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Contagem
2019
Lísia Caldeira Bahia Lima
Contagem
2019
Lísia Caldeira Bahia Lima
Àqueles que contribuíram para a realização deste trabalho, fica expressa aqui
a minha gratidão, especialmente:
Aos meus pais, Maria Emília e Odelino, pelo amor incondicional e por sempre
confiarem em mim e me apoiarem em todas as minhas decisões e etapas da minha
vida.
The Jury's Court is extremely important for a democracy, through which the country
has an active voice in the trials of intentional crimes against life, being a paradigm of
participation of the people in the democratic construction in the construction of
justice. It is believed, therefore, an institution of law and a government authority,
being a democratic institution, and the judiciary lacks the participation of the citizen.
Thus, the present work will present the first plan of the study and the analysis of the
Institute of the Court of the Jury with respect to its origin and its history, as well as the
current process of the institution, as well as the role of jurors. An analysis of the
principles that governs the Jury's Court, based on the decision on the Federal
Constitution of 1988, will be carried out. Next, a search for a democracy and how it
can be inserted in the procedure of the Court of the Jury, before the Democratic
State of Law and its fundamental foundations. Subsequently, it is the problem of the
Jury's Court with the lack of reasoning of the decisions on the Constitution of 1988,
setting out its own bases on the subject.
Art. Artigo
CF/88 Constituição Federal de 1988
CPC Código de Processo Civil
CPP Código Processo Penal
STF Supremo Tribunal Federal
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 19
6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 77
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 79
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1 INTRODUÇÃO
burocráticos dos processos judiciais em geral. A solenidade do júri começa aí, com a
participação popular e toda a mística que essa participação envolve (MACHADO,
2014).
Aos juízes leigos incumbe decidir acerca das questões fáticas, enquanto que
ao juiz togado, presidente do Conselho de Sentença, compete aplicar o direito.
Dessa maneira, diversos autores acreditam que tal separação de atribuições, no
entanto, parece não ter uma base lógica ou científica muito sólida, pois jamais
poderá se dizer que o direito se separa do fato (MACHADO, 2014).
Destarte, reconhece que não é correta essa afirmação de que os jurados
julgam o fato e o juiz-presidente aplica a lei de acordo com essa decisão
(MACHADO, 2014).
Ressaltando que os jurados também se pronunciam sobre conceitos
normativos e propõe que o melhor seria dizer, segundo Greco Filho (1997) apud
Machado (2014, p. 282) que “os jurados decidem sobre a existência do crime e a
autoria, e o juiz-presidente aplica a pena ou medida de segurança ou proclama
absolvição”. Nestes termos, acredita Machado (2014), que o melhor seria dizer que:
Supõe-se que o júri é uma instituição bastante polêmica e talvez seja o órgão
judicial que desperte as maiores. Assim, são numerosos seus defensores e
adversários, ambos os lados com argumentos respeitáveis, porém, nenhum deles
com a intenção de triunfar sobre o outro. Aparenta de tal maneira que a discussão e
a polêmica compõem a própria essência do júri, já́ que a finalidade dessa instituição
destacada pontualmente com a realização do direito por meio do debate e do
confronto dialético das ideias (MACHADO, 2014).
Mesmo considerado polêmico, defendido e detratado, Machado (2014)
defende que algo é nítido a certa do Tribunal do Júri:
Dessa forma, é importante salientar que existem várias correntes que versam
sobre o surgimento do instituto. Sendo assim, Rangel (2018) acredita sobre o
nascimento do Tribunal do Júri:
Outros lembram ainda que essa época se caracterizava por uma forte
influência religiosa e que o Concilio de Latrão, também em 1215, teria por
um lado abolido as ordálias de Deus e, por outro, inspirado a instituição do
júri como expressão de ritos e dogmas religiosos aplicados aos julgamentos
como meio de se alcançar a graça divina da verdade. A criação do Tribunal
do Júri com o número de 12 jurados, representados pelos homens de
consciência pura, não seria outra coisa senão a crença de que essa pureza
pudesse propiciar a visita do Espirito Santo, a exemplo do que ocorreu com
a reunião dos 12 apóstolos na célebre passagem bíblica. (MACHADO,
2014, p. 286).
