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E.C.H.

FREITAS






Deliciosas Amoras







1ª EDIÇÃO
SALVADOR/BA
SETEMBRO/2018

Edição da capa: E.C.H. Freitas


Imagens obtidas em pesquisa no Pixabay e sem copyright
Edição do livro, revisão e diagramação: E.C.H. Freitas
Proibida a cópia ou reprodução integral ou parcial deste livro.

___________________________________
Catalogação na Publicação (CIP)
Ficha Catalográfica feita pelo Autor


F8665 Freitas, Eulálio Cohim Hereda de, 1979 –
Deliciosas Amoras / E.C.H. Freitas. Salvador: Edição do Autor, 2018.
238 p. ; 14 x21cm.


1. Romance 2. Erótico 3. Romance erótico 4. Ficção
I. Título

CDD: B869.3
CDU: 821.134.3(81)A492.7
____________________________________

Dedicatória

Não penso em ninguém mais que minha própria família para


dedicar minhas produções literárias. Minha esposa sofre com as
horas que desprendo para a escrita e abandono para as tarefas
domésticas. Minha filha questiona o que tanto escrevo e espero
um dia ser reconhecido por isso.
Mas você, leitor, é o principal motivo pelo qual escrevo. Não há,
para mim, um livro sem o seu respectivo apreciador. Se você me
encontrou, gostou ou não do que escrevi, aproveite os canais
disponíveis para comunicação e deixe seu comentário.
A força motriz de um autor não é apenas a inspiração para
escrever, mas também a satisfação de encontrar seus leitores.
Aproveite uma boa leitura!
1 – Início de tudo
Iniciei uma fase bastante complicada e duvidosa da minha vida. Eu respondia “não sei” a
muitas perguntas que me faziam: vai à balada hoje? Vamos para o happy hour mais
tarde? E o baba de sábado, você vai estar lá, não é? Eu não queria ir a lugar algum, o que
fez com que aumentasse o tédio e me deixasse introspectivo durante esta fase turbulenta.
Havia um motivo para ter ficado assim: terminei um relacionamento conturbado de quase
uma década com minha atual ex-namorada. Nos últimos meses, vivemos uma história
permeada de mentiras e traições, apesar de nosso início ter sido um conto de fadas.
Eu a amei desde o primeiro dia que a vi, numa praia se bronzeando enquanto eu aprendia
kitesurf. Por um acaso do destino, o vento provocou uma turbulência no kite no instante
que o elevava e, quando fui controla-lo, ele veio com força na areia arremessando um tufo
sobre a garota que eu estava de olho.
Entre pedidos de desculpas, ajuda a sacudir sua canga e umas boas olhadas em seu corpo,
protegido por pequenos pedaços de biquíni, iniciamos uma conversa sobre há quanto
tempo frequentávamos a mesma praia sem termos nos conhecido antes. Sentei ao seu lado,
paguei uma água de coco e terminamos o dia com o número de telefone do outro.
À noite, quando pensei em ligar, recebi uma mensagem dela, informando em qual bar
estava e que me esperava lá. Foi um convite irrecusável. A encontrei acompanhada das
amigas, mas assim que me viu, ela fez questão de se levantar da mesa, me deu as mãos e o
inesperado aconteceu, com um beijo em meus lábios ela me surpreendeu. Sua iniciativa
preencheu um vazio que havia em mim e não nos desgrudamos mais depois desse dia.
Quer dizer…
Nem tudo em nossas vidas foram flores. Tínhamos rotinas de trabalho conflitantes, eu era
um funcionário que ficava preso nas obrigações da labuta das oito às dezoito, enquanto ela
tinha uma rotina mais flexível e gostava de cumprir sua jornada à noite como atendente de
uma loja de shopping center. Eventualmente nos encontrávamos no fim da noite em minha
casa e eu recarregava minhas energias e gastava-as em madrugadas agitadas e regadas
com sexo bem gostoso.
Nossos encontros sociais com amigos e familiares se resumiam a finais de semana e
feriados. Ela era uma mulher maravilhosa, meus pais a adoravam, nossos amigos se
tornaram comuns e cobravam sempre a nossa presença em festas e aniversários.
Não sei dizer quem começou primeiro. Devido à minha desconfiança por ela não atender a
algumas ligações, passei a imaginar que havia algo errado. Isso nos afastou e com o tempo
ela deixou de vir à minha casa após o trabalho, dizia que estava cansada e tal, e então não
tive mais dúvidas que havia algo errado em nossa relação.
Cheguei a perguntar se estava tudo bem, mas nunca lhe disse que sentia sua falta ou que
desconfiava de algo. Aproveitei minha popularidade em alta e achei que traição trocada
não doeria, mesmo não possuindo evidências que ela estivesse me corneando. A princípio
não doeu, mas quando as evidências se tornaram fortes, iniciamos uma relação ácida.
Foi um final traumatizante para ambos, mais para mim, pois eu ainda sentia algo por ela,
enquanto a recíproca não se mostrava verdadeira. Minha casa se transformou, não apenas
num vazio, mas também num lugar em que eu não reconhecia como meu. Meus colegas e
amigos recomendaram que me mudasse, mas não, decidi que eu deveria me martirizar ali
e aprender com os erros.
Entre altos e baixos dessa fase depressiva, eu saía com Sebastião, um grande amigo que
insistiu em inúmeras tentativas de me tirar da grande fossa que havia entrado. Assistíamos
partidas de futebol no estádio, bebíamos até nos embriagarmos, conversávamos sobre
trivialidades e às vezes eu conseguia abstrair e aproveitar a distração.
― Cara, você precisa de mais saídas assim ― disse ele.
― Sebas, só você mesmo para me deixar assim, mas basta tocar no assunto que eu já…
― Que é isso, cara? Já vai mudar de ânimo de novo?
Sim, minhas mudanças de humor eram repentinas, eu parecia bipolar e, com o tempo, isso
acabou afastando muitos amigos do meu círculo de amizades. Mas Sebastião era diferente,
ele não ligava para isso e sempre procurava assunto para me distrair ou então jogava os
podres na minha cara e saía de cena.
― Olha para cá esse perfil, veja só! ― disse ele, mostrando o perfil de uma garota no
aplicativo de paqueras ― Essa tem cara de que se der match tá no papo!
― Simples assim? ― perguntei.
― É, cara! Vou dar um like aqui e se ela também der, vai rolar alguma coisa mais tarde
para mim ― ele diz me dando cutucadas na altura do plexo solar.
Nossos encontros eram assim, começávamos juntos, mas não significava que
terminaríamos juntos. Sebastião sempre emendava com um encontro ou com algum outro
evento, às vezes eu era convidado e recusava. Nesse dia do jogo não foi diferente, meia
hora depois ele me mostrou que a garota deu um like nele e pronto, começaram a
conversar e fiquei em segundo plano.
― Você precisa se cadastrar nesse aplicativo também, tem que pegar umas mulheres para
esquecer aquela terrosão ― disse ele, antes de se despedir.
― Não sou desses que fica pegando uma e pegando outra.
― Que é isso, cara? Elas também estão assim, se lembre como foi seu relacionamento,
agora vai dar uma de puritano?
― Não precisa lembrar disso…
― Já vi que sua cota de humor se foi por hoje, então, se quiser voltar para casa e se
lamentar de seu relacionamento frustrado, vá em frente!
E foi o que fiz. Voltei para casa e observei cada parte daquele apartamento que ela ajudou
a decorar, tudo fazia lembrar de nosso passado, desde as coisas maravilhosas que fizemos
juntos, passando pelas brigas incessantes dos últimos dias até a nossa separação.
A insistência de Sebas em fazer com que eu virasse a página dessa minha triste história
começou a surtir efeito. Com o passar do tempo, fiquei curioso e me cadastrei nesse
aplicativo de paquera.
Eu havia desaprendido a puxar uma boa conversa, não sabia mais paquerar e, quando
conseguia um like, falava do meu relacionamento anterior. Quem gostava de ouvir
relacionamentos frustrados e movidos a traição? Sem saber, afastei muitas mulheres que
consegui estabelecer um match e acabei bloqueado por elas.
Não fiquei no zero a zero em todas as oportunidades que surgiram, conheci duas garotas
interessantes, que gostavam de ouvir minha história e quiseram preencher o vazio em
mim, mas houve uma incompatibilidade entre nós, eu não conseguia vê-las como
substitutas ao relacionamento anterior, faltou algo para que eu me apaixonasse por elas.
O lado positivo foi que me senti seguro para novos matchs. Muitos desses encontros foram
efêmeros, como se fosse só para experimentar e em seguida a conversa esfriava. O que
havia de errado em mim?
Sebastião me ajudou com algumas dicas, tais como tirar fotos em determinadas poses para
ficar bem apresentável no perfil, o que escrever para atrair as mulheres e, principalmente,
como deveria ser o encontro.
― Cara, esqueça esse lance de falar sobre você. Pergunte sobre ela, sobre o que aconteceu
durante o dia, o que achou da comida, mas não fale de seu passado ― disse ele.
― E se ela perguntar?
― Responda o mais curto e sintético possível, diga que não deu certo, não venha com esse
papo de traição, não. Esqueça o que houve, simplesmente vocês se desentenderam e
decidiram se separar, pronto!
― Eu não consigo ser assim.
― Aí está o seu defeito, você tem que parar com isso e entender que é hora de mudar. Mas
não vá mudando seu humor novamente, não. Deixa essa cara emburrada para quando eu
sair.
Foi difícil seguir os conselhos de Sebastião, vez ou outra eu flagrava, em minhas
mensagens, algo relacionado à minha última separação. Vi que isso se transformava no
motivo das garotas se afastarem, outras insistiam e alimentavam essa minha conversa
depressiva, até chegar num ponto que diziam não estarem interessadas num encontro.
Foi então que um perfil me chamou atenção, dentre fotos de mulheres exibindo seus belos
rostos, seus chamativos corpos e atributos, me deparei com uma foto de amoras. Sim, uma
fruta, amoras vermelhas e bem apetitosas. A descrição do perfil era enigmática:
“Selvagem ou domesticada? Não importa, o sabor, nem todo
mundo prova ou gosta, bem como não estou disposta a
experimentar qualquer um.”
Fiquei intrigado com a foto e com o texto, quantos likes esse perfil recebeu e quantos ele
retribuiu? Lembrei da febre das mulheres frutas, tinha a mulher maçã, morango, pera, jaca
e tantas outras que vieram em seguida sem muita significância. Que formato teria a mulher
amora? Pensei em diversos tipo horrendos, afinal, não era uma fruta vistosa, embora
apreciasse bastante o seu sabor.
Como Sebas orientou: quem não arrisca, não petisca. Eu não tinha nada a perder se desse
um like nesse perfil. Poderia não ocorrer um match, poderia me decepcionar com o perfil
de um gay, fake ou até mesmo com uma mulher feia que se escondia numa foto de amoras.
Decepção maior que a traição eu não teria.
Pronto! Deslizei a foto para a direita e segui adiante, olhando o perfil de outras mulheres
disponíveis na minha região, dava like ou unlike conforme meus critérios de seleção, os
quais eram bastante subjetivos.
Basta como exemplo a amora acima, eu não tinha a foto dela, não fazia ideia como era seu
rosto, seu corpo, se era atraente, se faltava um dente ou mancava. O que me chamou
atenção foi a mensagem enigmática deixada, bem como a possibilidade em ser
surpreendido com o seu sabor, digo, com a sua beleza.
Se levasse pelas estatísticas, as chances de me decepcionar seriam maiores em relação a
encontrar uma bela e interessante mulher, mas eu não aprendia com os erros. Eu gostava
de arriscar os perfis mais exóticos, gostava do que era diferente e fugia dos estereótipos e
padrões de lindas mulheres, com seus corpos trabalhados em academias e modelados em
clínicas de estética.
Não que eu tivesse uma estima baixa, me considerava feio ou fora de forma para fugir
desses padrões de mulher que todo homem deseja. Se fosse para sexo casual, para exibir
como uma conquista, é claro que a embalagem contava, mas nem sempre ela vinha com
conteúdo, e isso era mais fácil de encontrar na mulher comum, na que mostrava quem
realmente era e não se escondia em fotos bonitas, carregadas de maquiagem e Photoshop.
Essa era a minha teoria e até agora eu não consegui prova-la como verdadeira. Todos os
encontros que tive, adotando esse critério de olhar o conteúdo e não a embalagem, sofri
algumas decepções ou não perduraram o tempo necessário para afirmar que eu tive um
relacionamento.
Sebastião, com seus inúmero matchs de mulheres bonitas, também não. Mas seu caso era
diferente, ele só queria aumentar sua lista de mulheres que pegou e exibi-las aos amigos.
Para ele, o aplicativo de paqueras servia para encontros casuais e não para algo sério,
como eu esperava que fosse ocorrer.
― Cara, deixa esse lance de algo sério para algo mais real e deixa esses encontros virtuais
só para diversão ― disse Sebastião, enquanto bebíamos num bar.
― Eu também estou me divertindo, vez ou outra saio com alguém que rola afinidade…
― Mas você sai acreditando que vai rolar algo mais e às vezes a mulher só quer fazer um
test-drive.
― Ela pode aprovar e querer rodar com maior frequência ― comentei.
― Sim, pode, mas você já sentiu que esses tipos que querem repetir não têm muita
evolução.
― Você nunca se apaixonou por uma dessas mulheres, Sebas?
― Apaixonar, para quê? Com tanta mulher querendo sair, eu vou me apegar? ― ele
termina a cerveja que havia em sua caneca e sinaliza ao garçom para lhe servir outra ―.
Mas eu respeito sua decisão de querer um relacionamento sério ― ele olha uma mesa com
três mulheres e volta o olhar para mim ― Mas se lembre que fidelidade tem prazo de
validade.
― Lá vem você falar de meu passado…
― Só não venha ficar emburrado agora!
― Eu já virei essa página da minha história… ― meu smartphone deu um toque,
indicando que havia ocorrido um match.
― Aí! É esse meu amigo que quero de volta! ― Sebastião comemora ao ouvir o toque em
meu celular.
Nessa nossa conversa de bar, eu já havia superado meu relacionamento fracassado, saí
com meia dúzia de mulheres em encontros eventuais, conversei com outras dezenas e
segui adiante com minha vida, embora permanecesse um vazio toda as noites que
retornava para casa.
Quanto ao match que surgiu no aplicativo de paquera, após semanas de tantos likes dados,
apareceu a foto de amoras vermelhas como o perfil que havia correspondido à uma
afinidade mútua.
2 - Amora
Sempre fui uma menina excêntrica e fora da moda, não gostava de parecer igual às minhas
colegas e, por esse motivo, me destacava entre elas. Se elas vestiam saias jeans, eu usava
couro preto, se salto alto, eu calçava sandálias de tiras, se o batom era nude, o meu era
preto e bem marcado, por entre penteados lisos e padronizados, o meu era rebelde e
colorido.
Às vezes me confundiam como uma punk, mas eu gostava de rock progressivo, só porque
meu cabelo era colorido, mas de resto eu vestia mais preto. Por toda a minha adolescência
usei pintura na cor rosa e azul em meus cabelos. Quando entrei na faculdade, deixei eles
descoloridos, brancos, quase alvos, e depois optei por um vermelho intenso, diferente de
qualquer ruivo já visto.
Esse visual não me rendia muitos frutos, desde a adolescência eu consegui a atenção de
poucos garotos, os mais corajosos por assim dizer, pois a maioria tinha medo de se
aproximar por ser considerada a “diferentona”.
Esse meu look exótico serviu de diferencial ao ser selecionada como modelo fotográfico.
Meu rosto possuía um tom pardo, meus cabelos permaneciam coloridos e rebeldes, os
olhos negros e as sobrancelhas naturais e bem marcadas, me fizeram de queridinha para
muitas seções de fotos.
Essa renda extra permitiu minha emancipação antecipada e a mudança de cidade para
cursar jornalismo, meu sonho era ser repórter de telejornal com esse visual. Prossegui
fazendo trabalhos fotográficos, em paralelo com a faculdade, e estampei uma página ou
outra de folhas de revistas femininas, jornais e sites de beleza. Querendo ou não, essa
minha “popularidade” impulsionou a realização de meu sonho.
Continuei afugentando homens por conta do meu visual exótico, ainda mais depois que
coloquei um piercing no nariz e reforcei a maquiagem com sombras bem carregadas. Tive
poucos namorados e muitas paqueras e ficantes. Sempre quando achava que iria rolar algo
mais legal, o sacana vinha e dizia que curtia o meu visual, mas não para sair assim na rua
de mãos dadas. Mas como assim? O que havia de diferente que o impedia de me assumir
como sua namorada?
Se ouvisse os conselhos dos homens e as insinuações das mulheres, eu teria me
transformado numa prostituta ou garota de programa, ganharia dinheiro com isso, muito
mais do que trabalhando como modelo para bancar a faculdade e dividir um apartamento
com Sara, minha colega de faculdade. Mas eu tinha uma formação familiar consistente e
sabia muito bem o que queria da minha vida.
Entre baladas, noites em bares, participação em eventos e saída com as amigas, descobri
um aplicativo de paquera e achei que ele seria tudo de bom para encontrar um cara legal,
afinal, essa era a proposta inicial do serviço.
Ledo engano.
Meus cabelos chamaram a atenção de muitos pretendentes, não houve um gato que dei
like e fiquei esperando ser correspondida, todos já haviam me marcado antes. Dentre o
envio de fotos de paus duros e grandes, pedidos de nudez e ofertas de dinheiro para fazer
sexo, encontrei alguns rapazes mais educados e inteligentes, os quais pude estabelecer um
diálogo interessante.
Meu primeiro encontro foi maravilhoso, saímos para um jantar, conversamos bastante e
terminamos a noite num motel. Ele soube conduzir uma mulher ao prazer e, com essa
conquista, permiti que fizesse o que quisesse comigo. Acreditei que teríamos um
relacionamento duradouro.
Passamos a nos encontrar de duas a três vezes por semana, sempre terminando o dia no
motel com um sexo maravilhoso, parecíamos conectados quanto a esse quesito. Após a
segunda semana, me referia a ele como “amor” e não acessava mais o aplicativo de
paquera. Me sentia desejada, completa e amada por ele.
Mas veio a primeira decepção.
Num passeio no shopping com colegas da faculdade, me deparei com a pior cena da
minha vida. O encontrei acompanhado, de mãos dada com uma mulher de pele branca,
cabelo alisado, vestida conforme a moda, toda patricinha e bonitinha para os padrões de
beleza atuais.
― O que foi, mulher? ― perguntou Sara.
― Se lembra do rapaz que eu estou saindo?
― Sim, o que tem ele?
― Ele está ali ― apontei em direção ao casal que caminhava de mão dada.
― Não acredito! Ele te enganou esse tempo todo!
― Não sei o que fazer…
Meu corpo tremeu por completo, senti um frio invernal, embora meu corpo suasse de
agitação. Sara segurou em uma das minhas mãos, sinalizou para as demais colegas que
havia algo errado e explicou o que aconteceu comigo.
― Tem que ter troco! ― Disse Michele, outra colega minha.
― Esse sacana precisa se lascar! Vamos passar perto e ver a reação dele!
Permaneci congelada, fui arrastada pelas minhas colegas e induzida a acompanhar meu
paquera pelos corredores do shopping. Quando ele se deu conta que eu estava por perto,
seus olhos quase saltaram do rosto, sua pele corou de tal forma que quase parou de
respirar, a ponto de ficar próximo da cor roxa.
― O que foi querido? ― sua companheira perguntou assustada e em seguida acompanhou
seu olhar até minha direção ― O que houve?
― O que houve? ― Sara perguntou para a garota ― Esse seu queridinho aí é o maior
galinha!
― Com é? ― retrucou a mulher.
― Isso mesmo! Enquanto ele passeia no shopping com você de mãos dadas, pelas suas
costas ele anda comendo a minha amiga aqui e iludindo-a.
― Não acredito nisso! ― disse a mulher ― É verdade, mô?
― Meu bem…
― Não venha mentir diante de minha amiga agora não, que eu já te vi buscando-a na porta
da faculdade ― prosseguiu Michele.
― Você me traiu com essa aí? ― perguntou a mulher.
Até então eu estava apenas acompanhando a discussão, mas quando a mulher me referiu a
“essa aí”, minha estima saltou para um patamar que ninguém seria capaz de baixa-lo.
Nunca, mas eu afirmo que nunca permiti que alguém me rebaixasse por conta de meu
estilo e não seria uma patricinha traída que faria isso.
― Foi com esse cabelo de fogo aqui que ele se queimou bastante por entre minhas pernas
― se era para baixar o nível, que fosse logo ―, e ele não pode negar que fazíamos sexo
muito gostoso.
A tal mulher se contorceu, fechou as mãos e em seguida voou em minha direção. Eu já
estava preparada para isso e trocamos puxões de cabelo, tapas na cara e arranhões. Minhas
colegas impediram que meu paquera se intrometesse e passaram a bater nele também. Foi
um barraco generalizado no corredor do principal shopping da cidade. Derrubamos lixeira,
uma vitrine se estilhaçou e foi preciso um pelotão de seguranças para nos separarem.
Logo eu, que queria me tornar uma repórter televisiva, fui filmada por um telejornal e
virei notícia nos principais noticiários da cidade. Meu cabelo se destacou entre minhas
colegas e a mulher traída, tivemos que prestar depoimento na delegacia, assinamos um
termo e nos comprometemos a indenizar os danos causados.
A notícia girou em torno do aplicativo de paquera, o provocador da discórdia e motivador
da grande briga no shopping center. Aliado ao meu destaque entre os envolvidos, minhas
redes sociais foram bombardeadas de solicitações de novos contatos, de mensagens de
mulheres me ameaçando, caso eu estivesse dando em cima de seus namorados, e de
homens querendo o meu contato para transar.
Acabou a Angélica que todos conheciam, uma garota que se escondia num corpo exótico,
mas que possuía a alma de um anjo, era assim que Sara se referia a mim. Tive que me
desfazer das redes sociais e quanto ao aplicativo de paquera, não quis mais conta com ele.
Quase que desisti do curso de jornalismo. Foi muito duro e difícil encarar a faculdade após
um vexame desses, tive que ouvir piadinhas, olhares atravessados e engolir seco algumas
insinuações para não provocar uma nova confusão.
A oferta de trabalhos como modelo foi comprometida com a circulação de minha imagem
nos noticiários, e a redução de sessões de fotos comprometeu o orçamento, tive
dificuldades em pagar minha parte no aluguel do apartamento e a faculdade.
A saída foi encontrar alternativa para complementar a renda. Até que não foi difícil. Por
conta do visual, fui contratada numa rede de lanchonetes que possuía a temática vintage e
meus cabelos vermelhos, aliado ao uniforme, foi o casamento perfeito para conseguir a
vaga.
Todos os funcionários tinham um codinome para usarem durante o trabalho e comigo não
poderia ser diferente.
― Tem algum apelido de infância que você gosta de ser chamada? ― perguntou o
gerente.
― Sempre me chamaram de Angel ― respondi.
― Já temos uma com esse nome.
― Podem me chamar de ruiva, então ― fiz a sugestão.
― Não, seu cabelo não é de uma ruiva, parece um suco de morango, mas não… ― o
gerente leva a mão ao queixo ― Você parece mais selvagem que um morango.
― Ameixa?
― Quase isso… Além do morango, tem o quê de vermelho? ― ele fica estalando os dedos
como se estivesse com a resposta na ponta da língua ― Amora! Sim, você pode se chamar
de Amora!
― Gostei!
E foi assim, após um trágico incidente, promovido por um aplicativo de paquera, que a
Angélica cedeu lugar a Amora e recomecei a vida social como atendente de lanchonete.
Parte dos problemas foi resolvido, pois, ainda havia o lado negativo da Angélica ao
frequentar a faculdade e o meu sonho de ser repórter de telejornal apagado da minha lista
de objetivos para o futuro.
3 - Retomando as redes sociais

