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Carlos Reis
A frase, em inglês, é: a leftover left. Quer dizer ou nos advertir que há um
resto ainda não consumido de esquerda, requentado, mas com aparência
de novo. Mas "esquerdas" são conceitos antigos e ainda, além disso,
permitem mil e uma interpretações acerca da sua realidade, atualidade, e
até de sua utilidade. Utilizamo-nos desses conceitos hoje para nos
localizarmos no espectro ideológico da política ou da nossa
Weltanschauung. Essa visão de mundo é atual e real. Sem ela não somos
ninguém, ou por outra, somos o que os outros querem que sejamos.
Esquerda é um conceito, no entanto, fácil pelo seu simbolismo. Para ter
dela uma falsa impressão, isso não nos tomaria muito tempo. Todo mundo
tem uma ideologia e, cedo ou tarde, tem que se definir nesse espectro. Ou
se é de esquerda, ou se é de direita. Não tem jeito. Os que negam isso
apenas disfarçam.
Mas leftover left é um conceito novo; ele introduz nos nossos
pensamentos, depois de suficientemente preparados, uma nova
weltanschauung. Aí começam os problemas. Como algo novo sempre
encontra resistências para ganhar um espaço e se acomodar
tranqüilamente entre nossos conhecimentos, sentimentos, emoções,
preconceitos etc., a esquerda ainda não consumida terá que passar pelas
mesmas dificuldades de adaptação.
Para introduzir esse conceito vou me valer de uma metáfora que li no site
de Kelley L. Ross*, filósofo americano, ele mesmo um libertário,
anti-"liberal". Entenda-se preliminarmente que nos Estados Unidos a
esquerda, left, é que é chamada liberal. Ross é um libertarian, e candidato
do Libertarian Party da Califórnia. Aqui no Brasil diríamos que ele é de
direita. Já vou avisando, para quem imagina que a ideologia possa e deva
ter aqui uma correspondência direta com o partido que, no Brasil, não há
nenhum -- eu disse nenhum -- partido de direita como nos Estados Unidos.
Se alardearmos que o PPS do Ciro Gomes e do Antonio Britto é, como está
na sua sigla, teoricamente um partido socialista, isso seria imediatamente
negado pelos candidatos! Da mesma maneira, ser de direita no Brasil,
desfraldando bandeiras partidárias da "direita", não é ser como um
libertário nos Estados Unidos. Adiante veremos em negativo o que é ser
libertário, ou de direita. Por ora, basta-nos afirmar que não há partidos de
direita por aqui, porque os elementos que os identificariam foram
satanizados e diluídos em um mar de preconceitos e desinformação.
Mas voltando à metáfora de Ross, ele descreve a leftover left como uma
nova aparência da velha - e desconhecida por nós - esquerda socialista,
verdadeiro pesadelo para partidos como o PT, por exemplo, que a ela não
deixam associar a sua sigla em vista das lembranças desagradáveis que
as figuras de Stalin, Lênin e até de Marx poderiam suscitar no povo eleitor.
Digo povo, e não intelectuais, pois que estes não se deixam assustar com
os fantasmas que eles mesmos costumam protagonizar. De fato, a velha
imagem monstruosa do comunismo, vocábulo associado no imaginário
popular aos crimes de milhões de pessoas por Stalin, Mao Tse Tung, Pol
Pot, e aos milhares de assassinados por Che Guevara e Fidel Castro,
assusta de fato as pessoas, ainda que elas não saibam que o conceito de
comunismo foi usado por Karl Marx como um sinônimo de paraíso
terrestre, ou um "mundo melhor" de abundância, justiça e paz. Essa
comovente profecia está por realizar-se há dois séculos! Mas nos interessa
aqui salientar que o socialismo real, esse sim uma cacotopia assustadora,
veio abaixo na Europa da União Soviética em 1991. Diz-se, por facilitação,
que o comunismo terminou naquele ano. Ross usou então a figura
medonha do conde Drácula - o filme - que, para fugir dos seus
perseguidores, se transforma em uma figura composta de ratos, que então
fogem para todos os lados. É lógico que os ratos depois voltam a compor
a figura monstruosa. Mas enquanto ratos, não despertam nenhum medo
ou suspeita. Drácula continua vivíssimo e interessado na nossa
hemoglobina. Esse é o "comunismo", ou melhor dizendo, socialismo, que
precisa mudar de nome e adaptar-se aos novos tempos, fazer alianças
com a "direita" sem despertar suspeitas, e apresentar-se ao eleitorado
como inocentes ratinhos que adoram "democracia", "direitos humanos",
"cidadania", e outros nomes bem conhecidos nossos. Vez por outra, porém,
algum rato se excede, deixando transparecer algo vampiresco, mas então é
prontamente abafado pela intellingentzia da nomenklatura vigilante e seus
incontáveis criados retardados, permanentemente alertas para que Drácula
não tenha o coração transfixado por uma estaca de madeira.