Assim, Machado (2014, p. 287) afirma que o artigo (art.) 152 da Constituição
Imperial ainda trazia determinada previsão: “os jurados pronunciam sobre o fato e os
juízes aplicam a lei”.
27
Ocorre que, por esta última redação, mencionou-se somente que “é mantida
a instituição do júri, que terá competência no julgamento dos crimes dolosos
contra a vida”. Não se falou em soberania, sigilo das votações ou plenitude
de defesa, fixando-se, claramente, a sua competência somente para os
crimes dolosos contra a vida. (NUCCI, 2016a, p. 438).
Por isso, antes que um processo seja oferecido à avaliação dos juízes
leigos, há o crivo do magistrado togado. Este, por sua vez, tem a importante
missão de filtrar os casos onde existem provas mínimas para que o Júri se
reúna decidindo a sorte do acusado, separando os outros, em que fica
evidente a carência de provas, devendo ser encerrada a instrução, até que
novas provas surjam, se for o caso. (NUCCI, 2016a, p. 440).
Após essa fase instrumental, atinge a fase peculiar prevista nos artigos. 413 a
419 do Código de Processo Penal (CPP). Encerrada a fase instrutória e as
alegações finais, o juiz proferirá decisão de pronúncia, impronúncia, desclassificação
ou sentença absolvendo sumariamente o réu, como previsto nos artigos.
A decisão de pronúncia, conforme elucida Nucci (2016, p. 442) “é a decisão
interlocutória mista, que julga admissível a acusação, remetendo o caso à
apreciação do Tribunal do Júri”. Dessa maneira, entende a doutrina majoritária que
esta decisão é de natureza mista, pois com essa decisão se encerra a fase de
formação de culpa com a instauração da fase de preparação do plenário do júri.
Sobre a impronúncia, por sua vez, Nucci (2016a) define:
segunda, sem haver juízo de mérito (art. 414, CPP). Assim, inexistindo
prova da materialidade do crime ou não havendo indícios suficientes de
autoria, deve o magistrado impronunciar o réu, significando julgar
improcedente a denúncia ou queixa e não a pretensão punitiva do Estado.
Desse modo, se, porventura, novas provas advierem, outro processo pode
instalar-se. (NUCCI, 2016a, p. 446).
1
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização
judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. § 1º Compete ao Tribunal do Júri o
julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126
e 127 do Código Penal, consumados ou tentados. (Redação dada pela Lei nº 263, de 23.2.1948)
(BRASIL, 1941).
2
Art. 421. Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão ncaminhados ao juiz presidente do
Tribunal do Júri. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008). § 1o Ainda que preclusa a decisão de
pronúncia, havendo circunstância superveniente que altere a classificação do crime, o juiz
ordenará a remessa dos autos ao Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008) .§ 2o
33
Nucci (2016a) pontifica que com o advento da Lei nº 11.689/2008 houve uma
inovação recursal, onde obriga o magistrado elaborar relatório do processo, que será
entregue em cópia a cada um dos jurados componentes do Conselho de Sentença.
Dessa forma, esclarece:
Em seguida, os autos serão conclusos ao juiz para decisão. (Incluído pela Lei nº 11.689, de 2008)
(BRASIL, 1941).
34
3
Art. 431. Estando o processo em ordem, o juiz presidente mandará intimar as partes, o ofendido,
se for possível, as testemunhas e os peritos, quando houver requerimento, para a sessão de
instrução e julgamento, observando, no que couber, o disposto no art. 420 deste Código. (Redação
dada pela Lei nº 11.689, de 2008). (BRASIL, 1941).
4
Art. 435. Serão afixados na porta do edifício do Tribunal do Júri a relação dos jurados convocados,
os nomes do acusado e dos procuradores das partes, além do dia, hora e local das sessões de
instrução e julgamento. (Redação dada pela Lei nº 11.689, de 2008). (BRASIL, 1941).