Angélica
Custei a adquirir confiança para retornar às redes sociais, nas primeiras semanas eu não
quis conta com Facebook, Instagram, Twitter ou qualquer outro aplicativo popular. Eu
lembrava dos comentários, das provocações e mensagens maldosas. Amaldiçoei qualquer
conta que tivesse meu nome vinculado.
Depois de uma decepção amorosa, me tornar uma anônima foi a sensação que mais
machucou por meses. Eu via minhas colegas compartilhando e comentando muitas coisas
e ficava ali, apenas de coadjuvante quando estava próxima.
E tudo estava vinculado. Se era uma festa, o convite era enviado para os contatos já com
data, local e horário definidos, até a visibilidade como modelo foi prejudicada com a
minha saída das redes sociais. Perdi por completo a minha identidade, deixei de existir em
baladas, encontros, aniversários e eventos.
Ao me tornar Amora, vi uma nova mulher surgir. Quando descobri que alguns colegas da
lanchonete utilizavam seus codinomes nas redes sociais, arrisquei, lancei um novo perfil
no Facebook e na foto coloquei amoras vermelhas, não queria que me vissem como
Angélica e nada melhor que a própria fruta para me identificar.
Meus amigos quando viram, acharam que era um fake, alguém querendo amizade para
roubar seus dados. Tive que explicar e comprovar que eu estava retornando às redes
sociais.
Por segurança, mantive meu perfil fechado, exclusivo aos amigos e colegas de confiança e
abandonei aqueles milhares de contatos que me adicionavam apenas para me seguirem,
mas que não me conheciam, tampouco eu a eles. Com tamanha restrição, meus trabalhos
como modelo fotográfica permaneciam numa vertiginosa queda.
Por outro lado, eu ficava exausta de tantos atendimentos na lanchonete e pouco dinheiro
no bolso. Abandonei a academia, deixei de me preocupar com o físico e ganhei alguns
quilos. Mudei o meu manequim para alguns números a mais, apesar de me ver a mesma
mulher diante do espelho.
Minha estima permaneceu baixa e as cicatrizes de um relacionamento frustrado não
haviam curado. Eu voltava para casa depois da faculdade e tinha apenas Sara para me
fazer companhia, isso quando ela não saía para encontrar o namorado.
― Já está na hora de você sair dessa fossa! ― disse Sara.
― Mas eu já saí.
― Tem quanto tempo que não dá um beijo gostoso na boca? Uns seis meses?
― Mais ou menos isso, não tenho sentido falta…
― Sente sim! Todo mundo sente e você precisa se apaixonar novamente!
― Não preciso de mais uma desilusão amorosa, perdi muita coisa da última vez e por
sinal, você foi quem provocou toda aquela briga.
― Eu? Você disse umas verdades para aquela vadia de cabelo liso e sou a culpada?
Sara usava seu cabelo castanho bem cheio e frisado, por isso se identificava comigo, e
qualquer garota que vinha enlatada em padrões pré-definidos, para ela era uma patricinha.
― Ela que veio para cima de mim.
― Está vendo? Não foi culpa minha nem sua, aquela puta que não aguentou a provocação
e partiu para a agressão! Então não me culpe pelo que aconteceu. Aquele filho da puta,
sim, foi o maior mentiroso e culpado.
Tive que concordar com Sara, demos boas gargalhadas ao lembrarmos da confusão que
nos metemos e foi o suficiente para ela me tirar do apartamento e levar até um barzinho
com música ao vivo.
Pois é, seis meses foi tempo suficiente para sofrer por algo que não deveria ter tanto valor.
Fui apresentada a Vinícius, um amigo do namorado de Sara, o qual me fez companhia e
evitou que fosse a única sem um par na mesa. Algo me fez gostar dele, não sei se foi seu
corpo moreno, forte e alto ou se foi seu cabelo formado por dreads curtos e finos.
― Não consigo parar de olhar para seu cabelo, ele é tão perfeito em seu rosto ― disse ele,
enrolando o dedo por entre meus cachos.
― Foi a cor que melhor casou comigo.
― Vendo-a assim, tão de perto, dá vontade de experimentar que gosto você tem.
― De amoras ― respondi de imediato e sem pensar.
― Amoras selvagens, só pode ser!
Mais um que achou meu visual “selvagem”.
Não sei se foi a bebida, se a conversa mais cedo com Sara ou se realmente cumpri o prazo
da minha fossa. Senti a mão de Vinícius contornando o meu rosto, enquanto seus lábios se
aproximaram lentamente de mim. Eu poderia me afastar, mas um perfume amadeirado
preencheu meus sentidos e despertou o desejo de experimentá-lo, ao mesmo tempo em
que seus lábios umedecidos sugaram os meus. De imediato, meu corpo aqueceu e sua
língua deliciosa em minha boca fez com que eu esquecesse do tempo.
Ao abrir os olhos, vi Sara e seu namorado sorridentes e felizes comigo. Não deu tempo de
ficar envergonhada, Vinícius se aproximou, sedento, para mais um delicioso beijo.
― Primeira vez que experimento amoras ― disse ele.
― Gostou do sabor?
― Dá vontade de experimentar mais!
Percebi a insinuação nas entrelinhas. Mesmo que não fosse, deu a entender que o
experimentar estava em duplo sentido. Ele não queria apenas me beijar, mas também me
comer.
― Mas hoje estou apenas para degustação ― comentei, aproveitando o duplo sentido.
― Bom assim, que só faz aumentar a vontade.
― Mas se eu estiver só para degustação?
― Com esse beijo? ― ele aproximou seus lábios de meu ouvido e pude sentir melhor o
seu perfume próximo ao pescoço― Darei quantos beijos forem necessários e mostrarei
que sou merecedor de experimentar todo o sabor que você possui.
Uma voz grossa, no entanto baixa e suave, ecoou pelo meu ouvido e fez com que todos os
pelos de meu corpo eriçassem. Vinícius soube encontrar meus pontos fracos, em poucos
minutos ele descobriu que por trás do lóbulo de minha orelha eu arrepiava com o toque de
seus lábios. Minha calcinha começou a umedecer de tanta provocação, mas consegui, no
final, resistir à tentação de ser levada a um motel no primeiro encontro.
Ao final da noite, Sara saiu com seu namorado e Vinícius me deu carona até em casa.
Trocamos deliciosos beijos dentro do carro e ele arriscou a passar a mão por entre minhas
pernas, até bem próximo de minha calcinha, mas eu não quis que ele visse o quanto fiquei
excitada, ainda mais se usasse os dedos da mesma forma que conseguia fazer com sua
língua em minha boca. Seria o golpe final.
― Quando a verei novamente? ― ele perguntou.
― Eu trabalho durante o dia e estudo à noite. Só tenho folga nos finais de semana, como
hoje, por exemplo.
― Então só terei você em meus braços no sábado?
― Talvez na sexta-feira, minha aula acaba mais cedo e se você tiver disposição,
poderíamos nos encontrar.
― Mas é claro! Passarei dias sem saborear minha Amora, não perderia essa oportunidade
por nada.
Novos beijos foram dados e quase que pulei em seu colo dentro daquele carro. Seis meses
foram muito tempo sem beijar, quem diria sem fazer sexo, então, meus sentidos para uma
boa trepada foram ativados diante de Vinícius.
― Não irei prolongar ― disse ele, frustrando minhas expectativas de passar uma
madrugada ao seu lado ―, amanhã temos trabalho, então é melhor nos despedirmos.
― Você tem razão ―retomei a consciência de não transar logo no primeiro encontro ―,
nos veremos na sexta-feira, então.
― Com certeza!
Saí do carro e segui até o apartamento como se caminhasse nas nuvens, não me lembrava
da última vez que me senti assim. Com meu fatídico ex-namorado, eu tinha uma grande
atração sexual, era uma necessidade de estar com ele para saciar minhas vontades,
diferente do que senti ao lado de Vinícius.
Minha semana começou melhor que as anteriores, não senti o peso de ficar horas servindo
clientes na lanchonete, recebendo cantadas horríveis, gorjetas generosas e ofertas para
sexo. Na faculdade, não havia mais o clima de bullying e provocações, deixei de ser o
assunto, a sensação dos olhares questionadores e percebi que minha vida retomava a
normalidade.
Na sexta-feira, Vinícius veio me buscar na faculdade e assistimos a última sessão de
cinema no shopping. Nem preciso dizer o quanto pegamos fogo dentro da sala, trocamos
beijos deliciosos e a penumbra permitiu que as mãos percorressem livremente em nossos
corpos.
Fomos para seu apartamento, um quarto e sala típico de homem solteiro.
― Aceita uma bebida? ― ele perguntou.
― Sim.
Sentei no sofá e fiquei observando os detalhes do ambiente, no mínimo ele contratava uma
diarista para manter a casa arrumada e tudo no lugar. Distraída, vi uma taça de vinho à
minha frente, olhei para o alto e o vi com outra taça na mão. Brindamos e senti um leve
sabor doce da uva, no entanto, o aroma parecia muito com o perfume que ele usava, ou eu
estava confundindo as coisas?
Seus beijos foram mais controlados e lentos, como se saboreasse e provocasse ao mesmo
tempo. Suas mãos estavam mais íntimas de meu corpo, passearam sob minha camisa e
apertaram o tecido do meu sutiã, o qual permaneceu cobrindo meus seios por pouco
tempo, pois, ele acabou deslizando-o para o lado e a aspereza de uma mão masculina
massagearam meus mamilos.
A outra mão apertou minha bunda e trouxe meu corpo para próximo de si. Senti falta de
ar, mesmo com os beijos lentos e suaves. Não sei como prendi a respiração por tanto
tempo, senti ânsia de acelerar o ritmo e desacelerei ao sorver mais um pouco de vinho.
Isso fez com que ele experimentasse essa mistura em minha boca, dessa vez com mais
intensidade e suas mãos segurando firme meu cabelo.
Lembrei sobre ser “amoras selvagens”, mas nesse instante queria apenas ser desejada. O
ritmo mudou, Vinícius suspendeu minha camisa e com os meus mamilos expostos, sugou
um a um, sua língua macia contornou o meu bico e os seus lábios sugaram-no para dentro
de sua boca.
Não demorou para suas mãos desabotoarem minha calça, adentrarem na calcinha e
apertarem a minha bunda, em seguida desceram, puxando o tecido consigo. Não resisti,
passei a mão em seu colo e conferi sua excitação pulsando, louca para sair de sua cueca. E
foi o que ele fez, se levantou do sofá e abaixou as calças.
Sua mão voltou a segurar meu cabelo com firmeza, sua língua passeou por trás de minha
orelha e desceu até os mamilos. A outra mão tocou em meu sexo e conferiu o quanto eu
estava excitada. Cheguei a pensar que ele dispensaria o sexo oral.
― Eu te disse, quero te saborear por inteiro!
Assim ele fez, me lambuzou por inteiro, me provocou e descobriu novos pontos sensíveis
que me levaram à loucura, contornou meus lábios inferiores e seguiu pelas pernas, eu o
quis me chupando, mas ele insistiu em provar todas as partes de meu corpo. Quando enfim
ele retornou, eu não aguentei mais de tanto tesão, foram poucos movimentos e o toque de
seus dedos me proporcionaram um delicioso orgasmo.
Quis saboreá-lo também, mas ele quis sentir sua ereção dentro de mim, toda molhada e
gozada, penetrando cada centímetro de seu pau e extraindo arrepios intermináveis de meu
corpo.
Pude observar sua expressão de prazer e satisfação de possuir o meu corpo, seu olhar
sedento, por vezes não resistia e sua boca descia para sugar os meus mamilos com
tamanha pressão que deixou marcas. Quando mudamos de posição, pude sentar em seu
colo e ditar parcialmente o ritmo, pois suas mãos seguraram o meu quadril e forçou meu
corpo para frente e para trás, o melhor proveito que pude tirar, foi de beijá-lo por longos
períodos.
Tive a sensação de que teria um segundo orgasmo, mas ele sugeriu outra posição e não o
contrariei. Me dispus de quatro no sofá, com os braços apoiados no encosto, cheguei a
pensar que teríamos mais algum tempo de sexo, no entanto, foi o xeque-mate para seu
gozo.
Foi uma noite maravilhosa, diferente de tudo. Há muito tempo que não sentia algo assim
e, para minha sorte, em nenhum momento lembrei de meu ex-namorado. Pude então, me
dar alta da fossa sentimental que havia acometido.
4 - Pesquisa acadêmica
Numa atividade interdisciplinar da faculdade envolvendo técnicas de pesquisa na
comunicação, o professor decidiu que elaboraríamos como atividade do semestre uma
pesquisa baseada em dados e fatos coletados. Teríamos como tema as redes sociais e os
perfis que se escondiam nelas. Dentre as escolhidas para serem pesquisadas, estavam o
Facebook, Instagram, LinkedIn, Twitter, WhatsApp, YouTube, Tinder, Happn, Grindr,
3nder, WeChat e outros de menor importância.
Se fosse de livre escolha, eu optaria pelo YouTube, porém o professor adotou o método de
sorteio, com nomes das redes em papéis dobrados e dispostos numa pequena caixa a serem
pegos por cada aluno, sem opção de recusa.
― Tinder, professor? ― perguntei, após descobrir qual rede peguei.
― As regras foram claras. Quando você estiver trabalhando, pode não ter a opção de
escolher a matéria que fará, então, é melhor se acostumar com alguns temas que não são
de sua preferência.
― Mas eu tenho namorado!
― A depender de como você desenvolver sua pesquisa, em nada atrapalhará seu
relacionamento. Mesmo assim, ele precisa entender a profissão que você escolheu. Além
do mais, é para fins jornalísticos e para você passar na disciplina.
― Poxa professor… ― fiz aquela firula de aluna manhosa.
― Observe pelo bom lado, o Tinder é uma das redes sociais em que as pessoas mais se
escondem nos perfis.
Fiz aquele olhar de desconfiada. Se eu fuçasse muito bem, com certeza encontraria o perfil
de meu professor no Tinder, ele demonstrou segurança no que disse. Insisti mais um
pouco na mudança do que sorteei, mas foi em vão, eu teria que me virar em como fazer
uma matéria, mesmo a contragosto.
Minha recusa não consistia apenas porque era um aplicativo de paquera, mas também
porque foi nele que encontrei meu ex-namorado e tive as piores consequências de minha
vida. Jurei que nunca mais voltaria a utilizá-lo e, para isso, eu teria que buscar fontes
confiáveis de pesquisadores para criar minha matéria investigativa.
Encontrei muita informação na internet, porém, a maioria delas haviam sido publicadas e
o professor deixou claro que não poderíamos utiliza-las em nosso trabalho acadêmico.
Embora a abordagem fosse perfis que se escondiam nas redes sociais, tínhamos uma
ampla área a ser pesquisada, como por exemplo, definir os perfis de pessoas que já
possuíam um tipo de relacionamento e mesmo assim utilizavam o Tinder, se eram
sinceras, se mentiam e…
Comecei a sentir uma enorme raiva, só em lembrar da traição que sofri. Não era uma
abordagem de pesquisa a ser realizada por mim, ainda mais ao encontrar dados, os quais
mostravam que 42% dos integrantes no Tinder eram comprometidos (casados ou
namoravam).
― O que te aflige? ― perguntou Vinícius, num de nossos encontros de sexta-feira.
― Não sei se você entenderia.
― Basta você explicar de um jeito que eu possa entender.
― Não tive escolha, sorteei um aplicativo de paquera para fazer uma pesquisa e escrever
uma matéria, não sei que caminho devo seguir.
Tive que explicar quanto a proibição de copiar resultados de pesquisas já publicadas, que
eu deveria ser original, que meu antigo relacionamento veio do Tinder, dentre outras
coisas. Pensei que Vinícius reagiria negativamente às minhas revelações, mas não, ele
ouviu e prosseguiu com suas dúvidas até que as esclarecessem por completo.
― Como essas pesquisas são divulgadas? ― ele perguntou.
― Geralmente saem em revistas específicas ou são apresentadas em algumas empresas de
comunicação para serem vendidas.
― Ou seja, é quase impossível você ser original em seu trabalho ― disse ele, indignado
―, suas chances de tirar nota baixa são altas, então!
― Se fosse numa outra rede, eu poderia criar um perfil falso e passar um período
coletando dados…
― Você poderia criar um perfil falso no Tinder ― disse Vinícius, me interrompendo.
― Mas você não ficaria chateado?
― É para sua pesquisa, não é?
― Mas vou precisar conversar, talvez criar insinuações para adquirir confiança de quem
se interessasse pelo meu perfil.
Nesse momento, ele percebeu o quanto eu me envolveria com a pesquisa, mesmo que para
fins acadêmicos. Não seria fácil ouvir meu celular bipando o som de um aplicativo ao seu
lado e eu parando para dar atenção a quem deu match.
― Eu posso desligar o plano de dados quando estiver ao seu lado ― comentei.
Vinícius balançou a cabeça, concordando com a minha sugestão, mas ainda se manteve em
dúvida. Pude imaginar o que passava em sua mente, eu recebendo infinitas ofertas de
paquera, homens mais interessantes que ele surgindo em meus likes, conversando comigo
e me encantando. Imagino o quão horrível seria essa situação.
― Olha, eu tenho o maior ódio desse aplicativo e a última coisa que eu quero é me
envolver com algum homem, principalmente porque já tenho você!
― Eu acredito em você ― ele comentou, sem demonstrar muita convicção.
Eu sabia que esse meu trabalho acadêmico afetaria o relacionamento, mesmo Vinícius
demonstrando interesse e insistindo que lhe contasse em detalhes. Meus argumentos não
foram suficientes para dar segurança e, para finalizar, combinamos que eu não iria
comentar sobre a evolução da pesquisa, tampouco abriria o Tinder diante dele.
Primeiro problema resolvido parcialmente. Assim que retornei para o apartamento que
dividia com Sara, baixei o Tinder no celular.
― O que houve com você? ― perguntou Sara.
― Como assim?
― Está usando o Tinder novamente?
Sara possuía um olhar de águia e, numa rápida passada de olho no que eu estava fazendo,
ela viu o aplicativo sendo baixado na tela de meu celular.
― E Vinícius, vocês terminaram ou está desconfiando dele?
― Contei para ele, é uma pesquisa da faculdade…
― Isso vai dar problema ― Sara me interrompeu.
― A última coisa que eu queria na vida era instalar esse aplicativo de novo no meu
celular.
Tive que explicar tudo a Sara, nos mínimos detalhes, e ela permaneceu com um olhar de
desconfiada, assim como Vinícius, prevendo que essa minha pesquisa poderia afetar meu
relacionamento.
Com o aplicativo instalado, não tive muita criatividade em definir qual seria o nome e a
foto de perfil que adotaria no aplicativo, ainda mais que esqueci do pré-requisito em ter
um perfil idêntico no Facebook.
Lembrei que a pesquisa era sobre perfis que se escondiam nas redes sociais e, querendo ou
não, eu me incluía nessa pesquisa após todo o desastre que aconteceu.
Por que não ser Amoras?
Sim, tinha tudo a ver e julguei que as consequências seriam mínimas. Meu Facebook era
restrito, sem minha aprovação de amizade não saberiam quem eram meus contatos, o que
eu fazia, minha formação e outros dados pessoais. Eu selecionaria apenas fotos da fruta ou
as que não mostrassem meu rosto, deixaria mensagens enigmáticas e ainda faria uma
pesquisa sobre quem arriscava dar um like num perfil misterioso. Mais do que perfeito e
original essa minha pesquisa!
5 - Primeiro contato
Rômulo
Eu: Selvagens!
Foi apenas o tempo de abrir a sessão de mensagens instantâneas e enviar uma única
palavra. Se a descrição em seu perfil era enigmática, eu tinha que seguir a brincadeira, até
descobrir quem se escondia por trás do perfil de amoras. Para que minha estratégia desse
certo, eu contava com um fator primordial: assim que eu recebia um match, eu entrava
logo em contato com a mulher, pois as chances de encontra-la online eram maiores, dicas
de meu colega Sebas.
― Que é isso, cara! Você vai puxar assunto com um perfil que nem foto de rosto tem? ―
perguntou Sebastião.
― Gosto de solucionar esses tipos de mistérios ― respondi.
― Pode ser um gay se passando por mulher ou então uma que não é tão gata assim.
― Não importa, Sebas. Eu quero arriscar!
― Você é quem sabe de sua vida.
Atento à nossa conversa e ao celular, vi que a mensagem surtiu efeito, a garota no outro
lado do Tinder começou a responder.
Amora: Não dá para saber apenas numa foto que sou do tipo selvagem.
Eu: Possuo uma intuição muito forte.
― Mentira! ― disse Sebas, atento também às minhas mensagens no celular ― Você já se
ferrou várias vezes com esse lance de apostar em perfis exóticos.
― E aquela vez que você levou um traveco para o motel?
Sebastião tinha a maior vergonha dessa história, mas como éramos amigos, ele me contou
e não resisti. Sempre que ele me provocava eu lembrava desse caso.
Em resumo, ele encontrou uma figura digna de capa de revista, até eu me impressionei e
seria enganado por ela quando vi a foto. Não havia o famoso pomo de adão, aquele gogó
na garganta que é característico dos homens, a pele era macia, as mãos bem trabalhadas, o
corpo torneado e os seios, embora siliconados, eram lindos de se ver, mesmo debaixo das
roupas que vestia.
No primeiro encontro, Sebas teve a certeza que a levaria ao motel, mas antes pagou um
jantar romântico, com o intuito de encantá-la a ponto de terminarem a noite transando.
Dito e feito. Bem que Sebas tentou dar aquela conferida, mas a “garota” controlou suas
mãos e permitiu que fosse tocada apenas nos seios. Só de lembrar eu rio muito. Meu
amigo deve ter beijado muito na boca daquele traveco. Ele achou que ela era tímida e,
para isso, precisava ir devagar.
Aos poucos, começou a despi-la e, por mais que tentasse, era impedido de tocá-la na
genitália. Quando chegou na calcinha, percebeu que sua companheira ficou temerosa e
agitada. Ele insistiu e começou a desconfiar, foi quando o traveco abriu o jogo e ficou com
medo de tomar uma grande surra.
Depois disso, Sebas não entrou mais em detalhes do que aconteceu no quarto de motel,
apenas disse que ficou a ponto de espancar o traveco, mas conseguiu controlar sua raiva,
antes que o pior acontecesse.
― Vamos mudar de assunto? ― ele perguntou após meu comentário sobre o traveco ―
Aquelas três gatas estão dando bola para nós ― disse ele, apontando para a mesa ao lado.
De fato, as mulheres eram gatas, mas estávamos em desvantagem de três para dois e as
chances de rolar algo para prolongarmos a noite eram remotas. Mesmo assim, sinalizei
para Sebastião que tinha meu aceite. Então ele se levantou da mesa e foi puxar conversa
com elas enquanto eu retomava a conversa no Tinder.
Amora: Por que você acha que são amoras selvagens, você é um adivinho?
Eu: Além do óbvio, eu faço minhas apostas.
Amora: O que seria óbvio para você e no que você estaria apostando?
Eu: Para mim, é óbvio que você prefere se esconder num perfil com foto de amoras e
estou apostando que você é uma linda mulher. Além disso, a mensagem de seu perfil me
fez induzir que você seria do tipo selvagem.
Amora: Você ainda não teve decepções ou apostas frustrantes? Eu posso não
corresponder às suas expectativas.
No instante em que eu responderia a Amora, Sebastião retornou à mesa com as três
garotas, trazendo consigo suas respectivas cadeiras para se juntarem a nós. Fui
apresentado a elas, sem que pudesse gravar seus nomes por completo. Uma morena, com o
cabelo comprido e cacheado até a altura média de suas costas, sentou ao meu lado, uma
loira sentou ao lado de meu amigo e a terceira, branca de cabelos negros e lisos, sentou
entre as amigas.
Deixei o celular de lado e participei da conversa iniciada pela morena ao meu lado.
Falamos sobre preferências de lugares, o que serviu de pretexto para Sebas apimentar e
falar sobre locais inusitados para namorar. Se as meninas estavam interessadas numa
paquera, nada melhor do que ir direto ao ponto.
― Está esperando alguma mensagem? ― perguntou Vanessa, a morena sentada ao meu
lado.
Peguei o celular para verificar se Amora enviou alguma mensagem no instante em que fui
flagrado por Vanessa.
― Força do hábito de sempre conferir o celular ― respondi, desconversando.
― Certo. O que você vai fazer depois daqui? ― ela perguntou.
― Eu acho que a pergunta mais apropriada seria o que faremos depois daqui.
Eu havia recuperado as minhas melhores cantadas e quando não dava certo, eu conseguia
disfarçar e prosseguir com insinuações de menor intensidade.
― Gostei da sua proposta ― disse ela.
Bingo! Nessa arte da paquera, e na utilização de aplicativos, aprendi uma coisa: nunca
desperdice a oportunidade quando ela surge à sua frente. Iniciei um match com Amora,
mas não sabia como ela era, se realmente estava afim ou se rolaria algo entre nós, isso se
fosse mesmo uma mulher. Já com Vanessa, ela estava diante de mim e a certeza de que
terminaríamos a noite muito bem.
Após evolução no entrosamento entre os pares, Sebas sugeriu que fizéssemos uma
brincadeira entre nós cinco. A que ficou solteira se mostrou interessada, mas Vanessa fez
um olhar de que queria exclusividade. Sem definição, a proposta foi refeita e Sebastião
saiu na vantagem com as duas mulheres.
― Acho que podemos seguir para outro lugar agora ― disse Vanessa, após ver que suas
amigas ficariam bem.
Concordei com ela. Estimei em quanto ficou a conta, adiantei o pagamento, deixei o
comprovante com Sebas e saí de mãos dadas com Vanessa. Antes mesmo que desse a
partida no carro, ela me puxou para si, sugou meus lábios com tamanha voracidade e
exigiu a minha língua com tanta vontade, que foi impossível controlar a excitação, por
pouco não iniciamos as preliminares no estacionamento.
Eu conhecia um motel mediano nas proximidades do bar e, dada a nossa empolgação, não
ficaria rodando a cidade à procura de algo num nível melhor. Subimos para o quarto com a
ansiedade de nos despirmos no percurso, seu sutiã já estava todo desarrumado no corpo e
não deu para tirar a calcinha porque ela estava de calça.
Lembrei sobre ter considerado Amora como selvagem e projetei em Vanessa como seria a
sua imagem, afinal, ela estava com uma vontade de transar fora do comum. As roupas
saíram do meu corpo primeiro que na dela, meu pau foi umedecido pelos seus lábios como
se quisesse me impressionar e surtiu efeito.
Estive próximo de perder o controle com o vai-e-vem de sua boca, a língua complementou
a sensação gostosa da chupada, mas eu queria mais e não poderia desperdiçar meu gozo
sem tê-la experimentado também.
Com certa resistência, a levantei para beijar seus lábios e com as mãos, terminei de despi-
la. Vi seus seios fartos, volumosos e com os mamilos pontiagudos. Arrodeei com a língua,
suguei com uma leve mordiscada e extraí dela um longo gemido. Retornei à sua boca e a
direcionei à beira da cama, quando concluí a retirada de sua calça em conjunto com a
calcinha.
A vi depilada, lisa, como se tivesse preparada para o encontro dessa noite. Ajoelhei no
chão e me reclinei para sugar o líquido que escorria de seu sexo. A senti cheirosa e
saborosa, e não resisti, dei uma leve mordiscada em seu clitóris, obtendo um grito que
ecoou no quarto, mas não foi de dor, pois suas mãos seguraram a minha cabeça e forçaram
contra o seu corpo.
― Ponha o dedinho que eu gosto! ― disse ela.
Não pus apenas um, mas dois, e eles deslizaram dentro de seu corpo sem oferecer muita
resistência, senti a parte rugosa e comecei a fazer atrito na região à medida que a
estimulava com minha língua do lado de fora. Seu corpo se contorceu e os gemidos
ficaram mais frequentes e altos.
Tive dificuldade em saber que havia atingido o orgasmo, ela parecia não querer parar e
mesmo se tremendo toda, pediu por mais. A senti tão saborosa que prossegui por mais
poucos minutos, tempo suficiente para seu segundo orgasmo vir mais intenso e definitivo.
― Venha, deite aqui que eu quero sentar em você.
Vanessa se mostrou insaciável. Meu pau deslizou para dentro de si e por entre gemidos ela
cavalgou em meu colo. Por vezes a puxava para mim e beijava seus lábios, mas sua
respiração ofegante a impedia de ficar por muito tempo beijando. Eu me reclinava para
sugar seus seios e ela se descontrolava mais de prazer, mas em seguida me empurrava de
volta para a cama e se apoiava nos meus ombros.
Tive a impressão que um terceiro orgasmo surgiu, quando ela se deu por vencida e pude
deitá-la de bruços na cama. Ela ficou receosa com a posição, mas quando sentiu meu pau
entrando no mesmo lugar de antes, relaxou.
― Está gostoso assim. Vai, mete com mais força!
― Assim eu vou gozar ― comentei.
― Goze, mas crave bem esse pau em mim.
Só em ouvir seu pedido, meu corpo o interpretou de imediato e senti meu gozo saindo
num grande jato em direção à camisinha. Cravei meu pau em seu corpo e por provocação,
ela rebolou e fez alguns movimentos.
― Só em te ver no bar eu sabia que você era gostosa, mas não sabia que era muito assim.
― Gostou tanto assim?
― Mas é claro! Pude experimentar você além da conta e o seu sabor é maravilhoso.
Foi inevitável a comparação com o perfil do Tinder, Vanessa não possuía o sabor de
amoras, mesmo assim era gostosa e pensei se haveria alguma fruta que poderia
correlacionar a ela.
― Seu sabor é doce, só faltou experimentar o que sai daqui ― disse ela, massageando o
meu pau ―, ele foi bem gostoso dentro de mim.
Eu possuo um sabor também? Qual seria? Não poderia me lambuzar diante de Vanessa
para estimar que gosto eu teria. Depois do surgimento de uma mulher fruta, fiquei
imaginando quais gostos teríamos.
― Bom assim, gostamos de nossos sabores e combinamos! ― comentei.
Estava muito cedo para estabelecermos uma conexão. Vanessa concordou com o que eu
disse e vi em seu olhar que não foi apenas uma transa casual. Fizemos uma pausa, nossos
corpos estavam suados e com cheiro de sexo, passaria o restante da noite assim, mas ela
preferiu o banho.
Retornamos à cama e o estado do lençol, encharcado e cheirando a sexo, impediu que nos
deitássemos novamente. O clima mudou, parecíamos dois desconhecidos, o que era
verdade, e a melhor opção que encontrei foi encerrar a conta e leva-la à sua casa.
― Não gostaria de terminar a noite sem saber que encerraremos assim ― disse ela, assim
que parei o carro defronte do edifício em que morava.
― Assim como? ― perguntei.
― Assim, sem saber que nos encontraremos de novo.
6 – Despertando a curiosidade
Angélica
Não bastava acessar o Tinder, curtir perfis, receber curtidas e contabilizar os matchs que
davam certo, eu precisava definir o que iria coletar. Primeiro, estipulei um prazo máximo
de dois meses para minha pesquisa “de campo”, quinze dias para análise dos dados e
aproveitaria o restante do tempo disponível para escrever a minha matéria. Segundo,
defini dois critérios, no primeiro eu contabilizaria quantos perfis foram curtidos durante o
dia e compararia com os que deram match em seguida, no segundo critério eu
contabilizaria quantos deram match instantaneamente após a minha curtida.
Não era o bastante para minha pesquisa, eu precisava comparar com um perfil real no
Tinder. Combinei com uma amiga, Sofia, que utilizaríamos o aplicativo juntas e eu
compararia meu resultado com o dela, pois o seu perfil era, digamos, real, enquanto o
meu, fake.
Parâmetros definidos, iniciamos o projeto. Eu curtia de trinta a quarenta perfis por dia,
fazia um print de todos, para que pudesse contabilizá-los, assim como orientei Sofia a
fazer o mesmo. As afinidades aconteciam durante o dia ou nos dias seguintes e revivi
parte da sensação de quando comecei nesse aplicativo.
Em muitas ocasiões não havia uma conversa ou apresentação inicial, os homens
perguntavam se eu era realmente uma mulher, pediam fotos, mais detalhes de como eu era
e chamavam para um encontro, inicialmente num shopping, já com o pretexto de seguir
para um motel caso rolasse afinidade maior.
Também recebi fotos de pênis, de todos os tipos e formatos, com cabeças gigantes,
circuncidados, compridos, finos, grossos (inclusive com uma lata ao lado para
comparação), negros, brancos, tortos, retos, deformados e tantos outros que caberiam
numa exposição do pênis e seus respectivos perfis.
Se eu fosse apaixonada por pênis, faria a minha lista de predileção, mas não bastava uma
parte sem a análise do conjunto completo e eu não estava no aplicativo para paquerar,
tampouco para ensinar como se aproximar de uma mulher.
Meu objetivo era a pesquisa, portanto, alimentei esses tarados de plantão com o objetivo
de descobrir se possuíam perfis verdadeiros ou falsos. Em pouco tempo de conversa e
insinuações, conseguia acesso a Facebook, Instagram e até Whatsapp. Entrava então o
meu lado investigativo para descobrir se eram perfis reais ou falsos.
Alguns homens eram ingênuos demais, mesmo sem saber quem estava do outro lado da
tela. Bastava mostrar uma foto de meu corpo, de quando era modelo, que eles contavam
sobre suas vidas. Alguns que se escondiam sob perfis falsos revelavam serem casados e
iniciavam os relatos de suas vidas frustradas.
Como disse antes, meu objetivo era a pesquisa e essas revelações só alimentavam a minha
repulsa por utilizar o aplicativo de paquera. Por diversas vezes lembrei de meu ex-
namorado e tive vontade de encerrar a conversa.
― Como anda essa sua pesquisa? ― perguntou Sara.
Era uma sexta-feira à noite e eu estava em casa organizando alguns dados.
― Avançando ― respondi ―, tem sido bastante produtiva.
― E com Vinícius, como ele tem reagido?
O ruim de termos namorados e amigos em comum era que a notícia se espalhava rápido e
se tornava problema de todos. Minha pesquisa afetou o relacionamento com Vinícius, logo
após minha primeira semana utilizando o Tinder. Ele ficou bastante desconfiado, fez
muitas perguntas e quis ver as conversas que eu desenvolvia com os perfis.
Sem chances de abrir o aplicativo para ele acessar. Expliquei que precisava alimentar as
conversas, para obter o máximo de informações, e não era influenciada por cantadas
baratas e fotos de órgãos sexuais. Não foi o bastante, ele enciumou e na terceira semana
arranjou uma desculpa para não me pegar na sexta-feira, após a faculdade.
― Está de mal a pior ― respondi.
― Amanhã iremos curtir uma praia e Cardoso convidou Vinícius, você poderia ir também.
― É uma boa! Pegar uma cor, depois de tanto tempo enfurnada na faculdade.
― E ainda aproveita para fazer as pazes com Vinícius.
Concordei com Sara, apenas para não prolongarmos sobre a crise no meu relacionamento.
Passava das dez e meia da noite e já havia consolidado meus dados, então decidi abrir o
Tinder para curtir mais alguns perfis.
Rômulo: Selvagens!
Dois minutos após curtir um perfil e imediatamente rolar um match, recebo uma
mensagem curiosa. Levei alguns segundos para entender que o comentário se referia ao
texto que deixei no meu perfil.
Engraçado, de quase todos os contatos que fizeram perguntas sobre eu ser mesmo uma
mulher, como eu era fisicamente ou se poderia enviar uma foto de rosto, esse apenas
entrou no clima da minha mensagem e respondeu que eram amoras selvagens. Como ele
saberia?
Eu: Não dá para saber apenas numa foto que sou do tipo selvagem.
Rômulo: Possuo uma intuição muito forte.
Notei que ficaríamos nesse jogo de insinuações. O normal seria eu despertar a curiosidade
dos homens, mas não resisti a esse perfil e acessei para conhece-lo melhor. Para minha
sorte, ele possuía um perfil genuíno e aberto. Descobri seu Facebook e Instagram, livres
para serem bisbilhotados em meio à rápida conversa que desenvolvíamos para nos
desvendarmos.
Eu: Por que você acha que são amoras selvagens, você é um adivinho?
Rômulo: Além do óbvio, eu faço minhas apostas.
Eu: O que seria óbvio para você e no que você estaria apostando?
Rômulo: Para mim, é óbvio que você prefere se esconder num perfil com foto de amoras
e estou apostando que você é uma linda mulher. Além disso, a mensagem de seu perfil me
fez induzir que você seria do tipo selvagem.
Seria ele um psicólogo ou então um perfilador de psicopatas e assassinos? Sim, eu me
escondia numa foto de amoras, mas em qual trecho escrito no meu perfil levou-o a crer
que eu era selvagem? Me senti invadida, como se ele soubesse quem eu era.
Fui investiga-lo e descobri que o passado estava apagado num período superior a seis
meses em seu perfil no Facebook. Me aprofundei mais e encontrei mensagens de amigos
lamentando por algo e subentendi que Rômulo enfrentou uma separação tempestuosa.
Eu: Você ainda não teve decepções ou apostas frustrantes? Eu posso não corresponder às
suas expectativas.
Foquei minha pergunta nas decepções encontradas no aplicativo de paquera, mas
inconscientemente percebi que a direcionei na sua decepção do relacionamento anterior.
Não sei se peguei no seu calcanhar de Aquiles, mas depois disso não obtive mais
respostas.
Quer saber de uma? Que se dane Rômulo! Não entrei no Tinder para ficar de joguinho
com um desconhecido, meu objetivo era pesquisa. Então, fechei o aplicativo e fui assistir
um filme.

