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TÍTULOS DE CRÉDITO

ÍNDICE
1.  TEORIA GERAL DO DIREITO CAMBIAL...........................................................................5
Características........................................................................................................................................................................6

2.  PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO CAMBIÁRIO............................................................8


Cartularidade...........................................................................................................................................................................8
Literalidade..............................................................................................................................................................................8
Autonomia............................................................................................................................................................................... 9

3.  NATUREZA JURÍDICA E CLASSIFICAÇÃO..................................................................12


Quanto ao modelo...............................................................................................................................................................12
Quanto à estrutura..............................................................................................................................................................12
Quanto às hipóteses de emissão................................................................................................................................. 13
Quanto à circulação........................................................................................................................................................... 13
Quanto ao conteúdo.......................................................................................................................................................... 14
Quanto à natureza.............................................................................................................................................................. 14

4.  ENDOSSO E CESSÃO CIVIL DE CRÉDITO....................................................................16


Cessão civil de crédito.......................................................................................................................................................17
Endosso x cessão civil de crédito.................................................................................................................................17

5.  OUTROS ELEMENTOS CONTIDOS NUM TÍTULO DE CRÉDITO................................ 20


Responsabilidade do endossante............................................................................................................................... 20
Aval........................................................................................................................................................................................... 20
Aceite........................................................................................................................................................................................21
Responsabilidade do aceite............................................................................................................................................22

6.  CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO CAMBIÁRIO................................................................ 24

7.  ELEMENTOS DO CRÉDITO CAMBIÁRIO.......................................................................27


Letra de câmbio...................................................................................................................................................................27
Classificação da letra de câmbio..................................................................................................................................27
Requisitos da letra de câmbio...................................................................................................................................... 28
8.  EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO CAMBIÁRIO................................................................. 30
Vencimento do título de crédito.................................................................................................................................. 30
Pagamento do título de crédito................................................................................................................................... 30
Ação cambial........................................................................................................................................................................32
Neste caso, as seguintes ações judicias podem ser ajuizadas:......................................................................32

9.  AÇÃO CAMBIAL – PRAZO.............................................................................................. 35

10.  NOTA PROMISSÓRIA.....................................................................................................37


Requisitos da nota promissória.....................................................................................................................................37
Peculiaridades..................................................................................................................................................................... 38
Vinculação da nota promissória ao contrato......................................................................................................... 38

11. CHEQUE.......................................................................................................................... 40
Requisitos do cheque....................................................................................................................................................... 41
Modalidades do cheque................................................................................................................................................... 41

12. DUPLICATA.................................................................................................................... 45

13.  OUTROS TÍTULOS ........................................................................................................ 49


Títulos representativos......................................................................................................................................................49
Título de financiamento................................................................................................................................................... 50
Cédulas de crédito bancário.......................................................................................................................................... 50
1
TEORIA GERAL DO
DIREITO CAMBIAL
1.  Teoria Geral do Direito Cambial
Os títulos de crédito são documentos que representam obrigações pecuniárias (relativas à
dinheiro). São papéis que provam a existência de um dado direito, de uma dada obrigação
pecuniária.

Eles autorizam que uma pessoa use o capital alheio, restituindo-o depois.

De acordo com o art. 887 do Código Civil, que se baseou na definição de Césare Vivante, o
título de crédito é “documento necessário ao exercício do direito, literal e autônomo, nele
contido”, que somente produz efeitos quando preenche os requisitos previstos em lei.

Fábio Ulhoa Coelho detalhou desta definição e conceituou o Título de Crédito como:

Documento (escrito, materializado) necessário (indispensável que seja apresentado) para o exercício do direito
(de crédito), literal (só vale, no título, o que nele está escrito = direito cartular) e autônomo (independente das
obrigações anteriores), nele mencionado (a declaração nele constante deve especificar os direitos que se
incorporam ao documento)

Os títulos de crédito surgem de um ato de “confiança”, por assim dizer, de que uma parte arcará
com uma obrigação pecuniária contraída. Isto porque a constituição do título de crédito dá-
se por meio de uma promessa de pagamento. Podem-se citar, como exemplos de ensejo à
emissão de um título, a venda a prazo e o empréstimo.

Os títulos de crédito surgiram justamente da necessidade de facilitar as transações envolvendo


créditos, bem como as promessas futuras de pagamento. Havia a necessidade de se criar
algo que garantisse sua efetivação e sua segurança.

Em regra, os títulos de crédito seguem a legislação especial que trata do tema, aplicando-se
supletivamente às normas do Código Civil.

As obrigações representadas em um título de crédito podem ter origem extra cambial ou


cambial. Vejamos:

EXTRA CAMBIAL

São obrigações comuns que ocasionam a emissão de título de crédito e decorrem de atos
negociais corriqueiros como um contrato de compra e venda, um contrato de mútuo ou um
empréstimo, por exemplo.

CAMBIAL

São obrigações que decorrem do título de crédito em si, como no caso da obrigação de um
avalista, um endossador ou um emitente em um título de crédito ou nota promissória.

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Para entendermos melhor, pontuemos que o avalista é aquele que fica responsável pelo
pagamento das parcelas de um financiamento ou empréstimo feito por outra pessoa.
Digamos que ele seja uma forma de garantia: para as empresas que cedem crédito, o avalista
representa justamente a salvaguarda de que a dívida será paga.

Definiremos, então, o aval como a obrigação que uma pessoa assume por outra a fim de
garantir o pagamento de uma dívida.

Assim, nota-se que a origem cambial do título de crédito é um pouco mais complexa, não se
limitando à simplicidade de duas partes fechando um acordo. Isso certamente traz algumas
peculiaridades a seu funcionamento e seu regime. Veremos aos poucos.

Características
NEGOCIABILIDADE
Uma das principais características dos títulos de crédito é a sua negociabilidade. Como
mencionado anteriormente, os títulos de crédito surgiram da necessidade de facilitar as
transações envolvendo créditos, ou seja, de fazer o crédito circular.

Temos que os títulos de crédito representam valores mobiliários transmissíveis por via do
endosso.

Sendo assim, o título de crédito pode ser transferido de credor, não se alterando, por conta
disso, a obrigação. Com a transferência de credor, o crédito representado no título será o
mesmo, simplesmente passando a ser devido a outrem, o que significa que não é necessário
aguardar o recebimento do dinheiro em si para poder utilizá-lo, podendo ele passar de mão
em mão sem perder suas características e seu valor.

EXECUTIVIDADE
Os títulos de crédito constituem títulos extrajudiciais.
Extrajudiciais porque não são constituídos em sede do poder judiciário, simplesmente, mas
em negociações ordinárias. Ser um título, por sua vez, implica que dão certeza e liquidez à
obrigação que ele descreve. Isto significa que, em caso de inadimplemento do devedor, o
credor não necessitará ajuizar uma ação de conhecimento para executar o crédito previsto
no título. Ele já está firmado e esclarecido. Será necessário somente um procedimento de
execução. Assim, a cobrança judicial de um crédito contido num título é mais célere e eficiente.

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2
PRINCÍPIOS GERAIS DO
DIREITO CAMBIÁRIO
2.  Princípios Gerais do Direito Cambiário
A seguir, veremos alguns princípios importantes relacionados aos títulos de crédito:

Cartularidade
Conforme mencionado na aula anterior, o art. 887 do Código Civil conceitua título de crédito
como o “documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido”, que
somente produz efeitos quando preenche os requisitos previstos em lei.

Portanto, verifica-se que o título de crédito é um registro, uma cártula, um papel, que representa
um crédito. Somente quem se encontre na posse deste documento é que poderá exercer os
direitos por ele representados. Sem o título de crédito, o credor haveria que encontrar outros
meios de provar a existência do crédito que alegasse possuir.

Uma consequência prática do princípio da cartularidade é que, quando o credor vier ajuizar a
execução para cobrar o crédito, ele terá que instruir a petição inicial com o original do título
de crédito, comprovando que ele realmente é o credor atual (pois que também deve restar
provado que ele não negociou este crédito antes do ajuizamento da ação). A apresentação do
título evita também a duplicidade de execuções.

Ao quitar a dívida, o devedor deve reaver a cártula, como forma de comprovante e para
evitar que o título torne a entrar em circulação.

Atualmente, existem títulos de crédito que passaram a ser digitais (ou seja, não cartularizados).
Ainda assim, eles devem conter obrigatoriamente a assinatura do emitente, a indicação
precisa dos direitos que confere, e a data de emissão, nos termos do art. 889, §1° do Código
Civil.

