo 3:14), condenou o pecado na carne. O pecado foi condenado. O pecado
foi julgado na cruz. Cristo não somente carregou os nossos pecados, como
foi feito pecado por nós (2 Co 5:21) e foi julgado por Deus uma vez por
todas.

Com o Nosso Velho Homem e Toda a Velha Criação


Ainda mais, quando Cristo foi crucificado, todos Seus crentes foram
crucificados com Ele (Gl 2:20). Quando Ele se encarnou, Ele tomou-nos
sobre Si. Ele vestiu sangue e carne.
Portanto, quando Ele foi crucificado, fomos crucificados com Ele. Do
ponto de vista de Deus, antes de nascermos, já estávamos crucificados em
Cristo. Quando Cristo foi crucificado, não somente os nossos pecados
foram tratados e nem somente o nosso pecado foi tratado; nós mesmos
fomos crucificados. Assim, Romanos 6:6 diz: "Foi crucificado com Ele o
nosso velho homem".
Além disso, toda criação também foi crucificada ali. Quando Cristo
morreu, o véu do templo rasgou-se de alto a baixo (Mt 27:51). De alto a
baixo indica que isso não foi um feito do homem, mas um feito de Deus, do
alto. Deus rasgou aquele véu em duas partes. No véu havia querubins
bordados (Ex 26:31). De acordo com Ezequiel 1:5, 10 e 10:14, 15,
querubins eram seres viventes. Os querubins no véu, então, indicavam os
seres viventes. Sobre a humanidade de Cristo estavam todas as criaturas.
Quando o véu foi rasgado, todas as criaturas foram crucificadas. Por isso
podemos ver que a morte de Cristo foi todo-inclusiva. Ela tratou os nossos
pecados, o nosso pecado, o nosso eu, o nosso velho homem e toda a velha
criação. Pecados, pecado, homem c toda a criação foram tratados na cruz.

Abolindo a Lei dos Mandamentos na Forma de Ordenanças


Em Efésios 2:15 Paulo nos diz que por Sua morte na cruz, Cristo
aboliu a lei dos mandamentos na forma de ordenanças. No Velho
Testamento havia muitas ordenanças. A principal era a circuncisão, que
dividia os judeus dos gentios. Os judeus até usavam o termo
"incircuncisão" ao referir-se aos gentios, enquanto consideravam-se a
circuncisão. Circuncisão, portanto, era uma marca de separação. Os
judeus também guardavam o sétimo dia, outra ordenança que os fazia
diferentes dos gentios. Ambas ordenanças Cristo aboliu na cruz (Cl 2:14,
16).
Outras ordenanças dos judeus eram os regulamentos de dieta. Em
Atos 10, entretanto, enquanto Pedro estava orando no eirado, uma visão
veio a ele (vs. 9-16). O Senhor disse a
Pedro para comer os animais que ele considerava comuns e imundos.
Assim, circuncisão, o sábado e os regulamentos de dieta foram totalmente
abolidos. Essas ordenanças tinham sido uma parede de separação forte e
alta entre os judeus e os gentios, mas agora ela foi derrubada. Não há mais
nenhuma separação. Os judeus e os gentios podem ser edifícados juntos
como o Corpo de Cristo.
As ordenanças foram abolidas, mas e quanto às diferenças entre as
raças, tais como entre negros e brancos? Na redenção completa de Cristo
todas essas diferenças também foram abolidas. Ele pôs de lado toda a
inimizade. Muitos ainda não vivem de acordo com isso. Os judeus ainda
guardam a circuncisão, o sábado e os regulamentos de dieta. Até mesmo
muitos cristãos ainda têm inimizade.
Por meio de Sua morte única, Cristo levou embora todos os nossos
pecados e o pecado; Ele crucificou o velho homem, terminou a velha
criação e aboliu as diferenças entre as raças. Agora não estamos em nós
mesmos — estamos em Cristo. Nele não há pecados. Nele não há o pecado.
Nele não existe o velho homem e nem a velha criação. A igreja é simples-
mente Cristo (1 Co 12:12). O próprio conteúdo, o constituinte da igreja é
Cristo (Cl 3:10, 11). No novo homem não há grego nem judeu, nem posição
social, nem distinção de raças, nem diferenças de nacionalidades; Cristo é
tudo e em todos (Cl 3:11). Em Cristo, os pecados, o pecado, o velho
homem, a velha criação e todas as ordenanças são anulados.

Destruindo Satanás e Julgando o Mundo


A carne foi crucificada com Cristo. Porque a carne está relacionada a
Satanás, ao crucificar a carne Cristo destruiu Satanás. É por isso que
Hebreus 2:14 diz que pela Sua morte Ele destruiu o diabo. Por João 12:31
sabemos que quando Cristo foi crucificado, Ele expulsou Satanás, o
governador do mundo, e julgou o mundo.
Por volta de 1935 ouvi uma mensagem dada pelo irmão Watchman
Nee em Xangai. Ele disse que, se fosse a um crente jovem e perguntasse a
ele quem morreu na cruz, ele diria que seu Redentor tinha morrido na cruz
tanto pelos seus pecados como pelo seu pecado. Se fosse a outro mais
avançado e perguntasse a ele quem havia morrido na cruz, ele diria que
Cristo morreu lá, carregando seus pecados, o pecado e ele próprio (Gl
2:20). Alguém ainda mais avançado na vida cristã lhe diria que Cristo
morreu na cruz pelos seus pecados, pelo pecado e por ele próprio com toda
a criação. Uma quinta categoria de cristãos diria que Cristo morreu na cruz
não somente pelos seus pecados, pelo pecado e por eles próprios com toda
a criação, mas também para destruir Satanás e julgar o mundo.
Mais tarde comecei a ver que havia a necessidade de um avanço
posterior em perceber a morte de Cristo, isto é, a abolição das ordenanças.
Todas as ordenanças — os hábitos, costumes, tradições e práticas entre a
raça humana — foram abolidas na cruz. A crucificação de Cristo foi a
terminação universal de todas as coisas negativas. Aleluia por tal
terminação!

Liberando a Vida Divina


A morte de Cristo não somente foi uma morte terminadora, mas
também liberadora. Sua morte liberou a vida divina escondida dentro Dele
(Jo 1:4). Em João 12:24 diz que um grão de trigo permanece só a menos
que seja plantado na terra. Se ele é plantado na terra, ele morre e então
cresce para tornar-se muitos grãos. Isso ilustra a morte liberadora de
Cristo. Sua morte não somente termina todas as coisas negativas; ela
também libera vida divina — a única coisa positiva em todo o universo.
Quando Cristo morreu, um soldado traspassou Seu lado e saiu
sangue e água (Jo 19:34). Estes são símbolos. Sangue significa redenção, e
água significa vida. Sangue e água são símbolos dos dois aspectos da
morte de Cristo. O aspecto negativo é a redenção, e o aspecto positivo é o
liberar da vida divina. Ele morreu, e a vida dentro Dele foi liberada. Por
Sua morte não somente o sangue redentor fluiu; a vida divina também
fluiu Dele. Hoje, quando cremos Nele, recebemos o sangue e obtemos a
água viva, a vida divina. Recebemos redenção e obtemos vida eterna.

RESSURRETO
No terceiro dia depois de Sua morte, Cristo ressuscitou. Algumas
coisas maravilhosas foram executadas por meio de Sua ressurreição.

Glorificado na Vida Divina


Primeiramente, em Sua ressurreição Cristo foi glorificado. Quando
uma semente de cravo é plantada, ela morre sob a terra, e então cresce.
Quando floresce, aquele florescer é sua glorificação. Jesus foi a única
semente da vida divina. Antes de Sua morte, a vida divina estava oculta
dentro Dele. Sua humanidade era a casca. Quando Sua humanidade foi
quebrada na cruz, a vida divina saiu de dentro Dele, e Ele foi glorificado
naquela vida (Jo 7:39; Lc 24:26). A entrada de Cristo na ressurreição foi
como o florescer da semente de cravo: Ele foi glorificado.

Tornando-se o Filho Primogênito de Deus com Muitos Irmãos


Em segundo lugar, em ressurreição Cristo nasceu como o Filho
primogênito de Deus. Poucos cristãos percebem que para Jesus Cristo a
ressurreição foi um nascimento. Encarnação foi Seu nascimento como um
homem, mas ressurreição foi Seu nascimento em Sua humanidade como o
Filho primogênito de Deus (At 13:33).
Cristo, como o Filho de Deus, tem dois aspectos. Antes da Sua
ressurreição Ele era o Filho unigênito (Jo 1:14; 3:16); então, em
ressurreição Ele nasceu de Deus como o Filho primogênito. Quando Cristo
se encarnou, Ele vestiu a humanidade; entretanto, Sua humanidade não
era divina. Foi por meio de Sua morte e ressurreição que Sua humanidade
foi levada para dentro da divindade. Assim, Atos 13:33 nos diz que em Sua
ressurreição Ele nasceu. O Filho unigênito tornou-se o Filho primogênito
(Rrn 8:29).
Em Efésios 2:6 nos diz que na ressurreição de Cristo nós, Seus
crentes, também fomos ressuscitados. Quando Ele foi crucificado, nós
fomos crucificados. Quando Ele foi ressuscitado, nós fomos ressuscitados.
Em Sua ressurreição Ele nasceu como o Filho primogênito de Deus, e nós
também nascemos como os muitos filhos de Deus. Ele tornou-se o
Primogênito, e nós nos tornamos Seus muitos irmãos (Jo 20:17; Hb
2:11,12).
A Bíblia deixa claro que, antes de nascermos, nós fomos crucificados
com Cristo e ressuscitados com Ele. Na ressurreição Ele nasceu como o
Filho primogênito de Deus, e em Sua ressurreição nós também nascemos
como os muitos Filhos de Deus (1 Pe 1:3). Ele tornou-se o Primogênito
entre nós, Seus muitos irmãos.

Tornando-se o Espírito que Dá Vida


Em ressurreição Cristo também tornou-se Espírito que dá vida (1 Co
15:45). Este versículo em 1 Coríntios é um dos versículos mais
negligenciados na Bíblia. Na ressurreição, o tema de 1 Coríntios 15, Cristo
como o último Adão, por meio de Sua morte e ressurreição, tornou-se
Espírito que dá vida. Muitos cristãos consideram Cristo como seu
Redentor, mas poucos consideram-No como um Espírito que dá vida. Mas
nosso Redentor é o Espírito que dá vida na ressurreição. Pela Sua morte
Ele nos redimiu; na Sua ressurreição Ele infunde-se para dentro de nós
como vida.
Depois de Sua ressurreição e na Sua ressurreição, Ele tornou-se o
Cristo pneumático. O Cristo pneumático é idêntico ao Espírito. É por isso
que em 2 Coríntios 3:17 diz: "O Senhor é o Espírito". Hoje, em ressurreição,
o próprio Cristo, nosso Redentor, é idêntico ao Espírito que dá vida a nós.

Soprando para dentro de Seus Crentes


João 20 revela que depois de Sua morte e em Sua
ressurreição, Cristo voltou. Ele retornou de uma forma maravilhosa.
Os discípulos estavam numa casa com as portas fechadas com medo dos
judeus (v. 19). Repentinamente, Jesus estava ali dizendo a eles: "Paz seja
convosco". Ele não os ensinou e não lhes deu nenhum sermão como fez no
monte. Ele simplesmente soprou para dentro deles e disse-lhes: "Recebei o
Espírito Santo" (v. 22), o Sopro Santo, o Pneuma Santo.
Cristo apareceu sem bater na porta porque em ressurreição Ele é o
Espírito. Ele tinha um corpo ressurreto, que é chamado corpo espiritual (1
Co 15:44; Jo 20:27). Não podemos explicar isso, mas isso é um fato
revelado na Bíblia. Desde o tempo de Sua ressurreição, Cristo nunca
deixou os crentes. Aqui e ali Ele aparecia a eles, mas estava sempre com
eles.
Considere, então, o que está incluído em Sua ressurreição: Ele foi
glorificado, tornou-se o Filho primogênito de Deus, fazendo de todos nós
Seus irmãos, e Ele tornou-se o Espírito que dá vida soprado para dentro de
nós para estar conosco para sempre (Jo 14:16-20).

EXALTADO
Após Sua ressurreição, em Sua ascensão Cristo foi grandemente
exaltado (Ef 1:20, 21). Ele foi feito Senhor e Cristo (At 2:36), e a Ele foi dado
ser Cabeça sobre todas as coisas para a igreja, a qual é o Seu Corpo (Ef
1:22, 23). O nosso Cabeça, Cristo, não é somente nossa Cabeça, mas é
Cabeça sobre todas as coisas para nós.
Em Sua ascensão Cristo derramou o Espírito Santo sobre Seus
crentes (At 2:33). Este foi o batismo genuíno do Espírito que formou o
Corpo de Cristo (1 Co 12:13). Em Sua ressurreição Ele soprou o Espírito
Santo para dentro de Seus discípulos; então, em Sua ascensão, Ele
derramou Seu Espírito sobre Seus crentes. Isso quer dizer que, dentro dos
discípulos e sobre eles havia somente o Espírito. Dentro estava o Espírito e
fora estava o Espírito. Dentro estava o Espírito que enche interiormente, e
fora estava o Espírito derramado. Isso foi cumprido uma vez por todas e é
um fato eterno do qual participamos.
Encarnação é um fato, e crucificação é um fato, incluindo todas as
realizações do Senhor na cruz. Ressurreição também é um fato. Em Sua
ressurreição, Cristo tornou-se o Primogênito, fazendo-nos todos Seus
irmãos, e Ele também tornou-se o Espírito que dá vida soprado para dentro
de nós. Ainda mais, a ascensão é um fato. Em Sua ascensão Cristo foi feito
Cabeça sobre todas as coisas, Ele foi feito Senhor e Cristo, e Ele derramou-
se como o Espírito sobre todos nós. Agora estamos Nele. Ele está nos céus,
e assim também nós (Ef 2:6). Ele está dentro de nós e sobre nós, e nós
estamos Nele. Esta é a redenção completa de Cristo.
CAPÍTULO TRÊS

A APLICAÇÃO DO ESPÍRITO
Leitura da Bíblia: Gn 1:2; Jz 3:10; Lc 1:35; Jo 7:39; At 16:6, 7; Rm
8:2, 9; Fp 1:19; 1 Co 15:45; 2 Co 3:6, 17, 18; Ap 1:4; 4:5; 5:6; 2:7; 14:13;
22:17; Jo 14:17; 15:26; 16:13-15; 1 Jo 5:7; Jo 3:5, 6; 2 Co 1:21, 22; Ef
1:13; 4:30; 1 Pe 1:2; Rm 15:16; 1 Co 12:13

Oração: "Senhor, como Te agradecemos pela Tua palavra.


Agradecemos-Te por esta reunião. Cremos que é de Tua soberania. Senhor,
podemos vir a Ti em torno de Tua palavra. Que misericórdia e graça!
Confiamos em Ti para entender a Tua palavra. Admitimos nossa
insuficiência. Somos limitados — limitados no entendimento, limitados na
elocução, até mesmo limitados no ouvir. Unge nosso ouvido e nossa mente.
Unge a boca que fala. Que Tu possas falar em nosso falar. Gostamos de
praticar ser um espírito Contigo, especialmente nesta hora de falar a Tua
palavra. Senhor, purifica-nos com o Teu precioso sangue. Como Te
louvamos porque, onde o Teu sangue está, ali está a rica unção. Confiamos
em Tua unção. Buscamos a Ti desesperadamente por tal palavra misteriosa
hoje a noite. Senhor, derrota o inimigo e afugenta todas as trevas deste
salão. Visita cada ouvinte. Nós pedimos em Teu poderoso nome. Amém."
Já tratamos dos dois primeiros itens da revelação básica nas
Escrituras Sagradas — o plano de Deus e a redenção de Cristo. Neste
capítulo chegamos ao terceiro item — a aplicação do Espírito. Este é o item
mais misterioso na revelação divina.
Podemos usar a impressão como uma ilustração da aplicação do
Espírito. Na impressão existe primeiro o rascunho, o manuscrito. Este
manuscrito é então datilografado numa página, da qual se faz uma matriz.
Em seguida, a impressora, usando a matriz, produz quantas cópias
desejarmos. Este último estágio, a produção de cópias, ilustra a aplicação
do Espírito.
Cristo fez uma grande obra de "datilografia" do que Deus propôs em
Seu plano. Ele encarnou-se e viveu na terra por trinta e três anos e meio.
Então morreu na cruz, ressuscitou e ascendeu aos céus. Por meio de tal
processo longo, da encarnação à ascensão, o Senhor Jesus fez a
maravilhosa obra de "datilografia". Essa obra produziu uma "matriz". Agora
o Espírito vem e aplica a nós o que Cristo fez. O Pai planejou, o Filho
cumpriu e o Espírito veio para aplicar o que Cristo cumpriu de acordo com
o plano do Pai.
Para que seja nítida a impressão, deve ser usado papel limpo. É por
isso que a primeira coisa que o Espírito aplica a nós é o purificar do sangue
precioso do Senhor Jesus (Hb 9:14). O Espírito nos purifica com o sangue
redentor de Cristo. Por meio do precioso sangue, fomos lavados e
purificados. Agora somos papel puro, limpo, bom para essa impressão
espiritual.
O ESPÍRITO POR TODA A ESCRITURA
Para entender a obra do Espírito em aplicar as realizações de Cristo,
consideremos como o Espírito é gradualmente revelado por toda a
Escritura.

O Espírito de Deus
A primeira vez que o Espírito de Deus é mencionado é em Gênesis
1:2. Este é Deus Espírito em Sua criação. O Espírito de Deus pairou por
sobre as águas mortas para a criação de Deus.

O Espírito de Jeová
Depois de criar o homem, Deus permaneceu intimamente envolvido
com ele. Em seu relacionamento com o homem, o título de Deus é Jeová. É
por isso que no Velho
Testamento o Espírito de Deus é freqüentemente chamado de Espírito
de Jeová. O Espírito de Jeová vinha sobre certas pessoas. Isso indica que o
Espírito de Jeová tem a ver com Deus alcançando o homem (Jz 3:10; Ez
11:5). Os principais títulos usados para o Espírito de Deus no Velho
Testamento são o Espírito de Deus e o Espírito de Jeová.
O Espírito Santo
Na encarnação, o Espírito de Deus foi chamado o Espírito Santo (Mt
1:18, 20; Lc 1:35). Andrew Murray, em sua obra prima O Espírito de Cristo,
salienta que o título divino, "o Espírito Santo" não é usado no Velho
Testamento. Em Salmos 51:11 e em Isaías 63:10,11 "Espírito Santo"
deveria ser traduzido para "Espírito de santidade". Quando chegou o tempo
de preparar o caminho para a vinda de Cristo e de preparar um corpo
humano para Ele iniciar a dispensação do Novo Testamento, é que o termo
"Espírito Santo" começou a ser usado (Lc 1:15, 35).

O Espírito Ainda Não Sendo


Agora chegamos a um ponto muito difícil. Em João 7:37, 38 o Senhor
Jesus exclamou: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em
mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva." Em
seguida, no versículo 39, João explica que o Senhor falou isto "com respeito
ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito
ainda não era (lit.), porque Jesus não havia sido ainda glorificado." João
não diz o Espírito de Deus, o Espírito de Jeová, ou o Espírito Santo, mas "o
Espírito". Ele diz mais adiante que quando Jesus estava exclamando ao
povo, "o Espírito ainda não era". A versão J. E de Almeida diz, "o Espírito
ainda não fora dado" (VRC), mas a palavra "dado" foi inserida; ela não está
no texto grego. O Espírito de Deus estava em Gênesis 1, e o Espírito de
Jeová vinha sobre os profetas no Velho Testamento. Por que, então, em
João 7 o Espírito "ainda não era"?
Andrew Murray em seu livro O Espírito de Cristo indica que, antes da
glorificação de Cristo, isto é, antes da Sua ressurreição (Lc 24:26), o
Espírito de Deus tinha somente divindade. Mas quando Cristo foi
ressuscitado , o Espírito de Deus tornou-se o Espírito do Jesus glorificado.
Se Ele ainda fosse somente o Espírito de Deus, teria somente o elemento
divino. A palavra de Murray quer dizer que o Espírito, ao tornar-se o
Espírito de Jesus glorificado que veio após a ressurreição de Cristo, tem
agora o elemento de humanidade.

O Espírito Composto
Quando jovem, fui ensinado que em Êxodo 30:22-30, o óleo da unção
é um tipo do Espírito Santo. Mas depois de ter recebido esclarecimento pelo
livro de Andrew Murray, voltei a estudar Êxodo 30. Esse óleo é composto de
azeite de oliveira combinado com 4 especiarias: mirra, cinamomo, cálamo e
cássia. O azeite de oliveira é um tipo do Espírito Santo, mas que são as
quatro especiarias? Sabe-se que a mirra refere-se à morte de Cristo.
Cinamomo deve indicar a doce eficácia daquela morte. Cálamo é um junco
que cresce no pântano e projeta-se alto, no ar. Isso indica ressurreição.
Cássia era usada nos tempos antigos como um repelente de insetos e
especialmente de serpentes. Isso indica o poder da ressurreição de Cristo
que prevalece contra Satanás.
Essas quatro especiarias são de três unidades. Mirra, quinhentos
siclos. Cinamomo e cálamo, duzentos e cinqüenta siclos cada, e cássia,
quinhentos siclos. Se o cordeiro é um tipo de Cristo e se o azeite de oliveira
é um tipo do Espírito Santo, certamente essas quatro especiarias são
também tipos a respeito de Cristo. As três unidades de quinhentos siclos
cada devem referir-se à Trindade. A quantidade total de cinamomo e
cálamo, sendo dividida em duas unidades de duzentos e cinqüenta cada,
tipifica o segundo da Trindade "dividido" na cruz, assim como o véu foi
rasgado de alto a baixo.
O número "um" do um him de azeite de oliveira significa o Deus
único. O número quatro das quatro especiarias significa a criatura. Em
Ezequiel e em Apocalipse há quatro seres viventes, referindo-se à criação
de Deus (Ez 1:5, 10; Ap 4:6-9).
Por meio disso podemos perceber que esse óleo composto deve ser um
tipo todo-inclusivo do Espírito composto referido em João 7:39. Isso quer
dizer que o Espírito de Deus, como o elemento básico, foi combinado com a
deidade, humanidade, morte e ressurreição de Cristo como as especiarias.
Neste Espírito composto estão o Deus único, a Trindade, o homem, a
criatura, a morte de Cristo, a doçura e eficácia de Sua morte, a
ressurreição de Cristo e o poder de Sua ressurreição.
O Espírito era primeiramente o Espírito de Deus, possuindo somente
a essência divina. Mas depois que Deus, no Filho, tornou-se um homem e
morreu na cruz, passando pela morte e ressurreição, e entrando na
ascensão, o Espírito tornou-se o Espírito de Jesus Cristo (Fp 1:19),
composto da essência de Deus e da humanidade de Jesus em Sua morte e
ressurreição. O Espírito não tem mais somente a essência divina, mas tem
agora, em acréscimo, a humanidade de Jesus com a morte de Cristo, a
eficácia de Sua morte, a ressurreição e o poder de Sua ressurreição.
Dos escritos sobre a vida interior, recebi ajuda em saber que fui
crucificado antes de eu ter nascido (Gl 2:19b, 20). Aos olhos de Deus fomos
crucificados antes de termos nascido. Como escolhidos de Deus, nascemos
crucificados. A senhora Jesse Penn Lewis disse que todo cristão deve
morrer para viver (Jo 12:24; 1 Co 15:31; 2 Co 4:11). Mas minha experiência
foi que, quanto mais eu tentava morrer, mais vivo ficava. Um hino escrito
por A. B. Simpson diz que existe uma pequena palavra que o Senhor deu:
considerar. De acordo com Romanos 6:11, devemos considerar-nos mortos.
Pratiquei o considerar-me, mas não funcionou. Quanto mais me
considerava morto, mais vivo parecia! No livro de Watchman Nee, A Vida
Cristã Normal, existe um capítulo que enfatiza o considerar. Esse livro é
uma compilação de mensagens que o irmão Nee deu antes de 1939. Depois
de 1939 ele começou a dizer às pessoas que não podemos experimentar a
morte de Cristo revelada em Romanos 6 até que tenhamos a experiência do
Espírito de Cristo em Romanos 8. A morte de Cristo em Romanos 6 pode
ser experimentada somente por meio de Seu Espírito em Romanos 8. Em
outras palavras, se não estamos no Espírito, considerar que estamos
mortos não funciona.
Cristo é Cristo, e você é você; e a morte Dele não é sua morte a menos
que você esteja ligado a Ele organicamente por meio do Espírito. No
Espírito composto existem os elementos da morte de Cristo e de sua
eficácia, prefigurados pela mirra e cinamomo. Quando estamos no Espírito,
o Espírito composto, não necessitamos considerar-nos mortos, porque no
Espírito existe o elemento da morte de Cristo.
Alguns medicamentos têm elementos que matam germes. Se você
tentar matar os germes por si mesmo, fracassará. Mas se toma um
medicamento prescrito, um elemento naquele medicamento matará os
germes por você. O Espírito composto hoje é uma dose todo-inclusiva. Um
médico lhe dirá que a melhor dose é aquela que mata os germes e nutre o
paciente. Isso pode ser usado como uma ilustração do Espírito composto.
No Espírito composto existem a morte de Cristo, que é o poder que mata, e
a ressurreição de Cristo, que é a fonte de nutrição da vida divina. Esses
elementos que matam e que nutrem estão combinados juntamente neste
Espírito.

O Espírito de Jesus
O Espírito Santo é chamado de Espírito de Jesus em Atos 16:6, 7.
Jesus era um homem que sofria perseguição. Como um evangelista, Paulo
saía para pregar, e ele também sofria. Naquele sofrimento ele precisava do
Espírito de Jesus porque no Espírito de Jesus há o elemento do sofrimento.
Se vai a um país pagão para pregar o evangelho, você precisa do Espírito de
Jesus para enfrentar a oposição e perseguição. A força do sofrimento para
resistir à perseguição está no Espírito de Jesus.

O Espírito de Cristo
Em Atos 16, por causa da perseguição, Paulo precisou do Espírito de
Jesus, mas em Romanos 8 em ressurreição há o Espírito de Cristo. Em
Romanos 8:9,10 temos três títulos: o Espírito de Deus, o Espírito de Cristo,
e Cristo. Estes três títulos são usados permutavelmente. Isso indica que o
Espírito de Deus é o Espírito de Cristo, e o Espírito de Cristo é
simplesmente o próprio Cristo. Estes três títulos são sinônimos. O Espírito
Santo de Deus é não somente o Espírito de Deus, mas também o Espírito
de Jesus que sofreu e o Espírito do Cristo ressurreto. Contanto que
tenhamos tal Espírito, temos o poder do sofrimento para enfrentar a
perseguição e o poder de ressurreição para viver uma vida ressurreta sobre
o pecado e a morte (Rm 8:2).

O Espírito de Jesus Cristo


Em Filipenses 1:19 Paulo refere-se à "provisão do Espírito de Jesus
Cristo". O suprimento abundante está com o Espírito de Jesus Cristo. Este
Espírito guiou Jesus pela encarnação e por meio do viver humano na terra
por trinta e três anos e meio. O Senhor Jesus viveu uma vida santa e sem
pecado por muitos anos por meio do Espírito dentro Dele. O mesmo
Espírito guiou Jesus por meio da morte e para dentro da ressurreição.
Então o Espírito de Deus tornou-se o Espírito de Jesus Cristo. Por tal longo
processo, os elementos da humanidade, do sofrimento e do viver humano,
da crucificação de Cristo, de Sua ressurreição e mesmo de Sua ascensão
foram totalmente combinados com este Espírito.
O Espírito que recebemos não é meramente o Espírito de Deus,
possuindo somente o elemento divino. O Espírito que nós, cristãos,
recebemos é o Espírito composto de divindade, humanidade, viver humano,
sofrimento, crucificação, ressurreição e ascensão. Deus está no Espírito. A
humanidade elevada de Jesus e Seu sofrer e viver humano também estão
no Espírito. A morte, ressurreição e ascensão de Cristo estão todos neste
Espírito. Deste modo, com este
Espírito está o suprimento abundante. Paulo pôde suportar
perseguição e aprisionamento por causa do suprimento abundante do
Espírito de Jesus Cristo. Esta provisão tornou-se sua salvação diária e
pessoal. Mesmo acorrentado e em prisão ele ainda engrandecia Cristo e
vivia Cristo (Fp 1:19-21a). Ele engrandecia Cristo, não por sua energia ou
por sua própria força, mas pelo suprimento abundante do Espírito de
Jesus Cristo.

