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JECRIM

APRESENTAÇÃO 4
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (LJEC – Lei nº 9.099/95) 5
1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL DOS JUIZADOS 5
2. OBJETIVOS DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS 5
3. JURISDIÇÃO CONSENSUAL 5
4. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 9.099/95 7
5. CRITÉRIOS/PRINCÍPIOS ORIENTADORES E FINALIDADES DOS JUIZADOS 7
5.1. PRINCÍPIO DA ORALIDADE 8
5.2. PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE 8
5.3. PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE 9
5.4. PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL 9
5.5. PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL 9
6. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL 9
6.1. HIPÓTESES DE MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS PREVISTAS NA LEI 9
6.1.1. Conexão e continência (art. 60, parágrafo único) 10
6.1.2. Impossibilidade de citação pessoal do acusado (art. 66, parágrafo único da Lei) 10
6.1.3. Complexidade da causa (art. 77, §2º) 11
6.2. NATUREZA DA COMPETÊNCIA DO JEC: ABSOLUTA OU RELATIVA? 11
6.3. CAUSAS DE AUMENTO E DIMINUIÇÃO DE PENA (MAJORANTES E MINORANTES) 12
6.4. AGRAVANTES E ATENUANTES 12
7. EXCESSO DA ACUSAÇÃO 13
8. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO 13
8.1. EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE IMPO 13
8.2. INFRAÇÃO DE OFENSIVIDADE INSIGNIFICANTE, INFRAÇÃO DE MÉDIO POTENCIAL
OFENSIVO E INFRAÇÃO DE ÍNFIMO POTENCIAL OFENSIVO 14
8.3. ESTATUTO DO IDOSO (LEI 10.741/03, ART. 94) 15
8.4. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (E COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS
TRIBUNAIS) 16
8.5. CRIMES ELEITORAIS 16
8.6. INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO 16
8.7. LEI 11.340/06 (LEI MARIA DA PENHA) 17
8.7.1. Varas especializadas 18
9. APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95 NA JUSTIÇA MILITAR 19
10. COMPETÊNCIA TERRITORIAL NO ÂMBITO DOS JUIZADOS (ART. 63) 19
11. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (art. 69) 20
11.1. PREVISÃO LEGAL 20
11.2. ATRIBUIÇÃO PARA LAVRATURA DO TC 20
11.3. PRISÃO EM FLAGRANTE (ART. 69, PARÁGRAFO ÚNICO) 20
12. FASE PRELIMINAR 21
13. COMPOSIÇÃO DOS DANOS CIVIS (art. 74) 21
14. REPRESENTAÇÃO NOS JUIZADOS (art. 75) 22
15. TRANSAÇÃO PENAL (art. 76) 22
15.1. CONCEITO 23
15.2. MITIGAÇÃO AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AÇÃO PENAL PÚBLICA 23
15.3. REQUISITOS 23
15.3.1. Infração de menor potencial ofensivo 24
15.3.2. Não ser caso de arquivamento do termo circunstanciado 24
15.3.3. Não ter sido o autor da infração condenado 25
15.3.4. Não ter sido o agente beneficiado por transação penal pelo prazo de cinco anos
anteriores 25
15.3.5. Circunstâncias favoráveis 25
15.3.6. Reparação do dano ambiental nos crimes ambientais 25
15.4. LEGITIMIDADE PARA OFERECIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL 25
15.4.1. Juiz 25
15.4.2. MP 26
15.5. RECUSA INJUSTIFICADA POR PARTE DO TITULAR DA AÇÃO PENAL EM
OFERECER A PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL 27
15.5.1. Por parte do ofendido nos crimes de ação penal privada 27
15.5.2. Por parte do MP nos crimes de ação penal pública 27
15.6. MOMENTO PARA O OFERECIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL 27
15.7. DESCUMPRIMENTO INJUSTIFICADO DA TRANSAÇÃO PENAL HOMOLOGADA 28
15.8. RECURSOS CABÍVEIS EM RELAÇÃO À TRANSAÇÃO PENAL 28
16. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO (art. 77 e seguintes) 29
16.1. AUDIÊNCIA PRELIMINAR 29
16.1.1. Início da ação penal - Oferecimento oral da denúncia 29
16.1.2. Diligências indispensáveis 30
16.1.3. Citação do acusado em audiência (art. 78) 30
16.2. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO 31
16.2.1. Renovação das soluções consensuais (art. 79) 31
16.2.2. Defesa/resposta preliminar (art. 81 da Lei) 31
16.2.3. (Des) necessidade de resposta à acusação 32
16.2.4. Juízo de admissibilidade da peça acusatória 33
16.2.5. Possibilidade de absolvição sumária 33
16.2.6. Ordem dos atos na audiência de instrução e julgamento 34
17. SISTEMA RECURSAL NA LEI 9.099/95 35
17.1. ÓRGÃOS DO SISTEMA RECURSAL DO JECRIM 35
17.2. APELAÇÃO NO JECRIM (art. 82) 35
17.3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO JECRIM (art. 83) 36
17.4. RECURSO EXTRAORDINÁRIO/RECURSO ESPECIAL NO JECRIM 36
17.5. HABEAS CORPUS NO JECRIM 37
17.6. MANDADO DE SEGURANÇA 37
17.7. REVISÃO CRIMINAL NO JECRIM 38
17.8. CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE JECRIM E JUÍZO COMUM 38
18. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (art. 89) 38
18.1. CABIMENTO 38
18.1.1. “Igual ou inferior a um ano” 39
18.1.2. “Não esteja sendo processado” 40
18.1.3. “Condenado por outro crime” 40
18.1.4. “Demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (sursis)” –
art. 77 CP 40
18.1.5. “Prévio recebimento da peça acusatória” 40
18.2. INICIATIVA PARA A PROPOSTA 41
18.3. CABIMENTO EM AÇÃO PENAL PRIVADA 41
18.4. CONDIÇÕES DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO 41
18.5. REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO 42
18.6. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE 42
18.7. SUSPENSÃO DA PRESCRIÇÃO (§6º) 43
18.8. RECURSO CABÍVEL CONTRA A DECISÃO QUE SUSPENDE O PROCESSO 43
18.9. CABIMENTO DE ‘HABEAS CORPUS’ 43
18.10. DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO 44
18.11. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO NOS CRIMES AMBIENTAIS 44

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JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (LJEC – Lei nº 9.099/95)
1. PREVISÃO CONSTITUCIONAL DOS JUIZADOS
Está previsto no art. 98 da CF/88, in verbis:
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I -
juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes
para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor
complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os
procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a
transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;
§1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça
Federal.

A CF deixa claro que a competência dos juizados será para julgar os crimes de menor potencial
ofensivo, observando os princípios da celeridade, da informalidade e da economia processual. Além disso,
será permitido a transação. Por fim, a CF autoriza que os recursos das decisões dos juizados serão
analisados pelas turmas recursais.
Em suma, a CF prevê o seguinte:
• Infração de menor potencial ofensivo;
• Procedimento oral e sumaríssimo;
• Transação penal;
• Julgamento dos recursos por turmas de primeiro grau.

2. OBJETIVOS DA LEI DOS JUIZADOS ESPECIAIS
Conferir uma prestação jurisdicional mais célere para os crimes de menor potencial ofensivo,
evitando, assim, a prescrição.
Revitalizar a figura da vítima.
Jurisdição consensual (próximo item).

3. JURISDIÇÃO CONSENSUAL
JURISDIÇÃO CONSENSUAL JURISDIÇÃO CONFLITIVA

Busca do consenso no processo penal. Conflito: acusação X defesa.

Acordo entre MP e autor da infração penal.

Pena de multa ou restritiva de direitos (alternativa Pena privativa de liberdade.


às penas e/ou penas alternativas) – penas não
privativas de liberdade.

Mitigação de princípio da jurisdição conflitiva. Ver Princípio da obrigatoriedade/Princípio da


abaixo. ndisponibilidade.

O princípio da obrigatoriedade é substituído pelo princípio da discricionariedade regrada, em virtude


da transação penal. Perceber que, aqui, a denúncia ainda não foi oferecida.
O princípio da indisponibilidade da ação penal pública é mitigado pela suspensão condicional do
processo, prevista no art. 89 da Lei. Perceber que, aqui, a denúncia já foi oferecida.
Benefícios da Lei

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Instituto descarcerizador - ao autor do fato que, após a lavratura do termo circunstanciado, for
imediatamente encaminhado ao Juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá
prisão em flagrante, nem se exigirá fiança (art. 69, parágrafo único).
Art. 69, Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de
violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu
afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.

Institutos despenalizadores - o consenso entre as partes pode evitar a instauração do processo ou,
pelo menos, impedir seu prosseguimento, são eles:
a) Composição dos danos civis: acarreta a renúncia ao direito de queixa ou de representação,
com a consequente extinção da punibilidade (art. 74, parágrafo único);
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo
Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo
civil competente.
Parágrafo único. Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal
pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia
ao direito de queixa ou representação.

b) Transação penal: permite o imediato cumprimento de pena restritiva de direitos ou multa,


evitando-se a instauração do processo (art. 76);
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
especificada na proposta.

c) Representação nos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas: o não oferecimento da
representação dentro do prazo de seis meses a contar do conhecimento da autoria acarreta
a decadência e consequente extinção da punibilidade (art. 88);
Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de
representação a ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões
culposas.

d) Suspensão condicional do processo: recebida a denúncia, pode o juiz determinar a suspensão


do processo, submetendo o acusado a um período de prova, sob a obrigação de cumprir
certas condições. Findo esse período de prova sem revogação, o juiz declarará extinta a
punibilidade (art. 89).
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes
os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do
Código Penal).

# O que se entende por despenalizar? E por descriminalizar? Segundo Renato Brasileiro, despenalizar
significa adotar processos ou medidas substitutivas ou alternativas, de natureza penal ou processual, que
visam, sem rejeitar o caráter ilícito da conduta, dificultar ou evitar ou restringir a aplicação da pena de
prisão ou sua execução ou, ainda, pelo menos, sua redução. Descriminalizar, por outro lado, significa retirar
o caráter de ilícito ou de ilícito penal do fato. Existem duas vias pelas quais é possível dar-se a
descriminalização: via legislativa ou via judicial. A primeira implica uma decisão do legislador de retirar do
âmbito do proibido determinada conduta, com isso ampliando o âmbito de liberdade. Quando uma lei faz
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desaparecer a natureza de ilícito de um determinado fato falamos em abolitio criminis. Pela via judicial ou
interpretativa, o aplicador da lei restringe o âmbito do proibido valendo-se dos princípios limitadores do ius
puniendi estatal (v.g., princípio da insignificância).

4. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI 9.099/95


Logo que entrou em vigor, muito se discutiu sobre a constitucionalidade da Lei, em virtude da
possibilidade de jurisdição consensual, na qual o autor do fato cumpre uma espécie de pena alternativa
sem o devido processo legal.
STF: No Inquérito 1.055 o Supremo confirmou a constitucionalidade da Lei dos Juizados, ao
argumento da expressa previsão na Lei Maior.
5. CRITÉRIOS/PRINCÍPIOS ORIENTADORES E FINALIDADES DOS JUIZADOS
Estão previstos no art. 2º da Lei, in verbis:
Art. 2º O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade,
informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a
conciliação ou a transação
.
Ressalta-se que os demais princípios constitucionais serão aplicados aos processos do juizado, a
exemplo da ampla defesa, do contraditório.

5.1. PRINCÍPIO DA ORALIDADE


Deve-se dar preferência à palavra falada sobre a escrita, sem que esta seja excluída.
Cita-se, como exemplo, o art. 77, que prevê denuncia oral (deve ser reduzida a termo).
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena,
pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art.
76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato, denúncia oral, se
não houver necessidade de diligências imprescindíveis.

Importante destacar que da oralidade derivam quatro subprincípios, vejamos:


a) Concentração: consiste na tentativa de redução do procedimento a uma única audiência,
objetivando encurtar o lapso temporal entre a data do fato e a do julgamento.
b) Imediatismo: deve o juiz proceder diretamente à colheita de todas as provas, em contato
imediato com as partes. Em regra, o contato deve ser feito de maneira presencial.
Excepcionalmente, deve-se admitir a videoconferência, aplicando o CPP subsidiariamente, nos
termos do art. 92).
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo
Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.

c) Irrecorribilidade das interlocutórias: pelo menos em regra, as decisões interlocutórias não são
recorríveis. Obviamente, poderá haver impugnação, tanto por meio de preliminar de futura e
eventual apelação, quanto por meio de habeas corpus e da revisão criminal;
d) Integridade física do juiz: o juiz que presidir a instrução deverá, pelo menos em regra, proferir
sentença. Esse princípio também está previsto no art. 399, §2º, do CPP.
e)
5.2. PRINCÍPIO DA SIMPLICIDADE
Procura-se diminuir o quanto possível a massa dos materiais que são juntados aos autos do
processo sem que se prejudique o resultado final da prestação jurisdicional.
O §1º do art. 77 da Lei dos Juizados é um exemplo deste princípio, vejamos:
Art. 77, § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no
termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial,

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prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime
estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.

5.3. PRINCÍPIO DA INFORMALIDADE


Não há necessidade de se adotar formas sacramentais, nem tampouco de se observar o rigorismo
formal do processo, desde que a finalidade do ato processual seja atingida, a exemplo do disposto no art.
65 da Lei dos Juizados.
Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades
para as quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei.
§ 1º Não se pronunciará qualquer nulidade sem que tenha havido prejuízo. § 2º A
prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer
meio hábil de comunicação.
§ 3º Serão objeto de registro escrito exclusivamente os atos havidos por essenciais.
Os atos realizados em audiência de instrução e julgamento poderão ser gravados
em fita magnética ou equivalente.

5.4. PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL


Entre duas alternativas igualmente válidas, deve se optar pela menos onerosa às partes e ao
próprio Estado.

5.5. PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL


Guarda relação com a necessidade de rapidez e agilidade do processo, objetivando-se atingir a
prestação jurisdicional no menor tempo possível, evitando-se a prescrição.

6. COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL


Pode-se afirmar que, com relação às infrações penais, a competência dos Juizados é fixada com
base em dois critérios:
a) natureza da infração penal: infração de menor potencial ofensivo (art. 61);
b) inexistência de circunstância que desloque a competência para o juízo comum: é o
que ocorre, por exemplo, nas hipóteses de conexão e continência com infração penal comum (art.
60, parágrafo único), impossibilidade de citação pessoal do autuado (art. 66, parágrafo único), e
quando evidenciada a complexidade da causa (art. 77, § 2°).
c)
6.1. HIPÓTESES DE MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA DOS JUIZADOS PREVISTAS NA LEI
São três hipóteses:
a) Impossibilidade de citação pessoal do acusado (art. 66, parágrafo único da Lei);
b) Complexidade da causa (art. 77, §2º);
c) Conexão e continência (art. 60, parágrafo único).

6.1.1. Conexão e continência (art. 60, parágrafo único)


Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos,
tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações
penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência.
Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do
júri, decorrentes da aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-
ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.

Para melhor ilustrar, imagine que “A” tenha praticado um crime de desacato, infração de menor
potencial ofensivo (pena de 6 meses a 2 anos) e tenha cometido um homicídio doloso, crime de
competência do júri.

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Se os delitos tivessem sido praticados sem conexão e sem continência, o desacato seria julgado no
JECrim e o homicídio no júri.
Havendo conexão e continência, para alguns doutrinadores, os processos deveriam ser separados,
eis que uma lei ordinária não pode excepcionar uma regra constitucional, pois a própria CF prevê a
competência do JECrim para o julgamento das infrações de menor potencial ofensivo. É entendimento
minoritário.
A maioria da doutrina entende que, havendo conexão ou continência, os processos devem ser
reunidos em um verdadeiro simultaneus processos, sendo a competência do juízo com força atrativa. No
exemplo acima, seria o Júri.
De acordo como art. 60, parágrafo único da Lei 9.099/95, em havendo conexão entre uma IMPO e
um crime do juízo comum (ou do júri), ambos os delitos deverão ser processados e julgados perante o juízo
comum (ou do júri), devendo, no caso, ser observados os institutos despenalizadores (composição civil dos
danos/transação penal) em relação a IMPO.
Resumindo: Sempre que houver conexão e continência, aplica-se o rito maior.

6.1.2. Impossibilidade de citação pessoal do acusado (art. 66, parágrafo único da Lei)
Lei. 9.099/95 - Art. 66 - A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre
que possível, ou por mandado.
Parágrafo único - Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as
peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.

A citação no JEC (sumaríssimo) é pessoal, ou seja, não se admite citação por edital, que vai contra a
celeridade deste rito.
Em não sendo possível a citação pessoal, os autos são remetidos ao juízo comum, para que se
proceda à citação por edital, observando-se o procedimento SUMÁRIO (art. 538 do CPP - Novidade), bem
como os institutos despenalizadores.
CPP Art. 538. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado
especial criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de
outro procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.

OBS: O processo somente será remetido ao juízo comum após o oferecimento da denúncia. Além disso,
mesmo sendo encontrado o acusado posteriormente, não será restabelecida a competência do JEC.

Outras formas de citação


1) Citação por carta precatória é possível? SIM.
2) Citação por carta rogatória? A doutrina e a jurisprudência não admitem, pois vai contra os
princípios do Juizado (celeridade, informalidade, oralidade).
3) Citação por hora certa (acrescentada em 2008 ao CPP)? Enunciado 110 do 25º FONAJE
(Fórum nacional dos juizados especiais): É cabível citação por hora certa nos juizados.
ENUNCIADO 110 - No Juizado Especial Criminal é cabível a citação com hora certa
(Aprovado no XXV FONAJE – São Luís/MA).

6.1.3. Complexidade da causa (art. 77, §2º)


9.099/95 Art. 77 - Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação
de pena, pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese
prevista no art. 76 desta Lei (transação), o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de
imediato, denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.
§ 2º - Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação
da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das
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peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei (remessa ao
juízo comum).

Art. 66, Parágrafo único - Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz
encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento
previsto em lei.

É o caso de prova pericial de maior complexidade ou do grande número de acusados no processo.


O procedimento a ser observado será o comum sumário (CPP, art. 538).
Quem julga a apelação contra a decisão da vara criminal que julga a IMPO complexa? Cabe ao TJ ou à
Turma Recursal? Quem julga é o Tribunal de Justiça, uma vez que a competência da turma recursal é
limitada à apreciação de decisões oriundas de Juizados.

6.2. NATUREZA DA COMPETÊNCIA DO JEC: ABSOLUTA OU RELATIVA?


A questão é polêmica. Duas correntes:
1ª C: A competência é absoluta, não só porque está prevista na CF/88, como também porque é uma
competência estabelecida em razão da matéria (qual matéria? IMPO). Posição de Ada Grinover, Gustavo
Badaró, Mirabete.
Problema: Se ela é absoluta, não pode ser prorrogada. Porém, a própria lei prevê três hipóteses de
modificação da competência, vista acima.
2ª C: A competência dos juizados tem natureza relativa, caracterizando mera nulidade relativa o
julgamento de uma IMPO perante o juízo comum, mas desde que analisado o cabimento dos institutos
despenalizadores da Lei 9.099/95. Adotada por Pacelli.
A sua natureza relativa é justificada pelas hipóteses de modificação de competência previstas na
própria lei, como vimos acima.

6.3. CAUSAS DE AUMENTO E DIMINUIÇÃO DE PENA (MAJORANTES E MINORANTES)


As majorantes e minorantes são consideradas na análise da competência dos juizados (bem como no
cabimento de transação e suspensão condicional), devendo-se buscar SEMPRE o máximo de pena possível
(a pior situação para o réu – teoria da pior das hipóteses): em se tratando de majorantes, aplica-se o
quantum que mais aumente a pena; quanto às minorantes, o quantum que menos diminua a pena.
Consideram-se, inclusive, as causas de aumento decorrentes do concurso de delitos. Nesse sentido,
duas súmulas importantes: Súmula 723 do STF e 243 do STJ.
STF Súmula 723 Não se admite a suspensão condicional do processo por crime
continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento
mínimo de um sexto for superior a um ano.
STJ Súmula 243 O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação às
infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou continuidade
delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência
da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.

OBS: As súmulas se referem à suspensão, mas o raciocínio se aplica perfeitamente à verificação da


competência dos Juizados e ao cabimento da transação.
Ao contrário da prescrição (onde cada pena é analisada isoladamente), se a soma das penas
máximas atribuídas aos delitos superar o limite máximo de dois anos, a competência passa a ser do juízo
comum.
Se no juízo comum, em grau de recurso, o concurso de crimes for afastado (exemplo:
absolvição em um dos crimes), o julgamento deve ser convertido em diligência, abrindo-se vista ao MP para
que proceda ao oferecimento dos institutos despenalizadores cabíveis.

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6.4. AGRAVANTES E ATENUANTES
Não interferem na definição do rito, pois não há um percentual de aumento ou diminuição previsto
em lei. Depende exclusivamente da decisão do juiz.
Além disso, o reconhecimento de agravantes e atenuantes sequer permite que a pena seja fixada
fora dos limites legais.