Literalidade
O art. 887 do Código Civil prevê que o título de crédito assegura o exercício do direito literal
e autônomo nele contido. Daí se extrai o princípio da literalidade, segundo o qual só produz
efeitos jurídicos o que estiver de fato e explicitamente descrito no título de crédito. Assim,
não se pode deduzir ou inferir nenhuma informação do texto do título. Vê-se a importância
da clareza que deve ter seu conteúdo.

Consequentemente, todas as informações pertinentes e de alguma relevância ao título


devem ser adicionadas em seu corpo, tais como o aval e o endosso (veremos com detalhes
posteriormente), a quitação parcial, dentre outros.

Observamos que o título de crédito emitido com omissões ou informações em branco pode
ser completado pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.

De acordo com André Fernandes Estevez,

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“um título pode ser completo, incompleto ou em branco. Diz-se que é completo o título que encontra todos os
requisitos essenciais e supletivos previstos em lei preenchidos no momento de sua emissão. São incompletos
os títulos que não preenchem todos os requisitos previstos em lei. São títulos em branco aqueles emitidos
com a intenção do subscritor de que se promova o seu completamento conforme acordo de preenchimento,
podendo ser preenchidos até o momento de sua apresentação, por qualquer portador sucessivo. Sem o devido
e completo preenchimento do título, nenhum direito cambiário pode ser extraído.”

Vemos, então, que existe a possibilidade de o devedor emitir o título deixando para o credor
(portador) o condão de, agindo em boa-fé, delinear aspectos de sua serventia.

Autonomia
De um mesmo título de crédito, podem surgir várias relações jurídicas autônomas, isto é,
vários credores e devedores. Cada obrigação gerada independe das demais.

Consequentemente, se uma dessas obrigações possuir algum vício e for nula, isso não
comprometerá a validade e eficácia das obrigações restantes desse mesmo título.

O princípio da autonomia subdivide-se em dois outros princípios: o da abstração e o da


inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. Esses dois subprincípios,
importante dizer, passam a incidir sobre as relações cambiárias somente se o título de crédito
for endossado, ou seja, transferido.

Se não houver a transferência do título, não há que se falar neles.

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Vejamos cada um deles:

ABSTRAÇÃO
A abstração consiste na desvinculação do título do negócio jurídico que lhe deu causa.

Quando um título é posto em circulação, ele se desvincula da relação fundamental que lhe
deu origem. Não importa mais a origem desse título, mas sim o direito nele previsto. A cada
assinatura, então, surge uma relação jurídica nova e independente das anteriores, não se
podendo alegar vício na relação anterior para excluir a atual.

INOPONIBILIDADE
Refere-se à limitação material que poderá ser arguida como defesa pelo devedor de um
título de crédito executado. Não pode uma pessoa deixar de cumprir sua obrigação alegando
(opondo exceções) suas relações com qualquer obrigado anterior do título.

Tais princípios vieram a facilitar a circulação dos títulos de crédito e ampliar a segurança
jurídica do credor.

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3
NATUREZA JURÍDICA E
CLASSIFICAÇÃO
3.  Natureza Jurídica e Classificação
Os títulos de crédito são declarações unilaterais de vontade, ou seja, a obrigação nasce por
simples ato voluntário e unilateral do criador.

Declaração unilateral de vontade é uma das fontes das obrigações do Direito Civil e caracteriza-
se pelo resultado da vontade de uma só pessoa, formando-se a obrigação a partir do instante
em que o agente manifesta a intenção de se obrigar.

Os títulos de crédito podem ser classificados da seguinte maneira:

Quanto ao modelo
DE MODELO LIVRE
Nos títulos de modelo livre, não existe um padrão a ser seguido. Basta que sejam observados
os requisitos em lei para o respectivo título. Pode-se citar como exemplo a letra de câmbio.

DE MODELO VINCULADO
Nos títulos vinculados, existe um modelo padronizado que deve ser seguido, há que se atender
às devidas formalidades. Dessa maneira, não é suficiente que o título preencha os requisitos
legais se não obedecer o padrão formal estabelecido para ele.

Pode-se citar como exemplo o cheque e a nota promissória. Dessa maneira, um cheque só
será um cheque se for lançado no formulário próprio fornecido pelo banco sacado por meio
de um talão, enfim.

Quanto à estrutura
ORDEM DE PAGAMENTO
Os títulos de crédito à ordem constituem uma promessa de que um terceiro efetuará o
pagamento.

Eles são transmissíveis justamente por conta desta clausula cláusula, presente em todos os
títulos de crédito próprios. Esta cláusula tem o significado de assentimento, concordância
coma transferência, com o endosso.

Nesse tipo de título de crédito, surgem três tipos de relação jurídica: a de quem dá a ordem
de pagamento, a do destinatário da ordem de pagamento e a do beneficiário da ordem de
pagamento.

Exemplo: cheque (o devedor emite uma ordem de pagamento ao banco para que este pague
ao credor), a nota promissória, a duplicata e a letra de câmbio.

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PROMESSA DE PAGAMENTO
Na promessa de pagamento, não existe a figura do terceiro que efetua o pagamento. É o
próprio devedor que assume a obrigação de pagar ao credor, através da promessa.

Esta é também chamada clausula não à ordem, aquela que proíbe que o título de crédito seja
transferido a terceiros (proíbe o endosso).

Aqui, surge a relação jurídica entre quem promete o pagamento e o beneficiário do pagamento.
Pode-se citar como exemplo a nota promissória.

Quanto às hipóteses de emissão


TÍTULO CAUSAL
Somente pode ser emitido se acontecer o fato que a lei determinou como causa possível para
sua emissão. Tem surgimento condicionado a especificidades legais. A duplicata mercantil,
por exemplo, é causal e só pode ser emitida em caso de compra e venda mercantil.

TÍTULO NÃO CAUSAL (OU ABSTRATO)


É aquele que pode ser criado por qualquer coisa, para obrigações de qualquer natureza. O
cheque, por exemplo, não é causal e, contanto que dentro de suas formalidades, pode ser
emitido a qualquer momento e por qualquer motivo.

Quanto à circulação
AO PORTADOR
Títulos de crédito ao portador são aqueles que não identificam o credor, ou seja, não vêm com
o nome do credor escrito no título, sendo transmissíveis pela mera tradição (entrega).

NOMINATIVO
São títulos nos quais consta expressamente o nome do credor. Por esta razão, a transferência
deste título necessita, além da tradição, da prática de outro negócio jurídico, vejamos:

Os títulos nominativos dividem-se em:

•  À ordem (que permite a transferência, o endosso): os nominativos com cláusula “à ordem” circu-
lam mediante tradição acompanhada de endosso;
•  Não à ordem (que veta a transferência, o endosso): circulam com a tradição acompanhada da
cessão civil de crédito.

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Quanto ao conteúdo
PRÓPRIOS
Aqueles que são uma verdadeira operação de crédito, ou seja, são criados com base numa
relação de confiança. Exemplo: nota promissória e letra de câmbio.

IMPRÓPRIOS
Aqueles que não representam uma operação de crédito, não se referem a uma relação
de confiança, mas circulam como títulos de crédito. Exemplo disso é o cheque, que só é
realmente válido se houver provisão de fundos, visto que sua emissão não pressupõe relação
de confiança.

Quanto à natureza
ABSTRATOS
Os títulos abstratos são completamente desvinculados do negócio que lhes deu origem.
Pode-se citar como exemplo o cheque e a nota promissória.

CAUSAIS
Os títulos de crédito causais discutem a causa da obrigação e não o seu documento, ou seja,
são exceções e estão vinculados à causa que lhes deu origem, que é pressuposto essencial
para o seu saque. Eles só pode ser emitido nas hipóteses previstas em lei: para a documentação
de crédito nascido de compra e venda mercantil ou outras situações específicas de prestação
de serviço. Pode-se citar como exemplo a duplicata, que está sempre ligada à compra e
venda que lhe deu origem.

Pontuaremos, contudo, que a circulação dos títulos causais continuará seguindo o princípio
da abstração no sentido de que também se desvincula, perante terceiros de boa-fé, da
compra e venda que lhe gerou.