O Espírito do Senhor
"O Espírito do Senhor" (2 Co 3:17) indica que a ascensão de Cristo
está incluída no Espírito. "O Senhor" neste versículo refere-se ao Cristo
crucificado, ressurreto e ascendido. Na Sua exaltação Ele foi feito Senhor
(At 2:36).
Em 2 Coríntios 3:17 diz: "O Senhor é o Espírito; e onde está o
Espírito do Senhor aí há liberdade." Primeiramente, ele nos mostra que os
dois são um, e, em segundo lugar, mostra que os dois ainda são dois. Da
mesma forma, em João 1:1 diz: "No princípio era a Palavra, e a Palavra
estava com Deus, e a Palavra era Deus" (lit.). A palavra e Deus são um,
todavia a Palavra estava com Deus, o que indica que Eles são dois.
O Espírito Idêntico ao Senhor
O Espírito é idêntico ao Senhor. No passado, o termo Cristo
pneumático era usado em Cristologia. O Cristo pneumáíico indica que o
próprio Cristo é o Espírito. Entretanto, não pensem que quando a Bíblia diz
que o Senhor é o Espírito ela anula a distinção entre o Filho e o Espírito.
Eles são um, todavia ainda dois. Eles são um, todavia ainda distintos.
Toda verdade na Bíblia tem dois lados. Com respeito ao Deus Triúno,
se vocês permanecem no extremo do lado de um, vocês são modalistas. Se
permanecem no extremo do lado de três, vocês são triteístas. Nós
permanecemos na Palavra, desse modo não somos nem triteístas nem
modalistas. Cremos na Trindade genuína, que Deus é três-um. Deus é
unicamente um, todavia Sua deidade é da Trindade. A palavra triúno vem
do latim. Tri significa três; uno significa um. Assim, triúno quer dizer três-
um.
Em João 14:23 o Senhor Jesus nos diz que quem quer que O ame,
Ele e o Pai virão a este e farão nele morada. Também, em João 14:17 o
Senhor Jesus nos diz que o Espírito como o Espírito da realidade virá para
habitar nos crentes. Assim, no mesmo capítulo nos é dito que o Pai e o
Filho farão morada com aquele que O ama e que o Espírito habita naquele
que O ama. Isso nos mostra que os três estão nos crentes
simultaneamente. O Deus Triúno está em nós. Isso é um mistério, mas
pela nossa experiência sabemos que isso é assim.
Em Mateus 28:19 o Senhor Jesus diz: "Ide, portanto, fazei discípulos
de todas as nações, batizando-as para dentro do nome (singular) do Pai e
do Filho e do Espírito Santo" (lit.). A mesma preposição grega "para dentro"
é usada em Romanos 6:3. Quando fomos batizados para dentro de Cristo,
fomos batizados para dentro de Sua morte. Mateus 28:19 nos incumbe
batizar os novos crentes para dentro do nome do Deus Triúno. M. R.
Vincent diz: "Batizar para dentro do nome da Trindade Santa implica numa
união espiritual e mística com ele." Ele mais tarde diz que o nome "é
equivalente a sua pessoa". Ser batizado para dentro do nome divino é ser
imerso na Pessoa divina.
Uma nota na Bíblia Anotada de Scofield diz : "Pai, Filho e Espírito
Santo é o nome final do Deus único e verdadeiro." Algumas traduções não
têm "do" três vezes, somente o nome do Pai e Filho e Espírito Santo. O
nosso Deus é Triúno: o Pai o Filho e o Espírito. Entretanto, tal título, tal
nome só foi revelado depois da ressurreição de Jesus. Mateus 28:19 foi
falado depois da ressurreição do Jesus glorificado. Isso foi revelado depois
que o processo de nosso Salvador desde a encarnação até a ressurreição foi
completado.
Antes da ressurreição de Cristo, tal Espírito, o Espírito composto,
ainda não era (Jo 7:39). Mas depois de Sua ressurreição o Espírito de Deus
foi composto, e Ele é agora o
Espírito composto, processado, todo-inclusivo. Este Espírito
composto, que é idêntico ao Senhor, é, como revelado em 2 Coríntios 3, o
Espírito que dá vida, que libera e que transforma, que nos dá a vida divina
(v. 6), liberta-nos da escravidão da lei (v. 17), e nos transforma à imagem de
Cristo de glória em glória (v. 18).

O Espírito que Dá Vida


Paulo diz que o último Adão, por meio de Sua ressurreição e em Sua
ressurreição, tornou-se Espírito que dá vida (1 Co 15:45 - lit.). Ele tornou-
se não somente Espírito, mas especificamente Espírito que dá vida. "Que
dá vida" mostra que tipo de Espírito Ele é. Em 2 Coríntios 3:6 Paulo diz que
o Espírito dá vida. João 6:63 diz: "O Espírito é o que vivifica". A Nova
Tradução de Darby* tem um parêntese do versículo 7 ao versículo 16 de 2
Coríntios 3. Se considerarmos esta seção parentética, o versículo 17
continua o versículo 6. O Espírito dá vida (v. 6) e o Senhor é o Espírito (v.
17).
Muitos escritores concordam que nas Epístolas de Paulo o Cristo
ressurreto é idêntico ao Espírito. Entretanto, isso não anula a distinção
entre Cristo e o Espírito. Existe sempre dois lados para a verdade. Em 2
Coríntios 3:17 o Senhor e o Espírito são um. Em 2 Coríntios 13:13 temos a
graça de Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo. Pode-se
ver aqui que Cristo e o Espírito são distintos.

O Espírito Da Vida
A Primeira Epístola aos Coríntios 15:45 refere-se a Cristo como o
Espírito que dá vida. Certamente não pode haver dois Espíritos que dão
vida. Cristo, o Espírito que dá vida, é também o Espírito da vida. Este
termo é revelado em Romanos 8:2. Romanos 8 fala do Espírito da vida (v.
2), o Espírito de Deus (v. 9) e o Espírito de Cristo (v. 9) que é o próprio
Cristo (v. 10). Fala-se no mesmo capítulo do Espírito como as primícias (v.
23).

___________
*N. do T.: Versão em inglês.

Os Sete Espíritos de Deus


No último livro da Bíblia, os sete Espíritos de Deus são revelados (Ap
1:4; 4:5; 5:6). O Credo de Nicéia não menciona os sete Espíritos. Em 325
d.C, quando o Credo de Nicéia foi feito, o livro de Apocalipse não era
reconhecido como parte da Bíblia. O reconhecimento final dos livros a
serem incluídos na Bíblia ocorreu em 397 d.C. no Concilio de Cartago.
Também, em Apocalipse 1, a seqüência da Trindade é mudada.
Mateus 28 nos mostra o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Em Apocalipse
1:4,5, entretanto, o Pai como o Eterno é o primeiro, os sete Espíritos são o
segundo e o Filho é o terceiro.
Mais além, Apocalipse 5:6 diz que os sete Espíritos são os sete olhos
do Cordeiro. Isso quer dizer que o terceiro da Trindade é os olhos do
segundo.
Todos esses pontos indicam que no último livro da revelação divina o
Espírito de Deus, para a edificação das igrejas numa era de trevas, torna-
se o Espírito sete vezes intensificado, que executa a administração
universal de Deus para o cumprimento do Seu eterno propósito, e expressa
plenamente a Cristo como o Administrador universal de Deus, para
introduzir o reino de Deus no milênio (Ap 20:4, 6) e para levar o reino à sua
consumação final e máxima como a nova Jerusalém no novo céu e nova
terra (Ap 21:1, 2).

O Espírito
Esse Espírito maravilhoso finalmente torna-se tão simples no título: o
Espírito (Ap 2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22; 14:13; 22:17). Em Apocalipse
temos os sete Espíritos e o Espírito. Nas sete epístolas às igrejas em
Apocalipse, o início de cada epístola refere-se ao Senhor Jesus como Aquele
que escreve para a igreja em certo lugar. Então, no final de cada uma nos é
dito para ouvir "o que o Espírito diz". Apocalipse 22:17 diz: "O Espírito e a
noiva dizem: Vem".
O Espírito é composto, processado e todo-inclusivo. Ele é a
consumação do Deus Triúno alcançando Seu povo escolhido. De acordo
com João 4:24, nosso Deus é Espírito. Não somente o Espírito da Trindade
é Espírito, mas o Deus completo — o Pai, o Filho e o Espírito — é Espírito.
Deus é Espírito, e esse Deus inclui o Pai, Filho e Espírito.
João nos diz que quando o Filho veio, Ele veio em nome do Pai (Jo
5:43). Então o Pai mandou o Espírito no nome do Filho (14:26). O Filho
veio no nome do Pai; isso quer dizer que Ele veio como o Pai. Então o
Espírito veio no nome do Filho; isso quer dizer que o Espírito veio como o
Filho. O Filho enviou o Espírito a nós de e com o Pai, e o Espírito veio a nós
de e com o Pai (Jo 15:26 - lit.). Quando o Espírito veio, o Filho estava lá e o
Pai também estava. O Filho estava no Pai, e o Pai estava no Filho (14:10).
Quando o Filho estava lá, o Pai estava lá. Todos os três estavam lá porque
Eles são um único Deus. Você não pode separá-Los; todavia, Eles são
distintos como o Pai, o Filho e o Espírito.

A FUNÇÃO DO ESPÍRITO
O Espírito é a realidade de Cristo (Jo 14:17; 15:26; 1 Jo 5:7). Quando
invocamos o nome do Senhor Jesus, recebemos o Espírito como a realidade
de Cristo (Jo 14:17), e esse Cristo, o Filho de Deus, é a própria
corporificação do Pai (Cl 2:9). O Pai é corporifícado no Filho, e o Filho é
plenamente percebido como o Espírito. Colossences 2:9 diz que a plenitude
da deidade (divindade) habita em Cristo corporalmente. Cristo, então, é a
corporificação de Deus, plenamente percebido como o Espírito. Isto é
revelado em João 16:13-15.
O Espírito dá vida aos crentes (1 Co 15:45 ; 2 Co 3:6) e os regenera
em seu espírito (Jo 3:5, 6). Ele unge os crentes (2 Co 1:21), os sela (Ef 1:13;
4:30; 2 Co 1:22a), e Ele próprio é o penhor de Deus dado a eles (2 Co
1:22b). Por meio deste ungir, que traz o elemento divino para dentro dos
crentes, Ele os preenche. O selar modela o elemento numa certa forma
como uma impressão e torna-se uma marca. O penhor significa que Ele é a
garantia de que Deus é a nossa herança. Por um lado, selar prova que nós
somos a herança de Deus; por outro lado, Deus como nossa herança para
nosso desfrute é também garantido por meio do Espírito que habita
interiormente como o penhor.
Ele é também o suprimento abundante para os crentes (Fp 1:19 ). Ele
nos santifica, não só posicionalmente, mas disposicionalmente (1 Pe 1:2;
Rm 15:16) e experimentalmente também. Ele transforma os crentes (2 Co
3:18).
Todos os crentes foram batizados neste único Espírito para dentro de
um único Corpo (1 Co 12:13). No dia de Pentecoste, e na casa de Cornélio,
quando Cristo, o Filho, o ascendido, derramou o Espírito sobre os crentes,
aquilo foi o batizar do Seu Corpo para dentro do Espírito. Em 1 Coríntios
12:13 diz que fomos todos batizados em um Espírito para dentro de um
Corpo. Cristo completou esse batismo assim como completou Sua
crucificação. Todos os que crêem foram crucificados (Gl 2:19b, 20). No
mesmo princípio, todos nós fomos batizados no dia de Pentecoste. Fomos
batizados e nos foi dado a beber desse único Espírito (1 Co 12:13). Agora
estamos bebendo deste Espírito. Ser batizado é exterior; beber é interior.
Exteriormente fomos batizados; interiormente estamos bebendo do único
Espírito.
Com a ascensão do Senhor aos céus e o derramar do Espírito, toda a
operação do Deus Triuno foi completada. O Pai planejou com o Filho e o
Espírito, e o Filho veio com o Pai e o Espírito para cumprir o que Deus
havia planejado. Finalmente, o Espírito veio com o Pai e o Filho para
aplicar o que o Pai havia planejado e o que o Filho havia cumprido. Este
Espírito que aplica é a consumação do Deus Triuno. Ele não é somente por
Si mesmo como um Espírito separado, nada tendo a ver com o Pai e não
relacionado ao Filho; Ele é a consumação do Deus Triuno, a consumação
da Trindade divina, para nos alcançar.
O alcançar do Espírito a nós tem dois aspectos: o aspecto interior e
exterior. O interior foi cumprido no dia da ressurreição. Naquele dia o
Senhor ressurreto voltou para os
Seus discípulos e soprou-se para dentro deles (Jo 20:22). Isso foi
totalmente para vida, a vida interior.
Cinqüenta dias mais tarde, no Pentecoste, Ele derramou o Espirito
sobre os discípulos como um vento poderoso (At 2:1, 2). Sopro é para vida,
mas vento é para poder. No Pentecoste, os discípulos foram revestidos com
poder do alto (Lc 24:49). O revestir do Espírito é como o vestir de um
uniforme. O uniforme dá, a quem o veste, poder, autoridade. Um policial
com um uniforme tem autoridade para nos parar. Se ele não tivesse um
uniforme, não o ouviríamos. O Espírito como nossa vida, o Espírito que dá
vida, a saber, o Espírito da vida, é também o Espírito fora de nós,
derramado sobre nós como o Espírito de poder do alto. Tudo isso já foi
cumprido.
A CONSUMAÇÃO DO DEUS TRIÚNO
Este Espírito composto, processado, todo-inclusivo é a consumação
do Deus Triúno. Tudo o que Ele planejou, tudo o que Ele realizou, tudo o
que Ele irá aplicar a nós está totalmente envolvido neste Espírito composto.
A divindade está envolvida Nele; a humanidade de Cristo também está
envolvida Nele. A Sua morte — Sua morte redentora e infusora de vida —
está envolvida Nele. A Sua ressurreição e Sua ascensão estão envolvidas
nesse único Espírito composto que nos alcança. Interiormente Ele é nossa
luz e vida; exteriormente Ele é nosso poder.

O ESPÍRITO E A PALAVRA
Deus nos deu dois grandes dons — o Espírito e a Palavra. O Espírito
composto é a totalidade do Deus Triúno e de todos os Seus feitos. É por
isso que digo que esse Espírito composto, incluindo Sua Palavra, é a
consumação final e máxima do Deus Triúno alcançando-nos. A Pessoa
divina e a Palavra divina estão envolvidas neste único Espírito composto.
Todas as bênçãos , todas as heranças do Novo Testamento foram legadas
aos filhos de Deus. Estes legados estão também envolvidos neste único
Espírito composto.
Dois versículos no Novo Testamento indicam que o Espírito e a
Palavra são um. Em João 6:63 o Senhor diz : "As palavras que eu vos tenho
dito, são espírito". Também, Efésios 6:17 refere-se à espada do Espírito,
cujo Espírito é a palavra de Deus. Não somente a palavra do Senhor é o
Espírito; o Espírito também é a Palavra.
É por isso que em Romanos 10 Paulo diz que quando você ouve a
pregação do evangelho, a palavra está perto de você, em sua boca e em seu
coração (v. 8). Por muitos anos não podia entender o que Paulo queria
dizer. Como poderia a palavra estar em minha boca e em meu coração?
Finalmente o Senhor me mostrou que sempre que o Novo Testamento é
ensinado, pregado, lido, ou estudado por alguém com um coração sincero,
o Espírito trabalha com a Palavra. Por meio do Espírito a Palavra entra em
sua boca. Por meio do Espírito a Palavra entra em seu coração. Sem o
Espírito, a palavra impressa não poderia entrar em sua boca e em seu
coração. Quando exercita seu espírito para orar sobre um versículo da
Bíblia, aquele versículo entra em sua boca e em seu coração. Você não
deveria ler a Bíblia sem orar. Você tem de ler a Bíblia, a Palavra santa,
devotadamente. Não deveria meramente exercitar sua mente para estudar
a Palavra. Você deve ir à Palavra com oração. Não precisa usar sua
próprias palavras; ore a Palavra.
Todos nós sabemos que quando oramos dessa maneira, a palavra na
página entra em nossa boca e em nosso coração. Somos regados,
recebemos iluminação, nutrição, fortalecimento, conforto e suprimento de
vida. Também o Espírito é aplicado a nós como a consumação do Deus
Triúno.
O Espírito e a Palavra trabalham juntos. Devemos sempre tocar a
Bíblia por tocar o Espírito. Devemos orar lendo, e ler orando. Então
desfrutaremos o Deus Triúno. O nosso encargo não é discutir ou debater,
mas apresentar a verdade básica ao povo de Deus para que ele possa
conhecer que nosso Deus é na realidade o Deus Triúno, não para en-
tendermos, mas para desfrutarmos. Estamos apresentando a verdade para
ajudar os santos a conhecer que nosso Deus é Triúno para participarmos
Dele, desfrutá-Lo e experimentá-Lo.

O ESPÍRITO HUMANO
Também enfatizamos o espírito humano (Zc 12:1; Pv 20:27; Rm 8:16;
2 Tm 4:22). Assim como para o nosso alimento temos uma boca e um
estômago, temos também um espírito humano, que é nossa boca espiritual
e estômago espiritual. Em um rádio, o receptor é crucial. Podemos ter um
rádio bem feito e bonito, mas se ele não tiver um receptor, ele é vazio.
Somos um "rádio" para receber as riquezas divinas para dentro do
"receptor" em nosso interior — nosso espírito humano.
Enfatizamos fortemente esses dois espíritos, o Espírito composto da
Trindade e o espírito humano dentro de nós, porque o Espírito composto é
a consumação do Deus Triúno alcançando-nos para nosso desfrute, e o
espírito humano é o único meio para recebermos tal rico Espírito
composto, para que possamos desfrutar as riquezas do Deus Triúno e
experimentá-Lo diariamente, até mesmo em toda hora. Estamos aqui como
um testemunho para que todo o povo de Deus hoje possa ter uma visão
clara concernente à Trindade divina e para que nós mesmos possamos
participar Dele e desfrutá-Lo o dia inteiro.
CAPÍTULO QUATRO

OS CRENTES
Leitura da Bíblia: Jo 3:6; Mt 28:19; Gl 3:27; Rm 6:3; 1 Co 12:13; Rm
8:9, 11, 4; Gl 5:16, 15; 1 Co 3:6, 7; Ef 4:16; 2:21, 22; 1 Pe 2:5; 2 Co 3:18;
Rm 12:2; 1 Ts 5:23; Fp 3:21; Rm 8:29,30; 10:8,9,12

O tema deste capítulo, os crentes, é aparentemente simples, mas na


realidade é misterioso. Um estudante de medicina logo aprende que o corpo
humano não é simples. O ser psicológico de uma pessoa é ainda mais
misterioso. Como seres vivos, temos dois corações , um físico e um
psicológico. Podemos localizar o nosso coração físico, mas onde está o
coração psicológico? Onde estão nossa mente, emoção, vontade e
consciência? Onde está o nosso espírito? Onde está a nossa alma? Nós,
crentes em Cristo, somos seres espirituais, e como tais somos um mistério.

DESCENDENTES DO ADÃO CAÍDO


Nós, os crentes, somos descendentes do Adão caído. Somos todos
caídos. Estávamos mortos em pecado sob a condenação de Deus (Ef 2:1, 5;
Rm 3:19; 5:12; Jo 3:18). Enquanto estávamos mortos em pecado, Deus
proporcionou-nos uma mudança. Ouvimos o evangelho e cremos no
Senhor Jesus Cristo para receber a vida eterna (Jo 3:16 ).

SALVOS
Atos 16 : 31 nos diz que, quando cremos no Senhor Jesus Cristo,
somos salvos. Uma salvação completa inicial tem seis aspectos: perdão de
pecados, o lavar das nossas máculas, separação para Deus
posicionalmente, justificação, reconciliação e regeneração.

Perdoados
Depois de crermos, a primeira coisa que recebemos, o primeiro legado
de acordo com o testamento divino, é o perdão de nossos pecados (At
10:43).

Lavados
Fomos não somente perdoados, mas também lavados. Ser perdoado
põe em ordem o nosso caso perante Deus. Ser lavado leva embora a
mancha, a mácula, de nossos pecados. Por exemplo, se uma criança
sujasse a camisa e depois se arrependesse, a mãe o perdoaria; mas a
camisa ainda precisaria ser lavada. Perdoar a criança do seu mau
procedimento é uma coisa. Lavar a mancha da camisa é outra coisa. Deus,
ao crermos no Senhor Jesus, não somente perdoou-nos mas também
lavou-nos. Aleluia! Fomos perdoados e lavados pelo sangue de Cristo!
Santificados Posicionalmente
Como parte de nossa salvação inicial, fomos posicionalmente
santificados, isto é, separados por Deus do mundo para Ele mesmo. Em 1
Coríntios 6:11 indica que somos primeiro santificados e então justificados.
Santificação posicionai precede a justificação; santificação disposicional
segue a justificação.

Justificados
A morte de Cristo cumpriu e satisfez completamente as exigências
justas de Deus, para que possamos ser justificados por Deus por meio de
Sua morte (Rm 3:24). Somos "justificados de todas as coisas" das quais não
poderíamos "ser justificados por meio da lei de Moisés" (At 13:39).

Reconciliados com Deus


Nós precisávamos ser reconcilados com Deus porque quando éramos
pecadores, éramos inimigos de Deus (Rm 5:10). Fomos reconciliados com
Deus por meio da morte do Seu Filho.

Regenerados
Ao crermos no Senhor Jesus e invocarmos o Seu nome, fomos
regenerados, isto é, o próprio Espírito de Cristo entrou em nosso espírito e
nos deu vida (Jo 3:6; Ef 2:5). A regeneração nos fez filhos de Deus (Jo 1:12,
13; Rm 8:16), membros da família de Deus (Ef 2:19). Ela também nos fez
membros de Cristo, membros do Corpo de Cristo (Ef 5:30; 1 Co 12:27). Nós
que fomos regenerados, somos membros do Corpo de Cristo e também
filhos de Deus.
A regeneração ocorreu em nosso espírito, não em nosso corpo ou em
nossa mente. Isso quer dizer que o Deus Triúno está agora em nosso
espírito (Ef 4:6; 2 Co 13:5; Rm 8:9). Que tesouro temos dentro de nós (2 Co
4:7)! O Deus Triúno veio para dentro de nosso espírito para ficar (Jo 4:24;
2 Tm 4:22; Rm 8:16). É aqui em nosso espírito que estão as riquezas
insondáveis de Cristo.
Para desfrutar essas riquezas devemos invocar o nome do Senhor
Jesus (Rm 10:12). Se queremos ser nutridos, podemos invocar "Ó, Senhor
Jesus!" Quando estamos em casa e também no trabalho, podemos invocar
o nome do Senhor. Quando O invocamos, tocamos o Espírito (1 Co 12:3).
Muitos de nós oramos freqüentemente, mas não recebemos nutrição de
nossa oração. Isso não deveria ser assim. Não estamos orando para um
ídolo; estamos orando para o Deus vivo. Ele é o próprio Deus que está
agora em nosso espírito. Quando falamos com Ele, Ele responde em nosso
espírito. Quando exercitamos o espírito, percebemo-Lo em nosso espírito.
Se meramente exercitamos a mente e oramos só com a boca, o Deus Triúno
dentro de nós não tem caminho. Ele não está em nossa mente, mas em
nosso espírito.
Devemos exercitar o nosso espírito (1 Tm 4:7). Dessa maneira
podemos experimentar este Deus verdadeiro, real e vivo que está agora em
nosso espírito. Em nosso espírito regenerado habita o Deus Triúno como o
Espírito que dá vida.

BATIZADOS

Para Dentro do Nome do Pai do Filho e do Espírito Santo


Depois de Sua ressurreição e antes de Sua ascensão, o Senhor Jesus
incumbiu os discípulos de irem e fazer discípulos de todas as nações,
"batizando-os para dentro do (lit.) nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo" (Mt 28:19); isto é, eles deviam batizar as pessoas para dentro da
própria Pessoa do Deus Triúno.
Em Atos e nas Epístolas, entretanto, não há nenhum versículo
indicando que os apóstolos batizaram as pessoas para dentro do nome do
Pai, do Filho e do Espírito. Antes, aqueles que se arrependiam e criam no
Senhor eram batizados para dentro do nome do Senhor Jesus (At 8:16;
19:5). Ser batizado para dentro do nome do Senhor Jesus eqüivale a ser
batizado para dentro do nome do Pai, do Filho, e do Espírito. E ser batizado
para dentro do nome do Senhor é ser batizado para dentro de Sua Pessoa,
o próprio Cristo (Gl 3:27; Rm 6:3). Ser batizado para dentro de Cristo
eqüivale a ser batizado para dentro do Deus Triúno porque o próprio Cristo
para dentro de quem fomos batizados é a corporificação do Deus Triúno. O
Deus Triúno é cor-porificado em Cristo, o Senhor, o Filho de Deus.
Além disso, quando fomos batizados para dentro Dele, fomos
batizados para dentro de Sua morte (Rm 6:3). O batismo nos une com Ele
em Sua morte e em Sua ressurreição. O batismo de água não deve ser o
cumprimento de um ritual. Deve significar que estamos colocando aqueles
que estão sendo batizados para dentro do Deus Triúno, para dentro de
Cristo, e para dentro de Sua morte e ressurreição.

No Espírito Para Dentro do Corpo de Cristo


Fomos também batizados para dentro do Corpo, a igreja. "Pois
também em um Espírito fomos batizados para dentro de um corpo" (1 Co
12:13).
Fomos batizados, então, para dentro do Deus Triúno, para dentro de
Cristo, para dentro da morte e ressurreição de Cristo, e também para
dentro do Corpo, a igreja. Na realidade, todos estes "para dentro" são um.
Quando somos batizados para dentro de Cristo, somos batizados para
dentro de Sua morte e ressureição, e somos também batizados para dentro
do Deus Triúno e para dentro do Corpo de Cristo. Isso quer dizer que
estamos agora em Cristo, em Sua morte e ressurreição, no Deus Triúno, e
no Corpo de Cristo. Quando batizamos as pessoas, devemos mostrar-lhes
que eles agora estão em Cristo, em Sua morte e ressurreição, no Deus
Triúno, e no Corpo.
Necessitamos da realidade do fato espiritual de que, quando
batizamos as pessoas, nós as colocamos para dentro de Cristo. Podemos
colocá-las para dentro de Cristo porque Cristo hoje é o próprio Espírito.
Quando batizamos as pessoas, colocamo-nas para dentro do Espírito, que é
a realidade de Cristo. É assim que deve ser o batismo. O batismo nos dá a
posição de dizer que somos pessoas em Cristo, em Sua morte, em Sua
ressurreição, em união orgânica com o Deus Triúno, e também no Corpo
vivo do Cristo vivo. Ter essa percepção do batismo faz uma grande
diferença em nossa vida.

SER HABITAÇÃO DO ESPÍRITO E BEBER DO ESPÍRITO


Depois de crermos e sermos batizados, somos habitação do Espírito
(Rm 8:9, 11; 1 Co 6:19). Enquanto Ele habita em nós, estamos bebendo. A
fonte para se beber está exatamente em nosso espírito (Jo 4:14, 24).
Devemos voltar-nos ao espírito e beber pelo invocar o nome do Senhor (1
Co 12:3, 13b).
Temos o Espírito como o agregado do Deus Triúno habitando em nós.
Em 1936 quando vi que Deus estava vivendo em mim, fiquei fora de mim.
Queria sair, subir no telhado ou correr para a rua, e gritar para as pessoas:
" Não me toquem; tenho Deus em mim!"
O Deus Triúno está em nós. Ele habita em nós e estamos bebendo
Dele. Ele é a fonte para bebermos; esta fonte não está nos céus mas em
nosso espírito.

VIVENDO E ANDANDO NO ESPÍRITO MESCLADO


Agora devemos viver e andar no Espírito mesclado. Romanos 8:4 e
Gaiatas 5:16, 25 referem-se a este espírito mesclado. J. N. Darby mostra a
dificuldade de colocar um E maiúsculo ou minúsculo em espírito em,
Romanos 8. Embora ele não use a palavra mesclado, ele certamente
transmite o pensamento de que estes dois espíritos são considerados como
um.
Em Gaiatas 5:16 a palavra grega para andar é ter nosso ser movendo-
se e agindo. Aqui está a incumbência completa do Novo Testamento: viver,
ter o nosso ser, andar, mover-nos e agirmos de acordo com o espírito
mesclado. Tudo o que fazemos deve ser de acordo com o nosso espírito
habitado pelo Espírito composto e mesclado com Ele, não de acordo com
ensinamentos éticos ou regulamentos morais. Andar de acordo com o
Espírito é muito mais elevado do que andar de acordo com os
ensinamentos éticos ou regulamentos morais.
O mover do Epírito é chamado de unção. Em 1 João 2:20, 27 vemos
que todos temos recebido uma unção do Santo. Esta unção dentro de nós é
verdadeira; ela nos ensina a habitar no Senhor. A unção sobre a qual João
fala em 1 João 2 refere-se ao óleo em Êxodo 30. O tabernáculo e todos os
seus utensílios eram ungidos com óleo composto (Êx 30:26-29).
O óleo composto hoje, o Espírito, está dentro de nosso espírito
ungindo-nos, movendo-se, dentro de nós, todo o dia.
Mesmo quando estamos discutindo ou quando estamos a ponto de
discutir, a unção interior move-se em nós para não continuarmos, mas
para irmos ao nosso quarto e orar. Um dia uma irmã foi fazer compras,
mas sempre que pegava um item pensando em comprá-lo, a unção dizia
dentro dela para colocar de volta. Tudo o que pegava, tinha de pôr de volta.
Finalmente ela decidiu que era melhor voltar para casa. Assim que
obedeceu a unção interior e retornou ao seu carro para voltar para casa,
ela sentiu-se animada e alegre. Se não prestamos atenção à unção interior,
ofendemos o Espírito. Devemos viver e andar de acordo com esse Espírito
que está mesclado com o nosso espírito.

CRESCER NA VIDA DIVINA E SER EDIFICADOS


Poucos cristãos prestam atenção ao crescimento em vida (1 Co 3:6, 7)
e à edificação (1 Co 3:10-12) como o Corpo de Cristo e como a igreja, a casa
de Deus. Espiritualidade provém do crescimento em vida; o objetivo do
crescimento em vida é a edificação do Corpo de Cristo e da casa de Deus.
Praticamente falando, isso significa a edificação da igreja local. Sem uma
vida da igreja apropriada em nossa localidade, como podemos ser
edificados com outros? Precisamos estar onde há uma igreja. Assim,
naquela igreja podemos ser edificados com os outros para ser a casa
espiritual de Deus (Ef 2:21, 22; 1 Pe 2:5). Enquanto estamos sendo
edificados como a igreja numa cidade, estamos também sendo edificados
como o Corpo de Cristo (Ef 4:16).

SER TRANSFORMADO NA ALMA


O nosso espírito foi regenerado, mas e quanto à nossa alma?
Precisamos ser transformados (2 Co 3:18) pela renovação de nossa mente
(Rm 12:2; Ef 4:23). A mente é a parte liderante de nossa alma (SI 13:2;
139:14; Lm 3:20). Para a transformação da alma, a mente deve ser
renovada.

SER SANTIFICADO EXPERIMENTALMENTE


A transformação de nossa alma é a santificação de nossa disposição.
O Senhor santifica-nos em nosso espírito, alma e corpo (1 Ts 5:23). Todo
nosso ser é para ser santifícado, transformado.

SER TRANSFIGURADO EM NOSSO CORPO


Quando o Senhor retornar, nosso corpo será transfigurado (Fp 3:21),
completamente redimido (Rm 8:23). Quando cremos, nosso espírito foi
regenerado. Durante a nossa vida cristã nesta terra, nossa alma está sendo
gradualmente transformada e santificada. Então, na Sua vinda nosso corpo
será transfigurado. Todo o nosso ser será, então, completamente
conformado a Cristo.

