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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL


PATOLOGIA E RECUPERAÇÃO DAS ESTRUTURAS

Ana Paula Felício Santos


Isabela dos Reis Fonseca
Martha de Souza Cruz
Octávio Henrique Bernardes Barros
Taylany Pereira da Silva
Vinícius Sena Maciel

SEMINÁRIO DE PATOLOGIA:
Estudo de caso Edifício Areia Branca - PE

Palmas
2019
6

Ana Paula Felício Santos


Isabela dos Reis Fonseca
Martha de Souza Cruz
Octávio Henrique Bernardes Barros
Taylany Pereira da Silva
Vinícius Sena Maciel

SEMINÁRIO DE PATOLOGIA:
Estudo de caso Edifício Areia Branca - PE

Trabalho submetido à disciplina de Patologia e


Recuperação das Estruturas do Curso de Enge-
nharia Civil da Universidade Federal do Tocan-
tins, como requisito parcial de aprovação.
Professor: Dr. Eng. Fábio Henrique de Melo Ri-
beiro

Palmas
2019
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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fases do desempenho de estrutura durante sua vida útil. .................. 12


Figura 2 – Situação das sapatas .......................................................................... 18
Figura 3 – Situação dos pilares ........................................................................... 21
Figura 4 - Reservatório inferior com vazamento e trinca na viga do reservatório22
8

SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9
2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................... 10
2.1 AGENTES E MECANISMOS DE DETERIORAÇÃO .................................. 10
2.2 durabilidade vida útil e desempenho ................................................................ 11
2.3 ERROS NA CONSTRUÇÃO DE UMA EDIFICAÇÃO ................................ 13
2.3.1. Projeto ............................................................................................................ 13
2.3.2. Execução ........................................................................................................ 13
2.3.3. Materiais ........................................................................................................ 14
2.3.4 Uso ................................................................................................................... 14
2.4 PRINCIPAIS CAUSAS DAS AÇÕES PATOLÓGICAS ................................ 15
2.4.1. Ações Mecânicas ........................................................................................... 15
2.4.2. Ações Físicas .................................................................................................. 15
2.4.3. Ações Químicas ............................................................................................. 15
2.4.4. Ações Biológicas ............................................................................................ 16
3 ESTUDO DE CASO – EDIFÍCIO AREIA BRANCA ................................................ 16
3.1 DESCRIÇÃO DO EDIFÍCIO ........................................................................... 16
3.2 DESCRIÇÃO DO ACIDENTE ........................................................................ 16
3.3 APONTAMENTOS DO LAUDO TÉCNICO ................................................. 17
3.3.1 Sapatas ............................................................................................................ 17
3.3.1.1 Falta de controle tecnológico na execução ............................................... 17
3.3.1.2 Deslocamento de Fundações ..................................................................... 18
3.3.2 Pescoço dos Pilares ........................................................................................ 19
3.3.2.1 Falta de Aderência .................................................................................... 19
3.3.2.2 Porosidade................................................................................................. 19
3.3.2.3 Teor de Cimento ....................................................................................... 20
3.3.2.4 Falhas na execução da Concretagem ........................................................ 20
3.3.2.5 Colapso das Armaduras ............................................................................ 21
3.3.2.6 Concreto Friável ....................................................................................... 21
3.3.3 Reservatório Inferior ..................................................................................... 21
3.4 SITUAÇÃO ATUAL ....................................................................................... 22
4 CONCLUSÃO................................................................................................................. 22
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 24
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1 INTRODUÇÃO

O edifício Areia Branca, localizado na cidade de Jaboatão dos Guararapes no estado de


Pernambuco, foi construído em 1977 e concluído em 1979, e segundo registros do CREA, teve
como responsável pela obra a empresa JB Construções Ltda. A construção era constituída por
12 pavimentos úteis, com 2 apartamentos de 220 metros quadrados, cada um por andar, mais
um pavimento térreo e um subsolo.
No dia 14 de outubro de 2004, após 28 anos de construção, o edifício sofreu colapso na
estrutura, o que levou ao desabamento total. O edifício ruiu deixando 4 mortos, as vítimas da
tragédia estavam participando da inspeção para saber as condições estruturais do edifício, que
já se mostravam danificadas e perceptíveis aos moradores, estes já tinham deixado o local.
Este trabalho tem como objetivo fazer um estudo acerca das causas que levaram o prédio
ao seu desabamento, com enfoque nas patologias que acometiam a estrutura, tomando como
base o laudo já emitido pelo CREA-PE sobre o acontecimento, afim de aprimorar o aprendizado
em torno do assunto.
10