Vejamos um quadro explicativo da classificação dos títulos de crédito:

QUANTO AO QUANTO À QUANTO À QUANTO À QUANTO AO QUANTO À


MODELO ESTRUTURA EMISSÃO CIRCULAÇÃO CONTEÚDO NATUREZA

Ordem de
Modelo livre Causal Ao portador Impróprios Abstratos
pagamento

À ordem
Promessa de
Modelo vinculado Não causal (nominativos e Próprios Causais
pagamento
não nominativos)

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4
ENDOSSO E CESSÃO
CIVIL DE CRÉDITO
4.  Endosso e Cessão Civil de Crédito
Já vimos que os títulos de crédito são valores mobiliários transmissíveis por via do endosso.
O  endosso é uma declaração cambiária acessória pela qual o credor do título de crédito
(endossante) transmite seus direitos a ao endossatário.

Desse modo, o endosso é o meio de transferência da propriedade dos títulos de crédito. O


ato pelo qual o atual dono do título o transfere para terceiro (o título será aquele denominado
à ordem, o qual permite a livre transferência).

O endosso se faz com a simples assinatura do proprietário no verso do título, não havendo
necessidade de se pedir autorização ao emitente (devedor) para transferir um título de
crédito. Na verdade, no verso, basta apenas a assinatura do titular. Mas é possível também a
assinatura na parte frontal do título (no anverso), e, neste caso, é necessário que se indique
que se trata de um endosso.

Temos o devedor; o endossante, que é o credor que transfere o título, e o endossatário, que é
quem recebe o título tornando-se credor.

Pode-se dizer que o endosso, desta forma, é o ato pelo qual o primeiro credor (endossante)
transfere ao endossatário tanto a propriedade do título quanto o direito de crédito inerente
a ele. A partir de tal transferência, o próprio endossante tem vinculada a si a responsabilidade
pela satisfação da obrigação que o título representa, o que acaba por permitir subsidiariamente
a quaisquer dos endossatários supervenientes o ajuizamento de ação de regresso contra o
endossante para satisfazer o crédito a eles transmitido. Conclui-se, então, que, no endosso,
quem transfere o título de crédito responde pela existência do título e também pelo seu
pagamento.

Vejamos o que isto implica: não importa quantas vezes o título tenha sido transferido, havendo
prova de inadimplemento da obrigação pelo devedor original, todos os endossantes serão
responsáveis solidariamente pelo pagamento do título ao atual credor. Nesta condição, o credor
atual poderá exigi-lo de qualquer dos endossantes, o qual ficará obrigado ao pagamento do
valor do título e ao qual caberá, depois, ação regressiva contra seus antecedentes ou contra
o devedor original, para lhe reaver o valor.

Importante pontuar, nesta toada, que o devedor original não pode alegar, contra o endossatário
de boa-fé, exceções pessoais. Trata-se do princípio da inoponibilidade.

Explica-se: o devedor estabeleceu um negócio com o credor original (endossante). Tal


negócio deixa de ter relevância quando o título é transferido ao endossatário, em acordo com
o princípio da abstração; isso significa que, ainda que o negócio original esteja maculado de
vícios, o endossatário nada tem a ver com isso e não deverá arcar com possíveis prejuízos (a ele,
presume-se boa-fé). Por isto, diz-se que o devedor original não poderá opor ao endossatário
alegações as quais seriam cabíveis comente àquele com quem se estabeleceu relação direta:
o credor original, endossante.

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Temos, no mais, que só pode fazer endosso (figurar como endossante) quem for beneficiário
do título (tendo o recebido do devedor original) ou um procurador com poderes especiais para
efetivá-lo.

Diz-se que o endosso é “em preto” quando indica para quem está sendo transferido o título e
“em branco” quando não fizer esta indicação, de modo que o título passa a circular como um
título ao portador.

 Atenção: é possível que se faça uma cláusula que proíba o endosso do título de crédito
através da expressão “não endossável”, “não transferível”, entre outros.

Nesta hipótese, o título será não à ordem. Na verdade, é possível que o portador transfira este
título mesmo com esta cláusula de proibição de endosso, mas, neste caso, a transferência
terá a forma e os efeitos de uma cessão ordinária de crédito.

Cessão civil de crédito


Na cessão civil de crédito, temos o devedor; o cedente, que é o primeiro credor que transfere
o título, e o cessionário, que é quem o recebe, constando como credor após tal recebimento.

Quem transfere o título de crédito, no caso da cessão civil, só responde pela existência do
título mas não responde pelo seu pagamento. O devedor poderá, neste caso, alegar contra o
cessionário de boa-fé exceções pessoais!

Endosso x cessão civil de crédito


O endosso é ato unilateral pelo qual o credor de um título de crédito com cláusula à ordem
transmite os seus direitos a alguém.

Já a cessão civil é contrato bilateral no qual o credor de um título de crédito com cláusula
não à ordem transmite os seus direitos a alguém.

O endosso independe de notificação do devedor, pois a transferência do título foi liberada, já


a cessão só produz efeitos quando notificada ao devedor.

No endosso, vimos que o endossante (credor) que transfere o título de crédito responde tanto
pela existência do título quanto pelo seu pagamento, mas o devedor original não pode
alegar, contra o endossatário de boa-fé, exceções pessoais. Pode alega-las somente face ao
primeiro endossante, seu credor direto.

Na cessão civil de crédito, acontece justamente o contrário: o cedente (credor) que transfere
o título de crédito só responde pela existência do título, não responde pelo seu pagamento,

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mas o devedor pode alegar, contra o cessionário de boa-fé, exceções pessoais. Pode alega-
las tanto em face do cedente, credor original, quanto dos credores subsequentes.

Vale destacar que o Código Civil, em seus artigos 887 a 926, trata sobre normas que
regulamentam os títulos de crédito, mas quando o título de crédito tiver lei específica que o
regulamente, ela seguirá esta lei, e não o Código Civil.

É o caso da letra de câmbio e a nota promissória, reguladas pela Lei Uniforme de Genebra
(Decreto n° 57.663/1996), do cheque (Lei n° 7.357/1985) e da duplicata (Lei n° 5.474/1968).
Essa informação é relevante, pois, por exemplo, o Código Civil trata da circulação de maneira
diferente do que essas leis específicas.

O endosso, quando aplicável da maneira prevista no Código Civil, não importa, a priori, na
responsabilidade do endossante (art. 914 do Código Civil).  Já as leis específicas dos títulos
de crédito disciplinam totalmente ao contrário, dizendo que, em regra, o endossante fica
vinculado ao pagamento do título.

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5
OUTROS ELEMENTOS
CONTIDOS NUM TÍTULO
DE CRÉDITO
5.  Outros Elementos Contidos num Título de Crédito
Responsabilidade do endossante
Quando o endossante efetua o endosso, ele perde a titularidade dos direitos mencionados no
título, mas continua vinculado na condição de coobrigado, respondendo solidariamente com
o portador do título.

Vale dizer que essa responsabilidade do endossante é secundária, visto que ela só poderá ser
exigida se houver uma prova solene do descumprimento da obrigação de pagar por parte do
devedor principal.

Essa é a regra, mas a exceção é a existente possibilidade de que o endossante se exonere


dessa responsabilidade solidária ao colocar a cláusula “sem garantia” no momento do
endosso.

Além disso, o endossante poderá proibir novos endossos, o que significa que ele ficará vinculado
apenas em relação ao endossatário imediato, exonerando-se de qualquer responsabilidade
perante os outros endossatários.

Aval
O aval é um ato cambiário pelo qual uma pessoa, chamada de avalista, compromete-se a
pagar o título de crédito, nas mesmas condições que um devedor desse título (avalizado). É a
obrigação que uma pessoa (avalista) assume por outra (devedor - avalizado) a fim de garantir
o pagamento de sua dívida.

Havíamos visto que o avalista é aquele que fica responsável pelo pagamento das parcelas de
um financiamento ou empréstimo feito por outra pessoa, como uma forma de garantia para

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empresas que cedem crédito, por exemplo, pois o avalista representa um tipo de salvaguarda
de que a dívida será paga.

O aval pode pode ser dado com uma simples assinatura no anverso do título ou pela assinatura
no verso ou anverso sob a expressão “por aval”, indicando, ou não, a pessoa do avalizado. Se
o avalista for casado sob um regime de bens que não seja o da separação absoluta, exige-se
a outorga conjugal, de acordo com o art. 1.647 do Código Civil de 2002.

