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Fichamento: CSIKSZENTMIHALYI, Mihaly; ROCHBERG-HALTON, Eugene.

The meanings of things: domestic symbols and the self.


Cambrige: University Press, 1981.

Citação com autor incluído no texto: Csikszentmihalyi e Rochberg-halton (1981)

Citação com autor não incluído no texto: (CSIKSZENTMIHALYI; ROCHBERG-HALTON,


1981)

ix: Past memories, presente experiences, and future dreams os each person are
inextricably linked to the objects that comprise his or her environment.

x: Whether humankind will heed the evdence and respond to it adaptively by


redirecting its goals is perhaps the most important question for our survival.

We wanted to examine the role of objects in people's definition of who they are,
of who they have been, and who they wish to become.

xi: Georges Gusdorf (1948) “to be is to have” (ser=ter).

xii: Our Project came to reflect the opposite process: to investigate the
personification of things rather than reification of persons.

[...] having temporarily exhausted the issue of how art is produced, he wondered
how it was "consumed".

If psychoanalysts could discuss relations with people as "object relations", it certainly


seemed possible to view things as role models or socializing signs.

Cap.1: People and things (p.1)

Homo faber: Os objetos são feitos para serem usados. São ferramentas que tornam a
sobrevivência mais fácil e mais confortável. Formam a identidade de seus usuários.

O que os objetos significam e como eles se relacionam com as pessoas? – Análise


empírica sobre a interação que ocorre entre pessoas e objetos.

The person as a pattern of psychic activity (p.2-13)

p.2 Definição de pessoa/personalidade: consciente e capaz de controlar sua


existência, direcionando-se a determinados propósitos (model of the self).

p.3 Descartes: método da dúvida-inferência (subjetividade) sobre o mundo objetivo.


“I think, therefore, I am” -> corpo (emoções) e mente (pensamentos) são coisas
diferentes. (concepção cardinal/método cartesiano)

I think -> processo em constante desenvolvimento e mudanças que ocorre em


determinado tempo e espaço, e envolve uma troca entre sujeito e objeto, entre “eu”
e o “outro” (self-awareness). A própria consciência é subjetiva e não direta,
compilada através de signos passíveis de interpretação. Usamos representações que
dão sentido e moldam nossas experiências e nós mesmos como objeto de consciência,
através do pensamento e da linguagem (self-knowledge).
P.4 O estudo pretende ir de encontro aos objetivos da experiência e os significados
que levam a estes. Perceber o contexto cultural (context of cultivation), através de
interpretações e “self-control”.

“What would give it direction? How could one form intentions and act intelligently or
attend to the process of acting without cultivation?-> “cultivation” é uma atividade
da psique humana que só acontece porque somos capazes de focar seletivamente
nossa atenção para determinados objetivos. -> psychic energy ou energia psíquica,
agir com atenção (“Psychic activity consists of intentions that direct the attention
through which information is selected and processed in consciousness.”).

P.5 A minha experiência é o que eu concordo em participar, ou dar minha


atenção. (“Only those items which I notice shape my mind – without selective
interest, experience is an utter chaos.” James, 1890, p.402/“People pay attention
to what they want to”).

Freud: subconsciente -> reprimimos nossos impulsos, para além do processo de


representação. Em contrapartida os autores acreditam que o significado da atividade
psicológica é resultado das nossas interpretações conscientes e baseadas em signos
culturais. (“Human beings never experience ‘raw’ instincts”/”Any intentional act
requires attention”/”Only by concentrating attention can we ‘make things
happen’”.)

Atenção é um recurso finito. Requer esforço para concentrar numa mesma Commented [MM1]: P.8 Se uma pessoa trabalha numa
informação por muito tempo. Logo, há um número limitado de coisas que podemos tarefa, uma certa quantidade de sua atenção é investida ali,
assim, esta energia investida é “perdida” porque o agente
fazer ou jeitos de ser. estava incapaz de usar essa atenção para outros propósitos.
[...]
P.6 Fatores determinantes do self-control: Oportunidades (chances), fora do controle No entanto, essa energia perdida pode se tornar um ganho
se, como resultado do investimento, o agente atingir uma
individual (local de nascimento, genes e em quais entornos podem limitar as opções). meta que ele ou ela estabeleceu para si mesmo.
“Part of the information in consciousness consists of intentions, structured in a (Crescimento pessoal)
hierarchy of goals” -> as intenções direcionam atenção e resultam na nossa
capacidade de interpretar as informações (shared by conscious goals).