7. EXCESSO DA ACUSAÇÃO
Caracterizado um excesso da acusação no que tange à classificação do fato delituoso, privando o
acusado do gozo de uma liberdade pública, e levando-se em conta que a análise da classificação está
inserida no caminho a ser percorrido pelo juiz para resolver tal questão, torna-se impossível impedi-lo de
corrigir a adequação do fato feita pelo promotor, embora o faça de maneira incidental e provisória, apenas
para decidir quanto ao cabimento da liberdade provisória e dos institutos despenalizadores da Lei dos
Juizados, lembrando sempre que a iniciativa para eventual proposta de transação penal ou de suspensão
condicional do processo deve partir do titular da ação penal.

8. INFRAÇÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


8.1. EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE IMPO
A redação original do art. 61 da lei em tela previa, basicamente, que todas as contravenções penais,
bem como os crimes com pena máxima não superior a 01 ano, ou multa, salvo crimes submetidos a
procedimento especial (ex.: lei de abuso de autoridade), eram considerados infrações de menor potencial
ofensivo.
Art. 61 (redação original): Consideram-se infrações penais de menor potencial
ofensivo, para efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei
comine pena máxima não superior a um ano, excetuados os casos em que a lei
preveja procedimento especial.

Em 2001, por conta da edição da Lei 10.259/01 (Juizados Especiais Federais), o conceito começa a
ser modificado, eis que o parágrafo único do art. 2º prevê como IMPO, os crimes com pena máxima não
superior a 02 anos, ou multa.
Art. 2º Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de
competência da Justiça Federal relativos à infrações de menor potencial ofensivo.
Parágrafo único. Consideram-se infrações de menor potencial ofensivo, para os
efeitos desta Lei, os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois
anos, ou multa.

OBS: A lei não falava em contravenção, mas por razão óbvia: a JF não julga contravenções.
Discussão que surgiu à época: Teria a Lei do JEF alterado o conceito da Lei do JEC? Duas teorias
surgiram:
1ª: Teoria dualista (sistema bipartido) - Haverá dois conceitos distintos de IMPO, um na JE, outro na
JF, em razão da expressão “desta Lei”.
2ª: Teoria monista (sistema unitário) - Há conceito único de IMPO.
Prevaleceu o sistema unitário, em homenagem ao princípio da isonomia.
No entanto, toda essa discussão é esvaziada em 2006, quando, por meio da Lei 11.313/06,
modifica-se o conceito de IMPO previsto no art. 61 da Lei 9.099/95.
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para os
efeitos desta Lei, as (todas) contravenções penais e os crimes a que a lei comine
pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.
(Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006).
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Conceito atual: Entende-se por infração de menor potencial ofensivo todas as contravenções penais
e crimes com pena máxima não superior a 02 anos, cumulada ou não com multa, independentemente de os
crimes serem submetidos a procedimento especial, ressalvadas as hipóteses envolvendo violência doméstica
e familiar contra a mulher.
8.2. INFRAÇÃO DE OFENSIVIDADE INSIGNIFICANTE, INFRAÇÃO DE MÉDIO POTENCIAL
OFENSIVO E INFRAÇÃO DE ÍNFIMO POTENCIAL OFENSIVO
São conceitos diversos, os quais não se confundem com IMPO.
Infração de ofensividade insignificante é aquela em que é possível a aplicação do princípio da
bagatela (insignificância), de modo a afastar a tipicidade material. Importante relembrar os quatro
pressupostos para aplicação do princípio da insignificância, de acordo com o STF, são eles:
a) Mínima ofensividade da conduta;
b) Nenhuma periculosidade social da ação;
c) Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
d) Inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Infração de médio potencial ofensivo, segundo a doutrina, são aqueles em que se admite a
suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9.099/95). Ou seja, são crimes e contravenções com pena
mínima igual ou inferior a um ano.
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá
propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes
os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do
Código Penal).

Por exemplo, furto simples que possui pena mínima igual a um ano, mas como a pena máxima é
superior a dois anos, não vai para o juizado.
Infração de ínfimo potencial ofensivo é aquela em que não é cominada pena privativa de
liberdade, a exemplo do art. 28 da Lei de Drogas.
Infração de máximo potencial ofensivo são aquelas que não admitem a suspensão condicional do
processo, ou seja, que têm pena superior a 1 ano.
8.3. ESTATUTO DO IDOSO (LEI 10.741/03, ART. 94)
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não
ultrapasse 4 (quatro) anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de
26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as disposições do
Código Penal e do Código de Processo Penal.

Em crimes contra o idoso previstos no Estatuto com pena máxima não superior a 04 anos aplica-se
o procedimento sumaríssimo.
Entretanto, só vai para o JECrim se for uma infração de menor potencial ofensivo. Do contrário, vai
para um juízo comum, seguindo o procedimento sumaríssimo. De modo a dar uma resposta mais célere.
ATENÇÃO: Somente se aplica o procedimento sumaríssimo e não os benefícios da transação e da
composição civil dos danos. A lei do idoso não quis beneficiar o infrator, mas sim o idoso, com um rito mais
célere (STJ).
Informativo n. 556 do STF: ADI 3.096 promovida pelo PGR, para dar ao dispositivo interpretação
conforme à CF, no sentido de somente se aplicar o procedimento e não os benefícios da Lei 9.099/95.
Mérito pendente de julgamento.

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EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGOS 39 E 94 DA LEI
10.741/2003 (ESTATUTO DO IDOSO). (...) 2. Art. 94 da Lei n. 10.741/2003:
interpretação conforme à Constituição do Brasil, com redução de texto, para
suprimir a expressão "do Código Penal e". Aplicação apenas do procedimento
sumaríssimo previsto na Lei n. 9.099/95: benefício do idoso com a celeridade
processual. Impossibilidade de aplicação de quaisquer medidas despenalizadoras
e de interpretação benéfica ao autor do crime. 3. Ação direta de
inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente para dar interpretação
conforme à Constituição do Brasil, com redução de texto, ao art. 94 da Lei n.
10.741/2003.
LEI 10.741/2003: CRIMES CONTRA IDOSOS E APLICAÇÃO DA LEI
9.099/95 – 2 Aplica-se a Lei 9.099/95 apenas nos aspectos estritamente
processuais, não se admitindo, em favor do autor do crime, a incidência de qualquer
medida despenalizadora — v. Informativo 556. Concluiu-se que, dessa forma, o
idoso seria beneficiado com a celeridade processual, mas o autor do crime não
seria beneficiado com eventual composição civil de danos, transação penal ou
suspensão condicional do processo. Vencidos o Min. Eros Grau, que julgava
improcedente o pleito, e o Min. Marco
Aurélio, que o julgava totalmente procedente. ADI 3096/DF, rel. Min. Cármen
Lúcia, 16.6.2010. (ADI-3096) (informativo 591 – Plenário)

Destaca-se que, ao contrário da Lei Maria da Penha, não há proibição para aplicação da Lei
9.099/95.
Em suma:
- Crime previsto no Estatuto do Idoso com pena máxima não superior a 2 anos: é tratado como infração de
menor potencial ofensivo. Logo, será julgado pelos Juizados, e terá direito aos institutos despenalizadores;
- Crime previsto no Estatuto do Idoso com pena máxima superior a 2 anos e que não ultrapasse os 4 anos:
nesse caso, aplica-se o art. 94. Logo, o delito será da competência do Juízo Comum, aplicando-se o
procedimento comum sumaríssimo;
- Crime previsto no Estatuto do Idoso com pena máxima superior a 4 anos: é da competência do Juízo
Comum, aplicando-se o procedimento comum ordinário;
-
8.4. FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO (E COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS
TRIBUNAIS)
O juízo competente não será o JEC e tampouco o procedimento será o sumaríssimo, mesmo que se
trate de infrações de menor potencial ofensivo.
Obedece-se ao procedimento especial previsto na Lei 8.038/90, no entanto, em se tratando de
IMPO, o autor do fato não deixa de fazer jus aos benefícios da Lei 9.099/95.
Assim, por exemplo, caso um deputado federal pratique uma IMPO será julgado pelo STF, sem
prejuízo da aplicação dos institutos despenalizadores.

8.5. CRIMES ELEITORAIS


IMPO eleitoral não vai para o JEC, mas sim para a justiça eleitoral.
TSE: É possível a adoção da transação e da suspensão condicional do processo em relação a crimes
eleitorais, salvo em relação àqueles que contam com um sistema punitivo especial (ex.: Código Eleitoral,
art. 334: pena de cassação do registro do candidato, que não pode ser objeto de transação).

8.6. INSTRUMENTOS DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO


É um conceito, relativamente, recente. Foi trazido pela Lei 13.060/2014, que entrou em vigor em 23
de dezembro de 2014.

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Art. 4o Para os efeitos desta Lei, consideram-se instrumentos de menor potencial
ofensivo aqueles projetados especificamente para, com baixa probabilidade de
causar mortes ou lesões permanentes, conter, debilitar ou incapacitar
temporariamente pessoas.
Os instrumentos de menor potencial ofensivo são armas não letais, a exemplo do gás lacrimogêneo,
arma de dar choque.
Atentar para o art. 2º da referida lei.
Art. 2o Os órgãos de segurança pública deverão priorizar a utilização dos
instrumentos de menor potencial ofensivo, desde que o seu uso não coloque em
risco a integridade física ou psíquica dos policiais, e deverão obedecer aos seguintes
princípios:
I - legalidade;
II - necessidade;
III - razoabilidade e proporcionalidade.
Parágrafo único. Não é legítimo o uso de arma de fogo:
I - contra pessoa em fuga que esteja desarmada ou que não represente risco
imediato de morte ou de lesão aos agentes de segurança pública ou a terceiros; e
II - contra veículo que desrespeite bloqueio policial em via pública, exceto quando o
ato represente risco de morte ou lesão aos agentes de segurança pública ou a
terceiros.

Ademais, não se confunde com os institutos despenalizadores.


8.7. LEI 11.340/06 (LEI MARIA DA PENHA)
Lei 11.340/06 Art. 41. Aos crimes (inclui contravenção penal, por ex. vias de fato)
praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher (art. 5º e art. 7º),
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de
setembro de 1995.