Além disso, de acordo com o Enunciado 114 da I Jornada de Direito Civil, “o aval não pode ser
anulado por falta de vênia conjugal, de modo que o inc. III do art. 1.647 apenas caracteriza a
inoponibilidade do título ao cônjuge que não assentiu.” Ou seja, o cônjuge que não concordou
com o aval não responderá de forma nenhuma pelo ônus que ele venha eventualmente a
gerar.

É importante, no momento do aval, saber qual o devedor do título, avalizado, para que
posteriormente se possa estabelecer a possibilidade ou não de direito de regresso. Se o aval
vier em branco nas letras de câmbio, ele se presume a favor do sacador; na nota promissória,
a favor do promitente; no cheque, a favor do emitente.

QUAL A DIFERENÇA ENTRE AVAL E FIANÇA?


A fiança é o ato de garantia de efeitos não cambiais que se distingue do aval quanto à natureza
da relação com a obrigação garantida.

A obrigação do fiador é acessória, enquanto que a obrigação do avalista é autônoma,


independe da do avalizado.

Aceite
O saque é uma ordem de pagamento dada a um terceiro, o sacado (credor). Em outras
palavras, o saque é a emissão de um título de crédito, o seu ato de criação realizado pelo
sacador.

Na nota promissória, o sacador é o devedor principal mas na letra de câmbio ou na duplicata,


o sacador é um coobrigado, um codevedor. O sacado (credor) de uma letra de câmbio não
tem nenhuma obrigação cambial pelo fato de o sacador ter-lhe endereçado a ordem de
pagamento. Ele somente estará vinculado ao pagamento do título se concordar em atender
a ordem que lhe foi dirigida.

Através do aceite, o sacado (destinatário da ordem de pagamento) concorda em arcar com


o título de crédito cuja ordem de pagamento lhe foi dada. O sacado torna-se, portanto,
devedor direto do título de crédito. É que nenhum devedor pode ser obrigado a ver sua dívida
representada num título de crédito.

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O aceite, então, é um ato de livre vontade do sacado. É o ato pelo qual o destinatário da
ordem de pagamento aceita pagar o título de crédito, tornando-se devedor principal. É um
ato acessório, sendo que a letra de câmbio existirá mesmo sem ele.

No caso da letra de câmbio, é necessário que a assinatura do sacado venha no anverso da


letra. Se vier no verso, só será considerada como aceite se for complementada com uma
expressão que denote este fato, como “o aceitante”, “de acordo”, etc.

Se a assinatura no anverso da letra de câmbio for do sacado, trata-se de um aceite, se for de


qualquer outra pessoa, a princípio, será interpretada como um aval.

Responsabilidade do aceite
Quando o aceite for firmado, o aceitante (sacado) passa a ser obrigado principal do título,
devedor, ao qual não se exige protesto para o ajuizamento da ação cambial. O aceite é
necessário nos títulos de crédito em que o sacador não era originalmente o devedor principal:
apenas depois do aceite há a responsabilidade deste, visto que sem o aceite, nem devedor o
sacado será.

O aceitante, então, será devedor principal da letra de câmbio. No vencimento, o credor deverá
procurar primeiramente o aceitante. Somente na recusa do pagamento deste é que o credor
poderá cobrar o título dos coobrigados.

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6
CONSTITUIÇÃO DO
CRÉDITO CAMBIÁRIO
6.  Constituição do Crédito Cambiário
Como revisão:

Saque  =  Ato de criação, de emissão da Letra de Câmbio

Letra de Câmbio = ordem de pagamento que o sacador envia ao sacado  para que este
pague a importância consignada a um terceiro chamado tomador.

Nas letras de câmbio, vimos que o aceite não é obrigatório, sendo uma faculdade do sacado
fazê-lo ou não. A recusa do aceite é lícita.

A lei dispõe acerca da recusa do aceite a fim de resguardar os interesses do tomador do título.

É o chamado vencimento antecipado.

Se o sacado não aceitar, o tomador (credor do título que iria receber o valor do sacado, caso
este tivesse aceitado) poderá cobrar o título de imediato do sacador (quem deu a ordem de
pagamento). Isso também ocorre em caso de aceite parcial.

Para evitar que a recusa do aceite produza o vencimento antecipado da letra de câmbio, ele
poderá opor a cláusula “não aceitável”. Dessa forma, essa letra de câmbio não poderá ser
apresentada ao sacado para aceite. O credor só apresentará o título ao sacado no dia do seu
vencimento para consequente pagamento.

Nesse caso, estudaremos as regras gerais do direito cambiário juntamente com as regras da
letra de câmbio. As regras da letra de câmbio, respeitadas as particularidades de cada título
de crédito, aplicam-se também à nota promissória, ao cheque, às duplicatas e aos demais
títulos.

LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
Há a Convenção de Genebra, que é uma convenção internacional da qual o Brasil é signatário,
que regula a letra de câmbio e a nota promissória. Entretanto, o Brasil assinalou algumas
reservas a esta Convenção.

Em um primeiro momento, vigora a Lei Uniforme que consta como Anexo I da Convenção
de Genebra. Em razão das reservas feitas pelo Brasil, alguns artigos da Lei Uniforme não
vigoram, tal como o art. 10; a alínea 3 do art. 41; os números 2 e 3 do art. 43, e as 5ª e 6ª
alíneas do art. 44.

A taxa de juros por mora no pagamento da letra de câmbio ou da nota promissória deve
observar os arts. 48 e 49.

Importante sempre relembrar que as regras do Código Civil aplicam-se supletivamente.

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Ademais, ainda vigoram os seguintes dispositivos do Decreto n° 2.044/1908: arts. 3; 10; 14;
19, II; 33; 36; 48, e 54, I.

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7
ELEMENTOS DO
CRÉDITO CAMBIÁRIO
7.  Elementos do Crédito Cambiário
Letra de câmbio
A letra de câmbio consiste em uma ordem dada pelo sacador, por escrito, para que o sacado
pague valor em dinheiro a um beneficiário determinado.

Desse modo, percebe-se que, na letra de câmbio, existe a presença de três figuras: o sacador
(aquele que dá a ordem de pagamento), o sacado (a quem a ordem se dirige) e o beneficiário
(o favorecido pelo pagamento).

Vejamos um exemplo de letra de câmbio:

FONTE: Crédito ou Débito, 2018

Vejamos um caso prático: a pessoa A adquire um bem ou serviço da pessoa B e emite uma
letra de câmbio a uma instituição financeira para que esta pague a B o que A lhe deve. Se a
instituição financeira aceitar, ela envia o dinheiro ao beneficiário B e passa a ser a credora de
A no lugar de B.

SAQUE 
É o ato de criação da letra de câmbio. Depois do saque, o tomador está autorizado a procurar
o sacado para poder receber dele a quantia prevista no título.

Classificação da letra de câmbio


A letra de câmbio é classificada como uma ordem de pagamento, e do seu saque surgem três
situações jurídicas diferentes:

•  Há quem dá a ordem de pagamento, o chamado “sacador”;


•  Há aquele para quem a ordem de pagamento é dirigida, aquele que deverá efetuar o pagamento,
chamado de “sacado”;
•  Há o beneficiário da ordem de pagamento, aquele que receberá o crédito, chamado de “tomador.”

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Além de fazer nascer essas três figuras, o saque ainda tem o efeito de vincular o sacador
ao pagamento desse título de crédito. O sacado é quem primeiramente deverá pagar o
título, mas se ele não o fizer, o tomador poderá cobrar do próprio sacador. Vale ressaltar que
o sacador, ao praticar o saque, tornou-se codevedor juntamente com o sacado. Apesar de
termos essas três figuras, a lei permite que uma mesma pessoa ocupe mais de uma posição
ao mesmo tempo. Por exemplo: o sacador pode ser sacado também, assim como o sacador
poderá ser tomador também.

Requisitos da letra de câmbio


ESSENCIAIS
•  Denominação letra de câmbio
•  Ordem incondicional de pagamento de quantia determinada
•  Nome do sacado
•  Nome do beneficiário
•  Data do saque
•  Assinatura do sacador

​​​NÃO ESSENCIAIS
•  Época do vencimento
•  Lugar do pagamento
•  Lugar do saque

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8
EXIGIBILIDADE DO
CRÉDITO CAMBIÁRIO
8.  Exigibilidade do Crédito Cambiário
Os devedores de um título de crédito são de duas espécies: o devedor principal (que, na
letra de câmbio, é o aceitante) e os devedores coobrigados que, nesta espécie de título,
são o sacador e os endossantes. Para tornar exigível o crédito cambiário contra o devedor
principal, basta o vencimento do título.

