Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Transmissão de Sinais
Eletromagnéticos
9
Capítulo 2
Linhas de Transmissão
2.1 Introdução
Uma linha de transmissão permite guiar uma onda eletromagnética de um
transmissor para um recetor. Na prática, consiste num par de condutores
que conduzem um sinal elétrico de um ponto para outro. No entanto, e
dependendo da distância entre esses pontos relativamente ao comprimento
de onda do sinal elétrico, o efeito desse par de condutores é crítico e tem um
papel ativo na deformação do sinal a transmitir.
As formas mais comuns para as linhas de transmissão encontram-se apre-
sentadas na Figura 2.1. À esquerda tem-se o cabo coaxial que é constituído
por dois condutores concêntricos separados por um dielétrico que frequen-
temente é feito de Teflon. O condutor interior é maciço e feito de cobre
e o condutor exterior é feito de uma malha de condutores entrançados. O
sinal a ser transmitido segue no condutor central e a malha externa reduz
a influência de interferência eletromagnética. Um dos grande benefícios do
11
12 CAPÍTULO 2. LINHAS DE TRANSMISSÃO
2.2.1 O Condensador
Conceptualmente, um condensador resulta da existência de dois condutores
separados por um material isolador designado por dielétrico. Ainda que um
condesador possa ter as mais diversas geometrias, para o caso particular de
um condensador de placas paralelas o seu aspecto encontra-se ilustrado na
Figura 2.2.
Impedância de um condensador
A reatância de um condensador apenas expressa a relação entre a magnitude
da tensão entre as suas armaduras e a corrente elétrica em regime sinusoidal.
No entanto, como foi referido na secção anterior, para além da magnitude há
ainda a considerar a diferença de fase entre elas. O conceito de impedância
permite agregar ambas as informações numa única representação utilizando
números complexos. Em particular, a impedância de um condensador é dada
por:
ZC = −jXC (2.5)
3
Derivando o seno tem-se o cosseno
16 CAPÍTULO 2. LINHAS DE TRANSMISSÃO
√
onde j se refere ao número complexo definido como sendo igual a −1.
π ◦
Observe que, j = ej 2 ou alternativamente, j = ej90 . A relação entre a
impedância de um condensador e as grandezas corrente e tensão em regime
sinusoidal é dada por:
U
ZC = (2.6)
I
Onde U e I se referem à tensão v(t) e corrente i(t) representadas na forma
fasorial. Daqui se tira que:
U j90◦
I= e (2.7)
XC
o que permite concluir que a corrente elétrica está 90◦ em avanço de fase
relativamente à tensão.
Q=C ∙V (2.8)
dQ
P =I ∙V = ∙V (2.9)
dt
2.2.2 Indutores
O fenómeno de magnetismo é algo que habitualmente se vê no quotidiano.
Desde os “pins” que se utilizam para colar recados no frigorífico a alguns
tipos de fechos para portas, etc. O importante é salientar que é um fenó-
meno sobre o qual ganhamos intuição pela observação, no dia-a-dia, das suas
propriedades.4
Os objectos acima referidos são construídos utilizando materiais designa-
dos por ímanes permanentes. Uma das suas propriedades mais óbvias é a
sua capacidade de atraírem objectos metálicos. Para além disso,
• Dependendo da orientação relativa entre os dois ímanes é possível fazer
com que a força seja de atracção ou repulsão 5 ;
Figura 2.5: Forma geométrica de uma bobina: neste caso um fio eléctrico
enrolado em forma helicoidal em torno de um núcleo de ferrite.
Indutância
Um indutor consiste num enrolamento condutor, com ou sem núcleo ferro-
magnético, em que a passagem de uma corrente eléctrica produz, à sua volta,
um campo magnético.
Associado a este tipo de dispositivos aparece o conceito de relutância. A
relutância magnética indica a quantidade de fluxo magnético susceptível de
ser capturada por um dado dispositivo devido a uma corrente eléctrica.
Num indutor com forma helicoidal composta por n espiras a indutância
(designada também por coeficiente de auto-indução) L está relacionado com
a relutância R da seguinte forma:
n2
L= (2.14)
R
9
Esse valor pode ainda ser ainda mais reduzido se a bobina tiver a forma de um to-
roide. Dê uma vista-de-olhos em http://www.lawebdefisica.com/problemas/
id274-sol278.php
20 CAPÍTULO 2. LINHAS DE TRANSMISSÃO
Para uma bobina cuja hélice possui uma secção transversal A e compri-
mento l a relutância é dada por:
1 l
R= (2.15)
μA
onde μ se refere à permeabilidade magnética do núcleo.