Art. 41 da Lei 11.340/06 - Violência doméstica e familiar contra a mulher. Em CRIMES dessa lei,
qualquer que seja a pena, é vedada a incidência da Lei 9.099/95. Ou seja, não pode ser aplicado o
procedimento sumaríssimo, nem a competência do JEC, tampouco os institutos despenalizadores.
Analisando o disposto no art. 41 da Lei Maria da Penha, o Supremo entendeu que o preceito
alcança toda e qualquer prática delituosa contra a mulher, até mesmo quando consubstancia contravenção
penal, como é a relativa a vias de fato.
Quanto à (in) constitucionalidade do referido dispositivo, a Suprema Corte também concluiu que,
ante a opção político-normativa prevista no artigo 98, inciso I, e a proteção versada no artigo 226, § 8°,
ambos da Constituição Federal, surge harmônico com esta última o afastamento peremptório da Lei n°
9.099/95 - mediante o artigo 41 da Lei n° 11.340/06- no processo-crime a revelar violência contra a mulher.
A Súmula 536 do STJ corrobora o entendimento do STF, vejamos:
Súmula 536 STJ – A suspensão condicional do processo e a transação penal não se
aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

Na mesma linha, no julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade n° 19/DF, o Supremo


julgou procedente o pedido para assentar a constitucionalidade dos artigos 1°, 33 e 41 da Lei 11.340/2006.
Considerou-se que, ao criar mecanismos específicos para coibir e prevenir a violência doméstica contra a
mulher e estabelecer medidas especiais de proteção, assistência e punição, tomando como base o gênero
da vítima, o legislador teria utilizado meio adequado e necessário para fomentar o fim traçado pelo art.
226, § 8°, da Constituição Federal, não sendo possível considerar-se ilegítimo o uso do sexo como critério
de diferenciação, visto que a mulher seria eminentemente vulnerável no tocante a constrangimentos
físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado. Sob o enfoque constitucional, consignou-se que a
norma seria corolário da incidência do princípio da proibição de proteção insuficiente dos direitos
fundamentais. Sublinhou-se que a lei em comento representaria movimento legislativo claro no sentido de
11
assegurar às mulheres agredidas o acesso efetivo à reparação, à proteção e à justiça. Discorreuse que, com
o objetivo de proteger direitos fundamentais, à luz do princípio da igualdade, o legislador editara
microssistemas próprios, a fim de conferir tratamento distinto e proteção especial a outros sujeitos de
direito em situação de hipossuficiência, como o Estatuto do Idoso e o da Criança e do Adolescente.
Por fim, ressalta-se a Súmula 542 do STJ, a qual está em consonância com o que foi decidido pelo
STF:
Súmula 542 STJ – A ação penal relativa ao crime de lesão corporal
LEVE/GRAVE/GRAVÍSSIMA resultante de violência doméstica e familiar contra a
mulher é pública incondicionada.
Tratando-se de lesão corporal culposa, a ação será pública condicionada à representação.

8.7.1. Varas especializadas


Lei 11.340/06 Maria da Penha Art. 14. Os Juizados (varas especializadas) de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com
competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e
nos Territórios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das
causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Art. 14 da 11.340/06. Ele se refere aos juizados de violência doméstica e familiar contra a mulher,
porém, devemos compreender que se refere não aos juizados especiais criminais, mas sim à criação de
varas especializadas.
Para o STF, o art. 14 recomenda a criação das varas especializadas, não impõe. Por isso, não há falar
em inconstitucionalidade.

9. APLICAÇÃO DA LEI 9.099/95 NA JUSTIÇA MILITAR


No início da vigência da Lei, como não havia qualquer vedação, tanto o STJ quanto o STF admitiam
sua aplicação ao âmbito militar.
No entanto, em 1999 surge a Lei 9.839/99, que acrescenta o art. 90-A à Lei dos juizados, proibindo a
aplicação da Lei dos Juizados no âmbito da Justiça Militar.
Art. 90-A. As disposições desta Lei não se aplicam no âmbito da Justiça
Militar.

A Lei 9.839/99 tem natureza gravosa (‘Lex gravior’), pois priva o acusado do gozo dos institutos
despenalizadores da Lei 9.099/95, logo o art. 90-A só se aplica aos crimes militares praticados após a sua
vigência, tendo em vista se tratar de uma novatio legis in pejus.
Questionou-se a constitucionalidade do art. 90-A. De acordo com alguns Ministros do STF, tal artigo seria
inconstitucional quanto aos crimes militares cometidos por civis, aplicando a vedação aos casos em que o
autor é militar.

10. COMPETÊNCIA TERRITORIAL NO ÂMBITO DOS JUIZADOS (ART. 63)


Inicialmente, destaca-se que o CPP determina que a competência será fixada pelo local em que for
consumado o delito, nos termos do art. 70.
Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar
a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de
execução.

Diferentemente, a Lei dos Juizado determina que a competência será fixada pelo local em que a
infração foi praticada, conforme disposto no art. 63.

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Art. 63. A competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi
praticada a infração penal.

A Lei dos Juizados é uma das exceções ao CPP, pois usa a expressão “lugar em que foi praticada a
infração penal”. Qual teoria teria sido adotada? Três correntes:
1ª C: Por ‘praticada’ entende-se o local da conduta (teoria da atividade). PREVALECE.
2ª C: É sinônimo de consumada (teoria do resultado).
3ª C: A lei do JEC adota a teoria mista. Seria competente tanto o local da ação quanto o local da
consumação (teoria da ubiquidade).

11. TERMO CIRCUNSTANCIADO DE OCORRÊNCIA (art. 69)


11.1. PREVISÃO LEGAL
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo
circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e
a vítima, providenciando-se as requisições dos exames periciais necessários.

É uma das primeiras novidades da Lei do JEC. No âmbito dos Juizados, é desnecessária a instauração
de inquérito policial (em homenagem à celeridade e informalidade).
O TC funciona basicamente como um relatório sumário do fato (da IMPO), contendo a identificação
das partes envolvidas, a menção à infração praticada e demais elementos de informação que tenham sido
apurados, com indicação das provas, visando a formação opinio delicti pelo titular da ação penal.
É possível haver inquérito em IMPO? SIM, nos casos de maior complexidade.

11.2. ATRIBUIÇÃO PARA LAVRATURA DO TC


De acordo com o art. 69, quem lavra o TC é a autoridade policial. Quem é autoridade policial?
1ªC (MINORITÁRIA): o TC pode ser lavrado pela polícia judiciária (civil e federal), bem como pela
polícia militar.
2ªC (MAJORITÁRIA): o TC é um procedimento investigatório e, como tal, assemelha-se ao IP, por
isso só poderá ser lavrado pela polícia judiciária. Não admitem a lavratura de TC por policial militar.
STF – segue a segunda corrente, afirmando que a lavratura pela polícia militar consiste em
usurpação de competência.

11.3. PRISÃO EM FLAGRANTE (ART. 69, PARÁGRAFO ÚNICO)


Art. 69 -Parágrafo único - Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for
imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele
comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança. Em caso de
violência doméstica, o juiz poderá determinar, como medida de cautela, seu
afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a vítima.

A pessoa em situação de flagrante será captura e conduzida de forma coercitiva à delegacia de


polícia. Contudo, ao invés da lavratura de APF, será lavrado o TC.
Entretanto, a lavratura do TC está submetida a duas condições alternativas: Comparecimento
imediato ao JEC ou compromisso de a ele comparecer posteriormente. Se o agente não vai para o JEC e não
presta o compromisso, não resta outra alternativa: Será lavrado o APF.

12. FASE PRELIMINAR


Ocorre antes do processo judicial (segunda fase), busca-se:
a) A composição civil dos danos
13
b) A transação penal.
Art. 72 - Na audiência preliminar, presente o representante do Ministério Público, o
autor do fato e a vítima e, se possível o responsável civil, acompanhados por seus
advogados, o Juiz esclarecerá sobre a possibilidade da composição dos danos e da
aceitação da proposta de aplicação imediata de pena não privativa de liberdade.
Ou seja, é uma audiência eminentemente conciliatória, motivo pelo qual a presença das partes é
facultativa. Não há condução coercitiva.

13. COMPOSIÇÃO DOS DANOS CIVIS (art. 74)


Art. 74 - A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo
Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo
civil competente.
Parágrafo único - Tratando-se de ação penal de iniciativa privada ou de ação penal
pública condicionada à representação, o acordo homologado acarreta a renúncia
ao direito de queixa ou representação.

É uma medida despenalizadora.

Visa valorizar a vítima, nada mais é do que um acordo.


Se a infração for de ação penal privada ou pública condicionada à representação, uma vez feita a
composição dos danos, a consequência será a renúncia ao direito de queixa e de representação,
acarretando na extinção da punibilidade do autor do fato.

# É possível a composição dos danos civis em crime de ação penal pública incondicionada? R: Em tese, a
Lei dos Juizados afirma que a composição é cabível em crimes de ação penal privada, havendo renúncia ao
direito de queixa. Prevê, ainda, a composição para os crimes de ação penal pública condicionada à
representação, acarretando, igualmente, em renúncia ao direito de representação. Contudo, apesar do
silêncio da lei, é possível a composição civil de danos nos crimes de ação penal pública incondicionada, mas
não traz benefícios.
De acordo com Renato Brasileiro, a composição civil de danos no caso de ação penal incondicionada
poderia ser feita utilizando o arrependimento posterior (ponte de prata), previsto no art. 16 do CP,
ensejando uma redução da pena, desde que houve a efetiva reparação do dano.
CP, Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,
reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa,
por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.

Essa medida foi pensada para as infrações que produzem danos materiais ou morais a uma vítima
determinada. Em regra, o MP não intervém nessa fase, salvo se o ofendido for incapaz.
Reduzida a termo e homologada, a composição vale como título executivo judicial a ser executado na
Vara Cível. Se o valor não ultrapassar 40 salários mínimos, a execução se dará no Juizado Especial Cível
(JEC).

14. REPRESENTAÇÃO NOS JUIZADOS (art. 75)


Art. 75 - Não obtida a composição dos danos civis, será dada imediatamente ao
ofendido a oportunidade de exercer o direito de representação verbal, que será
reduzida a termo.
Parágrafo único - O não oferecimento da representação na audiência preliminar
não implica decadência do direito, que poderá ser exercido no prazo previsto em lei.

14
Não ocorrendo ou não sendo possível a composição dos danos civis, o processo segue
normalmente. Momento no qual deverá ser dada, imediatamente, ao ofendido a oportunidade de exercer
o direito de representação verbal, que será reduzida a termo (art. 75). Diz, ainda, o parágrafo único do art.
75 que o não oferecimento da representação na audiência preliminar não implica decadência do direito,
que poderá ser exercido no prazo previsto em lei (art. 75).
Percebe-se que para o art. 75, a representação deve ser feita em juízo. No entanto, a jurisprudência
tem considerado válida a representação feita perante a autoridade policial, quando da lavratura do TC, isso
se justifica principalmente porque o prazo decadencial é de 6 meses a partir do conhecimento da autoria
(veja que devido a morosidade do andamento dos processos e data para a audiência, poderia dar-se a
decadência do direito de representação/queixa).
A representação deve ser encarada como qualquer ato que demonstre a intenção do ofendido de ver
o agente ser processado, prescindindo-se de formalidades desnecessárias. Não sendo feita a representação
(em juízo ou na delegacia), deve-se aguardar o decurso do prazo de 06 meses para que se possa falar em
decadência.