Entretanto, com relação aos coobrigados, é necessária a negativa do pagamento do título


vencido por parte do devedor principal. Deve restar comprovada tal negativa de pagamento
no protesto do título, o qual se consubstancia em condição de exigibilidade do crédito
cambiário contra os coobrigados.

Um coobrigado não está vinculado ao pagamento do título não protestado ou protestado


fora do prazo legal! O coobrigado que paga o título tem o direito de regresso contra o devedor
principal e contra os coobrigados anteriores.

Para se localizarem os coobrigados na cadeia de anterioridade das obrigações cambiais,


adotam-se os seguintes critérios:
1. O sacador da letra de câmbio é anterior aos endossantes;
2. Os endossantes são dispostos, na cadeia, segundo um critério cronológico;
3. O avalista se insere na cadeia em posição imediatamente posterior ao respectivo
avalizado.

Vencimento do título de crédito


Os títulos de crédito asseguram, a quem os detém, um direito, o qual só se torna exigível após
a ocorrência de um fato, denominado vencimento. Logo, antes do vencimento, não se pode
exigir o direito mencionado no título.

Pagamento do título de crédito


É o meio pelo qual ocorre a extinção normal do crédito cambial. Há também o pagamento
indireto, que é o cumprimento da obrigação feita de forma diversa da acordada. Pode se
dar o pagamento indireto, por exemplo, por meio de consignação em pagamento, quando
há a recusa do credor em receber o pagamento (inadimplemento do credor), por meio de
novação, quando se altera o objeto do pagamento ou algum sujeito da relação, ou por meio
da compensação, quando as partes compensam suas dívidas por serem ao mesmo credoras
e devedoras entre si.

Segundo Ulhoa:

“Se o pagamento é feito por um coobrigado ou pelo avalista do aceitante, são extintas a própria obrigação de
quem pagou e mais as dos coobrigados posteriores; se o pagamento é feito pelo aceitante da letra de câmbio,
extinguem-se todas as obrigações cambiais”.

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O pagamento não é provado por um simples recibo particular, mas pela entrega do próprio
título original com a respectiva quitação. É uma forma de preocupação com a possibilidade
de nova circulação do título, o que poderia obrigar o devedor a pagá-lo novamente no futuro.

A Lei n° 9.492/1997 conceitua o protesto como “o ato formal e solene pelo qual se prova a
inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de
dívida.” Dessa forma, o protesto é o ato solene praticado pelo credor no cartório competente,
com a finalidade de provar a falta de pagamento, aceite, falta de devolução do título ou
outro fato relevante que o venha a ter prejudicado de alguma forma. Ele também serve para
interromper a prescrição da ação cambial (art. 202, III do Código Civil).

Não é necessário protestar o título várias vezes para provar a existência de mais de um fato
relevante. Basta um só protesto com todos os apontamentos necessários. Deve-se observar
que o protesto não se trata de uma forma de cobrança, apesar de se usar o protesto com tal
conotação nos dias atuais. Seu objetivo é, principalmente, resguardar os direitos do credor.

As principais finalidades do protesto são:

•  Caracterizar a falta de pontualidade do devedor;


•  Garantir o direito de regresso contra os coobrigados, e
•  Provar a existência da mora.

O protesto por falta de aceite é extraído contra o sacador, que não teve sua ordem de
pagamento acolhida pelo sacado. A principal consequência do protesto por falta de aceite é
a cobrança antecipada dos devedores indiretos do títulos, isto é, o sacador, os endossantes e
avalistas. Isto porque os devedores indiretos garantiram a aceitação do título pelo sacado, e
isto não ocorreu. Dessa maneira, o sacado não pode ser protestado: ele se encontra livre de
qualquer obrigação cambiária.

Já o protesto por falta de data do aceite ou por falta de pagamento é extraído contra o
aceitante, este, sim, um devedor cambial. Se apresentado o título antes do vencimento, caso
o sacado não se pronuncie sobre o aceite, recusando-o ou aceitando-o expressamente, cabe
ao tomador do título tirar o protesto por presumível falta ou recusa de aceite.

Esse protesto causa uma importante consequência: o portador poderá agir contra os demais
coobrigados antes do vencimento do título, já que estes possuem responsabilidade solidária.
Se o portador não efetuar o protesto no prazo legal, considera-se que ele renunciou às
garantias típicas do direito cambiário que estão presentes no título; desse modo, ele não
poderá mais lançar mão da ação cambial contra os devedores indiretos. Apresentando o
título, com aceite ou não, na data do seu vencimento, se o aceitante ou sacado não pagarem,
este fato pode ser comprovado pelo protesto por ou recusa de pagamento.

Se o título foi aceito, porém, o protesto pode vir a resguardar os direitos do portador contra os
devedores indiretos do título, permitindo o ajuizamento também da ação cambial contra eles.

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Se o título não foi aceito (se não houver o aceite), o protesto é essencial para assegurar o direito
contra os demais coobrigados e o ajuizamento da ação cambial. A ausência de protesto, nesse
contexto, torna o documento mero meio de prova, ou seja, ele deixa de ser um título cambial,
o que inviabiliza o ajuizamento da ação cambial. Caso já tenha sido lavrado o protesto por falta
de aceite, é dispensável o protesto por falta de pagamento. Se a letra de câmbio é enviada
para o aceite e não é devolvida, também deve ser feito o protesto. Esse protesto basear-se-á
na segunda via da letra de câmbio ou nas indicações da duplicata. A recusa da devolução
da letra significa presumidamente uma recusa ao aceite ou ao pagamento, produzindo-se,
então, o protesto por falta de aceite ou de pagamento.

Se não forem observados os prazos legais para protestar, o portador do título perde o direito
de crédito contra os coobrigados da letra, permanecendo apenas o direito de crédito contra
o devedor principal e seu avalista. Diante disso, a doutrina denomina necessário o protesto
contra os coobrigados e facultativo o protesto contra o devedor principal e seu avalista, pois,
mesmo depois do prazo para protestar, eles continuam a responder pelo crédito do título. O
cancelamento do protesto poderá ocorrer e tem por base o pagamento posterior do título. Ele
será processado administrativamente perante o cartório no qual ocorrera o próprio protesto,
mediante a entrega do título protestado pelo interessado.

Ação cambial
Caso o título não seja pago no seu vencimento, o credor poderá valer-se da execução judicial
de seu crédito contra qualquer devedor cambial, desde que respeitadas as condições de
exigibilidade do crédito cambiário já estudadas anteriormente; por exemplo, o protesto
tempestivo para a cobrança de coobrigados.

Neste caso, as seguintes ações judicias podem ser ajuizadas:


•  Ação de execução;
•  Ação de enriquecimento sem causa;
•  Ação monitória do título prescrito;
•  Ação fundada na relação causal originária do título.

Tanto a ação de execução como a de enriquecimento sem causa são consideradas ações
cambiais. As demais são ações processuais civis ordinárias. Além disso, diz-se que a ação
cambial será direta quando for movida contra o devedor principal e indireta quando for
movida pelo portador do título contra os coobrigados e avalistas. Ela é indireta porque, como
já vimos, o coobrigado poderá exercer o direito de regresso contra os outros coobrigados ou
contra o devedor principal. 

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O autor da ação será o portador legítimo do título. O executado, que é obrigado no título, só
poderá defender-se e negar o pagamento se mencionar algum destes fatos:

•  Direito pessoal do réu contra o autor – só poderá alegar direito dele em face do exequente, por
força do princípio da autonomia das obrigações;
•  Defeito de forma do título – alegando violação ao requisitos legais impostos ao título;
•  Falta de requisito para o exercício da ação – questões processuais, por exemplo.

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9
AÇÃO CAMBIAL – PRAZO
9.  Ação Cambial – Prazo
A execução do título de crédito precisa respeitar alguns prazos previstos em lei. De acordo
com o art. 70 da Lei Uniforme: “todas as ações contra o aceitante relativas a letras prescrevem
em 3 anos a contar do seu vencimento”. As ações do portador contra os endossantes e contra
o sacador prescrevem em 1 ano, a contar da data do protesto feito em tempo útil; ou da data
do vencimento, caso se trate de letra que contenha cláusula “sem despesas” (a qual será
vista mais adiante). Já as ações dos endossantes, uns contra os outros ou contra o sacador,
prescrevem em 6 meses, a contar do dia em que o endossante pagou a letra ou em que ele
próprio foi acionado.