P.7 Social system (sistema social): padrão previsível de interação entre pessoas, que
só é possível quando duas (ou mais) pessoas compartilham a mesma estrutura de Commented [MM2]: P.8 Um exemplo simples de
socialização consiste na adaptação mútua envolvida no
atenção. (“Sympathy, concern, care, and love, which describe the states of desenvolvimento de um padrão de acordar e dormir quando
consciousness that make two people want to continue a relationship, are great drains um bebê entra na vida de um casal (Csikszentmihalyi and
on their attention.”/ “A business company, an army, or a nation exist only as long as Graef, 1975). Bebês não têm preferência sobre quando fazer
coisas ou do que são capazes; sua atenção não é estruturada
people pay attention to the goals of such systems.”). -> Processos de socialização. e completamente “dessocializada”. Para os pais, a demanda
por atenção é totalmente aleatória e entra em conflito com
P.9 Um indivíduo não poderá se tornar uma pessoa se for incapaz de cultivar seus seus ritmos de dormir, trabalhar e se divertir, que estruturam
suas vidas. Consequentemente é necessária uma
objetivos e, portanto, a forma que seu “eu” tomará. reordenação dos objetivos para que o sistema continue
funcionando: os pais terão que mudar um pouco suas rotinas,
Fatores limitantes do self-control: causas naturais (falha genética ou desequilíbrio e a criança, que é mais dependente do sistema para
sobreviver, terá de reorganizar sua atenção para diminuir o
psicológico-doenças mentais) ou quando acontece das pessoas serem forçadas a conflito. A socialização acontece de maneira similar em todos
fazerem algo contra sua vontade -> dificultam a disposição da energia psíquica. os contextos: a interação entre pessoas requer uma
ordenação da consciência que simultaneamente preserva e
modifica o sistema, moldando a pessoa enquanto preserva
P.10 O estado ideal de experiência para o indivíduo é aquele em que as intenções seus objetivos.
não estão em conflito entre si (harmonia e controle total interno) -> podem escolher Commented [MM3]: P.9 Trabalhadores que odeiam seus
livremente em que investir sua energia, de acordo com suas intenções. X Conflito empregos, mas os realizam por causa dos salários que
interno (psychic disorder): desejo de fazer coisas incompatíveis ou de maneira recebem no final da semana, da mesma forma, perdem o
controle sobre sua energia psíquica, pelo menos
diferente do que está sendo feito (“Psychic energy is focused on conflicting temporariamente.
intentions”/“psychic entropy”)-> ansiedade, frustração, alienação, tédio (estados Commented [MM4]: P.10 Dependendo dos objetivos que
temporários) uma pessoa desenvolve, uma ação envolverá efeitos
socialmente aceitáveis, neutros ou prejudiciais. (perspectiva
de consciência pessoal para o social/comunitário)
P.11 Quando um grupo está em um estado entrópico, as intenções de seus membros
se anulam, em vez de contribuir para os objetivos de cada pessoa. Segue-se que,
para alcançar uma comunidade vital, a energia psíquica dos indivíduos deve ser
congruentemente estruturada. -> Cada um, com suas diferenças, atingirá seus
objetivos individuais, mas sem necessariamente entrar em conflito com o outro.
Pluralidade, não homogeneidade > Isto é viver em comunidade (Hannah Arendt,
1958).

P.13 Em suma, diremos que o desenvolvimento mais completo da personalidade


envolve uma ordem livre de energia psíquica a nível individual, em comunidade e nas
instituições sociais mais amplas e no ambiente total.

Em cada nível, a atenção é investida em intenções que devem levar à consistência


entre si. Assim, a consciência da pessoa em si mesma unifica o padrão de forças
dentro daquelas dimensões do universo acessíveis aos seres humanos.

A pessoa que é capaz de cultivar seus próprios desejos, os objetivos da comunidade e


as leis da natureza, e é capaz de reconciliar esses padrões, consegue estabelecer
uma estrutura temporária de ordem a partir de uma possível aleatoriedade. Esta é a
criação do cosmos a partir do caos e a pedra de toque final do que normalmente é
chamado de saúde mental, ou auto-atualização.