35
De acordo com o art. 447 do CPP, o Tribunal do Júri é composto por 1 (um)
juiz togado, seu presidente, e por 25 (vinte e cinco) jurados que serão
sorteados dentre os alistados, 7 (sete) dos quais constituirão o Conselho de
Sentença em cada sessão de julgamento. Apesar de tomarem parte nos
trabalhos, o Ministério Público e o defensor não compõem o Tribunal do
Júri. (LIMA, 2016, p. 1386).
Greco Filho (2012) esclarece em sua doutrina que desde o início e até seu fim
regem a sessão do Tribunal do Júri, os princípios da concentração e da
incomunicabilidade:
5
§ 5o Sustentada a tese de ocorrência do crime na sua forma tentada ou havendo divergência sobre
a tipificação do delito, sendo este da competência do Tribunal do Júri, o juiz formulará quesito
acerca destas questões, para ser respondido após o segundo quesito. (Incluído pela Lei nº 11.689,
de 2008) . (BRASIL, 1941).
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Figueiras (2008) apud Souza (2013) discorre que a atual forma de seleção
dos jurados tem como fonte o Código de Processo Penal de 1941, no qual traz a
marca da ditadura da Era Vargas. Desde então, consta apenas um registro de
mudança, trazido pela Lei nº 11.689/08, a qual representou tímidos avanços no que
diz respeito ao assunto. Dessa forma, ensina sobre o significado da participação
popular na produção das decisões judiciais.
não se pode deixar de examinar a forma de escolha dos jurados, algo que,
por si só, consiste em um ritual rigoroso. Entre nós, anualmente serão
alistados pelo juiz-presidente do Tribunal do Júri, sob sua responsabilidade
e mediante escolha por conhecimento pessoal e informação fidedigna.
(FERNANDES, 2007 apud SOUZA, 2012, p. 75).
O Código de Processo Penal sistematiza ainda que a lista geral dos jurados,
com indicação das respectivas profissões, será publicada pela imprensa até o dia 10
de outubro de cada ano e divulgada em editais afixados à porta do Tribunal do Júri e
poderão sofrer alterações de ofício ou mediante reclamação de qualquer do povo ao
juiz presidente até o dia 10 de novembro, data de sua publicação definitiva. Os
nomes e endereços dos alistados, em cartões iguais, após serem verificados na
presença do Ministério Público, de advogado indicado pela Seção local da Ordem
dos Advogados do Brasil e de defensor indicado pelas Defensorias Públicas
competentes, permanecerão guardados e fechados a chave, sob a responsabilidade
do juiz presidente.
Segundo o § 4º do artigo 426 do CPP, o jurado que tiver integrado o Conselho
de Sentença nos 12 (doze) meses que antecederem à publicação da lista geral fica
dela excluído. Vale salientar que anualmente a lista geral dos jurados será,
obrigatoriamente, completada.
O artigo 439 do Código de Processo Penal explicita que o exercício efetivo da
função de jurado constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção de
idoneidade moral. Nucci (2016a) acredita que além de serviço público relevante, o
júri é essencial para a formação do devido processo legal daqueles que são
acusados da prática de crimes dolosos contra a vida, sendo natural a
obrigatoriedade da participação de qualquer brasileiro, respeitados alguns requisitos.
Segundo Souza (2013) “a nossa legislação ordinária estabelece apenas três
critérios para seleção dos jurados: idade acima de 18 anos, condição de cidadão e
notória idoneidade”. Dessa maneira, se faz de grande relevância salientar que o
serviço do júri é obrigatório e o alistamento compreenderá os cidadãos maiores de
18 (dezoito) anos de notória idoneidade.
Nenhum cidadão pode ser excluso dos trabalhos do júri ou deixar de ser
alistado em razão de cor, etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou
econômica, origem ou grau de instrução, por base no caput do artigo 436 e do seu
§1º. Dessa forma, acentua-se o artigo 439 c/c com o § 2º do artigo 436, que
determina a obrigatoriedade do serviço de jurado, no qual a recusa injustificada ao
serviço poderá acarretar multa entre 1 (um) e 10 (dez) salários mínimos, sendo
determinados a critério do juiz e observada a condição econômica do recusando.