Há também o prazo prescricional de 6 meses, a contar do pagamento ou do ajuizamento da


execução cambial, para o exercício do direito de regresso por qualquer um dos coobrigados.
Resumindo, a execução deverá ser ajuizada:

QUADRO COMPARATIVO DOS PRAZOS PRESCRICIONAIS

Prazo
Devedor cobrado A contar
Prescricional
Contra aceitante e avalistas 3 anos Do vencimento
Contra sacador, endossantes e Do protesto ou do vencimento se houver a
1 ano
avalistas cláusula sem despesa

Endossantes uns contra os outros Do pagamento da letra ou do ajuizamento de


6 meses
ou contra o sacador ação contra o endossante

A execução cambial prevê o pagamento do valor principal do título, acrescido de juros


moratórios, além de despesas e correção monetária a partir do vencimento. Se o título
teve vencimento antecipado por conta da recusa do aceite pelo sacado, o seu valor será
reduzido de acordo com as taxas bancárias vigentes no domicílio do portador na data da
execução.

CLÁUSULA SEM DESPESAS


A cláusula “sem despesas” é uma cláusula que pode ser inserida pelo sacador, endossante
ou avalista e que dispensa o credor de ter que lavrar um protesto em cartório se tiver
que cobrar judicialmente os devedores indiretos do título. Ela beneficia o credor, então,
desfavorecendo os devedores indiretos. Se essa cláusula for inserida pelo sacador, ela
obrigará todos os signatários do título. Não poderá ser cobradas de ninguém as despesas
de um possível protesto. Se essa cláusula for inserida pelo endossante ou avalista, produzirá
efeitos em relação a todos aqueles que passaram a relacionar-se com o título de crédito após
a cláusula, podendo as despesas de um protesto serem cobradas de qualquer signatário.

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10
NOTA PROMISSÓRIA
10.  Nota Promissória
A nota promissória nada mais é do que uma ordem de pagamento em favor de outrem,
realizada por um compromisso escrito. Nela, temos a figura do emitente/promitente (aquele
que promete o pagamento) e o beneficiário/tomador (em favor de quem se faz a promessa).
Não há que se falar em sacador ou em aceite na nota promissória.

Requisitos da nota promissória


Por ser um instrumento formal, a nota promissória deve preencher os requisitos previstos em
lei. São eles:

ESSENCIAIS
•  Expressão Nota Promissória
•  Promessa pura e simples de pagar quantia determinada
•  Nome do beneficiário
•  Data da emissão
•  Assinatura do emitente

NÃO ESSENCIAIS
•  Época do vencimento não é requisito
•  Local da emissão
•  Local do pagamento

Se o vencimento não estiver especificado, considera-se a nota promissória um título à vista.

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Peculiaridades
Ela não admite aceite cambial, uma vez que o próprio emitente é o devedor principal. Portanto,
todas as regras que vimos sobre o aceite na letra de câmbio se aplicam ao emitente da nota.
Consequentemente, não há também o vencimento antecipado por recusa de aceite. Em
caso de inadimplemento, o credor pode ajuizar a execução sem o protesto do título. O prazo
prescricional da ação de execução é de 3 anos, contados do vencimento titular. O aval em
branco da nota promissória favorece o subscritor ou emitente.

Vinculação da nota promissória ao contrato


Geralmente, a nota promissória ou outros títulos de crédito são emitidos vinculados a
um contrato. Um título que vem vinculado a um contrato é derivado, podendo o devedor
defender-se analisando toda a situação relativa ao contrato. Nesse caso, o título perde uma
das características que vimos no início: a abstração. De acordo com a Súmula 256 do Superior
Tribunal de Justiça:

“A nota promissória vinculada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez
do título que a originou”.

Ou seja, caso o contrato seja ilíquido ou inexigível, esses vícios contaminam o título de crédito,
que também passa a ser ilíquido ou inexigível, perdendo sua característica de certeza, de
título executivo.

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11
CHEQUE
11.  Cheque
O cheque consiste em uma ordem de pagamento à vista emitida contra um banco em razão
dos fundos que alguém possui na referida instituição financeira. A legislação do cheque no
Brasil é a Lei n. 7357/85. O cheque é um modelo vinculado de título de crédito, pois só poderá
ser emitido em documento padronizado, fornecido pelo banco sacado.

Fonte: Créditou ou Débito, 2018

No cheque, existem três figuras: a do emitente (aquele que possui os fundos), a do sacado
(a quem é dada a ordem de efetuar o pagamento) e a do beneficiário (aquele que receberá o
valor). O banco, sacado, não garante o pagamento do cheque e nem pode o fazer, pois a lei
proíbe que ele faça o aceite, o endosso ou o aval do título. Assim, não há a figura do aceite
no cheque, visto que o sacado não poderá se tornar devedor desse título, arcando com a
responsabilidade de seu cliente (a quem cabe possuir fundos se quiser pagar valor).

Assim, o sacado de um cheque, que é a instituição bancária, não tem qualquer obrigação
cambial. O credor do cheque não pode cobrar do banco por conta de insuficiência de fundos
na conta do sacador.

O principal elemento do cheque é a sua ordem de pagamento à vista, que não poderá ser
descaracterizada pelas partes.

A emissão de um cheque com ordem de pagamento à prazo, pós-datado (que, na prática,


as pessoas chamam de pré-datado), não produz nenhum efeito cambial, ou seja, não obriga
o branco de nenhuma forma. Um cheque pós-datado é pagável no exato momento da sua
apresentação, mesmo que seja em data anterior à indicada como da sua emissão. O que
pode acontecer, e que já se confirma pelos Tribunais, é que o saque efetivado antes da data
acordada entre o emitente e o tomador pode gerar o dever de indenização pelo desrespeito
do tomador à obrigação de não fazer que fora assumida perante e aceita por este perante o
emitente.

O banco só responderá se houver algum descumprimento de dever legal, como o pagamento


indevido do cheque. Ele responde por ato ilícito que ele próprio venha a praticar, mas não

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assume qualquer obrigação cambial referente a cheques sacados de seus clientes correntistas.
O dinheiro disponível na conta corrente pertence ao correntista sacador até o momento de
liquidação do cheque. Isso significa que, se o correntista sacador tiver outro credor de outros
títulos, este poderá executar esse crédito sobre os fundos disponíveis em conta corrente,
mesmo que já tenha sido emitido um cheque na provisão do dinheiro à época disponível.

Requisitos do cheque
ESSENCIAIS
•  Expressão cheque
•  Ordem incondicional para pagar quantia determinada
•  Nome do banco
•  Data e luguar da emissão
•  Assinatura do emitente

NÃO ESSENCIAIS
•  Época do vencimento
•  Local do pagamento

Modalidades do cheque
Os cheques se classificam em:

•  Ao portador: não possui a identificação do beneficiário. O cheque ao portador pode ser emitido se
o valor mencionado não for superior a R$100,00. Acima deste valor, os cheques devem ser emitidos
nominalmente.
•  Nominais: possui a identificação do beneficiário.
•  Visado: o banco sacado declara a existência de fundos suficientes, lançando esta informação no
verso do título, bem como assinando-o, sendo que esses fundos ficarão reservados para a liquidação
do cheque pelo prazo para a apresentação do título. Isso é feito a pedido do emitente ou do portador
legitimado. A única obrigação que compete ao banco é a de reservar, na conta corrente do sacador
e em benefício do credor, a quantia equivalente ao valor do cheque durante o seu prazo para a apre-
sentação. Fora do prazo para apresentação, o cheque perde a certeza do visto, ou seja, a certeza de
que existem fundos capazes de cobrir-lhe o valor. Ademais, o cheque visado deve ser nominal e não
pode circular através de endosso, para garantir-lhe maior segurança.
•  Cruzado: o cheque cruzado é aquele no qual são apostas duas linhas paralelas entre si no seu
anverso. Significa que o cheque somente será pago por meio de compensação (depósito em conta
corrente), ou seja, o pagamento somente poderá dar-se mediante crédito em conta de um banco;
assim, o sacador não poderá apresentar o cheque no caixa do banco para receber o valor correspon-
dente em dinheiro.  A finalidade de se cruzar é garantir mais segurança, pois o cheque poderá ser
localizado em caso de furto, roubo ou extravio, já que é necessário o seu depósito. O cruzamento de
um cheque é um ato irretratável. Dessa maneira, o banco fica obrigado a observar algumas carac-
terísticas deste título. O cheque poderá ser cruzado:

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1. Em preto (ou especial): o cheque com cruzamento especial somente poderá ser pago ao
banco cujo nome conste do cruzamento ou a um cliente seu mediante depósito em conta. Isto
significa que se o credor do cheque não for correntista do banco sacado, deverá necessaria-
mente depositar o cheque junto ao banco em que possua conta.