Chamamos esse processo de cultivo. O cultivo refere-se ao processo de investir


energia psíquica para que se torne consciente dos objetivos que operam dentro de si,
como e entre outras pessoas e no meio ambiente. Refere-se também ao processo de
canalizar a atenção para atingir esses objetivos. Este, então, é o ideal contra o qual
nosso modelo de pessoa pode ser avaliado.

The nature of things (p.13-17)

P.13 Objetos são menos complexos que os seres humanos.

P.14 Conscientemente identificáveis através de pequenas informações capazes de Commented [MM5]: Signos (imagens mentais,
rotulá-los, artefatos são aqueles feitos intencionalmente por nós, seres humanos representação de algum objeto, qualidade ou ideia). Símbolo
é um tipo de signo.
(man-made things). A estrutura física de um artefato faz com que seu significado,
independente de tempo e espaço, evoque o mesmo sentido que foi dado desde sua
criação. Ex: a roda é roda desde que o mundo é mundo. Commented [MM6]: P.14 Uma escultura ou um sapato
devem sua existência física à atenção e intenção imposta por
seu criador, diferente do sol ou da chuva. Um artefato de um
P. 14 Os artefatos que as pessoas usam, possuem e, com os quais interagem, mudam povo antigo pode transmitir imagens dessa cultura mesmo
seus padrões de vida e refletem (ou escondem) aspectos de sua personalidade (ex: que não haja registros de sua língua ou crenças. (Dupla
roupas, carros, móveis). dependência de existência dos artefatos – a nível de
consciência: da parte de quem cria, e de quem interpreta)
Commented [MM7]: Os signos são partes organizacionais
P.15 Hannah Arendt (1958, filósofa social) – Divide nosso meio entre: “planeta” da minha consciência, logo, constituem o “eu”. (Ex: um rei e
(constituído por forças naturais) e “mundo” (só existe por ser construído pelo seu trono; um juiz e seu martelo, um professor e sua
esforço humano -> homo faber, que intencionalmente cria objetos através de signos apresentação, ambos exercem sua autoridade por meio
desses artefatos)
e pelo esforço de suas próprias mãos).
Commented [MM8]: Dialética natureza-cultura.
P.16 Os seres humanos põem ordem na sua existência, primeiro criando coisas, e Commented [MM9]: P.16 Um bom exemplo da confusão
depois interagindo com elas no mundo material. Essa é a forma de se auto afirmarem em torno desse ponto simples surge no contexto do atual
e, assim, as coisas que nos cercam fazem parte do que somos, e impactam debate em torno do controle de armas de fogo. Um slogan do
lobby das armas é: "As armas não matam pessoas, as
diretamente no futuro da humanidade, podendo ser facilitadores ou obstáculos ao pessoas matam". A neutralidade do objeto é assumida; as
desenvolvimento nos nossos objetivos (pessoais, da comunidade ou do ambiente) e do intenções das pessoas serão realizadas independentemente
das coisas que elas usam. Escusado será dizer que nossa
nosso “eu”. posição implica a conclusão oposta. Não há "pessoas" no
resumo, as pessoas são o que elas atendem, o que elas
apreciam e usam. Uma pessoa que tem uma arma em sua
casa é, por esse fato, diferente daquela que não possui
The objects of the household (lar) (17-19) Commented [MM10]: Não é um assunto muito interessante
para cientistas sociais e psicólogos.
P.17 Foco nos objetos domésticos. São aqueles artefatos que escolhemos para ter
por perto, ou seja, têm mais a ver com nossa identidade (formam uma “ecologia de Commented [MM11]: Significa literalmente o estudo das
signos”, um padrão). residências.

P.17 Sociólogos sugerem que artefatos do lar são símbolos de status em uma
hierarquia social; formas (físicas) de expressão e diferenciação. Ex: pessoas de uma
mesma classe social compartilham de um mesmo padrão de atitudes,
comportamentos e artefatos, estruturando assim suas identidades e diferenciando-os
dos demais.

P.18 A propriedade dos artefatos expressa a habilidade de uma pessoa de controlar o


ambiente ao seu redor. Porém quando não aceitos pela sociedade, podem virar
ferramentas de opressão.