Após a organização da pauta de julgamento nos moldes dos artigos 429 a
431 do CPP, haverá o sorteio e a convocação dos jurados pelo juiz presidente (art.
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Importante destacar que conforme o §1º do artigo 466 que o juiz presidente
também advertirá os jurados de que, uma vez sorteados, não poderão comunicar-se
entre si e com outrem, nem manifestar sua opinião sobre o processo, sob pena de
exclusão do Conselho e multa. Dessa forma, Nucci (2016) ensina que logicamente,
sobre fatos desvinculados do feito podem os jurados conversar, desde que não seja
durante a sessão, pois neste momento não se busca a mudez dos juízes leigos, mas
a preservação da sua íntima convicção. A troca de ideias sobre os fatos
relacionados ao processo poderia influenciar o julgamento, fazendo com que o
jurado pendesse para um ou outro lado, sendo assim:
jurados cada uma e motivadamente, quantas vezes o fundamento ser acolhido pelo
juiz presidente.
Segundo o artigo 468 do CPP, à medida que as cédulas forem sendo
retiradas da urna, o juiz presidente as lerá, em seguida a defesa e depois dela, o
Ministério Público poderão recusar os jurados sorteados, até 3 (três) cada parte,
sem motivar a recusa. Assim o jurado recusado imotivadamente por qualquer das
partes será excluído daquela sessão de instrução e julgamento, prosseguindo-se o
sorteio para a composição do Conselho de Sentença com os jurados
remanescentes.
Dessa forma, Nucci (2016b) leciona que para a formação do Conselho de
Sentença, haverá duas possibilidades de recusa do jurado, formuladas por qualquer
das partes.
Nucci (2016b) informa ainda que como regra, assim se procede por acreditar
que determinado jurado pode julgar de forma equivocada, permitindo emergir seus
preconceitos e sua visão pessoal a respeito dos fatos, mas nada existe de científico
comprovando que este ou aquele jurado, por sua profissão, qualidade de vida ou
formação intelectual ou moral, possa dar veredicto incorreto, em desacordo com a
prova dos autos. Assim, Nucci acredita sobre a recusa imotivada que:
Sendo assim, Nucci (2016b) completa o seu raciocínio explanando que não
existe possibilidade de se questionar os membros do Tribunal do Júri antes do
sorteio, sendo o melhor a se fazer, dar às partes a possibilidade da recusa
imotivada, um mal menor, que permite o juízo de valor a respeito de pessoa leiga,
sem as garantias e deveres do magistrado togado, por isso mesmo livre para tomar
qualquer posição. Pois, por vezes, a parte rejeita o jurado porque percebeu que, em
outro julgamento, ele não teve comportamento adequado, fazendo perguntas
impertinentes ou deixando de prestar a devida atenção aos debates, tornando assim
um instrumento de proteção dos interesses tanto da acusação quanto da defesa.
Vencida a parte do sorteio dos sete jurados componentes do Conselho de
Sentença, passar-se-á para fase do juramento solene, onde em pé no Tribunal do
Júri ouvirão a exortação feita pelo juiz, nos termos do artigo 472 do CPP: “Em nome
da lei, concito-vos a examinar esta causa com imparcialidade e a proferir a vossa
decisão, de acordo com a vossa consciência e os ditames da justiça”. Respondendo,
cada jurado nominalmente chamados pelo juiz presidente: “Assim o prometo”.
Findada mais uma etapa, iniciará a instrução em plenário, nos moldes do CPP.
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Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der
a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
[...] (BRASIL, 1988, grifo nosso).
No Tribunal do Júri, busca-se garantir ao réu não somente uma defesa ampla,
mas plena, completa, a mais próxima possível do perfeito (art. 5.º, XXXVIII, alínea
“a”, CF/88).