Das expressões anteriores tira-se que:
n2
L = μA (2.16)
l
A indução magnética é medida em henry (H) sendo que, na prática, os
indutores possuem valores de (auto) indutância expressos em sub-múltiplos
como o mili ou micro henries.
No caso de duas bobinas se encontrarem fisicamente próximas, para além
da auto-indução de cada uma delas existe ainda a considerar a indução mú-
tua. A indução mútua é uma propriedade que resulta da presença de um
fluxo magnético comum. Exemplos disso são os transformadores eléctricos
em que os circuitos associados às bobinas primária e secundária se encontram
ligados magneticamente através do referido fluxo comum.
Impedância de um indutor
A reatância de um indutor apenas expressa a relação entre a magnitude da
tensão a corrente elétrica em regime sinusoidal. No entanto, como já se
referiu, há ainda a considerar a diferença de fase entre elas. O conceito de
impedância do indutor permite agregar ambas as grandezas sendo definida
como:
ZL = jXL (2.19)
U −j90◦
I= e (2.20)
XL
o que permite concluir que a corrente elétrica está 90◦ em atraso de fase
relativamente à tensão.
∂ΦB
ε=− (2.21)
∂t
onde ε diz respeito à f.e.m medida em volts e ΦB ao fluxo de campo magnético
medida em webers (Wb). Para a bobina referida no início, ΦB = n ∙ B ∙ A.
De acordo com (2.13), B = μ ∙ nl ∙ I e logo,
n2 ∂I
ε = −μ A (2.22)
l ∂t
2
Para além disso, e atendendo a (2.16), L = μA nl , o que leva à seguinte
relação:
∂I
ε = −L (2.23)
∂t
22 CAPÍTULO 2. LINHAS DE TRANSMISSÃO
A bateria tem que realizar trabalho para contrariar esta f.e.m. induzida.
A quantidade de trabalho realizada por unidade de tempo, ou seja a potência
P fornecida pela bateria para superar esta f.e.m. é dada por:
dW
P = =ε∙I (2.24)
dt
Substituindo ε na expressão pela igualdade em (2.23) e integrando ambos
os membros obtém-se:
1
W = ∙ L ∙ I2 (2.25)
2
A densidade de energia de um indutor, ou seja a quantidade de energia
por unidade de volume, é dada por:
1 2
uB = B (2.26)
2μ
Logo que a corrente elétrica entre a bateria e o solenoide seja interrom-
pida, o campo magnético colapsa e retorna a energia armazenada novamente
para o circuito.
1Ω 1mH
100mV 1μF
ou seja,
XL ∙ XC
Zeq = (2.31)
XL − XC
Como à frequência de ressonância XL = XC então, Zeq = +∞. No
entanto, na prática, tanto o condensador como o indutor exibem sempre
uma resistência elétrica parasita pelo que o valor da impedância é limitada.
1347μH
150mV 4.7μF
5Ω
Pelo que a corrente total será igual a 15.7 mA. A impedância equiva-
lente pode ser determinada por:
150 × 10−3
Zeq = ≈ 9.55 Ω (2.37)
15.7 × 10−3
Δq
I= (2.38)
Δt
onde a carga elétrica q é medida em coulombs (C) e o tempo t em segundos
pelo que 1 A de corrente elétrica refere-se à passagem de uma carga total de
1 C no espaço de 1 s pela área de secção reta do condutor 11 .
Este conceito é apropriado quando a corrente elétrica é constante no
tempo (circuitos DC). No entanto, para correntes alternadas (AC) este mo-
delo não reflete o que realmente se passa num condutor.
11 dq
Quando Δt → 0 então i(t) = dt
2.4. AS EQUAÇÕES DO TELÉGRAFO 29
de 1 ms. É essa conversão de tempo em espaço que faz com que a onda
sinusoidal seja vista por nós desta forma.
O gerador de funções permite a alteração de duas caraterísticas funda-
mentais na onda que produz: a amplitude e a frequência. A Figura 2.13
mostra ambas as grandezas onde a primeira se encontra identificada por A
e a segunda indirectamente por T.
vd = λ ∙ f (2.44)
é constituída por átomos que, por sua vez, são constituídos por partículas
ainda mais elementares. O electrão é uma delas. Uma das propriedades do
electrão é possuir massa. Ou seja o seu movimento é condicionado caso este
se encontre na vizinhança de um campo gravítico. Outra das suas proprieda-
des é ter carga eléctrica. Outra das partículas eletricamente carregadas que
constitui a matéria é o protão.
Responder ao porquê do electrão ou o protão terem carga eléctrica é a
mesma coisa que responder ao porquê destes possuírem massa... Por isso par-
timos da base de que esta é mais uma propriedade inerente a estas partículas
e não a questionamos.