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O presente referencial teórico busca explanar os aspectos mais relevantes a cerca da pre-
sença de manifestações patológicas nas estruturas afim de trazer subsídio para futuras correla-
ções com o estudo de caso apresentado neste trabalho.

2.1 AGENTES E MECANISMOS DE DETERIORAÇÃO

Na engenharia civil, o termo “manifestações patológicas” é usualmente utilizado para


se referir à ocorrência de mau desempenho nas estruturas, seja de ordem química, física, mecâ-
nica, biológica ou por erros de projeto, execução ou até mesmo de utilização. Vale salientar
que, este termo é também utilizado na área da saúde, onde, está relacionado a análise da causa
e sintoma de doenças, em outras palavras, patologia seria o diagnóstico de determinada doença,
enquanto manifestação patológica, a própria doença.
Para Souza e Ripper (1998), o significado de patologia das estruturas é, um novo campo
da Engenharia das Construções que se ocupa do estudo das origens, formas de manifestação,
consequências e mecanismos de ocorrência das falhas e dos sistemas de degradação das estru-
turas.
De acordo com Helene (1992), as situações onde ocorrem manifestações patologias
apresentam sintomas característicos. Através do qual, especialistas deduzem a origem e os pro-
cedimentos a serem realizados com intuíto de erradicar os problemas causados pelo apareci-
mento desses “males” nas estruturas.
Algumas manifestações atuam com persistência maior, outras menor, algumas apresen-
tam riscos maiores a integridade da estrutura, no entanto, independente das consequências csa-
das, é evidente que os motivos relacionados à presença dessas manifestações patológicas são
evidenciados nas fases de projeto, execução e/ou utilização.
A análise da patologia é em função de dois aspectos essenciais, tempo e condições de
exposição, o que a torna este termo associado aos conceitos de durabilidade e vida útil. Percebe-
se então, que existe uma relação entre a patologia e o desempenho da edificação, pois apesar
do concreto, por exemplo, possuir excelente durabilidade, a estrutura perderá essa característica
ao longo do tempo, pela relação existente com o meio ambiente.
As estruturas, especialmente aquelas de concreto, poderiam ter vida longa caso fossem
tomadas precauções como, o planejamento do estudo das possíveis manifestações patológicas
11

que a curto ou longo prazo pudessem aparecer nas estruturas, por exemplo, tal atitude retiraria
do orçamento gastos com manutenções e reparos desnecessários caso fossem premeditados.
Conferir, avaliar e diagnosticar as patologias da construção são tarefas que devem ser
realizadas sistematicamente e periodicamente, de modo a que os resultados e as ações de ma-
nutenções possam cumprir efetivamente a reabilitação da construção.

2.2 DURABILIDADE VIDA ÚTIL E DESEMPENHO

Como apresentado no tópico anterior, a durabilidade é um dos principais fatores a serem