Continuemos. Os ratos verdes. São os mais bonitinhos. Parecem ser donos
de um atraente discurso de defesa da natureza e do homem. São
humanistas, desde que os homens não sejam os consumidores, os
produtores e os criadores da riqueza. Vestem-se de verde e andam ao sol,
mas conspiram nas caves úmidas do velho bolchevique Gorbachov. E
conspiram contra o quê? Contra o desenvolvimento capitalista, o único
desenvolvimento que o mundo pôde observar nos últimos 250 anos! Para
isso não hesitam em criar foros internacionais de cientistas pagos com
notas verdes, e que ganham uma nota preta, para inventarem relatórios
assustadores e mentirosos! Até as recentes enchentes da Europa, e que
acontecem há milênios, têm um culpado. Adivinhem? Acertaram. Daí esses
cientistas criarem a pantomima do efeito estufa, do derretimento das
calotas polares, do fim da camada de ozônio. Tudo obviamente culpa do
ogro prof. Van Helsink, que jurou matar o Drácula. Em recente programa de
entrevista em Porto Alegre, um rato verde, candidato, teceu loas ao seu
próprio ninho, dizendo-o universal, presente em 106 países do mundo. Os
green mouses devem a sua onipresença, disse o rato-candidato, a um
"inconsciente coletivo" da humanidade. Isso explicaria a sua
universalidade. E disse mais, que o partido dos ratos verdes não recebem
apoio de nenhuma instituição, nenhum sindicato, nenhuma empresa, de
nada. São frutos unicamente da consciência, ou desse "inconsciente
coletivo". Desculpam-se, evidentemente os exageros de candidatos, mas o
rato-mor esqueceu-se de citar como patrocinadores da bandeira verde a
ONU, centenas de ONGs, casas reais européias, e a própria União Européia.
Como se vê, tudo do nosso "incon$ciente coletivo"! Os programas verdes
incluem, como todo mundo sabe, uma volta aos padrões de vida do século
XVII ou XVIII, primeira parte; o fim da indústria, da pesquisa genética, da
engenharia dos alimentos moderna, da experiência laboratorial com
animais - e querem direitos animais já! Comprova-se o DNA do Drácula
abrindo um rato desses. Por dentro é vermelho, por fora é verde!
Mudando de rato, chegamos aos principais, aqueles que não podem se
esconder tão facilmente, os ratos vermelhos. São iguais aos seus colegas
verdes, porém, são vermelhos por fora também. Andam nas ruas com
ícones e estandartes leninistas, marxistas, guevaristas, maoístas, mas não
são comunistas, são da overleft left! Quando abrem a boca só dizem
mentiras! São inconfessáveis as suas intenções, que aqui, por falta de
espaço, reduzo a três: luta de classes, intervenção estatal na economia ou
economia dirigida, e ameaça à propriedade privada. Como só mentem, nos
fazem acreditar que a "inclusão social" não é um nome novo para a velha
luta de classes; apóiam a democracia representativa, mas querem
substituí-la pelo Orçamento Participativo; dizem pretender a reforma
agrária, mas o que querem é o fim da propriedade privada. Dizem-se
católicos, também. Há comunidades inteiras de ratos-bispos. No topo da
hierarquia são púrpuras. Ultimamente, apareceram por um processo
desconhecido de mutação eleitoral, ratos evangélicos com estranhos
hábitos liberais e carismáticos. Devem ser americanos!
Proliferam, como de hábito, como ratos, ora bolas! Cruzam-se entre si,
mesclando cores. Daí haver combinações de ratos pretos com listas
verdes; ratos pretos com listas vermelhas; ratos verdes e vermelhos etc.
Estudando melhor os seus hábitos, descobre-se que o seu ambiente mais
favorável é a democracia representativa. Democracia faz bem aos ratos.
Outros ambientes já foram testados, mas nenhum foi tão propício como a
democracia. Eleições não os matam. Não adianta tentar, foram eles que
fizeram as regras! Estão vacinados e imunes como os transgênicos às
pragas.