Ainda que ambas eletricamente carregadas, convencionou-se que a carga
elétrica do eletrão é negativa e a carga eléctrica do protão é positiva. Efe-
tivamente, a carga eléctrica de um electrão é igual à carga eléctrica de um
protão a menos do sinal que as distingue tendo um valor aproximado de
−1.6 × 10−19 C.
Qualquer carga eléctrica cria, no espaço que a circunda, uma perturbação
designada por campo eléctrico. Matematicamente, trata-se de um campo
vetorial onde a sua intensidade é tanto maior quanto maior for o valor da
carga eléctrica da partícula e é tanto menor quanto maior for a distância à
partícula que lhe dá origem. Efetivamente, a intensidade de campo eléctrico
provocado por uma carga eléctrica q é dada por:
→
− q
|| E || ∝ 2 (2.46)
r
onde r é a distância de um dado ponto do espaço à carga eléctrica q.
Numa determinada região do espaço, considera-se que a carga elétrica
cria linhas de força que não são mais do que linhas imaginárias às quais o
vetor campo elétrico é tangente 15 .
No caso das cargas elétricas não estarem em repouso mas estarem anima-
das de velocidade (e aceleração) faz com que a perturbação no espaço criada
pelo seu campo elétrico se propague:
~ ∝ ~v × ~r
B (2.47)
r3
velocidade de propagação seria igual à velocidade da luz. Isso fez com que
Maxwell considerasse que a luz, também ela, era uma onda eletromagnética.
Efetivamente assim é. Dependendo da frequência de uma determinada onda
eletromagnética assim muda a sua interação com a matéria. Por isso é que
as ondas eletromagnéticas usadas na transmissão de dados nos parecem tão
diferentes da luz visível.
A gama de frequências de uma onda eletromagnética, designado por es-
pectro, encontra-se dividida em diversas bandas. A Figura 2.18 mostra a
designação dada a cada uma dessas bandas assim como a dimensão relativa
do seu comprimento de onda 19 .
repetem-se a seguir :
1
uE = E 2
2
1 2 (2.48)
uB = B
2μ
S = vd ∙ uEM (2.52)
Vetor de Poynting
O vetor que aponta na direção de propagação da onda eletromagnética pode
~ com B.
ser obtido pelo produto vetorial de E ~ Como se sabe, o produto
21
A permitividade é igual ao produto da permitividade do vácuo, 0 ≈ 36π
1
×10−9 F/m.
Da mesma foram. a permeabilidade magnética μ é igual ao produto da permeabilidade
magnética do vácuo μ0 = 4π × 10−7 H/m e a permeabilidade relativa do meio μr que, para
o caso da água por exemplo, tem um valor entre 70 e 80
2.4. AS EQUAÇÕES DO TELÉGRAFO 39
Polarização
∂ 2 u(x, t) 2
2 ∂ u(x, t)
= v d (2.54)
∂t2 ∂x2
40 CAPÍTULO 2. LINHAS DE TRANSMISSÃO
Equações de Maxwell22
Nos meados do século XIX, um físico chamado de James Maxwell formulou,
com base no trabalho de outros cientistas como Gauss e Faraday, um con-
junto de quatro equações diferenciais parciais que descrevem os fenómenos
de eletromagnetismo. A forte relação entre campos elétricos e magnéticos
variantes no tempo que se observa através do acoplamento entre variáveis
22
Secção de leitura opcional.
2.4. AS EQUAÇÕES DO TELÉGRAFO 41
nessas equações foi responsável por diversas hipóteses que no fim se confir-
maram verdadeiras. Por exemplo, que a luz é radiação eletromagnética e é o
resultado da flutuação dos campos elétrico e magnético.
Antes de apresentar as equações, uns breves parágrafos sobre cálculo veto-
rial. Começa-se por se introduzir o operador nabla, representado por ∇ que,
para o caso n-dimensional, é um vetor cujas componentes são a primeira
derivada relativamente a cada uma dessas dimensões. Ou seja,
∇= ∂
∂x1
∙∙∙ ∂
∂xn (2.56)
Este operador pode ser aplicado a uma função escalar ou vetorial. Por
exemplo, considerando uma função escalar bidimensional do tipo f (x1 , x2 ) =
x21 + x22 o resultado de ∇f (x1 , x2 ) resulta no vetor gradiente cuja direção
aponta no sentido do crescimento da função. Isto é,
h i
∂f (x1 ,x2 ) ∂f (x1 ,x2 )
∇f (x1 , x2 ) =
∂x1
∂xn
(2.57)
= 2x1 2x2
23
Imaginar, por exemplo, que neste caso f~(x1 , x3 ) representa um campo vetorial onde
cada vetor está associado a uma gota de água num rio em movimento constante segundo
a mesma direção. Como a água não converge para nenhum ponto nem diverge de nenhum
ponto a divergência é zero.