2. Em branco (ou geral): quando o cheque pode ser creditado em qualquer branco.

•  Cheque para se levar em conta: ele tem a mesma finalidade do cheque cruzado. Nesse caso, o
cheque não pode ser pago em dinheiro, mas apenas depositado. Deve constar na face do título a ex-
pressão “para ser creditado em conta”, podendo-se, inclusive, indicar a conta específica, caso em que
o cheque será válido somente para a conta da pessoa que o recebeu. Esta modalidade de cheque
não pode receber cláusula à ordem, ser alvo de endosso ou transferência a terceiros, exceto se por
cessão de direitos.
•  Administrativo: este cheque é sacado pelo próprio banco contra algum de seus estabeleci-
mentos, ou seja, é emitido pelo próprio banco para garantir seu próprio pagamento. Assim, sacador
e sacado são a mesma pessoa. Este tipo de cheque é em situações nas quais alguém precisa ter
certeza quanto à existência de fundos numa negociação que está sendo feita. Paga-se certo valor
ao bando para que ele emita tal cheque. Uma das espécies mais conhecidas deste tipo de cheque é
o “traveller’s check”, que é um instrumento de troca de moeda. Caracteriza-se por ser uma ordem de
pagamento à vista que um banco emite contra qualquer um de seus estabelecimentos e destina-se
a conferir maior segurança aos viajantes que não precisarão transportar dinheiro. Esta modalidade de
cheque não é disciplinada pela Lei do Cheque.

ENDOSSO E AVAL NO CHEQUE


O regime é parecido com o da letra de câmbio, mas o aval aqui não poderá ser dado pelo banco
sacado, visto que, se assim o fosse, equivaleria a um aceite. Já foi visto que o cheque não
admite aceite pelo sacado, já que ele não é o devedor obrigado. Já em relação ao endosso,
entende-se que o cheque possui implicitamente a cláusula “à ordem”. Assim, ele pode circular
por endosso.

APRESENTAÇÃO DO CHEQUE PARA PAGAMENTO


O cheque deve ser apresentado ao banco sacado para ser liquidado, mas essa apresentação
deve respeitar alguns prazos:
•  30 dias, se na mesma praça (mesmo município); e
•  60 dias, se em outra praça.

É importante que esses prazos não sejam convertidos em meses (como um mês e dois meses),
mas contados exatamente em dias. Mesmo depois de decorrido este prazo, o cheque poderá
ser apresentado para liquidação, desde que a ação cambial não esteja prescrita (dentro
dos 6 meses posteriores ao término do prazo para apresentação). De acordo com a Súmula
600 do Supremo Tribunal Federal: “Cabe ação executiva contra o emitente e seus avalistas,
ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que não prescrita a
ação cambiária.” Isso significa que não há perda do direito de executar os endossantes e
seus avalistas. Entretanto, há uma hipótese na qual o portador do cheque perde o direito de
executar inclusive o emitente: quando deixa de apresentar o cheque no prazo e os fundos

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que existiam naquele momento deixam de existir por motivo não imputável ao emitente (art.
47, §3° da Lei n° 7357/1985).

IMPEDIMENTO AO PAGAMENTO  
O emitente do cheque pode impedir seu pagamento pelo banco sacado em duas hipóteses:

•  Revogação: ato próprio do emitente. De acordo com o art. 35 da Lei do Cheque, essa modalidade
de não pagamento surte efeito apenas depois de transcorrido o prazo para apresentação do cheque.
•  Sustação: trata-se do impedimento da liquidação do cheque, e pode ser feita pelo emitente ou
pelo possuidor legítimo. Deve-se indicar uma razão relevante, por exemplo, extravio, roubo, furto,
entre outras. Conforme art. 36 da Lei do Cheque, esse ato produz efeitos a partir da certificação do
banco sacado, desde que anterior à liquidação do título.

O cheque deve ser protestado pelo credor, dentro do prazo legal para sua apresentação para
pagamento, a fim de se garantir o direito creditício contra os coobrigados do cheque. A emissão
de cheque sem fundos é tipificada como crime de fraude por pagamento de cheque, nos
termos do art. 171, §2°, IV do Código Penal. É crime doloso, não incorrendo em qualquer ilícito
penal aquele que por culpa (negligência, imperícia, imprudência) emite cheque se fundos. O
pagamento do cheque até o recebimento da denúncia importa extinção da punibilidade.

AÇÃO CAMBIAL DO CHEQUE


Quando o cheque não tem fundos, poderá ser executado por meio de uma ação cambial. A
ação executiva do cheque prescreve em 6 meses, após o término do prazo para apresentação,
não sedo relevante se o cheque foi ou não apresentado dentro deste prazo. A ação para
exercício do direito de regresso prescreve em 6 meses, contados da data do pagamento.
Mesmo depois de prescrita a ação cambial, poderá ser proposta a ação de enriquecimento
ilícito, no prazo de 2 anos após a prescrição. Essa ação terá como réu qualquer devedor que
se enriqueceu indevidamente com o título.

CHEQUE PÓS-DATADO
Mesmo sabendo que o cheque é uma ordem de pagamento à vista, é corriqueiro que ele
seja emitido para apresentação em uma data futura. É o chamado cheque “pré-datado”,
tecnicamente chamado pós-datado. Essa combinação de apresentação em data futura é um
acordo entre as partes, pois, como já vimos, para o banco, o cheque sempre será uma ordem
de pagamento à vista, conforme o art. 32 da Lei n° 7357/1985. Esse acordo entre as partes
não descaracteriza o cheque, mas é como se passasse a existir um contrato no qual está
previsto que o este só poderia ser apresentado após uma determinada data. Sendo assim,
havendo apresentação do cheque em data anterior à combinada, haverá uma quebra desse
contrato e nascimento de responsabilização por danos materiais e morais de quem o sacou.

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12
DUPLICATA
12.  Duplicata
De acordo com Edilson Enedino das Chagas (2017), a duplicata:

“é um título de crédito que emerge de uma compra e venda mercantil de serviço à prazo, negócio que gerou
uma fatura (...). Nela, o vendedor (sacador) determina ao comprador (sacado) que pague o valor da compra
e venda realizada a um beneficiário (o próprio sacador, que endossará a duplicata a um terceiro estranho ao
negócio originário, geralmente o banco), na data fixada para o vencimento.”

A duplicata é um título de crédito causal, no sentido de que não poderá ser sacada em
qualquer hipótese e de acordo com a vontade das partes interessadas. Sua emissão somente
é possível para representar crédito decorrente de uma determinada causa prevista em lei.
Há a duplicata mercantil, para os contatos de compra e venda; e a duplicata de prestação
de serviços, utilizada geralmente em vendas à prazo. Vendas à prazo significam, na Lei das
Duplicatas (Lei n° 5.474/1968), aquelas vendas cujo pagamento é parcelado em período não
inferior a 30 dias ou cujo preço deva ser pago integralmente em 30 dias ou mais, sempre
contados da data da entrega ou despacho da mercadoria.

A duplicata mercantil é um título de modelo vinculado e deve ser emitida em impresso


próprio do vendedor, confeccionado de acordo com o padrão previsto na Resolução n 102 do
Conselho Monetário Nacional.

Vejamos abaixo uma ilustração de como a duplicata é gerada:

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REQUISITOS DA DUPLICATA

Fonte: WEB CARTÓRIOS, 2018

1. Denominação duplicata;
2. A data de sua emissão;
3. Número de origem;
4. Número da fatura (é o documento em que são discriminadas as mercadorias ven-
didas com as suas identificações, sendo mencionados os seus valores unitários e seu
valor total);
5. Data do vencimento;
6. Nome e domicílio do vendedor e do comprador;
7. O valor a ser pago em algarismo e por extenso;
8. A praça do pagamento;
9. A cláusula à ordem, não se aceitando cláusula não à ordem, a qual somente poderá
ser inserida no título por endosso;
10. A declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser
assinada pelo comprador como aceite cambial;
11. Assinatura do emitente.
Ademais, deve-se ressaltar que a duplicata mercantil é emitida com base na fatura. Portanto,
sua emissão se dá após uma mercadoria ser vendida. Não se admite a emissão de uma
duplicata representativa de mais de uma fatura.

