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Fiquei confusa quando o Bruno me convidou para falar sobre

envelhecimento. Eu não tenho nenhuma formação acerca deste tema,


não sou especialmente boa a falar em público, não conheço a maior
parte das pessoas que aqui estão…

Reli o convite duas ou três vezes e assumi – este convite é a prova


real de que estou a ficar velha. Sou assim um embrião da velhice e
deve ser por isso que me convidaram.

Pus-me a pensar nisto, no que teria para vos dizer neste tempo
contado e cheguei à conclusão que não percebo mesmo nada do
tema. Acho que envelhecer deve ser o mesmo que ficar velho mas fico
baralhada porque ficar “mais velho” é um conceito que não tem a ver
com a velhice em si, ou com a terceira idad.

Vejamos:

Quando os miúdos fazem anos dizemos “Parabéns! Que sorte” Já


estás mais velho!” MAIS VELHO. Desde que nascemos, a cada
minuto, melhor, a cada segundo, não, a cada microssegundo que
passa, estamos mais velhos!” É isso, envelhecer?

Até uma certa idade, não damos conta disso, não queremos saber,
vamos crescendo e envelhecendo ao ritmo da vida de todos os dias.

Depois passamos a dar. Não há um momento, nem uma idade, nem


um dia específico do calendário. Há uma fase das nossas vidas em
que passamos a perceber a vida com uma perspetiva diferente, os
filhos cresceram, saíram de casa (esperemos!) temos dores no corpo,
cabelos bancos. Isto acontece tudo devagarinho e sem aviso.

Na dúvida acerca dos conceitos, a partir deste momento vou passar a


referir-me a “envelhecimento” como à fase da vida depois da idade
adulta.

Tal como vos disse, não entendo nada em termos científicos acerca
disto pelo que tive que estudar MUITO para aqui estar agora. Um dos
artigos mais interessantes que li é um estudo conduzido por uma
empresa farmacêutica acerca dos 50 primeiros sinais do
envelhecimento. Foi ao ler essa lista que percebi que me encaixo
bastante bem no tema
Façamos aqui um teste rápido – quantos de vocês dizem ai quando se
baixam de cócoras? Quantos adormecem no sofá a ver coisas de que
gostam? Quantos conhecem mais do que uma música do top 10?
Quantos saem de casa sem casaco?

Todos velhos!

Nos resultados deste teste estranhei muito não constar, numa lista de
50 sinais, aquele que para mim tem sido o sinal mais evidente do meu
envelhecimento – ter mais tempo. Apesar da minha vida ativa, dos mil
projetos em que me evolvo, apesar de dois dos meus filhos ainda
serem menores, eu tenho MAIS TEMPO. Tenho mais tempo porque
deixei de dar importância a determinadas coisas, tenho mais tempo
porque sei que tenho menos tempo, tenho mais tempo porque escolho
como quero usar o tempo que tenho. Se não estivesse a envelhecer,
não estava aqui agora, de certeza. E de certeza que também não
tinha aqui passado a manha a tricotar, que é uma das coisas que mais
gosto de fazer. O Grupo de Tricotadeiras de Aveiro é um projeto a que
dou muito do meu tempo e que me tem trazido pessoas maravilhosas.
Tenho um grande orgulho no que este grupo tem feito com as pessoas
e pelas pessoas, sobretudo as mais velhas, que nos trazem sabedoria
e bom senso.

Também nos trazem dores nas pernas, artroses, tremeliques, e outros


achaques mas sem estes mini dramas, conversávamos sobre o quê?

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