CONFORMADOS A CRISTO
Como os muitos irmãos de Cristo, seremos conformados à Sua
imagem e estaremos com Ele em glória (Rm 8:29, 30). Não seremos mais
naturais em nenhuma parte de nosso ser. Ainda somos um tanto naturais
na alma e corrompidos no corpo; é por isso que, depois da regeneração de
nosso espírito, precisamos da transformação da alma e da transfiguração
do corpo. Então seremos completamente conformados ao Filho primogênito
de Deus como Seus muitos irmãos.

GLORIFICADOS
Finalmente seremos glorificados na vida divina e na natureza divina
(Rm 8:30) para possuir a glória de Deus, para Sua expressão na Nova
Jerusalém.

O CAMINHO PARA DESFRUTAR CRISTO


O livro de Romanos é um esboço da vida cristã adequada. No capítulo
seis estão todos os fatos cumpridos por
Cristo. Ele morreu, e nós morremos com Ele. Ele foi ressuscitado, e
nós também. Em Cristo estas coisas são fatos. Nele estamos unidos à Sua
morte e ressurreição (6:4, 5).
Em Romanos 6, entretanto, não temos a experiência da morte e
ressurreição de Cristo. Precisamos prosseguir para Romanos 8 para
experimentar Cristo em Seus feitos por meio do Espírito. Em Romanos 8
estão as experiências dos fatos revelados no capítulo seis.
Então, no capítulo dez a Palavra entra em nossa boca e em nosso
coração. Primeiro cremos na Palavra que nos alcança; segundo, invocamos
Seu nome (10:8, 9). O Senhor é rico para com todos os que O invocam
(10:12). A palavra invocar em grego significa clamar, chamar com a voz.
Em Atos, os cristãos eram considerados invocadores do nome de Jesus;
sabemos disso porque Saulo de Tarso tinha autoridade para prender todos
aqueles que invocavam este nome (At 9:14). Invocar o nome do Senhor
Jesus designava os primeiros cristãos. Eles não eram silenciosos; eles
clamavam o querido nome do Senhor Jesus.
Se queremos desfrutar Cristo e todas as Suas realizações, precisamos
invocá-Lo. O caminho para desfrutar Cristo em todos os Seus feitos é
andar de acordo com o espírito mesclado e invocar o Seu querido nome.
Então participamos Dele, O desfrutamos e O experimentamos ao máximo.
CAPÍTULO CINCO

A IGREJA
Leitura da Bíblia: Mt 16:18; 18:17; 1 Tm 3:15; Ef 2:19; 1 Pe 2:5; Ef
1:22, 23; 3:19b; 2:15; 4:24; Cl 3:10, 11; Ef 5:25, 29, 32; Jo 3:29; Ap 19:7;
21:2,9; 22:17; Ef 6:11,12; 1 Co 12:12,13; At 8:1; 13:1; Ap 1:11-13, 20; 1
Co 3:10,11; Ef 2:20
A igreja é o objetivo final e máximo de Deus. O objetivo de Deus não é
somente ter muitos cristãos individuais. Seu objetivo é ter uma igreja
coletiva que possa ser Sua casa e o Corpo de Seu Filho. Esta igreja é a
expressão de Deus. A igreja é tanto a família de Deus expressando Deus, o
Pai, como o Corpo de Cristo expressando Cristo como Aquele que é a
corporificação do Deus Triúno (Cl 2:9). O que iremos tratar neste capítulo é
um extrato da revelação divina com respeito à igreja no Novo Testamento.

A EKKLESIA
A igreja é primeiramente uma ekklesia. Essa palavra grega denota
uma congregação chamada para fora. Nos tempos antigos quando uma
cidade chamava seus cidadãos para uma reunião, aquela congregação era
uma ekklesia. O Novo Testamento, começando com o Senhor Jesus em
Mateus 16, usa essa palavra para indicar a igreja (v. 18). A igreja é uma
congregação chamada por Deus para Ele. Os Irmãos Unidos preferem usar
a palavra assembléia. Creio que esta é uma melhor palavra para se usar,
porque a palavra igreja em português tem sido muito danificada.
Na minha infância na China, entendíamos a palavra igreja
significando um prédio com uma torre de sino. Para muitos de nós a igreja
era um prédio. Hoje, muitas pessoas pensam o mesmo. Elas dizem que
estão indo à igreja, referindo-se a um edifício. Esse conceito é
absolutamente errado. Devemos abandonar esse pensamento. A igreja não
é um edifício sem vida, mas algo orgânico, cheio de vida.
A igreja é uma assembléia de pessoas vivas, não um edifício físico
sem vida. Entretanto, considerar a igreja meramente como uma
congregação chamada para fora, uma assembléia, é ainda superficial. Pode
haver uma congregação, uma assembléia, porém sem vida. Hoje existem
muitas grandes congregações em nossa sociedade, as quais estão sem a
vida divina.

A CASA DE DEUS
A igreja é também a casa de Deus (1 Pe 2:5). Com isso não queremos
apenas dizer que a igreja é a habitação de Deus. Esta palavra grega oikos
não somente significa a casa, a habitação, mas também o lar. Oikos quer
dizer tanto casa como os familiares, a família, que compõe o lar; assim, ela
também pode ser traduzida por família (Ef 2:19).
O lugar de habitação de Deus hoje na terra é a igreja, e Deus, como
um grande Pai, tem uma família, a qual é a igreja. Para nossa vida familiar
temos uma casa e dentro da casa temos a família. Para nós a casa é uma
coisa, e família é outra; a casa é o prédio e a família são as pessoas que
vivem ali. A casa de Deus é a família de Deus, entretanto, são o mesmo. A
casa é a família e a família é a casa.
Nós, como a igreja, somos a casa de Deus, o lugar de habitação de
Deus. Ao mesmo tempo, somos a família de Deus. Tanto a casa de Deus
como a família de Deus são uma única entidade, isto é, um grupo de
regenerados, os chamados, habitados pelo próprio Deus. Estes chamados,
que foram regenerados por Deus com Sua vida e que estão sendo habitados
por este Deus vivo com tudo o que Ele é, são tanto o lugar de habitação de
Deus como a Sua família. Isso é mais do que uma assembléia. Isso é
diferente de um grupo de pessoas ou organização de pessoas. Isso é algo
orgânico —orgânico na vida divina, orgânico na natureza divina e orgânico
no Deus Triúno.
Alguns enfatizaram muito a ekklesia, mas não prestaram muita
atenção ao aspecto orgânico da igreja. Eles não disseram muito acerca da
igreja como a família de Deus. Devemos perceber, porém, que a igreja é
orgânica; ela é a casa viva de Deus. Paulo diz que a igreja é a casa do Deus
vivo (1 Tm 3:15) e que esta casa cresce (Ef 2:21). A sua casa cresce? As
nossas casas não crescem. Elas desvalorizam-se. Mas a casa de Deus
cresce! Para que algo cresça ele precisa ser vivo. Qualquer coisa sem vida
não pode crescer. Tudo o que cresce é orgânico, com vida. Aleluia! nós
estamos crescendo!
Em 1964 fui a Plainview, Texas, visitar um pequeno grupo de santos.
E, em 1965 fui a Waco, Texas, visitar outro pequeno grupo. Sem fé, eu teria
ficado completamente desapontado. Quando as notícias chegaram em Nova
Iorque, um amado irmão com quem eu tinha servido por vários anos disse
a outro irmão que ele não cria que estes pequenos grupos no Texas
durariam. Em 1968 fui para Lubbock. Não vi uma igreja grande; antes, vi
algo que precisava de muita fé. Pela Sua misericórdia tive aquela fé. Então
os santos no Texas mudaram-se para Houston em 1969, e fui visitá-los. A
situação ali era um tanto encorajadora, mas não tanto assim. Minhas
visitas a Irving, entretanto, em 1982 e 1983 deixaram-me animado. Houve
muito crescimento entre as igrejas no Texas porque a igreja é algo vivo. Ela
é a casa viva do Deus vivo. Não é algo de organização, mas de vida; assim,
seu crescimento é pela vida.

O CORPO DE CRISTO
A casa de Deus, a família de Deus, é orgânica, mas, num certo
sentido, ela não é tão orgânica como o Corpo. A igreja é o Corpo de Cristo.
Um grupo de cristãos pode ser uma assembléia, mas pode não ser na
realidade a casa de Deus porque eles não vivem no espírito. Eles podem
dizer que são o Corpo de Cristo, mas na realidade podem não ser, porque
ainda estão vivendo na vida natural. Se vivemos em nossa vida natural,
não somos o Corpo de Cristo.
Quando jovem, ouvi sobre dois ou três presbíteros que se reuniram
para conversar acerca de alguns assuntos em sua assim chamada igreja.
No final, um jogou sua Bíblia e outro levantou-se e saiu. Aquilo era o
Corpo? Aquilo não era o Corpo, mas a carne caída.
Que é o Corpo? Olhe para si mesmo. Seu corpo é a maior parte de
seu ser. Nada pode ser seu corpo, a não ser você mesmo. Uma prótese
dentária não é parte do seu corpo; ela é algo extra, sem nenhuma vida. Os
nossos dentes verdadeiros estão unidos ao nosso corpo, não por meio de
organização, mas por meio de vida. Eles crescem organicamente no corpo.
Um membro de seu corpo é orgânico; ele cresce em uma união orgânica
com o corpo. O que quer que não esteja em união orgânica com seu corpo é
estranho a ele.
Da mesma forma, o Corpo de Cristo é um organismo, não uma
organização. Uma plataforma, por exemplo, consiste em pedaços de
madeira organizados e ajustados. O corpo de um homem, por outro lado,
não é organizado, mas orgânico, cheio de vida.
A igreja não somente é a família viva de Deus, o Pai, mas muito mais,
é um organismo vivo de Cristo, a Cabeça. O cristianismo caiu num estado
onde há organização em vez de vida. Há milhões de cristãos na terra. Eles
foram perdoados por meio da redenção de Cristo, lavados pelo Seu precioso
sangue e regenerados pelo Espírito Santo; eles são filhos de Deus e
membros de Cristo. Todavia, na realidade, em sua vida e serviço o que se
vê é uma organização, não um organismo. Cristo é orgânico, mas "ismo"
não é. Qualquer tipo de "ismo", incluindo cristianismo e até mesmo "igreja-
localismo", é uma organização.
A igreja deve ser somente orgânica, um organismo cheio da vida de
Cristo. O que quer que você faça tem de ser proveniente da vida interior.
Você é vivo. Você tem Cristo como a corporificação do Deus Triúno vivendo
em você. Não se mova por si mesmo. Mova-se por Ele. Não aja por você
mesmo. Aja por Ele. Um dia, quando pretendi visitar um irmão, fui
impedido porque percebi que Cristo não estava indo visitar aquele irmão.
Era somente eu, o eu natural, o bom eu, o eu com boas intenções; era
totalmente eu mesmo, não Cristo. Então orei, dando ao Senhor minha
posição, minha base e tudo pertencente àquela visita. Daí o Senhor
começou a ir comigo. Existem muitos que amam o Senhor e são devotados
a Ele e, todavia, não percebem que sua vida natural deve ser colocada de
lado.
No novo homem, a igreja, "não pode haver grego nem
judeu,circuncisão nem incírcuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém,
Cristo é tudo e em todos" (Cl 3:10, 11). "Tudo" aqui indica pessoas. Dizer
que Cristo é tudo quer dizer que Ele é você, Ele é eu mesmo, e Ele é cada
um na igreja. Dizer que Cristo está em todos quer dizer que Ele está em
cada um na igreja. O novo homem, a igreja, não é chinês, japonês, francês,
inglês, alemão ou americano. O novo homem é Cristo. Portanto, quando
agimos como os chineses, japoneses, filipinos, americanos, ingleses,
alemães, franceses ou italianos, já não somos a igreja. No novo homem não
há judeu nem grego. Na realidade, no novo homem não pode haver
nenhum judeu ou grego. Não pode haver nenhum chinês ou japonês. No
novo homem não pode haver nenhum branco ou negro. Se ainda quer ser
negro ou branco, você está acabado para o Corpo de Cristo. A igreja é um
organismo. Portanto, devemos agir em nosso espírito, repudiando
totalmente nossa vida natural.

A PLENITUDE (EXPRESSÃO) DAQUELE QUE A TUDO ENCHE EM


TODAS AS COISAS
Muitos cristãos não entendem o que a palavra plenitude quer dizer
em Efésios 1:23 e 3:19. Eles pensam que a palavra plenitude quer dizer
riquezas. Efésios 1:23 diz que a igreja "é o seu corpo, a plenitude daquele
que a tudo enche em todas as cousas." Gramaticalmente "a plenitude" está
em aposição a "seu corpo"; isto quer dizer que o Corpo é a plenitude e a
plenitude é o Corpo. Plenitude não quer dizer as riquezas. Em Efésios, as
riquezas insondáveis de Cristo são mencionadas em 3:8. Temos de
diferençar entre as riquezas e a plenitude. Os Estados Unidos têm
supermercados cheios das riquezas da América. As riquezas da América
são seus produtos, mas a plenitude da América é um americano robusto.
Essa plenitude é a expressão.
A plenitude provém das riquezas. Entretanto, se nós não comemos e
digerimos as riquezas, podemos tê-las sem ter a plenitude. As riquezas
resultam na plenitude pelo comer e digerir. Se não comemos e digerimos as
riquezas, permaneceremos magros e pequenos. Da mesma forma, a igreja
não é somente o Corpo de Cristo, mas também a plenitude, a expressão,
que resulta do desfrute das riquezas de Cristo.
Essa plenitude é a expressão do próprio Cristo universal, que enche
tudo em todas as coisas. Colossenses 3:11 diz que Cristo é tudo e em
todos. "Tudo" e "todos" neste versículo, referem-se a pessoas. Em Efésios
1:23, entretanto, o "tudo em todas as coisas" que Cristo enche é algo
universal. Cristo é ilimitado (Ef 1:23; 3:18). As dimensões do universo são
na realidade as dimensões de Cristo. Quão longo é o comprimento? Quão
alta é a altura? Quão profunda é a profundidade? Quão larga é a largura?
Ninguém pode dizer. As dimensões de Cristo em Efésios 3:18 são
insondáveis e ilimitadas. Essas dimensões são a descrição de Cristo.
Cristo enche tudo em todas as coisas, e nós, a igreja, pelo desfrutar
de Suas riquezas, finalmente nos tornamos Sua plenitude. Se eu tivesse
somente uma cabeça, sem um corpo, não teria plenitude. Esta plenitude é
minha expressão. Temos de perceber que a igreja como o Corpo de Cristo é
a plenitude de Cristo como Sua expressão.

A PLENITUDE (EXPRESSÃO) DE DEUS


Em Efésios 3:19, a Versão IBB Revisada de João Ferreira de Almeida,
diz: "Para que sejais cheios até a inteira plenitude de Deus". Somos
enchidos até toda a plenitude de Deus. Somos enchidos, resultando em
uma expressão de Deus. Plenitude aqui quer dizer expressão. Paulo disse
que ele orou para que o Pai nos fortalecesse com poder mediante Seu
Espírito no homem interior para que Cristo pudesse fazer Sua morada em
nosso coração, e que pudéssemos conhecer as dimensões de Cristo — a
largura, o comprimento, a altura e profundidade — para que pudéssemos
ser enchidos até resultar na plenitude de Deus, a expressão de Deus (Ef
3:14-19).
Todo o livro de Efésios trata da igreja. Ela é a casa ou a família de
Deus (2:19), ela é o Corpo de Cristo (1:23), e ela é a plenitude como a
expressão de Cristo e de Deus (1:23; 3:19). De acordo com o capítulo três, a
igreja pode ser tal expressão, não somente de Cristo, mas também de Deus,
quando Cristo faz Sua morada em nosso coração para que possamos
experimentar as Suas riquezas insondáveis. Enquanto estamos
desfrutando Dele de tal forma, somos enchidos com todas as riquezas de
Cristo, resultando numa expressão de Deus.
A igreja hoje deve ter tal expressão, resultante do rico desfrute das
riquezas insondáveis de Cristo. Temos muito encargo pela situação entre os
cristãos. Onde há uma expressão de Deus? Espero que entre nós haja tal
expressão. Todos precisamos orar por nós mesmos assim como Paulo orou
por nós em Efésios 3. Devemos dobrar os joelhos perante o Pai para que
Ele nos fortaleça no nosso homem interior, para que Cristo faça Sua
morada em nosso coração, estabelecendo-se plenamente em cada
"avenida", em cada parte de nosso ser interior. Então podemos desfrutar do
Seu amor, e podemos tocar e possuir as Suas dimensões. Seremos
enchidos com Ele até a plenitude de Deus, a expressão de Deus. Isso não é
somente uma assembléia ou uma congregação de cristãos chamados para
fora. Isso é um grupo de pessoas plenamente possuídas por Cristo e
desfrutando-O ao máximo, sendo saturadas por Ele e enchidas com Ele a
tal ponto que elas tornam-se uma expressão de Deus.
O que quer que comamos, isso expressamos. Quando jovem, às vezes
ia visitar meus avós que viviam à beira-mar. Freqüentemente comiam
peixe, enquanto que a nossa família raramente comia peixe. Sempre que ia
à casa de meus avós, eu não cheirava outra coisa a não ser peixe. Um dia
perguntei a minha mãe por que todos ali cheiravam a peixe. Ela replicou:
"Você não sabe que eles comem peixe todos os dias? É por isso que
cheiram a peixe!" O que quer que comamos, tornamo-nos e expressamos
isso.
Quando comemos Jesus, nós exalamos Seu perfume (2 Co 2:15), O
expressamos, e nos tornamos Ele. Que é a igreja? A igreja é a expressão do
próprio Cristo a quem comemos. Toda a plenitude da deidade está
corporificada neste Cristo, e este mesmo Cristo é nosso pão da vida (Jo
6:48). Ele disse: "Quem de mim se alimenta, por mim viverá" (Jo 6:57).
Quando comemos Cristo, vivemos por Ele. Este Cristo é a corporificação do
Deus Triúno; quando comemos Cristo, comemos o Deus Triúno. O nosso
Salvador, Jesus Cristo, a corporificação do Deus Triúno, é o nosso maná
diário, o nosso alimento diário. Nós O comemos, então O expressamos.
Essa expressão é a plenitude Daquele que a tudo enche em todas as coisas.
Por fim, essa é plenitude do Deus Triúno. Podemos ser tal expressão por
comer Jesus. Deixe-O saturar todo o seu ser. Deixe-O estabelecer-se em
cada sala, cada avenida, e cada canto de seu interior — em sua mente, sua
emoção, sua vontade, sua consciência, sua alma e em seu espírito; em seu
amar, suas decisões, sua intenção e sua motivação. O que quer que você
faça, deve ser enchido com Cristo.
Comer Jesus é simplesmente tomá-Lo para dentro de nós e deixá-Lo
ser assimilado para dentro de nosso ser. Comer significa receber alimento
para dentro de nosso ser; comer Jesus significa recebê-Lo para dentro de
nosso ser. O resultado do nosso comê-Lo é a plenitude Daquele que a tudo
enche em todas as coisas e também do próprio Deus Triúno. Esta plenitude
é a igreja. A igreja não é somente uma assembléia, nem é somente a casa
de Deus, a família de Deus; ela é também o Corpo, um organismo dessa
Pessoa viva, o qual finalmente torna-se Sua plenitude e a plenitude do
Deus Triúno.

O NOVO HOMEM
Efésios 2:15 diz que Cristo por meio da cruz "aboliu na sua carne a
lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse
em si mesmo um novo homem." Então em Efésios 4:22-24 é-nos dito para
despojar-nos do velho homem e revestir-nos do novo homem. Este novo
homem é o Corpo de Cristo. Revestir-se do novo homem quer dizer viver
uma vida por meio do Corpo. Antes de nossa salvação estávamos vivendo
no velho homem, na velha sociedade, mas agora somos membros de Cristo,
vivendo em Seu Corpo. Devemos despojar-nos do velho homem com a velha
vida social, e devemos revestir-nos do novo homem, a igreja. Neste novo
homem não há nada natural, nada judeu, nada grego, nada de posição
social; todos estão cheios de Cristo, assim Cristo é tudo e Cristo está em
todos (Cl 3:10, 11). Não há nada além de Cristo no novo homem. A nossa
vida é Cristo, nosso viver é Cristo, nossa intenção é Cristo, nossa ambição
é Cristo, nossa vontade é Cristo, nosso amor é Cristo, e tudo o mais
relacionado a nós é Cristo. Ele satura todo o nosso ser.
Esse novo homem, de acordo com Efésios 4:17-32, vive uma vida pela
graça e verdade. Esses são os dois fatores principais no viver de tal novo
homem para cumprir o propósito de Deus. Deus necessita de um novo
homem nesta terra para cumprir o Seu propósito, para levar a cabo Sua
intenção.

A NOIVA DE CRISTO
Em Efésios 5 temos a igreja como a noiva de Cristo (vs. 25, 29, 32;
ver também Jo 3:29; Ap 19:7; 21:2, 9; 22:17). Cristo deu-se na cruz não
somente por você e por mim individualmente, mas para a igreja. Quando
pensamos acerca da morte de Cristo, normalmente consideramos somente
a nós mesmos individualmente. Sim, Cristo nos amou e morreu na cruz
por cada um de nós, mas Sua morte foi principalmente para a igreja.
Cristo também alimenta e cuida da igreja com carinho (v. 29).
Alimentar é nutrir. Cuidar com carinho é envolver com cuidado amoroso,
cheio de calor, como uma mãe segurando seu filho junto ao peito. Cristo
trata Sua igreja dessa maneira supridora e carinhosa.
O grande mistério mencionado em 5:32 refere-se a Cristo e à igreja. O
capítulo 5 refere-se ao amor (vs. 2, 25) e à luz (vs. 8, 9, 13). Amor é a fonte
da graça e luz é a fonte da verdade. Quando a luz brilha, ali está a verdade.
Quando o amor é expresso, ali está a graça. No capítulo quatro, a igreja
como o novo homem, experimenta graça e verdade, mas no capítulo 5 a
noiva que satisfaz Cristo experimenta algo mais profundo e mais elevado,
isto é, amor e luz. Como o novo homem, a igreja cumpre o propósito de
Deus. Como a noiva, a igreja satisfaz o desejo de Cristo. Ele é o Esposo e a
igreja é Sua esposa, satisfazendo o desejo de Seu Esposo.

A GUERREIRA
No capítulo quatro o novo homem cumpre o propósito de Deus. No
capítulo cinco a noiva satisfaz o desejo do coração de Cristo. Agora, no
capítulo seis, a igreja como a guerreira luta contra o inimigo de Deus (vs.
10-17).

SEU ASPECTO UNIVERSAL


O aspecto universal da igreja é mencionado em Mateus 16:18.
Quando Pedro reconheceu que o Senhor Jesus era o Cristo e o Filho de
Deus, o Senhor disse a ele que Ele edificaria Sua igreja sobre esta rocha. A
igreja aqui é universal, compreendendo todos os crentes de todos os
tempos e em todos os lugares, incluindo Paulo, Pedro, e todos os santos ao
longo destes vinte séculos (1 Co 12:13).

SEU ASPECTO LOCAL


O aspecto local da igreja é referido pelo Senhor Jesus em Mateus
18:17. O Senhor Jesus nos quatro Evangelhos menciona a igreja somente
duas vezes: uma vez em Mateus 16:18, referindo-se a seu aspecto
universal, e a segunda vez em Mateus 18:17, referindo-se a seu aspecto
local.
Em Mateus 18 o Senhor Jesus disse que se temos algum problema
que não podemos resolver, devemos dizer isso para a igreja. Isso refere-se à
igreja em uma certa localidade. Seria difícil contar um problema para a
igreja universal. Hoje, muitos cristãos que amam ao Senhor preocupam-se
somente com a igreja universal. No conceito deles, contanto que sejam
membros do Corpo de Cristo, isso é suficiente; mas perguntaríamos,
praticamente falando, onde está a igreja deles? Se temos algum problema
que para ser resolvido necessita da ajuda da igreja, aonde iremos? Temos
de ter uma igreja local da qual sejamos parte, da qual podemos obter ajuda
e à qual podemos ir com os nossos problemas.
As Igrejas Locais
Universalmente, a igreja é uma, mas localmente, as igrejas são
muitas. Em Atos 8:1 há a igreja em Jerusalém. Em Atos 13:1 (VRC) há a
igreja em Antioquia. Em seguida há igrejas mencionadas em Atos 14:23 e
15:41; aqui a palavra igrejas é usada porque havia várias cidades nestas
regiões. Em Romanos 16:1 há a igreja em Cencréia. Há a igreja em Corinto
(1 Co 1:2). Em Gaiatas 1:2 temos as igrejas na Galácia; havia muitas,
porque a Galácia era uma província do antigo Império Romano com muitas
cidades. Em Apocalipse 1:4 e 11 há as sete igrejas na Ásia. A Ásia também
era uma província.
Apocalipse 1:11 diz: "O que vês, escreve em livro e manda às sete
igrejas: Efeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sar-des, Filadélfia e Laodicéia."
Este versículo revela que uma igreja é equivalente a uma cidade. Escrever
para a igreja em Efeso quer dizer escrever para a cidade de Efeso. Estas
são igrejas locais. Igreja local não é um termo usado como um nome, mas
ele descreve o fato de haver uma igreja em uma cidade. A igreja não tem
um nome, assim como a lua não tem um nome. Não há tal coisa como lua
americana ou lua chinesa. A lua na China é a mesma lua como em outros
países. Quando ela está sobre a China, ela é a lua na China. Quando ela
está sobre a Inglaterra, ela é a lua na Inglaterra. Ela é uma única lua. Da
mesma forma, a igreja é uma; ela é única. A igreja é tanto local como
universal.

Os Candelabros
Essas igrejas locais são candelabros. Um candelabro é a
corporificação do Deus Triúno. Como sabemos disso? Primeiro, a
substância do candelabro é ouro, significando Deus, o Pai, e a natureza
divina. Então, o candelabro tem um formato; ele não é somente uma massa
informe de ouro, mas tem uma forma definida. Isso significa Cristo como a
própria corporificação de Deus. Terceiro, as sete lâmpadas são os sete
olhos do Cordeiro e os sete Espíritos de Deus (Ap 5:6; 4:5 - IBB - Rev.). As
sete lâmpadas como os sete Espíritos de Deus são a expressão do Deus
Triúno. O Espírito é a expressão, o Filho é o formato, a forma, e o Pai é a
substância da igreja como o maravilhoso candelabro.
Dizer que a igreja é a corporificação do Deus Triúno não é fazer a
igreja uma parte da deidade, um objeto de adoração. Queremos dizer que a
igreja é uma entidade nascida de Deus (Jo 1:12, 13), possuindo a vida de
Deus (1 Jo 5:11, 12), e desfrutando a natureza de Deus (2 Pe 1:4). A igreja
tem a substância divina, possui a semelhança de Cristo e expressa o
próprio Deus. Desde que nascemos de Deus, nós certamente temos a vida
de Deus e possuímos a Sua natureza, e desfrutamos esta vida e natureza
todos os dias. Estamos aprendendo por Sua misericórdia e graça a não
viver por nossa vida natural, mas por meio da vida e natureza divinas.
Enquanto estamos sendo assim transformados, haverá a plenitude, a
expressão, a forma, a aparência de Cristo, e estaremos brilhando, não por
nós mesmos, mas pelo Espírito sete vezes intensificado.
A igreja é a corporificação do Deus Triúno para expressá-Lo. Nós,
como membros de Cristo, somos os filhos de Deus nascidos Dele, tendo
Sua vida e possuindo Sua natureza. Estamos fazendo o melhor para viver
por esta vida e natureza, para que possamos ser enchidos e saturados com
este rico Cristo a fim de tornarmo-nos Sua expressão por meio do Espírito
sete vezes intensificado.
Isso é uma igreja local. Ela não é somente uma assembléia exterior.
Ela é algo interior, de vida, contudo, expressando o próprio Deus. Queridos
santos, este é o objetivo de Deus.

Seu Conteúdo — o Cristo Pneumático


O conteúdo da igreja é o Cristo pneumático. Grandes mestres na
história da igreja primitiva usaram tal termo. Isso quer dizer que Cristo é
idêntico ao pneuma, ao Espírito. Não conseguimos explicar isso, todavia
isso é um fato. Hoje você e eu estamos vivendo Cristo. Cristo não é somente
nossa vida interior, mas também nosso viver exterior. Paulo disse: "Para
mim o viver é Cristo" (Fp 1:21a). Nós vivemos Cristo. Ele não é meramente
o Cristo objetivo sentado no trono; esse Cristo que está no trono à destra
de Deus está simultaneamente dentro de nós.
Como Cristo pode estar no trono nos céus e também estar dentro de
nós? Romanos 8:34 nos diz claramente que Cristo está à destra de Deus,
mas o versículo 10 do mesmo capítulo diz: "Cristo está em vós". No mesmo
capítulo, um versículo nos diz que Cristo está nos céus e outro versículo
nos diz que Cristo está em nós.
A eletricidade nos proporciona uma boa ilustração de como isso pode
ser. A luz em uma sala vem da eletricidade. Essa eletricidade está ao
mesmo tempo na usina elétrica e na sala. Há uma corrente de eletricidade.
Essa corrente conecta a usina elétrica ao prédio. Similarmente, Cristo é
"elétrico", pneumático. Há uma corrente do trono de Deus para o nosso
espírito. Aleluia! O nosso espírito está todo conectado ao trono celestial,
assim como as luzes em uma sala estão todas conectadas à usina elétrica
pela corrente interior de eletricidade. A corrente de eletricidade é
simplesmente a própria eletricidade. A corrente é a eletricidade em
movimento. A eletricidade que se move é a corrente. Cristo é o pneuma que
se move. Essa corrente que se move é chamada por João, em sua primeira
epístola, de comunhão (1 Jo 1:3). A comunhão é a corrente de Cristo.
Cristo está circulando, movendo-se. Carecemos de expressão humana para
descrever algo tão misterioso e profundo. A eletricidade, entretanto, pode
ajudar-nos a ilustrar tal assunto misterioso, abstrato.
O nosso Cristo é a corrente de eletricidade. O nosso Cristo é a
circulação sangüínea em Seu Corpo. Ele é a própria comunhão entre Deus
e nós, e entre todos os filhos de Deus. A corrente é o Cristo pneumático e
este Cristo pneumático é o próprio conteúdo da igreja. Cristo, que é o
Espírito que dá vida (1 Co 15:45 - lit.), está sempre se movendo para
infundir a Si mesmo para dentro de nós. O propósito da corrente elétrica é
infundir eletricidade para dentro das lâmpadas para que todas elas possam
expressar a luz da eletricidade. Esse Cristo pneumático está movendo-se em
nós com o propósito de infundir-se para dentro de nós para que possamos
expressar a Sua vida. Todos fomos batizados Nele e agora estamos bebendo
Dele (1 Co 12:13).