15. TRANSAÇÃO PENAL (art. 76)


Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
especificada na proposta.
§ 1º Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la
até a metade.
§ 2º Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena
privativa de liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela
aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,
bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da
medida.
§ 3º Aceita a proposta pelo autor da infração e seu defensor, será submetida à
apreciação do Juiz.
§ 4º Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita pelo autor da infração, o Juiz
aplicará a pena restritiva de direitos ou multa, que não importará em reincidência,
sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo benefício no prazo de
cinco anos.
§ 5º Da sentença prevista no parágrafo anterior caberá a apelação referida no art.
82 desta Lei.
§ 6º A imposição da sanção de que trata o § 4º deste artigo não constará de
certidão de antecedentes criminais, salvo para os fins previstos no mesmo
dispositivo, e não terá efeitos civis, cabendo aos interessados propor ação cabível
no juízo cível.
15.1. CONCEITO
É um instituto despenalizador.
Trata-se de acordo celebrado entre o titular da ação penal e o autor do fato, sempre assistido por seu
defensor, pelo qual se propõe a aplicação imediata de pena restritiva de direito ou multa, dispensando-se a
instauração do processo.
A transação não implica em reconhecimento de culpa ou comprovação de inocência; está ligada à
doutrina italiana do “nolo contendere” (não contestação, não reconhecimento de culpa). Não configura
antecedente criminal, tampouco conduz à reincidência. O único efeito da transação é a impossibilidade de
nova transação no prazo de 05 anos.

15
15.2. MITIGAÇÃO AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE DA AÇÃO PENAL PÚBLICA
A transação é o melhor exemplo de mitigação a esse princípio, pois ela permite que o MP deixe de
oferecer a denúncia. Entretanto, não há ampla discricionariedade do MP, haja vista a lei já prever requisitos
para a transação. Por conta disso, a doutrina diz que na transação penal vige o princípio da
discricionariedade regrada ou mitigada.

15.3. REQUISITOS
Art. 76. Havendo representação ou tratando-se de crime de ação penal pública
incondicionada, não sendo caso de arquivamento, o Ministério Público poderá
propor a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multas, a ser
especificada na proposta.
§ 1º - Nas hipóteses de ser a pena de multa a única aplicável, o Juiz poderá reduzi-la
até a metade.
§ 2º - Não se admitirá a proposta se ficar comprovado:
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática de crime, à pena privativa de
liberdade, por sentença definitiva;
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de cinco anos, pela
aplicação de pena restritiva ou multa, nos termos deste artigo;
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente,
bem como os motivos e as circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da
medida.
IV
15.3.1. Infração de menor potencial ofensivo
Apenas contravenções ou crimes, com pena máxima não superior a dois anos, estão sujeitos a
transação penal, ressalvado os crimes da Lei Maria da Penha (Súmula 536 do STJ)
Súmula 536 STJ – A suspensão condicional do processo e a transação penal não se
aplicam nas hipóteses de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

15.3.2. Não ser caso de arquivamento do termo circunstanciado


Ressalta-se que qualquer procedimento investigatório pode ser arquivado, não apenas o inquérito
policial, nos termos do art. 28 do CPP.
Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia,
requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação,
o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do
inquérito ou peças de informação ao procuradorgeral, e este oferecerá a denúncia,
designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido
de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

Os fundamentos para o arquivamento (de qualquer procedimento investigatório) podem ser


extraídos dos arts. 395 e 397 do CPP, vejamos:

16
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando:
I - for manifestamente inepta;
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação penal;
ou
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste


Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente,
salvo inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a
punibilidade do agente.
15.3.3. Não ter sido o autor da infração condenado
Para ter direito à transação penal o autor da infração não pode ter sido condenado por SENTENÇA
DEFINITIVA1 pela prática de CRIME2 a pena PRIVATIVA DE LIBERDADE3.
1. Sentença definitiva = é aquela que já transitou em julgado. Ou seja, não basta acordão
condenatório, deve ter transitado em julgado.
2. Crime = condenação por contravenção penal não impede a transação penal.
3. Pena privativa de liberdade = condenação à pena de multa ou restritiva de direitos não é
óbice à transação penal.

15.3.4. Não ter sido o agente beneficiado por transação penal pelo prazo de cinco anos
anteriores
O único efeito concreto que deriva de uma transação penal é o impedimento de nova transação
pelo lapso de cinco anos.

15.3.5. Circunstâncias favoráveis


Antecedentes, conduta social, personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias do
fato.

15.3.6. Reparação do dano ambiental nos crimes ambientais


Tratando-se de crime ambiental, para que seja possível a transação penal, o dano deverá ser
reparado.
LA Art. 27. Nos crimes AMBIENTAIS de menor potencial ofensivo, a proposta de
aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou multa, prevista no art. 76 da Lei
nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, somente poderá ser formulada desde que
tenha havido a prévia composição do dano ambiental, de que trata o art. 74 da
mesma lei, salvo em caso de comprovada impossibilidade.

15.4. LEGITIMIDADE PARA OFERECIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL


15.4.1. Juiz
A proposta de transação penal não pode ser concedida ex officio pelo juiz.
Durante muito tempo houve essa discussão. Uma primeira corrente dizia que a transação penal
seria um direito subjetivo do acusado. Por conta disso, ela poderia ser concedida de ofício pelo juiz. Essa
corrente não ganhou corpo na jurisprudência. Por quê?

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Simples. Se for transação, ela pressupõe a aceitação de ambas as partes. Além disso, pudesse o juiz
conceder a transação de ofício, ele estaria usurpando um poder que não é seu: poder de promover a ação
penal pública.
Assim, prevalece atualmente que, caso o juiz não concorde com a recusa injustificada da proposta de
transação penal por parte do MP, deve remeter a questão ao procurador-geral (ou Câmara Criminal do
MPF), nos termos do art. 28 do CPP.
Nesse sentido é a Súmula 696 do STF, que apesar de dispor sobre a suspensão condicional do
processo, aplica-se perfeitamente à transação, uma vez que ambos os institutos refletem o exercício do
direito de ação.
STF Súmula 696 reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional
do processo, mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo,
remeterá a questão ao procurador-geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do
Código de Processo Penal.
15.4.2. MP
Pela leitura do caput do art. 76 da Lei 9.099/95, observa-se que há referência APENAS à ação penal
pública, seja ela condicionada (representação) ou incondicionada, com expressa legitimação do MP para
oferecer a transação penal.
Diante disso, indaga-se: é possível transação penal em crime de ação penal privada? Com base no
princípio da isonomia, a doutrina afirma que não é razoável excluir a possibilidade de transação penal aos
crimes de ação penal privada. Assim, é perfeitamente cabível transação penal nos casos de crimes de ação
penal privada. Há, contudo, divergência sobre a legitimidade para o oferecimento. Parte da doutrina
sustenta que compete ao MP (Enunciado 112 do FONAJE); outros entendem que compete ao ofendido ou
ao seu representante legal (majoritário – STJ);
En. 112 FONAJE – na ação penal de iniciativa privada, cabem transação penal e a
suspensão condicional do processo, mediante proposta do
Ministério Público.
Obs.: Renato Brasileiro entende que é verdadeiro absurdo afirmar que o MP seria competente para o
oferecimento de transação penal, tendo em vista que se trata de um crime de ação penal privada, em que a
titularidade do direito não é sua.
Em suma:
• AÇÃO PENAL PÚBLICA – cabível e oferecida pelo MP;
• AÇÃO PENAL PRIVADA – cabível. Será oferecida: a) pelo MP (minoritária) e b) pelo ofendido ou
seu representante legal.

15.5. RECUSA INJUSTIFICADA POR PARTE DO TITULAR DA AÇÃO PENAL EM OFERECER
A PROPOSTA DE TRANSAÇÃO PENAL
Em caso de recusa injustificada, deve-se analisar separadamente os casos de ação penal privada e
de ação penal pública, vejamos cada um deles:
15.5.1. Por parte do ofendido nos crimes de ação penal privada
Aqui, não há nada a fazer, porque a ação penal privada está sujeita aos princípios da oportunidade e
da disponibilidade. Ou seja, o oferecimento da proposta ocorre pela vontade do ofendido.
15.5.2. Por parte do MP nos crimes de ação penal pública
Aqui, aplica-se o art. 28 do CPP, o qual consagra o princípio da devolução. Assim, havendo
controvérsia entre o juiz e promotor (não pode ser compelido a oferecer a transação penal, sob pena de
violação de sua independência funcional), o juiz devolve o conhecimento da questão ao Procurador Geral, a
fim de que este ofereça ou não a transação penal.

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Neste sentindo, Súmula 696 do STF que deve ser aplicada à transação penal, mesmo que faça
referência à suspensão condicional do processo:
Súmula 696 do STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão
condicional do processo, mas se recusando o Promotor de Justiça a propô-la, o Juiz
dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o
art. 28 do CPP.

15.6. MOMENTO PARA O OFERECIMENTO DA TRANSAÇÃO PENAL


Em regra, a transação penal é apresentada para o autor do delito antes do oferecimento da peça
acusatória.
Ressalta-se que a transação penal (e a suspensão condicional do processo), em situações
excepcionais, poderá ser concedida durante o processo, a exemplo dos casos desclassificação e de
procedência parcial da pretensão punitiva.
É o caso do agente que é processado pelo crime de furto qualificado, mas durante a instrução
constata-se que é um furto simples, ocasião em que poderá ser ofertada a suspensão condicional do
processo (o mesmo se aplica à transação penal)
Nesse sentido, a Súmula 337 do STJ:
Súmula 337 STJ – É cabível a suspensão condicional (ou transação penal) do
processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão
punitiva.

Há, ainda, previsão no art. 383 do CPP, vejamos:


Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa,
poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de
aplicar pena mais grave.
§ 1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de
proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o
disposto na lei.
§ 2o Tratando-se de infração da competência de outro juízo, a este serão
encaminhados os autos.
15.7. DESCUMPRIMENTO INJUSTIFICADO DA TRANSAÇÃO PENAL HOMOLOGADA
Ao menos três correntes trazem soluções para essa hipótese:
1ª Corrente: Homologada a proposta de transação penal, temos sentença com coisa julgada formal e
material, devendo a pena ser executada, seja ela de multa (dívida ativa), seja restritiva de direitos (execução de
obrigação de fazer, não fazer ou dar). Era adotada pelo STJ.
2ª Corrente PREVALECE: O titular da ação penal pode oferecer a respectiva peça acusatória, pois a
decisão homologatória não faz coisa julgada material, deixando de produzir efeitos quando descumprida.
Nesse sentido, a SV 35.
SV 35 – a homologação de transação penal prevista no art. 76 da Lei 9.099/1995
não faz coisa julgada material e, descumpridas suas cláusulas, retoma-se a situação
anterior, possibilitando ao MP a continuidade da persecução penal mediante
oferecimento de denúncia ou requisição de inquérito policial.
OBS: essa homologação de transação não interrompe nem suspende a prescrição.