∞ ∞ ∞

― Por que você não para com essa sua pesquisa sobre Tinder? ― Vinícius perguntou.
― Você quem me incentivou e agora que já estou adiantada, quer que eu pare? ―
perguntei, num nível alto de aborrecimento.
― Não me sinto bem sabendo que você está usando esse aplicativo.
― Eu avisei que não seria fácil.
― Você não dá a mínima para mim ― ele comentou, se fazendo de vítima.
― Você quem não deu a mínima para mim, ontem nem fez questão de me buscar na
faculdade.
― Tive um contratempo…
― Sei, conta outra!
― Está vendo aí, deve ser o aplicativo te deixando desconfiada.
― Desconfiada? ― me irritei mais ainda ― Quem anda desconfiado aqui é você! Fiz
questão de vir à praia com o objetivo de ver se passávamos a borracha nesse assunto, mas
pelo visto não vai acontecer.
― Basta você largar essa sua pesquisa.
― Se eu abandonar minha pesquisa, eu perco uma disciplina!
― E quem te garante que você vai conseguir uma boa nota?
― Eu garanto!
Aproveitamos que Sara e Cardoso foram se banhar no mar e empunhamos nossas
armaduras e armas para discutirmos o que a dias nos afligia. Vinícius não baixou seu
escudo e eu não baixaria o meu por nada. Aprendi que não deveria viver de concessões,
ainda mais quando afetava minha vida acadêmica e profissional. Bastava meu último
relacionamento como exemplo.
― Gente, viemos à praia para nos divertimos! ― disse Sara, ao retornar para a areia.
― Pelo visto não adiantou muito para mim ― comentei.
Levantei do chão, recolhi minha canga e minha bolsa.
― Não precisa ir, Angel ― disse Sara.
Olhei para Vinícius e esperei que dissesse algo, que me convencesse do contrário, mas seu
olhar de aborrecido, como se eu fosse a culpada, só aumentou minha vontade de sair da
praia.
― Precisa sim, Sara. Não vai rolar, desculpa.
Me despedi de minha amiga e segui para o calçadão, pedi um uber e voltei para casa. Após
um demorado banho e uma boa hidratação, sentei no sofá e aproveitei o apartamento
vazio.
Não demorou para a solidão tomar conta, mas não me arrependi de ter deixado Vinícius na
praia, parecia que o prazo de validade de nosso namoro estava vencendo. Seria influência
do uso do Tinder?
Não, não seria. Eu não me apeguei a ninguém no aplicativo. Quanto mais mensagens
recebia, mais ódio adquiria e minha vontade era de voltar para meu verdadeiro amor, no
entanto, a cada dia que passava, eu chegava à conclusão que não era Vinícius.
Rômulo: Tive muitas decepções, desde gays se passando por mulheres até as que não se
enquadravam nos meus critérios de seleção e se escondiam em perfis falsos, acreditando
que assim me conquistariam. É muito mais fácil encontrar uma mulher com uma foto
bonita, mas acredito que por trás de perfis como o seu, posso encontrar algo raro.
O ócio me motivou a abrir o Tinder num sábado à tarde e lá estava a resposta de Rômulo.
Li e reli cada palavra, gerei ao menos duas interpretações do que ele escreveu e percebi
que não se referia ao seu relacionamento anterior.
Eu: O que seria algo raro para você?
Rômulo: Algo que eu consiga me envolver de verdade, que eu possa acreditar, confiar, ser
confidente e que não me decepcione.
Cada palavra escrita me tocou de uma forma diferente. Mesmo namorando Vinícius, eu
não me envolvia por inteiro, sempre esperava algo desagradável e muito pior do que a
conversa mais cedo. Algo me fazia desconfiar dele, principalmente com esse seu ciúme
exagerado. Querendo ou não, estava decepcionada.
Não quis prosseguir com a conversa, percebi que algo me deixou instigada a saber mais de
Rômulo, mas não poderia me envolver. Não agora que discuti com Vinícius por conta
desse aplicativo.
Joguei o celular no canto do sofá e fui assistir um filme, peguei no sono logo em seguida e
despertei no início da noite com Sara chegando em casa.
― Amiga, desculpe pelo que aconteceu mais cedo ― disse ela.
― Não foi culpa sua.
― Eu pensei que poderia dar um jeito nesse seu caso com Vinícius.
― Depende mais dele do que de mim. Por acaso eu mudei com essa minha pesquisa? ―
perguntei, olhando diretamente para Sara.
― Não que eu tenha visto. Mas você sabe, homens são ciumentos…
― Era só esperar mais algumas semanas, não dá para entrar em detalhes num assunto
como esse. Preciso de privacidade e ele não entenderia.
― Eu também não entendo ― voltei meu olhar para Sara ―. Mas enfim, você não teve
muita escolha. Só espero que vocês consigam resolver esse problema, Vinícius é um cara
legal.
Essa última frase ecoou em minha mente. Eu estaria fazendo um pré-julgamento de meu
namorado? Estaria exagerando? Deveria dar mais oportunidade e espaço para ele?
Não encontrei respostas.
7 – Redirecionando
Rômulo
Logo após escrever uma mensagem para Amora, meu celular tocou e a tela indicou um
número desconhecido. Estava tão interessado na conversa com minha amiga virtual que
por pouco recusei a chamada. Até que não me arrependi em tê-la atendido.
― Boa tarde, lembra de mim? ― perguntou uma voz feminina.
Poucas pessoas tinham meu número de celular e como eu era bom de dedução, sugeri que
fosse Vanessa. Afinal, tivemos uma noite maravilhosa juntos e ela demonstrou que não
queria apenas um encontro.
― Você adivinhou!
― Como esqueceria a sua doce voz? Isso fez com que lembrasse também de seu sabor.
― Que bom deixei deliciosas lembranças contigo.
― Lembranças essas que precisam de um novo encontro para mantê-las vivas.
― Com certeza! Qual seria a sua programação para hoje à noite?
― Estou à sua disposição!
Após os galanteios, combinamos de jantar, com a promessa de passarmos a noite juntos e
ela ofereceu seu apartamento para ficarmos mais confortáveis.
Assim que desliguei a ligação, retornei ao Tinder e não vi mais comentários de Amoras.
Reli nossa conversa e fiquei em dúvida se ela se referiu aos meus relacionamentos no
aplicativo ou se sabia da história de minha ex-namorada, quando perguntou se não tive
decepções.
Percebi meu deslize ao comentar que tive contato com outras garotas. Mas também, que
mulher ingênua, utilizando um aplicativo de paquera, não saberia disso? Esperei um
comentário por alguns minutos e nada de encontrar os três pontinhos se movendo e
indicando que ela escrevia algo.
Eu: Imagino que não deve ser fácil você adquirir confiança num desconhecido.
Enviei a mensagem e fui fazer a barba, quis deixar o rosto liso para impressionar Vanessa.
Além disso, na noite anterior, percebi que meus pelos pinicaram seu sexo enquanto me
deliciava nele. Com certeza, a sensação dessa noite seria completamente diferente.
Voltei à sala com a barba feita, conferi o celular e nada de mensagens no Tinder. Por que
fiquei ansioso por uma resposta ou comentário de Amora? Me senti no vácuo, mas
também não encheria a caixa de entrada com novas mensagens, não parecendo um louco
ansioso por uma boa conversa.
Fui tomar banho, separei uma roupa para a ocasião, me arrumei e conferi o celular. Nada
de mensagens. Desisti, afinal, eu tinha um encontro à noite e não ficaria em casa
aguardando que uma desconhecida respondesse minhas mensagens.
O jantar foi maravilhoso, ao menos a comida, pois eu olhava para Vanessa, buscava algo
que me conectasse a ela e não encontrava. Tínhamos assuntos distintos para discutir, eu
falava de política, de problemas sociais e econômicos, enquanto ela apenas balançava a
cabeça e concordava com tudo. Desejei que ela debatesse, que me estimulasse a contestá-
la, mas não, seu olhar de mulher apaixonada revelava um vazio interior que me assustava.
Em raros momentos de silêncio, ela iniciava uma conversa sobre uma festa, balada ou
evento que participou ou que iria acontecer. Seu foco estava no entretenimento, em
dominar as paradas musicais e suas coreografias. Não era para menos, seu delicioso corpo
demonstrava os atributos que a dança lhe proporcionava. Seu rebolado em meu colo e seu
vigor subindo e descendo no meu pau, nossa! Só de lembrar, me excitei.
Então era isso. Nossa sintonia, se realmente existia, estava no sexo. Encerrado o jantar,
fomos ao seu apartamento e me arrependi de não ter sido o meu ou novamente um motel.
Não comentei que encontrei calçados no chão da sala, assim que entrei.
― Desculpe, eu estava escolhendo o melhor sapato para sair antes de você chegar e não
deu tempo de guarda-los ― disse ela ao notar meu olhar observador.
Tudo bem, dava para relevar e entender a sua pressa em se arrumar e se sentir linda para
sair comigo. Pedi para ir ao banheiro, ela mostrou a direção, e nem se preocupou em
verificar antes se estava tudo bem por lá. Embora o vidro do boxe fosse fosco, notei uma
calcinha pendurada no registro. Dá para relevar? Vamos adiante…
― Temos algo para beber? ― perguntei, ao retornar do banheiro.
Imaginei que ao menos, ela tivesse preenchido a geladeira com bebidas e tira-gosto, mas
não, sua preocupação com certeza foi ficar bonita para mim. Nem uma dose de vodca ou
conhaque, nada!
Havia um posto de gasolina numa esquina próximo e com certeza uma loja de
conveniência. Me predispus a dar um pulo rápido lá para comprar algumas bebidas e
comida e ela concordou, mas não foi comigo.
Amora: Por que você acha que não estou confiando em você?
Eu pegava uns pacotes de salgadinho quando chegou a mensagem no celular. Para minha
sorte, Vanessa não estava por perto e não viu o quanto fiquei contente em ler uma
mensagem de Amora.
Eu: Você não se esconde apenas na sua foto, mas também nas palavras que escreve.
Imagino que tenha vasculhado meu perfil e descoberto algumas curiosidades.
Amora: A exemplo?
Eu: Você é muito esperta, mas quer que eu diga? Passei por uma separação conturbada
com minha ex-namorada e não gostaria de revelar detalhes dessa triste história. Não
hoje. Você não viu isso?
Amora: Mas você não sofre mais essa perda?
Eu: Não.
Confirmei que ela havia conferido meu perfil no Facebook. Muitas mulheres são assim,
querem conhecer o nosso passado antes de se entregarem. Isso demonstrou que Amora
estava interessada em mim.
Eu: Pelo visto você sabe mais de mim do que eu de você.
Amora: O que gostaria de saber de mim?
Eu: Eu gostaria de saber que sabor possui a mistura de nossos lábios se encontrando
num beijo, que perfume sentirei ao me aproximar de seu pescoço e se nossos olhares
exaltarão o desejo quando nos encontramos. Mas pelo visto, só saberei ao encontrar você.
Era a minha cartada principal, única e exclusiva para conquistar, por completo, o interesse
de Amora.
Meu celular tocou e no visor surgiu o mesmo número desconhecido que chamou mais
cedo. Retornei à realidade. Eu estava num encontro e Vanessa me aguardava em seu
apartamento. Inventei uma desculpa para meu atraso, que meu cartão não estava passando
na máquina.
Amora: Posso não ser a mulher que você idealiza.
Assim que encerrei a ligação, vi essa mensagem de Amora.
Eu: Posso provocar a mesma decepção em você.
Deixei a dúvida no ar. Essas possibilidades de gostar ou não, de ter afinidade ou não,
seriam sanadas com um encontro, assim como estava fazendo com Vanessa. Por pouco
não esquecia dela novamente. Paguei as compras, coloquei o celular no silencioso e voltei
para o apartamento dela.
Pode parecer bobagem, mas a minha conversa com Amora iniciou uma mudança em meus
objetivos. Entendi que não seriam os encontros casuais e sem afinidade que me fariam
encontrar a mulher para minha vida e decidi dar um basta em minha relação com Vanessa.
Ao menos estava decidido a isso.
Toquei a campainha, pronto para dizer que deveríamos conversar, e a porta abriu, sem que
Vanessa estivesse à sua frente.
― Pode entrar! Preparei uma surpresa para você ― disse ela.
Terminei de abrir a porta e vi uma morena vestida com um body vinil preto, bem cavado
na cintura e com um decote exagerado no busto, calçando uma bota, também na cor preta,
até a altura do joelho, luvas compridas, máscara e chicote na mão. Eu ia conversar o quê
mesmo?
― Hoje você vai ser meu por inteiro.
Eu não fazia o tipo de homem submisso, tampouco sabia que Vanessa fosse dominadora,
mas decidi entrar na brincadeira.
― Sim, minha senhora. Posso colocar as bebidas na geladeira antes? ― perguntei.
― Não demore!
Aproveitei e dei uma conferida no celular, havia umas duas mensagens no Tinder, mas
deixei para depois. Separei uma garrafa de vinho, duas taças e retornei para a sala.
Vanessa me aguardava na mesma posição.
― Aceita uma taça de vinho?
― Não! Eu quero que se ajoelhe!
Ela estava exagerando, mas tudo bem. Pus a garrafa e as taças na mesa e obedeci ao seu
comando, ajoelhei no local indicado e aguardei a próxima ordem. Vanessa sentou no sofá,
esticou uma perna em minha direção e pressionou o salto no meu peito.
―Tire minha bota!
Assim o fiz, com certa dificuldade, mas consegui. Com o pé ainda suspenso, na altura do
meu rosto, ela pediu que o beijasse. Senti a maciez de sua pele sob a renda, massageei a
base do pé, antes de beijá-lo e recebi uma leve chibatada.
― É só para beijar!
― Sim, senhora.
A observei, tive vontade de rir e tomei outra chibatada. Recuperado do leve ardor do
açoite em minha pele, e após beijar seus pés, ela pediu para que tirasse suas luvas, as quais
fiz sem receber outra chibatada e as beijei.
― Agora se levante e tire sua roupa!
Eu estava explodindo de tesão, não queria apenas ficar nu, mas também arrancar aquele
body para sugar o delicioso sexo de Vanessa. Tirei primeiro a camisa, o sapato, as meias e
baixei o zíper da calça, evidenciando por completo o volume escondido sob minha cueca.
Vanessa esticou seu chicote em direção ao meu pau e o acariciou. Abaixei a calça e fiquei
só de cueca, observando-a morder os lábios e hipnotizada com o meu pau. Recebi uma
nova chibatada e a ordem de tirar a cueca.
― Se aproxime!
Sentada no sofá, ela apenas reclinou o corpo e começou a saborear meu pau, passou a
língua nele todo, deu ênfase na cabeça e então o introduziu em sua boca. Seu movimento
estava maravilhoso, mas eu não queria gozar. Deixaria essa parte para o final e por isso me
afastei.
― Volte aqui! Eu disse que quero conhecer o seu sabor por completo! ― ela disse, me
dando uma nova chibatada.
Não tive escolha, Vanessa voltou a chupar meu pau com maestria, senti sua saliva
escorrendo e sua língua passando pelos pontos mais sensíveis. Me controlei ao máximo e
não resisti, segurei firme em seu cabelo e ditei o ritmo perfeito para atingir o orgasmo. Já
próximo de gozar, aliviei a pressão em sua cabeça, mas ela fez questão de continuar me
chupando e extraiu a última gota de meu gozo.
― Agora você pode servir o vinho.
Servi as duas taças, brindamos e, após sorvermos o vinho, ela me beijou na boca. Senti
parte do líquido em seus lábios se misturar à minha saliva e o que eu imaginava que
demoraria a se recuperar, demonstrou sinais de vida.
― Você é realmente delicioso!
― Continuarei servindo a senhora? ― perguntei, mantendo o clima de submissão.
― Olha! ― ela sente meu pau readquirindo consistência ― Eu quero que você me coma
com gosto!
― Não precisa me dizer como fazer isso ― comentei.
Minha primeira ação foi tirar o body de seu corpo, a começar pela parte de cima. Saboreei
seus deliciosos mamilos e extraí consigo alguns gemidos de prazer. Abaixo da cintura, a
senti bastante molhada e escorrendo, visto que o vinil foi incapaz de absorver sua
excitação. Deslizei meus dedos em seu sexo e não percebi resistência em adentrar na sua
intimidade.
Vanessa pressionou meu ombro para baixo e era isso mesmo o que eu queria. Me ajoelhei,
ela permaneceu de pé e apoiou uma das pernas no assento de uma cadeira para que eu
encostasse minha língua próximo da entrada de seu sexo. A senti quente, fervilhando e
gemendo de prazer.
― Dá aquela chupadinha!
Senti seu clitóris pronunciado, inchado, e colei meus lábios ao redor para fazer uma leve
sucção. Vanessa gemeu mais alto, pressionou minha cabeça contra sua virilha e então dei
aquela mordiscada. Seu corpo tremeu, se desequilibrou e ela quase caiu no chão.
― Gostoso! Venha, venha me comer!
Ela retornou ao sofá, de costas, com os joelhos no assento e os cotovelos no encosto. Vi
aquela bunda virada para mim, seu sexo todo lambuzado e esperando por um pau duro e
teso, mas antes disso, passei a língua novamente em seu sexo e seu corpo estremeceu mais
uma vez.
A penetrei com gosto e vi sua bunda rebolando, auxiliando o movimento e me deixando
louco de tesão. Cheguei a acreditar que meu segundo gozo demoraria, mas ao ver aquele
movimento delicioso, não resisti e deixei o jato preencher a camisinha.
Depois dessa deliciosa trepada, eu deveria dar um basta nessa minha relação com
Vanessa?
Tomamos banho juntos, com direito a muitos beijos e passadas de sabonete no corpo do
outro, depois ela me levou ao seu quarto, deitamos juntos, trocamos carícias e beijos
suaves. A observei e procurei algo que me conectasse a ela. Seu rosto encontrou um
encosto no meu peito e por lá ficou, enquanto eu procurava entender o que fazia naquele
apartamento, além do sexo.
8 – A revelação
Rômulo
Ainda tinha dúvidas que fiz isso mesmo. Logo após Vanessa adormecer, me vesti, separei
algumas cervejas que havia comprado e decidi voltar para casa, mas antes disso, deixei um
recado escrito sobre sua mesa. Assim que saí do apartamento, conferi o celular e haviam
mensagens no Tinder, algumas de matchs recentes, mas a principal estava lá.
Amora: Então somos decepcionantes!
Tinha a certeza que encontraria algo que combinávamos. Além de uma afinidade virtual,
éramos decepcionantes! Não via em Vanessa algo parecido, além do bom sexo, que não
deveria sustentar uma relação baseada apenas nisso. No recado que escrevi e coloquei
sobre a mesa, deixei subentendido essa questão e desejei que ela compreendesse a
mensagem.
Eu: Vai ver que não encontramos nossa cara metade ainda.
Passava das três da manhã quando enviei a mensagem antes de entrar no carro. Mal dei a
partida no motor e surgiu o toque, sinalizando que ela havia respondido.
Amora: Não sei se devo acreditar nessas coisas. Só vejo o destino conspirando contra
mim.
Por pouco não pareci um crente enviando mensagens religiosas. Tive a vontade de
escrever que muitas vezes passamos por provações, enfrentamos dificuldades e
desacreditamos do amor, mas no final o encontramos. Pareceria brega demais e nesses
aplicativos não há pessoas procurando a salvação.
Eu: Muitas vezes aprendemos com os erros.
Amora: Muitas vezes nos fechamos com os erros.
Eu: Sempre haverá uma nova oportunidade, quem sabe não será a próxima?
Amora: Olha, hoje não estou boa para esse tipo de conversa e não quero ser rude
contigo. Depois nos falamos.
Eu: Quando se sentir melhor, estarei aqui.
Não sei porque, mas bateu aquela ponta de arrependimento. Se tivesse a chave do
apartamento de Vanessa, eu retornaria, rasgaria o recado e voltaria para a sua cama. Seria
ela a minha melhor oportunidade e eu estaria desperdiçando?
Não havia mais volta, saí da vaga onde permanecia estacionado e segui para minha casa.

∞ ∞ ∞

Angélica
Quando li a mensagem de Rômulo sobre não ser fácil adquirir confiança, algo me chamou
atenção para um perfil que havia curtido no Tinder. Eu conhecia cada detalhe do corpo de
Vinícius e ele possuía uma tatuagem tribal na lateral de seu tronco, não havia como
esquecê-la de tanto recostar meu rosto em seu peito.
Procurei as fotos de perfis que curti em meus arquivos da pesquisa, tinha visto algo
curioso e familiar, e que passei batida.
Encontrei!
A foto não ajudou muito, mas dava para ver a tatuagem. Estudei todas as possibilidades,
da imagem estar invertida, da tatuagem ser maior que a de Vinícius, o tom da pele morena,
o tipo físico e só encontrava correlação. Desconfiança maior foi porque esse perfil não deu
afinidade com o meu.
Minha cabeça fervilhou, mas não sairia esfregando essa foto na cara de meu namorado
sem maiores evidências. Ele poderia ter criado um perfil apenas para ver meu
comportamento, como reagiria, ou qualquer outro motivo. Assim pensei.
Não demorei para lembrar de Sofia, minha outra parte da pesquisa dependia dela. Peguei o
print da foto e enviei junto com uma pergunta, se esse perfil apareceu para ela curtir.
Sofia: Ele se chama Matheus, é um amor de pessoa.
Matheus? Bem, poderia não ser quem eu estava pensando. Mas bateu aquela desconfiança
no fundo da consciência e perguntei mais detalhes sobre esse Matheus, se tinha perfil no
Facebook, Instagram ou até mesmo, alguma foto de rosto dele.
Sofia: Ele disse que não curte Facebook, nem Instagram. Mas ele é de verdade, sim.
Eu: Como assim ele é de verdade?
Sofia: Você sabe que não sou de ferro. Curtindo tantos perfis no Tinder eu não resisti e
saí com um ou outro que me despertou interesse.
Eu: Então você saiu com esse Matheus? Como ele é?
Sofia: Saí com ele ontem à noite. Nos encontramos num bar e depois fomos para um
motel. Não preciso entrar em detalhes, não é? Mas ele é gostoso demais!
Eu: Como ele é fisicamente?
Sofia se prendeu a detalhes que não chegavam a conclusão alguma, daí tive a ideia de
pegar uma foto do perfil de Vinícius no Facebook e enviei para ela.
Sofia: É esse mesmo! Como você conseguiu a foto?
Se tivesse força suficiente, transformaria meu celular num grão de areia de tanto que o
apertei. Por que não suspeitei disso antes?
Sofia: Ele saiu com você antes?
Minha amiga não era a culpada dessa história, ao menos isso tive certeza. Ela nunca
conheceu Vinícius, tampouco viu uma foto minha ao lado dele, mas ele sim, foi o maior
escroto e me sacaneou por debaixo dos panos.
Abandonei o Whatsapp e liguei para Sofia, meus dedos tremiam de nervosismo e não
conseguia digitar uma frase sem errar todas as palavras. Minha voz embargada, quase não
saiu quando ela atendeu a ligação. Falei baixo, com sucessivas pausas e interrupções de
minha amiga. A história parecia absurda demais para ser verdade.
Muito mais do que evidências, eu tinha a comprovação, o depoimento de uma testemunha
e não havia mais como negar qualquer suspeita. Para piorar essa minha sensação de raiva,
a campainha tocou, Sara foi atender e quem surgiu carregando um buquê de flores?
Se estivesse diante daquela maçaneta, bateria a porta em sua cara sem dó nem piedade.
Seu olhar pedindo perdão contrastava com o meu flamejante e liberando raios de ódio.
Sara percebeu que o clima não estava bom e, antes que ficasse no fogo cruzado, correu
para seu quarto.
― Meu amor, desculpe pelo que aconteceu hoje mais cedo ― disse ele, sem saber o que
descobri.
Eu estava sentada no sofá, de braços cruzados, e permaneci assim até ele estender sua mão
carregando o buquê. Respirei fundo e peguei aquele maço de flores, não havia um cartão
sequer, não o leria mesmo. Fiquei em pé, observando aquelas pétalas na cor vermelha
intenso, igual à ira que sentia, e num movimento rápido, comecei a surrá-lo com próprio
buquê.
― Seu desgraçado! Seu filho da puta! ― gritei.
― Ei! O que houve? ― ele perguntou, após me conter com suas mãos.
― Você me traiu!
― Como assim?
― Como assim? Vai fazer essa cara de paisagem, como se não soubesse de nada?
― Mas estou sabendo de nada.
Fui em partes, queria ver se, ao menos, a sua dignidade falava mais alto. Mostrei seu perfil
no Tinder e a foto com a tatuagem meio desfocada.
― Sim, o que isso quer dizer? Não sou eu!
― Não é você? Vejamos!
Percebi uma insinuação de levar a mão ao bolso para pegar o celular, mas ele se conteve.
Prossegui com as minhas evidências, mostrei a conversa inicial com Sofia e percebi seu
olhar estremecer com a revelação.
― Ontem você inventou uma desculpa para sair com uma mulher! Deixou de me ver, seu
sacana! ― voltei a gritar e esbofeteá-lo.
― Espera, espera! ― ele voltou a me conter.
― Espera o quê?
― Como você sabe que esse perfil sou eu? Até agora não está me dizendo muita coisa.
Sua amiga saiu com esse cara e quer dizer que sou eu?
― Você ainda defende essa sua cara de pau?
Deslizei a conversa para o trecho em que envio a foto dele para Sofia e apresento a ele.
Mais uma vez percebi um estremecimento no seu olhar, dessa vez mais assustado.
― Vai continuar dizendo que esse não é você?
― Amora…
― Não me chame assim! ― gritei e voltei a bater nele, sem que oferecesse resistência em
me conter ― Não quero você aqui, saia!
Não foi preciso dizer mais uma palavra, Vinícius se virou e saiu do apartamento sob uma
saraivada do resto do buquê de rosas. Seria um ambiente romântico se não fosse a briga
que ocorreu ali, pétalas de rosas e seu aroma preencheram a sala sem que fosse algo
intencional. Peguei o celular e me tranquei no quarto.
9 - Definições
Rômulo
Eu dormia na manhã de domingo quando despertei com o celular tocando, aquele número
desconhecido me tirou de um sono maravilhoso.
Sonhei um encontro com Amora, uma ruiva bonita, de pele clara, olhar penetrante, usava
um batom vermelho bem marcante em seus lábios, na cor da fruta da imagem de seu
perfil, e um vestido que evidenciava suas curvas e no qual pude ver seus mamilos
pontiagudos sob o tecido, loucos para serem degustados.
Ela demonstrava sabedoria no uso das palavras e nas insinuações, tinha uma boa conversa,
nossos olhares diziam que acertamos na escolha, bem como o beijo, único e inigualável,
selava a nossa união.
Eu estava amando uma mulher desconhecida, mas voltei à realidade, despertei de um
delicioso sonho para enfrentar um pesadelo: a ira de uma mulher que sentiu o abandono na
cama e despertou com um bilhetinho de despedida. Sua fala não iniciou com cortesia e
cumprimento de bom dia, mas sim com palavrões que me desqualificavam, desde a opção
sexual, como se não tivesse comprovado que eu era hétero, passava pela minha qualidade
como homem na cama e terminou com a insinuação de uma incapacidade de ereção, para
não dizer pau mole.
― Bom dia pra você também, Vanessa ― comentei, no intuito de amenizar os palavrões.
― Bom dia o caralho! Que homem é esse que chega na minha casa e depois cai fora como
se eu fosse uma qualquer?
― Vanessa, você leu o que escrevi?
― Li sim, que você é um escroto e um filho da puta que só achou gostoso o sexo entre
nós.
― Vanessa… ― fui interrompido por ela.
― Você me tratou com uma puta, só que sem cobrar nada de você! Como você fez isso
comigo? Você é um cafajeste, isso sim!
― Vanessa…
― Quer saber? Você tem que se fuder mesmo, seu filho da puta! Não sabe tratar uma
mulher direito, seu broxa desgraçado…
Pronto! Desliguei a ligação, selecionei o número e adicionei na lista de bloqueados.
Simples assim. Se em dois dias ela me tratava dessa forma, imaginei se estivéssemos a
mais tempo.
Aproveitei que despertei e dei uma conferida no Tinder. Fora os outros contatos querendo
mais detalhes de minha vida, Amora não enviou uma mensagem sequer. O que houve para
ter ficado desmotivada em conversar comigo? Às vezes acontecia isso, me empolgava
com uma garota, conversava bastante e depois ela sumia, do nada, sem deixar rastro.
Iniciei a semana supondo que a rotina faria com que eu esquecesse Amora ou, na melhor
das hipóteses, ela voltaria a conversar comigo.
Que detalhe da conversa fez com que me conectasse a ela? Seria porque ainda não a
conhecia e criei expectativas? Me decepcionaria se ela não fosse bonita ou uma mulher?
― Cara, nunca te vi assim, após seu retorno à vida ativa de solteiro ― disse Sebastião, no
nosso happy hour de quarta-feira à noite.
― Depois passa.
― Você dispensou Vanessa, aquela morena gostosa. Não te entendo!
― Somos seres complexos, Sebas. Eu não quis investir num relacionamento baseado
apenas no sexo.
― Mas aí você garantia aquela trepada rotineira, depois dava uma de doido e se esquivava
dela.
― Digamos que adiantei meu lado nessa questão.
― Não te entendo mesmo, cara.
Sebas ficou preocupado que eu entrasse numa nova crise depressiva, ele não entendeu que
eu sofria por algo ainda inexplicável, a certo ponto, e não diria a ele que a responsável era
um perfil desconhecido no Tinder, senão me tornaria motivo de chacota e provocação por
semanas.
Ao chegar em casa, fui dominado pela solidão. Angustiado e sem uma mensagem a dias,
enviei a pergunta a Amora:
Eu: Boa noite! Você ainda está aí?
Após alguns minutos recebi uma resposta simples, monossilábica, com inúmeras
possibilidades de interpretação:
Amora: Sim.
Eu: Tenho pensado em você, mesmo sem saber como você é.
Amora: Não acredito, com mulheres disponíveis para sair e você pensando em mim?
Eu: Sim.
Foi a minha vez de ser monossilábico. Imaginei que, dessa forma, ela ficaria mais curiosa
e conversaria por mais tempo comigo. Depois, percebi que não foi a melhor resposta,
Amora não respondeu de imediato e quando decidi escrever algo, ela também voltou a
escrever.
Amora: Você é um homem bonito, inteligente e interessante, por que ficaria pensando
num perfil que possui Amoras como foto?
Eu: Desejo dizer o mesmo a você, quando nos encontrarmos, o quão deve ser bonita, pois
inteligente e interessante já demonstrou em nossa conversa, caso contrário eu não
insistiria.
Amora: Por favor, sejamos honestos. Neste aplicativo não há essa ilusão que
encontraremos algo puro e original. Afinal, os homens são todos iguais e estão aqui para
alternarem o cardápio.
Eu: Não posso tirar sua razão. Mas, e você? Já que tocou no assunto, você seria o
cardápio especial que poucos teriam a oportunidade de experimentar?
Não negaria a minha curiosidade em conhecer amora, poderíamos nos encontrar apenas
uma vez e meu interesse findar, assim como ocorreria com ela, mas se eu utilizava o
Tinder para paquerar, e esse era o principal objetivo do aplicativo, o que ela faria senão a
mesma coisa?
Amora: Não sou dessas de ficar experimentando.
Eu: Então está no Tinder para o quê?