SEU FUNDAMENTO
O fundamento da igreja é Cristo, revelado e ministrado por
intermédio dos apóstolos e profetas. Efésios 2:20 fala do fundamento dos
apóstolos e profetas. Esse fundamento é o próprio Cristo que eles
ministraram a outros. Paulo disse que Cristo era o único fundamento, o
qual ele havia lançado. Ninguém pode lançar outro fundamento (1 Co 3:10,
11). O Cristo, que é o fundamento da igreja, é o Cristo único, revelado e
ministrado pelos primeiros apóstolos, como registrado no Novo Testamento.
Devemos ficar com esse Cristo. Não devemos tomar "outro Cristo".
Quão gratos somos ao Senhor por que Ele tem guardado Sua Santa Palavra
nesta terra, e que sob Sua soberania ela tem sido traduzida para tantas
línguas! Que misericórdia! Se não houvesse a Bíblia nesta terra, que era
tenebrosa seria esta. Aleluia, temos a Bíblia! Isso é certamente a lâmpada
brilhando em um lugar escuro (2 Pe 1:19). Ela tem-se tornado a luz do
nosso caminho (SI 119:105) e nós estamos andando nesta luz — a luz da
Bíblia.

SUA BASE
A Primeira Epístola aos Coríntios 3:11 diz que não há outro
fundamento que possa ser lançado exceto o único fundamento, Cristo.
Antes que uma fundação seja lançada, entretanto, uma casa deve ter um
terreno no qual ela possa ser construída. O lote é a base sobre a qual o
fundamento é construído. Então a casa é construída em cima do
fundamento. A estrutura é construída sobre o fundamento e o fundamento
é lançado sobre a base.
A Igreja Católica alega que o seu fundamento é Cristo. As Igrejas
Metodista e Prebisteriana também alegam que o fundamento delas é Cristo.
Todas as denominações fazem esta mesma afirmação. O fundamento delas,
entretanto, está edificado sobre diferentes bases. A Igreja Presbiteriana está
edificada sobre Cristo na base Presbiteriana. A Igreja Batista está edificada
sobre Cristo, mas na base da imersão na água deles. Os metodistas têm
uma base metodista sobre a qual Cristo como o fundamento deles está
edificado. As várias denominações seguem o mesmo caminho. Elas
edifícam sua denominação em Cristo mas na base particular delas.
Nós não gostamos de criticar, mas temos de falar a verdade. Fico
pesaroso porque a Igreja Batista Sulina somente reconhece aqueles que são
imersos na água deles e pelos pastores deles. Se alguém foi imerso em
outro lugar, eles não o deixarão juntar-se a eles a menos que ele aceite a
imersão deles feita pelo pastor deles. Isso faz da imersão Batista a base e
os torna uma facção, uma denominação. A Igreja de Cristo tem uma
prática similar, exceto que eles crêem na regeneração batismal, que a água
deles pode regenerar aqueles que são batizados nela.
Antes de vir a Dallas em 1966, fui convidado por um irmão em Los
Angeles para jantar em sua casa. Enquanto estávamos comendo, um irmão
perguntou-me se cria no batismo pela água. Eu disse: "Creio no batismo
pela água e no batismo pelo Espírito também." Ele imediatamente começou
a argumentar que não havia tal coisa de batismo pela água na Bíblia. Era
cristão há quarenta anos e nunca tinha ouvido nenhum cristão dizer que
no Novo Testamento não há batismo pela água. Quando citei a ele João 3:5
acerca de ser nascido da água e do Espírito, ele disse que a água ali era a
água do ventre materno! Para ele, todos devem primeiramente nascer de
sua mãe, o que é significado pela água, e então ele tem de nascer do
Espírito. Eu nunca tinha ouvido tal explicação. O conceito era tão absurdo
que senti que não havia necessidade de falar.
Na manhã seguinte voei para Dallas. A noite tive uma reunião ali.
Enquanto eu estava falando, uma mulher ousada perguntou-me acerca do
batismo pela água. Descobri que ela era da Igreja de Cristo e que era
totalmente pelo batismo na água deles. Em Los Angeles alguém fora
totalmente contra o batismo pela água, e no dia seguinte em Dallas havia
alguém totalmente a favor do batismo pela água. Tal é a situação de hoje.
Pessoas edifícam uma assim chamada igreja sobre a base deles.
Todas as diversas denominações vieram à existência nas suas
diversas bases. Seus vários nomes — Presbiterianas, Batistas, Episcopais,
Luteranas, Metodistas, Pentecostais e outras — são as bases sobre as
quais edifícam suas igrejas. Em que base você está edifícado? Não diga em
Cristo. Todo cristão diz isso. Qualquer que seja a denominação ou grupo a
que você vai, eles dirão que o fundamento deles é Cristo. Mas, e quanto a
base onde o fundamento é lançado?
Qual é a nossa base? A base do início da era cristã, desde o tempo
dos apóstolos, é a única unidade do Corpo de Cristo, mantida e expressada
em cada igreja na sua localidade (Ap 1:11). Isso quer dizer que nós,
cristãos, em qualquer localidade que estejamos, nos reunimos para ser a
igreja ali. Não temos outra base além daquela da única unidade do Corpo
de Cristo. Uma igreja local é uma expressão da igreja universal. A igreja
universalmente é uma, e este único Corpo de Cristo é expressado em
muitas localidades. Em toda localidade onde há vários santos, esses santos
devem reunir-se como a igreja ali, não para tomar a base do batismo por
imersão, falar em línguas, o presbitério, um método, o sistema episcopal,
ou alguma base exceto aquela de ser um com
todos os outros reunindo-se ali como a expressão local do Corpo de
Cristo.
Essa unidade deve ser a base na qual somos edificados. Não devemos
ser sectários; não devemos ser exclusivos. Temos de ser todo-inclusivos,
abertos e amando todos os queridos santos. Contanto que sejam cristãos,
eles são nossos irmãos. Os nossos irmãos foram dispersos para muitas
denominações. Apesar disso, nós ainda os amamos. Não devemos ter uma
atitude ou um espírito de luta, oposição ou debate. Isso é errado. Devemos
sempre manter um espírito e uma atitude de amar todos os cristãos. Desde
que carreguem o nome de cristão e creiam no Senhor Jesus, eles são
nossos irmãos e irmãs. Nas igrejas locais não temos nenhuma parede. Não
temos nenhuma cerca. Consideramos todos os queridos cristãos como
nossos irmãos.

PREGAR O EVANGELHO, APRESENTAR


A VERDADE E MINISTRAR VIDA
COMO O TESTEMUNHO DE JESUS
Devemos aprender a verdade, crescer em vida, e sair para contatar as
pessoas. O que dissermos dependerá do nosso discernimento. Se a pessoa
não é salva, pregaremos o evangelho. Se descobrimos que ela é cristã,
podemos apresentar a verdade que temos aprendido. Cristãos apreciam
muito a verdade. Talvez possamos apresentar a verdade da transformação
como em 2 Coríntios 3:18. Então, se possível, podemos ministrar vida a ela
testemunhando, dizendo a ela como recebemos Cristo e como nós O ex-
perimentamos como vida. Um testemunho ministrará vida às pessoas. Não
espere trazer as pessoas para a reunião para que a igreja aumente. Deixe o
assunto do aumento nas mãos do Senhor. O nosso testemunho não é um
grande número. O nosso testemunho é um grupo de santos vivendo no
espírito, andando de acordo com o espírito, e sendo a expressão viva de
Jesus na família, na escola, no trabalho e na vida da igreja. O nosso
encargo é apresentar o evangelho para os não-sal-vos, a verdade para os
salvos, e vida aos que a buscam. Deixe
o assunto da igreja com o Senhor. Deixe cada pessoa escolher por si
mesma de acordo com o seu discernimento. Ninguém pode controlar o
cristianismo de hoje. Ele é grande demais. Temos de perceber a nossa
pequenez. Nós devemos viver Cristo e andar no espírito, sendo o
testemunho vivo Dele. Desse modo seremos um benefício para todos
aqueles que contatamos. Não devemos esperar que eles venham à nossa
reunião. Se eles quiserem vir, é claro que não os rejeitaremos. Espero que
estejamos todos claros acerca de onde nos posicionamos e como
praticamos a vida da igreja. Que o Senhor abençoe a todos nós.
CAPÍTULO SEIS

O REINO
(1)
Leitura da Bíblia: Mt 3:1, 2; 4:17; 10:1, 7; Lc 10:1, 9, 11; 4:43; Mt
24:14; Lc 17:20, 21; Jo 3:3, 5; Mc 4:26-29; At 1:3; 8:12; 19:8; 20:25;
28:23, 30, 31; Rm 14:17; 1 Co 4:17, 20; 6:9, 10; Gl 5:21; Ef 5:5; 2 Pe
1:3,11; Ap 1:9

A IGREJA E O REINO
O plano do Pai, a redenção do Filho e a aplicação do Espírito
produzem os crentes, que são os componentes da igreja. Em Mateus 16:18,
19 o Senhor Jesus disse a Pedro: "Sobre esta rocha edificarei a minha
igreja, e... dar-te-ei as chaves do reino dos céus" para abrir as portas do
reino. Pedro usou uma chave no dia de Pentecoste para abrir o portão aos
crentes judeus para entrarem no reino dos céus (At 2:38-42); ele usou a
outra na casa de Cornélio para abrir o portão para que os crentes gentios
entrassem no reino (At 10:34-48). Em Mateus 16:18, 19 estes dois termos,
a igreja e o reino, são intercambiáveis. Onde há a igreja, certamente há o
reino. Se há o reino, certamente há a igreja.

UM DIAGRAMA DO REINO
Desde que o reino é um dos mais complexos temas na Bíblia, o
diagrama nas páginas seguintes será de grande ajuda para o nosso
entendimento. O primeiro e o último círculos do diagrama estão coloridos
em amarelo dourado. Ouro significa Deus ou o que é divino. Estes dois
círculos representam a eternidade passada e a eternidade futura. Entre
esses dois círculos existem quatro círculos no tempo. O tempo é a ponte
entre os dois extremos da eternidade.
A ponte do tempo cobre quatro dispensações: a dispensação antes da
lei, a dispensação da lei de Moisés até Cristo, a dispensação da graça e
finalmente, a dispensação do reino. Essas dispensações ligam os dois
extremos da eternidade.
Os círculos intitulados "A Dispensação Antes da Lei" e "A
Dispensação da Lei" estão coloridos em marrom, significando algo terreno.
A dispensação antes da lei refere-se aos Patriarcas e dura de Adão até
Moisés. A dispensação da lei refere-se aos israelitas, durando de Moisés até
Cristo. (Por favor, reparem nas colunas na parte de baixo do diagrama com
as referências bíblicas e explicações.) Da primeira vinda de Cristo até a Sua
segunda vinda é a dispensação da graça. Quando o Senhor Jesus voltar
para estabelecer o Seu reino nesta terra, este será o reino de mil anos, o
milênio, a dispensação do reino. Os círculos intitulados "A Dispensação da
Graça" e "A Dispensação do Reino" estão coloridos em azul, significando o
reino dos céus. O céu é sempre demonstrado pela cor azul.
O último círculo está colorido em amarelo dourado, mas ele é bem
diferente do círculo amarelo dourado da eternidade passada. Na eternidade
futura está a Nova Jerusalém, a qual é uma composição de todos os santos
de todas as dispensações precedentes. Alguns serão dos Patriarcas, alguns
dos israelitas, alguns da igreja, e alguns também do milênio. Todos os
santos dessas quatro dispensações estarão reunidos como a consumação
final e máxima, a Nova Jerusalém. Em volta da Nova Jerusalém estarão as
nações purificadas como os povos do novo céu e nova terra.

A Igreja — Crentes Vencedores e Derrotados


O primeiro círculo azul do quadro é a igreja, a qual é composta dos
verdadeiros cristãos. Dentro desse círculo azul está um círculo tracejado
também em azul. Este círculo significa os crentes vencedores, que estão
entre as igrejas e pertencem às igrejas. Como cristãos nossa cor é azul. Nós
somos celestiais. Estamos na terra, todavia somos celestiais. Um brasileiro,
por exemplo, pode estar na África do Sul, mas ele ainda é um brasileiro.
Ele é um brasileiro na África do Sul. Hoje estamos aqui na terra, mas não
somos um povo terreno. Nós somos o povo celestial.
Deus tem escolhido e regenerado milhões de pessoas, mas nem todos
acompanharão Deus. Esses se tornam os crentes derrotados. Alguns que
foram regenerados cooperam com Deus. Esses tornam-se os crentes
vencedores. Entre os crentes, então, existem duas categorias, os
vencedores e os derrotados. Muito da disputa com respeito ao
arrebatamento é devido à omissão desse ponto. Os crentes vencedores
participarão no desfrute do reino milenar, mas os derrotados perderão o
alvo.
Em 1 Coríntios 5:1-5 o apóstolo Paulo trata com um irmão que está
envolvido em fornicação com a esposa de seu pai. Essa situação forçou o
apóstolo a entregar tal pessoa "a Satanás para a destruição da carne, a fim
de que o espírito seja salvo no dia do Senhor" (v. 5). Seu espírito, Paulo
disse, ainda seria salvo. Não obstante, tal pessoa pecaminosa ainda era um
irmão, escolhido por Deus e regenerado. Paulo entrega tal pessoa a
Satanás para ser castigado, contudo o espírito dela ainda será salvo.
Quando o Senhor Jesus voltar para estabelecer o reino, poderia tal crente
derrotado ser um rei junto com o apóstolo Paulo? Não é lógico crer assim.
Entretanto, seu espírito será salvo. Esse caso mostra que há uma
verdadeira diferença entre os crentes vencedores e os derrotados.

Quatro Categorias de Pessoas


Fora do círculo azul da igreja estão dois círculos pretos tracejados. O
primeiro indica a aparência do reino dos céus. A essa aparência chamamos
de cristandade. Ali há cristãos genuínos e falsos. Entre os verdadeiros
cristãos há os vencedores e os derrotados. Os cristãos nominais e os
verdadeiros compõem o que é chamado de cristandade. Existe uma
diferença entre a cristandade e a igreja como o Corpo de Cristo. O Corpo de
Cristo como a igreja genuína abrange somente os verdadeiros crentes. Os
crentes falsos e nominais não são membros do Corpo de Cristo. Eles estão
na cristandade, mas eles não estão na igreja.
O segundo círculo preto pontilhado, embaixo de "A Aparência do
Reino dos Céus" significa o mundo, as nações. Entre as nações está a
cristandade, abrangendo os crentes verdadeiros e falsos. Os cristãos
genuínos são os verdadeiros membros do Corpo de Cristo, o qual é a igreja.
Entre esses cristãos genuínos estão os vencedores e os derrotados. Entre
as nações está a cristandade. Dentro da cristandade está a igreja, uma
composição de cristãos genuínos, não incluindo os meramente nominais.
Entre os verdadeiros cristãos estão os vencedores. Nesta terra, hoje existem
essas quatro categorias de pessoas — o povo do mundo, os cristãos
nominais, os cristãos verdadeiros e os cristãos vencedores.

Vencer — Acompanhar o Trabalho Transformador de Deus


O desejo de Deus é ter um povo que O acompanhe para vencer
Satanás e todas as coisas negativas. Isso nos é possível, não em nós
mesmos, mas por meio de Sua plena salvação. Vencer é experimentar essa
salvação plena. Essa salvação inclui a regeneração de nosso espírito e a
transformação plena de nossa alma, resultando na transfiguração do nosso
corpo. Dizer isso é fácil, mas para experimentar isso necessita muito
trabalho da graça.
Fomos regenerados em nosso espírito e estamos sendo transformados
em nossa alma. Se vamos vencer ou ser derrotados depende da
transformação da alma. Se deixarmos o Deus Triúno como o Espírito que
dá vida nos transformar dia após dia, nós seremos vencedores. Mesmo
agora somos vencedores, porque estamos acompanhando o trabalho
transformador do Deus Triúno. Contanto que estejamos acompanhando o
Seu trabalho transformador, nós somos vencedores. Quando não
acompanhamos o Seu trabalho em nós, somos derrotados. Se seremos
vencedores ou derrotados dependerá de nossa atitude com relação ao
trabalho transformador de Deus.
O Deus Triúno hoje está dentro de nós, trabalhando para transformar
a nossa alma. Ele está renovando a nossa mente, nossa vontade e nossa
emoção. Não há nenhum problema com o nosso espírito; ele foi regenerado.
O problema está em nossa alma. Deus está concentrando o Seu trabalho
transformador em nossa alma. Qual é a nossa atitude? Obedecer a Deus é
acompanhar o Seu trabalho de transformação. Estamos todos aqui debaixo
de Seu trabalho transformador. Quando esse trabalho em nossa alma
estiver completo, nós estaremos completamente amadurecidos. Então o
Senhor Jesus voltará para redimir, transfigurar nosso corpo, e estaremos
em glória (Fp 3:21).

Nossa Vida Diária


A questão do reino está muito relacionada à nossa vida diária. O
trabalho transformador de Deus é, na realidade, Seu exercitar de Seu
reino. Muitos cristãos têm sido distraídos pelos prazeres da alma. Nós
também podemos ser distraídos da economia de Deus por diferentes
formas de divertimentos, entretenimentos ou esportes.
Deus Espírito está trabalhando dentro de nós, tentando transformar
o nosso pensamento. Por exemplo, como alguém que ama a Jesus você
sabe que não deve ir a um baile. Você pode querer ir, mas o Espírito
transformador está se debatendo dentro de você. Algo dentro de você diz
que não é correto alguém que ama Jesus fazer isso. Na realidade, aquela
luta dentro de você é o trabalhar do Espírito Santo para transformar a sua
mente (Rm 12:2) com respeito à questão de dançar. Ele também deseja
transformar a sua emoção nessa questão. Sua emoção não deve estar
voltada à dança, mas voltada à Nova Jerusalém.
Você coopera com esse trabalho transformador? Às vezes os santos
são derrotados e vão dançar. Naquela hora eles são derrotados. Entretanto,
você pode tomar a graça para cooperar com o Espírito que habita
interiormente e dizer: "Amém, Senhor, eu Te seguirei. Eu acompanho o Teu
mover dentro de mim. Aleluia! Irei para a reunião da igreja!"
Essa escolha envolve mais do que ir à reunião. Isso quer dizer que
você está transformado em sua mente com respeito à dança. Sua emoção
está também transformada: ao invés de apreciar a dança, você aprecia ir à
reunião. Essa transformação também envolve sua vontade porque você
decidiu não ir. Você disse: "Satanás, não irei a tal coisa maligna. Eu irei à
reunião da igreja." Por tomar tal posição, sua mente, vontade e emoção são
todas tocadas. Ser tocado dessa forma é ser transformado.
Isso ilustra como o Senhor como o Espírito todo-inclusivo habitando
em nós está fazendo o Seu trabalho transformador. Se acompanhar isso,
você é um vencedor. Do contrário, é um derrotado.

Realidade, Aparência e Manifestação


Dentro do primeiro círculo azul do diagrama está a realidade do reino
dos céus. Os crentes vencedores estão vivendo nesta realidade. Fora do
círculo azul está a aparência do reino dos céus.
Três parábolas em Mateus 13 falam da aparência do reino dos céus.
A primeira é a parábola do trigo e do joio (vs. 24-30, 36-43). Trigo refere-se
aos crentes genuínos e joio, aos falsos. Os falsos não estão na igreja mas
na cristandade, a aparência do reino. A segunda parábola é a parábola do
grão de mostarda (vs. 31, 32). O grão de mostarda é uma erva para
produzir alimento, mas nesta parábola ela cresce até ser árvore, um abrigo
para pássaros, isto é, para pessoas e coisas malignas. A igreja, com a sua
natureza mudada, tornou-se profundamente arraigada e estabelecida na
terra. Externamente viçosa, a grande árvore fala dos empreendimentos da
cristandade, os quais são a aparência exterior do reino dos céus. A terceira
parábola é a parábola do fermento (v. 33), que uma mulher tomou e
escondeu em três medidas de farinha. O pão que está levedado é mais fácil
de se comer. Muitas verdades bíblicas com respeito a Cristo foram
levedadas pela cristandade. Esses ensinamentos levedados são mais fáceis
de as pessoas tomarem.
O segundo círculo azul no diagrama é a manifestação do reino dos
céus. Este é o terceiro aspecto do reino dos céus.
Ver estes três aspectos — a realidade, a aparência e a manifestação
— nos ajudará a entender a verdade com respeito ao reino dos céus de
uma maneira apropriada.

O GOVERNO DE DEUS
O reino é o governo de Deus (At 26:18; Cl 1:13). Aqui Deus pode
exercer a Sua autoridade para o cumprimento do Seu propósito (Mt 6:13b).
O Senhor Jesus orou em Mateus 6:10: "Venha o Teu reino, faça-se a Tua
vontade." Se não há nenhum reino, Deus não tem como cumprir a Sua
vontade. Deus precisa de um reino para cumprir Seu propósito.

O HOMEM DEVE GOVERNAR POR DEUS


Os propósitos na criação do homem por Deus podem ser vistos em
Gênesis 1:26-28. Primeiro, Deus criou o homem à Sua própria imagem.
Isso indica que a intenção de Deus era se expressar através do homem que
Ele criara. Segundo, Deus intencionava que o homem tivesse domínio
(governasse) sobre todas as coisas criadas para o Seu reino.

O REINO E ISRAEL
O reino foi primeiramente formado entre os filhos de Israel. Em Êxodo
19:6 o Senhor disse aos filhos de Israel que eles seriam para Ele um reino
de sacerdotes. Israel era o reino de Deus no Velho Testamento.

A PRIMEIRA COISA PREGADA NO NOVO TESTAMENTO


O reino foi a primeira coisa pregada no Novo Testamento (Mt 3:1, 2;
4:17; Lc 9:1, 2; 10:1, 9, 11; 9:60). João Batista, o primeiro pregador da era
do Novo Testamento, disse às pessoas: "Arrependei-vos, pois está próximo o
reino dos céus." O primeiro item pregado no Novo Testamento é o reino,
não os céus.
Muitos cristãos pensam que o céu e o reino são sinônimos. Eles
acreditam que estar no reino é estar nos céus. Muitos acham que quando
um cristão morre, sua alma vai para o reino dos céus. Para eles, isso quer
dizer que ela vai para os céus. Esse pensamento não está de acordo com a
revelação divina. O céu não é o reino; tampouco o reino dos céus é o céu.

PREGADO COMO O EVANGELHO


No Novo Testamento o reino é pregado como o evangelho (Lc 4:43; At
8:12; Mt 24:14; cf. Lc 18:29; Mc 10:29). O reino é o evangelho. Em Lucas
4:43 e Atos 8:12 a palavra grega para pregar é a forma verbal de evangelho.
A palavra usada nestes dois versículos significa pregar algo como o
evangelho. O Senhor Jesus em Lucas 4 e Filipe em Atos 8 pregaram o reino
como o evangelho.
Em Marcos 10:29 o Senhor refere-se ao deixar tudo e segui-Lo por
causa do evangelho. Em Lucas 18:29, entretanto, o Senhor fala de deixar
tudo e segui-Lo por causa do reino de Deus. Deixar tudo por causa do
evangelho quer dizer deixar tudo pelo reino de Deus. O que quer que
façamos pelo reino de Deus é o que fazemos pelo evangelho, porque aos
olhos de Deus o reino e o evangelho são sinônimos.

HERDANDO A VIDA ETERNA


Em Marcos 10:17, 23 podemos ver que herdar a vida eterna é entrar
no reino. Receber a vida eterna é uma coisa; herdá-la é outra. O Novo
Testamento faz a diferença bem distinta, mas muitos cristãos não notam
essa diferença. Quando cremos no Senhor Jesus, fomos regenerados e
recebemos a vida eterna. Quando vivemos por esta vida que recebemos, ela
torna-se a nossa herança para o nosso desfrute. Recebemos a vida eterna
hoje, mas herdá-la, entrar nela, é uma questão da era vindoura. Herdar ou
não a vida eterna como a nossa bênção dependerá de se você é um
vencedor ou um derrotado. Entrar na vida eterna, herdar a vida eterna,
quer dizer entrar no reino, herdar o reino.

UMA ENTRADA PARA O REINO


Todas as coisas que se relacionam com a vida divina foram
concedidas a nós para suprir-nos uma entrada no reino (2 Pe 1:3, 11). Em
2 Pedro 1:3 diz-se que "pelo seu divino poder nos têm sido doadas todas as
cousas que conduzem à vida e à piedade". Os versículos 5-11 nos mostram
o desenvolvimento da vida eterna resultando em uma rica entrada no reino
eterno. Por meio da vida eterna com o seu desenvolvimento nós podemos
entrar no reino.

RELACIONADO À VIDA INTERIOR E À VIDA DA IGREJA


O reino está relacionado à vida interior e à vida da igreja. João 3:3, 5
nos diz que temos de ser nascidos de novo para ver o reino e para entrar no
reino. Entrar no reino de Deus é uma questão da vida interior. Precisamos
nascer de novo para que tenhamos a vida divina. Quando temos essa vida,
entramos no reino. Receber a vida divina é entrar no reino de Deus.
Em Mateus 16:18, 19 o Senhor diz que Ele edificará a Sua igreja, e
então Ele dará a Pedro as chaves do reino dos céus. Esses versículos
mostram que o reino dos céus é para a igreja. Romanos 14:17 diz: "Pois o
reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça e paz e alegria no
Espírito Santo." Romanos 14 é um capítulo sobre como receber os fracos
na vida da igreja. Quando Paulo menciona o reino de Deus nesse capítulo,
ele está se referindo à vida da igreja. A vida da igreja é o reino de Deus
hoje. A vida da igreja, o reino de Deus, não é uma questão de comida nem
bebida, mas de justiça, paz e alegria no Espírito Santo.

A SEMENTE SEMEADA NOS EVANGELHOS


O Cristo todo-inclusivo tem sido semeado para dentro daqueles que
Nele crêem como a semente do reino (Mt 13:3; Mc 4:26). O próprio Senhor
está dentro dos crentes como o Rei, a semente. Jesus é o Rei; nós somos o
"no"! O reino é a expressão ou a extensão do Rei. O Rei é a semente, e a
igreja é a extensão, o "no". A expansão do Rei dentro dos crentes como a
semente é o reino (Mc 4:26-29). O reino foi semeado nos Evangelhos pelo
Senhor Jesus no meio dos judeus e dentro dos Seus discípulos (Lc 17:20,
21). O reino é algo interior. Não podemos observá-lo exteriormente. O
Senhor Jesus disse que o reino não era visível.
Esse reino foi manifestado a Pedro, Tiago e João (Mt 16:28—17:2).
Quando o Senhor semeou a semente do reino entre os judeus, dentro de
Seus crentes, os judeus não conseguiam discernir isso. Um dia, entretanto,
três discípulos foram ao monte com o Senhor Jesus. No monte, Jesus foi
transfigurado. Sua transfiguração foi a manifestação do reino. O reino é o
próprio Jesus Cristo semeado para dentro de nós e crescendo em nós, até
que um dia haja a manifestação do reino.

O REINO EM ATOS
Em Atos, o reino foi ensinado pelo Senhor depois de Sua
ressurreição. Atos 1:3 nos diz que Ele esteve com os discípulos por
quarenta dias "falando das cousas concernentes ao reino de Deus."
O reino foi também pregado pelos apóstolos. Em Atos 8:12 Filipe
"evangelizava a respeito do reino de Deus." Paulo também pregou o reino de
Deus (At 19:8; 20:25; 28:23, 31). Os últimos dois versículos de Atos nos
dizem que "por dois anos permaneceu Paulo na sua própria casa, que
alugara, onde recebia a todos que o procuravam, pregando o reino de
Deus."
Alguns mestres da Bíblia acreditam que o reino foi suspenso devido à
rejeição dos judeus. Eles crêem que esta não é a era do reino, mas a era da
igreja, e que o reino virá mais tarde. Esse ensinamento é incorreto. Como
vimos, a igreja na realidade é o reino. Mesmo nesta era, a era da igreja, a
era da graça, o reino está aqui. Isso é claro em muitas referências ao reino
no livro de Atos.

O REINO NAS EPÍSTOLAS


Também podemos ver o reino nas Epístolas. As Epístolas nos dizem
que os crentes foram transferidos para o reino (Cl 1:13; Hb 12:28).
Também nas Epístolas o reino é a vida da igreja (Rm 14:17).
Em 1 Coríntios 4:17, 20 também nos mostra que o reino é a vida da
igreja. O versículo 17 diz: "Vos mandei Timóteo... o qual vos lembrará os
meus caminhos em Cristo Jesus, como por toda parte ensino em cada
igreja." Os versículos 18-20 dizem: "Alguns se ensoberbeceram, como se eu
não tivesse de ir ter convosco; mas em breve irei visitar-vos, se o Senhor
quiser, e então conhecerei não a palavra, mas o poder dos en-soberbecidos.
Porque o reino de Deus consiste, não em palavra, mas em poder." Estes
versículos mostram que o reino de Deus é a igreja em todos os lugares, e a
igreja em todos os lugares é o reino. O reino está aqui porque a igreja está
aqui.
Também nas Epístolas alguns dos crentes eram os cooperadores do
apóstolo para o reino de Deus (Cl 4:11). Paulo e seus cooperadores estavam
trabalhando pelo reino. Isso quer dizer que eles estavam trabalhando pela
igreja. Trabalhar pela igreja é trabalhar pelo reino; assim a igreja é o reino.
As pessoas da igreja também herdarão o reino (1 Co 6:9, 10; 15:50; Gl
5:21; Ef 5:5; Tg 2:5; 1 Ts 2:12; 2 Pe 1:11).