analisados no que diz respeito ao estudo do concreto ou estruturas de concreto. Para Neville
(1997), o concreto é considerado durável, quando desempenha as funções que lhe foram atri-
buídas, mantendo a resistência e a utilidade esperada durante um período de vida previsto.
Metha e Monteiro (1994) define que, nenhum material é essencialmente durável, já que
como resultado das interações ambientais, as propriedades dos materiais mudam ao longo do
tempo.
O conceito de durabilidade entrelaçado ao concreto é estabelecido também pela NBR
6118/2014, quando apresenta que, durabilidade é a capacidade da estrutura de resistir às in-
fluências ambientais previstas e definidas pelo projeto estrutural.
De uma forma um pouco mais leiga, baseado em todas as definições apresentadas, du-
rabilidade seria o período de vida da estrutura sem necessidade de reparos, desempenhando seu
papel da forma pelo qual foi estabelecida. Vale ressaltar ainda que, a NBR 6118/2014 determina
que a vida útil de uma estrutura deve ser de cerca de 50 anos, recebendo apenas reparos pre-
ventivos.
É possível notar que, para a definição e explicação dos aspectos relativos a durabilidade,
os termos desempenho e vida útil aparecem sempre correlacionados. Isso porque durabilidade
e vida útil estão intimamente ligados. A durabilidade pode ser expressa em termos de vida útil,
definida como o período de tempo no qual um produto atende às exigências dos usuários.
A NBR 6118/2014 define como vida útil, o período no qual se mantém as características
das estruturas de concreto, obedecendo aos requisitos de uso e manutenção indicado pelo pro-
jetista, assim como de execução dos reparos decorrentes de danos acidentais. Contudo é consi-
derado que o material aproxima-se do final de sua vida útil quando suas propriedades, de acordo
com suas condições de uso, se danifica a tal ponto que a continuação do uso desse é considerado
inseguro e até mesmo antieconômico.
12

A durabilidade de uma estrutura pode ser representada pelo gráfico conforme mostra a
Figura 1 (ANDRADE, 1997). Onde é possível observar que quando a estrutura começa a per-
der seu desempenho por causa de algum tipo de deterioração, há a necessidade de reparos ou
reforços. Nota-se também, que à medida que os danos na estrutura crescem, os custos necessá-
rios para as correções também aumentam.

Figura 1 - Fases do desempenho de estrutura durante sua vida útil.

Fonte: Andrade, 1997

No gráfico acima é possível perceber a utilização do termo “desempenho”, também cor-


relacionado à durabilidade, como apresentado neste tópico. Segundo a NBR 15575, trata-se do
comportamento da estrutura conforme suas condições de exposição ao uso.
Um bom desempenho do material ou componente ao longo da vida útil é considerado
como sinônimo de durabilidade. Segundo Souza e Ripper (1998), o problema econômico, o
produtor de materiais de baixa qualidade e a irresponsabilidade de quem comanda o processo é
em muito facilitada pela falta de fiscalização e normatização.
Em conseqüência disso, têm-se hoje gastos cada vez maiores com recuperação de estru-
turas de concreto em geral. Países como Brasil, México e Estados Unidos, com grande extensão
de costa, gastam verdadeiras fortunas anualmente apenas na recuperação de estruturas atingidas
pela corrosão provocada por cloretos. O cloreto chega até a armadura e provoca sua corrosão
pela falta de qualidade do concreto que a envolve.
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2.3 ERROS NA CONSTRUÇÃO DE UMA EDIFICAÇÃO

2.3.1. Projeto

Boa parte dos problemas ocasionados pela presença de manifestações patológicas no


concreto são decorrentes das várias falhas possíveis de acontecer durante a fase de elaboração
de projeto, podendo originar durante o estudo preliminar, na elaboração do anteprojeto, ou no
projeto executivo. Abaixo são listados alguns exemplos de problemas originados na etapa de
elaboração do projeto:
• Má definição das ações atuantes ou combinação mais desfavorável para a estrutura;
• Deficiência na avaliação de resistências do solo, podendo levar, por exemplo, a recal-
ques inesperados ao longo da construção e nos primeiros anos de vida da edificação;
• Adoção de peças com espessura de cobrimento e relação água/cimento incompatíveis
com tempo e as condições de exposição da estrutura;
• Especificação inadequada de materiais;
• Dimensionamento que leva a grandes deformações na estrutura, levando ao surgimento
de fissuras (peças esbeltas e utilização de grandes vãos);
• Utilização de juntas estruturais sujeitas à infiltração de água, próximas aos elementos
estruturais;
• Falta de compatibilização entre os projetos (arquitetônico, estrutural, hidrossanitário,
elétrico, entre outros);
• Detalhes construtivos impossíveis de serem executados.