15.8. RECURSOS CABÍVEIS EM RELAÇÃO À TRANSAÇÃO PENAL


Da decisão homologatória, caberá apelação no prazo de 10 dias.
Da decisão que não homologa, cabe Correição Parcial, ou ainda HC ou MS (Nucci).
Frise-se: A decisão homologatória não interrompe o prazo prescricional.

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16. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO (art. 77 e seguintes)
16.1. AUDIÊNCIA PRELIMINAR
Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena,
pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art.
76 desta Lei (transação penal), o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato,
denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.
§ 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no termo de
ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial,
prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime
estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da
denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das
peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral,
cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso determinam
a adoção das providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.

16.1.1. Início da ação penal - Oferecimento oral da denúncia


Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena,
pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art.
76 desta Lei (transação penal), o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato,
denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.

Não havendo composição dos danos ou transação, cabe ao MP dar início à persecução penal, ainda
na audiência preliminar, por meio do oferecimento oral da peça acusatória (princípio da oralidade e
informalidade).
A denúncia será reduzida a termo e deverá preencher os mesmos requisitos previstos no art. 41 do
CPP.
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as
suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se
possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das
testemunhas.

Dispensabilidade do exame de corpo de delito


Será dispensável o exame de corpo de delito (art. 77, §1º da Lei).
Art. 77, § 1º Para o oferecimento da denúncia, que será elaborada com base no
termo de ocorrência referido no art. 69 desta Lei, com dispensa do inquérito policial,
prescindir-se-á do exame do corpo de delito quando a materialidade do crime
estiver aferida por boletim médico ou prova equivalente.

Sobre o art. 77, §1º há duas interpretações:


1ª C: O corpo de delito é dispensável para o oferecimento da peça acusatória. Interpretação literal
do §1º. Porém, quando da sentença o exame seria imprescindível. Não é a melhor interpretação, pois essa
já é a regra do CPP.
2ª C: O exame é dispensado tanto no oferecimento da peça acusatória como também no momento
da própria sentença condenatória. Sairíamos da rigidez do CPP (que atrela a materialidade ao exame de
corpo de delito) para a informalidade e celeridade do JEC, onde seriam admitidas outras provas para
comprovar a materialidade da infração.

16.1.2. Diligências indispensáveis


Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena,
pela ausência do autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art.
20
76 desta Lei (transação penal), o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato,
denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis.
Antes de oferecer a denúncia, pode o MP requerer a realização de diligências, para melhor formar
sua ‘opinio delicti’. Essa possibilidade deve ser encarada como exceção.
§ 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não permitirem a formulação da
denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das
peças existentes, na forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.
§ 3º Na ação penal de iniciativa do ofendido poderá ser oferecida queixa oral,
cabendo ao Juiz verificar se a complexidade e as circunstâncias do caso determinam
a adoção das providências previstas no parágrafo único do art. 66 desta Lei.

Se perceber que a causa é complexa, é nesse momento que o MP deve requerer a remessa do feito
para o juízo comum.

16.1.3. Citação do acusado em audiência (art. 78)


Art. 78 - Oferecida a denúncia ou queixa, será reduzida a termo, entregandose cópia
ao acusado, que com ela ficará citado e imediatamente cientificado da designação
de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da qual também tomarão
ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus advogados.
§ 1º - Se o acusado não estiver presente, será citado na forma dos arts. 66 e 68
desta Lei e cientificado da data de audiência de instrução e julgamento, devendo a
ela trazer suas testemunhas ou apresentar requerimento para intimação, no
mínimo cinco dias antes de sua realização.
§ 2º - Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos
termos do art. 67 desta Lei para comparecerem à audiência de instrução e
julgamento.
§ 3º - As testemunhas arroladas serão intimadas na forma prevista no art. 67 desta
Lei.

O acusado ficará citado e imediatamente cientificado da designação de dia e hora para a audiência
de instrução e julgamento, da qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável
civil e seus advogados.
Se o acusado não estiver presente, será citado pessoalmente (por mandado) ou por hora certa (não
é unânime). Será cientificado de que deverá trazer à audiência suas testemunhas ou apresentar
requerimento para intimação, no mínimo cinco dias antes de sua realização.
Enunciado 110 FONAJE – No Juizado Especial Criminal é cabível a citação por hora
certa.
Frise-se: Não se admite citação por EDITAL no JEC. Se o acusado estiver em lugar incerto, os autos
serão remetidos ao juízo comum. Lembrando que não há impedimento a priori para citação por carta
precatória/rogatória (há quem diga que dificulta a celeridade dos JECrims não devendo ser admitido)
Não estando presentes o ofendido e o responsável civil, serão intimados nos termos do art. 67 da
Lei (por qualquer meio admitido em direito).

16.2. AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO


16.2.1. Renovação das soluções consensuais (art. 79)
Art. 79 - No dia e hora designados para a audiência de instrução e julgamento, se
na fase preliminar não tiver havido possibilidade de tentativa de conciliação e de
oferecimento de proposta pelo Ministério Público, proceder-se-á, nos termos dos
arts. 72, 73, 74 e 75 desta Lei.
Conforme o art. 79, antes da abertura da audiência deverão ser renovadas as tentativas de
conciliação e de transação penal.

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No caso de êxito na conciliação, teremos um peculiar ato duplo: o ofendido se retrata da
representação já realizada e ao mesmo tempo renuncia ao direito de oferecer nova representação.
No caso da transação, teremos um exemplo de mitigação do princípio da indisponibilidade (na
audiência preliminar a mitigação é à obrigatoriedade) da ação penal pública.
Fracassadas as tentativas de solução consensual, o juiz declara aberta a audiência, passando a
palavra ao defensor para apresentar a defesa preliminar.
16.2.2. Defesa/resposta preliminar (art. 81 da Lei)
Não é todo procedimento que admite defesa preliminar. Atualmente, temos nos seguintes
procedimentos:
• Juizados especiais criminais;
• Lei de drogas;
• Procedimentos originários dos tribunais • Crimes funcionais afiançáveis.
Art. 80 - Nenhum ato será adiado, determinando o Juiz quando imprescindível, a
condução coercitiva de quem deva comparecer.

Art. 81 - Aberta a audiência, será dada a palavra ao defensor para responder à


acusação, após o que o Juiz, receberá, ou não, a denúncia ou queixa; Havendo
recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e defesa.
Interrogando-se a seguir o acusado, se presente, passando-se imediatamente aos
debates orais e a prolação da sentença.
A defesa preliminar funciona como um contraditório prévio ao juízo de admissibilidade da peça
acusatória, eis que apresentada entre o oferecimento e o seu recebimento.
Pode ser oral (caso em que será reduzido a termo) ou por escrito. Visa impedir a instauração de
uma lide temerária. Objetiva a rejeição da peça acusatória (e para alguns também a absolvição sumária).
Feita a defesa, o juiz decide se rejeita (ou se absolve sumariamente) ou recebe a peça acusatória.
§ 1º - Todas as provas serão produzidas na audiência de instrução e julgamento,
podendo o Juiz limitar ou excluir as que considerar excessivas, impertinentes, ou
protelatórias.
§ 2º - De todo o ocorrido na audiência será lavrado termo, assinado pelo Juiz e pelas
partes, contendo breve resumo dos fatos relevantes ocorridos em audiência e a
sentença.
§ 3º - A sentença, dispensado o relatório, mencionará os elementos de convicção do
Juiz.

A inobservância da defesa preliminar é causa de nulidade relativa, a qual depende de comprovação


do efetivo prejuízo, bem como deve ser arguida em momento oportuno, sob pena de preclusão

16.2.3. (Des) necessidade de resposta à acusação


Resposta acusação é o nome que a uma peça apresentada pela defesa, prevista no art. 396-A do
CPP.
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que
interesse à sua defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas
pretendidas e arrolar testemunhas, qualificando-as e requerendo sua intimação,
quando necessário

Salienta-se que a resposta à acusação não se confunde com a defesa preliminar (apresentada entre
o oferecimento da peça acusatória e o seu recebimento), pois é apresentada após o recebimento da peça
acusatória.

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A Lei dos Juizados não prevê resposta à acusação. O art. 394, §4º do CPP é claro ao prever que as
disposições dos arts. 395 a 398 serão aplicadas a TODOS os procedimentos penais de primeiro grau, ainda
que não regulados pelo CPP. Trata-se de verdadeira norma geral, assim, pelo menos em tese, poderíamos
aplicar tais artigos ao JECRIM.
Contudo, no entender da melhor doutrina, não há necessidade de resposta à acusação no âmbito
dos juizados, pois todas as teses defensivas devem ser concentradas na defesa preliminar.

16.2.4. Juízo de admissibilidade da peça acusatória


CPP Art. 394. O procedimento será comum ou especial.
§ 4o As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os
procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.
395 – aspectos formais da peça acusatória.
396 – recebimento da acusatória/rejeição da peça acusatória.
Em primeiro lugar, são analisados os aspectos formais (processuais) da denúncia (art. 395 do CPP), a
saber: aptidão da peça inicial, condições da ação e pressupostos processuais, justa causa.
A ausência de qualquer desses elementos conduz à rejeição da denúncia, decisão que somente faz
coisa julgada formal. Essa decisão é impugnável por meio de apelação (e não RESE como no procedimento
comum).
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá
apelação, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício
no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.

16.2.5. Possibilidade de absolvição sumária


Feito isso, o juiz passa a analisar as causas legais de absolvição sumária (art. 397 do CPP).
Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste
Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente,
salvo inimputabilidade;
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV - extinta a
punibilidade do agente.