42 CAPÍTULO 2. LINHAS DE TRANSMISSÃO
x̂1 ∙∙∙ x̂n
~
∇ × f (x1 , ∙ ∙ ∙ , xn ) = ∂
∙∙∙ ∂ (2.59)
∂x1 ∂xn
g1 (x1 , ∙ ∙ ∙ , xn ) ∙ ∙ ∙ gn (x1 , ∙ ∙ ∙ , xn )
x̂1 x̂2 x̂3
∇ × f~(x1 , x2 , x3 ) = ∂x∂ 1 ∂
∂x2
∂
∂x3 = (0 + 0 + 0) − (0 + 0 + 0) = 0 (2.60)
x1 1 0
~ =0
∇B (2.62)
~
∂B
~ =−
∇E (2.63)
∂t
2.4. AS EQUAÇÕES DO TELÉGRAFO 43
~ ∂ ~
∇×∇×E =− ∇×B (2.66)
∂t
Como,
~ = ∇ ∇E
∇×∇×E ~
~ − ∇2 E (2.67)
1 ∂2E~
~ =−
∇2 E ∙ (2.68)
c2 ∂t2
ou seja,
u(x, t) − u(x + Δx, t)
= R ∙ i(x, t) (2.71)
Δx
Quando Δx tende para 0 fica,
e quando Δx → 0 leva a:
∂i(x, t) ∂u(x, t)
− = C ∙ Δx (2.78)
∂x ∂t
Normalmente, o isolador entre os dois condutores não é ideal e exibe uma
determinada resistência que, mesmo sendo elevada, é finita. Considerar o
efeito dessa resistência leva ao modelo representado na Figura 2.25. Note-
se que o inverso da resistência é a condutância e a condutância de várias
resistências em paralelo é igual à soma dessas condutâncias. Por esse motivo,
no circuito referido é considerada a condutância e não a resistência. Se a
linha de transmissão tiver uma condutância parasita igual a G siemens (S)
por unidade de comprimento
∂i(x, t) ∂u(x, t)
− = G ∙ u(x, t) + C (2.81)
∂x ∂t
O modelo completo de uma linha de transmissão encontra-se representado
na Figura 2.26.
onde, para já, considere V (x) e I(x) como funções arbitrárias em x com uni-
dades de volts e ampéres respetivamente. A forma destas funções será apre-
sentada adiante. Para já, substituindo estas igualdades em (2.81), obtém-se:
∂V (x)
ejωt ∙ = −R ∙ I(x) ∙ ejωt − jωL ∙ I(x) ∙ ejωt
∂x (2.84)
∂I(x)
ejωt ∙ = −G ∙ V (x) ∙ ejωt − jωC ∙ V (x) ∙ ejωt
∂x
2.4. AS EQUAÇÕES DO TELÉGRAFO 49
Ou seja,
∂V (x)
− = R + jωL ∙ I(x)
∂x (2.85)
∂I(x)
− = G + jωC ∙ V (x)
∂x
Estas equações estão interligadas podendo, no entanto, serem desacopla-
das através de uma segunda operação de diferenciação.
∂ 2 V (x) ∂I(x)
− = R + jωL ∙
∂x2 ∂x (2.86)
∂ 2 I(x) ∂V (x)
− = G + jωC ∙
∂x2 ∂x
o que, considerando (2.84), resulta em:
∂ 2 V (x)
2
= γ 2 ∙ V (x)
∂x (2.87)
∂ 2 I(x)
= γ 2 ∙ I(x)
∂x2
onde, q
γ= R + jωL ∙ G + jωC (2.88)
é uma grandeza complexa designada por constante de propagação. Deste
modo, γ possui parte real e parte imaginária da tendo a forma genérica
γ = α + jβ. A parte real α e designada por constante de atenuação e β
é a constante de fase.
A solução geral das duas equações de onda em (2.86) são da forma:
V (x) = V + e−γx + V − eγx
(2.89)
I(x) = I + e−γx + I − eγx
ou seja,
V+ R + jωL
=
I+ γ
(2.92)
− R + jωL
V
=−
I− γ
+ −
Conclui-se assim que VI + = − VI − e é igual à impedância caraterística
da linha designada por Z0 e dada por:
s
R + jωL R + jωL
Z0 = = (2.93)
γ G + jωC
Uma linha de transmissão sem perdas, designada por lossless, tem como
caraterísticas o facto de não possuir elementos dissipativos. Ou seja, R = 0
e G = 0. Neste caso,
constante de propagação γ
p
γ = jω LC (2.94)
constante de atenuação α
α=0 (2.95)
constante de fase β
p
β=ω LC (2.96)
impedância caraterística Z0
s
L
Z0 = (2.97)
C