2.3.2. Execução

Segundo a NBR 14931 (2004) define como execução da estrutura de concreto todas as
atividades desenvolvidas durante a sua execução, ou seja, sistema fôrmas, armaduras, concre-
tagem, cura e outras, bem como as relativas à inspeção e documentação de como construído,
incluindo a análise do controle de resistência do concreto.
Falhas construtivas durante a etapa de execução da obra podem causar resultado ruim
ao desempenho da estrutura de concreto. Para Souza e Ripper (1998), a etapa de execução da
estrutura é responsável por boa parte dos problemas patológicos. A ocorrência dos erros é de-
vido ao processo de produção, que é bastante prejudicado.
14

Boa parte dos problemas que provocam estes erros são ocasionados pela baixa qualidade
técnica dos trabalhadores, assim como também, a falta de uma fiscalização eficiente e um fraco
comando de equipes que levar a falhas em determinadas atividades como, escoramentos, fôr-
mas, posicionamento e qualidade das armaduras, qualidade do concreto, etc.

2.3.3. Materiais

Definidas as especificações dos materiais na fase de projeto, deve-se controlar bem a


aquisição dos insumos para fabricação do concreto, objetivando a garantia das especificações e
que o concreto não seja rejeitado. É importante que a caracterização dos materiais componentes
do concreto esteja em conformidade com o que recomenda a NBR 12654 (1992).
No cimento devem se acompanhar as condições físicas, como finura, início e fim de
pega, resistência à compressão, expansibilidade, calor de hidratação, assim como, também, seus
aspectos químicos, como perda ao fogo e resíduo insolúvel, teores de aluminato tricálcio e de
álcalis.
Vale Salientar que, tais análises e controles tecnológicos a cerca dos materiais a serem
utilizados na fase de execução são validas para todas as aplicabilidades no âmbito da engenha-
ria. Neste tópico, o presente trabalho limita-se apenas as estruturas de concreto, mas as especi-
ficações devem ser utilizadas em todos os materiais a serem utilizados nas obras de engenharia.

2.3.4 Uso

Depois de concluída a execução da estrutura, cabe ao usuário cuidar e utilizá-la da ma-


neira mais eficiente, com o objetivo de manter as características originais ao longo de toda a
sua vida útil.
A eficiência relaciona-se tanto com as atividades de uso, como, por exemplo, garantir
que não sejam ultrapassados os carregamentos previstos em projeto, quanto com as atividades
de manutenção, já que o desempenho da estrutura tende a diminuir ao longo da sua vida útil
(ANDRADE & SILVA, 2005).
A NBR 5674 define manutenção como o conjunto de atividades a serem desempenhadas
para conservar ou recuperar a capacidade funcional de uma edificação e de suas partes consti-
tuintes de forma a atender as necessidades e segurança dos usuários. Segundo Souza e Ripper
(1998), os problemas de patologia ocasionados pela ausência de manutenção ou mesmo por
15

manutenção inadequada, têm sua origem no desconhecimento técnico, no desleixo e em pro-


blemas econômicos.
A falta de destinação de verbas para manutenção pode vir a tornar-se fator responsável
pelo aparecimento de problemas estruturais mais graves, implicando em gastos e podendo levar
até mesmo a demolição da estrutura.

2.4 PRINCIPAIS CAUSAS DAS AÇÕES PATOLÓGICAS

2.4.1. Ações Mecânicas

Destaca-se como ação mecânica a ação de cargas excessivas. Esse tipo de ação pode provo-
car fissuração abrindo caminhos para que outras formas de deterioração se instalem. É importante
que os projetistas aprovem as cargas consideradas no dimensionamento da estrutura e que os usuá-
rios obedeçam às condições especificadas no projeto.
Um exemplo de manifestação patológica por ação mecânica é o desabamento de algumas
estruturas causadas por erros de dimensionamento onde a carga da estrutura é calculada de forma
errada, resultando em sobrepeso nas estruturas e possíveis colapsos.