P.18 Assim os artefatos afetam o modo como interagimos com eles (relação pessoa-
objeto)

P.19 A seguir veremos perspectivas e exemplos teóricos da relação entre pessoas e


objetos.

Cap.2: What things are for (p.20-22)

P.20 “Dar significado” é um processo de comunicação que envolve signos/símbolos.


Mas o que se entende por “signo”?

Artefatos materiais são o que há de mais concreto ao nosso redor, pois podemos
aponta-los, olhá-los, tocá-los e até esbarrar com alguns, o que nos faz lembrar sua
materialidade. Commented [MM12]: P.20 Exemplo:
Uma aliança na mão de uma pessoa representa
compromisso; um diploma, assim como um troféu, é símbolo
P.20 O uso de coisas para fins utilitários opera dentro da área simbólica da cultura. de uma conquista pessoal.
Portanto um aparelho de TV, móveis, água encanada, aparelhos elétricos etc.
simbolizam aspectos utilitários e culturais. É muito difícil separar sua função utilitária
do seu significado simbólico, pois mesmo os artefatos mais práticos e funcionais
servem como símbolos de socialização (pessoas-hábitos/ pessoas-modos de vida).

P.21 Quando uma coisa “significa algo” para alguém, traz um contexto de
experiências vividas, consciente ou inconscientemente, e pode gerar emoções.

P.21 O desenvolvimento de símbolos dentro de uma tradição cultural quer dizer que
as pessoas poderiam comparar suas vivências com as de seus ancestrais –
subjetividade dentro das convenções sociais sobre o meio circundante, alterando-o e
a si mesmos. Assim, os símbolos tornaram-se capazes de transmitir sentimentos e
atitudes que tinham uma existência objetiva fora de situações imediatas, e esse
desenvolvimento da autoconsciência é geralmente considerado a maior realização da
humanidade. Commented [MM13]: Ao libertar sensações de seu
ambiente imediato (fazer certas coisas representarem outras),
pode-se lidar com elas de maneira abstrata e, assim, até
P.21 Processo de culturalização que leva em conta o passado, o presente e o futuro - certo ponto, obter maior autocontrole e maior controle sobre o
acúmulo de experiências e sabedorias antigas, objetivos – e aumenta as meio ambiente. Através de símbolos, experiências como
possibilidades (tanto de soluções como de problemas) para a construção dos medo, amor ou reverência agora podiam ser comunicadas em
palavras, figuras ou rituais.
artefatos.
P.21 A relação com objetos materiais tem consequências poderosas para a
experiência humana e sobrevivência das espécies, e devemos entender como esse
processo altera a prática cotidiana.

Symbols that mediate conflicts whithin the self (Símbolos que mediam conflitos
com o “eu”) (p.22-25)