Segundo Nucci (2016a), cada um desses princípios destina-se a uma
finalidade específica, explicando que enquanto aos réus em processos criminais
comuns assegura-se a ampla defesa, e em oposição os acusados e julgados pelo
Tribunal do Júri garante-se a plenitude de defesa. Destacando os vocábulos
diversos e os seus sentidos, que enquanto o amplo quer dizer abundante; pleno
significa perfeito, onde o segundo é incontestavelmente mais forte que o primeiro:
Dessa forma, Távora (2017) ensinam que a plenitude de defesa revela uma
dupla faceta, afinal, a defesa está dividida em técnica e autodefesa:
que o juiz se acautele para suspender a divulgação dos demais votos assim
que se definir a votação de cada quesito, evitando que seja o sigilo violado
50
Contudo, o artigo 593 do CPP dispõe em seu inciso III, alínea “d” e §3º que
quando a apelação se fundar na decisão de jurados manifestamente contrária à
prova dos autos e o tribunal ad quem se convencer de que a decisão dos jurados é
manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para sujeitar o réu
a novo julgamento; não se admitindo, pelo mesmo motivo, segunda apelação.
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Bonfim (2016) acredita ainda que o Tribunal do Júri é ainda mais que um
simples órgão do Judiciário, pois o Júri apresenta-se como o direito fundamental do
indivíduo de ser julgado por seus pares.
Assim, a Constituição Federal de 1988 legitimou em seu título II, onde trata
dos direitos e garantias fundamentais, trazendo no esboço do rol do artigo 5º,
disposição mínima sobre a competência do instituto do Tribunal do Júri:
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Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
XXXVIII - é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der
a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;
[...] (BRASIL, 1988, grifo nosso).
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de
organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri.
§ 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos
arts. 121, §§ 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do
Código Penal, consumados ou tentados. (BRASIL, 1941).
Pode-se afirmar dessa maneira que o Tribunal do Júri terá competência para
julgamento dos crimes, sendo estes consumados ou tentados, de: homicídio,
podendo ser estes na forma simples, qualificada ou com causa de diminuição de
pena; feminicídio; induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio; infanticídio e aborto
simples ou qualificado, podendo ser este provocado pela gestante ou com o seu
consentimento ou provocado por terceiro.
O Supremo Tribunal Federal, julgando habeas corpus (HC 78.1681, 1999), no
qual teve como relator o ministro Néri da Silveira, decidiu que a prerrogativa de foro
conferida a determinados agentes públicos não elide a competência do Tribunal do
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Júri para julgá-los quando denunciados por crimes dolosos contra a vida. Desta
forma, ainda versando sobre a competência do Tribunal do Júri, concebeu-se a
Súmula de nº 721 do Supremo Tribunal Federal (STF), aprovada em seção plenária
em 2003, na qual posteriormente veio se torna a Súmula Vinculante de nº 45 do
STF, que preceitua: “A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece
sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela
Constituição Estadual.” (BRASIL, 2015).
Távora e Alencar (2017) destacam que o genocídio, por ser crime contra a
humanidade, não irá a júri, da mesma forma que o latrocínio, que é crime contra o
patrimônio (Súmula nº 603, STF).
57
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
[...] (BRASIL, 1988).
Por meio dessa garantia apresentada pela Carta Magna, se faz importante
salientar que tais fundamentos elencados em rol taxativo dos seus incisos, podem
ser considerados como fundamentos básicos que devem ser integralmente elevados
a nível nacional, destacando assim os fundamentos que se relacionam com o
Tribunal do Júri.
4.1.1 A soberania
Nas palavras abalizadas de André Ramos Tavares (2002) apud Motta (2018),
soberania é um poder político supremo e independente, entendendo-se por poder
supremo aquele que não está limitado por nenhum outro na ordem interna e por
poder independente aquele que, na sociedade internacional, não tem que acatar
regras que não sejam voluntariamente aceitas e está em equilíbrio de igualdade com
os poderes supremos de outros povos.
Contudo, Lenza (2018) informa que na atualidade discute-se a amplitude da
soberania de determinado Estado, especialmente diante da ideia de um poder
constituinte transnacional ou supranacional, sendo esse um grande desafio para
encontrar um equilíbrio entre a soberania do Estado e a necessidade de adequação
ao conjunto dentro da ideia de um constitucionalismo globalizado.