∞ ∞ ∞

Amora
Sara passou o domingo sem falar comigo e se mostrou arrependida por ter apresentado
Vinícius a mim, mas também notei certa desconfiança, como se eu soubesse de algum
podre de Cardoso, seu namorado.
Eu não tinha, ao menos não vi as mesmas evidências que encontrei em Vinícius.
Consultaria Sofia se surgisse a dúvida e fosse necessário, mas Cardoso não fazia o perfil
de homens que ela gostava de sair.
Apesar de bastante magoada, não permiti que a raiva, a ira e a depressão dominasse meu
emocional e me abatesse numa fossa e tristeza.
Iniciei o segundo mês de pesquisa da faculdade e, apesar de ter uma boa quantidade de
dados, eu queria mais informações para ter uma representatividade numérica na minha
apresentação.
Com bastante ódio dos homens que utilizavam o Tinder, voltei a curtir os perfis que
surgiam em minha tela. Aprovei todos, desde o mais asqueroso até o exibido. Conversei
com os que estabeleciam afinidade e fui, pouco a pouco, desvendando seus segredos mais
obscuros: namoradas, noivas e esposas não revelados.
Agi como uma justiceira, criei um e-mail anônimo e enviei cópias das mensagens e
evidências desses homens infiéis às suas respectivas companheiras. Se as fiz sofrer, ao
menos antecipei o inevitável.
Fiquei obstinada em denunciar todo tipo de mau caráter nesse aplicativo, ao mesmo tempo
que obtinha dados para minha pesquisa e definia um novo tipo de perfil: o que agia como
verdadeiro, porém escondia um segredo revelador, a exemplo de ser comprometido e não
deixar claro isso.
Rômulo: Boa noite! Você ainda está aí?
Eu: Sim.
Com tantos contatos procurando conversa comigo, fiquei distraída e respondi Rômulo sem
intenção de conversar com ele.
Rômulo: Tenho pensado em você, mesmo sem saber como você é.
Eu: Não acredito, com mulheres disponíveis para sair e você pensando em mim?
Rômulo: Sim.
Vi conversas semelhantes, sempre aquele jeitinho de se mostrar interessado, que quer me
conhecer, mas no final é só sexo e mais um nome para sua lista de que gostou ou não da
boa trepada.
Com tantas decepções e surpresas, Rômulo possuía algum podre na sua vida e eu
precisava descobrir. Vasculhei novamente suas redes sociais, busquei qualquer coisa que
pudesse denunciá-lo como infiel, mau-caráter ou qualquer outra coisa, mas não encontrei.
Retornei para o Tinder e comentei, antes que ele escrevesse algo.
Eu: Você é um homem bonito, inteligente e interessante, por que ficaria pensando num
perfil que possui Amoras como foto?
Rômulo: Desejo dizer o mesmo a você, quando nos encontrarmos, o quão deve ser
bonita, pois inteligente e interessante já demonstrou em nossa conversa, caso contrário eu
não insistiria.
Mais uma daquelas mensagens que recebemos e tratamos como “padrão”, o interesse se
mantém até ver quem está do outro lado. Para alguns abusados e insistentes, enviei a foto
de uma mulher com a beleza questionável para que parassem de me importunar.
Eu: Por favor, sejamos honestos. Neste aplicativo não há essa ilusão que encontraremos
algo puro e original. Afinal, os homens são todos iguais e estão aqui para alternarem o
cardápio.
Rômulo: Não posso tirar sua razão. Mas, e você? Já que tocou no assunto, você seria o
cardápio especial que poucos teriam a oportunidade de experimentar?
Me senti ofendida, eu não seria um prato, tampouco especial, para oferecer aos homens
que despertassem meu interesse. Ou seria? Minha resposta foi imediata, sem pensar muito.
Rômulo: Então está no Tinder para o quê?
Esse era o xis da questão. Para nenhum dos contatos que estabeleci afinidade eu contei
sobre minha pesquisa da faculdade. Isso prejudicaria meu trabalho e afetaria o anonimato.
Poucos colegas da faculdade me conheciam como Amora, apenas os que trabalhavam
comigo na lanchonete, e avisei a eles que faria um trabalho desse tipo. De resto, somente
Sara, Sofia e Vinícius sabiam. Se Cardoso sabia de algo, foi porque lhe contaram.
Eu: Minhas escolhas são peculiares.
Rômulo: Que interessante! Também tenho essa característica, mais uma coisa em comum
que encontrei entre nós.
Eu: Quais foram as outras que não me lembro?
Rômulo: Somos decepcionantes.
Em pouco mais de um mês de conversas no Tinder, foram raros os momentos, a ponto de
contar nos dedos, que os homens lembravam de uma conversa que tivemos horas atrás.
Foi no final de semana que escrevi isso para ele, logo após descobrir a traição de Vinícius.
Não quis ser rude, após sua insistência e encerrei a conversa, mesmo sabendo que suas
mensagens acalentavam a minha mágoa. Neste instante ele conseguiu me distrair e tive a
falsa impressão que poderíamos nos dar bem.
Rômulo: Pelo visto você permanece ressentida com algo e não está interessada em
conhecer alguém.
Eu: Por que você diz isso?
Rômulo: Falaríamos de nossas preferências, o que gostamos ou não de fazer, sobre o que
esperamos do outro e, quem sabe, apimentaríamos a conversa com algo mais ousado.
Mas você não tem se interessado por esses tipos de assunto e isso me deixa curioso em
saber o que procura no Tinder.
Eu: Você não perguntou. Outros homens já começam com essas perguntas.
Rômulo: Agora existem outros homens? Já conheceu alguém pessoalmente?
Bastou comentar sobre a existência de outros contatos masculinos que Rômulo ficou
curioso. Dessa forma, eu faria com que esquecesse da pergunta sobre o que eu fazia no
Tinder.
Eu: Já!
Não estava mentindo, foi na minha primeira relação virtual, a mesma que me fez descobrir
que traições existiam e não podíamos confiar nos homens.
Rômulo: Eu também.
Mas é claro! Ele não parecia ingênuo o bastante para termos a sua primeira conversa no
aplicativo. Percebi que ele não perguntou com quantos homens saí ou se gostei de algum
especial, apenas afirmou que também conheceu outras mulheres.
Eu: Desde que você começou a conversar comigo, já saiu com quantas?
Não que eu estivesse curiosa, interessada ou com ciúmes, mas eu queria ver o quanto ele
seria sincero comigo.
Rômulo: Saí com uma, mas não foi no aplicativo, a conheci num barzinho.
Fiquei surpresa. Foram raros os homens sinceros que mantive contato durante minha
pesquisa. Ao menos Rômulo se incluía na parte boa das estatísticas.
Rômulo: Selvagens! Foi o que escrevi logo após estabelecermos afinidade, poderíamos
ter apimentado essa conversa, mas você perguntou como eu saberia que era selvagem.
Percebi uma ligeira mudança de assunto, mas a curiosidade me acometeu.
Eu: Se já conheceu uma mulher, por que insiste em conversar comigo?
Rômulo: Não estou mais com ela, terminamos no domingo e antes que você pergunte o
porquê, nossos pontos em comum eram inexistentes e eu não ficaria com ela apenas por
ser uma mulher bonita e agradável.
Sério que li isso de um homem?
Rômulo: E você, pressinto que tinha um homem na sua vida também, o que deu errado?
Mais uma vez me vi presa na conversa com Rômulo, ele conseguia minha atenção e eu
não queria relatar a minha vida íntima para um desconhecido, mas não poderia mentir para
ele, não após ser sincero comigo.
10 – Primeiro contato
Rômulo
Eu sabia que havia uma questão sentimental para Amoras não responder minha
mensagem. Fiquei no vácuo e imaginando o quão grave seria o seu problema. Essas
perguntas sem respostas, uma imagem sem um rosto e o meu interesse em desvendar tudo
isso me deixou ansioso.
Sem receber a devida atenção, voltei meu olhar para os outros matchs recentes. Encontrei
em Sabrina um papo agradável quando conversamos sobre preferências e apimentamos a
conversa. Eu estava a quatro dias sem sexo e isso me afetou de um jeito que não permitia
tomar decisões difíceis, ainda mais conversando sacanagem com uma mulher.
Meu pau pulsou, louco para encontrar uma buceta molhadinha, sabia que do outro lado da
tela havia uma loira assim e se pedisse uma foto, era capaz de receber um close de sua
vagina com os dedos melados de tão excitada que estava.
Mas só me vinha à cabeça a imagem de uma ruiva, se realmente Amoras tinha os cabelos
vermelhos. Os lábios finos e poucos carnudos de Sabrina foram substituídos em minha
imaginação por algo mais grosso, recheado, numa cor vermelha, intensa, com uma língua
passando ao redor e implorando para serem sugados.
Não resisti, minha mão não daria conta da vontade que eu sentia. Queria conhecer
Amoras, mas à minha frente estava Sabrina, louca para me conhecer, e transar, é claro.
Estava tarde para nos encontrarmos e combinamos na hora do almoço de quinta-feira,
mesmo insistindo que eu estaria disponível no final da tarde.
Se Amoras sabia que eu saía com outras mulheres e ela fazia o mesmo, não havia motivos
para ficar com a mente pesada. No entanto, em meu novo sonho erótico, fantasiei como
seria o nosso encontro na hora do almoço, em substituição a Sabrina. Dessa vez não resisti
e bati uma punheta bem batida pensando numa mulher que nem sabia como era o seu
rosto.
Eu: Bom dia! Você pode não acreditar, mas tive um sonho delicioso contigo.
Mesmo sem ter recebido uma resposta anterior, enviei uma nova mensagem para Amora.
Sabia que ela não responderia de imediato, então fui cuidar da minha vida.
Por volta das dez da manhã, dei uma conferida no Tinder, com o principal objetivo de
verificar se ela havia respondido, mas só havia a mensagem de Sabrina confirmando a
hora e o local que nos encontraríamos. Confirmei onde a esperaria e enviei vários
emoticons de beijos.
Engraçado quando definimos o primeiro encontro num motel, sem um bate papo
presencial anterior, sem um beijo para saber se rolaria um clima legal ou sentir o perfume
do outro. Nada contra, até porque agilizava logo o objetivo do encontro, mas parecia
estranho, como se fôssemos tratados como objetos.
Esperei Sabrina em frente ao seu trabalho, ela entrou no carro sorridente, deu um beijo no
meu rosto, não foi na boca, pediu para que eu saísse da vaga e sugeriu um motel de sua
preferência. Fui ligando os pontos, ela era uma mulher casada e queria sexo casual, mas
apenas um detalhe me chamou atenção: como ela conversou comigo numa quarta-feira à
noite? Não resisti e fiz a pergunta enquanto dirigia.
― Por que você acha que sou casada?
― Recusou o encontro no final da tarde, me deu um beijo discreto no rosto, pediu para
que eu seguisse, como se eu fosse um motorista de Uber e está um pouco tensa.
― Você tem uma mente fértil.
Foi a sua única resposta até chegarmos no motel, quando decidiu em qual quarto
ficaríamos. O portão da garagem fechou pelo controle remoto e então vi uma nova Sabrina
surgir. Seu corpo se reclinou em direção ao meu e seus lábios sugaram minha boca numa
vontade insaciável de beijar. Senti o seu perfume delicioso invadir os meus sentidos e sua
mão acariciou o meu rosto e roçou em minha barba rala.
― Você beija gostoso! ― disse ela.
Senti sua língua querendo conduzir a dança, mas fui incisivo e ditei os passos, a senti
como se quisesse me devorar, mas ao notar que eu estava menos afoito, ela relaxou e
permitiu reduzir o ritmo.
Sem deslizar minhas mãos em seu corpo, sem tocar seus seios ou abaixar o zíper de sua
calça, apenas com o beijo, fiquei bastante excitado. De olhos fechados eu imaginava um
vermelho intenso invadindo a minha visão, mas quando abria os olhos via uma loira me
beijando e emitindo gemidos de prazer.
Após alguns minutos de beijos deliciosos, sua mão abandonou meu rosto, desceu pelo meu
peito, passou pelo abdômen e alcançou o meu pau duro, o apertou com vontade, conferiu o
tamanho e a espessura, preencheu sua mão por inteiro e assim permaneceu enquanto me
beijava. Aproveitei também para sentir seus seios, sob um sutiã com bojo, eram pequenos
e não deu para sentir se eram firmes ou se estavam eriçados.
Entramos no quarto, ainda vestidos, ela fez questão que eu me sentasse na cama e voltou a
me beijar, como se estivesse há anos sem sentir o sabor dos lábios de um homem,
enquanto eu me via louco para desabotoar seu blazer. Aos poucos fomos nos despindo,
com o cuidado de não abarrotar as roupas e terminamos na cama apenas com nossas peças
íntimas.
― Não consigo parar de te beijar! ― disse ela.
― Seu beijo também é gostoso.
Se pudesse gozar apenas beijando essa mulher, eu teria gozado. Foi o casamento perfeito
de nossos lábios, havia um sabor enigmático e diferente que me deixou bastante excitado,
meu pau praticamente saltava para fora da cueca e ela nem encostava sua virilha nele.
Quando consegui tirar o sutiã, senti seus seios firmes, com os bicos na medida certa para
serem apertados, não resisti e desviei meus lábios para suga-los e o gemido dessa mulher
saiu mais alto.
― Deixa eu chupar você ― disse ela.
Mais uma vez ela quis ditar o ritmo, puxou minha cueca para baixo, segurou a metade de
meu pau com sua mão e se reclinou para lambuzá-lo, sua saliva o deixou todo melado,
como se estivesse dando um banho nele até, por fim, abocanhá-lo por completo. Sabrina
tinha um quê de sadomasoquista, com os seus dentes afiados ela deslizou na cabeça de
meu pau e por um triz não dei um tapa em seu rosto.
― Você não gosta? ― ela perguntou.
― Não!
Vi a decepção em seu olhar e percebi que essas minhas escolhas exóticas traziam consigo
algumas peculiaridades no sexo. Para evitar sofrimento maior no meu instrumento sexual,
a puxei e fiz com que voltasse a me beijar com gosto.
Eu estava certo, quando deslizei minhas mãos para alcançar sua calcinha, ela estava
molhada, praticamente escorrendo de tanta lubrificação e desejo em ser comida. A pus em
meu colo e levantei da cama para pô-la deitada. Arranquei a última peça de seu corpo e vi
um decote em seus pelos pubianos, bem aparados e sugestivo.
― Não precisa me chupar ― disse ela.
― Mas eu gosto! ― respondi, já me reclinando para saborear seu sexo.
― Não…
Ela chegou a fazer um pequeno esforço para impedir que minha língua a tocasse, mas ao
senti-la bem gostosa em seu clitóris, relaxou os músculos e deixou acontecer. Não precisei
estimulá-la com o dedo ou fazer grandes movimentos. A cada passada de língua em
determinadas regiões de seu sexo, o gemido aumentava em volume e duração. Me
concentrei nesses locais e em pouco tempo vi seu corpo se estremecendo de prazer e seus
gemidos roucos e longos.
― Seu sacana, não precisava disso ― disse ela, em meio aos gemidos.
Pus a camisinha e vi seu corpo se descontrolar a cada centímetro que meu pau entrava em
sua vagina. Ela gritou, virou para um lado, se contorceu para trás, cravou suas unhas em
minhas costas, quase arrancou meus lábios com seus dentes enquanto eu me concentrava
para não perder o ritmo.
Meu corpo estava ali, meu pau estava duro, mas a minha mente divagava para outras
situações. Eu pensava em Amora, sobre como seria o nosso momento de sexo, se teríamos
uma afinidade maior que isso ou, se seus beijos seriam gostosos. Por pouco não broxei.
Transamos apenas uma vez, tomamos banho juntos e nos arrumamos como se fôssemos
um casal. Por um instante lembrei de minha ex-namorada, no período que estávamos bem
no relacionamento.
― Depois dessa, preciso comer algo ― disse ela.
― Eu também! Prefere pedir um prato ou …
― Não, tem uma lanchonete que conheço. É discreta e o sanduíche é praticamente uma
refeição.
― Certo.
Os suculentos beijos cessaram a partir do instante que retornamos ao carro. Dirigi como se
fosse seu motorista e voltamos à formalidade de antes. Ela deu as orientações de onde
ficava a lanchonete e apenas segui, até encontrar uma vaga para estacionar próximo.
― Ele estava no jogo ― disse ela, enquanto eu concluía a manobra.
― Como? ― perguntei sem saber ao que ela se referia.
― Meu marido, ele estava assistindo o jogo de futebol na televisão quando conversamos.
― Então eu estava certo! ― comentei e ela assentiu. Devia confiar mais nos meus
sentidos.
― Tudo bem para você?
― Por que não estaria?
Uma parte de mim quis dizer que não, não estava nada bem para mim, mas se nós homens
fazemos isso com nossas parceiras, por que não haveria o troco?
Eu perguntaria o que havia de errado no relacionamento de Sabrina com seu esposo, mas
não quis, não era do meu interesse e, com certeza, não queria ser seu amante para os
próximos encontros.
Como também estava faminto, entrei na lanchonete e decidi que ela escolhesse o prato
mais apetitoso. Sabrina ficou sentada, de frente para mim, sorriu pouco, fez poucas
insinuações e manteve a aparência de que mal nos conhecíamos, quanto mais que
havíamos transado horas atrás.
Amora: Te vi lanchando com uma mulher, era uma colega de trabalho?
Mal tinha acabado de estacionar no meu trabalho e vi essa mensagem. Meu coração gelou
por dois motivos. O primeiro porque estive tão próximo de Amora e não pude reconhece-
la. Não sabia como era seu rosto, sua fisionomia e não identifiquei uma mulher que tivesse
os cabelos vermelhos, como imaginava. Fiquei tão próximo de dizer um oi, mas ela não
falou comigo.
Segundo, porque eu não estava com uma colega de trabalho, mas sim com uma mulher
que encontrei mais cedo e transei com ela. Diria a verdade? Afinal, era uma pergunta e
não havia motivos para mentir, exceto se quisesse manter as aparências, mas de quê?
Eu: Parecia, não era? Mas ela é uma mulher que encontrei aqui no aplicativo.
Amora: Mas ela é casada!
Ferrou! Não imaginei que prejudicaria Sabrina ao revelar para uma desconhecida que a
encontrei no Tínder. E se Amoras fosse uma amiga, conhecia a família e decidisse revelar
que a encontrou com um amante?
Eu: Você a conhece?
Amora: A conheço de vista.
Eu: Menos mal.
Amora: Por que menos mal?
Eu: Porque cheguei a imaginar que prejudiquei essa mulher ao revelar que saiu comigo.
Amora: Pode ficar tranquilo que manterei o segredo de vocês dois.
11 – Cortando o laço
Angélica
Estava distraída, atendendo alguns clientes, quando vi um rosto familiar se aproximar da
porta de entrada. Meu corpo congelou e meu coração praticamente parou ao ver Rômulo,
acompanhado de uma mulher que sempre vinha fazer seus lanches, abrir a porta da
lanchonete. Fiquei com receio de ser reconhecida, não estava preparada para ser
confrontada, então corri e entrei na cozinha.
― O que foi menina? Parece que viu um fantasma! ― disse Verusca, a preparadora de
sanduíches.
― Estou com um problema lá fora ― respondi.
Verusca fez aquele olhar de que havia homem envolvido na história e não fez maiores
perguntas, não nesse momento.
― Faz o seguinte, fica aqui na preparação que eu te cubro. Quem é o indivíduo?
De dentro da cozinha e com a porta entreaberta, apontei para a mesa onde Rômulo sentou.
― E aquela mulher? ― perguntou Verusca.
― Deve ser alguma colega de trabalho ou uma cliente ― respondi.
― Assim espero, porque ela é casada e a conheço muito bem.
Por entre a fresta da porta da cozinha, espiei o comportamento de Rômulo, ele sentou do
lado oposto à sua companhia, concordou com a sugestão dela e manteve a discrição, como
se estivesse ali para matar a fome e retornar para uma reunião importante.
Tive a oportunidade de observá-lo enquanto a cozinha não enchia de pedido, notei que
tínhamos alturas próximas, seu corpo era enxuto, não demonstrava ser um frequentador de
academia e por isso a manga da camisa não ficou colada ao seu braço, delineando os
músculos. O penteado estava meio bagunçado, como se tivesse se descabelado ao procurar
a solução para um problema, suas mãos eram grandes, capazes de segurarem firmes o
braço de uma mulher, sua barba estava crescida, como se a tivesse feito no fim de semana,
seu sorriso era igual ao da foto de seu perfil: malicioso e gostoso de ver e só não pude
sentir de perto o perfume que usava.
― O que ele te fez, nega? ― perguntou Verusca após servir mais refrigerante na mesa
dele.
― Nada, apenas não quero que ele me veja ―respondi.
― Foi algo sério, algum caso mal resolvido?
― Não, nem nos conhecemos de verdade.
Quando as pessoas não estão envolvidas no seu trabalho, principalmente acadêmico,
dificilmente lembram dos detalhes que são ditos, portanto, relembrei a Verusca sobre
minha pesquisa no Tinder e expliquei que Rômulo era um dos meus contatos.
― Mas se você não mostra seu rosto nas fotos, como ele te reconheceria?
Era verdade, mas não quis arriscar, Rômulo era esperto demais e minha identificação
denunciaria facilmente meu apelido de Amora.
― Menina, tem certeza que é só isso? ― Verusca insiste.
― Por que teria algo mais?
― Do jeito que você o observa, parece que há algo mais…
― Não quero saber de homem vindo do Tinder ― a interrompi.
Verusca deu apenas um sorriso de canto e retornou para atender outros clientes. A
quantidade de pedidos de sanduíches aumentou e não pude observar mais Rômulo. Fiquei
tão entretida na preparação dos lanches que não vi o instante em que ele deixou a
lanchonete.
― Ele já foi? ― perguntei a Verusca.
― Quem? ― Verusca também havia se distraído com os atendimentos ― Ah! Sim, não
tem cinco minutos que pagaram a conta.
― Então vamos destrocar de lugar ― passei o avental para ela.
― Eu já estava me acostumando aqui fora.
Assim que terminei de entregar os pedidos aos clientes, fui para trás do balcão e
discretamente enviei uma mensagem para Rômulo, nem me importei com o que ele havia
escrito mais cedo.
Fiquei surpresa ao descobrir que sua acompanhante era um contato do Tínder e não uma
colega de trabalho ou uma cliente, como imaginei. Subiu um leve fervor em meu corpo ao
imaginar que os dois se encontraram mais cedo, transaram e estavam na lanchonete para
recuperar a energia gasta.
Fiquei agitada e louca para descobrir a identidade dessa mulher, mas tive que voltar a
atenção para gerar as notas de pagamento de algumas mesas. Durante nossa conversa,
Rômulo ficou preocupado em prejudicar sua paquera ao ter revelado que saiu com ela.
Juro que a tentação maior foi mostrar a um marido que sua mulher o traía, mas quando dei
por mim, me comprometi que não faria nada.
Esse assunto chamou atenção para um detalhe de minha pesquisa, eu deveria descrever
que a abordagem foi focada no público masculino. Deveria ter contatado um amigo para
me apresentar os perfis femininos e compará-los com os meus resultados.
Rômulo: Fui pego com a boca na botija. Fiquei tão distraído que não notei você no
restaurante. Mas como eu estava acompanhado, talvez fosse constrangedor esse nosso
encontro.
Até parecia que eu estava interessada em conhece-lo. Minha maior vontade era enchê-lo
de perguntas, do tipo: se já saiu com outras mulheres casadas, como elas se apresentavam
no Tinder, se procuravam algo casual ou um amante fixo, se falavam de seus
relacionamentos, etc., mas no meio de nossa conversa, vi uma mensagem anterior de
Rômulo e fiquei curiosa.
Eu: Como você tem um delicioso sonho comigo e no mesmo dia sai com outra mulher?
Eu queria entender a cabeça desses homens. Atitudes como essas só reforçavam o meu
repúdio por contatos vindos do Tinder, não dava para leva-los a sério. Ao menos Rômulo
vinha mantendo a sinceridade em nossa conversa.
Rômulo: Sendo sincero, não temos nada concreto que me prenda oficialmente a você.
Sonhei com uma imagem idealizada sua e foi muito bom, se na vida real for igual, faria de
tudo para tê-la só para mim. No entanto, não posso viver de sonhos e surgiu algo real
para curtir, espero que você entenda.
Eu: E você seria só meu? Como confiaria em você?
O que eu estava fazendo? Entrando no joguinho dele? Confesso que fiquei curiosa em
saber como foi o sonho dele.
Rômulo: Seria seu, incondicionalmente. Faria de tudo para lhe garantir que não seria de
mais ninguém.
Eu: Isso parece romântico demais para alguém que não sabe como sou.
Rômulo: Confio na minha intuição, mais do que antes.
Eu: Já tive decepções suficientes para não acreditar nesse papo, desculpe.
Rômulo: Também poderia não acreditar em você, mas já selamos um pacto de não mentir
para o outro, assim espero. Tenho dito a verdade e espero que você também, embora haja
algumas perguntas que você não me responderá.
O deixei no vácuo mais uma vez. Seria muito ingênuo da minha parte acreditar nele, um
homem de verdade com o rosto bonito e um sorriso malicioso. Sua educação, ou paciência
em não me encher de mensagens quando o abandonava, era algo fora do comum e me
intrigava.
Encerrei meu turno na lanchonete, fui para a faculdade, assisti as aulas e quando retornei
para casa, vi que ele não havia mandado uma mensagem a mais.
Não havia uma semana que havia rompido com Vinícius e os resquícios de nossa
separação permaneciam latentes em minha memória, apesar de despertar o interesse em
manter o diálogo com Rômulo.
Estava saindo da faculdade na sexta-feira à noite, quando avistei Vinícius encostado em
seu carro, numa vaga próxima de onde eu costumava passar.
― Angélica, temos que conversar.
― Não temos mais o que conversar.
Parei diante dele, mantendo uma distância de segurança.
― Desculpe, eu errei! Entrei no Tinder acreditando que fosse te vigiar, mas acabei me
envolvendo…
― Engraçado! Isso não aconteceu comigo.
― Eu fui fraco.
― Você foi um covarde, isso sim! Se não fosse por Sofia, nunca saberia de sua traição, seu
canalha!
― Eu te amo, Angélica.
― Você provou seu amor da pior maneira.
― Eu não ligo para sua pesquisa, não vou mais te encher o saco.
― Não importa mais, Vinícius. Para mim acabou.
Prossegui com minha caminhada até o ponto de ônibus, mas antes disso Vinícius segurou
em meu braço e me virou para si, projetou seu rosto em direção ao meu e não consegui
evitar que me beijasse, mesmo com toda a minha repulsa.
― Vamos passar uma borracha nesse assunto, deixe eu te levar para sua casa.
― Não, Vinícius.
Tentei me desvencilhar de seus braços e não consegui. Me sacudi mais um pouco e ele
tentou um novo beijo.
― Por favor, me largue!
― Me dê mais uma chance.
― Não!
― Então você já tem outro.
― Como?
― Você não me largaria assim facilmente…
― Você não me conhece mesmo, não é?
Dei mais uma sacudida nos braços e ele me largou. Não consigo acreditar que eu deveria
esquecer uma traição, e o pior foi ouvir essa terrível suposição que eu já possuía outro
namorado.
― Não sou essas vadias que fazem a fila andar. Saiba que sofri e ainda sofro com a sua
traição, mas saiba também que não perdoo você pelo que fez.
Essa visita surpresa de Vinícius me deixou desnorteada. Cheguei em casa e a última coisa
que eu queria era encontrar Sara e ter que conversar com ela. Tomei um banho rápido e me
tranquei no quarto. Minha raiva permaneceu por horas imaginando a proposta descarada
de Vinícius em perdoá-lo, nunca que faria isso.
Rômulo: Não encontrei ninguém para essa sexta à noite, quer conversar um pouco?
Não sei porque abri o Tinder. Entre tantos matchs e novas mensagens, percebi que Rômulo
quis me tirar do sério, além do que Vinícius havia conseguido.
Eu: Sou o quê? Um alento à sua solidão?
Rômulo: Pelo visto você também está só e não teve uma boa noite. Estou em outra
cidade, deu um problema em nossa filial e pelo visto devo passar o fim de semana
trabalhando. Imaginei que poderia ter sua companhia virtual.
Eu: Ative seu radar e procure mulheres na região para passar a noite. Você não precisa
de mim.
Rômulo: Desculpe, desejo que seu humor melhore e tenha uma boa noite.
Se havia algum modo menos traumático para encerrar a conversa com Rômulo, eu não
saberia responder, ao menos desejei que ele não voltasse a conversar comigo. Cogitei a
possibilidade de bloqueá-lo, mas aí eu seria deselegante demais e não havia motivos que
justificasse algo tão radical.
12 – Sonhando também
Não sei se foi o calmante que tomei para dormir, se foram as mensagens de Rômulo
afirmando que pensou e sonhou comigo, ou até mesmo tê-lo visto na lanchonete que
trabalho, pois eu sonhei com ele e tive vontade de não despertar na manhã de sábado.
Diferente dos tipos de homens atléticos, sarados e com o potencial de deixar qualquer
mulher babando por gominhos no abdômen, o carisma de Rômulo superou os atributos
que não possuía. O seu sorriso, sua forma de falar com a voz num tom grave, firme e
seguro de si, ecoou em meus sentidos. Questionei se poderia confiar nele, mas não resisti
aos seus lábios gesticulando palavras que deixaram de ser compreendidas para apenas
admirar como seria tocá-los com a minha boca.
Perdi o controle, avancei em seu corpo e o beijei, implorei que sua língua parasse de
gesticular palavras. Seu olhar surpreso com minha reação, se transformou em satisfação ao
ser correspondido. Não importava a forma como nos encontramos ou como permiti que
ele se aproximasse, me senti agindo sem que meu subconsciente concordasse.
Lembrei de ter sido comparada a amoras selvagens. Seria o inconsciente agindo e
permitindo que ignorasse as premissas de não me envolver com homens do Tinder? Estava
gostoso, senti suas mãos deslizando em minhas costas num abraço bem apertado, como se
não quisesse desgrudar mais de mim e seu beijo delicioso impediu que pensasse em outras
coisas além do desejo de tê-lo próximo de mim.
Ignorei suas revelações de ter saído com outras mulheres. Nesse instante, Rômulo era meu
e não importava se seria por apenas um encontro ou por toda a eternidade. Não cobrei por
relação ou pedidos de paixão incondicional, apenas o queria para satisfazer meus desejos.
Senti sua ereção pressionar meu corpo, e eu também estava excitada apenas com os nossos
beijos. Como era um sonho, não importou o local onde estávamos, não havia mais
ninguém ao nosso redor. Baixei a sua calça e conferi o tamanho de seu pau. O que não
tinha de músculos no corpo, compensou com algo lá embaixo.
Ele me carregou para próximo de uma mesa, suspendeu o meu vestido e foi quando notei
que estava com a farda da lanchonete, um vestido preto de bolinhas branca, com uma saia
bem rodada e de babado, além das costas nuas, num estilo tomara-que-caia com uma alça
que amarrávamos no pescoço.
Suas mãos desamarraram essa alça e desceram o bojo que sustentava os meus seios. Seus
olhos admiraram o formato deles, enquanto as mãos o acariciavam. Notei que ele queria
me provar por inteiro, mas eu estava interessada em saciar a minha fome.
Não sei como ou porque, eu estava sem calcinha e não me importei em colocar a
camisinha em Rômulo, apenas direcionei seu pau no sentido de minha gruta, que estava
úmida o suficiente para permitir que deslizasse para dentro. Senti toda a grossura
invadindo meu sexo, na pressão correta para me levar à loucura.
Me deitei na mesa e ele suspendeu minhas pernas, as apoiou em seu peito e permaneceu
fazendo o movimento gostoso de vai e vem. Fiquei mais lubrificada com a excitação e
num dado momento ele se reclinou para sugar meus mamilos. Liberei um gemido de
prazer e sua posição sobre meu corpo melhorou a sensação de seu pau penetrando em
minha vagina. O abracei e ajudei com um rebolado suave.
O vi próximo de gozar e eu também estava chegando lá. Pedi para segurar um pouco e não
parar o ritmo. Assim o fez o quanto pode, até dar sua estocada final. Nunca havia sentido
isso, só com a pressão de seu corpo em meu sexo, tive os primeiros espasmos do orgasmo.
Entusiasmado, ele prosseguiu com o movimento para saciar o meu prazer.
Ele ainda permaneceu com seu pau dentro de mim, senti sua pulsação em meio às
contrações involuntárias de meu sexo pós-orgasmo. Seus olhos brilhavam de satisfação e
paixão e os meus não estavam diferentes. Percebi que não o queria apenas por um instante,
mas sim para toda a minha vida.
Despertei com a calcinha molhada e meu clitóris estava inchado, como se tivesse acabado
de me masturbar. Num simples toque, meu corpo estremeceu e senti vontade de estimulá-
lo um pouco mais. Ainda não havia despertado por completo e a sensação gostosa de ter
feito sexo de forma majestosa permanecia, mesmo que em sonho. Portanto, continuei me
tocando e pensando em como foi gostoso ter transando com Rômulo.
Após gozar e ter sensações semelhantes às que tive no sonho, voltei à realidade. Me
masturbei pensando num homem que não tinha desejo em ter um relacionamento,
principalmente porque nos conhecemos no Tinder.
― Você está diferente essa manhã ― disse Sara ao me ver próximo da cozinha.
― Não notei nada ― comentei.
― Sim, depois de toda a confusão envolvendo Vinícius, não imaginei que fosse acordar
assim, toda radiante.
― O que você sabe da confusão com Vinícius?
Eu não havia contado nada e minha desconfiança cresceu ao ouvir Sara. Ela soube que
Vinícius foi me ver na noite anterior?
― Depois desse lance de você flagrá-lo no Tinder, eu não acreditava que ele faria isso
contigo e imaginei que você permaneceria na fossa esse fim de semana.
― Ah! ― eu andava desconfiada demais ― Namorávamos o quê? No máximo três meses,
não deu para me envolver tanto assim e acho que depois da minha primeira decepção,
encarei Vinícius com mais tranquilidade.
― Não parece que foi apenas isso.
― Então foi o quê?
― Sei lá, parece que tem outro homem na jogada.
― Posso lhe garantir que não há! Agora preciso focar na minha faculdade e deixar esse
lance de homem para outro momento.

∞ ∞ ∞

Fiquei desacostumada em ter que passar o fim de semana em casa, sobrou tempo para
arrumar o guarda-roupas, organizar minhas anotações da faculdade e rever toda a minha
pesquisa sobre perfis que se escondiam em redes sociais.
Sobrou tempo para refletir sobre minha vida.
Me perguntei se fui a culpada em ter influenciado Vinícius a entrar no Tinder ou se ele já
utilizava esse aplicativo. Independente disso, ele não deveria ter traído nosso
relacionamento e se não fosse minha pesquisa e desconfiança, não descobriria sua
infidelidade.
Com certeza incluiria seu perfil em meu trabalho acadêmico, na seção de homens com
perfis falsos e comprometidos, mais um, dentre uma imensa lista, de infiéis que se
escondiam num aplicativo de paquera.
Voltei a atenção para o Tinder, dentre os matchs recentes e mensagens com ofertas para
me conhecer, lá no final, quase desaparecendo da tela, estava a de Rômulo se desculpando,
quando na verdade eu estava sem paciência para conversar, justamente porque havia
discutido horas antes com Vinícius.
Não faltou oportunidade para ele ter desistido de mim, fui rude em diversos momentos e
pensei nas quantas vezes que sua aposta em perfis exóticos lhe trouxe decepção. Ele
estaria procurando o seu bilhete premiado?
Pouco importava, eu ainda amaldiçoava esse aplicativo e todos os que o utilizavam,
portanto, Rômulo estava incluso e não seria um sonho erótico que me faria pensar o
contrário.
Mas a solidão, o ócio e o sentimento de culpa fizeram com que eu relesse toda a conversa
que tivemos, busquei algum detalhe esquecido, algo que não vi e deixei passar, sua
conversa parecia tão sincera, parecia que nos conhecíamos e tínhamos algo em comum,
fora sermos decepcionantes e termos escolhas peculiares, apesar das minha sejam
encontrar homens infiéis.
Tive vontade de provocar, dizer que também sonhei com ele, quis saber o que responderia,
mas não. Já fiz péssimas escolhas e não queria errar mais uma vez.
13 – A oportunidade se foi
Iniciei a semana bastante agitada. Após passar o fim de semana entediada, trabalhei na
lanchonete desejando que o dia passasse rápido para dar a hora de ir para a faculdade. Eu
queria ocupar a mente a qualquer custo, fosse atendendo os clientes, frequentando as aulas
ou coletando mais dados para minha pesquisa acadêmica.
Entrei num modo operacional semelhante a de um robô, cumprindo tarefas pré-
determinadas em seus respectivos tempos, sem opção de decidir ou escolher o que fazer.
Eu não tinha mais perspectivas de encontrar um namorado na sexta-feira à noite, não havia
o que valesse o esforço para conseguir uma folga ou pensar em outra coisa.
Meu próximo final de semana seria igual ao anterior, eu não teria um colo para aquecer
meu corpo, uma mão fazendo cafuné ou os lábios desejando os meus e me fazendo uma
mulher amada.
Desse jeito, sem expectativa de que minha rotina mudaria, os dias passaram mais rápidos.
Após ter dispensado a companhia virtual de Rômulo, não vi mais mensagens suas para
mim.
Também não me desculpei por ter sido rude com ele. A cada instante que abria o Tinder
para caçar, digo, encontrar, homens falsos e infiéis, e não via uma mensagem de Rômulo,
eu perdia o interesse em prosseguir com minha pesquisa. Após a quarta-feira eu pouco
abria o aplicativo e encontrava uma torrente de mensagens e matchs.
― Estou achando que você precisa de um banho de visual ― disse Sara, na noite de
quinta-feira, quando cheguei da faculdade.
― Estou tão mal assim?
― Não é isso. Mas essa sua cara está pedindo, quase implorando, por algo novo.
― Até que seria uma boa, mas não posso cometer excessos esse mês.
― Mas deveria. Te conheço há algum tempo e sei que você não está nada bem.
― Tem razão, estou um pouco pra baixo. Daqui a pouco passa.
― Então você reconhece que há algo errado. Confie na sua amiga e me conte.
Não tive outra opção senão confiar em Sara, então fiz do sofá da sala um divã para
explicar o que me afligia. Não sei porque, mas comecei falando de Rômulo e isso
despertou uma enorme curiosidade de minha amiga.
― Você vasculhou a vida dele toda e não encontrou nada? ― perguntou Sara, ainda
olhando a foto de perfil de Rômulo em meu celular.
― Nada! Ele faz parte da estatística dos homens verdadeiros.
― Então isso é bom!
― O que tem de bom? Eu prometi que não sairia com mais ninguém do Tinder.
― Angel, você é uma mulher linda, mesmo saindo dos padrões de modelo fotográfica, seu
corpo é maravilhoso, seu rosto é lindo e invejo muito a sua coragem em deixar esse cabelo
vermelho…
― Mas isso não quer dizer que vou ficar me oferecendo no Tinder para qualquer um,
basta a experiência que tive.
― Mas esse Rômulo é interessante, ele demonstrou que está à procura de algo sério
também, dá para ver pela conversa.
― Talvez seja nessa conversa que ele esconde o jogo e depois dá um pé na bunda como se
fosse uma qualquer.
― E Sofia? Ela não está te ajudando com a pesquisa? Será que ela não bateu papo com
Rômulo também?
Não havia pensado nisso. Peguei os arquivos que Sofia havia enviado e procurei pelo
perfil de Rômulo, foi um match que custou a aparecer após ela ter curtido seu perfil. Isso
validava a afirmação de que ele preferia contatos mais exóticos e Sofia era o tipo padrão
de mulher: cabelo liso na altura média das costas, branca, corpo bem definido, alta e bem
desejada pelos homens.
Para abreviar a pesquisa por parte dela, eu cobrava o nome do perfil exibido no Tinder,
foto do indivíduo, perfil oficial do Facebook, Instagram e Whatsapp, se existissem, um
breve histórico da conversa e se ela considerava o perfil verdadeiro ou falso. Caso fosse
falso, ela enviava as evidências.
Quando acontecia de encontrarmos o mesmo indivíduo, eu utilizava minhas informações
mais aprofundadas. Quando não, eu pesquisava os perfis que ela enviava, em busca de
validar a sua consideração de perfil verdadeiro.
Com Rômulo, todas as informações coincidiram. Mesmo assim, fiquei na dúvida e decidi
ligar para Sofia, quis saber mais detalhes, principalmente se chegou a conhece-lo
pessoalmente.
― Ele é um amor de pessoa, Angélica. Sairia com ele se tivesse me convidado ― nesse
instante senti meu corpo aquecer ―, mas ele foi sincero comigo e disse que eu não fazia
muito o perfil dele.
― E qual era o perfil dele?
― Não sei ao certo, não combinamos muito em nossa conversa.
Sofia gostava de balada e de sair à noite, seus encontros eram mais casuais, de curtição,
sempre buscava os tipos de homens que andavam na moda, que gostavam de viagens e
uma vida social bem agitada. Pelo visto, Rômulo não era esse tipo de homem e mesmo
assim despertou seu interesse.
― Ele mentiu em algo que não sei? ― perguntou Sofia.
― Não, tive a mesma impressão que você.
― Está aí uma coisa que não percebi, vocês dois combinariam muito bem.
― Como assim? Mal conhecemos ele.
― Pela conversa que tive, vocês dois são parecidos no estilo.
Só em ouvir trechos de minha conversa, Sara ficou empolgada. Sofia falava pelo telefone,
Sara gritava do outro lado e as duas ficaram a favor de que Rômulo era um bom partido.
― Mal tem uma semana que terminei com Vinícius! ― comentei.
― E daí? Faz essa fila andar, garota. Aproveita a oportunidade ― respondeu Sara.
Eu não estava tão interessada em fazer essa fila andar, minhas prioridades se tornaram
outras, no entanto, ao ouvir duas amigas apoiando algo impossível de acontecer, meu
subconsciente permitiu que tivesse um novo sonho com Rômulo.
Despertei na sexta-feira disposta a fazer uma trégua, as palavras estavam prontas para
serem digitadas e eu diria tudo a ele, mas ao abrir o Tinder, percebi que o match com
Rômulo foi desfeito e todo o histórico de nossa conversa foi apagado.
Cheguei à conclusão que ele havia desistido de mim ou então conseguiu o seu bilhete
premiado e encontrou a mulher que tanto desejava. E eu acreditando que seria a sua
escolha, que combinávamos, segundo Sofia e Sara, mas elas estavam erradas.
Perdi a oportunidade que havia à minha frente. Ou seria um livramento de mais uma
decepção amorosa?
14 – Irrefutável
Rômulo
Meu coração insistia em escrever uma nova mensagem para Amora e a cada instante eu
resistia, minha consciência impedia de enviar e obedecia ao seu desejo de não ser
importunada. Quem era essa desconhecida, escondida sob uma imagem de fruta, que me
deixou enlouquecido?
Para minha sorte, tive pouco tempo para pensar nela. Se não fosse um grande problema no
sistema informatizado da filial, não ocuparia tanto a mente. Estávamos sem comunicação
e as operações eram feitas manualmente, com consulta constante da matriz.
Um servidor queimou, o backup não funcionou, tivemos que adquirir às pressas um novo
equipamento e reconfigurar seu sistema não foi uma tarefa fácil. Pelo menos o operacional
se manteve ativo até as doze horas de sábado e tive o final de semana para regularizar o
sistema.
Todo esse trabalho me deixou exausto. Eu chegava no hotel e só pensava em me jogar na
cama, mas se encontrasse uma mensagem de Amora, passaria a noite conversando com
ela.
Sempre que abria o Tinder para verificar se havia alguma mensagem, visitava também os
perfis que surgiam no radar, alguns até interessantes, mas eu estava em outra cidade e não
queria encontrar uma mulher apenas por curtição.
Permaneci na segunda-feira fazendo testes e somente no final do dia, recebi a validação
que o sistema funcionava em sua plenitude. Voltei para casa na terça-feira pela manhã e na
quarta encontrei Sebastião para o nosso happy hour.
― Cara, preciso te contar uma coisa ― disse Sebastião, apenas assenti, curioso em saber o
que era ―, parece que estou apegado a uma garota.
― Quem foi a vítima?
― Glenda.
― Aquela do bar, que conheci Vanessa? ― perguntei e Sebas confirmou ― Então ela é
louca igual a você!
Alguns dizem que os opostos se atraem, mas tenho visto o contrário. Sebastião era um
cara que adorava curtição e bons momentos de sexo. Sua tara, assim como a maioria de
nós homens, era ter uma parceira que topasse alguns fetiches sexuais e pelo visto Glenda
se mostrou adepta de alguns deles.
Ela conseguiu fisga-lo direitinho, tanto que em poucas semanas que se conheceram, Sebas
decidiu fazer essa revelação para mim. Fiquei surpreso, é claro, e cheguei a uma
conclusão:
― Pelo visto não encontrarei aqui o que realmente quero para a minha vida ― comentei
ao abrir o Tínder no celular ―, acho que é hora de desistir disso.
Cliquei em cancelar o meu cadastro e desinstalei o aplicativo.
― Talvez você tivesse mais chance que eu ― disse Sebastião, sem oferecer objeção à
minha decisão.
― Talvez, mas também posso ter perdido a mesma oportunidade que você, por conta
desse aplicativo.
De imediato veio a lembrança de Vanessa à minha mente. Por conta de uma desconhecida,
eu a abandonei na cama e não havia mais como me redimir, mas não choraria pelo leite
derramado. Uma nova oportunidade haveria de surgir.
Encerramos a noite com um brinde à união de Sebastião com Glenda, mesmo que não
fosse duradoura, e retornei ao meu apartamento, decidido que precisaria de mudanças
mais drásticas na minha vida.
Aproveitei o saldo positivo de horas por ter trabalhado no final de semana e tirei o restante
dos dias de folga. Decidi visitar meus pais no interior, fui rever minhas origens, matar a
saudade e me conectar com algo que havia deixado no passado.
Essa desconexão com a civilização, para cuidar um pouco da terra, andar a cavalo e
respirar ar fresco, permitiu que eu não sentisse falta do Tinder e dos aplicativos no
smartphone que nos deixam entretidos por horas, mas não consegui esquecer de Amora.
Lembrei que ela me reconheceu na lanchonete e desde esse dia não parei de pensar na
oportunidade que perdi em conhece-la. Quem seria ela? Uma cliente, funcionária ou
alguém que estava de passagem por lá?
Por outro lado, ela não estava interessada em mim ou, quem sabe, passava por um
momento confuso e não queria um envolvimento maior. Pensando bem, foi ela quem disse
que eu não precisava dela, mas ela precisava de mim?
Mesmo que me decepcionasse, eu precisava tirar essa dúvida, porém, o único meio que
tínhamos de comunicação, eu cortei. Poderia reativar minha conta, reinstalar o Tinder e
encontrá-la novamente, mas quais garantias teríamos um novo match?