O REINO EM APOCALIPSE
O reino é também visto no livro de Apocalipse. João disse que ele era
um companheiro com os crentes "no reino e na perseverança, em Jesus"
(1:9). Se o reino é algo para o futuro, então a perseverança também deve
ser algo para o futuro. Se a perseverança está aqui hoje, então o reino deve
também estar presente hoje. A menção da perseverança em Apocalipse 1:9
indica que o reino no qual João estava não é algo ainda por vir. Ele está
aqui agora; nós somos cooperadores com João no reino presente.
Esse reino presente virá em sua plena manifestação depois da grande
tribulação (Ap 12:10). Então, finalmente, o reino do mundo se tornará o
reino de nosso Senhor e de Seu Cristo no milênio (Ap 11:15). Esse é um
esboço breve do ensinamento no Novo Testamento com respeito ao reino,
dos quatro Evangelhos até o final de Apocalipse.

CAPÍTULO SETE
O REINO
(2)
Leitura da Bíblia: Mt 11:11; 16:18, 19; 5:3, 10, 20; 7:21; 13:24, 25;
25:1, 14; 19:28, 29; 24:45-47; 25:19, 23; Ap 11:15; 20:4, 6; 1 Co 15:24; Ap
21:1,2,3-7; 22:2-5,14,17
A DIFERENÇA ENTRE O REINO DE DEUS E O REINO DOS CÉUS
O Reino de Deus
A maioria dos cristãos não percebem que existe uma diferença entre o
reino de Deus e o reino dos céus. Entretanto, o Novo Testamento faz uma
clara distinção entre os dois.
O reino de Deus é o governo divino de eternidade a eternidade. Ele
inclui Adão no Éden (Gn 2:8), os Patriarcas (de Adão a Jacó), a nação de
Israel (Êx 19:6), a igreja (Mt 16:18, 19), a nação restaurada de Israel (At
1:6; 15:16), o milênio (Ap 20:4, 6), e o novo céu e a nova terra (Ap 21:1, 2).
Atos 1:6 e 15:16 revelam que a nação restaurada de Israel é chamada de
tabernaculo de Davi. A nação de Israel será restaurada na volta do Senhor.
Depois disso será o milênio e, finalmente, o novo céu e nova terra. O reino
de Deus abrange todas as dispensações da eternidade passada à
eternidade futura. No diagrama há seis círculos, os quais incluem todas as
dispensações da eternidade passada à eternidade futura. A totalidade
desses seis círculos é o reino de Deus.

O Reino dos Céus


O reino dos céus é o governo celestial do início da igreja ao final do
milênio, a parte crucial do reino de Deus. No diagrama há dois círculos
delineados em azul, significando o reino dos céus. O reino dos céus é uma
parte do reino de Deus assim como Sergipe e Goiás são parte do Brasil.
Sergipe e Goiás são Brasil, mas não é correto dizer que o Brasil é Sergipe e
Goiás. Da mesma forma, podemos dizer que o reino dos céus é o reino de
Deus, mas não podemos dizer que o reino de Deus é o reino dos céus. O
reino dos céus é o reino de Deus porque ele é parte do reino de Deus. O
reino de Deus refere-se ao reino de Deus de uma forma geral, da eternidade
passada à eternidade futura, mas o reino dos céus inclui somente duas
partes do reino de Deus: a dispensação da graça e o milênio.

Um Período Transicional
O ministério de João Batista começa o Novo Testamento, mas ele
mesmo não estava no reino dos céus. Mateus 11:11 confirma isto: "Entre
os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista; mas
o menor no reino dos céus é maior do que ele." Este versículo indica que
João não estava no reino dos céus.
Entre o fechamento da era do Velho Testamento e o começo do reino
dos céus houve um período transicional. Tal foi o tempo no qual João
viveu. Ele estava próximo ao reino dos céus, mas não estava nele.
Mateus 21:43 e Marcos 12:9 indicam que o reino de Deus existia
antes do tempo de João Batista. O Senhor Jesus disse aos líderes judeus
que o reino de Deus seria tirado deles. Naquele tempo quando o Senhor
Jesus estava falando, o reino de Deus estava com a nação judaica, mas Ele
os estava prevenindo de que o reino de Deus seria tirado deles. Esses
versículos indicam que o reino de Deus já existia entre os israelitas. O
reino dos céus, em contraste, tinha somente se aproximado (Mt 3:2; 4:17).
Aqui novamente está evidente que o reino dos céus é diferente do reino de
Deus.

Começando em Pentecoste
Em Mateus 13 há muitas parábolas. A primeira é a parábola do
semeador. Quando o Senhor Jesus veio como o semeador para semear a
semente, o reino dos céus não havia vindo ainda; ele tinha somente se
aproximado (Mt 3:2; 4:17;
É na segunda parábola, do trigo e do joio, que o reino dos céus está
presente. O Senhor Jesus disse: "O reino dos céus é semelhante a um
homem que semeou boa semente no seu campo" (13:24). O reino de Deus
estava ali durante a pregação de João, de Jesus e de Seus discípulos.
Naquele tempo, entretanto, não havia o reino dos céus. Em Mateus 3:2
João Batista disse: "Arrependei-vos porque está próximo o reino dos céus."
Jesus começou o Seu ministério da mesma maneira, dizendo às pessoas
para se arrependerem, pois o reino dos céus estava próximo (4:17). Em
10:7 o Senhor Jesus incumbiu os doze para pregar que o reino dos céus
estava próximo.
Em Mateus 21:43, porém, o Senhor disse aos líderes judeus "que o
reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza
os respectivos frutos." Disto vemos que o reino de Deus estava com a nação
de Israel desde o tempo de Êxodo 19:6. No tempo em que o Senhor Jesus
falou a palavra em Mateus 21:43, o reino de Deus estava ali, mas o reino
dos céus somente estava próximo.
Em Mateus 16:18, 19 o Senhor Jesus disse a Pedro que Ele edificaria
a Sua igreja e que Ele daria a Pedro as chaves do reino dos céus. Pedro
usou uma dessas chaves para abrir a porta para os crentes judeus
entrarem no reino dos céus no dia de Pentecoste. Aqui está outra indicação
de que o reino dos céus começou no dia de Pentecoste.
No diagrama há uma flecha, sobre a qual se lê: "A descensão do
Espírito Santo" (At 2:1-4). A descensão do Espírito Santo no dia de
Pentecoste marca o início do reino dos céus e o início do cumprimento da
parábola do trigo e do joio. No dia do Pentecoste, Satanás começou a
semear joio, falsos crentes, no meio do trigo, os crentes.

A REALIDADE DO REINO DOS CÉUS


A realidade do reino dos céus, como a realidade da vida da igreja (Rm
14:17), é revelada em Mateus 5—7. João 3:5 revela que a regeneração é a
nossa entrada no reino de Deus. Entrar no reino de Deus requer a
regeneração como um novo começo de nossa vida (Jo 3:3, 5), mas "entrar
no reino dos céus" exige justiça excedente em nosso viver depois de termos
sido regenerados (Mt 5:20). Mateus 5—7 nos mostra a realidade do reino
dos céus.

A APARÊNCIA DO REINO DOS CÉUS


A aparência do reino dos céus é revelada nas parábolas do joio, do
grão de mostarda e do fermento em Mateus 13:24-42. A aparência do reino
dos céus é a cristandade, que está cheia de coisas falsas. O joio são os
crentes nominais, falsos. Há muitos desses "crentes"na cristandade.
Fermento, na Escritura, significa coisas malignas (1 Co 5:6, 8) e
doutrinas malignas (Mt 16:6, 11, 12). Práticas pagas, doutrinas heréticas e
assuntos malignos têm sido misturados aos ensinamentos com respeito a
Cristo para fermentar toda a cristandade.
O Natal é um exemplo desse fermento. Originalmente, 25 de
dezembro era um dia em que os antigos romanos celebravam o nascimento
do sol. Com a expansão da Igreja Católica, ela assimilou esta festa antiga
porque tinha milhares de incrédulos que ainda queriam celebrar o
nascimento do deus deles. Para acomodá-los, a Igreja Católica tomou 25 de
dezembro como o nascimento de Cristo. Essa é a origem do fermento do
Natal.
O Natal na realidade não tem nada a ver com Cristo ou com a igreja.
Na restauração do Senhor temos somente Cristo.
A Páscoa é outro exemplo de fermento. Como cristãos agradecemos
ao Senhor pela Sua ressurreição, mas Páscoa, um "feriado cristão "de
origem paga e cheia de práticas pagas; é fermento.
Com o papa e os cardeais da Igreja Católica Romana também
podemos ver a cristandade, a aparência do reino dos céus. Não queremos
estar na aparência; queremos estar na realidade. Se vivermos na realidade
do reino dos céus hoje, desfrutaremos sua manifestação no futuro.

A MANIFESTAÇÃO DO REINO DOS CÉUS


A profecia em Mateus 24:30—25:30 revela a manifestação do reino
dos céus. O milênio tem tanto o aspecto celestial como o aspecto terreno. A
manifestação do reino dos céus é a parte celestial do milênio. Essa
manifestação é o reino do Pai. Mateus 13:43 diz: "Então os justos
resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai." Os justos são os
vencedores, que serão a luz brilhando no reino de seu Pai. Na parte
celestial do milênio — a manifestação do reino dos céus, o reino do Pai —
os santos vencedores reinarão com Cristo como co-reis.

A RECOMPENSA DISPENSACIONAL DE CRISTO


O reino de Deus é uma parte da salvação eterna de Deus para todos
os crentes, cuja entrada é a regeneração (Jo 3:5). A salvação eterna de
Deus inclui Seu reino. Para entrar nesse reino precisamos ser regenerados.
O reino dos céus, entretanto, é a recompensa dispensacional de
Cristo para Seus seguidores fiéis, cuja entrada é justiça excedente e fazer a
vontade de Deus (Mt 5:20; 7:21). O reino dos céus é a recompensa
dispensacional de Cristo porque ele é somente um período de mil anos.
Recebemos a salvação eterna; mas, e, quanto a recompensa
dispensacional? Isso está pendente. Ela será dada aos seguidores fiéis de
Cristo.
D. M. Panton certa vez disse que os mestres cristãos dos seus dias
estavam distribuindo entradas para as pessoas entrarem no reino dos
céus. Quando eles chegarem lá, entretanto, disse Panton, o porteiro dirá a
eles que os seus bilhetes não são genuínos. De acordo com Panton, muitos
pregadores cristãos estavam enganando os ouvintes e dando-lhes bilhetes
sem valor. Panton estava muito claro acerca da questão do reino dos céus.
Enquanto a salvação é eterna, a recompensa é dispen-sacional. Essa
recompensa dispensacionsal é condicional. Se um estudante faz um
excelente trabalho nos estudos, por exemplo, ele será recompensado em
sua formatura. Ele tem-se autodisciplinado para obter notas altas para que
possa obter uma recompensa. Como cristãos, temos de exercitar a nós
mesmos sob a disciplina de Deus todos os anos de nossa vida cristã, a fim
de receber a recompensa do reino dos céus. Muitos cristãos hoje vivem de
uma maneira relaxada porque eles não percebem essa questão da
recompensa e punição dispensacional. Por causa disso, há a necessidade
da restauração da verdade com respeito ao reino.
Em 1936 publiquei um livrete sobre a entrada no reino do céus. O
irmão Watchman Nee encorajou-me a escrever mais sobre esse assunto.
Ele me falou de um irmão afastado, que depois de ler o livrete, foi reavivado
e trazido de volta ao Senhor. Como resultado, em 1939 publiquei várias
mensagens sobre a questão do reino dos céus.
Como cristãos, temos de ser cuidadosos para não perdermos nossa
recompensa. A nossa salvação jamais pode ser perdida. Ela é assegurada
pela nossa predestinação por Deus. Calvino é forte na questão da
predestinação eterna, com a qual concordamos, mas ele não viu a
recompensa dispensacional. Sem essa chave não há maneira satisfatória
para interpretar muito de Mateus e das cinco advertências no livro de
Hebreus (2:1-4; 3:7—4:13; 5:11—6:20; 10:19-39; 12:1-29). Temos de pegar
a chave para interpretar essas cinco advertências em Hebreus. A chave é a
disciplina dispensacional.

Recompensa ou Punição
Os cristãos ou receberão recompensa ou sofrerão disciplina. A
recompensa é a realeza a ser exercida por Cristo com os Seus seguidores
fiéis nos mil anos. A punição é revelada em Mateus 24:50, 51: "Virá o
senhor daquele servo em dia em que não o espera, e em hora que não sabe,
e castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá choro e
ranger de dentes." Na volta do Senhor os cristãos relaxados e infiéis
sofrerão punição.
Não pense que o Senhor é bondoso demais para não puni-lo. Um bom
pai sempre disciplina os filhos. Disciplina é um sinal de amor (Hb 12:6, 7).
Fomos escolhidos, predestinados, chamados e regenerados; agora estamos
desfrutando a riqueza da graça do Senhor. Se recusarmos tomar o caminho
do Senhor, não devemos pensar que quando morrermos nossos problemas
acabarão. Isso não é lógico.
Um dia o Senhor voltará e estabelecerá o Seu trono de julgamento.
Aqui Ele julgará não os incrédulos mas os crentes. Em 2 Coríntios 5:9
Paulo disse que ele anelava ser agradável ao Senhor. Então continuou
dizendo: "Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal
de Cristo para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito
por meio do corpo" (v. 10). Na volta do Senhor, nós, cristãos, teremos de
prestar contas a Ele no Seu trono de julgamento. Seu julgamento decidirá
se seremos recompensados com uma entrada no reino dos céus ou se
seremos punidos de alguma forma. Os cristãos derrotados sofrerão perda
(1 Co 3:15).

A Necessidade de Arrependimento e Confissão


A redenção de Cristo é completa e perfeita, contudo ainda precisamos
confessar os nossos pecados para que sejamos perdoados (1 Jo 1:9). Como
cristãos precisamos nos arrepender diariamente para sermos trazidos de
volta à economia de Deus. Muitos cristãos morrerão com problemas não
resolvidos entre eles e o Senhor. Eles cometeram pecados depois de serem
salvos, contudo, nunca os confessaram nem se arrependeram. O perdão de
Deus e a purificação de Cristo para os crentes quando pecam estão
baseados na confissão deles. Se não confessamos, Deus não perdoa. Se
não confessamos, Cristo não purifica. Achar que podemos viver
negligentemente e que não teremos problemas depois da morte é ilógico.
Temos de prestar contas a Ele. A verdade do reino é muito sóbria. Ela nos
desperta. Quando o Senhor voltar, Ele voltará como nosso Noivo, mas
também como nosso juiz (2 Tm 4:1,8).

Vencedores
Entre os crentes nas sete igrejas em Apocalipse 2 e 3 existem alguns
vencedores fiéis, a quem o Senhor promete uma recompensa (Ap 2:7, 11,
17, 26-29; 3:5, 6,12,13, 21, 22). Esses vencedores que vivem na realidade
do reino dos céus na era presente da igreja, serão os seguidores fiéis de
Cristo na manifestação do reino dos céus. Eles serão recompensados com o
desfrute da vida eterna no milênio (Mt 19:28, 29; 24:45-47; 25:19-23). Eles
também serão co-reis com Cristo no milênio (Ap 20:4, 6; 2 Tm 2:12).

O MILÊNIO
O milênio tem uma parte terrena e uma parte celestial. A parte
terrena é o reino do Messias (2 Sm 7:13), o tabernáculo de Davi (At 15:16),
o reino do Filho do homem (Mt 13:41; Ap 11:15). O reino do Pai é a parte
celestial do milênio. O reino do Filho do homem é a parte terrena do
milênio. No milênio, os vencedores na parte celestial reinam com Cristo
sobre a parte terrena. Na parte terrena está o reino restaurado de Davi,
onde Cristo como o Filho do homem, o descendente real de Davi, será o Rei
sobre os filhos de Israel.
Durante este tempo os filhos de Israel serão sacerdotes (Zc 8:20-23;
Is 2:2, 3). Os santos vencedores serão reis na parte celestial, e a nação
restaurada de Israel será os sacerdotes na parte terrena, ensinando as
nações a conhecer a Deus e a servi-Lo. As nações serão o povo na parte
terrena do milênio (Mt 2:32-34). As ovelhas em Mateus 25 serão as nações
e as nações serão o povo.
No milênio, então, haverá três tipos de povos: os santos vencedores
como reis na parte celestial, os judeus restaurados como os sacerdotes na
parte terrena, e as ovelhas, as nações, como o povo. Os santos vencedores
terão as nações para governar e os judeus terão as nações para ensinar. As
nações serão o povo governado por nós e ensinado pelos judeus.
O reino dos céus terminará no milênio (Ap 20:7). O reino de Deus,
entretanto, continuará pela eternidade.

O REINO DE DEUS EM SUA MAIS PLENA EXTENSÃO


A mais plena extensão do reino de Deus começará no novo céu e nova
terra (1 Co 15:24; Ap 21:1, 2). Neste reino eterno todos os santos redimidos
ao longo dos séculos desfrutarão as bênçãos eternas da vida eterna na
Nova Jerusalém, como filhos de Deus e reis com Cristo sobre as nações
para sempre (Ap 21:6, 7; 22:3b-5, 14, 17). Como família real, teremos dois
títulos: filhos de Deus e reis sobre as nações. O remanescente das nações
purificadas será o povo das nações para desfrutar eternamente a bênção
restaurada da criação de Deus (Ap 21:3-5; 22:2b, 3a).
Até aqui vimos um quadro claro do reino de Deus e do reino dos céus.
O nosso Deus tem um reino para levar a cabo o Seu propósito, cumprir a
Sua vontade, e exercer a Sua justiça. Esse reino mostra a Sua multiforme
sabedoria. O nosso Deus é justo, sábio e de propósito. A verdade do reino
nos encorajará a prosseguir, e ela também será uma advertência para
estarmos no lugar correto e no trilho correto a fim de chegarmos ao destino
correto.

CAPÍTULO OITO
A NOVA JERUSALÉM —
A CONSUMAÇÃO FINAL E MÁXIMA
(1)
Leitura da Bíblia: Ap 21:1-3,9-14,16-23; 22:1,2,5,14,17

CRIAÇÃO E EDIFICAÇÃO
Requer-se toda a Bíblia para nos dar a revelação completa de Deus.
Gênesis fala-nos acerca da criação de Deus. Então, no fim da Bíblia vemos
uma cidade santa. No começo há a criação e, no fim, uma cidade. Na
criação Deus chamou "à existência as coisas que não existem" (Rm 4:17),
mas uma cidade significa algo mais porque uma cidade é uma edificação.
Na economia de Deus, então, Ele primeiro criou. Após a criação, Ele
começou a edificar.
A idéia de edificação percorre todo o Novo Testamento. Depois que
Pedro reconheceu que Jesus era o Filho de Deus e o próprio Cristo, o
Senhor disse a ele: "Sobre esta pedra edificarei a minha igreja" (Mt 16:18).
Aqui está a idéia de edificação em Mateus 16.
A idéia de edificação na realidade veio muito mais cedo. Para Deus o
que estava acontecendo, mesmo nos tempos do Velho Testamento, era uma
edificação. Em Mateus 21 o Senhor usou a parábola de uma vinha para
representar a nação judaica. No final da parábola o Senhor disse aos
líderes judeus que, por causa de esterilidade deles, o senhor da vinha
voltar-se-ia da vinha para uma outra nação (isto é, para a igreja) (vs. 33-
43). O Senhor disse a eles: "A pedra que os construtores rejeitaram, essa
veio a ser a principal pedra, angular" (v. 42). O Senhor estava lhes dizendo
que eles eram os construtores e que Ele era a pedra angular, a qual eles,
como líderes judeus, estavam rejeitando. Essa pedra rejeitada tornou-se,
na soberania de Deus, a pedra angular da edificação.
Cristo, como a pedra angular, é a base do evangelho. Muitos
pregadores citam Atos 4:12, que diz: "Não existe nenhum outro nome...
pelo qual importa que sejamos salvos." Temos de perceber, porém, que Atos
4:12 está baseado no versículo 11. O versículo 11 nos diz que Cristo, a
pedra rejeitada, tornou-se a pedra angular. Esta pedra angular é o próprio
Salvador no versículo 12. Cristo ser Salvador é baseado no fato de ser Ele a
pedra angular, a qual foi rejeitada pelos construtores na economia do Velho
Testamento. Os líderes judeus até aquele tempo eram os construtores aos
olhos de Deus; a pedra rejeitada tornando-se a pedra angular é uma
profecia no Salmo 118:22. Aos olhos de Deus, então, tanto a época do
Velho Testamento como a do Novo Testamento tem sido o seu período de
edificação.
Logo depois de Sua criação Ele começou a edificar. A Sua criação foi
para produzir os materiais de construção para Sua edificação. Deus criou o
universo e o homem com o propósito de edificar uma cidade. Criação
significa chamar coisas que não existem à existência. Uma cidade,
entretanto, é uma edificação a partir de coisas criadas. Deus tem duas
obras. A primeira é a obra de criação, e a segunda é a obra de edificação. A
Nova Jerusalém, uma cidade como o edifício de Deus, é a conclusão de
toda a revelação de Deus.

O HOMEM REGENERADO, MATERIAL DE EDIFICAÇÃO DE DEUS


Para que Deus tenha uma edificação, o centro de Sua criação, o
homem, necessita ser regenerado. O homem regenerado torna-se o material
de edificação de Deus. Deus não se infundiu para dentro de nenhum dos
itens de Sua criação. Em Sua velha criação, Ele soprou o sopro de vida
para dentro do homem (Gn 2:7), mas aquele sopro não era algo de Sua
essência ou natureza. Era somente Seu sopro. Aquele sopro de vida,
neshamah (hebr.), tornou-se o espírito do homem; como Provérbios 20:27
diz: "O espírito (neshamah) do homem é a lâmpada do Senhor." Nada da
essência de Deus foi infundido para dentro do homem até a época do Novo
Testamento e o completar da plena redenção do Senhor Jesus Cristo.
Então Deus veio para dispensar, não somente algo Dele mesmo, mas
também Ele mesmo para dentro do homem para que o homem pudesse ser
regenerado por Ele (Jo 3:5), nascido Dele (Jo 1:12,13).
Quando nascemos de nosso pai terreno, a essência e natureza de
nosso pai foram dispensadas a nós. Nós agora somos pessoas regeneradas,
a descendência de Deus. Somos filhos nascidos de Deus, não filhos
adotados por um pai adotivo. Fomos gerados de um pai que gera. Tudo o
que o Pai é foi dispensado para dentro de nós, Seus filhos.
A única coisa Dele que não temos é Sua deidade. Ele é o próprio
Deus. Mesmo que tenhamos nascido Dele, nós não participamos de Sua
deidade. Dizer que somos deificados no sentido de ter Sua deidade é
blasfêmia. Nós O adoramos. Mas nós mesmos não somos objeto de
adoração de nenhum homem e nunca poderemos ser. Isso seria blasfemo.
Entretanto, devemos ter ousadia em dizer: "Aleluia! Eu tenho a vida
de Deus (Cl 3:4; 1 Jo 5:12) e a natureza de Deus (2 Pe 1:4). Em vida e
natureza eu sou igual ao meu Deus, porque nasci Dele." A Sua vida é
nossa vida e Sua natureza é nossa natureza. Aleluia! Somos os excelentes
filhos de Deus (Rm 8:16; 1 Jo 3:1). A última estrofe do hino 59 fala sobre
nós e Deus: "Nada difere; em vida somos um."
O material natural proveniente da criação de Deus não está
qualificado para ser usado como material de Sua edificação porque ele não
tem nada da essência de Deus. O que Deus usa para a Sua edificação tem
de ter a Sua essência.

UMA MONTANHA DE OURO


Em nossa vida diária somos incomodados pela poeira. Gosto do Texas
mas não gosto do fato de ali ventar muito. Muito vento traz poeira. Quando
estivermos na Nova Jerusalém, porém, não haverá poeira. A Nova
Jerusalém, a cidade santa é uma montanha de ouro (Ap 21:18). Essa mon-
tanha tem cerca de 2200 quilômetros de altura, a distância aproximada de
Porto Alegre a Brasília. A Nova Jerusalém tem doze mil estádios de altura
(Ap 21:16); um estádio é igual a 182 metros. Vocês já viram uma montanha
tão alta? Levariam cinqüenta dias para subir a pé, se andassem 43
quilômetros por dia.

OURO, PEDRAS PRECIOSAS E PÉROLAS


A muralha da cidade é feita de jaspe sobre uma fundação de doze
pedras preciosas diferentes (Ap 21:18-20). As pedras preciosas foram
primeiramente criadas, e então transformadas por pressão e calor. Elas
não são meramente naturais, mas foram criadas e, então, transformadas.
No Novo Testamento existe um forte conceito de transformação (2 Co 3:18).
As doze portas são doze pérolas (Ap 21:21). As pérolas também passaram
por um processo. As pérolas são produzidas por ostras nas águas da
morte. Quando a ostra é ferida por uma partícula de areia, ela expele sua
secreção de vida em volta da areia e faz disso uma pérola preciosa. Nesse
processo podemos ver a morte, o matar, e a secreção do suco de vida para
produzir a pérola.
A cidade inteira é edificada com ouro, pedras preciosas e pérolas. Não
haverá necessidade de varrer o chão. Não há poeira! Todas as coisas
criadas foram transformadas.

A EDIFICAÇÃO DIVINA COM A HUMANIDADE TRANSFORMADA


Paulo, em 1 Coríntios 3, diz que o único fundamento foi lançado, mas
temos de ser cuidadosos em como edificamos sobre ele. Podemos edificar
com duas categorias de materiais: ouro, prata e pedras preciosas ou
madeira, feno e palha (3:10-12). Madeira, feno e palha tornam-se pó depois
que são queimados, mas ouro, prata e pedras preciosas, não.
No conceito de Paulo, o homem natural criado é madeira, feno e
palha; os homens regenerados e transformados são ouro, prata e pedras
preciosas. Quando Pedro veio ao Senhor Jesus, ele era homem que tinha a
natureza do pó, um homem feito de pó (Gn 3:19), porque ele nasceu da
raça adâmica. Adão foi feito do pó, e Pedro nasceu um homem que tem a
natureza do pó. No entanto, o Senhor Jesus o chamou Cefas (grego), que
significa uma pedra (Jo 1:42). A mudança do nome de Simão pelo Senhor
Jesus para Pedro indicava que Pedro seria transformado.
Essa foi a razão porque Pedro foi muito forte quanto a essa questão já
na primeira epístola que escreveu. Ele disse que o Senhor Jesus é a pedra
viva (1 Pe 2:4), e que, quando viemos a esta pedra viva, todos nos tornamos
pedras vivas para sermos edificados uma casa espiritual (2:5). A casa
espiritual não é edificada com madeira, feno e palha. Ela é edificada com
materiais transformados. Porque a nossa mente é plenamente ocupada
pelos pensamentos naturais de ética, filosofia e moral, nós negligenciamos
essa questão no Novo Testamento. Todo o Novo Testamento, entretanto,
está saturado com esse conceito da edificação divina da humanidade
transformada. A conclusão da Bíblia é uma cidade santa composta de ouro,
pérolas e pedras preciosas.
OS DOIS EXTREMOS DA BÍBLIA REFLETINDO UM AO OUTRO
Todos os materiais que compõem essa cidade santa são encontradas
nos dois primeiros capítulos de Gênesis. Em Gênesis 2 existe a árvore da
vida. Ao lado da árvore há um rio. Onde o rio flui há ouro, "e o ouro dessa
terra é bom". Há o bdélio, uma pérola produzida pela vida vegetal, e a
pedra de ônix (Gn 2:9-12). Em seguida, no final do capítulo, existe uma
noiva para Adão (2:21-23).
Em Apocalipse 21 e 22 há uma noiva, uma cidade edificada com
ouro, pérolas e pedras preciosas. Na cidade há um rio e no rio está a árvore
da vida. Esses seis itens — a noiva, o ouro, as pérolas, as pedras preciosas,
a árvore da vida e o rio — todos são encontrados nos primeiros dois
capítulos de Gênesis. A diferença é que em Gênesis, a cidade não tinha
ainda sido edificada. Os três materiais estavam ali mas não edificados em
uma cidade. Seis mil anos mais tarde, por meio do trabalho edificador de
Deus, todos os materiais foram edificados em uma cidade. Vocês vêem
como esses dois extremos na Bíblia refletem um ao outro?
Em 1963 fui a Tyler, Texas, e fiquei na casa de um irmão. Depois de
uma das reuniões um amigo dele, que era um ministro itinerante, telefonou
para seu amigo James Barber, em Plainview, Texas. Ele disse para James
vir e ouvir-me a qualquer custo. Na noite seguinte, James Barber estava na
reunião. Naquela noite dei uma mensagem sobre como os dois extremos da
Bíblia refletem um ao outro. Esse homem, James Barber, foi capturado.
Depois da conferência ele disse que tinha segurança em tomar esse
caminho. Esse foi o início da vida da igreja no Texas. Espero que nós
também possamos ter tal impressão gloriosa do início e do final da Bíblia
refletindo um ao outro. Essa é a economia de Deus — edificar Sua
habitação eterna com as coisas criadas e transformadas para serem Seus
materiais.

A EDIFICAÇÃO DE DEUS EM ÊXODO


Quando os filhos de Israel foram trazidos ao monte Sinai, Deus
revelou-lhes a planta do Seu tabernáculo e eles o edificaram. Aquilo era um
tipo. No Santo dos Santos, dentro do tabernáculo, não havia nada para ser
visto a não ser ouro. O ouro revestia as tábuas, e no teto podiam ser vistos
fios de ouro. Sobre o sumo sacerdote estava o peitoral de ouro com-
plementado por doze pedras preciosas. As doze pedras no peitoral tinham
os nomes das doze tribos de Israel (Êx 28:15-21). Esse era o "alfabeto"
especial de Deus para revelar Seu pensamento a Seus filhos por meio do
Urim e Tumim (Êx 28:30). Podemos ver, então, que o pensamento da
edificação de Deus, usando pedras preciosas, está também em Êxodo.