4.1.2 A cidadania
própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das
demais pessoas, constituindo-se em um mínimo invulnerável que todo
estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente excepcionalmente,
possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas
sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as
pessoas enquanto seres humanos. (MORAES, 2002 apud AWAD, 2006, p.
113).
Lenza (2018, p. 1444) diz que a dignidade da pessoa humana “pode ser bem
definido como o núcleo essencial do constitucionalismo moderno”. Dessa maneira,
diante de colisões, a dignidade sempre deverá ser observada, servindo para orientar
as necessárias soluções de conflitos.
Silva (2009) apud Duarte (2016) fundamenta que
4.2 A democracia
Para Albuquerque (2010, p. 20) a democracia “é formada por virtude, por
civismo, senso do plural, respeito à legalidade, uma política de liberdade aliada ao
desejo do bem comum”. E com o equilíbrio desses elementos, segundo
entendimento do autor, é que se chega a democracia verdadeira, onde de maneira
jurídica, há controle de poder e respeito às garantias do cidadão.
Contudo, entende-se que é um conceito de difícil elucidação, mas aclarado
por Abensour (1998) apud Albuquerque (2010, p. 20), afirmando que “a democracia
se caracteriza por uma relação inédita entre o Estado político, ou a constituição, e o
conjunto das outras esferas materiais ou espirituais, o que Marx designa, às vezes,
como ‘o Estado não político’”. Caracterizando assim a democracia como existência
de um povo, o qual nunca é organizado em função de uma parte, mas sempre do
todo.
Observa-se, conforme Albuquerque (2010), que a democracia é um
instrumento de realização dos valores fundamentais de relacionamento humano, não
sendo um conceito estático, mas em processo de perene reafirmação das
liberdades, dos direitos fundamentais, da ideia de povo. Esclarecendo que em
conformidade com Bobbio (1997), a democracia significa o “governo do poder
visível”. Bobbio (1997) aponta que a publicidade é marcante no regime e que o
mistério, o privado, o secreto são termos antagônicos aos objetivos da democracia.
Surge assim o princípio da motivação das decisões judiciais, que vem com o
intuito de impor limites aos julgadores, que deverão sempre fundamentar as suas
decisões, expondo a motivação de toda decisão, banindo e afastando toda e
qualquer decisão arbitrária por meio da moderação do poder jurisdicional.
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Oliveira (2018) salienta que a fundamentação das decisões tem dupla função
no processo. A primeira função permite a fiscalização da qualidade da decisão
proferida, permitindo a avaliação da coerência desta decisão ao direito vigente. E a
segunda função, por sua vez, é a admissão de que os interessados manifestem
inconformismo com a decisão que lhe for desfavorável, viabilizando a elaboração
dialética do recurso, usando as específicas razões de decidir que as partes
entenderem equivocadas.
Destaca-se que o Tribunal do Júri, é a única exceção inserida na
Constituição. Conforme ensinamento de Souza (2013) os julgamentos proferidos
pelos juízes leigos que constituem o Conselho de Sentença, são baseados na sua
69
Não muito raro, o Tribunal do Júri encontra diversas críticas. De tal modo
frequente também são as defesas da instituição, o que Machado entende que:
Aliás, já faz tempo que não se vê̂ uma acusação mais veemente ao Tribunal
do Júri. Ao contrário, o que se tem visto mais amiúde são as defesas dessa
instituição, a proliferação de obras e manuais que lhe dispensam grande
consideração e tratamento jurídico detalhado, a realização de seminários e
até congressos a respeito do tema etc. De mais a mais, as apontadas
deficiências dos juízes leigos, a falta de especialização, a suscetibilidade a
pressões dos poderosos e a morosidade, além de não serem uma
exclusividade do Tribunal do Júri, são problemas que hoje já́ não têm mais
aquela mesma dimensão de outros tempos; a evolução cultural, política,
social e econômica de amplas camadas da sociedade tem permitido a
composição do Tribunal do Júri com jurados altamente qualificados.