∞ ∞ ∞

Angélica
Decidi que seria a última semana coletando dados e comecei a semana dividindo a atenção
entre atender os clientes e responder os matchs que se formavam à medida que curtia os
perfis. Acabei sobrecarregada, mal atendia o cliente, deixava o pedido na cozinha,
verificava se todos estavam bem servidos e então abria o Tinder para conferir as
mensagens.
― Boa tarde, você teria uma sugestão apropriada para o dia de hoje?
Essa voz… eu estava distraída, caminhando em direção a um cliente que acabara de
chegar e meus olhos grudados na tela do celular impediu que notasse sua fisionomia.
― Para hoje nós temos a sugestão de calabresa com…
Aqueles lábios, a barba por fazer, um perfume suave, as mãos grandes, não acreditei que
ele estava ali sentado. Como não o vi entrar? Fiquei sem palavras, com certeza minha pele
ruborizou e ele notou.
― Amora! ― ele observou o nome escrito num broche fixado no meu vestido ― Se não
seguisse minha intuição, não teria te encontrado.
― Calabresa com cheddar e cebolas gratinadas é uma boa pedida para hoje ― consegui
completar a sugestão.
― Eu sei que é você! Por favor, não me ignore ou diga que não preciso de você.
Fiquei sem o que dizer, uma parte de mim quis fazer de desentendida, que não era quem
ele procurava, outra quis insinuar a verdade, mas que não poderia dar a devida atenção
naquele instante.
― Então eu aceito a sua sugestão e um suco de frutas vermelhas.
Ele percebeu que fiquei desconcertada e não quis prolongar o desconforto. Apressei os
passos até a cozinha e entreguei o pedido pessoalmente a Verusca.
― O que foi que ele te fez? ― perguntou Verusca, já sabendo quem estava sentado à
mesa.
― Nada, ele apenas me reconheceu. Eu te disse que ele ligaria os pontos facilmente.
― O que há de ruim nesse homem, mulher?
Eu revelaria que ele saiu com uma mulher casada, justamente a que Verusca conhecia, e
seria o suficiente para mudar seu conceito a respeito de Rômulo, mas eu prometi que não
falaria a ninguém desse segredo. Me senti cúmplice de um crime. Não poderia contar a
verdade, e mesmo que fosse, não teria ligação com o que sentia por ele.
― Quer que eu o sirva? ― perguntou Verusca.
― Não, eu preciso resolver isso sozinha.
Eu precisava era de mais coragem, pois a vontade era de fugir correndo daquele lugar. O
que ele pensaria de mim, uma funcionária usando um vestido de bolinhas brancas, com os
cabelos vermelhos, salto alto, batom combinando com o preto do meu vestido, trabalhando
o dia inteiro como atendente de uma lanchonete?
― Seu pedido está sendo preparado ― comentei ao retornar da cozinha.
Rômulo olhou para mim como se quisesse fazer mais perguntas, mas antes disso um
cliente chamou para fazer o seu pedido e tive que atendê-lo. Estávamos no horário de pico
e a gorjeta era boa quando servíamos com rapidez os clientes, eu não poderia desperdiçar
essa grana extra que complementava minha renda.
Cafu, outro atendente que dividia os clientes comigo, encheu a sua bandeja com os
pedidos na cozinha. dentre eles, estava o de Rômulo e foi servi-lo. Ao menos tive a chance
de organizar melhor os meus pensamentos.
― Como está a refeição? ― perguntei ao me aproximar de sua mesa.
― Está maravilhosa a sua sugestão.
― E sua amiga? Não veio hoje?
― Nos desencontramos depois que viajei e ela conseguiu alguém que lhe fizesse melhor
companhia.
― O que faz aqui? ― perguntei.
Eu estava curiosa em saber. Depois que o nosso match foi desfeito, o que ele faria na
lanchonete? Veio passar na cara que poderíamos ficar juntos, mas conseguiu alguém
melhor que eu?
― Confiei na intuição que a encontraria aqui e estou grato em te conhecer.
― E mais o quê? Que desfez o nosso match porque conseguiu uma mulher e não precisa
mais de nossa…
― Eu cancelei o Tinder e desinstalei de meu celular ― ele me interrompeu.
― O quê?
Por essa eu não esperava. Rômulo se levantou da cadeira, notei que era mais alto que eu,
mesmo estando de salto alto. Ele segurou em minhas mãos trêmulas e ficou observando
meu rosto aflito.
― Acertei na cor de seu cabelo em meus sonhos, mas o seu rosto é mais angelical do que
imaginava. Diferente do desejo de experimentá-la e saber qual sabor de fato possui, eu a
cultivaria em meu pomar para que nunca murchasse.
Sua mão acariciou o meu rosto, mas não o puxou para si no intuito de forçar um beijo. Por
entre as metáforas do que havia dito, me senti acolhida em suas palavras. Eu não seria
apenas uma fruta a ser experimentada.
Como estávamos em pé, com Rômulo declarando seu amor por mim, conseguimos a
atenção dos clientes, os quais interromperam suas refeições para assistir à cena de uma
novela mexicana, e dos funcionários, que faziam torcida para que eu encontrasse o amor
verdadeiro. Minha vergonha se elevou ao nível mais alto.
― O senhor deseja mais alguma coisa?
Retomei o controle da situação, como se esquecesse de tudo o que havíamos conversado
momentos antes.
― Que horas você sai do trabalho?
― Daqui eu vou para a faculdade ― não deveria ter dito isso.
― Te daria uma carona se obtivesse sua confiança. Amanhã você trabalha aqui? ― ele
perguntou e respondi negativamente com a cabeça ― Eu não quero te perder, não agora
que te encontrei.
Sua mão tocou e segurou a minha. Eu permanecia trêmula, sem capacidade de reagir, não
sabia o que os outros pensavam de mim e por um instante lembrei do sonho. Foi uma
premonição! Eu sonhei com esse momento, só que de um jeito mais apimentado, só não
poderia ser colocada sobre a mesa e transar com ele em meio aos clientes.
Quis insistir na pergunta, se ele desejava mais alguma coisa, e tive medo dele pedir por um
beijo. Implorei mentalmente pela ajuda de Verusca, que ela viesse me acudir, mas ao olhar
para o lado, lá estava ela do lado de fora da cozinha e toda sorridente.
Não sei se foi por pura pressão dos olhares atentos, se eu não precisava provar nada para
ninguém, se foi um ato de ansiedade ou loucura, mas avancei em direção aos lábios de
Rômulo. Ouvi aplausos como som de fundo para a melodia romântica desse beijo
adocicado pelo aroma de frutas vermelhas.
Vi o mesmo olhar de satisfação do sonho, de ser correspondido ao desejo que sentia por
mim. Nossos lábios desgrudaram lentamente, numa vontade de retomarmos o beijo e suas
mãos deixaram as minhas costas e seguiram em direção ao meu rosto.
― Eu quero você, Amora! Quero só para mim!
Mais aplausos ecoaram pelo salão do restaurante, o que motivou Rômulo a me beijar
novamente. Seria romântico demais se eu não fosse funcionária do local e tivesse que
retomar minhas atividades.
― Estava bom o suco? ― perguntou Verusca, quando retornei à cozinha.
― Não perguntei a ele.
― Pedi que caprichassem nas amoras ― disse ela, quase gargalhando.
Bem que eu senti um sabor bem familiar no suco de frutas vermelhas, seria apenas uma
impressão senão fosse intencional. Consegui alguns minutos para falar com Rômulo, antes
que ele se despedisse, e o levei para a parte dos fundos da lanchonete para termos um
pouco de mais privacidade.
Pensei que conversaríamos ou acertaríamos algo, mas assim que a porta se fechou, ele me
puxou para si e depois me pressionou contra a parede dos fundos. Seu olhar mirou
detalhes de meu rosto, seu nariz inspirou bem próximo de meu pescoço e seus lábios
sugaram os meus com desejo de experimentá-los suavemente.
― Não quero esquecer cada detalhe seu, ter você ao vivo e em cores é bem melhor que no
meu sonho ― disse ele.
― Não tenho muito tempo…
― Eu sei e entendo. Te roubaria, se permitisse.
Qual loucura já fiz nessa vida? Me deixar ser levada por alguém que mal conheço? Eu
sabia para onde iríamos e meu corpo praticamente implorava por isso, embora meu
consciente lutasse e resistisse a não ceder.
Seus lábios voltaram a controlar minha boca, sua língua deslizou por entre a minha, me
elevou a um desejo fora do comum e meu sexo reagiu a cada impulso nervoso emitido,
tanto pelo beijo, quanto pelas suas mãos segurando firme em meu corpo.
― Então me leve ― sussurrei em seu ouvido.
Seu olhar de espanto questionou minha iniciativa. Por um instante acreditei que ele
refutaria e diria que foi uma ação sem pensamento, no entanto ele segurou minha mão e
me arrastou pelo beco lateral até a porta de um veículo, a qual ele abriu e ofereceu para
que eu entrasse. Mais uma vez meu consciente quis o contrário e a excitação pelo
desconhecido me motivou a entrar naquele carro.
15 – Momento de loucura
Rômulo
Eu não acreditei. Aqueles cabelos vermelhos estavam no meu carro e ela era mais linda do
que imaginava. Minha aposta num perfil exótico enfim acabou mostrando o seu valor. Se
o beijo servia como termômetro, diria que estávamos avançando bem na relação.
Eu conhecia um pouco de suas frustrações e, no momento certo, a ouviria com mais
detalhes. Ela sabia como eu era e o que passei na vida, portanto, nos conhecíamos mais do
que um simples papo de afinidade após o match. Por esse motivo, defini que não a queria
apenas por uma tarde, mas sim por todo o tempo que fosse disponível.
Fiquei em dúvida aonde a levaria, não poderia escolher qualquer lugar. Teria que ser
especial e único.
Eu sabia de uma suíte temática, no estilo “Adão e Eva no Paraíso” e como estava ao lado
de uma fruta, que não era uma maçã, poderia fazer uma correlação.
― Você deve me achar uma louca ― disse ela, quando parei na guarita do motel.
― Por que você decidiu vir comigo? ― ela balançou positivamente a cabeça ―Talvez
esse não seja o lugar ideal…
― Uma parte de mim quer entrar nesse quarto.
Se uma parte desejava entrar, então peguei a chave com a recepcionista e conduzi o carro
até a garagem. Assim que estacionei, toquei em suas mãos e percebi o quanto estava tensa.
Seu olhar não veio em minha direção, parecia tímido e frágil.
Me reclinei em sua direção e beijei seus lábios, comecei suave, sugando e umedecendo-os,
a ponto que desejasse também os meus. Acariciei seu rosto, enrolei meus dedos em seus
cachos e em seguida envolvi sua nuca com minhas mãos. Aos poucos ela foi relaxando e
quebrando a tensão.
― Nós podemos subir ― disse ela.
Fiz questão de abrir a porta do carona e dei a mão para guia-la até a suíte, onde
encontramos um jardim a céu aberto, com direito a um banco, árvore e uma fonte d’água.
Ficamos lá, como dois namorados se conhecendo, sentados num banco qualquer, como se
não estivéssemos num motel.
― Eu não sei o que dizer.
― Então não diga ― comentei.
Tornei a beijá-la, deslizei minhas mãos pelo pescoço, braço e senti suas mãos menos
tensas. Conduzi meus lábios até próximo de sua orelha, quando seu corpo recuou e notei o
arrepio em sua pele. Um leve sorriso e ingênuo floresceu em seu rosto, seguido com uma
mordiscada nos lábios e implorando por mais beijos.
Apoiei sua nuca com minhas duas mãos e tornei a entrelaçar meus dedos em seus cachos
vermelhos, suguei seus lábios e senti sua língua implorando pela minha. Sentíamos sede
pelo outro e quase ficamos sem ar.
Seu sorriso me contagiou, senti suas costas nuas até encontrar parte do tecido e, em
seguida, alcancei sua bunda macia e bem volumosa.
Suas pernas cruzadas, seu corpo de lado e suas mãos ainda imóveis, denunciavam que não
havia relaxado o suficiente para se permitir mais. Ficaria ali, quebrando lentamente suas
barreiras, mas seu beijo estava delicioso, me enchendo de tesão e estava irresistível a
vontade em devorá-la.
Toquei em seus joelhos, avancei pela coxa, por debaixo do forro do tecido, contornei até
alcançar sua bunda e senti todo aquele volume em minha mão. Eu queria despi-la e vê-la
nua, mas me contive. Retornei a mão para a sua coxa e insinuei que queria tocá-la mais
intimamente.
Amora descruzou as pernas, mas não as abriu por completo, apenas o suficiente para
alcançar o tecido de sua calcinha. Percebi que estava avançando demais, mas ao mesmo
tempo, consegui maior aproximação.
Voltei minha atenção para seu busto. O tecido do vestido era grosso nessa região, possuía
o relevo dos seios e pouco os sentia em minhas mãos. Eu queria experimentá-los, mas não
havia como abaixar aquele bojo sem tirar a alça que o sustentava.
Estávamos sentados, ela de lado e eu quase por cima dela. Me levantei suspendendo-a em
minha direção, senti sua respiração acelerar quando direcionei minhas mãos atrás de seu
pescoço e desamarrei a alça de seu vestido, a qual servia apenas como elemento
decorativo.
Apesar de considera-la Amora selvagem, não abaixaria o bojo e sugaria seus seios. Não,
sem antes garantir que estivesse relaxada e decidida por isso. A abracei para ganhar tempo
e tornei a beijá-la. Percebi um zíper em suas costas e, delicadamente, arrisquei baixa-lo.
Dessa forma tiraria seu vestido por completo.
― Não, não quero que tire meu vestido ― disse ela, retornando o zíper para a posição
inicial.
― O que você quer? ― perguntei, bem próximo de seu ouvido.
― Que você me coma assim, vestida com ele.
Foi a primeira vez que ouvi algo tão ousado. Aquele vestido retrô era sexy em seu corpo.
Assim que a vi na lanchonete, bateu um tesão ao ver parte de suas coxas exposta sob uma
saia rodada e aberta, que se batesse um vento a suspenderia facilmente. O tecido
acompanhava o formato de seus seios, e as costas e ombros nus complementava um estilo
pin-up.
Beijei o seu ombro, na região de sua saboneteira, a qual estava bem evidente em seu
corpo, e arranquei um suspiro leve e ao mesmo tempo prolongado. Deslizei meus lábios
pelo seu pescoço e notei seu corpo reagindo com arrepios e leves espasmos, até alcançar
os seus lábios, os quais estavam ensandecidos esperando pela minha boca.
Foi um beijo mais animal, feroz, louco para me devorar e minhas mãos corresponderam
pressionando sua bunda e forçando seu corpo contra o meu. Ela apoiou seus braços em
meus ombros, como se pedisse para ser carregada e assim o fiz, a suspendi e suas pernas
trançaram em meu tronco.
Seu vestido subiu e pude sentir melhor suas nádegas. Deslizei meus dedos sob a calcinha e
antes mesmo de alcançar seu sexo, senti a umidade de sua excitação. Seus lábios pararam
de me beijar e emitiram um gemido de prazer quando toquei em seus lábios inferiores.
A carreguei até a cama, a pus deitada e arranquei sua calcinha, eu estava louco para comê-
la. Busquei a camisinha na carteira, abaixei as calças e nem olhei para ela, pois a visão de
suas pernas abertas, de seus grandes lábios brilhando e lambuzados com sua própria
excitação, me impediram de qualquer outra ação.
Conduzi meu pau em seu sexo e ele deslizou a cabeça para dentro, segurei em seu quadril
e introduzi o restante lentamente, sentindo a passagem de minha cabeça em seu canal. Seu
gemido foi contínuo, até que entrasse por completo. Não foi proposital o ritmo, eu gozaria
em duas ou três estocadas se fossem rápidas.
Vê-la deitada, com aquele vestido em seu corpo, com as pernas abertas e sendo penetrada,
foi a visão mais sexy que já tive em minha vida. Consegui controlar a excitação e então
estabeleci um ritmo constante.
Seu corpo deslizava para trás e para frente, seu gemido crescia a cada cravada em seu
corpo e, aos poucos, o vestido começou a sair de seu busto, evidenciando seus mamilos
pontiagudos, apontando para cima e me deixando louco para suga-los.
― Estou sonhando? ― ela perguntou.
― Se estiver, será o melhor sonho que também tive.
― Eu sonhei com isso…
Ignorei seu comentário e reclinei para saborear seus mamilos, deliciosos, pontiagudos,
macios ao redor e tesos no bico. Suguei numa intensidade mediana, com uma vontade de
mordiscá-los, e Amora emitiu um gemido alto de prazer, segurou em minhas costas e
começou a remexer o seu quadril.
Não parei com o movimento. Ela ditou o ritmo e apenas acompanhei, até o instante que
me aproximei de gozar e provoquei uma leve interrupção.
― Não para!
― Mas eu vou gozar.
― Então goze.
Não resisti e dei aquela cravada final, senti a ejaculação percorrendo meu canal até
explodir na camisinha. Amora soltou um gemido, abriu os olhos e sorriu de satisfação. A
beijei e, ao aproximar meu corpo no dela, notei que emitia leves espasmos. Ela também
estava alcançando o orgasmo e isso me motivou a movimentar meu pau por mais um
pouco, até alcançar a frequência certa para que terminasse de gozar.
― Foi como no sonho!
Enquanto recuperava a respiração, sua voz emitia alguns suspiros, em meio à explicação
que havia sonhado comigo uma situação bastante semelhante à que acabáramos de
vivenciar.
― Todo esse momento está sendo mágico ― comentei.
― É isso! Se não estiver num sonho, estou num momento mágico.
Mágica ou sonho, eu estava com Amora em meus braços. Não quis me desgrudar dela,
nem por um segundo, não queria que esse sonho acabasse. Mas ela pediu um pouco de
privacidade, ajeitou o vestido e foi tomar um banho, retornando em seguida enrolada
numa toalha. Mesmo um pano branco envolta de seu corpo a deixava sexy.
A abracei e beijei seus lábios. Ela permitiu que minhas mãos deslizassem sob a toalha e
percorressem seu corpo sem pudor. Seu sexo permanecia umedecido, e seu suspiro
sinalizou que gostaria de uma segunda etapa.
― Vá tomar seu banho ― disse ela.
Obedeci às suas ordens e tomei um banho rápido, apenas para tirar o suor do corpo.
Retornei ao quarto e lá estava ela, deitada na cama sob o lençol.
― Apague a luz, deixei algo bem intimista no quarto.
Procurei os controles da iluminação e fiz com que uma pequena luz natural viesse da área
externa, dava para ver seu rosto, o lençol e seu corpo, assim que a descobrisse.
Trocamos deliciosos beijos, ouvi seu suspiro próximo de meu ouvido, mapeei todo o seu
corpo com minha mão e extraí deliciosos arrepios e leves gemidos. Ela, por sua vez,
conferiu minha excitação e aproveitou suas mãos para aproximar seu corpo do meu.
Foi a vez de descobrir que sabor ela possuía. Dei-lhe um verdadeiro banho de gato,
saboreei mais uma vez seu pescoço, o ombro, dediquei atenção especial aos seios e por
vezes deslizava pelas costelas e voltava, descia até o umbigo e retornava, enquanto ouvia
seus gemidos de prazer.
Suas mãos foram implorando para que eu descesse mais. Provoquei ao não ir direto ao
ponto, mordisquei suas coxas e lambuzei bem ao redor, até alcançar o seu clitóris e dar
uma leve sugada. Seu corpo se contorceu de prazer e retornou para a minha língua tocar-
lhe com toda a sua largura, deslizando em sua vulva até a ponta estimular seu clitóris num
movimento circular.
Ela gostou do movimento e repetiu, ao forçar seu quadril para trás e voltar para sentir
novamente minha língua. Permanecemos assim por poucos minutos, sua excitação foi tal
que um orgasmo intenso acometeu o controle de seus sentidos.
O lençol que nos cobria foi retirado de minhas costas. Busquei uma nova camisinha e não
esperei que ela se recuperasse do gozo, voltei para cima de seu corpo e a lubrificação se
encarregou de conduzir meu pau em sua vagina.
Ela ficou fora de controle, seu corpo se virava para um lado e para o outro, em seguida se
reclinava para a frente e implorava por um beijo, sugava meus lábios e me forçava a
acompanha-la de volta para a cama, daí descia pelo seu pescoço e alcançava um dos seios,
o mais pontiagudo, e um urro alto e de prazer era emitido.
Senti que estávamos em perfeita sintonia, eu a abraçava, apertava sua bunda e ela forçava
meu corpo contra o seu, nossos quadris se deslocavam num compasso perfeito, meu pau
saía quase por completo e retornava sem encontrar obstáculos e isso a fazia gemer de
prazer, ao sentir cada centímetro entrando e saindo.
Pedi para que cavalgasse em meu colo, mas ela revelou que não estava em condições para
isso e decidiu ficar de quatro. Vi toda aquela bunda só para mim, deliciosa, volumosa e
bem torneada. Fiquei na dúvida em qual local apostaria entrar, optei pelo que estava mais
lubrificado e trivial. Pude ver minha cabeça entrando e saindo de sua vagina, uma cena
maravilhosa, sexy e estimulante, o que se tornou a minha perdição para gozar pela
segunda vez.
― Eu quero você só para mim, Amora.
Comentei, logo após ela se deitar de bruços e eu jogar meu corpo sobre o seu.
― Também te quero para mim ― ela respondeu.
― E eu serei só teu!
Desejei que essa tarde não acabasse, senti o seu cheiro, a textura de sua pele macia, o
sabor e a sua serena voz. Não importava se não encontraríamos pontos em comum, eu
faria de tudo para agradá-la.
16 – Passa logo, semana!
Angélica
Sara, Verusca e até Sofia achavam Rômulo um bom partido, simpático e que combinava
comigo. Antes de tudo, antes mesmo de sentir atração, vasculhei toda a sua vida e não
encontrei indícios de um homem falso. Embora não quisesse me apegar a ele, tive um
maravilhoso sonho e não acreditei quando se realizou nos mínimos detalhes.
Apesar das incertezas dominarem minha razão, arrisquei, com base nos pontos positivos
apresentados, apostei, assim como ele fez ao encontrar meu perfil no Tinder, e não me
decepcionei, ao menos não no nosso primeiro encontro.
Agi impulsivamente, ao sugerir que me levasse para qualquer lugar, aproveitei o quanto
pude e não me arrependi de nada do que fizemos juntos. Mas depois do frenesi, precisei
voltar à realidade. Não poderia viver num sonho e abandonar por completo minha vida,
meu trabalho e estudo.
Nem pensei em qual desculpa daria no trabalho, voltei para pegar a mochila e Rômulo fez
questão de me acompanhar, aumentando ainda mais o desconforto, ao ver meus colegas
bisbilhotando, como se tivesse cometido um crime.
Estava claro que saí para transar, os mais ingênuos pensariam que fui sequestrada, porém,
ao voltar com um sorriso estampado no rosto, o cabelo umedecido e a roupa toda
amassada, qual desculpa colaria melhor?
O melhor foi dizer nada e encarar os olhares questionadores e insinuadores de que
abandonei o trabalho para fazer sexo com um desconhecido, o qual estava em frente ao
caixa, pegando chicletes para mascar, enquanto eu caminhava para trocar de roupa.
― Olha, cobrimos você aqui enquanto esteve ausente ― disse Verusca, no vestiário.
― Obrigada ― respondi sem graça.
― Ele parece um bom homem.
― Assim espero.
― E se ele te decepcionar, pode deixar conosco que damos uma lição nele.
Lembrei da lição que dei no primeiro namorado, quando o flagrei com outra no shopping.
Eu não precisava de um novo barraco em minha vida.
Normalmente, o que uma estudante de jornalismo veste? Apesar de meu sonho em ser
apresentadora de telejornal ter ido por água abaixo, eu mantinha as aparências e me vestia
socialmente, na esperança de reverter minha imagem. Portanto, eu usava todos os dias
para ir à faculdade uma calça preta, camisa de cetim, um blazer, fazia uma maquiagem
suave, cabelo preso e, é claro, um salto alto.
― Você estuda o quê mesmo? ― perguntou Rômulo, ao me ver produzida.
― Jornalismo.
― Você está maravilhosa! Espero um dia vê-la apresentando o jornal das oito.
Nem havíamos conversado sobre isso, sua intuição era forte mesmo e desejei que meus
sonhos também fossem.
Aproveitei a carona e curti mais alguns minutos ao seu lado. Se pudesse, nem iria para a
aula, passaria a noite ao seu lado, mas eu tinha uma avaliação e não poderia dar ao luxo de
pagar por uma segunda chamada.
― Como a verei novamente? Amanhã você trabalha na lanchonete?
― Sim, mas eu tenho seu número, se lembra?
Não tinha no celular, mas sim nos arquivos de pesquisa sobre o Tinder.
― Então me prometa que ligará amanhã!
― Eu trabalho, faço faculdade e não posso ficar faltando…
― Faço questão de vir aqui apenas para te dar um beijo e posso te levar todos os dias para
a faculdade.
Ponto positivo! Vinícius nunca fez isso, apenas me pegava na faculdade às sextas-feiras.
Não era uma exigência, tampouco uma prerrogativa quando começamos a namorar, mas
senti um diferencial ao ouvir essa proposta de Rômulo. Concordei e apostei que no
terceiro ou quarto dia ele arranjaria uma desculpa para não me levar.
O sorriso, os lábios macios, os pelos da barba roçando em meu rosto, seu olhar de desejo e
uma voz grave, na medida certa de ganhar minha atenção, contribuíram para que me
perdesse no tempo, dentro daquele carro estacionado na faculdade. Desejei que a hora
congelasse para aproveitar mais, porém os segundos giravam contra os meus desejos e
obrigaram a me despedir de seus deliciosos lábios.
Esse mesmo tempo impediu que o tédio dominasse minha mente. Custei a concluir a
avaliação e por pouco o professor não a recolheu sem que terminasse as últimas questões.
Rômulo foi o culpado disso, pois fiquei revivendo cada segundo de nosso encontro no
motel e comparando com o sonho que tive.
O pesadelo foi ver a mão do professor puxando a prova de minha carteira. Eu puxei de
volta e pedi delicadamente mais alguns minutos, joguei um charme para que cedesse e
consegui o suficiente para concluir as últimas questões.
Eu: Boa noite. Cheguei agora em casa e passei a noite inteira pensando em nosso
encontro.
Era por volta das 23:00h quando encontrei seu arquivo em meu computador, peguei o
número do celular e enviei a mensagem via Whatsapp. Enfim, ele gravaria meu número e
me predispus a encarar os riscos e consequências disso.
Rômulo: Fiquei feliz, só em ver essas deliciosas amoras iluminando a tela de meu celular.
Também passei a noite pensando em você. Espero em breve repetir o nosso encontro.
Notei que a imagem de meu perfil no Whatsapp era uma foto de amoras vermelhas.
Mudaria para uma com meu rosto, mas ainda estava na fase de pesquisa para o trabalho
acadêmico e utilizava o número particular para trocar mensagens com alguns pesquisados.
Eu: Depois te conto o porquê a foto com amoras.
Rômulo: Eu entendo, não precisa. Notei que os funcionários na lanchonete usam apelidos
em suas identificações e amoras casou muito bem contigo.
Por um instante, meu coração gelou quando ele escreveu que entendia o porquê da minha
foto de perfil. Em parte, ele estava certo, mas quis lhe contar sobre minha pesquisa
acadêmica, que me chamava Angélica e acabaria de vez com suas perguntas sem
respostas.
Conversaria com ele a madrugada inteira, trocaríamos mensagens ousadas, me excitaria e
me masturbaria revivendo cada segundo de nossa transa no motel, mas eu precisava
descansar. Ele era um doce de pessoa e suas mensagens adquiriram um sentido mais
íntimo a cada instante que as recebia.
Rômulo: Boa noite minha deliciosa amora. Sentirei seu corpo e seus beijos em meus
sonhos.
Eu: Boa noite. Já sinto seus beijos só em pensamento.
Nos despedimos e dormi sem notar as horas passando lentamente. Logo no início da
manhã, ao despertar, recebi uma linda e apaixonada mensagem de bom dia. Levantei da
cama toda sorridente e Sara percebeu que havia algo diferente, ao me ver tomando café e
cantarolando.
― Fui mais impulsiva e menos racional ― respondi à pergunta sobre ter visto um
passarinho azul.
― Como assim? Você não faltou sua avaliação de ontem…
― Foi no período da tarde ― a interrompi.
― O quê? ― Sara ficou surpresa e levou a mão à boca ― Como assim? O que aconteceu?
Não tinha muito tempo e Sara não permitiu que eu saísse da cozinha, sem antes lhe contar
tudo o que aconteceu. Falei sobre não ter visto Rômulo entrar na lanchonete e que não tive
opção de me esconder, que resisti o quanto pude às suas insinuações, mas no final, acabei
dando uma de louca e o beijei.
― Sim, mas e aí?
― Aí que pedi para conversar com ele do lado de fora, mas ficamos apenas nos beijando
― fiz uma leve interrupção para ver as horas.
― E?
― Ele comentou que me roubaria, se pudesse, e eu concordei que me levasse…
― Angel, sua louca!
Sara abriu um sorriso e deu um forte abraço, quase me levantando da cadeira. Ela quis
detalhes, para onde Rômulo me levou, o que fizemos, como ele era fisicamente. Tentei
mudar de assunto, justifiquei que precisava sair, mas não tive escolha. Resultado, tive que
correr para não chegar atrasada ao trabalho.
Me vi como uma nova funcionária no seu primeiro dia de atividade. Fiz minha cara de
paisagem e tratei como se nada tivesse ocorrido na tarde anterior.
Como de costume, abri o Tinder para atualizar os matchs e as mensagens, me deparei com
perfis curiosos e decidi investiga-los um pouco mais. Seriam os últimos, antes de encerrar
a minha pesquisa.
Rômulo quis me visitar durante o almoço, percebi suas segundas intenções e, por mais que
desejasse a mesma coisa, pedi para que não viesse. Era o horário que eu mais trabalhava e
depois de ter faltado no dia anterior, não faria a mesma coisa pelo segundo dia
consecutivo. Ele então garantiu que viria entre 18:15h e 18:30h.
Meu turno encerrou às 18:00h. Levando em conta que demorava uns quinze minutos
trocando de roupa e refazendo a maquiagem, quando retornei ao salão, lá estava ele
esperando com um presente nas mãos.
― O que é isso? ― perguntei.
― Vi na hora do almoço e não resisti. Combina muito com o seu nome.
Peguei a embalagem, desembrulhei e fiquei surpresa com chocolates produzidos com
cupuaçu e recheados com amoras. Que mistura mais exótica! Não resisti e peguei um para
experimentar.
― O que achou? ― ele perguntou.
― Experimente!
Ofereci um pedaço, no entanto, ele foi mais rápido, colou seus lábios nos meus e saboreou
a mistura do doce em minha boca.
― Deliciosos!
― Deixe-me experimentar também!
Coloquei um pedaço em sua boca e fiz o mesmo. Deliciosa essa mistura do cupuaçu ao
doce da amora e do chocolate nos seus lábios. Guardei o restante dos doces, senão os
devoraria durante o percurso à faculdade, no entanto o aroma do cupuaçu permaneceu em
nossas bocas e deixou o beijo mais gostoso.
Nessa noite, Rômulo estacionou numa vaga mais reservada, permitindo que ficássemos
mais à vontade dentro do carro. Sua mão direcionou a minha em seu colo e pude sentir seu
pau duro, teso e pulsante. Não fiquei surpresa com sua ousadia, afinal, nos conhecemos no
Tinder.
Eu também estava excitada e quis que ele sentisse meu sexo recebendo ondas de
lubrificação a cada beijo delicioso que trocávamos, porém, não havia com abaixar minha
calça naquele carro por nada. Não gostaria de ser flagrada seminua, ainda mais no
estacionamento da faculdade.
Minhas segundas intenções e meu subconsciente fizeram com que reservasse uma saia, ao
invés da calça, para a faculdade na quarta-feira. Foi uma saia justa, um pouco acima do
joelho, a qual, mesmo assim, dificultou Rômulo de percorrer minhas coxas com sua mão.
Pressenti os riscos da exposição, mas a excitação era maior e se misturava à adrenalina e à
vontade de fazer sexo. Decidi não vestir a blusa na quinta-feira, pois ele sempre a
levantava para saborear meus seios, mas fechei o blazer no último botão para disfarçar.
Ah! Achei no guarda-roupas uma saia mais elástica e que não abarrotava fácil. Eu queria
surpreendê-lo.
― Não vejo a hora de chegar o fim de semana ― disse ele, ao estacionar o carro.
― Por que?
― Estou louco para ter você na cama outra vez, Amora!
― Nem me fale…
― Eu pego você hoje, no final da aula…
― Não precisa ― o interrompi.
Ele me levaria ao motel depois da faculdade, teríamos uma noite maravilhosa, mas eu
chegaria exausta para trabalhar na manhã seguinte. Com o tempo, isso prejudicaria meu
trabalho ou o relacionamento.
Conversamos rapidamente, sobre como foi meu dia, e daí eu relatei sobre alguns clientes
que atendi na lanchonete. Após breves minutos prestando atenção, Rômulo procurou meus
seios para acariciar e seus olhos quase saltaram do rosto ao ver apenas um sutiã rendado,
após desabotoar meu blazer.
Seus lábios sugaram meus seios de um jeito que proporcionou a imediata lubrificação em
meu sexo. Conduzi suas mãos para minha coxa e deixei que notasse o tecido elástico de
minha saia.
Eu acariciava seu pau, sobre a calça, quando senti uma intensa pulsação no mesmo
instante em que seus dedos descobriram meu sexo nu. Meu clitóris começou a ser
massageado enquanto seus lábios saboreavam meu seio. Não resisti, emiti um gemido de
prazer e completamente fora de controle.
Desabotoei sua calça, abaixei o zíper e tirei seu pau da cueca, ele pulsava mesmo sem
tocá-lo. Acariciei sua cabeça, dei uma leve estimulada e me vi louca para sentar em seu
colo.
― Desculpa, estou sem camisinha ― disse ele.
― Como assim?
― Prometi que seria seu, não foi? ― respondi balançando a cabeça e concordando ―
Então, se eu permanecesse carregando camisinhas no bolso, o que você pensaria de mim?
Que eu estaria pronto para transar com você a qualquer momento ou estaria à disposição
de qualquer transa casual?
Filho da mãe! Ele pensou nisso? Eu estava louca para sentar naquele pau e por causa de
uma desconfiança, não sentei. Não pensei em qual seria a minha reação se encontrasse
camisinhas em seu bolso, mas Rômulo estava se esforçando em provar que poderia ser só
meu.
Por pouco não perdi o tesão do momento, seus dedos ainda me estimulavam e seus lábios
dedicaram maior atenção à minha boca, só assim para me fazer esquecer da recente
decepção e focar nos estímulos que recebia em meu sexo.
Diria até que ele estudou muito bem a anatomia feminina, não sei com qual dedo
estimulou meu clitóris e com qual, ou quais, invadiu minha vagina e estimulou uma
região, simulando um pênis entrando e saindo. O atrito, misturado à massagem, fizeram
com que eu esquecesse onde estava.
Fiquei num estado zen, concentrada nos estímulos que recebia, até virem os primeiros
espasmos e minha mão saltou para o seu colo. Senti seu pau do lado de fora, ainda teso e
pulsando. Pensei em estimulá-lo, mas não previ que meu orgasmo viria logo em seguida.
A vontade de sentar em seu pau permaneceu, mas eu precisava me recompor. Havia
passado cinco minutos do início da aula e ainda iria no sanitário vestir a blusa e pôr a
calcinha.
― Traga camisinhas na próxima vez ― comentei, antes de me despedir com um longo
beijo.
17 – Doce encontro
Rômulo
Desde o primeiro dia que nos conhecemos oficialmente, não conversamos sobre nossos
passados, nossas decepções, alegrias e anseios para o futuro. Tive a sensação que
desejávamos apagar nossa história, o legado obscuro e tenebroso, e a reescreveríamos a
partir do instante que nos beijamos.
Nos dias que sucederam o primeiro encontro, assim que a encontrava na lanchonete, eu
perguntava como foi o seu dia e me encantava com aqueles lábios gesticulando palavras,
com as diversas expressões em seu rosto, sorrindo, ficando tímida e dramatizando
determinadas falas engraçadas de clientes.
Seus cachos vermelhos balançando para os lados e eventualmente cobrindo parcialmente
seu rosto me encantavam. Hipnotizei com sua beleza e me perdi em suas palavras. Quando
menos esperava, estávamos aos beijos e minhas mãos procuravam caminhos para reaver a
suavidade de sua pele.
No segundo dia, encontrei um local mais discreto para estacionar e ficamos à vontade na
troca de carícias mais íntimas. Bastou desabotoar seu blazer, subir sua blusa e ajeitar o
sutiã para devorar seus mamilos pontiagudos. Suas mãos seguravam meus cabelos e
imploravam por mais. A calça foi o maior entrave para sentir seu sexo molhado, no
entanto, seus seios se tornaram o meu maior playground.
Quis busca-la no final da aula e leva-la para minha casa, não via a hora de trazer de volta o
brilho feminino em meu lar, mas ela resistia em vir comigo. Quando retornava ao meu
apartamento, via parte do passado que quis guardar como péssima lembrança, como algo
que não deveria repetir e Amoras era a minha aposta, o meu desejo para mudar essa
história.
Foi uma surpresa vê-la de saia na quarta-feira, mas não foi tão proveitoso quanto esperava.
Seu vestido, uniforme da lanchonete, era muito melhor e mais sexy. O tecido justo e firme
em suas pernas impediu que alcançasse o seu sexo, no máximo o tecido de sua calcinha e
isso me deixou enlouquecido.
Nessa mesma quarta-feira, assim que ela se despediu e seguiu para a aula, fui encontrar
Sebastião no bar, para nosso happy hour semanal.
― E aí, qual foi o seu atraso? ― ele perguntou, já com a segunda garrafa de cerveja na
mesa e um prato de batata fritas.
― Se lembra daquele perfil com foto de amoras?
― Sim, isso tem o quê? Umas três semanas?
― Mais ou menos isso ― respondi, enquanto servia meu copo com cerveja ―, eu a
encontrei!
― Sério? E como foi? ― Sebas perguntou com um olhar surpreso ― Você não havia
desinstalado o Tínder?
― Não te falei que ela me viu numa lanchonete?
― Isso você não me contou.
Havia muito assunto para pormos em dia e a garrafa de cerveja secou logo nos primeiros
minutos. Atualizei Sebas sobre as mensagens que trocava com Amoras e a sensação de
que ela estava interessada em mim. Claro que ele fez piadas a respeito de ser um perfil
fake.
― Então você voltou à lanchonete depois e a encontrou por lá? ― perguntou Sebastião,
abreviando a história.
― Sim!
― Isso foi quando?
― Na segunda-feira…
― E como ela era? Feia, mondrongo, o quê?
― Linda, cara! Uma morena com cabelos vermelhos, rosto de modelo e uma
personalidade bem marcante…
― Tem foto dela?
― Pô, cara. Tenho não, e a foto do Whatsapp é a mesma do perfil do Tinder ― comentei,
procurando o Facebook dela, acreditando que estaria aberto e com uma foto de rosto que
pudesse mostrar ―, desde então temos nos encontrado todos os dias.
― Toda fechada assim, sem foto? Não se apegue muito a ela, você sabe que esses
encontros no Tinder não são para ficar assim, duradouros como você sonha…
― Pô, cara! Mas eu pressinto que esse vai ― o interrompi.
― É sério, não quero te ver decepcionado depois de levar um fora dela. Se fica
escondendo foto assim, e linda como você comentou, ela só que curtição.
― Não acredito que isso vá acontecer.
― Te darei duas semanas, essa e a próxima. Depois conversamos sobre isso.
Sebastião não acreditava em namoros e encontros virtuais, sempre havia algo escondido e
não revelado ou então, um interesse temporário, até se cansar do relacionamento e partir
para outro. Eu não tinha como contestá-lo, não tivemos relacionamentos originados no
Tinder e nossos casos mais duradouros surgiram de encontros reais.
Embora quisesse me convencer em não acreditar no relacionamento virtual, eu quis provar
o contrário a Sebastião, bem como provar a Amoras que estava obstinado a não trair sua
confiança. Para isso, decidi que não sairia com camisinhas no bolso, apaguei os telefones
de contatos antigos que conheci no Tinder e resolvi fazer uma mudança em meu
apartamento. Ou seja, Amor novo, vida nova!
Na quinta-feira, encontrei Amoras vestindo uma saia que permitia maior movimento de
suas pernas, mas não liguei ao fato que o tecido era flexível o suficiente para deslizar
minhas mãos por entre suas pernas. Fiquei surpreso quando, de costume, desabotoei seu
blazer e vi apenas o sutiã cobrindo seu corpo.
Notei que ela estava mais ousada nessa noite, não apenas por estar sem a blusa, seus beijos
estavam mais empolgados e a confirmação veio quando ela conduziu minha mão às suas
pernas, ela queria ser tocada e deslizei sob o tecido da saia até encontrar seu sexo nu.
Eu, que estava excitado em vê-la de sutiã, fiquei mais ainda ao perceber que não vestia
uma calcinha. Sua mão segurou com firmeza meu pau e o sentiu pulsar de emoção quando
toquei em sua boceta. Meu zíper foi baixado e seus dedos conduziram meu pau para fora
da cueca, enquanto deslizava meus dedos em seu clitóris, umedecido pela excitação. Seu
quadril remexeu e implorou para que introduzisse meu dedo em sua vagina.
Ela fez o mesmo, acariciou a cabeça do meu pau e o estimulou, seu olhar implorava por
sexo e minha vontade era de dar a partida no carro e sair daquele estacionamento.
Ela também quis o mesmo, só que dentro do carro, ao levantar a saia até uma altura que
pude ver seu sexo liso, completamente exposto, e se movimentou em direção ao meu colo.
Quanto arrependimento tive ao ter tirado as camisinhas de minha carteira.
Foi a nossa salvação. Estávamos arriscando demais ao namorar dentro do carro, quanto
mais fazendo sexo. Porém, a sua vontade dizia o contrário, principalmente por não se
importar com minha justificativa em relação às camisinhas.
Sim, era excitante fazer algo proibido, arriscar a ser visto por curiosos, mas pior seria se
tornar objeto de fofocas e malvista pelos colegas. Se ela queria ser uma jornalista,
precisava preservar sua imagem e não criar um foco de comentários maldosos com a sua
reputação.
Eu não importaria com isso, se desejasse alguém para realizar aventuras sexuais, mas a
queria para mim e não traria problemas para si.
Na sexta-feira, a vi com uma saia bem parecida com a da noite anterior, fiquei mal-
acostumado em desejar seus seios e não resisti em abrir seu blazer. O carro parecia o nosso
lugar seguro, inviolável.
― Eu te quero, Amora, mas não aqui dentro do carro ― comentei.
― Também quero você, foi difícil encarar esses dias sem um lugar para nos sentirmos
mais à vontade.
― Exato! ― concordei com ela.
― Eu não te falei antes, mas hoje só tenho a primeira aula.
Que notícia boa! Às 20:30h ela estaria livre e aproveitaríamos a noite sem a preocupação
de ficarmos exaustos no dia seguinte. Nem retornei em casa, passei num shopping center e
fiquei perambulando até o horário de busca-la.