A EDIFICAÇÃO DE DEUS NO NOVO TESTAMENTO


No Novo Testamento somos incumbidos a sermos cuidadosos em
como edificamos (1 Co 3:10-12). Não use madeira, feno e palha, isto é, não
use o seu homem natural. A igreja não é edificada com o homem natural.
Ela é edificada com o homem regenerado e transformado. Quando você traz
a sua vida natural para dentro da igreja, você faz da igreja não mais a
igreja. Isso é o que está acontecendo hoje. Muitos cristãos, mesmo obreiros
cristãos, estão fazendo da igreja não a igreja ao usar a maneira natural, a
maneira carnal, a maneira do homem, não a maneira transformada e
regenerada.
Pedro nos diz que como bebês recém-nascidos precisamos beber o
leite da Palavra para que possamos ser transformados em pedras preciosas
para sermos edifícados uma casa espiritual (1 Pe 2:2-5). Os escritos de
João enfatizam especialmente essa questão de transformação. No primeiro
capítulo de seu Evangelho existe o Cristo encarnado como o tabernáculo de
Deus (1:14). Então, nos dois últimos capítulos de Apocalipse de João existe
o tabernáculo ampliado, incluindo não somente Cristo, mas também todos
os Seus crentes, porque naquele tempo eles foram regenerados,
plenamente transformados e edifícados juntos para dentro de uma
entidade. Isso é a Nova Jerusalém. Essa é a verdadeira revelação de Deus.
A Bíblia começa com a criação de Deus e conclui com a Sua
edificação. Essa edificação é uma entidade regenerada e transformada. As
pérolas indicam regeneração. É por isso que todas as portas de entrada são
pérolas. Sem regeneração ninguém pode entrar no reino de Deus (Jo 3:5).
Regeneração é a entrada para o reino de Deus, conforme plenamente
representado pelas portas de pérola. As pedras preciosas significam
transformação. Depois de entrar nesse reino pela porta de pérola, somos
gradualmente transformados para a edificação.

O TABERNÁCULO DE DEUS
A Nova Jerusalém será o tabernáculo de Deus com os homens na
eternidade. O tabernáculo em Apocalipse não é um termo novo. Ele é
plenamente revelado e retratado em Êxodo 25 a 40. Então, João 1:14 diz
que a Palavra tornou-se carne e tabernaculou entre nós. Quando Jesus
estava nesta terra, Ele era um tabernáculo. Então, nos últimos dois
capítulos da Bíblia está o tabernáculo eterno. Portanto, para entender os
dois últimos capítulos de Apocalipse, temos de voltar e estudar Êxodo 25 a
40 e João 1:14.

O AGREGADO DE TODOS OS CANDELABROS


A cidade santa na montanha de ouro é o agregado de todos os
candelabros. A cidade inteira tem uma rua (Ap 21:21; 22:2 - lit.), contudo
essa única rua alcança todas as doze portas. Como uma rua em uma
cidade poderia servir as doze portas? Também, a muralha tem cento e
quarenta e quatro côvados de altura (21:17), e a própria cidade tem doze
mil estádios de altura (21:16). Esses fatos indicam que a cidade
propriamente dita deve ser uma montanha. No topo da montanha há um
trono, do qual a rua desce em espiral até a parte mais baixa para alcançar
as doze portas. Ela deve ser uma rua espiral, espiralando-se ao longo da
montanha até circular por todas as doze portas. Uma rua, descendo do
topo até a parte mais baixa, alcança e serve todas as doze portas. No topo
dessa montanha de ouro está o trono como o centro. No trono está Cristo
como o Cordeiro com Deus Nele (22:1). Esse Cordeiro é a lâmpada com
Deus Nele como a luz (21:23; 22:5). Isso indica que Deus está no Cordeiro
assim como a luz está na lâmpada.
Essa alta montanha de ouro é um suporte. Sobre esse suporte está
uma lâmpada; portanto, isso é um candelabro de ouro. Isso é um
candelabro de ouro com Cristo como a lâmpada e Deus dentro Dele como a
luz, brilhando pela eternidade. Assim, a cidade santa na montanha de ouro
é o agregado de todos os candelabros, a totalidade de todos os candelabros
de hoje, brilhando para a glória de Deus na eternidade no novo céu e nova
terra.

A Cidade e Sua Rua


A cidade e sua rua são de ouro puro como vidro transparente
(21:18b, 21b - lit.). Ouro transparente representa a natureza de Deus. Os
mestres da Bíblia em geral concordam que, em prefiguração, ouro significa
a natureza divina, a essência divina.

Os Doze Fundamentos e as Doze Portas


Os doze fundamentos de doze pedras preciosas diferentes, levando o
nome dos doze apóstolos, representam todos os santos do Novo
Testamento, representado por estes doze apóstolos (21:14, 19, 20). A Nova
Jerusalém é uma composição de todos os santos redimidos, tanto do Velho
como do Novo Testamento. Os doze apóstolos representam os santos do
Novo Testamento, enquanto os nomes das doze tribos nas doze portas
representam os santos do Velho Testamento (21:12, 13, 21a).
As pérolas representam os santos produzidos por meio do Cristo
encarnado, crucificado e ressuscitado. Em Sua encarnação Ele era como
uma ostra viva nas águas da morte. Então, Ele foi ferido por nós, as
pequenas partículas de areia. Essas feridas levaram-No a liberar o Seu
suco de vida em volta de nós, assim tornando-nos pérolas. Aqui está a
encarnação, crucificação e ressurreição. Por meio desse processo nós, os
grãos de areia, tornamo-nos pérolas preciosas.

Pedras Preciosas
O fundamento e a muralha edificadas com pedras preciosas
representam os santos transformados pelo Espírito Santificador (21:19, 20,
18a, 11b). Fomos feitos do pó, mas fomos regenerados em pedra e
transformados em pedras preciosas. O pó, regenerado em pedra e
transformado em pedra preciosa, está qualificado para ser usado como
material para a edificação de Deus.

O Comprimento, Largura e Altura da Cidade


O comprimento, a largura e a altura da cidade são iguais, assim como
o Santo dos Santos no Velho Testamento tinha três dimensões iguais (1 Rs
6:20). A medida lá é vinte côvados de comprimento, vinte côvados de
largura e vinte côvados de altura. Esse é o Santo dos Santos na
prefiguração do templo. O Santo dos Santos no tabernáculo tem dez
côvados por dez côvados por dez côvados (Ex 26:2-8). Em ambos os casos,
as três dimensões são iguais. O princípio é que tal edificação de três
dimensões iguais representam o Santo dos Santos, que é o próprio lugar
onde Deus habita (Ap 21:16). A cidade inteira, então, é o próprio lugar de
habitação de Deus.

Sem Templo
João diz que ele não viu nenhum "santuário, porque o seu santuário
é o Senhor, o Deus Todo-poderoso e o Cordeiro" (21:22). Isso indica que a
cidade inteira é o templo. Primeiramente há o tabernáculo em Êxodo.
Então, depois de entrar na boa terra, os filhos de Israel edifícaram um
templo, que substituiu o tabernáculo. Mesmo antes de o templo ser
edificado, em 1 Samuel 3:3 o tabernáculo era chamado o templo. Isso quer
dizer que o tabernáculo e o templo, na realidade, referem-se a uma coisa
só. Um podia ser desmontado e movido de um lugar para outro no deserto;
o outro tinha uma localização estabelecida na boa terra como uma
edificação mais permanente.
A cidade santa é chamada o tabernáculo. No Velho Testamento o
templo estava na cidade de Jerusalém, mas em Apocalipse 21 e 22 a cidade
inteira é o tabernáculo e o templo. Esse templo não é somente a habitação
de Deus, mas também o lugar de habitação de todos os que O servem.
Naquele tempo todos os santos serão sacerdotes com um sacerdócio eterno.
Todos nós O serviremos (22:3). O nosso lugar de habitação, então, será o
templo. A Nova Jerusalém é um grande templo, onde tanto Deus como os
Seus redimidos habitam juntos.

A Glória de Deus como a Luz e o Cordeiro como a Lâmpada


"A glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada" (Ap
21:23). "Nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o
Senhor Deus brilhará sobre eles" (22:5). A glória de Deus como a luz e o
Cordeiro como a lâmpada, significam que Deus em Cristo é a luz da Nova
Jerusalém na eternidade. Na cidade nova não há necessidade de sol, da luz
natural, nem de nenhuma lâmpada feita por homens porque o próprio
Deus será a luz e Cristo será a lâmpada, brilhando Deus para iluminar a
cidade inteira.Isso quer dizer que Deus em Cristo é tudo na Nova
Jerusalém.

O Trono de Deus e do Cordeiro


O trono de Deus e do Cordeiro é o centro administrativo da cidade.
Dele procede o rio da água da vida no meio da rua, com a árvore da vida,
como uma videira, crescendo ao longo das duas margens (22:1, 2). A rua é
uma espiral, e o rio está na rua. Desde que a árvore da vida cresce ao longo
de ambas as margens do rio, ela deve ser uma videira. Uma árvore ereta
não poderia crescer nas duas margens. Ela deve ser, portanto, uma videira,
crescendo espiralmente ao longo da rua. João 15 fala de uma videira (v. 1).
Jesus é a videira, que é a árvore da vida.
Em um programa de rádio um mestre da Bíblia foi perguntado acerca
da árvore da vida. Ele disse que a árvore da vida já não existe. Isso é
incorreto. A árvore da vida permanece hoje, e ela permanecerá para
sempre. Em Apocalipse 2:7 o Senhor Jesus disse que àquele que vencer Ele
"dará de comer da árvore da vida". Ainda hoje essa promessa está sendo
cumprida. A árvore da vida, da qual estamos comendo, é Jesus (Jo 6:57). O
Senhor Jesus nos disse, por um lado, que Ele é o pão da vida (6:48),
tipificado pelo maná. Então, por outro lado, Ele nos disse em João 15 que é
a videira, e em 14:6 que Ele é a vida. Como a videira e a vida Ele é a árvore
da vida. A árvore da vida em Gênesis 2:9 representa Cristo. Ele veio a nós
como a realidade em João 14 e 15. Ainda hoje Ele é a árvore da vida da
qual podemos comer.
A árvore da vida, como a videira crescendo ao longo das duas
margens do rio, significa que Deus no Cordeiro é o centro da Nova
Jerusalém e a supre com a Sua vida divina para nutri-la e satisfazê-la. A
rua, na qual o rio da água da vida flui, desce do topo da montanha
espiralmente para alcançar todas as doze portas nos quatro lados da
cidade para sua comunhão (22:1, 2). A rua é para comunicação;
comunicação é comunhão. Em 1 João 1:1 e 3 vemos que dessa vida divina
sai a comunhão divina. A rua, o rio e a árvore da vida são para comunhão.
Hoje, na restauração do Senhor, estamos nessa comunhão, que está ao
longo da rua com o rio fluindo e a árvore crescendo.

A NOIVA, A ESPOSA DO CORDEIRO


A consumação final e máxima é a noiva, a esposa do Cordeiro (21:2,
9). A cidade santa inteira é uma noiva. No Evangelho de João, quando os
discípulos de João estavam com ciúmes de Jesus, João disse: "O que tem a
noiva é o noivo" (Jo 3:26-29). Como o amigo do Noivo, João estava alegre
por seus seguidores o deixarem e irem a Jesus, porque Ele era o noivo. A
regeneração em João 3 é para a produção da noiva.
Consumadamente, seremos uma mulher coletiva pela eternidade (Ap
21:2). O único homem pela eternidade é nosso Deus, nosso Redentor,
nosso Senhor. Seremos uma mulher coletiva para combinar com Ele.
Finalmente, então, o que provém da dupla obra de Deus — criação e
edificação — é um casal. Deus está casado com o homem e o homem está
casado com Deus. Na conclusão dos sessenta e seis livros da Bíblia está
Apocalipse 22:17 que diz: "O Espírito e a noiva dizem..." A conclusão da
Bíblia é aquilo que o casal diz.
Essa noiva que combina com o Espírito é a consumação final e
máxima de todos os homens tripartidos, redimidos, regenerados,
transformados e glorificados. O Espírito é o Espírito todo-inclusivo como a
consumação final e máxima do Deus Triúno. O Espírito é o Deus Triúno
alcançando-nos, pois O que alcança é a consumação. Ele passou pelos
processos de encarnação, viver humano, crucifícação, ressurreição e
ascensão.
Hoje o nosso Deus é um Deus processado. No princípio era a Palavra,
e a Palavra era Deus, e essa Palavra tornou-se carne. A encarnação é um
processo. Esse que se encarnou, viveu na terra na casa de um pobre
carpinteiro. Depois de trinta e três anos e meio Ele foi levado como um
cordeiro para o matadouro, e foi imolado na cruz. Isso também foi um
processo. Ele foi ao Hades (At 2:27; Ef 4:9), e Ele entrou na ressurreição.
Esses também são processos. Certamente todos esses passos são
processos pelos quais Ele passou. Hoje nosso Deus não pode ser igual ao
que era antes da encarnação.
Vocês crêem que Deus é igual ao que era antes da encarnação?
Hebreus 13:8 diz: "Jesus Cristo ontem e hoje é o mesmo, e o será para
sempre." Se disserem que desde a Sua ressurreição Ele é o mesmo ontem,
e hoje e para sempre, concordo com vocês; mas se disserem que esse
versículo é verdadeiro para Jesus antes da encarnação, eu não concordo.
Ele não tinha carne antes de Sua encarnação. Por todos esses processos
Deus tornou-se nosso Redentor, nosso Salvador e nossa vida. Ele até
mesmo tornou-se o Espírito que dá vida, rico, abundante, dentro de nós
hoje.
Assim, na conclusão da Bíblia está a consumação do Deus Triúno
processado, enquanto a esposa é o agregado e a consumação de todos os
homens tripartidos, redimidos, regenerados, transformados e glorificados.
Aleluia! O Deus Triúno casa com o homem tripartido. Eis aqui um casal
eterno expressando o Deus Triúno pela eternidade. O homem tripartido na
eternidasde estará desfrutando desse rico Deus Triúno.
Fomos escolhidos e predestinados, e fomos chamados, salvos e
regenerados. Agora estamos sendo transformados para sermos materiais
preciosos para que possamos ser edificados a fim de sermos uma casa
espiritual, para servir a Deus e para ser o Corpo de Cristo e expressá-Lo.
Esse é o nosso objetivo. Somos os filhos de Deus, sendo transformados
para que possamos ser edificados como uma casa para servir a Deus e
como o Corpo para expressar Cristo.

CAPÍTULO NOVE
A NOVA JERUSALÉM —
A CONSUMAÇÃO FINAL E MÁXIMA
(2)
Leitura da Bíblia: Ap 1:1; 21:1-3,10-21

A CHAVE PARA ENTENDER OS ESCRITOS DE JOÃO


O livro de Apocalipse é difícil de ser entendido. É por isso que Deus
em Sua sabedoria usa sinais para fazê-lo conhecido a nós. Apocalipse 1:1
diz que Deus deu a revelação de Jesus Cristo para Ele mostrar a Seus
escravos: "notificou por meio de sinais" (lit.). Sinais são figuras. Ao ensinar
crianças pequenas nós fazemos as coisas conhecidas a elas por meio de
figuras. Algumas vezes quando falo, torno as coisas conhecidas por meio de
diagramas. João recebeu uma revelação a respeito de coisas tão divinas,
tão misteriosas, tão profundas, que nenhuma palavra poderia expressá-la
adequadamente. Assim, a revelação foi tornada conhecida por meio de
sinais.
Não somente o livro de Apocalipse, mas o Evangelho de João também
é um livro de sinais. Em nosso Estudo-Vida daquele Evangelho salientei
que a palavra milagre não é usada. A mudança da água em vinho pelo
Senhor foi um milagre, mas João chama isso de sinal (2:11), indicando que
isso tem um significado. A mudança da água em vinho pelo Senhor
significa Seu mudar a morte em vida. A ressurreição de Lázaro foi um
milagre, mas João chama isso de sinal (11:47).
João 1:14 fala da Palavra tornando-se carne e tabernaculando (lit.)
entre nós. "Tabernaculou" é um verbo. Esse sinal nos dá a chave para
entender como o Senhor Jesus viveu nesta terra. Ele viveu aqui como o
tabernaculo de Deus. Para entender plenamente o tabernaculo, temos de
voltar para Êxodo, onde muitos capítulos descrevem o tabernáculo. O
tabernáculo de Deus entre o Seu povo não era somente onde Ele habitava
mas também onde os que O serviam entravam para habitar com Ele. Esse
é Jesus! Enquanto Jesus estava na terra, Ele estava "tabernaculando".
Deus habitava Nele e todos os servidores de Deus, os que amavam Jesus,
podiam entrar Nele para ficar com Deus. Essa única palavra como um sinal
descreve o que nenhuma palavra comum poderia expressar.
Também em João o Senhor Jesus diz: "Eu sou a porta" (10:7). Vocês
crêem que o Senhor é uma porta com uma verga e um umbral? Uma porta
é um sinal, significando que Ele é a própria abertura para as pessoas
entrarem e para saírem.
Temos de enfatizar o primeiro versículo de Apocalipse, que diz que a
revelação divina é dada a Jesus Cristo, e que Ele a tornará conhecida por
meio de sinais. Essa é a chave para abrir todo o livro. Sem essa chave, o
livro de Apocalipse está fechado para nós. Para entendermos o significado
real desse livro, temos de entender esses sinais.
OS SINAIS PRINCIPAIS EM APOCALIPSE

Os Candelabros
O primeiro sinal em Apocalipse que o apóstolo João viu são os
candelabros. No capítulo um nos é dito que João, no dia do Senhor, na ilha
de Patmos, viu sete candelabros de ouro. Ele viu os candelabros. Os sete
candelabros são as sete igrejas (1:20). Descrever o que a igreja é no seu
significado espiritual usaria mil livros. Mas somente um sinal, uma figura,
é melhor do que mil palavras.
Que é a igreja? Que deveria ser a igreja? Olhem para o candelabro. A
igreja tem de ser de ouro. Ouro significa a essência de Deus, a natureza de
Deus. Isso quer dizer que a igreja tem de ter a essência de Deus como a
sua substância. Este ouro tem de estar na forma de um candelabro, um
candelabro brilhando com uma intensidade sétupla. Algumas lâmpadas
têm um interruptor triplo; mas vocês já viram uma lâmpada sétupla? O
candelabro tem um brilho sétuplo. A natureza de ouro significa a essência
de Deus, a forma representa Cristo como a corporificação do Deus Triúno,
e as sete lâmpadas são os sete Espíritos (4:5 - VRC).
A Trindade está aqui: o Espírito está brilhando, Cristo é a
corporificação e Deus é a própria essência. Que é a igreja? A igreja é uma
composição, uma constituição do Deus Triúno, brilhando as virtudes e os
atributos de Deus na noite escura para que todos vejam a luz. Precisamos
de mensagem após mensagem para descrevermos o que a igreja é, mas a
sabedoria de Deus é mostrar-nos um candelabro. Santos, isso é a igreja.
Olhem para a igreja. O candelabro é a igreja! A igreja não é de barro, mas
de ouro. Ela é da natureza divina de Deus. Ela não é sem forma, mas tem
forma. Ela não é trevas, mas resplandecente. Isso é a igreja!

As Sete Estrelas
O segundo sinal são as sete estrelas, que acompanham os
candelabros. As sete estrelas são os mensageiros ou os anjos das igrejas
(1:20). Em cada igreja existem alguns irmãos que são estrelas em
espiritualidade. Eles são estrelas brilhantes. Em Daniel 12:3 é dito que
aqueles que converterem muitos à justiça brilharão como estrelas. Em
Mateus 13:43 o Senhor diz que o justo brilhará no reino vindouro como o
sol. Mas os mensageiros da igreja não precisam esperar até a era vindoura
para brilhar. Eles estão brilhando agora mesmo. Espero que todos os
presbíteros nas igrejas sejam estrelas brilhantes. Quando as pessoas vão a
eles, elas devem vir para a luz. Um estrela brilha, ilumina, em tempo de
trevas. Ao olhar para as estrelas podemos aprender que tipo de pessoas
devem ser os líderes na igreja.

Jaspe — a Aparência de Deus


Depois que João viu os candelabros e as estrelas brilhantes, ele viu
um trono no céu e Alguém sentado no trono. Aquele, em aparência, era
como pedra de jaspe (4:2, 3). João viu a Deus com aparência de jaspe.
Jaspe é uma bonita cor esverdeada, significando plenitude de vida. A
plenitude de vida é a aparência de Deus. Jaspe é também a aparência da
Nova Jerusalém (21:11), e toda a sua muralha é construída de jaspe
(21:18). Isso indica que a cidade inteira possui a aparência de Deus,
porque ela é constituída daqueles que foram transformados em Sua
imagem.
Devemos ler Apocalipse 21:11 com 2 Coríntios 3:18: "E todos nós com
o rosto desvendado, contemplando e refletindo como um espelho a glória do
Senhor, estamos sendo transformados à Sua própria imagem de glória em
glória" (lit.). Apocalipse 21:11 descreve a Nova Jerusalém como tendo a
glória de Deus. O seu fulgor era semelhante a uma pedra preciosíssima,
como pedra de jaspe cristalina. A cidade toda possui a glória de Deus e
brilha como jaspe; isto é porque toda a composição da Nova Jerusalém foi
transformada na imagem de Deus. Aquele sentado no trono, que é Deus,
assemelha-se ao jaspe, e a cidade inteira assemelha-se ao jaspe. Isso quer
dizer que Gênesis 1:26 foi cumprido: "Façamos o homem à nossa imagem."
O homem era para ser a expressão de Deus, e isso é cumprido na Nova
Jerusalém. Toda a Nova Jerusalém é uma imagem, uma expressão, de
Deus. A aparência de Deus pode ser descrita por um sinal, o sinal do jaspe.

O Leão da Tribo de Judá


Em Apocalipse 5:5 Jesus Cristo é chamado de o Leão da tribo de
Judá. Esse título significa Cristo como o Rei triunfante. Todas as criaturas
vivas estão debaixo Dele. Ninguém O pode subjugar; antes, Ele subjuga
todas as coisas. A primeira vez que vi um leão no zoológico fiquei temeroso
de que a grade não fosse bastante forte para restringir aquela criatura
ousada e triunfante. Nada e ninguém pode subjugar o nosso Cristo.

O Cordeiro
Cristo não somente é um Leão, mas também um Cordeiro (5:6). Para
Satanás e todos os inimigos Cristo é um
Leão, mas para nós, os redimidos, Ele é um Cordeiro. Vocês têm
medo de um cordeiro? Vocês podem ter medo de leão, mas sentem amor
por um cordeiro. Para nós o Senhor Jesus é um Cordeiro, um Cordeiro
redentor. Pensar que na eternidade, no trono de Deus haverá literalmente
um cordeiro com quatro patas e uma cauda não é a maneira apropriada de
entender a Bíblia. Lembro-os novamente, Apocalipse é um livro de sinais.

A Mulher Universal e o Filho Varão


A mulher universal em Apocalipse 12 está vestida com o sol. Em sua
cabeça há uma coroa de doze estrelas e sob os seus pés está a lua (v. 1).
Quem é essa mulher? A maioria dos expositores fundamentalistas seguem
o ensino dos Irmãos Unidos, de que essa mulher representa Israel e o filho
varão representa Cristo. Entretanto, depois de muito estudo da Palavra,
percebemos no capítulo doze que essa mulher é composta de dois povos:
aqueles que guardam os mandamentos de Deus e aqueles que carregam o
testemunho de Jesus (v. 17). O povo que guarda a lei são os judeus, Israel.
O povo que carrega o testemunho de Jesus são os crentes do Novo
Testamento. Portanto, dizer que essa mulher representa Israel é somente
verdade parcialmente, deixando de lado os crentes do Novo Testamento.
Dizer que o filho varão nascido dessa mulher é Jesus Cristo é
errôneo. Depois que esse filho varão é arrebatado para o trono de Deus,
três anos e meio se seguem. Os mil duzentos e sessenta dias em 12:6 são
três anos e meio, os quais todos concordam ser o período da grande
tribulação. A grande tribulação veio logo após a ascensão do Senhor? Ela
ainda não veio! Isso indica fortemente que o filho varão aqui não é o Senhor
Jesus.
A mulher veste uma coroa de doze estrelas na cabeça. Ela está
vestida com o sol e a lua está sob os seus pés. Isso indica três categorias
entre o povo redimido de Deus: os Patriarcas, Israel e os crentes do Novo
Testamento. Os Patriarcas são representados pelas estrelas, Israel pela lua
e os crentes do Novo Testamento pelo sol. Essa mulher é, portanto, uma
composição com todo o povo redimido de Deus, incluindo os Patriarcas, os
outros crentes do Velho Testamento e todos os santos do Novo Testamento.
O filho varão é os vencedores de todas as gerações. Através dos
séculos, entre o povo de Deus um pequeno número tem sido martirizado.
Esses foram os fiéis. Imediatamente antes da grande tribulação, esses
santos martirizados serão ressuscitados e arrebatados para o trono de
Deus.

O Grande Dragão Vermelho e a Besta


O grande dragão vermelho significa o diabo, Satanás (12:3, 4). No
começo do capítulo seguinte existe uma besta emergindo do grande mar, o
Mediterrâneo (13:1, 2). Esse é o Anticristo. Na realidade ele é o César
vindouro, o último César do Império Romano renascido.

A Colheita e as Primícias
Nesta terra, Deus tem uma colheita. Essa colheita representa todos
os santos do Novo Testamento vivendo na terra próximo ao tempo da volta
do Senhor (14:15). Dentre esses crentes vivos sairão as primícias. Esses
serão alguns vencedores vivendo entre os crentes que amadurecem mais
cedo e tornam-se as primícias.

A Grande Babilônia
A grande Babilônia representa a Igreja Romana. Ela é chamada de a
grande prostituta (17:1, 5) por causa das suas relações pecaminosas com
os governadores da terra para o benefício dela.

A Esposa do Cordeiro
A esposa do Cordeiro, a noiva em Apocalipse 19:7, será todos os
vencedores ao longo das gerações, incluindo os do
Velho Testamento, isto é, os vencedores mortos e ressurretos mais os
vencedores vivos (as primícias). Eles serão a Sua noiva nos mil anos (20:4-
6). Aquele dia será o dia do casamento. Mil anos para o Senhor são um dia
(2 Pe 3:8). Todo o milênio será um dia de casamento. No dia do casamento
a esposa é uma noiva, mas depois daquele dia ela torna-se uma esposa.
Depois do milênio, na eternidade, a noiva é a esposa. Todos os vencedores
entre o povo redimido de Deus serão Sua noiva.

A Nova Jerusalém
Agora chegamos ao último sinal, a Nova Jerusalém. A Nova
Jerusalém é o conjunto de todos os candelabros. No começo desse livro
existem sete candelabros, candelabros locais nesta era. No final desse livro
existe um conjunto, um candelabro composto, não candelabros locais, mas
o eterno, o universal. Apocalipse inicia com os candelabros e termina com o
candelabro. Os candelabros são sinais das igrejas; a Nova Jerusalém é
também um candelabro, o sinal do lugar de habitação de Deus.

UMA REVISÃO DOS SINAIS


Todos esses sinais são as cenas principais nesta tela da televisão
divina de Apocalipse. O programa começa com sete candelabros,
significando as igrejas; então seguem-se sete estrelas brilhantes,
representando os mensageiros de todas as igrejas. Depois há uma pedra de
jaspe, significando a aparência de Deus, e um leão e um cordeiro, ambos
representando Cristo. Então aparece uma mulher universal com doze
estrelas na cabeça, o sol vestindo-a, e a lua sob os seus pés, e um dragão
vermelho pronto para engolir o seu filho; daí o filho varão gerado por ela é
arrebatado ao trono de Deus. Depois há uma besta emergindo do Mar
Mediterrâneo, há uma colheita nesta terra, e desta colheita há as primícias.
Vemos, então, uma grande prostituta, a grande Babilônia, terrível, feia,
abominável; mas então, aleluia, uma linda esposa, a noiva; então
finalmente, algo mais brilhante, maior, a Nova Jerusalém, a qual é o
tabernáculo de Deus assim como Jesus era o tabernáculo de Deus quando
Ele estava na terra.
Essa Nova Jerusalém não é somente um tabernáculo para Deus, mas
também uma esposa para o Filho de Deus, Jesus Cristo. Deus terá um
tabernáculo e Cristo terá uma esposa. Tanto o tabernáculo como a esposa
são o mesmo: a Nova Jerusalém.

ENTENDENDO APOCALIPSE
Esse é o livro de Apocalipse, contendo todos esses sinais cruciais. Se
vocês os entendem, entendem todo o livro de Apocalipse. Com tal visão
clara e exata, vocês crêem que a Nova Jerusalém será uma cidade física
edificada por Deus ao longo de todos os séculos? Apocalipse é um livro de
sinais. Cada item principal é um sinal. Sinais não devem ser interpretados
literalmente. Vocês acham que a igreja é um suporte de verdade com sete
lâmpadas brilhando? Isso é um entendimento errado. Vocês crêem que
Jesus Cristo é um cordeiro de verdade? Isso é ridículo! Crêem que o César
vindouro do Império Romano será uma besta de verdade que emerge do
Mar Mediterrâneo e pula para a margem? Crêem que a esposa do Cordeiro
em Apocalipse 19 será uma mulher adornada com um longo vestido de
casamento? Novamente, não faz nenhum sentido entender esses fatos
dessa maneira.

INTERPRETANDO A NOVA JERUSALÉM


E quanto a Nova Jerusalém? No mesmo princípio, não faz nenhum
sentido pensar na Nova Jerusalém como uma cidade física. Não é porque
esse livro usa o leão como um sinal de Cristo como o rei triunfante, que
devemos pensar que Cristo é como um leão no zoológico. O leão não é um
leão de verdade, mas ele é um sinal de Cristo como o rei triunfante. O
cordeiro não é um cordeiro de verdade, mas é um sinal de Cristo como o
Redentor. Da mesma forma, a
Nova Jerusalém é um sinal; ela representa algo espiritual.
Um princípio de interpretação da Bíblia é ser consistente. Desde que
não tomemos os outros sinais literalmente, podemos estar certos de que a
Nova Jerusalém não é uma cidade física nela para vivermos. Tal
interpretação é totalmente natural. Se não interpretam Cristo como um
leão com quatro pernas e uma cauda, por que vocês pensariam que a Nova
Jerusalém é uma cidade de verdade? O leão é um sinal, e a cidade é
também um sinal.