P.22 Dimensões do simbolismo: Para Freud, os símbolos desempenham papel


principal na dinâmica interna da psique. As experiências negativas (casos de
infelicidade), são conflitos que surgem dentro de nós mesmos (entre o desejo interno Commented [MM14]: O conflito é resultado de: 1) desejos
que é reprimido perante a realidade externa-SUPEREGO). incompatíveis afixados na composição humana e das 2)
restrições internalizadas socialmente (senso de certo e
errado).
P.22 O conteúdo reprimido do inconsciente, incapaz de se manifestar em suas formas Commented [MM15]: Elementos da Personalidade: ID
reais, surge conscientemente sob vários disfarces: objetos ou atos aparentemente (fonte de toda a energia psíquica e presente desde o
neutros. Essa transformação do inadmissível em inofensivo é o processo simbólico ao nascimento é inconsciente, e inclui comportamentos
instintivos e primitivos; principal componente da
qual Freud se refere. EXEMPLO: Objetos que representam o falo: “All elongated personalidade). EGO (responsável por lidar com a realidade,
objects, such as sticks, tree-trunks, and umbrellas (the opening of these last being se desenvolve a partir do Id e garante que seus impulsos
comparable to na erection) may stand for the male organ” (Freud, 1900, p.389) sejam expressos de forma realista e socialmente adequados
no mundo real). SUPEREGO (responsável por “domar” o Id,
ou seja, reprimir os instintos primitivos com base nos valores
P.23 Apesar de ter um lugar importante para a experiência humana, os objetos não morais e culturais que adquirimos dos pais ou sociedade;
são algo essencial a nossa existência. Se não existissem como símbolos, nossa mente aspectos de controle e civilidade).
poderia ser capaz de criar formas abstratas ou de alguma outra maneira disfarçar as
forças reprimidas no subconsciente. Commented [MM16]: O verdadeiro significado de uma
possessão, como o de um sonho, não reside no conteúdo
manifesto, mas no conteúdo latente subjacente. Para Freud,
EXEMPLO: Apego das crianças a cobertores, brinquedos de pelúcia e similares, as coisas não contribuíram de uma maneira ou de outra para
"objetos de transição" -> "O objeto de transição representa o seio ou o objeto de a totalidade da pessoa; somente o conceito de certos objetos,
primeiro relacionamento" (Winnicott, 1958 236). quando apreendidos pela mente, atuaria como mediador
entre as facções em guerra da psique. Portanto, no esquema
freudiano, as coisas em si não servem a nenhum propósito
P.24 Carl Jung: atribuiu papel um pouco mais ativo dos símbolos que aparecem na transcendente; eles não ajudam uma pessoa a mudar ou a
crescer. O que eles fazem é emprestar sua aparência ao pré-
arte, religião, sonhos ou fantasias. Fez a distinção entre signo (que é uma coisa consciente, que projeta significados neles para neutralizar
relativamente conhecida) e símbolo (cujo significado é relativamente desconhecido): parte da energia reprimida da psique.

OUSEJA: é o latente, o conceito, o subjetivo que virá a ser o


P.24 Um símbolo é carregado de energia psíquica e poder transformador símbolo daquilo que se quer propor – desde que apreendido
precisamente porque muito de seu significado é desconhecido ou inconsciente. Jung pela mente, nos levando a projetar significados.
acreditava que os impulsos inconscientes incluíam não apenas necessidades de Commented [MM17]: O símbolo não é um signo que oculta
satisfação fisiológica, mas também desejos poderosos de desenvolvimento pessoal e algo que todos sabem. Esse não é o seu significado: pelo
união espiritual com o ambiente social e físico. contrário, representa uma tentativa de elucidar, por analogia,
algo que ainda pertence inteiramente ao domínio do
desconhecido ou que ainda está por vir. A imaginação nos
P.25 Visão otimista de Jung em relação a Freud, posto que o primeiro acredite no revela, na forma de uma analogia mais ou menos
impressionante, o que está em processo de se tornar. Se
potencial transformador dos símbolos, que são vistos como modelos para o reduzirmos isso por meio de análise a algo mais conhecido
desenvolvimento e não apenas como ajuste. Mas ambos compartilham de uma visão universalmente, destruiremos o valor autêntico do símbolo;
conceitual essencialmente abstrata do papel das coisas nas transformações mas atribuir significado hermenêutico a ela está de acordo
com seu valor e seu significado. (Jung, 1953, p. 299).
simbólicas da psique. Como Freud, Jung não estava interessado na experiência real
que as pessoas podem ter tido em suas vidas com objetos concretos. Ele também se
concentrou apenas nas propriedades visuais ou funcionais dos objetos, na ideia
platônica das coisas, e não no impacto delas na transação que as pessoas têm com
elas em um contexto existencial.

Mas agora vamos ver como se dá o impacto das coisas sobre as pessoas.

Signs that express qualities of the self (Signos que expressam qualidades do “eu”)
(p.25-29)

P.25-26 Ao tentar descrever o que é fazer parte de uma cultura alienígena, os


antropólogos muitas vezes se viram em posição de usar objetos como metáforas para
a essência peculiar que eles queriam retratar -De fato, os antropólogos
acumularam descrições incrivelmente detalhadas do uso simbólico de objetos em
uma variedade de culturas -Exemplos para ilustrar as maneiras pelas quais os
objetos podem servir para expressar traços pessoais valiosos.

P.26 Em algumas culturas houve o desenvolvimento de traços e diferenciação por


gênero, criando-se estereótipos de que homens geralmente apresentam seu “poder”
através de características como a virilidade, força, coragem, resistência; e as
mulheres, respectivamente, através da sedução, fertilidade (...); e ambos como
forma de adaptação ao meio em que viviam. EXEMPLOS

EXEMPLO O uso de objeto LANÇA como símbolo central do “self” em uma sociedade
pré-alfabetizada (que não desenvolveu a escrita): Nuer.