∞ ∞ ∞

Angélica
Imaginei que iríamos para um motel, mas o veículo seguiu em direção a um bairro
tipicamente residencial e com um controle, Rômulo abriu o portão de entrada de um
edifício. Subimos pelo elevador até o terceiro andar, apartamento 307, uma sala com vista
para a rua pouco movimentada, uma cozinha americana dividia espaço com a lavanderia e
duas portas, uma do quarto, a outra do sanitário.
Fui a primeira entrar e seus braços vieram por trás, colando seu corpo junto ao meu, bem
como seus lábios me fizeram arrepiar ao tocarem atrás do lóbulo de minha orelha. Sua
língua surgiu incisiva, percorreu meu pescoço enquanto suas mãos desabotoavam meu
blazer, permitindo que seus lábios descessem pelas minhas costas até a borda da costura
de minha camisa.
À minha frente, uma janela com as cortinas abertas mostrava um edifício residencial, com
outras janelas acesas e seus habitantes assistindo ao jornal das 21:00h. Seus lábios fizeram
com que esquecesse da nossa exposição e permiti que suas mãos adentrassem sob minha
camisa para mais uma vez apertarem os meus seios.
― Eu te trouxe aqui porque te quero a noite toda! ― ele comentou.
Me virei para ele e não tive dúvidas que também o queria por uma noite inteira. Gostaria
de sentir seu corpo colado ao meu, abraçados numa cama enquanto o sono guiava a nossa
imaginação. Queria que fosse tudo gostoso e, num quarto de motel, a primeira coisa que
faria, seria tomar um banho para me sentir limpa, cheirosa e gostosa para ele.
Ele me encaminhou para seu quarto, sentou na beira da cama, me puxou para próximo de
si e levantou minha blusa para saborear meus seios. Suas mãos deslizaram por trás de
minhas coxas, passaram por debaixo da saia, alcançaram minha bunda e se emaranharam
no tecido fino de minha calcinha.
Decidi sentar em seu colo, observei no espelho da porta do guarda-roupas a minha saia
subindo acima das minhas nádegas, o que daria uma fotografia bastante sensual e
insinuante. Seu pau estava duro sob a calça, pulsando sob minha boceta. Puxei seu rosto
em direção aos meus lábios e em seguida comecei a desabotoar sua camisa.
Suas mãos desejaram baixar minha calcinha, portanto, elevei meu corpo e permiti que
saísse, inicialmente por uma perna, depois pela outra. Aproveitei para abrir sua calça e
sobre o tecido da cueca, fiquei roçando meu sexo.
Ficamos praticamente assim no estacionamento da faculdade, mas ele me queria por
inteiro e para isso virou meu corpo e me deitou sobre a cama. O observei tirar a camisa,
baixar a calça e ficar apenas de cueca. Suas mãos concluíram de tirar minha camisa e
puxaram a alça do sutiã para os lados, fazendo com que meus seios ficassem expostos.
Seus lábios voltaram a me beijar, sua língua macia dançou com a minha, sua pele tocou
suavemente meus mamilos e seu pau encostou na minha boceta, senti o tecido de sua
cueca umedecido, levemente frio, em função de minha lubrificação.
A atenção de seus lábios voltou-se para minha orelha, extraiu os melhores arrepios que já
senti, desceram pelo pescoço e, com leves mordiscada, sugaram meus seios. Implorei a
volta de seus lábios para minha boca e ele atendeu, aproveitei e baixei sua cueca para
sentir melhor seu pau roçando em minha boceta, por vezes sua cabeça passava bem
próximo e, não fosse minha sensibilidade, adentraria com facilidade.
Ele me quis por inteiro, então, seus lábios desceram mais uma vez para meus seios e
fizeram com que meus bicos permanecessem pontiagudos e tesos. Sua língua percorreu a
barriga, arrodeou meu umbigo e, quando pensei que provocaria ao redor de minha boceta,
preencheu por completo meu clitóris com sua língua, em seguida desceu até a entrada da
vagina e realizou uma sucção que me fez contorcer por inteiro.
Sua vontade em me penetrar estava grande, bem como eu o desejava. Uma camisinha foi
retirada do criado mudo e aberta em tempo recorde. Sua cabeça massageou levemente
meu clitóris e desceu, passou vagarosamente pela entrada e deslizou até o comprimento
total de seu pênis.
Gemi e puxei seu rosto para encontrar seus lábios, seu corpo tesou sobre o meu e seu
quadril se encarregou de fazer o movimento de entrada e saída de seu pau em minha
vagina. Estava gostoso e gozaria se o ritmo aumentasse, mas ele saiu repentinamente,
ficou de joelhos em minha frente, elevou minhas pernas, as deixou fechada e passou a
língua em meu sexo.
A resposta foi imediata, meu quadril se elevou, numa reação involuntária, e senti sua
língua bem próximo de meu ânus. Mais uma, duas, três passadas de língua e ele dobrou
meus joelhos, se elevou para se posicionar melhor e voltou a me penetrar. Senti que estava
mais apertada e seu pênis percorreu o mesmo caminho, só que de forma diferente, dentro
de mim.
Três, quatro estocadas até o final, senti inclusive seu saco encostando em minhas nádegas
e ele saiu de mim novamente, se reclinou e deu uma chupada em minha boceta que quase
o chutei numa reação involuntária. Ele sorriu, achou graça e eu mantive os joelhos
dobrados. Suas mãos apoiaram minha bunda enquanto a ponta de sua língua deslizava
suavemente em meu sexo.
Senti que estava próximo de atingir o orgasmo, mas ele parou de me chupar e voltou a me
penetrar. A sensação permaneceu, como se estivesse prolongando-a. Percebi que ele
também estava próximo de gozar e voltou a sair de mim. Seus lábios voltaram para minha
boceta na mesma suavidade que quase me fizeram gozar antes e me proporcionaram os
espasmos desejados.
Gozei nessa última chupada e, ao invés de prolongar a sensação com sua língua
massageando meu clitóris, ele voltou a me penetrar. Diria que foi uma dupla sensação de
orgasmo, quase simultâneo ou sequencial.
Seu corpo escorria a ponto de gotas quentes de suor caírem em meu peito. Procurei
retomar o controle da situação, mas não pude. Como havia previsto, ele gozou logo em
seguida.
― Durma essa noite comigo, Amora!
Dormir? Eu passaria a noite inteira revivendo a todo instante esse delicioso momento que
passamos juntos.
― É Angélica, meu nome é esse. Não que incomode você chamar de Amora, mas meu
nome verdadeiro é Angélica.
― Angélica! ― Rômulo me observa todo sorridente e feliz ― Então passe o fim de
semana comigo?
Havia alguns dados de minha pesquisa para concluir, enfim iniciaria a próxima etapa de
meu trabalho acadêmico e eu decidi fazer o quê? Concordei em ficar com Rômulo durante
o fim de semana e combinamos de passar em minha casa para pegar algumas roupas. Mais
uma vez deixei que meu coração ditasse minha vida.
18 – Fim de semana mágico
O cheiro do lençol era diferente do que usava em casa. Não que estivesse desagradável,
pelo contrário, fez lembrar que não estava em minha cama. Me senti acolhida ao ficar sob
o tecido grosso e inspirando o cheiro contido nele.
Com uma mão segurando meu seio e uma barba roçando bem atrás de meu pescoço,
despertei completamente nua, acompanhada de um homem e não senti vergonha por isso.
Imaginei que um dia poderia acordar assim, ou todos os dias, sentindo o seu cheiro e
protegida por seus braços.
Seu sono leve impediu que levantasse sem ser notada. Seu braço me puxou de volta e seus
lábios quentes e úmidos tocaram em minhas costas.
― Bom dia, minha querida Amora, digo, Angélica.
― Bom dia!
― Só em despertar e sentir seu corpo junto ao meu, dá uma vontade de te devorar mais
uma vez.
Senti sua excitação ao encostar o quadril em minha bunda. Segurei seu pênis e a pulsação
forçou a abrir minha mão, fiquei com receio de machucá-lo. O movimento do quadril
conduziu seu pau até o meu sexo e permiti que se deliciasse com sua cabeça passando bem
próximo de minha entrada.
Seus dedos vieram ajudar e pensei que me comeria sem preservativo, mas foi apenas para
conferir a lubrificação. Do criado mudo ele pegou uma camisinha, a vestiu e retornou.
Estávamos de ladinho, de conchinha, melhor dizendo, e o conjunto da lubrificação da
camisinha com a minha fizeram com que sua cabeça adentrasse em minha vagina sem
oferecer resistência.
Com o tempo, o calor tomou conta de nossos corpos e nos desfizemos do lençol, me
contorci para encontrar sua boca e em seguida ele aproveitou a posição para sugar um dos
meus seios. Gemi de prazer ao sentir a mistura de seu pau invadindo meu sexo em meio às
suas sugadas vigorosas em meu mamilo.
Despertei por completo, meu corpo queimou de tesão e tive vontade de dominar a
situação. Me afastei de seu corpo, dei aquela leve espreguiçada e levantei para sentar em
seu colo.
Que visão maravilhosa!
Daqui de cima vi seu olhar sedento pelos meus seios enquanto suas mãos os acariciavam.
Seus lábios imploravam por beijos e quando eu descia, ele se reclinava para suga-los.
Senti todo o seu pau dentro de mim e apenas remexi o quadril para obter leves atritos
internos, o suficiente para emitir gemidos de prazer e satisfação. Não demorou para suas
mãos puxarem minha bunda para si e realizar um deslocamento de meu corpo. Retornei
para a posição inicial e esse vai-e-vem provocou uma fricção em meu clitóris,
potencializando a sensação de prazer.
Ficou cada vez mais gostoso o movimento e não parei de realiza-lo, embora começasse a
exaurir minhas forças. Prossegui cada vez mais intenso, me apoiei em seu peito e ditei o
movimento, mesmo sem suas mãos puxando com vigor minha bunda para si. Seus
espasmos vieram primeiro e revelou o motivo de ter parado de me puxar.
Ele se controlou o quanto pôde, mas perdemos o ritmo. Seu olhar implorou para que eu
continuasse, mas bastou uma requebrada intensa, que suas mãos apertaram meu corpo,
num ato de súplica para parar.
Parei, reclinei para beijá-lo e insinuei um leve movimento de quadril, o suficiente para
provocar um intenso espasmo em seu corpo, evidenciando o quanto estava sensível após o
orgasmo.
Dessa vez tomamos banho juntos, como um casal, um ensaboando o corpo do outro,
trocando carinhos e beijos bem molhados. Sua excitação foi retomada, mas apenas para
estimulá-lo, nada além disso.
Eu estava com fome e precisava de um café bem reforçado para recuperar as energias.
Encontrei na cozinha frutas frescas e optei por cortar bananas com mamão, enquanto ele
preparava o café.
― O que você quer fazer agora de manhã? ― ele perguntou.
― Dá vontade de ficar o dia inteiro com você, mas preciso passar em minha casa, lembrei
que tenho um longo trabalho para dar prosseguimento.
― Entendo… ― seu sorriso esmoreceu com minha insinuação de não passar o fim de
semana com ele.
― Como estou dentro do cronograma previsto, posso abrir uma exceção, desde que você
me faça feliz.
― Não estou fazendo?
― Continue assim…
Foi uma manhã deliciosa, me senti em lua de mel. Vesti uma camisa comprida de Rômulo
e a todo instante ele aproveitava a situação para me apalpar. Saímos pouco antes do meio-
dia, passei em casa para trocar de roupa e fiquei em dúvida sobre quais peças levaria numa
mochila para passar o fim de semana em sua casa. Estava tudo rápido demais e não
encontrei Sara para ajudar em minhas decisões.
Almoçamos no shopping e em seguida pegamos uma sessão de cinema, coisa de
namoradinhos. Caminhamos abraçados pelos corredores e percebi o quanto perdi por não
ter encontrado um homem que me aceitasse assim como eu era.
Vinícius foi o que mais se aproximou, saímos algumas vezes juntos, porém, se igualou aos
demais homens que costumavam quebrar a confiança e traíam o relacionamento.
Foi um sábado maravilhoso, retornamos para seu apartamento e fizemos uma bagunça na
cozinha ao preparar uma massa para o jantar. Tínhamos gostos parecidos com a comida,
exceto pela dosagem de alguns ingredientes. Enquanto eu fazia tudo sob medida, Rômulo
usava a sua intuição.
Percebi nele um verdadeiro companheiro, alguém que poderia confiar e me doar, assim
como ele estava fazendo comigo.
Fiquei intrigada por não falarmos do nosso passado, não tivemos o momento apropriado
para tocar no assunto e não encontrei indícios que ele escondia algo, além do que já sabia
de sua vida.
Quando não me via entretida numa boa conversa, estávamos aos beijos, quase em ponto
de ebulição. Se pudesse, transaríamos a todo instante. Inclusive, Rômulo passou na
farmácia para renovar seu estoque de camisinhas. Cheguei a pensar que as consumiríamos
até o final da noite, mas não foi o que aconteceu.
Diferente do que ocorreu na manhã, uma transa rápida para despertar e aquecer nossos
corpos, Rômulo conduziu, ao seu jeito, nosso momento íntimo no final da noite. Foi bem
semelhante à noite passada, mas com um diferencial, pois, eu me senti mais segura e
confiante em sua companhia.
No domingo, descobri que seus pais moravam no interior, assim como os meus. Com o
Facebook aberto no smartphone, ele mostrou algumas fotos que já tinha visto quando
investiguei sua vida, porém, não sabia da história que havia por trás delas. Uma a uma,
Rômulo contou detalhes de sua vida eternizados em imagens.
― Lembrei agora, você tem seu perfil todo bloqueado! ― disse ele, pesquisando meu
nome na busca ― Quis mostrar sua foto a um amigo e não pude comprovar o quanto você
é linda!
― Quando foi isso? ― perguntei indignada.
― Na quarta-feira, depois que te deixei na faculdade. É o nosso dia do happy hour ―
disse ele.
Minha indignação foi em não ter sido informada que ele saiu com o amigo na quarta-feira
à noite. Mas que problema havia nisso? Em seguida, fiquei apreensiva. Quem seria esse
amigo de Rômulo? Teríamos estabelecido um match também? Se sim, eu não estaria em
sua casa, curtindo uma noite romântica na sua companhia, sabendo que eu permanecia
“flertando” com outros homens.
Fiquei na vontade de explicar sobre meu trabalho acadêmico, mas estávamos bem, numa
sintonia que jamais havia sentido, que fiquei com medo de cortar o clima.
Seus deliciosos beijos fizeram com que a preocupação passasse e retomamos o clima de
sensualidade e insinuações. Ele gostou de me ver de vestido, me pôs em seu colo, de
frente para si, puxou o pau para fora da cueca e o deixou bem abaixo de meu sexo, só que
não víamos nada do que acontecia por debaixo do tecido.
― Já pensou uma situação assim, num banco de praça? ― ele perguntou.
― Assim, eu no seu colo esfregando dessa forma? ― insinuei.
― Sim, bem gostoso, mas ninguém poderia afirmar que estaríamos transando.
Bastou a insinuação, que senti o umedecimento na região, o suficiente para transpassar a
calcinha e deixa-la escorregadia.
― Tem que ser discreto, não pode remexer demais ― disse ele.
Como não estávamos na rua, me levantei para baixar a calcinha e busquei uma camisinha,
fiz questão de vesti-la em seu pau e retornamos à posição de antes.
Brinquei com a sua vontade em me penetrar, seu corpo se remexia a ponto de se
aproximar da entrada de minha vagina e eu mudava sutilmente de posição para impedir
que seu desejo se consagrasse. Não podíamos usar as mãos para isso e ele ficou
impaciente com minhas provocações.
Por dois instantes ele quase alcançou seu objetivo, mas fui ágil o suficiente para deixar seu
pau escorregar para outro lado. Sua solução foi segurar com firmeza o meu quadril e
acompanhar os movimentos que eu fazia, então sua cabeça alcançou o ponto desejado e,
antes que eu conseguisse escapar, ele me penetrou com rapidez.
Esquecemos da encenação, de que estávamos numa praça em nosso palácio mental e
passamos a nos movimentar com maior empolgação. Suas mãos puxaram para o lado as
alças de meu vestido e sua boca estava próxima o bastante para sugar meus seios. Segurei
firme no encosto do sofá, não importei se ele gozaria rápido e ditei o ritmo.
Quando sua atenção desviou para meus lábios, fiquei próximo bastante de seu rosto para
admirar o castanho escuro de seus olhos, nossos lábios se tocavam numa doce provocação,
quase mordendo, quase sugando e aumentando os níveis de nossa excitação. Seus dedos
acariciavam e brincavam com meus mamilos, outra sensação que acelerou o processo para
que atingisse o orgasmo.
Ele permaneceu sedento, querendo mais enquanto me sentia realizada. Saí do seu colo e
suas mãos ditaram a posição de sua preferência. Fiquei de quatro no sofá, ele suspendeu a
saia de meu vestido e ficou acariciando meu sexo umedecido. Ainda sentia os espasmos
do orgasmo e mesmo não sendo no clitóris, me arrepiei com os toques.
Três, quatro cravadas e ele tirou o pau, não resistia à tamanha excitação. O provoquei ao
rebolar o quadril e ele praticamente parou dentro de mim, controlou ao máximo para não
gozar logo, mas depois vieram uma sequência de estocadas rápidas que quase me fizeram
ter um segundo orgasmo e então relaxou por completo.
Mas tudo que era bom, durava pouco. Eu precisava retornar para minha casa, arrumar
minhas coisas e organizar as ideias para começar uma nova semana. O domingo ficou
curto para nós. Posterguei ao máximo a minha despedida, bem como ele atrasou o quando
pôde para me deixar em casa.
― Já deixou uma escova de dentes no banheiro dele? ― perguntou Sara, ao me ver
entrando em casa.
― Como assim?
― Marcar território, querida! Você pega uma escova de dentes bem feminina e deixa no
banheiro dele. Se não tiver problema algum, quando voltar ela ainda estará no mesmo
lugar.
― Aprendendo e vivendo com você, Sara.
― Pois é, tem que pegar essas dicas. E aí, como foi dormir com ele?
Sara não permitiu que eu poupasse os mínimos detalhes, além do mais, sabia quando eu
escondia algo, por mais que quisesse manter segredo. Não cheguei a revelar como Rômulo
era na cama, apenas como me senti ao seu lado foi o suficiente para aplacar sua
curiosidade.
― Nunca te vi assim, Angel. Você está apaixonada, caidinha por ele.
― Só não caiu a ficha ainda que o conheci no Tinder.
― Já explicou a ele de seu trabalho de faculdade?
― Não quis cortar o clima entre nós.
― Angel, é melhor contar a ele, principalmente porque foi fruto de sua pesquisa.
― Num momento oportuno eu direi.
19 - Sereníssimo
Rômulo
Aproveitei o quanto pude ao lado de Amora, mas não foi o suficiente para memorizar que
deveria chama-la pelo seu verdadeiro nome, tampouco para me sentir saciado da vontade
de tê-la ao meu lado. Ela se tornou o meu vício, a queria a todo instante e, após sua
despedida, na noite de domingo, meu apartamento adquiriu um vazio imenso.
A segunda-feira começou com um desejo das horas passarem rápido para tão logo
chegasse o final da tarde. Quando nos encontramos na lanchonete, seguimos para a
faculdade torcendo para os sinais não ficarem vermelhos, aproveitei os valiosos minutos
ao seu lado e o carro tornou-se confidente de nossa paixão.
Na terça-feira tive um problema com a recepção de dados da nossa filial e enviei
antecipadamente uma mensagem, informando que não a encontraria nesse dia e recebi de
volta um emoticon com a carinha triste. Cogitei a possibilidade de dar aquela rápida
escapulida, mas recebia pressão do chefe para concluir a tarefa e minha ausência seria
notada.
Para contornar a falta que sentíamos do outro, trocamos muitas mensagens e enviei fotos
do escritório praticamente vazio, com as luzes de algumas salas apagadas, inclusive, e
com a minha expressão de desesperado para solucionar o problema.
Amora: Se terminar antes das 22:00h, você me pega aqui na faculdade.
Eu: E te levo para minha casa.
Amora: Você está louco? Não vim preparada para isso.
Eu: Acordamos mais cedo amanhã, passamos na sua casa e você troca de roupa.
Se tivesse feito a mesma proposta na semana passada, Amora teria recusado, mas dessa
vez ela demorou em responder.
Amora: Está bem! Eu vou para sua casa. Então termine logo esse problema aí no
trabalho.
Os batimentos cardíacos aceleraram ao ler sua mensagem e fiquei ansioso em solucionar o
problema. Corri o que pude, eu era o único no escritório e o funcionário da filial, que
acompanhava o processo de lá, já havia se despedido. Fiz o que estava ao meu alcance,
mas não pude testar a solução.
Às 22:00h deixei meu posto, saí correndo e aproveitei as ruas menos movimentadas para
chegar num atraso mínimo na faculdade. Ela aguardava na portaria, quando viu o carro e
se aproximou. O cansaço de ter prolongado a jornada de trabalho se foi ao ver o seu
sorriso radiante, bem como os seus cachos vermelhos.
Dois dias foram suficientes para ela se sentir em casa. Ao abrir a porta, Amora foi até a
lavanderia, pegou sua toalha e seguiu para o sanitário. Como a queria no maior tempo
possível, peguei minha toalha também, mas antes disso, peguei um pacote de camisinha,
me despi e entrei no banheiro enquanto ela concluía a retirada da lingerie.
Seu olhar parecia esperar por essa minha ação. Entramos no boxe e a água quente ajudou a
relaxar nossos corpos. Os beijos molhados percorreram os nossos corpos, alternadamente,
pescoço, ombro, mamilos e barriga, até ela se abaixar um pouco mais para saborear meu
pau.
Seus cabelos vermelhos, escurecidos pela água que caía, cobriram a visão de seu rosto
abocanhando-o até o final, seus lábios encostaram em meu púbis e a língua se encarregou
de fazer alguns estímulos interessantes.
Ao retornar, seus lábios dedicaram atenção especial na cabeça e sua mão tratou de
massagear o restante do corpo. Sua língua contornou boa parte dele, desceu até a base,
bem próximo do saco e retornou, quando senti a primeira pulsação de que estava para vir o
meu gozo.
Ela também percebeu e, ao invés de recuar os lábios, voltou a abocanhar a cabeça,
massageando-a com a língua e com a mão no comprimento restante. Me controlei para não
gozar, sinalizei que estava próximo e então veio o jato. A água tratou de lavar o que
escorreu pela sua boca, vi seu olhar de satisfação, com um sorriso alegre, de alguém que
acabara de ganhar um presente.
Mesmo saciado, o desejo era de retribuir sua carícia, a encostei na parede, beijei seus
lábios e fui descendo, com direito a parada obrigatória nos seios, barriga e em seguida
ajoelhei para me acomodar melhor em sua região pubiana.
Para melhorar a posição, elevei sua perna direita e obtive o acesso irrestrito ao seu sexo.
Com o tempo, ela apoiou sua coxa em meu ombro esquerdo, permitindo que eu utilizasse
as duas mãos, uma para acariciar os seios e a outra para deslizar os dedos em sua vagina.
Suas mãos acariciaram minha cabeça e quando eu acertava o toque da língua em seu
clitóris, me pressionava em seu púbis. Por vezes o joelho fraquejava e o corpo descia um
pouco, seus gemidos se misturavam ao barulho da água caindo e os nossos corpos
molhados não resfriavam em relação ao calor que produzíamos.
― Isso, aí, nesse ponto mesmo!
Encontrei o estímulo certo para a ocasião e me concentrei nele. Suas pernas trêmulas
pareciam não suportar mais o tempo se apoiando parcialmente, o quadril produziu
movimentos involuntários e o bico de seu seio ficou mais duro. Senti sua lubrificação
aumentando e provocando um sabor diferenciado na água do chuveiro.
O quadril se projetou para a frente, suas mãos pressionaram minha cabeça contra seu púbis
e em seguida relaxaram. Vieram os espasmos e parte do seu peso foi suportado pelo meu
ombro. Aproveitei a oportunidade e continuei chupando, mas ela não aguentou e se
afastou, pôs a mão em sua genitália e ficou se contorcendo.
Eu havia acabado de gozar e presenciar uma cena dessa, uma mulher sentindo as
contrações do orgasmo, com o seu corpo molhado, brilhando e com os bicos dos seios
pontiagudos, como não me excitaria com isso?
Peguei a camisinha, a afastei da parede, virei seu corpo de costas e procurei sua região
umedecida pelo gozo. Só em encostar a cabeça, ela gemeu, seu corpo tremelicou de
prazer, suas costas arrepiaram por completo e, para controlar seus espasmos, apoiou as
mãos na parede.
Suas costas nuas, a água escorrendo em seus cabelos vermelhos e se misturando em
nossos corpos, bem como a visão volumosa de sua bunda, completaram a paisagem
sensual. Pintaria essa cena num quadro para eternizá-la em minhas lembranças.
Não pude resistir por muito tempo, mesmo após gozado uma primeira vez. A excitação
impediu que prolongasse, que mudássemos a posição, mesmo num boxe apertado e sem
condições de muitos movimentos. Estava gostoso assim e gozei pela segunda vez.
O olhar de desejo, vindo de Amora, causou a impressão que quisesse mais, porém, ela
pediu apenas beijos seguidos de abraços e carícias, os quais produziram sensações
gostosas no pós-orgasmo. Terminamos o banho com o desejo de nos jogarmos na cama,
mas resisti ao cansaço e fui preparar um rápido jantar para ela.