A Chave para Apocalipse


Apocalipse 1:1 é o versículo chave para todo o livro. Somente essa
única chave pode abrir todas as portas. Temos a chave-mestra. Podemos ir
a qualquer porta e abri-la. Devemos tomar 1:1 como a chave-mestra. O
ponto chave é "por meio de sinais". Todas as figuras nesse livro são sinais.
Os mestres fundamentalistas concordariam certamente que Cristo
como o cordeiro não tem quatro pernas e uma pequena cauda. Eles não
fariam tal interpretação ridícula. Mas e quanto a Nova Jerusalém? Quando
jovem, também cria que a Nova Jerusalém era uma mansão celestial. Eu
ficava alegre com a crença de que um dia estaríamos em uma mansão.
Como parte de nossa pregação do evangelho, tivemos uma música acerca
de como entraríamos pelos portões de pérolas e andaríamos na rua de
ouro. Gradualmente, entretanto, à medida em que estudava a Bíblia
descobri que a Nova Jerusalém é uma esposa. Quem casaria com uma
cidade literal? Mesmo se tivesse doze portões com pérolas e uma rua de
ouro, alguém casaria com ela?
Ao estudar e entender a Palavra Sagrada, os cristãos freqüentemente
trazem os seus pensamentos naturais. No novo céu e nova terra
habitaremos na Nova Jerusalém. Mas não devemos pensar na Nova
Jerusalém como uma cidade física. É Deus quem será a nossa morada.
Quando jovem, ouvi alguns mestres da Bíblia discutindo o que comeríamos
e onde seria o banheiro na "mansão celestial". Quão pobre é trazer o nosso
pensamento natural!
Hoje perguntei a alguns santos se eles estão na igreja. Quando
responderam sim, pedi-lhes que me mostrassem a igreja. O Novo
Testamento nos diz que a igreja é a casa de Deus, e que Deus está
habitando em Sua casa; mas onde está a igreja? A igreja, como a casa de
Deus e como nosso lar, não é um edifício físico, mas uma composição de
crentes vivos (1 Pe 2:5). Ela não é uma entidade física, sem vida, mas uma
composição orgânica de pessoas vivas. Ela existe onde quer que os crentes
se reúnam. A igreja como a casa de Deus hoje é uma composição de
pessoas vivas; é uma pessoa coletiva. Isso é verdadeiro nesta era e o será
na eternidade.

Consistente com Toda a Bíblia


A idéia da casa de Deus está também no Velho Testamento. Moisés
diz em Salmos 90:1: "Senhor, Tu tens sido nossa habitação de geração em
geração" (lit.).
O Senhor Jesus disse que se alguém O ama, Seu Pai e Ele virão a ele
e farão nele morada (Jo 14:23). Seremos a Sua morada, e Ele será a nossa
morada. Em João 15 o Senhor diz: "Permanecei em mim e eu permanecerei
em vós" (v. 4). Em 1 João 3:24 e 4:15 (lit.) diz que nós habitamos em Deus
e Deus habita em nós.
Nesta era da igreja estamos habitando em Deus e Deus está
habitando em nós. Vocês crêem que quando entrarmos no novo céu e nova
terra Deus sairá de nós e nós sairemos de Deus? Se nesta era podemos
habitar em Deus, tomando-O como nossa habitação, e podemos dar a Deus
um lugar em nós, não é lógico pensar que na eternidade não mais O
teremos como o nosso lugar de habitação, mas que viveremos em uma
cidade de ouro como nosso lugar de habitação.
Temos de crer que o nosso habitar no Senhor e Seu habitar em nós
será intensificado, ampliado e elevado ao máximo. É por isso que João diz
que viu que a cidade não tinha templo nela, "porque o seu santuário é o
Senhor, o Deus Todo-poderoso e o Cordeiro" (Ap 21:22). Essa é uma forte
indicação de que a cidade não é um lugar físico. Nessa cidade o templo é
uma Pessoa. Essa Pessoa é Deus e o Cordeiro. O próprio Deus Triúno será
o templo. Se o santuário dentro da cidade é uma Pessoa, vocês crêem que a
cidade poderia ser algo sem vida?
Desde que o santuário é uma Pessoa divina, o próprio Deus Triúno, a
cidade tem de ser pessoas também. Na realidade, a cidade inteira é o Santo
dos Santos com três dimensões iguais (1 Rs 6:20; Ap 21:16). Uma vez que o
Deus Triúno será o templo e a cidade inteira será o Santo dos Santos, a
cidade não pode ser algo físico. Ela tem de ser uma composição orgânica.
Nos tempos do Novo Testamento a habitação de Deus nesta terra foi
primeiramente uma única Pessoa, Jesus Cristo. Ele era o tabernáculo de
Deus. Então, depois Dele, a igreja é o templo de Deus (Ef 2:21, 22; 1 Co
3:16). Jesus, uma única Pessoa, era o tabernáculo de Deus, Seu lugar de
habitação. Então, a igreja, como uma pessoa coletiva tornou-se o templo de
Deus, a habitação de Deus. Esse é o Novo Testamento. Depois da era do
Novo Testamento, quando entrarmos na eternidade, a habitação de Deus
não mudará de pessoas vivas para uma cidade sem vida, física. Temos de
crer que essas pessoas edificadas juntas como o lugar de habitação de
Deus serão ampliadas e intensificadas. Na era vindoura haverá uma
ampliação destas pessoas vivas como o lugar de habitação de Deus.

Não uma Cidade Literal


Se a Nova Jerusalém fosse uma cidade de verdade feita de ouro,
pérolas e pedras preciosas, isso significaria que uma cidade física seria a
conclusão de toda a revelação. Isso não é lógico. Deus tem trabalhado ao
longo das eras. Primeiro Ele criou o universo. Então Ele criou o homem.
Posteriormente se encarnou para redimir o homem. Ele viveu nesta terra,
foi crucificado, e então ressuscitou, ascendeu, e se derramou como o
Espírito sobre Seus discípulos. Os discípulos então saíram para pregar o
evangelho. Muitos têm sido salvos e acrescentados à igreja; eles estão
sendo edificados como o Corpo para expressar Cristo. Vocês crêem que o
resultado final será Deus ganhando meramente uma cidade física? Pensa
que essa é a intenção de Deus?
Se esse fosse o caso, Deus seria um pobre arquiteto. Mediante a Sua
criação, encarnação, crucificação, ressurreição, e ascensão, mediante a
Sua edificação das igrejas e aperfeiçoamento dos santos geração após
geração, Deus está preparando algo muito maior do que uma grande
cidade literal. Deus já criou algo mais esplêndido do que uma cidade — o
universo. O sistema solar é lindo, mas Deus não está satisfeito com aquilo.
Como Ele poderia ficar satisfeito com uma cidade, mesmo uma cidade que
é em tamanho a metade dos Estados Unidos? Interpretar tal visão, tal
sinal, de maneira natural é errado.
A igreja hoje é o nosso lar. Quando viemos à igreja, viemos ao lar. A
igreja está em Deus. A vida da igreja com Deus está em todo lugar. Há
igreja em Dallas, Houston, Hong Kong, e em toda a terra. Aleluia! Aonde
quer que vamos, nosso lar está lá. Nosso lar é a igreja. Por que nos
preocupar se teremos uma casa na Nova Jerusalém? Não precisamos nos
preocupar a esse respeito. Deus não está interessado nessas coisas físicas.
Esse pensamento físico tem de ir embora.

O Lugar de Habitação de Deus pela Eternidade


Deus se importa é com uma composição viva de Seu povo escolhido,
redimido, regenerado, transformado e glorificado. Tudo isso será edificado
junto para expressar Deus pela eternidade. Isso satisfará a Deus para
sempre. Satanás estará no lago de fogo. Deus estará em Sua habitação
viva. Todos aqueles que Ele criou, escolheu, redimiu, regenerou e
transformou serão glorificados à Sua imagem. Ele estará vivendo neles e
eles estarão vivendo Nele. Ninguém pode explicar adequadamente tal
conceito profundo. Maravilhoso! Isso será a habitação de Deus e a esposa
de Seu querido Filho, Cristo. Nenhum edifício físico pode ser uma esposa.
Uma esposa é algo orgânico, uma pessoa viva.
A Nova Jerusalém significa a habitação de Deus no novo céu e nova
terra. No Novo Testamento, o lugar de habitação de Deus na terra foi
primeiramente um único Homem, Jesus Cristo, representado pelo
tabernáculo (Jo 1:14), e, então, um homem coletivo, a igreja, representada
pelo templo (1 Co 3:16). No novo céu e nova terra, a habitação de Deus,
como a esposa do Cordeiro (Ap 21:9,10), é também uma composição viva
de Seu povo redimido, composto tanto dos santos do Velho Testamento,
representados pelas doze tribos, como pelos santos do Novo Testamento,
representados pelos doze apóstolos (Ap 21:12,14).
Essas pessoas edificadas juntas para ser a habitação de Deus,
primeiramente experimentaram a regeneração por meio da morte e
ressurreição de Cristo. Isso é representado pelas portas de pérolas, a
entrada das pessoas para a cidade. Uma pérola é produzida por uma ostra,
uma criatura viva nas águas da morte. Quando um grão de areia fere a
ostra, ela secreta uma substância ao redor da areia, a qual faz com a areia
se torne uma pérola. A ferida da ostra significa morte, e a secreção do suco
de vida em volta do grão de areia significa a vida de ressurreição. A morte e
ressurreição de Jesus nos fazem pérolas por meio da regeneração. Ninguém
pode entrar no reino de Deus a não ser pela regeneração (Jo 3:5).
Na cidade santa a natureza de Deus ou essência de Deus torna-se
nosso elemento básico, representado pelo ouro (Ap 21:18b, 21b); a própria
cidade é de ouro e a rua é de ouro. A essência de todos os crentes é
simplesmente o próprio Deus.
Pela obra do Espírito seremos transformados à imagem de Deus,
representado pelo jaspe. A natureza do Pai (ouro), a redenção do Filho e a
nossa regeneração (pérola), e a obra transformadora do Espírito (pedras
preciosas) produzem todos os componentes dessa habitação eterna de
Deus. A habitação de Deus é também a nossa habitação. Nós também
seremos edificados juntos para sermos o Lugar Santíssimo de Deus,
expressando-O em glória.

O Ultimo e Maior Sinal


Espero que todos sejamos impressionados com a interpretação e o
entendimento apropriados desse último e maior sinal em toda a Bíblia. De
todos os sessenta e seis livros da Bíblia, a Nova Jerusalém é o último e o
maior sinal. A última palavra é a palavra decisiva. Deus, mediante a
criação, encarnação, redenção, ressurreição, ascensão e toda a Sua obra de
transformação e edificação ao longo de todos estes séculos cristãos, obterá
uma composição viva de Seu povo redimido para ser a Sua habitação e Sua
companheira para satisfazê-Lo plenamente. Unir-nos-emos a Ele porque
seremos a Sua companheira.
O Senhor Jesus disse aos saduceus em Mateus 22:30 que na
ressurreição não haverá casamento, mas que todos seremos como os anjos.
A Bíblia não nos fala de questões ou relações físicas na eternidade. O que
ela revela é elevado e profundo. Temos de ser libertos de nossa mentalidade
humana e natural ao considerar a Nova Jerusalém como uma habitação
física. Temos de perceber o que está no coração de Deus. Ele precisa de
uma habitação eterna, composta de bilhões de pessoas vivas
transformadas e glorificadas, para serem o Seu lugar de habitação e a Sua
querida esposa, Sua companheira. Essa consumação final e máxima faz
com que valha a pena para Ele trazer a criação à existência, encarnar-se,
morrer na cruz, ser ressuscitado, e gastar tantos séculos para edificar as
igrejas.
Se a Nova Jerusalém fosse uma cidade literal, ela seria somente a
metade, em tamanho, dos Estados Unidos (cf. Ap 21:16). Os Estados
Unidos hoje têm uma população de quase um quarto de bilhão de pessoas.
Através das gerações, porém, Deus terá salvo bilhões de pessoas. Como
poderiam bilhões viver em uma cidade que é em tamanho a metade dos
Estados Unidos? Não devemos seguir os ensinamentos naturais, mas,
antes, exercitar a nossa mente sóbria para ver o que Deus deseja.
A Palavra é a verdade. Agradecemos a Deus por Ele nos haver dado
esse livro. Temos algo sólido na linguagem humana que podemos estudar
muitas vezes. O Senhor Jesus disse a Pedro que Ele edificaria a Sua igreja
sobre essa rocha (Mt 16:18). Pedro nos diz que todos nós, como pedras
vivas, estamos sendo edificados uma casa espiritual (1 Pe 2:5). Paulo diz
que ele lançou o fundamento, mas todos nós temos de ser cuidadosos em
como edificamos: temos de edificar com ouro, prata e pedras preciosas (1
Co 3:10-12). O pensamento da edificação de Deus está ao longo de todo o
Novo Testamento até o fim. É por isso que dizemos que a Nova Jerusalém é
a consumação final e máxima da obra de edificação de Deus ao longo de
todas as gerações.

CAPÍTULO DEZ
A NOVA JERUSALÉM —
A CONSUMAÇÃO FINAL E MÁXIMA
(3)
Leitura da Bíblia: Ap 21:2,3,10-23; 22:1,2a, 14,17,19

DUAS ESCOLAS PRINCIPAIS DE INTERPRETAÇÃO


A Nova Jerusalém tem sido um quebra-cabeça para os leitores e
mestres da Bíblia ao longo dos vinte séculos da era cristã. Há duas escolas
principais de interpretação. Uma escola diz que a Nova Jerusalém é uma
cidade física. Ela será parte do novo céu e nova terra, e estará na terra
como uma cidade literal. A segunda escola, que é muito superfical, diz que
a Nova Jerusalém é uma mansão celestial.
Entretanto, não deveríamos pensar nesta cidade como sendo
meramente física, nem como uma mansão celestial. Vamos deixar de lado
essas diferentes escolas, que são provenientes do entendimento humano.
É muito significativo que a Nova Jerusalém se posicione no final de
toda a revelação de Deus e ocupe os dois últimos capítulos. Precisamos de
toda a Bíblia para entender, interpretar e indicar qual é o seu significado. A
conclusão de um livro deve ser a palavra final a respeito de seu conteúdo.
Isso é um princípio. Qualquer livro que seja significativo certamente tem
algum conteúdo apropriado e definido e também uma conclusão
apropriada e definida. Acheguemo-nos à Bíblia de Gênesis a Apocalipse.
Temos de considerar seu conteúdo e, então, olhar a conclusão.

A REVELAÇÃO DO LUGAR DE HABITAÇÃO DE DEUS


A Bíblia é uma revelação completa do lugar de habitação de
Deus. Esse lugar de habitação é para Ele descansar, ficar satisfeito e ser
expressado.
Gênesis 1:1 diz que no princípio Deus criou os céus e a terra. Então,
depois que todas as coisas no universo foram criadas, Deus fez Adão no
sexto dia. Deus queria ter o homem. Ele preparou os céu, a terra e tudo o
mais para este homem a quem Ele fez à Sua própria imagem e conforme a
Sua semelhança.
Essa é uma forte indicação de que Deus queria uma expressão. Ele
queria algo vivo e orgânico para carregar a Sua imagem e ter a Sua
semelhança. Imagem refere-se a algo interior, enquanto que semelhança
refere-se a algo exterior. Interiormente todos temos o intelecto, a vontade e
a emoção. Exteriormente temos a semelhança, a forma corpórea.
Em Gênesis 1 nos é dito que Deus criou os animais segundo a sua
espécie e as plantas segundo a sua espécie. O cavalo, por exemplo, é
segundo a espécie eqüina, enquanto que o pessegueiro e a macieira são
segundo as suas espécies. Espécie quer dizer uma família, um gênero
biológico. O homem, entretanto, não foi feito segundo a espécie humana. O
homem foi feito segundo a espécie de Deus. Nós homens somos da espécie
de Deus. Somos uma família com Deus porque carregamos a Sua imagem e
temos a Sua semelhança. Mesmo que o homem nessa época não tivesse a
vida de Deus ou Sua natureza, ele tinha a Sua imagem e semelhança.
Isso indica que Deus queria uma expressão. Gênesis 1:26, 27 mostra
que o homem não era apenas uma única pessoa. O versículo 27 diz: "Criou
Deus, pois, o homem à sua imagem... homem e mulher os criou." Isso
indica que o homem aqui é algo coletivo. J. N. Darby diz que o homem em
Gênesis 1:27 quer dizer gênero humano, o homem como uma raça. Na
criação de Deus Ele fez algo de acordo com o Seu plano para ter uma
expressão. O gênero humano era para expressar Deus. Esse é o início da
Bíblia.
Então a Bíblia continua falando a respeito de oito grandes homens:
Adão, Abel, Enos, Enoque, Noé, Abraão, Isaque e Jacó. Incluindo Adão,
estes são os oito gigantes no primeiro livro da Bíblia.

Betel — a Casa de Deus


Quando chegamos a Jacó, sem a luz divina podemos ver somente um
menino travesso. Mas este jovem travesso, enquanto escapava de seu
irmão Esaú, dormiu ao relento e teve um sonho (Gn 28:11-19).
Jacó sonhou com uma escada ligando a terra ao céu, com anjos
subindo e descendo por ela. Os anjos não estavam descendo e subindo,
mas subindo e descendo. Isso indica que a escada era da terra ao céu.
Freqüentemente dizemos que os nossos sonhos provêm do que pensamos.
Se temos algo na mente, isso virá para nós como um sonho enquanto
estamos dormindo. No caso de Jacó entretanto, não creio que ele sonhou o
que estava em seus pensamentos durante o dia. Naqueles dias ele deveria
estar pensando em como ele estava fugindo de Esaú. Em seu sonho,
porém, não havia nenhum Esaú e nenhum Labão. Ele viu uma escada na
terra alcançando os céus. Quando ele acordou, teve uma inspiração de
Deus e disse: "É a casa de Deus, a porta dos céus" (Gn 28:17). Erigiu a
pedra que ele tinha usado como travesseiro e derramou óleo sobre ela,
chamando aquele lugar de Betel, que significa a casa de Deus.
Noé foi comissionado por Deus para edificar uma arca, e Abraão
recebeu uma promessa de Deus de que toda a terra, toda humanidade,
seria abençoada em sua semente. Mas esse menino travesso, o neto de
Abraão, teve um sonho. Acordando daquele sonho, ele disse algo
maravilhoso, algo que compõe e direciona toda a Bíblia — a casa de Deus.
Esse é um ponto direcional, passando ao longo da Bíblia. Desse menino
travesso que teve tal sonho veio um povo, o povo de Israel.

O Tabernáculo — a Casa de Deus


No segundo livro da Bíblia, Êxodo, todos os filhos de Israel foram
ganhos por Deus. Ele não somente os resgatou, mas os reuniu no monte
Sinai. Ali Deus deu-lhes uma visão (Êx 19), e não simplesmente um sonho.
Há uma conexão entre a visão que Moisés recebeu de Deus no monte Sinai
e o sonho de Jacó. Jacó em seu sonho viu algo relacionado à casa de Deus,
e agora os seus descendentes, um povo que veio de Jacó, estava ali no
monte Sinai com os céus abertos para eles. Um dos representantes deles,
Moisés, subiu ao monte para estar com Deus, e Deus lhe mostrou o modelo
de Sua casa, um modelo de como edificar o tabernáculo.
O tabernáculo é a casa de Deus. Em 1 Samuel 3:3 o tabernáculo é
chamado de o templo do Senhor; isso quer dizer, que ele era a casa de
Deus. O tabernáculo como lugar de habitação de Deus é também chamado
de templo, a casa de Deus.
No monte Sinai Moisés viu todos os projetos, e os filhos de Israel
edifícaram um tabernáculo de acordo com esse modelo. No último capítulo
de Êxodo, o tabernáculo foi erigido, e imediatamente a glória de Deus
desceu dos céus e encheu o tabernáculo (Ex 40:34). Isso é maravilhoso!
Isso foi até mesmo maior do que os atos criadores de Deus. Criar o
universo é algo geral, mas para Deus ter um lugar definido nesta terra para
que Ele pudesse descer e entrar, o caminho da glória foi verdadeiramente
maravilhoso. O tabernáculo físico era um tipo de todos os filhos de Israel
como o lugar de habitação de Deus.

O Tabernáculo — Jesus Cristo, o Homem-Deus


Finalmente aquele tipo foi cumprido no Senhor Jesus. Quando o
Senhor Jesus veio, Deus veio. "No princípio era a Palavra e a Palavra estava
com Deus, e a Palavra era Deus" (lit.), e essa Palavra tornou-se carne (Jo
1:1, 14). Sabemos que este é Jesus na encarnação. Quando Ele veio na
encarnação, Ele "tabernaculou" (v. 14 - lit.). Isso indica que Ele mesmo
como o tabernáculo vivo foi o cumprimento do tabernáculo em Êxodo 40.
Jesus, como o tabernáculo, não é um edifício mas uma pessoa viva,
orgânica. Esse que é o tabernáculo é uma Pessoa divina, uma Pessoa
maravilhosa, um homem-Deus. A primeira impressão que a Bíblia dá a
respeito do tabernáculo é que ele é uma coisa orgânica, uma pessoa
orgânica. Ainda mais, ele é um humano orgânico mesclado com Deus. O
tabernáculo é o homem-Deus Jesus Cristo.
No final da Bíblia está a Nova Jerusalém, a consumação final e
máxima do tabernáculo (Ap 21:3). O tabernáculo nos dois Testamentos,
tanto o Velho como o Novo, é, na verdade, uma pessoa viva de duas
naturezas — a natureza humana e a divina. O Senhor Jesus era um
homem composto de divindade e humanidade. O Espírito Santo é o
elemento divino, a divindade, e a virtude humana é o elemento humano, a
humanidade. Portanto, a concepção de Jesus é do elemento divino no
elemento humano. Essa concepção gerou uma criança de duas naturezas
— divina e humana. Essa criança não era somente humana, mas também
divina. Ela era um homem-Deus, e este homem-Deus era o tabernáculo.
Deixem-me enfatizar fortemente que esse é um tabernáculo no
sentido bíblico. Na Bíblia o tabernáculo é uma pessoa viva como uma
composição da natureza divina e da humana. Por causa disso, a Nova
Jerusalém não pode ser uma cidade literal, nem pode ser uma mansão
celestial. De acordo com o sentido bíblico, tabernáculo quer dizer uma
pessoa viva como uma composição de divindade com humanidade.

O Tabernáculo e o Templo
Israel primeiramente edificou o tabernáculo. Então, quando entraram
na boa terra, Deus revelou-lhes por meio de Davi (2 Sm 7:2, 5-13) que Ele
queria ter algo fixo e não transportável. O tabernáculo era uma casa de
Deus "transportável." Ele podia satisfazer a Deus temporariamente, mas
não permanentemente. Ele queria algo fixo edificado sobre um fundamento
sólido. O templo não era móvel ou transportáve, mas algo estabelecido.
Davi conhecia o coração de Deus e preparou todos os materiais para a
edificação do templo (1 Cr 22). Deus tinha-lhe dado um filho, Salomão, que
edificaria o templo. Esse templo era a ampliação do tabernáculo. Quando
ele foi finalizado, as coisas do tabernáculo foram trazidas para dentro do
templo (2 Cr 5:1, 5), indicando que os dois eram, na verdade, um.
No Novo Testamento, o Senhor Jesus em João 1:14 é revelado como o
tabernáculo, mas em João 2:19-21 Ele indica que Ele é o templo. "Destruí
este santuário, e em três dias eu o reconstruirei" (v. 19). A palavra de Jesus
aqui indica que Seu corpo era o verdadeiro templo. Quando Ele disse que
levantaria o templo em três dias, sabemos que Ele ergueu uma casa de
Deus em ressurreição. A casa de Deus que Jesus edificou em ressurreição
não é somente Ele próprio, mas inclui Seus crentes também (Ef 2:6).
Assim, esse templo edificado na e pela ressurreição de Jesus é um templo
coletivo. Esse templo é a igreja. A igreja é o templo (1 Co 3:16).

A Igreja — Composta dos Membros Vivos de Cristo


Muitos cristãos consideram a igreja um edifício físico. Eles se referem
ao edifício como a igreja ou como o santuário. Muitos pensam numa igreja
como um edifício com um teto inclinado, vitrais e um campanário.
A Bíblia, entretanto, revela que a igreja é uma composição viva dos
membros vivos de Cristo (1 Pe 2:5). Ela é uma composição orgânica de
todos os verdadeiros crentes. Nós somos a igreja. Ela não é um edifício sem
vida. A igreja é orgânica. A igreja somos nós, você e eu, as pessoas
regeneradas pelo Espírito com a vida divina. Ela é todos os queridos
santos. A igreja é um organismo. Ela é viva e ativa. Ela não é sem vida, pois
os componentes da igreja são pessoas vivas. Nós, os crentes, somos os
componentes. A igreja é composta de todos os santos, assim ela é algo vivo.

A Igreja — Humanidade e Divindade


A igreja é também uma pessoa coletiva composta de dois elementos,
de humanidade e divindade. Nós, os crentes, como os componentes da
igreja temos duas naturezas — uma natureza humana e uma natureza
divina. Recebemos nossa natureza humana por meio do nascimento
natural. Então em nosso segundo nascimento, um nascimento espiritual,
recebemos outra natureza, a natureza divina. Em nossa regeneração
recebemos a vida divina (1 Jo 5:11). Se temos vida, certamente com esta
vida vem a natureza. Somos participantes da natureza divina (2 Pe 1:4);
portanto temos duas naturezas.
Há uma tendência hoje, entre estudantes de seminário, em crer que
os cristãos têm somente uma natureza, a qual será gradualmente
melhorada. Isso não somente é um ensinamento errado; é heresia. Tal
ensinamento anula o fato da regeneração.
A igreja, entretanto, é uma composição viva e coletiva de pessoas com
duas naturezas — humana e divina. Com Cristo existiu primeiro a
divindade, e, depois, a humanidade. Conosco existe primeiro a
humanidade, então a divindade. Cristo como o tabernáculo foi uma pessoa
com divindade mais humanidade, e nós, como a ampliação de Cristo, o
lugar de habitação de Deus, o próprio templo, somos uma composição,
primeiro da humanidade e, então, da divindade. Cristo tem divindade mais
humanidade. Nós temos humanidade mais divindade. Em natureza Ele e
nós somos o mesmo. A única diferença é que Ele tem a deidade, e nós não;
contudo, temos a vida e a natureza divina como Ele tem. Não temos a Sua
autoridade, Sua deidade.

A Consumação do Templo
A Nova Jerusalém é a consumação de tal templo. Baseado neste
princípio, não podemos dizer que ela é uma cidade física ou uma mansão
celestial. Uma vez que a Nova Jerusalém é a consumação final e máxima de
toda a edificação da habitação de Deus ao longo das gerações como a
conclusão de toda revelação de Deus de Sua economia, ela é totalmente
orgânica. Ela é seres humanos mesclados com Deus. Essa composição será
uma habitação mútua, para Deus habitar nos santos e para os santos
habitarem em Deus.
A Nova Jerusalém é uma composição do povo redimido e regenerado
de Deus, que são os Seus Filhos. Essa cidade é também o agregado da
filiação divina. Efésios 1 diz que fomos escolhidos e predestinados para a
filiação (vs. 4, 5). O agregado da filiação será a Nova Jerusalém. Ela
é a composição de todos os filhos de Deus (Ap 21:7). Tal edificação, a
cidade santa, é uma pessoa coletiva viva porque ela é chamada de a esposa
do Cordeiro (Ap 21:9). Uma cidade física não pode ser uma esposa. Uma
esposa é uma pessoa; portanto, essa cidade deve ser uma pessoa coletiva
viva.

OS ELEMENTOS INTRÍNSECOS DA EDIFICAÇÃO DE DEUS


O conteúdo da edificação de Deus tem alguns elementos, os quais são
intrínsecos e ocultos. O elemento intrínseco da Nova Jerusalém como o
lugar eterno de habitação de Deus é o próprio Deus Triúno.

A Trindade Divina — A Estrutura Básica


A Trindade divina é a estrutura básica da Nova Jerusalém. Ela é
estruturada com a natureza do Pai, conforme representada pelo ouro. A
própria cidade é uma montanha de ouro, e sua rua é também de ouro (Ap
21:18b, 21b). Isso indica que a cidade é uma coisa divina. Divindade é o
elemento básico do conteúdo do edifício.
A redenção do Filho por meio da morte e ressurreição é representada
pela pérola. Pérolas provêm de ostras. Elas são produzidas após as ostras
serem feridas por um grão de areia. A ostra secreta seu sumo de vida em
volta da areia e faz dela uma pérola. Isso significa a encarnação de Cristo e
a Sua ida para dentro das águas da morte como uma ostra. O ser ferido
pelas nossas transgressões e o liberar de Sua vida de ressurreição produz
uma pérola.
A transformação do Espírito é representado pelas pedras preciosas.
No ouro está a natureza do Pai, na pérola está a redenção do Filho por
meio da morte e ressurreição, e nas pedras preciosas está o Espírito em
Sua obra transformadora. Isso quer dizer que o próprio Deus Triúno é a
estrutura básica da Nova Jerusalém. A Trindade é também a estrutura da
vida da igreja, que é uma miniatura da Nova Jerusalém. O tamanho é
muito menor, mas os elementos são os mesmos.

A Vida Divina — O Suprimento e a Nutrição Interior


Para a nossa vida física, nós, diariamente, precisamos de suprimento
nutrição. É por isso que temos de comer ao menos três vezes ao dia. A vida
divina é o suprimento e a nutrição interior de todas as partes da Nova
Jerusalém. Isso é indicado pela água da vida fluindo do trono divino para
saturar toda a cidade (Ap 22:1, 17). Na água cresce a árvore da vida, que
produz doze frutos, um a cada mês, doze meses anualmente, para
alimentar toda a cidade (Ap 22:2a, 14, 19). A água da vida e a árvore da
vida com o fruto da vida realizam o suprir e o nutrir. Toda a cidade vive
desses dois itens.