Apesar de a Lei dos Juizados não falar nada da absolvição, é óbvio que é cabível, nos termos do art.
394, § 4º do CPP. Além de ser uma medida mais benéfica ao réu, possibilita o encerramento do processo de
forma mais célere, o que vai ao encontro dos princípios do JEC.
A decisão de absolvição sumária (que reconhece ausência de tipicidade, ilicitude, culpabilidade ou
punibilidade) forma coisa julgada material, exatamente por se tratar de situações que não envolvem apenas
aspectos processuais, mas de mérito.
Não sendo caso de rejeição ou absolvição sumária, tem lugar a decisão de recebimento da peça
acusatória, que dará início à instrução processual.
Nucci diz que esse recebimento deve ser fundamentado, assim como todo procedimento em que há
a defesa preliminar. Isto devido ao art. 93, IX da CF agregado ao fato de que não pode o juiz simplesmente
ignorar os argumentos levantados preliminarmente pelo autor do fato.
CF Art. 93 IX todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e
fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a
presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou
somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do
interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

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OBSERVAÇÃO: Há quem entende que não existe absolvição sumária no JEC, exatamente por existir a
análise de recebimento ou rejeição da denúncia num momento imediatamente anterior. Há também quem
diga que a análise da absolvição sumária deva ser feita depois do recebimento da denúncia, que ocorre
depois de verificada a ausência de causas de rejeição.
16.2.6. Ordem dos atos na audiência de instrução e julgamento
1) Instrução
A instrução tem a seguinte ordem de atos:
1.1) Declarações do ofendido;
1.2) Inquirição das testemunhas de acusação; 1.3)
Inquirição das testemunhas de defesa;
1.4) Interrogatório do autor do fato.
2) Debates orais
Aplicam-se, por analogia, as disposições do procedimento comum: 20 minutos para cada parte,
prorrogáveis por mais 10. Se houver assistente, terá 10 minutos para falar depois do MP, acrescendo-se
igual tempo à defesa (CPP, art. 534).
CPP Art. 534. As alegações finais serão orais, concedendo-se a palavra,
respectivamente, à acusação e à defesa, pelo prazo de 20 (vinte) minutos,
prorrogáveis por mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença. § 1o Havendo
mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.
§ 2o Ao assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão
concedidos 10 (dez) minutos, prorrogando-se por igual período o tempo de
manifestação da defesa.
3) Sentença
Encerrados os debates, o juiz profere sentença em audiência, da qual saem pessoalmente intimadas
as partes.
Dispensa-se o relatório na sentença.

17. SISTEMA RECURSAL NA LEI 9.099/95


17.1. ÓRGÃOS DO SISTEMA RECURSAL DO JECRIM
Juízo ad quem: Turma recursal, composta por três juízes de primeira instância.
CUIDADO: O juiz que apreciou a causa em 1º grau, obviamente não poderá integrar a turma
recursal que irá julgá-lo.
A Turma Recursal é funciona como juízo ad quem exclusivo dos juizados especiais criminais, ou seja,
não poderá julgar infrações de menor potencial ofensivo que sai do juizado e vai para a vara comum.
Órgão ministerial: Promotor de justiça ou procurador da república.
17.2. APELAÇÃO NO JECRIM (art. 82)
Art. 82. Da decisão de rejeição da denúncia ou queixa e da sentença caberá
APELAÇÃO, que poderá ser julgada por turma composta de três Juízes em exercício
no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.
§ 1º A apelação será interposta no prazo de dez dias, contados da ciência da
sentença pelo Ministério Público, pelo réu e seu defensor, por petição escrita, da
qual constarão as razões e o pedido do recorrente.
§ 2º O recorrido será intimado para oferecer resposta escrita no prazo de dez dias.
§ 3º As partes poderão requerer a transcrição da gravação da fita magnética a que
alude o § 3º do art. 65 desta Lei.
§ 4º As partes serão intimadas da data da sessão de julgamento pela imprensa.
§ 5º Se a sentença for confirmada pelos próprios fundamentos, a súmula do
julgamento servirá de acórdão.

APELAÇÃO NO CPP APELAÇÃO NOS JUIZADOS

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1) Hipóteses de cabimento: 1) Hipóteses de cabimento:
- Sentença condenatória ou absolutória; - Sentença condenatória ou absolutória.
- Rejeição da peça acusatória (no CPP é RESE);
- Sentença homologatória da transação;
2) Prazo: 05 dias para interpor. 2) Prazo de 10 dias para interpor.
3) Depois de interposta, mais 08 dias para arrazoar. 3) A interposição DEVE estar acompanhada das razões
recursais (daí o prazo maior).

O que ocorre no JEC se as razões não forem apresentadas concomitantemente com a interposição?
1ª C: O recurso sequer deve ser conhecido (STF 2ª T. HC 85.210).
2ª C: Apesar do teor do art. 82, §1º, a não apresentação de razões não impede o conhecimento do
recurso, caso no qual terá efeito devolutivo amplo (STF 1ª T. HC 85.344).
Em qualquer caso, admite-se a apresentação de razões posteriormente à interposição, desde que
no prazo legal de 10 dias.

17.3. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO JECRIM (art. 83)


Art. 83. Caberão embargos de declaração quando, em sentença ou acórdão, houver
obscuridade, contradição ou omissão.
§ 1º Os embargos de declaração serão opostos por escrito ou oralmente, no prazo
de cinco dias, contados da ciência da decisão.
§ 2º Os embargos de declaração INTERROMPEM o prazo para interposição de
recurso (redação dada peno NCPC)
§ 3º Os erros materiais podem ser corrigidos de ofício.

EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO CPP EMBARGOS NO JECRIM

1) Prazo: 02 dias. 1) Prazo: 05 dias.

2) Cabimento 2) Cabimento
- Obscuridade; - Obscuridade
- Contradição; - Omissão. - Contradição
- Ambiguidade; - Omissão
3) Efeito: Interrompem
(aplicação subsidiária do CPC). 3) Efeito: INTERROPEM o prazo recursal, antes do NCPC
suspendiam o prazo. O recursal

17.4. RECURSO EXTRAORDINÁRIO/RECURSO ESPECIAL NO JECRIM


CF Art.102 (STF), III - julgar, mediante RECURSO EXTRAORDINÁRIO, as causas
decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida
Contra decisão das turmas recursais, desde que preenchidos todos os requisitos, é cabível recurso
extraordinário.
CF Art. 103 (STJ), III - julgar, em RECURSO ESPECIAL, as causas decididas, em única
ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos
Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:.

Já o recurso especial, nos termos da CF, só é cabível contra acórdão de TRIBUNAL, e as turmas
recursais não têm essa natureza (Súmula 203 do STJ). Portanto, não caberá recurso especial contra turmas
dos juizados.
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STJ Súmula: 203 Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de
segundo grau dos Juizados Especiais.

17.5. HABEAS CORPUS NO JECRIM


Caberá HC, mas desde que haja risco à liberdade de locomoção. Por exemplo, o art. 28 da Lei de
Drogas é julgado nos juizados, mas como não há risco à liberdade, não será possível o HC.
STF Súmula: 693 – não cabe “habeas corpus” contra decisão condenatória a pena de
multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária
seja a única cominada.

Lembrar do art. 51 do CPP, o qual afirma que a pena de multa é dívida de valor.
Prevalece que o HC contra o juiz do Juizado é julgado pela Turma Recursal.
HC contra turma recursal quem julga?
Súmula 690 do STF: Totalmente contrária à celeridade do procedimento do JEC.
SÚMULA Nº 690 - COMPETE ORIGINARIAMENTE AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
O JULGAMENTO DE "HABEAS CORPUS" CONTRA DECISÃO DE TURMA RECURSAL DE
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS (VIDE OBSERVAÇÃO).

A Súmula foi superada no julgamento do HC 86.834, apesar de ainda não ter sido cancelada.
Atualmente, o HC contra turma recursal vai para o respectivo TJ ou TRF..

17.6. MANDADO DE SEGURANÇA


Caberá MS no JECRIM, será apreciado:
• MS contra o juiz, caberá à Turma Recursal;
STJ Súmula: 376 – compete à Turma Recursal processar e julgar o mandado de
segurança contra ato de juizado especial.

• MS contra a Turma Recursal, caberá à Turma Recursal também, tendo em vista que se usa o art.
21, VI da LC 21/79.
17.7. REVISÃO CRIMINAL NO JECRIM
A ação rescisória não á cabível no JEC (cível). Art. 59.
Art. 59 - Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento
instituído por esta Lei
E a revisão criminal? É admissível. Não há dispositivo semelhante ao da ação rescisória. Essa
admissibilidade decorre do art. 92 da Lei, além, é claro, do princípio da ampla defesa.
Art. 92. Aplicam-se subsidiariamente as disposições dos Códigos Penal e de Processo
Penal, no que não forem incompatíveis com esta Lei.
OBS: Nesse caso, quem julga a revisão criminal é a própria turma recursal. STJ CC 47.718.

17.8. CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE JECRIM E JUÍZO COMUM


Conflito de competência é um procedimento de natureza incidental que visa dirimir a competência
entre dois ou mais juízos.
Por exemplo, imagine o conflito entre um juiz do JECRIM e um juiz de Vara Criminal, como será
resolvido?
1º - O conflito só ocorre quando se não há hierarquia jurisdicional. Portanto, havendo hierarquia
não há conflito;
2º - Para saber quem irá solucionar o conflito basta encontrar o órgão jurisdicional em comum.

26
Para o exemplo acima, inicialmente afirmava-se que o conflito deveria ser resolvido pelo STJ. Havia,
inclusive, entendimento sumulado
STJ Súmula: 348 Compete ao Superior Tribunal de Justiça decidir os conflitos de
competência entre juizado especial federal e juízo federal, ainda que da mesma
seção judiciária. CANCELADA
A Súmula 348 foi cancelada, editando-se nova súmula sobre o assunto:
STJ súmula: 428 - Compete ao TRF decidir os conflitos de competência entre juizado
especial federal e juízo federal da mesma seção judiciária.
**Erro: “seção”? Seção é o Estado, ele quis dizer com “mesma seção judiciária” os que estão
submetidos ao mesmo TRF (região).

18. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO (art. 89)


18.1. CABIMENTO
Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano,
abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o
acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional
da pena (art. 77 do Código Penal). § 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu
defensor, na presença do Juiz, este, recebendo a denúncia, poderá suspender o
processo, submetendo o acusado a período de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de freqüentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar
e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão,
desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado. § 3º A suspensão
será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro
crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano.
§ 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso
do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição imposta.
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.
§ 6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo. § 7º Se o
acusado não aceitar a proposta prevista neste artigo, o processo prosseguirá em
seus ulteriores termos.

18.1.1. “Igual ou inferior a um ano”


Pena: Pena mínima igual ou inferior a um ano. Seja ou não infração de menor potencial ofensivo
(não precisa ser no JECRIM, pode ser até em processo originário dos tribunais).
Causa aumento/diminuição
“Teoria da melhor das hipóteses”:
-Causa de aumento: quantum que menos aumente.
-Diminuição: quantum que mais diminua a pena.
Concurso de crimes: se devido ao concurso de crimes, a pena mínima ultrapassar um ano, não
caberá o benefício.
STJ Súmula 243 O benefício da suspensão do processo não é aplicável em relação
às infrações penais cometidas em concurso material, concurso formal ou
continuidade delitiva, quando a pena mínima cominada, seja pelo somatório, seja
pela incidência da majorante, ultrapassar o limite de um (01) ano.
STF Súmula 723 Não se admite a suspensão condicional do processo por crime
continuado, se a soma da pena mínima da infração mais grave com o aumento
mínimo de um sexto for superior a um ano.
27
PROVA: Cabe suspensão condicional do processo no crime do art. 5º da Lei 8.137/90?