∞ ∞ ∞

O despertador tocou mais cedo do que o previsto, era o combinado, mas tive dificuldade
em tirar minha mão colada a uma bunda para desliga-lo. Ela também demonstrou o
mesmo interesse de ficar mais um pouco na cama. Sentir seu corpo nu sob o lençol foi a
tentação para estimular o seu sexo e notar o início da lubrificação.
Foi aquela transa rápida, para despertar e deixar o corpo mais ativo. Para abreviarmos,
tomamos banho juntos e fui preparar o café, enquanto ela adiantou parte da maquiagem e
penteado. A deixei em sua casa dentro do horário previsto, mas desejando que em breve
juntássemos nossas coisas num só lugar.
― Ainda está com esse lance de Amora? ― Sebastião perguntou, durante o nosso happy
hour.
― Sim, ontem mesmo ela dormiu em minha casa.
― Rapaz, ela não está brincando com você, não?
― Por que estaria? Sinto que ela quer a mesma coisa, temos vontade de estar
acompanhados e tem sido o melhor encontro desde a minha última separação.
― Eu te prometi duas semanas, não foi?
― Duas semanas, o quê? ― perguntei, esquecido do que Sebastião havia dito na semana
passada.
― Duas semanas para você descobrir quem é essa mulher e se desinteressar por ela.
― Pelo visto você está equivocado, a cada dia que passa estou amando mais ela!
― Não se esqueça que você a conheceu no Tinder…
― E o que tem a ver? Ela não tem demonstrado que continua saindo com outros homens,
conversamos a todo instante pelo Whatsapp e ela não tem tempo para essas escapulidas
que você tem imaginado.
― Sei…
Sebastião quis me deixar intrigado com suas suspeitas desnecessárias e preferi ignorá-las a
leva-las em consideração. Angélica não mostrava sinais de que saía com outros homens,
além disso, combinei que a pegaria novamente na sexta-feira e passaríamos o fim de
semana juntos pela segunda vez. Não haveria espaço para ela procurar flerte com outro
homem e eu tinha certeza que a satisfazia muito bem.
20 – Provando do próprio veneno
Angélica
Quarta-feira à noite, o professor reuniu a turma com o propósito de acompanhar o
andamento dos nossos trabalhos relacionados à matéria sobre os perfis falsos nas redes
sociais. À medida que meus colegas se apresentavam, eu via que muitos deles estavam
adiantados.
A atenção foi individual, um a um entregava o que estava pronto e o professor pegava
trechos dos textos, lançava no Google e verificava se seus alunos não estavam copiando
trabalhos já publicados.
Todas as estratégias possíveis para coibir cópias e plágios foram adotadas por ele. De um
total de vinte alunos, cinco tiveram seus trabalhos recusados. Fui uma das últimas a sentar
ao seu lado.
― Você decidiu fazer sua própria pesquisa? ― perguntou o professor, analisando os dados
que obtive.
― Sim, não foi uma tarefa fácil.
― Sendo um perfil feminino, foi fácil conseguir essa quantidade de dados…
― Por favor, não me faça mudar para um perfil masculino, não dá tempo! ― o interrompi,
já prevendo que fosse sugerir isso.
― Tem razão! Espero que me surpreenda, pois, fiquei desapontado por você não ter saído
de sua zona de conforto.
― Como assim, professor?
Sim, como assim? Eu arruinei um relacionamento por conta dessa pesquisa. Tudo bem que
estava vivendo uma nova fase, melhor que as anteriores, mas afirmar que não saí de minha
zona de conforto, me deixou emputecida.
― O mais comum nas redes sociais é encontrar perfis fakes masculinos, muitas pesquisas
mostram isso. Acredito, inclusive, que você utilizará esses dados publicados como
comparativos ― sim, isso era verdade ―, mas eu queria ver um resultado contrário,
quantas mulheres se escondem nos perfis desse aplicativo.
― Poxa, professor…
― Você não saiu do trivial ― ele interrompeu.
Foi um balde de água fria no ânimo. Antes tivesse apresentado minha proposta no início e
não num momento em que estava adiantada. Após mais de um mês coletando dados,
mudar o foco seria inviável e prejudicaria por completo meu planejamento para concluir o
trabalho.
Saí da aula arrasada, desejei que Rômulo me convidasse para sua casa nessa noite, cheguei
a enviar-lhe uma mensagem, mas ele estava com seu amigo no bar e seria nada agradável
encontra-lo com bafo de cerveja e quase embriagado. Não entraríamos no clima perfeito.
Iniciei a quinta-feira sem motivação para trabalhar, passei o dia atendendo os clientes
como se não existissem e fiquei pensando numa solução para meu trabalho acadêmico.
Cogitei a possibilidade de coletar novos dados, dessa vez utilizando um perfil fake
masculino e avaliei se havia como apertar o prazo para concluir a tempo.
Por outro lado, as minhas informações estavam consistentes, eu utilizava um perfil fake
feminino e a comparação com o de Sofia mostrava sinais claros que foto de rosto e corpo
bonito contavam na hora de estabelecer um match.
Minha pesquisa estava boa e o que planejava para a matéria seria melhor ainda, não
poderia desperdiça-la em função de um questionamento do professor.
Lembrei de Vinícius, quando comentou que esse trabalho seria inútil no final e todos
receberiam notas baixas. Ele não poderia estar tão certo.
― Oi! ― ouvi uma voz masculina, enquanto arrumava as taças na estante.
― Rômulo? O que faz aqui? ― perguntei, espantada com a sua presença.
― Já são dezoito horas, esqueceu?
― O quê?
Não dei conta que as horas passaram rápido. Terminei de arrumar as taças e fui correndo
trocar de roupa no vestiário. Dado o atraso, entrei no carro sem dar um beijo em Rômulo,
o qual dirigiu apressado até a faculdade.
― Pelo visto não teremos muito tempo hoje ― disse ele, ao estacionar na vaga.
― Desculpe, não vi o tempo passar.
― Está acontecendo algo?
― Nada demais, ontem o professor quis mudar o direcionamento de meu trabalho
acadêmico, após mais de um mês coletando os dados.
― Professores… ― ele suspirou ―, já passei por isso e eles não gostam muito de ser
contrariados.
Em vez de passarmos os valiosos minutos trocando beijos e carícias, Rômulo comentou
sobre sua experiência na faculdade e me deixou mais apreensiva quanto ao resultado que
eu alcançaria com o meu trabalho.
― Sim, e as universitárias nesse período? ― perguntei, procurando descontrair a
conversa.
― Eu já namorava com Camila nessa época. Fui paquerado por algumas garotas, sim, mas
eu estava apaixonado demais para desviar de meus objetivos.
Em milésimos de segundos, resgatei esse nome em meu arquivo mental, Camila foi a
garota que Rômulo namorou por anos e depois se decepcionou. Lembrei de seus amigos
postando em seu perfil sobre não valer a pena sofrer tanto por ela.
― Mas depois dela você aproveitou e curtiu o quanto pôde, não foi à toa que nos
conhecemos no Tinder.
Notei um esmorecimento em Rômulo após meu comentário. Havia algo de diferente nele.
― Aproveitei sim, abusei até de algumas situações, mas agora meus olhos estão só para
você.
― Assim como os meus estão para você.
― Acho que você está atrasada ― ele disse, observando as horas no painel do carro ―,
depois você me fala desse seu trabalho de faculdade, quem sabe eu não posso ajudar?
― Sim, com certeza.
Concordei com ele, mas não sabia por onde começaria a explicação, se falaria tudo de uma
vez, que nosso relacionamento foi fruto de uma pesquisa, ou se procuraria uma forma
mais amena de dizer, antes de ir direto ao ponto. Eu não fazia ideia como ele reagiria nas
duas situações.
Iniciei a sexta-feira decidida a não mudar um ponto sequer em relação ao trabalho
acadêmico, mesmo que implicasse numa nota final baixa. Trabalhei menos apreensiva
nesse dia, prestei melhor atendimento aos clientes e troquei algumas mensagens com
Rômulo.
No final do dia, lá estava ele esperando por mim. Seguimos até a faculdade e conversamos
muito pouco, pois sentimos a necessidade dos toques, dos beijos e de “algo mais”. Fiquei
ansiosa, torcendo para que as horas passassem rápido e chegasse o momento de sair da
aula.
― Não vejo a hora de chegar em sua casa ― comentei, ao sair da faculdade e entrar no
carro.
― Também estou louco para te ver toda nua.
― Se pudesse, já sairia do carro assim ― eu quis apimentar a conversa.
― Então nem subiríamos até o apartamento, te colocaria sobre o capô do carro e te
devoraria no estacionamento mesmo.
― Me excitei só de imaginar.
Parecia que estávamos prevendo as cenas, em menor escala, é claro. A garagem de seu
edifício estava deserta, praticamente todos os carros estavam estacionados e poucas
lâmpadas acesas deixaram o ambiente escurecido.
Peguei minha mochila e arrisquei alguns passos até o elevador, mas Rômulo me puxou
para a frente do carro e começou a me beijar. Suas mãos tiraram a mochila de minhas
costas, a pôs no chão e em seguida passaram por debaixo de minha blusa e alcançaram o
fecho do sutiã, cuja pressão do elástico foi desfeita e permitiu que suas mãos viessem ao
meu busto e apertassem meu seio em sua totalidade.
A sensação de ser flagrada a qualquer instante ativou minha libido e a mistura de medo e
excitação dominou o meu corpo. Enquanto isso, seu corpo pressionava o meu a subir no
capô do carro e acabei cedendo. Sua ereção foi sentida ao encostar na minha região
pubiana, pulsante e tesa, louca para me possuir.
A todo instante eu olhava para os elevadores e escada, com receio de alguém surgir. Então
Rômulo decidiu subir minha saia e conferiu minha excitação. A camisinha, a mesma que
certo dia ele havia deixado em casa, foi tirada de seu bolso como se tivesse premeditado
transar comigo no carro. Foi um tanto discreto, apenas o zíper baixo, o pau para fora, uma
ajeitada na minha calcinha e sua cabeça começou a deslizar para dentro de minha vagina.
Bem que tentei descontrair e permitir que a excitação comandasse o momento. Seus beijos
insistiram em relaxar minha boca e seus dedos apertando meus mamilos complementaram
a sensação gostosa. Talvez, se tivesse ajoelhado e tocado meu sexo com sua língua, eu
estaria mais relaxada, mas não, permaneci tensa.
Ainda assim, preocupada em ser flagrada, estava gostoso e comecei a liberar discretos
gemidos. Seus beijos ficaram mais gostosos e remexi o quadril para sentir seu pau
entrando e saindo com maior atrito.
Mas daí uma campainha tocou e despertou nossa atenção, a porta do elevador se abriu e,
num pulo, Rômulo ajeitou o pau para dentro de sua calça. Eu só consegui fechar as pernas
e descer do carro. Dei uma ajeitada na blusa, mas o sutiã estava todo torto no corpo.
Disfarçamos uns beijos carinhosos e nossos olhares ficaram atentos à movimentação do
vizinho, que saiu do elevador, jogou o lixo num cesto e retornou à cabine com o olhar
atento em nossa direção.
― Vamos terminar isso em sua casa ― comentei.
― Também pode ser no elevador…
― Não!
Bem que tentei, mesmo uma subida até o terceiro andar se mostrou lenta o bastante e
Rômulo conseguiu tirar minha calcinha antes que a porta da cabine abrisse.
Ele entregou a chave da porta e pediu para que eu fosse na frente. Percebi sua intenção,
assim que me aproximei da porta. Suas mãos suspenderam a minha saia e seu pau me
penetrou por trás. Bem que tentei encaixar a chave na fechadura, mas a vibração de suas
estocadas, firmes em meu sexo, fizeram com que a penca caísse.
Apoiei as mãos no caixão da porta e fiz pressão para trás, confrontando com suas batidas
intensas em minhas nádegas. Suas mãos seguraram firmes em meus seios e sua boca colou
no meu pescoço. Não deu para pensar muito, o cheiro de minha lubrificação aflorou, o
corpo aqueceu ao ponto de ebulição, foi quando comecei a sentir os primeiros espasmos.
A excitação foi tamanha que gozei nessa posição e ele, segundos depois. Fiquei
desnorteada com a situação e arfante, devido à intensidade do sexo que acabáramos de
fazer. Ele então se abaixou, pegou a chave, abriu a porta e me conduziu para dentro do
apartamento.
― Quero te fazer uma pergunta e é importante que você seja sincera comigo ― disse ele,
enquanto tomávamos banho juntos.
― Faça ― respondi, temendo que fosse um precoce pedido de casamento.
― Você tem saído com mais alguém depois que nos conhecemos?
― Mas é claro que não!
― Nos conhecemos pelo Tinder e…
― Rô ― o interrompi ―, você foi a maior surpresa que encontrei nesse aplicativo. Tenho
uma longa história que gostaria de contar e você pode não acreditar, mas não esperava
achar alguém como você.
― Digo o mesmo, teremos o fim de semana inteiro para você contar essa história, mas
agora preciso dar uma descansada, o dia foi bem desgastante para mim, tudo bem?
― Tudo bem, é até melhor que eu conte tudo num momento que você esteja mais
relaxado.
― Ah! Amanhã pela manhã tenho um baba com os amigos e volto lá pelas dez horas,
você pode ficar aqui adiantando seu trabalho, já que trouxe seu notebook.
― Perfeito!
Se fosse para ir à missa, ele não acordaria com tamanha disposição. Suas mãos me
despertaram ao fazerem minha pele arrepiar, a ereção pressionou minha bunda e pressenti
que ele estava bastante interessado em experimentar outro local para me comer, mas
assim, logo pela manhã, não dava para invadir meu espaço sem antes preparar todo o
terreno.
Sua ansiedade se traduziu na famosa rapidinha matinal, tão rápida que não pude aproveitar
a penetração para gozar também. Um beijo de bom dia, carinhos nos mamilos e ele partiu
para o banho.
― Vai tomar café agora? ― ele perguntou ― Se quiser, pode continuar deitada.
― Não. Eu vou tomar café com você, sim.
O short e camisa, padronizados de um time amador, vestiam seu corpo, a chuteira estava
numa sacola e por mais que devorasse o café da manhã, não acompanhei seu ritmo
frenético para sair.
― Tem uma chave reserva pendurada na estante, caso queira sair ― disse ele, pegando
seus pertences e a chave do carro.
― Vou aproveitar e adiantar meu trabalho.
― Quando voltar, eu quero saber mais desse trabalho.
― Tudo bem.
Um beijo de despedida e a porta se fechou. Aproveitei para respirar mais aliviada e
concluir meu café. Em seguida abri o notebook na mesa de jantar e fiquei pensando em
como falaria a Rômulo dessa minha pesquisa acadêmica.
Consolidei os dados de Sofia e enviei, junto com os meus, para um amigo da disciplina de
matemática, o qual se comprometeu a analisar e extrair o máximo de informações que
pudesse. Nesse meio tempo, fui selecionando alguns contatos e mensagens que julguei
interessantes, bem no estilo de chamadas sensacionalistas para atrair o expectador ou o
público leitor.
Uma hora depois recebi uma planilha personalizável, na qual eu poderia escolher uma
informação e os resultados surgiam em quantidade e percentual. De imediato comparei os
matchs instantâneos entre o meu perfil e o de Sofia, sendo o dela 70% superior aos meus.
Quanto ao percentual de perfis falsos, tivemos resultados bem semelhantes e próximos do
valor de pesquisas já divulgadas. Esse meu amigo foi além e conseguiu extrair uma lista
de perfis falsos que estabeleceram match comigo e com Sofia.
Essa informação era importante e então fui pesquisar as mensagens trocadas. Pude definir
que havia um padrão na aproximação após o match, como se os homens seguissem uma
cartilha para esconderem seus perfis.
Fiquei entretida na quantidade de informações, que não vi o barulho da porta se abrindo.
Rômulo entrou sério, sua camisa estava suada, suja e com algumas marcas de pés e mãos,
além do cabelo desarrumado e as mãos cerradas.
― Com foi o jogo? Não foi muito bem?
― Angélica ― pela primeira vez, ouvi ele me chamar pelo nome ―, você continua
acessando o Tinder e paquerando outros homens?
― Rômulo, era justamente sobre isso que eu tinha para falar contigo.
― Então é verdade?
― Verdade o quê?
― Enquanto eu me apaixonava, você continuava flertando com outros homens? Meu
amigo alertou, só eu que não vi.
― Rômulo…
― Ele me mostrou uma conversa hoje e não acreditei! ― ele aumentou o tom de voz.
― Deixe-me explicar…
― Não tem explicação! ― ele socou a mesa ― O que você vai justificar?
― É sobre o meu trabalho…
― Você é uma garota de programa, é isso?
― Não é isso, Rômulo! Exijo mais respeito! ― Dessa vez fui eu quem aumentou o tom de
voz.
― Que me respeitasse primeiro! Eu me apaixonei por você… ― lágrimas começaram a
escorrer de seus olhos, seguido de um soluço.
― É sobre a faculdade…
― Por favor, não quero ouvir isso agora. Quero que você saia!
Não acreditei, eu estava provando do meu veneno. Quando flagrei Vinícius me traindo,
não previ que a mesma situação poderia ocorrer comigo. Que trabalho maldito! Meus
olhos começaram a lacrimejar, esbocei uma tentativa de interceder e falar tudo o que
sentia, mas Rômulo se virou e foi para o banheiro.
― Você não quer ouvir agora, mas precisa! ― o segui até a porta do banheiro.
― O que você tem a dizer? Que estava curtindo o idiota aqui, enquanto procurava alguém
melhor?
― Não, Rômulo. Também estou apaixonada por você!
― E por que continuou flertando e falando sacanagem? Sebastião mostrou toda a conversa
que vocês tiveram, como fica a minha imagem agora?
Lembrei desse nome, foi um contato que me deixou em grande dúvida, pois parecia algo
completamente surreal. Sebastião foi logo direto ao ponto, explicou que curtia encontros
casuais, tinha uma namorada que adorava a companhia de outra mulher, mas não podia ter
algo sério comigo. Eu entrei no clima da brincadeira, achando que tudo não passava de
uma mentira, mas enfim, foi a minha deixa para Rômulo descobrir.
― Vá tomar um banho, esfrie mais a cabeça que vou te mostrar tudo.
― Você quer passar na minha cara tudo o que fez comigo?
― Não é bem assim, se depois de tudo, você ainda não aceitar, deixarei você.
21 – Colocando em pratos limpos
― Porra cara! Você não enxerga que essa mulher está te enganando? ― perguntou
Sebastião.
Durante o intervalo de nossa partida, Sebas não parou de lançar suas acusações contra
Amoras, mesmo sem conhece-la e, aos poucos, minava o controle emocional que eu
possuía.
― Não preciso conhecer para dizer que não presta ― ele prosseguiu ―, basta acessar o
Tinder que encontrará o perfil dela ativo ainda e, inclusive, já conversei com ela.
― E você, se identificou que era meu amigo?
― Você está doido? Joguei um verde para ver se colava e não deu outra, ela mostrou para
o quê veio ao mundo.
― Com é que é?
― Olha aqui.
Sebastião mostrou o conteúdo da conversa que trocou com Amora, com direito a
propostas de fazer um ménage e ela concordando com tudo. Meu sangue começou a
ferver, a data das conversas era posterior ao meu início de relacionamento com ela e durou
alguns dias. Mesmo não havendo troca de mensagens nos últimos dias, foi o bastante para
mim.
― Daqui a pouco você está beijando uma boca que acabou de chupar um pau.
Não suportei tal provocação. Eu estava nervoso, completamente fora de mim e a reação
foi socar o rosto de Sebastião com tanta força que ele chegou a cair no chão. Os colegas
me seguraram e impediriam que eu avançasse para bater mais. Em contrapartida, Sebas se
levantou e revidou o soco.
Provocamos uma briga generalizada, com direito a socos e pontapés a esmo, meus colegas
caíram no chão, inclusive eu, até que, aos poucos, a confusão foi contida. Meu olhar
flamejava em direção a Sebas, o qual se manteve distante de mim.
O dono do campo de futebol ficou aborrecido com a balburdia, haviam outros clientes na
fila e presenciaram toda a confusão. Todo o nosso time sofreu uma grande repreensão e no
final, eu e Sebas fomos suspensos por dois meses de frequentar o local.
― Pô cara, você sabe que não perco uma piada ― disse Sebastião, ao se aproximar de
mim, já do lado de fora.
Olhei para meu amigo, vi uma leve mancha vermelha, bem na região onde o soquei,
pensei em avançar novamente para continuar batendo, mas o tempo em que estivemos
separados, permitiu um instante de reflexão e percebi que a culpa não era dele.
― O pior de tudo isso é que ela está em minha casa ― comentei.
― Termina logo de vez com essa história, cara. Assim você se machuca menos.
― Você tem razão. Foda essa situação!
― Mas não ache que vou deixar essa história por menos, já bastou as vezes que você me
sacaneou por causa do traveco.
Dei um leve sorriso, ele tinha razão, ficaria para a história de casos malsucedidos esse meu
romance com Angélica.

∞ ∞ ∞

― Pronto! O que você tem para me falar?
Concluí meu banho e retornei para a sala, Angélica estava sentada em frente ao
computador e não esboçou que ficou aos prantos.
― Mesmo que você não acredite, preciso mostrar o meu trabalho.
― Agora você vem mostrar o seu trabalho? O que tem a ver com o nosso relacionamento?
― Tem tudo a ver, Rômulo. Primeiro, preciso dizer que meu primeiro relacionamento
surgiu a partir do Tinder. Namorei um homem que não gostava muito de sair comigo, mas
me tratava muito bem e… ― Ela deu uma pausa ― …na cama ele era muito bom.
― Me poupe desses detalhes.
― Não é essa a questão, você é maravilhoso também! ― uma nova pausa surge, seguido
de um suspiro ― Certo dia o encontrei no shopping, acompanhado de outra mulher, e
descobri que ele me traía.
― E o que tenho a ver com isso? Agora você quer descontar sua traição em todos os
homens e fui um dos seus escolhidos?
― Deixa eu terminar, por favor! ― ela deu um grito aborrecida ― Eu quero dizer que,
por conta dessa traição e de todas as consequências que ela causou, nunca mais acessaria o
Tinder para conhecer outro homem.
― Certo, em que momento desse lapso temporal eu entro?
― No meu trabalho de faculdade.
― O que tem seu trabalho com o nosso relacionamento e o Tinder?
― O Tinder é o meu objeto de pesquisa, tenho que criar uma matéria sobre perfis que se
escondem nas redes sociais.
Permaneci irredutível aos argumentos de Angélica, os quais pareciam fantasiosos demais,
até ela mostrar os dados e resultados da pesquisa. Li conteúdos de conversas sórdidas,
impróprias até para as mais impuras das mulheres, me deparei com fotos de homens nus,
de pênis dos diversos tamanhos e cogitei a possibilidade de que fosse um fetiche em
colecionar tantas informações.
― E onde entro nessa história? ― perguntei.
― Você foi a mais perfeita exceção de todos os perfis que encontrei, mesmo flagrando
você acompanhado de uma mulher na lanchonete. Não vi falhas ou mentiras,
conversávamos como se fôssemos amigos e como se desejássemos o outro sem tanta
pressa.
― Mas essa conversa que você teve com Sebastião me pareceu muito real, como se
desejasse participar de uma sacanagem.
― Está bem, você pulou a nossa fase. Eu precisava entrar no clima da conversa para
conquistar a confiança dos perfis masculinos e achei curioso o perfil de seu amigo…
― Então você não nega! Também se interessou pelo perfil dele?
― Deus me livre, eu fingi toda a conversa! Me dá nojo só em imaginar beijando uma
mulher, quem dirá fazendo sexo com ela.
― Porra, Angélica! Mas pegou mal, muito mal essa história. Ainda estou puto com tudo
isso.
― Eu te entendo, mas também espero que…
― Eu preciso de um tempo para pensar nisso tudo ― comentei.
Mesmo com toda explicação, convincente, inclusive, me senti traído. Dentre todos os
absurdos, de fotos de homens, de seus respectivos paus e de mensagens picantes, a que
mais me deixou aborrecido foi a conversa que rolou entre ela e Sebas.
Fiquei imaginando como seria a reação se continuássemos juntos, pois, em algum
momento encontraria Sebastião num evento social, aniversário ou na rua, por exemplo, e
não saberia como ele se comportaria diante de Angélica.
― Quer que eu saia de sua casa? ― ela perguntou.
Balancei a cabeça, concordando com a sua pergunta. Angélica fechou a tela do notebook,
retirou-o da tomada, olhou para mim, como se esperasse um pedido diferente, porém me
mantive irresoluto.
Novas lágrimas voltaram a cair em seu rosto, numa intensidade maior, seguido de soluços
e uma dificuldade de organizar seus pertences sobre a mesa.
― Eu não consigo ― disse ela.
― Não consegue o quê?
― Não consigo aceitar que estou saindo de sua vida. Tudo bem que tenho minha parcela
de culpa nessa história, mas eu não conhecia seus amigos e não tinha como saber que
traria essa consequência tão cruel.
― Angélica…
― Eu não te traí! ― ela segurou em minhas mãos e em seguida me abraçou ― Não quero
perder você, Rômulo.
― Você deveria ter me avisado dessa sua pesquisa. Inclusive, fui objeto dela e não fosse a
sinceridade, espelharia um dos seus resultados.
― Eu quis te explicar, mas foi tudo tão rápido. Mal temos duas semanas juntos e estamos
tendo essa discussão. Se não quisesse nada com você, eu juntaria minhas coisas e cairia
fora, mas estou pedindo que reconsidere.
Uma parte de mim quis que ela ficasse, porém, outra maior, não queria nem olhar para seu
rosto lacrimejante. Olhei em volta, vi o quanto me esforcei para tirar o ranço do antigo
relacionamento que tanto me abalou, mas talvez fosse a culpa do apartamento, havia
alguma energia nele que atraía esses relacionamentos malditos.
Peguei a chave do carro, minha carteira e saí sem dizer uma palavra. Dirigi sem saber
onde iria parar. Cheguei num bar, pedi uma cerveja e enviei uma mensagem para
Sebastião, pedindo para que viesse me encontrar.
22 – Equívocos
Angélica
Minha única reação ao ver Rômulo saindo, foi ligar para Sara e pedir ajuda. Fiquei
angustiada, esperando por quarenta minutos a sua chegada. Eu não conseguia organizar os
pensamentos, estava tudo confuso, amargo e sem cor a minha vida e após essa discussão,
não tinha condições de arrumar minhas coisas para sair daquele apartamento.
― Eu sabia que esse negócio ia dar merda ― disse Sara, enquanto ajudava a arrumar
minha mochila.
― Não adiantar passar na cara agora, não é?
― Desculpa, amiga, vi você tão apaixonada que não pude fazer muita coisa.
Voltei a chorar, não queria que acabasse assim. Foram menos de duas semanas, que
pareceram meses que estivemos juntos. Sentei na beira da cama, a mesma que me
proporcionou momentos felizes, havia nossos perfumes e suor nela e dentro de alguns dias
deixaria de existir.
― Tem que deixá-lo esfriar a cabeça e descobrir que não passou de um mal-entendido ―
ela prosseguiu, após ouvir o meu relato da discussão.
― O problema é ele escolher outra para esfriar a cabeça.
― Sim, isso é possível.
Sara sentou ao meu lado para fazer um afago. O mundo se tornou frio e inesperado,
diferente de tudo o que idealizávamos.
Passou uma hora e meia, desde que Rômulo saiu e nenhuma notícia sua, uma mensagem
sequer. Saí do apartamento, deixando a chave dentro, apenas batendo a porta.
― Você acha que devo avisá-lo? ― perguntei.
― Se ele realmente gosta de você, ele vai te procurar.
Já havia me submetido demais às vontades de Rômulo, deu no que deu e agora eu estava
sofrendo por um relacionamento muito mais do que já sofri antes. Sara não reconheceu a
amiga forte e determinada que fui um dia. Me senti frágil, despedaçada e sem uma parte
importante, a qual tinha dúvidas se um dia voltaria vê-la novamente.
― Você está certa! ― concordei com ela ― Vamos!
Foi apenas um fim de semana ausente, os únicos dias que eu habitava por
aproximadamente vinte e quatro horas ininterruptas o meu apartamento, o suficiente para
senti-lo estranho num sábado à tarde. Nem desfiz a mochila, peguei o notebook, tornei a
abri-lo sobre a mesa e procurei um pingo de concentração para retomar o meu trabalho.
A todo instante vinha à minha mente a burrada que cometi. Tantos nomes de perfis falsos e
seus respectivos donos, comprometidos ou não, tantas mensagens e promessas de paixões,
de propostas de melhor sexo que poderia ter ou, então, do melhor pau que uma mulher já
viu, qual seria o propósito de tudo isso? Expor um resultado que conhecemos desde os
primórdios?
Me vi como um deles, escondida numa foto de amoras, procurando algo que fosse do meu
interesse, ou seja, uma pesquisa acadêmica. Trocando os objetivos e as necessidades, não
seria, portanto, diferente.
Os dados estavam à minha frente, mas só pensava no quanto isso custou para obtê-los. E a
mentira? Não mensurei as consequências de minhas ações. Toda essa reflexão me fez ter
um insight para o trabalho.
Não estava obtendo sorte no amor, ao menos na faculdade eu poderia ter ao meu favor. Me
debrucei nos dados, extraí as conversas dos respectivos contatos, me aprofundei em certos
detalhes e comecei a esboçar o que seria a minha matéria.
Ao final da noite, Sara saiu com Cardoso e a casa ficou vazia. Tive a sensação que a
qualquer momento receberia um beijo no pescoço, um aperto nos seios e uma conferida
em meu sexo, mas não, ele não estava lá.
Fui acometida, mais uma vez, pela tristeza. Olhei se havia alguma mensagem no celular,
conferi o seu status, pesquisei suas redes sociais e não havia uma informação de Rômulo.
Teria retornado à sua casa ou estaria perambulando por aí em busca de um rabo de saia
para afogar suas mágoas?
Abri o Tinder e saí à procura de algum perfil que parecesse com o dele, mas não o
encontrei. Pelo menos não surgiu para mim. O dedo coçou para enviar uma mensagem,
mas lembrei de Sara dizendo que havia me rebaixado demais. Pois é, não deveria
continuar assim.
Se ele gostava mesmo de mim, que ligasse quando sentisse saudade.