A Luz Divina — A Luz Interior e a Glória Exterior


A Trindade divina é a estrutura básica, a vida divina é o suprimento e
a nutrição interior, e a luz divina é a luz interior e a glória exterior para a
expressão. Deus no Cordeiro é a lâmpada como a luz interior (Ap 21:23).
Na Nova Jerusalém não precisaremos do sol, da lua, de velas, de querosene
ou de eletricidade. Não precisaremos da luz criada por Deus ou da luz feita
pelo homem, pois teremos o próprio Deus, que é a luz interior. Ao mesmo
tempo, essa luz brilha na e através da pedra preciosa, como uma pedra de
jaspe, significando os crentes transformados (Ap 21:11). A pedra de jaspe é
"transparente como cristal." Deus, como a luz dentro do Cordeiro como a
lâmpada, está brilhando pela cidade. Na cidade está a luz que brilha. Fora,
a luz está expressando a glória de Deus, de modo q~c a cidade inteira
possui a glória de Deus. A glória de Deus é o próprio Deus, brilhando da
cidade através da muralha transparente de jaspe (21:18). Isso é o que a
igreja deve ser hoje — uma composição viva de Deus, com Cristo como
nossa luz interior resplandecente e como a nossa expressão em glória.

Um Mesclar do Deus Triúno com o Homem Tripartido


Fomos redimidos, regenerados, e agora estamos sendo
transformados. Também estamos a caminho para sermos glorificados. O
nosso espírito foi regenerado, nossa alma problemática está sendo
transformada, e nosso pobre corpo está esperando transfiguração.
Na Nova Jerusalém o Deus Triúno está plenamente mesclado com o
homem tripartido redimido, regenerado, transformado e glorificado. Esse
mesclar é a habitação eterna de Deus, representado pelo número doze.
Doze é três multiplicado por quatro. Sabemos disso porque a cidade é
quadrada com quatro lados. Em cada lado há três portas (21:13). Pela
eternidade a Nova Jerusalém será um mesclar absoluto, não somente uma
adição. Ela é a multiplicação — o Deus Triúno (três) multiplicado pelo
homem (quatro).
Na Nova Jerusalém o número doze é usado catorze vezes. Doze
fundamentos de doze pedras preciosas possuem os nomes dos doze
apóstolos (21:14, 19, 20). As doze portas de doze pérolas com doze anjos
possuem os nomes das doze tribos (21:12, 21a). A medida da cidade é doze
mil estádios em três dimensões (21:16). A altura da muralha é de cento e
quarenta e quatro côvados (21:17a), que é doze multiplicado por doze
côvados. A árvore da vida produz doze frutos em cada um dos doze meses
(22:2). O número doze, ocorrendo tantas vezes, quer dizer que a cidade
santa é um mesclar do Deus Triúno com o homem tripartido.

Um Edifício em Ressurreição
Apocalipse 21:17b diz que a medida da muralha é "medida de
homem, isto é, de anjo." Esse é um sinal de que naquele tempo o homem
será como os anjos. Em Mateus 22:30 o Senhor Jesus indicou que em
ressurreição o homem será "como anjos de Deus nos céus." Assim, o
homem sendo como um anjo indica o princípio da ressurreição. A cidade
inteira, portanto, estará em ressurreição. Cristo, o Cabeça, e nós, Seus
membros, estaremos todos em ressurreição.

Uma Expressão Plena do Deus Triúno


A muralha é feita de jaspe, e a luz da cidade é como jaspe (21:18, 11).
Em 4:3 nos é dito claramente que Deus sentado no trono se assemelha a
jaspe. Jaspe, então, significa a aparência de Deus. Na eternidade, a Nova
Jerusalém possuirá a aparência de Deus. Deus se assemelha a jaspe, e a
cidade toda possuirá a aparência de jaspe. Isso indica que ela será uma
expressão eterna e coletiva de Deus.
Isso cumpre Gênesis 1:26. A Bíblia começa da forma como termina.
Ela começa com a imagem de Deus para a Sua expressão, e ela termina
com uma expressão coletiva, vasta, imensa e esplêndida. Essa é a
consumação final e máxima do registro do tabernáculo e do templo. A
Bíblia é um registro dessas duas coisas: o tabernáculo e o templo. A
conclusão da Bíblia é a consumação do tabernáculo e do templo.
O que a Nova Jerusalém é deve ser verdadeiro na igreja agora mesmo.
Nós, como a igreja na restauração do Senhor, temos de ter o Deus Triúno
como a nossa estrutura, com a vida divina como o nosso suprimento e
nutrição interior, e com a luz divina como o nosso brilho interior e
expressão exterior. Esse é o testemunho de Jesus. No começo do livro de
Apocalipse estão os candelabros como o testemunho de Jesus (1:2,12).
Então, no fim do mesmo livro está o agregado de todos os candelabros, a
Nova Jerusalém, como o testemunho eterno de Jesus. Hoje devemos ser tal
testemunho vivo de Jesus. Não somos uma outra obra cristã, nem somos
simplesmente um grupo cristão. Somos o testemunho de Jesus como o
candelabro hoje, que será consumado na Nova Jerusalém. O que seremos
lá devemos primeiramente ser aqui.

CAPÍTULO ONZE
A NOVA JERUSALÉM —
A CONSUMAÇÃO FINAL E MÁXIMA
(4)
Leitura da Bíblia: Ap 21:3,4,6,7,24,26; 22:2-5,14,17
A Nova Jerusalém é a consumação de toda a revelação divina. Os
sessenta e seis livros da Bíblia têm uma conclusão, e essa conclusão é a
Nova Jerusalém. A Bíblia começa com a criação de Deus e finaliza com o
Seu edifício. A criação não é o objetivo de Deus. Ela é para o Seu objetivo,
que é a edificação. Essa idéia da edificação divina percorre toda a Bíblia.

O VELHO TESTAMENTO
A visão do edifício de Deus veio primeiro para Jacó. Enquanto estava
fugindo de seu irmão Esaú, ele teve um sonho. Sonhou com a casa de
Deus, Betel (Gn 28:11-19). Mais tarde, Deus trouxe os descendentes de
Jacó para fora do Egito e para o monte Sinai, onde ficaram por um longo
tempo. Enquanto estavam ali, Deus mostrou-lhes o projeto celestial de um
edifício, o tabernáculo, que seria a habitação de Deus entre Seu povo na
terra.
Depois que eles entraram na boa terra, Deus quis que edificassem o
templo. O Velho Testamento é uma história principalmente do tabernáculo
e do templo. Esses dois são um — o lugar de habitação de Deus nesta terra
entre Seu povo. A história dos descendentes de Jacó é uma história do
tabernáculo e do templo no Velho Testamento. Esses dois foram o centro, o
foco da história do povo de Deus no Velho Testamento nesta terra.

O NOVO TESTAMENTO
No Novo Testamento vemos Deus encarnado. Deus tornou-se carne.
João 1:14 nos diz que Este que se encarnou "tabernaculou entre nós" (lit.).
João usou particularmente esta palavra "tabernaculou." Isso indica que
quando o Senhor Jesus estava na terra, em carne, Ele era o tabernáculo de
Deus. Em prefiguração o tabernáculo edificado em Êxodo era um tipo
completo da encarnação do Senhor; o Senhor encarnou-se para ser a
própria corporificação de Deus nesta terra. Essa corporificação era a
habitação de Deus. Colossen-ses 2:9 nos diz que a plenitude da Deidade
habita em Cristo corporeamente, em Cristo com um corpo humano, físico.
O próprio Cristo era a corporificação de Deus, e essa corporificação era o
tabernáculo de Deus.
Em João 2:19 o Senhor disse aos judeus: "Destruí este santuário, e
em três dias o reconstruirei." O corpo do Senhor Jesus era o templo de
Deus (v. 21). Em João 1 está o tabernáculo e em João 2 está o templo. A
palavra do Senhor Jesus "em três dias" significa a Sua ressurreição. Paulo
nos diz em Efésios 2:6 que quando Cristo foi ressuscitado, nós fomos
ressuscitados juntamente com Ele. Pedro diz mais adiante que por meio
daquela ressurreição todo-inclusiva todos fomos regenerados (1 Pe 1:3).
Nascemos de Deus e somos os Seus filhos. Isso implica que o próprio
templo que o Senhor Jesus edificou em três dias, isto é em Sua
ressurreição, não é algo individual, mas algo coletivo. Portanto, nas
Epístolas nos é dito que a igreja como o Corpo de Cristo é o templo de
Deus. Em 1 Coríntios 3:16 diz que os santos são templo de Deus.
O Novo Testamento termina com a Nova Jerusalém, e a Nova
Jerusalém como a conclusão da Bíblia é chamada de tabernáculo (Ap
21:3). João disse que ele não viu nenhum templo na cidade santa, "porque
o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-poderoso e o Cordeiro" (21:22).
Como temos enfatizado, a medida da Nova Jerusalém é a mesma em
comprimento, largura e altura. Nas três dimensões a cidade mede doze mil
estádios (21:16). O princípio revelado na Bíblia é que um edifício com três
dimensões iguais indica o Santo dos Santos. O Santo dos Santos no
tabernáculo era de dez côvados nas três dimensões. O Santo dos Santos no
templo de acordo com 1 Reis 6:20, era também de três dimensões iguais,
de vinte côvados cada. De acordo com a medida da Nova Jerusalém, então,
esta cidade santa deve ser o Santo dos Santos. Se lermos Apocalipse 21
cuidadosamente, podemos ver que a cidade santa é tanto o tabernáculo
como o templo.
Tanto o Velho Testamento como o Novo Testamento estão focalizados
no tabernáculo e no templo como a habitação de Deus. Então a conclusão
de toda a Bíblia, tanto o Velho Testamento como o Novo, é também o
tabernáculo e o templo. No Velho Testamento o tabernáculo prefigurava
Cristo individualmente como o tabernáculo de Deus, e o templo tipificava
Cristo coletivamente como o templo de Deus. O que temos aqui é Cristo e a
igreja. Cristo é o cumprimento do tipo do tabernáculo, e Cristo como a
Cabeça com a igreja como Seu corpo, juntos, cumprem a figura do templo.
Isso terá uma consumação, e essa consumação final e máxima será a Nova
Jerusalém, a qual é tanto o tabernáculo como o templo. Aqui está a
consumação final e máxima da habitação de Deus, a qual Ele tem edificado
por séculos. Esta Nova Jerusalém é, além disso, uma composição viva de
todos os santos do Velho Testamento, assim representados pelos nomes
das doze tribos, e de todos os santos do Novo Testamento, assim
representados pelos nomes dos doze apóstolos. Ela é a composição viva do
povo redimido de Deus para ser o lugar eterno de Sua habitação.

QUATRO DISPENSAÇÕES PARA A EDIFICAÇÃO DE DEUS


Na velha criação, antes da vinda do novo céu e nova terra, há quatro
dispensações. A dispensação dos Patriarcas, de Adão a Moisés, foi a
dispensação antes da lei. Vocês podem chamá-la de dispensação pré-lei ou
dispensação dos Patriarcas. A segunda é a dispensação da lei, de Moisés à
primeira vinda de Cristo. A terceira é a dispensação da graça, durando da
primeira vinda de Cristo até a Sua segunda vinda. Então, com a Sua
segunda vinda, a quarta dispensação começará, isto é, o reino de mil anos
de Cristo. Depois desta quarta dispensação, a velha criação certamente
estará inteiramente renovada porque por meio das dispensações Deus terá
cumprido o que pretendeu cumprir.
A obra criadora de Deus foi completada nos dois primeiros capítulos
da Bíblia. Então a partir da segunda metade de Gênesis 2, Deus começou a
Sua obra de edificação. Essa obra continua por todas as quatro
dispensações: a dispensação dos Patriarcas, a dispensação da lei, a
dispensação da graça e finalmente a dispensação do reino milenar. Por
meio dessas quatro dispensações Deus realiza a Sua edificação.

A OBRA DE DEUS - UMA OBRA DE EDIFICAÇÃO


A obra de Deus por meio de todas as quatro dispensações é uma obra
de edificação. No Velho Testamento vemos a edificação do tabernáculo e do
templo, a qual era o foco da história do Velho Testamento. Quando o
Senhor Jesus veio, Ele era o tabernáculo. Depois de ajudar os discípulos a
perceberem que Ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo, Ele imediatamente
revelou que Ele edificaria a Sua igreja (Mt 16:18). A palavra do Senhor
indicava que Ele estava fazendo uma obra de edificação.
Essa idéia de edificação é muito forte na Bíblia. Mesmo em Atos 4
Pedro disse aos líderes judeus que eles eram os edificadores que rejeitaram
a Cristo, a pedra viva, contudo Deus O ressuscitou e O fez a pedra angular
de Seu edifício (At 4:10, 11). Pedro nos diz em seu escrito que o Senhor é a
pedra viva, e nós todos como pedras vivas vimos ao Senhor e estamos
sendo edificados uma casa espiritual (1 Pe 2:4, 5).
Paulo também fala da edificação. Ele nos diz que ele lançou o único
fundamento, e que ninguém pode lançar outro. O problema, entretanto é
como nós edifícamos sobre ele. Podemos edificar com ouro, prata e pedras
preciosas ou com madeira, feno e palha (1 Co 3:10-12).
Nos escritos de João a idéia de edificação é mais forte. Quando Simão
veio ao Senhor Jesus em João 1:41, 42, o Senhor mudou o seu nome para
Cefas, uma pedra. Mais tarde no mesmo capítulo o Senhor disse a
Natanael que ele veria "o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo
sobre o Filho do homem" (v. 51). Na verdade, o Senhor estava referindo a
Natanael o sonho de seu antepassado Jacó (Gn 28:12, 17, 19), indicando
que uma obra de edificação de Betel, a casa de Deus, estava se iniciando.
Então no capítulo dois o Senhor indicou que Ele edificaria o Seu corpo em
ressurreição como o templo coletivo de Deus (2:19, 21, 22).
João escreve mais adiante em Apocalipse que os vencedores serão
edificados no templo de Deus como coluna (Ap 3:12). Finalmente, em
Apocalipse 21, ele nos mostra que a consumação final e máxima dessa
obra de edificação será a Nova Jerusalém, o tabernáculo e templo de Deus,
edificada com ouro, pérolas e pedras preciosas, e tendo os apóstolos como
as doze pedras fundamentais.
Notem, então, que em toda a Bíblia somente um capítulo e meio estão
na criação de Deus. O resto da Bíblia, da segunda metade de Gênesis 2 ao
final de Apocalipse, está na edificação de Deus. Essa edificação é
denominada o tabernáculo e o templo muitas vezes no Velho Testamento,
no Novo Testamento, e na conclusão da Bíblia. No Velho Testamento estão
o tabernáculo e o templo. No Novo Testamento está a realidade do
tabernáculo e do templo. Na conclusão desses dois testamentos está a
consumação final e máxima do tabernáculo e do templo.
O AGREGADO DA FILIAÇÃO DIVINA
Essa consumação, a Nova Jerusalém, é o agregado da filiação divina
para ar opressão coletiva do Deus Triúno (Rm 8:23). O Filho é a expressão
do Pai. Ninguém jamais viu o Pai, mas o Filho unigênito O revelou (Jo
1:18). Um pai e seus filhos possuem uma imagem. A face dos filhos é como
a face do pai. Jesus Cristo como o Filho de Deus é a própria expressão de
Deus, o Pai. Deus, entretanto, gostaria de ter mais do que um filho. Cristo
é referido como sendo o unigênito em João 1:18 e em 3:16, onde se diz que
Deus deu o Seu Filho unigênito. Em Romanos 8:29 conhecemos que em
ressurreição esse único Filho de Deus tornou-se o primogênito entre
muitos irmãos. O Senhor Jesus em Sua ressurreição incumbiu uma das
irmãs para ir "ter com meus irmãos" (Jo 20:17), e Hebreus 2:11 diz que Ele
"não se envergonha de lhes chamar irmãos" porque eles todos nasceram do
mesmo Pai. A única diferença é que Ele é o primeiro Filho, e nós somos os
muitos filhos.

Conduzindo Muitos Filhos à Glória


O Deus Triúno está ainda trabalhando hoje para conduzir Seus
muitos filhos à glória (Hb 2:10). Somos filhos de Deus, mas não estamos na
glória ainda. Assim como uma lagarta é transformada em uma borboleta,
assim nós estamos sendo conduzidos para a glória. Aleluia! estamos a
caminho! Um dia todos estaremos lá em glória como os muitos filhos de
Deus. Romanos 8:18-22 nos diz que toda criação caída, agora sob a
escravidão da corrupção, espera ansiosamente para ver-nos em glória.
Aquela glória será a liberdade da glória dos filhos de Deus, que é a nossa
plena redenção (v. 23). O nosso corpo ainda não foi redimido, mas uma dia
ele será transfigurado em um corpo glorioso (Fp 3:21). Essa plena redenção
de nosso corpo é a filiação plena. O nosso espírito já nasceu de Deus, mas
nosso corpo ainda não foi trazido à filiação. O universo inteiro está
esperando ansiosamente pela parte final de nossa redenção. A criação quer
ver todos os filhos de Deus conduzidos à glória para desfrutar a plena
filiação deles.

Filhos, Irmãos e Membros


Antes da Sua ressurreição, Cristo era o Filho unigênito de Deus, mas
por meio da morte e ressurreição Ele tornou-se o primogênito, seguido por
muitos filhos que foram produzidos por meio de Sua morte e ressurreição.
Agora, para Deus somos os muitos filhos, para Cristo, somos os muitos
irmãos, e para o Seu Corpo, somos membros. É por isso que nos
chamamos de irmãos. Somos irmãos uns dos outros porque somos os
irmãos de Cristo e os filhos de Deus. Isso é filiação. Isso é uma entidade
coletiva.

Filiação Total
A Nova Jerusalém é o agregado da filiação divina. Há somente uma
única filiação divina; todos estamos nessa única filiação. Na ressurreição
todos seremos homens, incluindo as irmãs. Nesse corpo da velha criação
ainda temos a diferença entre irmãos e irmãs, mas em ressurreição todos
seremos homens, irmãos. A filiação total será completada por meio do
arrebatamento e ressurreição vindouros. Quando estivermos lá na Nova
Jerusalém, aquilo será um agregado da filiação divina. Essa filiação é para
a expressão coletiva do grande Deus que é triúno — o Pai, o Filho e o
Espírito.

PREDESTINADOS PARA A FILIAÇÃO


Essa filiação cumpre o desejo da predestinação de Deus. Efésios 1:4,
5 nos diz que antes da fundação do mundo Deus nos predestinou para a
filiação. Quando jovem, eu amava esses versículos, mas pensava que Deus
me havia predestinado para os céus. Então pensei que fui predestinado
para a salvação. Muitos de nós podem ter pensado a mesma coisa. Muitas
vezes quando lemos a Bíblia lemos nela algo de nossa mente. A Bíblia não
diz que Deus nos tem predestinado para os céus ou para a salvação. Ela
diz que fomos predestinados para a filiação.
Deus tomou uma firme decisão antes da fundação do mundo para
fazer de você um filho. Todo escolhido é um pecador, até mesmo um
inimigo de Deus, mas Deus tem a habilidade redentora para fazer de você,
que é um pecador e um inimigo Dele, um de Seus filhos. Essa é a
maravilha das maravilhas. Deus fez de nós, que éramos Seus inimigos,
Seus filhos.
João diz que a todos que O recebem, isto é, que creêm em Seu nome,
será dada a autoridade de serem filhos de Deus (Jo 1:12). Esses são
nascidos de Deus. Ele veio para ser o tabernáculo (1:14), desejando que O
recebêssemos e assim nascêssemos como filhos. A intenção do Senhor
Jesus, o tabernáculo, era que nascêssemos como filhos para sermos os
componentes do templo vindouro (Jo 2:19, 21, 22)

FILIAÇÃO EM ROMANOS 8
Em Romanos 8 Paulo é forte nessa questão de filiação. Romanos 8
diz: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de
Deus" (v. 14). Deus não nos tem dado um espírito de escravidão mas um
espírito de filiação (v. 15). O Seu Espírito testifica com o nosso espírito que
somos filhos de Deus (v. 16). Toda a criação está aguardando ansiosamente
por essa nossa filiação (v. 19). Deus está agora nos conformando à própria
imagem do Primogênito, Cristo (v. 29). Somos os Seus irmãos hoje, mas
não plenamente. Nós estamos no processo. Quando estivermos
conformados à imagem do Primogênito, seremos a Sua própria expressão
de uma maneira coletiva.

UMA EXPRESSÃO COLETIVA DE DEUS


Em Apocalipse, Deus sentado no trono se assemelha a jaspe (4:3).
Então em 21:18 João nos diz que a muralha da cidade era feita de jaspe.
Esses dois versículos nos dizem que a Nova Jerusalém se parecerá com
Deus. A cidade será uma expressão coletiva de Deus.
Que Deus terá uma expressão coletiva está também indicado em Sua
criação do homem. Antes das eras, Deus nos predestinou para a filiação.
Então Ele criou o homem à Sua própria imagem, de acordo com a Sua
predestinação, com a intenção de que um dia este homem criado fosse a
Sua expressão coletiva. Aquele dia ainda não chegou. Quando as quatro
dispensações terminarem — as dispensações dos Patriarcas, da lei, da
graça e do reino —, a obra de Deus em conformar-nos à imagem do
Primogênito será completada. Então seremos uma entidade viva coletiva,
possuindo a imagem de Deus.
A Nova Jerusalém é o agregado de todos os filhos como a expressão
coletiva. Ela é uma composição de todos os queridos santos redimidos por
Deus em todas as dispensações, tanto as do Velho como do Novo
Testamento. Eles juntos serão os componentes dessa cidade santa, o
agregado da filiação divina, expressando Deus coletivamente para cumprir
o desejo de Seu coração, como indicado na Sua criação do homem à Sua
própria imagem. Apocalipse 21 e 22 são o cumprimento de Gênesis 1:26 —
Deus tendo um homem à Sua imagem.

DUAS CATEGORIAS
No novo céu e nova terra existem duas categorias de pessoas. Uma
são os muitos filhos e a outra são os povos. Quando estivermos na Nova
Jerusalém, seremos os filhos de Deus, não os povos de Deus.
Na Inglaterra há uma família real. Eles não são "o povo", mas os que
reinam. Santos, vocês já consideraram que não estão entre o povo comum?
Vocês são da família real. João nos diz em Apocalipse 1:6 que Cristo tem-
nos feito "um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai." Somos os filhos do
Deus Todo-poderoso, que é o Rei dos reis. Isso nos faz membros, familiares
da família real. Não somos somente filhos de Deus mas também membros
da família real.
Em Apocalipse 21:3 se diz: "Eles serão povos de Deus." Então em
21:7 se diz: "O vencedor... me será filho." Em 21:24 estão "as nações". As
nações andarão mediante a luz da cidade santa. Nós, os filhos, a família
real, somos a cidade santa. Para Deus, então, Seus Filhos são uma
categoria e Seu povo é outra.
Em Londres, fui levado para ver a troca da guarda em frente do
portão do Palácio de Buckingham. Mesmo na grande cidade de Londres, há
uma "pequena cidade" chamada Palácio de,Buckingham, onde a família
real vive. A
Nova Jerusalém será o Palácio de Buckingham celestial, espiritual,
divino e eterno. Em volta da cidade real estão as nações.
No novo céu e nova terra não seremos os povos, as nações, mas os
filhos. Os filhos de Deus em Apocalipse 21:6, 7 são aqueles que nasceram
de Deus por meio da regeneração (Jo 1:12, 13; 1 Pe 1:3, 4, 23; Tg 1:18).
Eles estão edificados juntos por meio da transformação (1 Co 3:9-12a; Ef
2:20-22; 1 Pe 2:4-6; 2 Co 3:18; Rm 12:2; Ef 4:23, 24). Eles serão
glorificados em plena conformação para serem uma expressão coletiva do
Deus Triúno (Rm 8:29, 30; Hb 2:10; Ap 21:11). As nações do lado de fora
da Nova Jerusalém não são de nascidos de novo, transformados ou
glorificados. Somos diferentes das nações.

Os Filhos de Deus
As pessoas que são renascidas, transformadas, glorificadas e
conformadas serão os componentes da Nova Jerusalém. Hoje os crentes
como os membros do Corpo de Cristo são os componentes da igreja, que é
tanto a casa de Deus como a esposa de Cristo. A igreja não é um edifício.
Ela é uma composição viva de todos os membros vivos de Cristo. Essa
composição viva é um organismo. Não é uma organização. Onde essas
pessoas estão, ali está o organismo. Estamos aqui como esse organismo, a
igreja. Se mudarmos para Brasília, esse organismo estará ali em Brasília.
Esses componentes — os filhos de Deus regenerados, transformados,
glorificados e conformados para ser tanto a casa de Deus como a esposa de
Cristo (Ap 21:3, 9) — na eternidade comerão da árvore da vida e beberão a
água da vida. Esses serão os dois desfrutes principais, substanciais e
básicos dos filhos de Deus. Apocalipse 22:14 promete que teremos o direito
de comer da árvore da vida. Em Apocalipse 22:17 existe um chamado para
beber água. Esses serão nossos desfrutes básicos na Nova Jerusalém pela
eternidade.
Então serviremos a Deus e ao Cordeiro como Seus escravos (Ap 22:3)
pela eternidade. Também seremos reis sobre as nações — os povos — pela
eternidade. Apocalipse 22:5 diz que reinaremos "pelos séculos dos séculos."
Os crentes como filhos de Deus serão todos reis. Os anjos serão os que
servem (Hb 1:13,14), servindo-nos. Eles são os servos da família real, e nós
somos reis sobre as nações. Este é o reino de Deus na eternidade.

Os Povos de Deus
Os povos de Deus em Apocalipse 21 são o remanescente das ovelhas
descritas em Mateus 25:31-46. Quando o Senhor Jesus voltar, Ele sentará
em Seu trono de glória em Jerusalém e reunirá todos os diversos povos
vivos das nações para Ele. Eles serão classificados era ovelhas e cabritos e
Ele os julgará. Os cabritos, que estão à Sua esquerda, irão diretamente
para o lago de fogo. As ovelhas, à Sua direita, herdarão o reino milenar,
que Deus preparou para eles desde a fundação do mundo. Fomos
predestinados para a filiação antes da fundação do mundo, mas o milênio
foi preparado por Deus para essas ovelhas desde a fundação. Há uma
diferença. Esse julgamento não será no grande trono branco (Ap 20:11),
que segue o milênio. Ele será no trono da glória de Cristo antes dos mil
anos. O julgamento não será de acordo com a lei de Moisés nem de acordo
com o evangelho da graça, mas de acordo com o evangelho eterno (Ap 14:6,
7). Muitos cristãos nunca ouviram a respeito do evangelho eterno. Ele não
inclui redenção nem perdão de pecados. Ele compreende duas coisas:
temer a Deus e adorá-Lo. Esse evangelho será pregado por um anjo no
tempo da grande tribulação, que durará três anos e meio. Esse é o tempo
no qual o Anticristo fará tudo o que puder para perseguir os judeus e os
cristãos. Em Mateus 25, de acordo com o veredito do julgamento de Cristo,
os judeus e os cristãos serão tratados muito bem pelas ovelhas (vs. 34-36).
Mas muitos seguirão o Anticristo na perseguição aos judeus e aos cristãos.
Cristo fará o Seu julgamento adequadamente, e aquele julgamento se.a de
acordo com o evangelho eterno.
As ovelhas serão transferidas para o reino milenar para serem os
povos, e os santos vencedores serão os reis sobre eles (Ap 20:4, 6). As
ovelhas serão restauradas ao estado original do homem quando criado por
Deus e serão os cidadãos do reino milenar, desfrutando a bênção da
restauração (At 3:21). Restauração não é regeneração. Ser regenerado é ser
nascido de novo com uma outra vida, a vida de Deus, mas ser restaurado é
ser trazido de volta ao estado original da criação de Deus.
No final do reino milenar, Satanás, depois de ser libertado, instigará a
última rebelião contra Deus (Ap 20:7-9). Muitas das ovelhas se unirão à
rebelião de Satanás e serão queimadas com o fogo do céu. O remanescente
das ovelhas será transferido para a nova terra para ser as nações (Ap
21:24). Deus "tabernaculará" com eles, os povos (Ap 21:3). Eles serão
governados pelos filhos de Deus como reis (22:5). Para eles não haverá
mais morte, mágoas, choro, dor ou maldição (21:4; 22:3a). Eles serão
sustentados eternamente pelas folhas da árvore da vida (22:2). Nós
comeremos do fruto, mas as nações desfrutarão das folhas. Eles andarão
através da luz da cidade santa (21:24a). Com os seus reis trarão a glória e
honra deles para a cidade. Eles respeitarão a cidade e a considerarão como
superior.

UMA VISÃO FINAL


Os santos de todas as dispensações que foram redimidos serão os
renascidos, os filhos de Deus, pertencendo à família real. Eles serão reis na
eternidade. O remanescente restaurado dos incrédulos será os povos, as
nações, andando na luz da cidade e governados pelos santos. Outra
categoria de pessoas são os que pereceram. Os incrédulos que pereceram
estarão no lago de fogo (21:8). Isso nos dá uma visão geral do novo céu e
nova terra.

CONTRACAPA

A Bíblia é um livro maravilhoso e misterioso. Em seus milhares de


versículos, muitos assuntos são abordados. No entanto, dentre estes
tópicos, há sete que constituem seu cerne, sua revelação básica. Em um
certo sentido, toda a Escritura poderia ser resumida nesses sete pontos, já
que eles percorrem toda a Bíblia, iniciando-se em Gênesis e sendo con-
sumados em Apocalipse.
Dessa forma, questões tais como as duas naturezas dos crentes, a
diferença entre o reino de Deus e o reino dos céus e o que é a Nova
Jerusalém são abordados de maneira simples, mas com profunda revelação
e base bíblica.
A compreensão clara desses sete pontos dará aos que amam o Senhor
e Sua Palavra a chave para abrir a revelação divina contida em toda a
Bíblia.

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