A pena prevista é detenção de 02 a 05 anos OU multa. Conforme o STF, quando a pena de multa
estiver cominada de maneira alternativa, será cabível a suspensão condicional do processo mesmo que a
pena mínima seja superior a um ano. Ora, se ao fim do processo, é permitido a aplicação da multa como
pena principal, não há porque não permitir a suspensão (o cara vai ficar livre mesmo).

18.1.2. “Não esteja sendo processado”


Há doutrina que entende ser incompatível com o princípio da presunção de inocência (Defensoria,
garantismo).

18.1.3. “Condenado por outro crime”


A lei fala em crime.
Assim, contravenção não impede a SCP.
Deve-se levar em conta o lapso temporal da reincidência (05 anos – art. 64). STF HC 85751 e 88157.
18.1.4. “Demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (sursis)” – art.
77 CP
CP (“Sursis” – Suspensão Condicional da Pena)
Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos,
poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que: I - o condenado
não seja reincidente em crime doloso (esse requisito também é exigido pela PRD);
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem
como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
(circunstâncias judiciais)
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código (PRD).

18.1.5. “Prévio recebimento da peça acusatória”


1) Oferecimento da denúncia e da proposta;
2) Rejeição (art. 395);
3) Recebimento;
4) Resposta à acusação;
5) Análise de possível absolvição sumária;
6) Designação de audiência para aceitação da proposta pelo acusado e por seu defensor; Lembrando
que se o advogado não quiser e o acusado sim, prevalece a vontade do acusado.

18.2. INICIATIVA PARA A PROPOSTA


Vale tudo que foi dito para transação penal, assim colacionamos o que consta acima.
A proposta de suspensão condicional do processo não pode ser concedida ex officio pelo juiz.
Pudesse o juiz conceder a suspensão de ofício, ele estaria usurpando um poder que não é seu: poder de
promover a ação penal pública.
Assim, prevalece atualmente que, caso o juiz não concorde com a recusa injustificada da proposta de
suspensão condicional do processo por parte do MP, deve remeter a questão ao procurador-geral (ou
Câmara Criminal do MPF), nos termos do art. 28 do CPP.
Nesse sentido é a Súmula 696 do STF:.
STF Súmula 696 reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional
do processo, mas se recusando o promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo,
remeterá a questão ao procurador-geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do
Código de Processo Penal.
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18.3. CABIMENTO EM AÇÃO PENAL PRIVADA
O art. 89 não faz nenhuma menção ao querelante, mas apenas ao MP.
Entretanto, prevalece na doutrina e jurisprudência que é cabível a proposta de suspensão feita pelo
querelante em ação penal privada (STF HC 81.720).

18.4. CONDIÇÕES DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO


Estão previstas nos incisos do §1º do art. 89. O §2º permite ainda que outras condições
“inominadas” sejam previstas pelo juiz. Entretanto, as condições devem ser razoáveis, não importando em
situações vexatórias, sob pena de violação do princípio da dignidade da pessoa humana.
Frise-se: são condições, não penas restritivas de direitos.
Art. 89
§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,
recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a
período de prova, sob as seguintes condições:
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;
II - proibição de frequentar determinados lugares;
III - proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorização do Juiz;
IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, mensalmente, para informar
e justificar suas atividades.
§ 2º O Juiz poderá especificar outras condições a que fica subordinada a suspensão,
desde que adequadas ao fato e à situação pessoal do acusado.

A jurisprudência entende que é possível a imposição de pena restritiva de direitos como condição,
vejamos:
STJ – (...) Não há óbice a que se estabeleçam, no prudente uso da faculdade
disposta no art. 89, §2º, da Lei 9.099/95, obrigações equivalentes, do ponto de vista
prático, a sanções penais (tais como a prestação de serviços comunitários ou a
prestação pecuniária), mas que, para fins do sursis processual, se apresentam tão
somente como condições para sua incidência.

18.5. REVOGAÇÃO DA SUSPENSÃO


O §3º do art. 89 traz duas causas OBRIGATÓRIAS de revogação da suspensão:
1) Ser o beneficiário processado por outro crime;
2) Não efetuar, sem motivo, a reparação do dano.
Art. 89, § 3º A suspensão SERÁ revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a
ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação
do dano.

O §4º traz duas hipóteses de revogação FACULTATIVA:


1) Ser o beneficiário processado por contravenção;
2) Não cumprir qualquer das outras condições (que não a reparação do dano).
Art.89, § 4º A suspensão PODERÁ ser revogada se o acusado vier a ser processado,
no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer outra condição
imposta.
A revogação do benefício é obrigatória quando o acusado, no curso do prazo da suspensão, vier a
ser processado por outro crime ou não efetuar, sem motivo justificado, a reparação do dano. Por outro
lado, a revogação é facultativa quando, no curso do prazo, o acusado o vier a ser processado por
contravenção ou descumprir qualquer outra condição imposta.

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18.6. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE
Art. 89, § 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a
punibilidade.
Conforme o §5º, expirado o período de prova sem a revogação do benefício, o juiz julgará extinta a
punibilidade.
IMPORTANTE: Para a jurisprudência a suspensão condicional do processo pode ser revogada
mesmo após o termo final do seu prazo (mesmo tendo expirado o período de prova), se constatado o não
cumprimento de condição durante o curso do benefício, desde que não tenha sido proferida sentença
extintiva da punibilidade (STF).
Há quem entenda que a revogação só pode ser realizada durante o tempo de prova. Expirado o
período, mesmo que o juiz verifica que o beneficiário cometeu algum deslize que autorize a revogação,
nada poderá fazer senão declarar extinta a punibilidade.

18.7. SUSPENSÃO DA PRESCRIÇÃO (§6º)


Art. 89, §6º Não correrá a prescrição durante o prazo de suspensão do processo.
Não confundir com a interrupção da prescrição.
PROVA: Quais são as hipóteses de suspensão da prescrição?
São previstas em três dispositivos: Art. 116 do CP (questões prejudiciais, cumprimento de pena no
estrangeiro, cumprimento de pena no Brasil); art. 366 do CPP (citação por edital - “crise de instância”); e
art. 89, §6º da Lei 9.099/95 (suspensão condicional do processo).

18.8. RECURSO CABÍVEL CONTRA A DECISÃO QUE SUSPENDE O PROCESSO


Há divergência.
Doutrina: Apelação.
Jurisprudência: RESE, com fundamento no art. 581, XVI ou XI do CPP (interpretação ampliativa). Nunca
esquecer que o rol de hipóteses de cabimento do RESE é de 1940.
Nesse sentido: STJ REsp. 601.924; RMS 23.516.
Art. 581. Caberá recurso, no sentido estrito, da decisão, despacho ou sentença:
...
XVI - que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial;
...
XI - que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena;

18.9. CABIMENTO DE ‘HABEAS CORPUS’


Como o processo fica suspenso, surge a dúvida: Cabe HC?
O STJ em alguns julgados entendeu que, como o processo está suspenso, não há risco à liberdade
de locomoção, logo não é cabível o HC. Não é a melhor posição.
PREVALECE que o HC é cabível, até porque se descumpridas as condições, o processo retoma seu
curso, podendo resultar em pena privativa de liberdade.
Esse HC ocorre bastante quando o advogado e o acusado, sob pressão, aceitam a proposta, mas
depois verificam que seria caso de princípio da insignificância, e acabam buscando o trancamento da ação
penal por meio do HC.

18.10. DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO


Os tribunais entendem que a suspensão pode ser concedida diante da desclassificação do
delito.

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STJ Súmula 337 É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação
do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva.
CPP Art. 383. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou
queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência,
tenha de aplicar pena mais grave. (emendatio)
§ 1o Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de
proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o
disposto na lei.

18.11. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO NOS CRIMES AMBIENTAIS


Art. 89 da L. 9.099/95 prevê a suspensão condicional do processo (“sursis processual”), sendo esta
cabível para todos os crimes com pena mínima não superior a um ano (não importa a pena máxima), não
importa se é de menor potencial ofensivo. Exemplo: furto simples de 1 a 4 cabe, estelionato: pena de 1 a 5,
cabe.
9.099/95:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um
ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,
poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o
acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido condenado por outro
crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da
pena (art. 77 do Código Penal).

Atenção ao 28 dos crimes ambientais:


LCA Art. 28. As disposições do art. 89 da Lei nº 9.099 (suspensão condicional do
processo – crimes pena mínima não superior a 1 ano), de 26 de setembro de 1995,
aplicam-se aos crimes de menor potencial ofensivo (crimes pena máxima não
superior a 2 anos, cumulada ou não com multa) definidos nesta Lei, com as
seguintes modificações:...
Confusão: aqui o legislador restringe a aplicação da suspensão aos crimes de potencial ofensivo,
onde se sabe que cabe a todos crimes com a pena mínima não superior a um ano. A doutrina diz que houve
erro material na elaboração da lei, onde ele disse aos “crimes de menor potencial ofensivo”, ele quis dizer
“aos crimes definidos nessa lei”.
Cabendo a todos crimes definidos na lei, com a pena mínima cominada em não mais de um ano,
sendo assim a lei dos crimes ambientais segue a regra geral. Edis Milaré, Antonio Fernandes, Cezar Roberto
Bitencourt, Vladimir e Gilberdo Passos de Freitas.

LCA Art. 28 , I - a declaração de extinção de punibilidade, de que trata o § 5° do


artigo referido no caput, dependerá de laudo de constatação de reparação do dano
ambiental, ressalvada a impossibilidade prevista no inciso I do § 1° do mesmo
artigo;

LJEC Art. 89
§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade.

§ 1º Aceita a proposta pelo acusado e seu defensor, na presença do Juiz, este,


recebendo a denúncia, poderá suspender o processo, submetendo o acusado a período
de prova, sob as seguintes condições:

I - reparação do dano, salvo impossibilidade de fazê-lo;

89, L. 9099/95 28 , L9605/98


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Pena mínima não superior a 1 ano. Pena mínima não superior a 1 ano (deve ser de menor
potencial ofensivo erro material)
2 a 4 anos. 2 a 4 anos + 5 + 5 (ver abaixo)

*Réu sujeito a condições previstas no art. 89§1º, I a IV e


*Além das condições da lei 9099 art. 89, para ter a
§2º (não necessariamente durante TODO tempo) extinção da punibilidade, o réu deve promover a
reparação do dano ambiental (ficando provada por
*Cumprindo todas as condições durante o período, o juiz laudo de reparação do dano ambiental). Art. 28, I,
decreta a extinção da punibilidade. 9605/98

*Salvo se houver a impossibilidade da reparação do


dano.

II - na hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a


reparação, o prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período
máximo previsto no artigo referido no caput, acrescido de mais um ano (5), com
suspensão do prazo da prescrição;
III - no período de prorrogação, não se aplicarão as condições dos incisos II
(proibição de frequentar certos lugares), III (proibição de ausentar-se da comarca)
e IV (comparecimento a juízo) do § 1° do artigo mencionado no caput;

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