2.4.2. Ações Físicas

De acordo com Souza e Ripper (1998), destacam-se como principais ações físicas con-
sideradas agressoras às estruturas de concreto: as variações de temperatura; os movimentos que
ocorrem na interface entre materiais com a mesma variação de temperatura mas com coefici-
entes de dilatação diferentes. Como é o caso de assentamento de alvenaria em peças de concreto
e a ação da água

2.4.3. Ações Químicas

Determinadas substâncias encontradas no meio ambiente penetram na massa de con-


creto endurecido e, sob condições especiais de temperatura e umidade, provocam reações quí-
micas com efeitos ruins. Sendo o concreto um material com baixa resistência a esse tipo de
ataque, as ações químicas acabam se tornando uma das principais causas de deterioração das
estruturas. Destaca-se alguns dos mecanismos mais comuns de deterioração química: Reação
álcalis-agregados, ataques por cloreto e carbonatação.
16

2.4.4. Ações Biológicas

Esse tipo de ação é ocasionado por agentes biológicos e não é muito comum na enge-
nharia. Alguns exemplos de agentes biológicos causadores da deterioração do concreto são o
crescimento de vegetação nas estruturas, em que as raízes penetram principalmente através de
pequenas falhas de concretagem, ou pelas fissuras e juntas de dilatação, e o desenvolvimento
de organismos e micro-organismos em certas partes da estrutura.

3 ESTUDO DE CASO – EDIFÍCIO AREIA BRANCA

3.1 DESCRIÇÃO DO EDIFÍCIO

O desabamento do edifício Areia Branca teve como principal causa a má execução da


sua estrutura, havendo indicativos da ausência de engenheiros na condução da obra. Isso aponta
a necessidade de conhecimento técnicos para execução de obras de engenharia.
Pelo fato de, uma das causas ser o alto contato com agentes agressivos no solo e na água
subterrânea, como: efluentes de fossas e sumidouros. Isso demonstra a urgente necessidade de
investimentos na implantação de sistemas de esgotamento sanitário na cidade.
O incidente também mostra a ausência da cultura de manutenção preventiva (e até cor-
retiva), pois isso torna a edificação mais vulnerável as ações causadas pelo meio e afeta na
durabilidade da estrutura. Pois muitas vezes, só é feita manutenção quando a patologia é iden-
tificada, e quando essas patologias acontecem na fundação só são diagnosticadas quando o pro-
blema já está em um alto grau de anomalia.
Não se pode deixar de repensar na falta de mecanismos legais no controle e aferição da
qualidade das edificações, onde a fiscalização deveria respaldar leis na obrigação de implemen-
tar um sistema de vistoria de forma frequente, para garantir a segurança de imóveis.

3.2 DESCRIÇÃO DO ACIDENTE

A descrição do acidente foi respaldada nos depoimentos de alguns moradores, operários,


técnicos e engenheiros que executavam serviços emergenciais de reforço estrutural momentos
antes do acidente. As principais observações foram:
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• No domingo (10/10/2004), moradores escutaram um estrondo no edifício e rea-


lizaram uma inspeção visual nos pavimentos, térreo e garagem mas não identi-
ficaram anomalias.
• Na terça (12/10/2004), o sindico percebeu um vazamento na parede do reserva-
tório inferior, no subsolo. Além de fissuras inclinadas.
• Na quarta (13/10/2004), foi contratada uma empresa especializada em recupera-
ção estrutural, para comparecer ao local no dia seguinte.
• Na madrugada de quinta (14/10/2004), os moradores escutaram ruídos como se
fossem elementos metálicos se chocando e alegaram que sentiram o prédio ba-
lançar. Com isso, o sindico solicitou que os moradores deixassem o edifício. Na
manhã de quinta a empresa contratada fez a vistorio do local e constatou o apa-
recimento de fissuras na viga do reservatório e com isso ele foi esvaziado para
que fosse feita escavações em algumas sapatas do reservatório para serem ana-
lisadas. Quando foi escavado a segunda sapata para começar o processos de re-
cuperação, ocorreu sucessivos estrondos semelhante a tiros abafados, como isso
todos da equipe saíram correndo, ocorrendo então o desabamento do prédio.

3.3 APONTAMENTOS DO LAUDO TÉCNICO

3.3.1 Sapatas

Podemos classificar as sapatas em diversas subclasses, em geral, as consideraremos


como os problemas de fundação e suporte do solo, envolvendo o sistema estrutural de fundação
como um conjunto, na Figura 2 podemos identificas algumas causas patológicas nas sapatas,
como armadura exposta e geometria irregular da sapata.