∞ ∞ ∞

Rômulo
Despertei com uma enorme dor de cabeça. Estiquei o braço até a outra extremidade da
cama e senti falta de um corpo feminino ao meu lado. Onde ela estaria? Levantei
cambaleante, imaginando que minha embriaguez e o ronco a impediu que dormisse ao
meu lado, caminhei até a sala e não a vi.
Aos poucos recuperei a memória e percebi que Amora não estava mais em casa porque
discutimos e eu saí antes que ela partisse. Aonde fui parar mesmo? Lembro de ter pedido
uma cerveja, depois Sebastião chegando, umas conversas desencontradas e nada mais.
Alguns flashes antes de ficar completamente embriagado preencheram a minha mente.
Não guardei nada do que conversei com Sebas, não com uma terrível dor de cabeça e mal-
estar que sentia.
Procurei o celular no bolso da calça, a qual encontrei sobre o encosto da cadeira, procurei
por alguma mensagem, mas estava descarregado. Voltei para o quarto, tateei na gaveta do
armário, em busca do carregador, e encontrei uma camisa que Amora vestiu quando
dormiu comigo na terça-feira. Ainda havia o perfume dela e o cheiro gostoso do sexo que
fizemos na manhã seguinte.
Retornei à cozinha, procurei um remédio que acabasse de vez a dor de cabeça e o mal-
estar, bebi quase vomitando tudo, peguei uma toalha pendurada no varal e fui tomar
banho.
O perfume de Amora mais uma vez percorreu os meus sentidos, estava tão tonto que não
percebi, peguei a sua toalha e a doce lembrança de quando estivemos juntos sobrescreveu,
temporariamente, a discussão que tivemos.
Desejei que o apartamento deixasse as lembranças do passado, mas não contei que o
presente fizesse a mesma coisa.
O café ficou pronto e peguei o celular para verificar as mensagens. Nenhuma de Amora e
liguei para Sebastião.
― Pô, cara. Que horas são? ― ele perguntou ao atender o telefone.
― Quase onze.
― Pois é, o que você quer de mim a essa hora?
― Não lembro de nada do que aconteceu ontem à noite, o que rolou?
― Quando cheguei, você já tinha bebido três garrafas sozinho. Nunca te vi assim, cara.
Daí tive que ouvi toda a discussão que você teve com Amora. E aí, se resolveu com ela
quando voltou pra casa?
― Me resolvi com ela? Não estou entendendo, você mesmo pediu para que eu
terminasse…
―Cara, foi tudo um equívoco. Nunca te vi tão apaixonado e ela estava fazendo uma
pesquisa para uma matéria, me enganou direitinho com aquela conversa…
― Espere aí, como você mudou de conversa assim, de repente?
― Depois de ouvir toda a sua lamentação e deixar você em casa, fui encontrar Glenda. Ela
ficou puta porque deixei de curtir um sábado à noite juntos para ficar ouvindo sua fossa.
Tive que contar toda a história e ainda fui obrigado a entrar no Tinder para encontrar sua
namoradinha…
― Espere aí, você voltou a conversar com Amora?
― Sim, mas não com a mesma intenção de antes. Deu trabalho para conseguir a atenção
dela, conversamos sobre o trabalho da faculdade e, por mais que pareça absurda, é tudo
verdade o que ela disse. Desculpa, cara. Coloquei bobagem na sua cabeça.
― Quer dizer, você fodeu com o meu namoro.
― Mas eu corrigi, cara. Entenda, agora é contigo.
― Como assim comigo? Ela saiu da minha vida, nós brigamos e não sei se há volta.
― Há sim, cara. Lava esse rosto uma segunda vez, toma um Engov, bebe meio litro de
enxaguante bucal e vai atrás dela.
Se havia uma chance, não a perderia. Tomei um segundo banho, comi algo que pudesse
tirar o mal hálito, consequência da noite anterior, separei uma roupa descontraída e nem
enviei um pedido de desculpas, pois faria isso pessoalmente.
23 – Pedido de desculpas
Angélica
Sem um pingo de paciência em prosseguir com meu trabalho da faculdade, e ressentida
com o término de um relacionamento, concordei em ir à praia com Sara na manhã de
domingo. Um passeio só de amigas, sem a presença de Cardoso ou qualquer homem. Não
havia justificativa melhor para curar a fossa que um dia de sol, com a canga estirada na
areia e um banho de mar para lavar a alma.
O céu completamente azul e as ondas rebentando na areia complementariam o melhor
cenário para meditação se não fossem os esportistas de areia jogando bola e futevôlei, com
seus gritos assustadores para animar e repreender os colegas. Por outro lado, era uma
paisagem à parte, observar alguns corpos másculos, bronzeados e suados, correndo para
um lado e para o outro.
― Rômulo se parece com algum deles? ― perguntou Sara.
― Não, se duvidar ele não curte praia, e não tem um corpo assim…
― Pelo menos Cardoso chega próximo e não preciso ficar babando esses homens.
― Eu não estou babando, Sara, estou apenas observando o cardápio. Quantos desses
homens são malandros, gostam de exibir seus corpos e apenas querem curtir uma mulher
sem compromisso?
― Às vezes é bom ser curtida apenas.
― Não faço esse tipo e você sabe disso.
― Mas bem que poderia tentar um dia.
O sol escaldante queimava meu corpo, após a sensação de ter ficado horas me bronzeando.
Levantei da canga e notei olhares masculinos em minha direção. Sair do tipo físico de
modelo, quase esquelético me deixou com curvas em evidência, os seios ficaram mais
volumosos, bem vistosos, ainda mais com um biquíni que deixava pequenas marcas em
meu corpo.
― Delícia! ― ouvi de um dos homens que estava próximo.
Por um instante imaginei o que seria abdicar de meus preceitos para curtir a vida sem
compromisso. Mas não, eu precisava concluir a faculdade e qualquer distração poderia
prejudicar meu projeto de vida. Bastaram os relacionamentos frustrados que tive.
― Seu celular tocou a morrer! ― disse Sara, quando retornei do banho de mar.
Peguei minha camisa para enxugar as mãos, mas elas estavam enrugadas e dificultaram
manipular a tela do celular. Havia duas ligações e varias mensagens de Rômulo. Logo no
instante em que começava a superar sua perda.
Rômulo: Boa tarde, Angélica. Ou posso ainda te chamar de Amora? Vim para seu
apartamento, queria conversar contigo, mas você não está aqui.
Rômulo: Quero muito falar com você.
Rômulo: Assim que puder, me liga.
Rômulo: Me desculpe pela discussão de ontem. Sebastião disse que conversou com você
ontem à noite e entendeu o equívoco, que você estava fazendo uma pesquisa e ele foi uma
cobaia.
Não foi à noite, mas sim durante a madrugada que conversei com Sebastião. Eu não
conseguia dormir e o celular começou a bipar com mensagens do Tinder. Ignorei o que
pude, mas dada a insistência, abri o aplicativo e lá estava o perfil que proferiu a discórdia
no meu relacionamento. Sebastião comentou sobre a história que ouviu de Rômulo,
perguntou se era verdade e pediu provas que eu fazia uma pesquisa.
A princípio, não quis mostrar meu trabalho, ele deveria acreditar na minha palavra, mas
depois cedi à sua insistência e enviei algumas informações do que já havia consolidado.
Resultado, ele me encheu de pedidos de desculpas e disse que iria corrigir a bagunça.
Fiquei sem esperança que uma confusão dessas seria corrigida, ainda mais após esperar
um pedido de desculpas de Rômulo e ela não vir até o meio dia de domingo.
Eu: Só agora você chegou à conclusão? Esperou a garota que pegou à noite sair de sua
casa para vir choramingar, pedindo desculpas?
Rômulo: Que garota?
Eu: Você deve ter saído para esquecer de mim e com certeza pegou alguma mulher na
rua.
Rômulo: Eu te juro que não peguei mulher alguma. Eu enchi a cara, Sebastião me trouxe
para casa e acordei tarde com uma terrível ressaca. Se pudesse, teria me desculpado
antes.
― O que foi, menina? ― Sara perguntou, ao me ver presa às mensagens no celular.
― Rômulo, ele está se desculpando da discussão.
― Eu não disse? E aí, vai aceitar as desculpas?
― Sei não. Não sei onde ele esteve ontem depois que saiu de casa…
― E ele disse para onde foi?
― Disse que encheu a cara e acordou com ressaca.
― Esse homem te ama, garota! Você pode até fazer charminho, mas não o deixe sair de
sua vida.
― Não sei se devo acreditar nessa desculpa…
― Só arriscando, você ainda gosta dele e nunca te vi tão apegada enquanto estiveram
juntos. Eu arriscaria.
A paisagem com o sol escaldante, o mar refrescante e um bando de homens com corpos
sarados e bronzeados ficaram em segundo plano. Eu queria relaxar, mas acabei entretida
nas trocas de mensagens com Rômulo enquanto conversava com Sara. No final das contas,
revelei que estava na praia e dei a localização.
Rômulo: Vou te encontrar aí, me espere.
― E aí? ― perguntou Sara.
― Ele está vindo para cá.
― Se eu não for com a cara dele, criamos o maior barraco.
― Não, por favor, não quero isso.
― Estou brincando, Angel.
Fiquei deitada de bruços sobre a canga, com os cotovelos fincados na areia apoiando o
queixo nas mãos. Assim permaneci aguardando Rômulo chegar e seu olhar, ao me
procurar, foi certeiro. Também, quem mais teria os cabelos vermelhos na proximidade?
Enquanto vinha em minha direção, segurando os sapatos numa das mãos e saltitando na
areia quente da praia, me levantei e sinalizei para Sara que ele havia chegado. Fiz as
apresentações e, antes que recebesse um beijo na boca, virei o rosto para seus lábios
tocarem minha bochecha.
― Me desculpe, Angélica…
― Mesmo que não tenha ficado claro, você praticamente me expulsou de sua casa ontem!
― dei uma endurecida no discurso.
― Eu não sabia o que fazer…
― Você deu mais ouvido ao seu amigo que a mim!
― Eu o conheço a mais tempo, espero que entenda. Fiquei desconfiado, ainda mais que
nos conhecemos no Tinder.
― Então você achou que eu era uma qualquer interessada em curtição.
― Pelo contrário, eu tinha esperança que você fosse a mulher para a minha vida.
― E não sou mais?
― Se você aceitar meu pedido de desculpas, reconheço que errei…
― Vocês sempre erram…
Não havia notado sua aproximação, o suficiente para suas mãos alcançarem o meu rosto e
seus lábios colarem nos meus. Ainda sentia raiva, principalmente por encontra-lo e reviver
o sentimento de desprezo, quando pegou as chaves e saiu do apartamento sem me dizer
uma palavra.
― Isso não muda nada ― comentei.
― Sabe do que você precisa?
― Do quê?
― Esfriar a cabeça!
Ele se reclinou o suficiente para encostar o ombro em meu quadril, suas mãos seguraram
minhas coxas e suspenderam meu corpo em suas costas. Fiquei de cabeça para baixo, com
a bunda para cima e Rômulo correu em direção à água do mar, todo desengonçado e sem
aquele romantismo de carregar uma mulher no colo.
Não esperava ter meu corpo, aquecido pelo sol, jogado na água fria do mar. Recebi aquele
choque térmico e em seguida seus lábios quentes reaqueceram minha pele. Nossas línguas
se reencontraram por um período maior, senti sua camisa molhada, sem querer toquei em
sua bermuda e lembrei que se jogou com roupa e tudo na água do mar.
― Eu te amo Angélica! Pode parecer precipitado, mas não quero deixa-la sair da minha
vida por conta de uma discussão.
― Não está muito cedo para me amar assim?
― Não para mim.
Ele voltou a me beijar. Mesmo com a água gélida do mar, sua ereção ficou evidente sob a
bermuda, a pulsar próximo ao meu púbis e o saboroso beijo ajudou a manter o corpo
aquecido. Me entregaria a ele se a praia não estivesse cheia de olhares curiosos, mas não
tão cedo assim.
― Venha morar comigo!
― Como? Você está louco?
― Não, não estou. Eu te quero para mim.
Era quase um pedido de casamento. Muito cedo para o pouco tempo que passamos juntos.
Ele justificou que morava mais próximo da faculdade, isso era verdade, se comprometeu a
me deixar na lanchonete toda a manhã, além de me levar e buscar da faculdade. Estava
bom demais para ser verdade, porém eu dividia as despesas do apartamento com Sara e
não a deixaria na mão assim.
― Fora de cogitação morar definitivamente na sua casa. Posso até passar alguns dias lá,
mas mudar não.
― Tudo bem, eu reivindico você de segunda a sexta às noites, de sábado a domingo o dia
inteiro.
― Não ― eu sorri com a graça dele ―, mas algo próximo disso.
Para quem achava que não gostava de praia, Rômulo passou o restante da tarde em nossa
companhia, mesmo todo molhado e sem uma sunga para vestir. O futevôlei encerrou e
notei os olhares surpresos dos jogadores ao verem que eu estava acompanhada.
Aproveitamos a sua carona até minha casa. Sara adiantou os passos e eu permaneci no
carro, aproveitando os minutos finais de domingo.
― Essa é aquela noite que você dorme na sua casa ou na minha? ― ele perguntou.
― Durmo na minha ― respondi com uma vontade de afirmar o contrário.
― Nem para dar um desconto de sua ausência na minha cama essa manhã?
― Querendo ou não, a culpa foi sua e servirá para se lembrar de nossa primeira DR ―
comentei com dó e vontade de aceitar a proposta de dormir em sua casa.
―Eu durmo com você no seu quarto…
― Tá louco? Aqui é um apartamento de garotas! Nenhum homem dorme aqui.
― Então te vejo amanhã no final do dia.
― Sim.
Nos despedimos com aquele beijo sem fim. Quando nossos lábios se desgrudavam
levemente, tornavam a voltar num apetite de nunca mais terminar. Bem que eu quis
reconsiderar sua proposta, mas resisti. O deixei na porta de entrada do edifício e entrei.
24 – Uma noite tranquila
Rômulo
― Que droga de happy hour é esse se não vai beber? ― perguntou Sebastião.
― Já te falei, Angélica vai dormir na minha casa hoje e não quer sentir bafo de cerveja.
― Compra um Mentos ou então um Halls e deixa ela toda refrescante.
― Desculpa, não vai dar.
― Mas que droga! Comer um tira-gosto sem cerveja é a pior coisa que existe.
― Você pode beber…
― E ser o único a falar besteiras aqui? Definitivamente não.
Deu para entender a punição. Passei a segunda e terça-feira aos beijos e amassos quentes,
o suficiente para ficar louco de tesão, doido para transar com Angélica e na quarta-feira
ela concordou em dormir na minha casa, mas impôs a condição que não poderia ingerir
bebida alcóolica. Um castigo que me afetou diretamente e, indiretamente, Sebastião.
Como meu amigo não fazia meu tipo, tampouco possuía a mesma atração que sentia por
Amora, optei pela restrição na bebida a ficar sem uma boa noite de sexo ao lado da mulher
que amava.
Definitivamente, a nossa discussão de sábado ficou no passado, claro que em algum
momento se tornaria motivo para gozação, mas não nessa noite de quarta-feira.
― E você com Glenda? ― perguntei.
― Sabe quando você acha a mulher certa para a sua vida?
― Sempre acho isso.
― É verdade, você não é um bom exemplo para falar de amor. Mas enfim, eu e Glenda
estamos muito bem e ela já insinuou que quer morar comigo.
― Sério, cara? Que maravilha!
― Na verdade, ela já ocupou um espaço no meu guarda-roupas e passa mais dias comigo
do que na casa dela.
― Para aceitar um homem como você, só uma louca mesmo, mas estou feliz por vocês
dois.
― Até que estou mais quieto com os lances de sair aqui e ali…
― O que aconteceu com o velho Sebas? ― o interrompi.
― Ela me completa em tudo e quando pinta a vontade de fazer uma loucura, fazemos, mas
ultimamente temos ficado só entre nós mesmo.
― Interessante!
Ouvi mais alguns relatos apaixonados, ao estilo de Sebastião, sobre seu romance com
Glenda.
De fato, foi horrível ficar apenas no tira-gosto e refrigerante numa noite de quarta-feira, ao
menos eu teria a minha recompensa e ela veio depois das 22:00h.
― Hum, pelo visto você obedeceu, direitinho! ― disse Angélica, após conferir meu
cheiro e hálito.
― Não faria nada que fosse para te desagradar.
― Nada?
― Nada!
― Se eu quiser transar com você no meio de uma praça, faria isso por mim?
― Você está até com saia, seria um prazer.
― E depois, quando chegássemos em sua casa, me chuparia até eu gozar.
― Até você empurrar minha cabeça, implorando para parar.
― Dorme de conchinha comigo?
― E ao acordar, te pegarei de jeito, bem de ladinho com o seu requebrado gostoso.
Senti a maldade e veracidade de nossa conversa ao beijá-la, deslizei minhas mãos em suas
pernas e conferi que, por debaixo da saia, não vestia calcinha.
Já havíamos treinado algo parecido, ao menos foi uma simulação, não deveria ser
diferente num local público. Conhecia algumas praças no caminho para casa e estacionei
próximo de uma que transmitia segurança, além de ser pouco movimentada.
Olhei para Amora e com um beijo tive a certeza que ela queria isso mesmo. Caminhamos
até um banco, sombreado pela copa de uma árvore e oferecendo baixa iluminação para
realizarmos nossa fantasia.
Senti uma vontade de devorá-la sem pudor, sem me importar com qualquer pessoa que
passasse perto. Os beijos contribuíram para isso e Angélica demonstrou o que queria ao
deslizar sua perna sobre a minha, foi o caminho para movimentar o restante de seu corpo
sobre o meu colo.
A saia possuía comprimento suficiente para cobrir suas pernas e não mostrar seu sexo.
Aproveitei a posição e, com discrição, desabotoei minha calça. Sua lubrificação se
mostrou intensa, a ponto de deixar tudo umedecido.
Dada a proximidade, ela roçou seu busto no meu, senti o volume dos seios como se
implorassem para serem sugados. Deslizei minhas mãos em suas costas, desabotoei o sutiã
e ajeitei o bojo para que, em conjunto com o decote de sua camisa, pudesse, ao menos,
saborear um dos mamilos.
Com discrição, tirei a camisinha do bolso e ajeitei sob a saia. Ela nem esperou, ajeitou seu
quadril e fez com que meu pau deslizasse para dentro de si. Os movimentos suaves não
foram estimulantes para gozar rápido, mas a excitação de estar num local público manteve
a excitação.
Com Amora ocorreu o contrário, seus dentes quase arrancaram meus lábios, suas mãos
seguraram firmes em minhas costas e suaves gemidos foram emitidos.
Uma mulher, guiando seu cachorro, caminhou em nossa direção, notou o que acontecia
entre nós a poucos metros e cogitou mudar de direção.
Amora estava focada no movimento de quadril, emitindo baixos gemidos e sugando meus
lábios, quem nem percebeu a aproximação de uma estranha. Bem que a mulher quis
apressar os passos, disfarçou o olhar para o outro lado, porém o cachorro sentiu um cheiro
diferente, provavelmente de nossos fluidos, e insistiu em se aproximar.
Essa tensão de ser observado me deixou mais excitado e provocou aquela sensação
gostosa de estar próximo do gozo. Quis sinalizar a ela, mas sua concentração estava tal
como num mantra, aquele vai e vem contínuo, num estado meditativo, por vezes seguido
de arrepios e leves espasmos.
O gozo estava próximo de explodir, mesmo com o movimento cadenciado. A vi com os
olhos cerrados, sua expressão era de alguém que também estava perto de gozar, mas não
resisti, o jato saiu e preencheu a camisinha, fazendo com que meu corpo descompassasse
do dela.
Seu sorriso veio em seguida, satisfeita por me ver gozar, um longo e molhado beijo
encerrou o nosso momento exibicionista, mesmo não alcançando o seu clímax.
― Agora você deve cumprir a segunda parte ― disse ela.
Os fluidos liberados de seu sexo deixaram uma mancha esbranquiçada em minha calça.
Como estávamos no final de noite, não importei com o vexame de caminhar até o carro,
exibindo os vestígios que fizemos sexo.
Quinze minutos dirigindo foram o suficiente para retomar minha excitação, no
estacionamento do edifício eu quis repetir a dose de exibicionismo, mas ela se recusou.
Subimos até o meu apartamento e durante o banho realizamos um pré-aquecimento do que
ocorreria na cama.
Após enxugar o corpo, Angélica caminhou nua até o quarto, sentou na beira da cama,
recuou o corpo para que pudesse apoiar os pés no colchão e ficou com as pernas abertas,
expondo seu sexo para ser apreciado e, em seguida, saboreado.
Seus dedos estimularam o clitóris enquanto caminhava em sua direção, beijei sua boca e
encostei meu pau em sua entrada, o qual deslizaria fácil, dada a lubrificação constante em
seu sexo.
Desci meus lábios pelo seu pescoço, dediquei atenção especial aos seus mamilos, extraí
arrepios e espasmos ao passar por sua barriga e substituí seu dedo por minha língua. Sua
estimulação anterior foi o bastante para que poucas passadas de meus lábios sugando seu
clitóris extraíssem o orgasmo.
Seu corpo cedeu ao colchão e suas pernas se uniram, virando para o lado direito da cama.
Vi seu sexo lubrificado, apertado por conta da posição e não hesitei em encostar a cabeça
para curtir a sensação de estimulá-la com o pênis. Ela se contorceu e, num movimento,
deslizei para dentro de si, sem proteção alguma.
Vi meu pau lambuzado por seus fluidos e não resisti, encostei mais uma vez e fui até o
final. Seu gemido, como se o orgasmo prosseguisse, foi maior e trouxe consigo
movimentos involuntários do corpo. Quis avisá-la, que estávamos sem proteção, mas o
encontro de nossas peles, sem um látex impedindo o atrito, estava delicioso.
Não resisti à essa sensação e quase esqueci que estava sem camisinha, mas consegui tirar a
tempo e um jato cobriu parte de sua bunda e se estendeu até próximo de suas costelas.
Esperei pelo seu olhar de surpresa. Angélica voltou a se sentar na beira da cama, puxou
meu corpo para si e me beijou. Cheguei a imaginar que continuaríamos e até faria o
esforço para manter minha ereção, porém, Angélica se levantou segundos depois e foi
limpar o meu gozo de seu corpo.
Estava tarde, passava da meia noite e, por mais que tivéssemos disposição para
continuarmos transando, nossos corpos demonstraram o contrário. Deitamos na cama,
fizemos juras de amor, planejamentos para o fim de semana e adormecemos, com nossos
corpos colados, como ela havia sugerido.
25 – A apresentação final
Antes eu considerava que teria sorte no trabalho, e me esforcei ao máximo para obter êxito
nesse quesito, mesmo com os contratempos de trabalhar numa lanchonete e ciente que não
seria uma apresentadora de telejornal. Em compensação, o destino definiu que eu teria
azar no amor e me envolveria em relacionamentos mentirosos.
Mas quando a sorte decidiu mudar de lado e me abençoou com Rômulo, custei a ficar
temerosa com a questão profissional. Por dois finais de semana não me preocupei com o
trabalho acadêmico, joguei tudo para o alto e vivi dias de intenso amor.
Assim que acabava a aula de sexta-feira e seguia em direção ao apartamento de Rômulo,
me reclusava em seu lar, ao ponto de sair apenas para comprar mantimentos e aproveitava
ao máximo o sábado e domingo ao seu lado.
Quase me vi uma praticante do naturismo durante esses dias. Dormia e despertava nua,
caminhava pelo apartamento com pouca roupa e sentia isso como algo normal, embora
ativasse em Rômulo um desejo de me possuir a quase todo instante.
Não vivemos apenas de sexo, é claro, tivemos a oportunidade de fazer um curso intensivo
para conhecer melhor o outro. Encontramos pontos em comum e os que divergiam eram
até interessantes. Ele não curtia que deixasse furos na manteiga com a faca, deveria apenas
raspar a parte superior, e só descobri isso quando acordei com fome e preparei um ovo
frito para mim.
Algo que me incomodou nele foi a falta de arrumação ao chegar em casa. A sala
permanecia impecável, no entanto, por conta do hábito de homem solteiro, seu guarda-
roupas era uma bagunça, me assustei com camisa misturada com cueca e short, não sabia
como ele se encontrava em suas prateleiras.
Descobri que ele chorava em filmes românticos e sentimentais, dramas também, e
encontrei um parceiro para compartilhar o lenço nesses momentos emotivos.
Disputávamos a pipoca nas cenas de tensão e o último gole do refrigerante sempre
acabava quando ele bebia.
Dividimos tarefas em casa, ele cozinhava, preparava o café e a janta, enquanto eu lavava
os pratos. Arrumávamos a sala juntos, ao menos tentava, pois, o aspirador parava no
corredor e acabávamos fazendo sexo em algum canto, a definir pela excitação do instante.
Experimentamos o sofá, a cadeira da mesa de estar, o chão, de pé próximo à janela e na
porta da cozinha.
Dedicamos atenção especial ao quarto, era difícil manter o lençol esticado sem os nossos
corpos abarrotando-o. A cama se tornou o nosso lugar de descanso, de amor, de
brincadeira e provocações. Bastava encostar no tecido que eu sentia o nosso cheiro nele e
Rômulo aproveitava para se deliciar em meu corpo.
Os dias na faculdade seguiram tranquilos, não tive avaliação ou atividades que
demandassem tempo, mas na terceira semana, faltando quinze dias para a conclusão do
trabalho, o professor alertou a turma e percebi que abandonei por completo minhas metas.
― O que houve meu amor? ― perguntou Rômulo, ao me buscar na faculdade.
― O trabalho sobre as redes sociais, lembra dele?
― Sim, o que promoveu o nosso encontro.
― Deixei-o em segundo plano e agora preciso correr contra o tempo.
― Pensei que estivesse fazendo durante a semana.
― Pois é, não fiz e agora estou ferrada.
― No que precisar de mim, estou às ordens.
― Seria muito bom se você me buscasse todos os dias…
― Você pode dormir lá em casa também, prometo que não irei tirar sua atenção.
A proposta era interessante, dormindo na casa de Rômulo eu economizaria trinta minutos
de deslocamento e aproveitaria para tirar o atraso no meu trabalho. Fiquei receosa, mas
decidi arriscar e na terça-feira me mudei temporariamente para seu apartamento.
Tive certeza que estava com sorte no amor. Assim que cheguei, pensei que dividiria com
ele a preparação da janta, mas não, ele cuidou de tudo enquanto fui tomar banho. Depois
me debrucei no computador e recomecei o trabalho do ponto onde havia parado.
― Venha dormir, senão você vai acordar com dores no corpo.
Eu estava sonolenta, o bastante para não perceber que adormeci sobre minhas anotações
nesse dia. Não tive condições de responder, quanto mais de levantar a cabeça, Rômulo me
carregou até a cama e cobriu meu corpo com o lençol. Despertei na manhã seguinte e não
o encontrei ao meu lado, observei as horas e me assustei porque o despertador não tocou.
― Bom dia! ― disse ele ― Eu desliguei seu despertador antes que tocasse, vim preparar
o café e acordaria você assim que estivesse pronto. Ontem você ficou até tarde
trabalhando que preferi deixa-la dormir por mais alguns minutos.
― Obrigada por cuidar de mim.
― Sei que depende de você para terminar esse trabalho e no que puder lhe dar suporte, eu
darei.
― Você está sendo incrível!
― Sei que depois de tudo isso terei minha Amora de volta.
Pensei que homens assim só existiam em sonhos, romances românticos e pouquíssimas
novelas. Foi quando despertei para a questão de a sorte ter invertido a polaridade e todo o
meu esforço de pesquisar e elaborar uma matéria não valesse nada.
Esse temor impediu que relaxasse nos dias seguintes, a cada conjunto de quatro parágrafos
escritos eu retornava e revisava, fiquei com a sensação que não estava bom o suficiente.
Fui dominada pela insegurança e, por mais que Rômulo ajudasse, não quis transmitir essa
sensação para ele.
O foco e a preocupação foi tanta, que virei a noite de sexta para sábado acordada.
― Preparo um café forte ou algo que te faça relaxar? ― perguntou Rômulo, ao me ver na
sala durante a manhã de sábado.
― Não sei se há algo que me faça relaxar.
― Nem eu consigo?
Suas mãos repousaram sobre meu ombro e senti como se tivesse levado um choque, seus
dedos buscaram os pontos mais tensos em meus músculos e seguiram para o pescoço, o
qual acabou envolvido pelas suas mãos, com o polegar dedicando atenção especial em
movimentos circulares na nuca.
Senti um relaxamento a princípio, em seguida os toques adquiriram um aspecto mais
sensual. Sexy, melhor dizendo. Fiquei surpresa ao ficar lubrificada e com os mamilos
intumescidos.
Não dava para vê-lo, por isso meu corpo se arrepiou e explodiu de excitação ao sentir seus
lábios tocando meu lóbulo. Virei o rosto para encontrar sua boca, mas ele recuou e
retomou sua massagem, dessa vez percorrendo seus dedos pela cervical. Essa sensação
gostosa de relaxamento combinou com a sua reaproximação e o toque de seus lábios no
meu pescoço.
Tirei a camisa para sentir o toque de suas mãos em minha pele e a massagem sofreu um
desvio com o propósito de dedicar atenção especial nos meus seios. Em conjunto com o
toque, sua língua percorreu meu pescoço e encontrou meus lábios.
Os dedos desceram mais e conferiram meu sexo umedecido, o clitóris foi levemente
massageado, quando, enfim, ele puxou a cadeira para fora da mesa e se ajoelhou diante de
mim. Meus mamilos foram sugados e em seguida seus lábios desceram pelo caminho de
costume. Permiti que ele degustasse o mel que escorria de meu corpo, sendo a sua
primeira refeição desta manhã.
Segurei firme em seus cabelos, apoiei minhas pernas em seus ombros e suas mãos
dedicaram atenção especial aos meus seios. Foi uma chupada suave, sua língua subia e
descia, em seguida fazia movimentos circulares, retornava para a minha entrada e
realizava, em conjunto com os lábios, uma leve sucção.
O orgasmo veio arrebatador, um complemento da massagem que acabara de receber. Ele
então se ajoelhou diante de mim, abaixou sua cueca e me penetrou. Foram estocadas
rápidas, as quais forçaram minhas costas contra a cadeira, suas mãos seguraram e
apoiaram a minha bunda e o movimento de vai e vem prolongou a sensação do orgasmo.
Ele gozou rápido, seu jato foi lançado próximo de meu umbigo e desceu para a região
pubiana. O beijei satisfeita, relaxada e disposta a retomar meu trabalho.
Mas fui preenchida por uma sensação de corpo mole, complementada pela água quente
que caía do chuveiro em minha pele. Saí do banho enrolada na toalha e recostei na cama
para aguardar a chamada para o café.

∞ ∞ ∞

Abri os olhos e despertei como se houvesse passado apenas quinze minutos de soneca.
Levantei da cama e encontrei Rômulo sentado à mesa, lendo minhas anotações.
― E o café? ― perguntei.
― Almoço, você quer dizer.
― Almoço?
― Sim, você caiu num sono profundo que não consegui fazê-la despertar.
― Meu Deus! Estou fodida com o prazo e você me deixou dormir!
― Calma, meu amor. Vai dar tudo certo.
― Tudo certo? Estou atrasada no meu planejamento e não sei se o que estou escrevendo
está bom.
― Está tudo ótimo!
― Não há como você afirmar isso.
― Há sim! Você é uma mulher organizada e esses apontamentos aqui estão excelentes, dá
até para utilizá-los assim, como recortes de sua matéria.
― Sem querer você me deu uma ideia!
Sim, eu não havia pensado em abordar um aspecto visual que pudesse destacar quotes na
minha matéria, a qual seria em formato simples como visto na maioria dos jornais. Voltei a
me debruçar no trabalho e Rômulo se dedicou a preparar o almoço.
Os demais dias seguiram assim, com a tensão em preparar algo muito bom para ser
apresentado e lido, e Rômulo oferecendo apoio e proporcionando momentos de
relaxamento semelhantes ao que tive na manhã de sábado.
Assim que concluí a matéria e ele foi o primeiro a ler. Sabia que poderia abrir espaço para
discussão, mas foi um pedido pessoal e, após cuidar bem de mim num período em que
fiquei desesperada para terminar esse trabalho, nada mais justo que deixa-lo ler.
Fiquei atenta ao movimento de seus olhos e expressão facial. Mesmo não fazendo parte da
estatística, pude presumir o que passou pela sua cabeça, a exemplo de se questionar o
quanto de informações sobre homens ansiosos por uma transa casual quiseram me
encontrar e isso estava evidente nos quotes em destaque da matéria.
― Sei que você deve ter lido partes das conversas que mencionei, mas…
― Às vezes bate um desespero, não sei explicar ao certo, seria mais uma aflição saber que
você conversou com esses homens ― ele me interrompeu.
― Nem tudo se resume a uma boa foda.
― Se eu não fosse bom de cama, mesmo assim estaria comigo?
― Não é bem isso ― o vi mudar novamente de expressão ―, é diferente quando se
descobre o que há por trás desses encontros. Se minha vontade fosse a mesma, de curtir e
aproveitar a quantidade de homens que surgissem à minha frente, beleza! Mas não era esse
o objetivo.
― Sei que faz parte de sua profissão essa investigação, mas fiquei nervoso ao ler esse
retrato de nós homens.
― Ficou ruim?
― Não, ficou ótimo, embora tenha provocado um mal-estar! Senti orgulho por conhecer a
mulher que escreveu essa matéria, mesmo sendo algo que ficará restrito à faculdade.
― Só por conhecer?
― Imagine se minha admiração por boas jornalistas extrapolar a vontade de conhece-
las…
― Entendi sua insinuação.
Percebi que estava pronto o meu trabalho, mesmo que o aval de Rômulo não fosse
fundamentado em conhecimentos técnicos, mas foi o suficiente para me sentir bem.

∞ ∞ ∞

Na faculdade, concluí o processo de editoração e diagramação, o qual foi inserido num
formato impresso de revista, que seria distribuída pelo curso de jornalismo na última
semana do semestre, a mesma que faríamos a apresentação. Todos tiveram que passar por
este processo.
Foi uma semana tensa, na sala de aula foi organizada uma bancada avaliadora, composta
de professores do projeto interdisciplinar, e cadeiras dispostas em forma de plateia para os
colegas e curiosos sentarem.
Dei o melhor de mim quando chegou a hora de apresentar. Os painéis ficaram lindos e,
antes de iniciar, meus colegas fizeram questão de ler os quotes deixados em evidência,
ficaram curiosos e abriram a revista na página de minha matéria.
Nos slides, havia apenas um resumo, tópicos importantes de cada trecho do resultado da
pesquisa e o destaque ficou com o meu domínio no assunto, apresentei os detalhes e me vi
como uma apresentadora de telejornal, apontando e explicando os resultados num painel
digital e no final abri espaço para perguntas.
― Angélica, estamos pensando em selecionar algumas dessas matérias para serem
publicadas oficialmente e gostaríamos de saber se você tem interesse? ― perguntou o
professor ao final de minha apresentação.
― Quem não possui interesse de estrear uma matéria? ― perguntei.
― Então sua resposta é um sim?
Concordei balançando a cabeça. Só em ouvir que meu trabalho poderia ser publicado
numa revista oficial me deixou esperançosa que o resultado na avaliação seria positivo, o
que era mais importante para mim no momento.
Meu final de semana foi tenso. Rômulo bem que tentou aliviar minha preocupação com
sua deliciosa massagem, seguida de um bom momento de sexo. Fomos ao cinema e o
clima não foi favorável para uma praia, senão eu teria relaxado oficialmente com um belo
banho de sol e de mar.
Na segunda-feira saiu o resultado, obtive a nota máxima em todas as disciplinas que
faziam parte deste projeto. Saí da faculdade realizada, me sentindo vitoriosa. Toda a
superstição de sorte no amor e azar na profissão se desfez com a minha vitória nesse
semestre.
Saí para comemorar na companhia de Rômulo. Por ser um dia especial, ele me levou para
um motel, com direito a jantar especial, banho de sais e sexo bem prazeroso. Não tive
dúvidas de que ele era o homem perfeito para a minha vida.
No meio da semana recebi uma ligação da principal revista de circulação nacional, eles
gostaram da minha matéria e fizeram uma oferta generosa para publicá-la na edição da
próxima semana. Não acreditei quando vi o valor que me passaram, era um simples
trabalho acadêmico para receber tamanha importância.
Então minha vida mudou de vez, pois a repercussão positiva dessa matéria garantiu um
estágio na mesma revista e precisei abandonar o emprego na lanchonete. Rômulo me
apoiou em todas as decisões e não haveria alguém melhor para compartilhar minhas
vitórias.
Sim, ele que surgiu num lugar onde jamais imaginaria encontra-lo, provou que eu poderia
ter sorte e transformou por completo a minha vida.

―Fim―
Sobre o autor
E. C. H. Freitas é um autor soteropolitano nascido em março de 1979. Sua maior
predominância é na produção de romances com uma boa dose de verossimilhança e suas
iniciais na assinatura servem para caracterizar as publicações do gênero hot.
A inspiração pela escrita se iniciou na adolescência, em 1996, quando conquistou sua
musa inspiradora e não mais a abandonou. Seu processo criativo foi interrompido em 1998
e retomou a escrita em 2014, quando uma história não desgrudou de seus pensamentos.
Desde então não mais parou com a produção de novas obras.
Deliciosas Amoras é seu quarto romance erótico publicado na Amazon. Suas obras
anteriores (do gênero hot) são:
Quando Todos São de Marte
À Procura de um Amor Veneziano
O Resort
Todas as publicações estão disponíveis na Amazon e podem ser lidas no Kindle
Unlimited.
Em quantidade menor, o autor também produz contos eróticos e participou de duas
antologias, uma da editora Hope, denominada Contos Para Gozar Sozinha, organizadas
pelas autoras Luísa Aranha e Mari Monni; e Segredos de Luxúria, pela Rico Editora,
também organizada pelas autoras Luísa Aranha e Mari Monni.
Caso queira entrar em contato com o autor, envie e-mail para echf_ba@hotmail.com
Você também pode encontra-lo no Instagram, basta seguir @echfreitas
Sumário
1 – Início de tudo
2 - Amora
3 - Retomando as redes sociais
4 - Pesquisa acadêmica
5 - Primeiro contato
6 – Despertando a curiosidade
7 – Redirecionando
8 – A revelação
9 - Definições
10 – Primeiro contato
11 – Cortando o laço
12 – Sonhando também
13 – A oportunidade se foi
14 – Irrefutável
15 – Momento de loucura
16 – Passa logo, semana!
17 – Doce encontro
18 – Fim de semana mágico
19 - Sereníssimo
20 – Provando do próprio veneno
21 – Colocando em pratos limpos
22 – Equívocos
23 – Pedido de desculpas
24 – Uma noite tranquila
25 – A apresentação final
Sobre o autor

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