(Nuer Men Commented [MM18]: A lança é como uma extensão, um


símbolo externo que representa virtudes como força,
demonstrating a spear fight, south sudan vitalidade; é uma projeção do eu interior, um signo conceitual
<https://twitter.com/Bahreljebel/status/633000849661235200>) que traz um conjunto de necessidades ou desejos internos.
NÃO É uma abstração, mas um objeto real que um homem
carrega e sente o peso, e pode exibir para outros.
P.27 O significado simbólico da lança ou qualquer outro objeto não é meramente Em seu caráter objetivo, a lança exagera e demonstra a todos
refletir uma realidade já existente, mas ajudar a promovê-la. ->Não apenas na vida os traços pessoais que o proprietário - e o resto da cultura -
aspiram a: força, velocidade, potência, permanência; a
dos indivíduos, mas também na história das culturas, objetos simbólicos prenunciam capacidade de exigir respeito, de controlar o ambiente.
modos de ser ou de sentir. Símbolos podem ser "modelos de..."(o que de fato "é") e O HOMEM QUE A CARREGA PODE NÃO SER TÃO FORTE,
MAS A ARMA AJUDA A FAZÊ-LO PARECER TER PODER.
"modelos para...a"(o que poderiam ser) realidade, Geertz (1966). Uma "força vital" na
determinação da evolução cultural.

P.27 As sociedades pré-alfabetizadas não são, obviamente, as únicas em que os


objetos refletem ou criam um senso de poder naqueles que os usam. -> EXEMPLO: O
carinho constante que tantas pessoas dedicam a seus carros é paralelo ao fascínio do
Nuer por sua lança. Pode-se ver nessa preocupação quase narcísica uma fixação
libidinal e fálica; mas parece ser mais - uma expressão de Eros no sentido mais
amplo, uma necessidade de demonstrar que alguém está vivo, que importa, que faz
diferença no mundo.

P.27-28 Por causa de sua estrutura física, os objetos se deixam levar pela expressão
de seu poder físico, e podem atuar como de maneira a aumentar a energia cinética
(quando em movimento) de um indivíduo. Mas também existem aspectos mais sutis
do eu que podem ser expressos por meio de objetos. EXEMPLO:

(Indígena nativo-americano portando uma “bolsa


medicinal”, e representa seus poderes mágicos ou forças sobrenaturais _ power
objects) http://4.bp.blogspot.com/-
OAodlaDfcMc/TxJuLiEC9iI/AAAAAAAAAUU/_PLf8JMq22M/s1600/Blackfoot+Indian+stan
ding+by+medicine+bundle.jpg. >> “Os poderes mágicos, baseados na presumida
relação íntima de um humano com forças sobrenaturais, são armazenados em
"objetos de poder", que os índios americanos carregavam em suas malas de
remédios.”

-> PESQUISAR: Objetos sacros da igreja católica Commented [MM19]: P.28 Algumas coisas representam
sabedoria, justiça, frugalidade ou outras virtudes respeitadas
na comunidade. Em todos os casos em que objetos físicos
P.28 Muitos pintores e escultores estão constantemente envolvidos na busca de reais se associam a uma qualidade particular do eu, é difícil
contrapartidas objetivas para ideias ou sentimentos que experimentam. Artistas saber até que ponto a coisa simplesmente reflete uma
criativos são aqueles que conseguem encontrar uma solução visual convincente para característica já existente e até que ponto ela antecipa, ou
gera, uma qualidade inexistente anterior. De repente, uma
um problema. Na solução, e até na formulação de problemas criativos, os objetos mulher que se sente bonita ou sofisticada porque está usando
estimulam e ajudam a desenvolver o pensamento do artista (Getzels e um vestido ou colar novo ou que um jovem se sente livre
porque está dirigindo seu próprio carro são experiências
Csikszentmihalyi, 1976, pp. 244ff) - sua relação com os símbolos visuais que ele comuns. Sem dúvida, as coisas mudam ativamente o
manipula; uso de objetos para criar um mundo individual. (buscar exemplos). conteúdo do que pensamos ser o nosso eu e, assim,
desempenham uma função criativa e reflexiva.

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