3.3.1.1 Falta de controle tecnológico na execução

No laudo gerado pelo CREA-PE podemos observar que não houve controle algum na
execução das sapatas do edifício. Ficando em extrema evidência pelas simples observações
realizadas durante as inspeções dos escombros. Foram constatadas diversas armaduras expos-
tas, fortes indícios da ausência de vibração do concreto devido à segregação do concreto. Tam-
bém possuindo forma geométrica muitas vezes descrita como indefinida, desníveis e falta de
18

uniformidade da espessura da camada de concreto magro para apoio das fundações rasas, re-
sultando em uma distribuição de tensões não uniforme e podendo gerar esforços não previstos
em projeto, indícios de lixiviação provocada pela agressão à argamassa do concreto por entrada
de água.
No laudo também foi verificado que o tronco de pirâmide que constitui a parte superior
da sapata em diversos casos encontrava-se incompleto e desprovido de forma definida, além de
não ter sido vibrada conforme a boa prática de execução exige. A ausência do patamar de apoio
às formas dos pescoços dos pilares sobre as sapatas representa um fator gerador de patologias
na região de ligação do pilar com a sapata, devido à fuga de material que ocorre durante a
concretagem, ocasionando diminuição da seção transversal efetiva do pilar, além de expor a
armadura aos agentes agressivos, notadamente à ação da umidade provocando corrosão. É re-
levante lembrar que isto ocorre no ponto de maior solicitação dos pilares.

3.3.1.2 Deslocamento de Fundações

Não foram identificados recalques diferenciais das sapatas nem qualquer outro tipo de
deslocamento que pudessem contribuir para a instabilidade da obra. Também não foi identifi-
cado qualquer vestígio de fuga de material, provocado por eventuais infiltrações de água que
viesse a ocasionar a ruína das bases. A hipótese de ruptura da camada de solo utilizada para
dimensionamento da fundação, o arenito, foi descartada pelo fato da camada ser contínua e
possuir espessura compatível com o porte do prédio.

Figura 2 – Situação das sapatas

Fonte: (LAUDO CREA-PE, 2005)


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3.3.2 Pescoço dos Pilares

Ao analisar os pilares consideram atenção em especial aos pescoços dos pilares, em


razão de que essas regiões tiveram no colapso do edifício, ao fato que foram as partes que houve
maior solicitação e as que tiveram maior danos durante ao longo período de execução e uso da
estrutura.
Em sequência a essa explanação foram efetuados ensaios de caracterização dos elemen-
tos. Os ensaios executados foram ensaios de reconstituição do traço, teste de reação álcali-agre-
gado, de porosidade, carbonatação e resistência mecânica dos aços.
Para ensaios de resistência à compressão dos pescoços dos pilares, houve retirada de
testemunhos de apenas um único pilar, em decorrência do desprovimento da integridade dos
outros pilares, logo após o colapso do edifício de areia branca. No entanto, o pilar analisado
demonstrou no ensaio acima citado resultados atípico e não representativo, sendo o único que
apresentou características estruturais adequadas. A seguir serão descritivas as condições que
caracterizam os pescoços dos pilares, e pode ser vista na Figura 3, adiante.

3.3.2.1 Falta de Aderência

Constatou-se que as quando as barras de aço foram solicitadas durante o processo de


colapso do edifício, estas se soltaram do concreto não deixando sinais de ancoragem. Tal fato
ocorreu em razão do concreto apresentar um fator água cimento elevado, sendo um concreto
poroso, índice da falta de vibração e existência de reação álcali-agregado. Foi levada em conta
a presença do caulim, detectada nos ensaios por meio de microscópio eletrônico de varredura.