Observe-se que mesmo a alegada falta de especialização no que se refere
ao conhecimento do direito já não é tão saliente, e nem a especialização
tecnicista dos juízes togados, sem formação humanística e geral, pode ser
tida como uma virtude inquestionável. Até mesmo a leniência que
antigamente se atribuía aos jurados não é mais uma acusação procedente;
o tribunal leigo, sobretudo em face da criminalidade crescente nas grandes
cidades, tem decidido muitas vezes com acentuado rigor, sem qualquer tipo
de receio ou subserviência. (MACHADO, 2014, p. 285).
Por essa razão, o Tribunal do Júri pode ser visto como uma garantia da
liberdade, como também pode causar danos irreversíveis ao acusado, tendo
em vista a obrigatoriedade do procedimento para os crimes dolosos contra a
vida e a soberania dada aos veredictos pela Constituição brasileira. O que
vai determinar o resultado é justamente o grau de reprovabilidade da
72
Costuma-se afirmar que o Tribunal do Júri seria uma das mais democráticas
instituições do Poder Judiciário, sobretudo pelo fato de submeter o homem
ao julgamento de seus pares e não ao da Justiça togada. É dizer: aplicar-
se-ia o Direito segundo a sua compreensão popular e não segundo a
técnica dos tribunais. (OLIVEIRA, 2017, p. 328).
Oliveira (2017) entende sobre essa criação de justiça fora dos limites do
Direito Positivo.
Júri, no que tem, então, de democrático, tem também, ou melhor, pode ter
também, de arbitrário. E isso ocorre em razão da inexistência do dever de
motivação dos julgados. (OLIVEIRA, 2017, p. 328).
Completando a argumentação,
Muniz (2016) disserta que em não raras vezes, o instituto do Tribunal do Júri
recebe as mais diversas críticas. Sendo estas feitas por operadores do direito,
quanto àquelas que não trabalham com o direito. A maioria das críticas, são aquelas
que afirmam que os jurados não possuem condições técnicas para realizar o
julgamento, ou que tomam decisões irracionais ou extrajudiciais, ou são
influenciados por vários fatores como a opinião pública, mídia ou fatores
socioculturais. Entretanto, Muniz (2016, p. 327) conclui afirmando “que tais vícios
74
não são exclusivos dos magistrados leigos, sendo inerente ao ser humano, seja lá
qual função exerça, sujeitar-se a tais erros ou (más) influências”.
Contudo, Rangel (2018) acredita que na sociedade atual não mais há espaço
para uma decisão sem arrimo e justificativa em qualquer meio idôneo de prova,
razão pela qual se deve refutar o sistema da íntima convicção.
Oliveira (2017) por sua vez também em posicionamento contrário a instituição
do Tribunal do Júri, diz que:
Significa dizer que ao acusado não é dado o direito de ser julgado por um
juiz natural, imparcial, que cumpra as determinações legais e respeite os
princípios vetores do ordenamento jurídico pátrio. Ao contrário disso, será
julgado por pessoas que certamente irão decidir pelo que os vizinhos
andam dizendo, pela influência da mídia e por qualquer coisa que esteja ou
não nos autos, afinal não precisa de qualquer justificativa para sua decisão.
Isso agride o sistema processual penal e fere gravemente outras garantias
constitucionais. (GUIMARAES, 2018, p. 66).
Contudo, ainda denota o autor Aury Lopes Júnior (2014) apud Oliveira (2018)
que os jurados carecem de conhecimento legal e dogmático mínimo para a
avaliação dos diversos juízos axiológicos que envolvem a análise da norma penal e
processual aplicável no caso, bem como uma razoável valoração da prova.
Por outras vezes, encontra-se facilmente demonstrado o entusiasmo com as
virtudes da instituição do júri. Percebe-se assim que alguns adeptos do júri têm
defendido a ampliação da sua competência, pois acredita que os jurados têm
decidido acertadamente, com toda justeza que se é esperada na justiça criminal
(MACHADO, 2014).
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6 CONCLUSÃO
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