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ACEITE NA DUPLICATA
O devedor do contrato (sacado na duplicata), para assumir a obrigação de pagar os valores
constantes do título, como devedor principal, deverá proceder ao aceite. Para se obter o
aceite, a duplicata deverá ser remetida no prazo de 30 dias contados da sua emissão, ou 10
dias contados de seu recebimento por intermediários (artigo 6º, Lei das Duplicatas).

TIPOS DE ACEITE NA DUPLICATA


•  Aceite por presunção: resulta do recebimento das mercadorias pelo comprador, desde que não
tenha havido causa legal motivadora da existência da recusa, com ou sem a devolução do título ao
vendedor.
•  Recusa do aceite: em regra, não pode haver a recusa do aceite, somente nos casos previamente
definidos em lei. Pode ocorrer, então, a recusa caso haja motivo legítimo, por exemplo, um vício no
contrato.

Na duplicata mercantil (decorrente de um contrato de compra e venda), são estes os motivos


que autorizam a recusa do aceite, conforme art. 8 da Lei da Duplicata:

•  Avarias nas mercadorias ou não recebimento delas, quando não expedidas ou não entregues por
conta e risco do sacado;
•  Diferenças de quantidade e qualidade das mercadorias;
•  Divergência nos prazos e preços ajustados.
•  Recusa de aceite na duplicata.

Na duplicata decorrente de um contrato de prestação de serviços, autoriza-se a recusa


do aceite mais ou menos nos mesmo moldes da duplicata mercantil, pela ocorrência das
hipóteses previstas no art. 21 da Lei das Duplicatas:

•  Não correspondência entre serviço prestado e serviço contratado;


•  Vícios ou defeitos na qualidade do serviço prestado;
•  Divergência nos prazos ou preço ajustados.

ENDOSSO E AVAL NA DUPLICATA


De acordo com o art. 2º, §1 da Lei n° 5.474/1968, a cláusula à ordem é obrigatória nas
duplicatas, e, portanto, sempre será possível realizar o endosso delas. Ao ser feito o endosso,
relembremos, o proprietário do título perde a titularidade dos direitos nele previstos, mas
continua coobrigado, respondendo solidariamente com o portador do título. O aval na
duplicata também é permitido e segue a mesma regra da letra de câmbio.

VENCIMENTO
Geralmente, as duplicatas são destinadas a pagamento à vista ou com vencimento em dia
certo, não podendo haver duplicatas com vencimento a termo da data. Ocorrerá também o

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vencimento antecipado nos mesmo casos da letra de câmbio: recusa do aceite, ou falência
ou insolvência do aceitante. A Lei das Duplicatas admite o pagamento parcial e também
o antecipado. Também se pode abater, no pagamento, a diferença de preços, desde que
devidamente autorizada tal operação pelo credor.

O protesto deve ser efetuado na praça de pagamento constante da duplicata e dentro do


prazo de 30 dias, a contar do seu vencimento. No caso de não se respeitar esse prazo, haverá
a perda do direito creditício do credor contra os coobrigados (endossantes e avalistas). Contra o
devedor principal e seu avalista, não é necessário haver o protesto.

AÇÃO DE COBRANÇA
De acordo com o art. 18 da Lei das Duplicatas, os prazos prescricionais da ação cambial são:

•  Contra o devedor principal e seus avalistas: 3 anos, contados do vencimento;


•  Contra os demais codevedores: 1 ano, contado do protesto ou do vencimento, se houver a cláu-
sula sem protesto;
•  1 ano contado do pagamento, para ação regressiva movida porque ele que pagou contra os
demais codevedores.

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13.  Outros Títulos
Os títulos de crédito impróprios não são considerados propriamente títulos de crédito, como
deixa bem claro seu nome, embora se encontrem disciplinados por um regime próximo ao
dos cambiais. Vejamos a classificação desses títulos impróprios:

Títulos representativos
Esses são aqueles que representam a titularidade de mercadorias custodiadas; mercadorias
que estão sob os cuidados de uma terceira pessoa que não é o proprietário delas. Eles possuem
a finalidade, então, de representar mercadorias consignadas. Somente em caráter secundário
é que os títulos representativos se prestam a representar obrigações pecuniárias. Esses títulos
são conhecidos também como “conhecimento de depósito”, “warrant” e “conhecimento de
frete”. Eles possibilitam a negociação dessas mercadorias pelo valor monetário que elas têm
no depósito.

Os armazéns gerais são disciplinados pelo Decreto n° 1102/03 e têm a finalidade de guardar
e conservar as mercadorias de terceiros, que estão sob seus cuidados. Quando recebem
as mercadorias, esses armazém têm a faculdade de emitir dois títulos em conjunto. São
eles: conhecimento de depósito e warrant. Esses títulos também podem ser emitidos por
sociedades de economia mista ou empresas públicas que trabalhem com silos, frigoríficos,
entre outros. O conhecimento de depósito e o warrant, desta maneira, são títulos emitidos por
armazéns gerais e que representam mercadorias neles depositadas.

A finalidade do conhecimento de depósito é atestar a propriedade das mercadorias. Já


a do warrant, é representar um penhor (direito real que vincula uma coisa, a mercadoria,
ao pagamento de uma dívida) sobre as mercadores depositadas, e, ainda, uma promessa
de pagamento. Apesar do conhecimento de depósito e do warrant terem finalidade e
origem comuns, eles podem circular separadamente. O endosso dos dois títulos transfere
a propriedade plena das mercadoras. O endosso somente do warrant constitui um penhor
sobre as mercadorias depositadas e deve mencionar a dívida garantida. O endosso do
conhecimento de depósito separado do warrant transfere a propriedade dessas mercadorias
gravadas com o ônus de terem sido dadas como garantia do pagamento.

As mercadorias depositadas nesses armazéns só podem ser entregues, em regra, a quem


exiba esses documentos. Esta regra, entretanto, comporta duas exceções:

•  Liberação em favor do titular do conhecimento de depósito endossado em separado, antes do


vencimento da obrigação garantida pelo endosso do warrant, desde que deposite, junto ao armazém,
o valor desta obrigação;
•  Execução da garantia pignoratícia, após o protesto do warrant, mediante leilão realizado no próprio
armazém.

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O portador do warrant tem um direito de crédito contra o devedor principal (primeiro
endossante). Caso ele não efetue o pagamento, deverá fazer o protesto no prazo da letra
de câmbio, podendo, em 10 dias, promover a venda das mercadorias extrajudicialmente.
O conhecimento de frete é o título representativo de mercadorias transportadas, emitido
pelas empresas de transportes. Ele tem por finalidade provar que houve o recebimento da
mercadoria pela transportadora e o comprometimento em entrega-la ao seu destino.

Título de financiamento
Sabe-se que as atividades produtivas precisam de crédito para se desenvolverem. Por esta
razão, a lei permite a emissão de títulos de crédito representativos de financiamentos, as
chamadas “cédulas de crédito”. A cédula de crédito é uma promessa de pagamento em dinheiro
vinculada a um financiamento da atividade rural industrial, comercial ou de prestação de
serviços/exportação. Em outras palavras, trata-se de empréstimo, realizado por instituições
financeiras, a pessoa física ou jurídica que se dedique à atividade mercantil ou à prestação
de serviços.

Esses títulos assemelham-se às notas promissórias, vinculadas, porém, a um contrato de


financiamento com finalidade determinada, tendo como beneficiário inicial uma instituição
financeira. Eles obedecem as mesmas regras da letra de câmbio, dispensando-se o protesto
para cobrança de devedores indiretos.

Cédulas de crédito bancário


Consistem em uma promessa de pagamento lastreada em uma operação de crédito, com ou
sem garantia, conforme a Lei n° 10.931/2004. Trata-se também de um empréstimo, feito a
pessoa física ou jurídica que se dedique à atividade mercantil ou à prestação de serviços, dado
por uma instituição financeira, normalmente um banco, mas cuja operação será representada
pela emissão de cédulas de crédito comercial.

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Títulos de Crédito

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