3.3.2.2 Porosidade

Para determinação da porosidade foram executados ensaios de absorção d’ água, massa


especifica e vazios, onde foi obtido índice em torno de 13%. Assim, a elevada porosidade do
concreto. É importante ressaltar que os corpos de provas ensaiados foram predominantemente
da superestrutura. Já os ensaios de reconstituição do traço em amostras extraídas dos pescoços
dos pilares, obtendo resultados de 16%.
20

3.3.2.3 Teor de Cimento

Nos ensaios de reconstituição do traço, o valor obtido de teor de cimento foi de foi de
234,3 kg/m3. Já as amostras provenientes dos trechos situados no subsolo tiveram valor médio
de 291,8 kg/m3. Deve-se observar que os padrões exigidos no ano de construção do edifício um
concreto estrutural geralmente tinha um consumo mínimo de 300 kg/m3. O valor mínimo en-
contrado nas amostras ensaiadas foi 194 kg/m3. Com base nestes valores obtidos foram identi-
ficados que houve um processo de deterioração do concreto provocado por agentes químicos
que se infiltraram no concreto altamente poroso devido à falta de controle tecnológico na exe-
cução, identificados nos ensaios, além da ação da umidade atuando permanentemente vinda do
reservatório sobre um concreto de elevada porosidade.
Foram identificados ainda que os pilares que tinha a função de apoio ao reservatório
inferior, sendo em comum com este o trecho correspondente à altura do reservatório, apresentar
no ensaio de reconstituição do traço, valor igual a teor de cimento ao longo da altura. Estes
estão situados em trechos dos pescoços e do subsolo. O valor obtido enquadra-se na faixa média
de valores representativos dos pescoços dos pilares. Verificou-se que a ação da umidade nestes
pilares foi mais intensa, estabelecendo por meio de maiores índices na oxidação das armaduras
e desagregação do concreto. Vista do apresentado, esta última hipótese foi identificada na
época, durante a análise dos escombros, pelo menos duas camadas de impermeabilizações efe-
tuadas com a finalidade de eliminar vazamentos.

3.3.2.4 Falhas na execução da Concretagem

Dentre as falhas no concreto em vários pescoços de pilares decorrentes de deficiências


ocorridas durante as operações de concretagem, identificaram os nichos de concretagem, cau-
sadas por falta de vibração e/ou falta de controle do preenchimento dos espaços devido à vaza-
mentos além de falta de inspeção adequada após as retiradas das formas; ausência do patamar
nos topos das sapatas para o apoio das formas dos pescoços, conduzindo à fuga de material
durante a concretagem com a correspondente redução da seção transversal naquele ponto, e ao
mesmo tempo expondo as armaduras e o concreto daquela região às ações deletérias dos agentes
agressivos.
21

3.3.2.5 Colapso das Armaduras

Em virtude da oxidação favorecida pelo pequeno cobrimento, presença de umidade, ele-


vada porosidade foram identificaram e verificadas rupturas dos estribos, a patologia causou em
função do pequeno diâmetro da armadura de 4.2 mm adotado. Em razão da ruptura dos estribos
e das falhas construtivas das bases dos pilares, ocorreu a flambagem das armaduras longitudi-
nais. As flambagens foram enfatizadas pela baixa aderência da armadura com o concreto.

3.3.2.6 Concreto Friável

O concreto, em vários pontos de pescoços de pilares mostrou-se quebradiço e friável,


decompondo-se facilmente com o simples manuseio. Este comportamento não foi constatado
com a mesma intensidade em outros trechos de peças estruturais retiradas dos escombros.
Quando tentaram retirar amostras para a realização de ensaios de reconstituição do traço,
em um dos pescoços, ao contato impacto da marreta, verificou-se que concreto se decompôs
em fragmentos, havendo inclusive, a separação do agregado graúdo do restante da massa. Logo,
estes fatos incapacitaram a retirada de qualquer outro corpo de prova para a execução de ensaios
de resistência à compressão dos pescoços.

Figura 3 – Situação dos pilares

Fonte: (LAUDO CREA-PE, 2005)

3.3.3 Reservatório Inferior

Segundo o laudo gerado pelo CREA-PE, dentre todos os componentes relacionados que
contribuíram para a ruptura do edifício, o reservatório inferior, teve importante participação
22

pelo fato de fornecer permanente umidade, no dia 12.10.2004, o síndico do edifício, ao estaci-
onar o seu veículo, na vaga junto ao reservatório inferior, no subsolo, percebeu que aquela
região se encontrava alagada, como mostra a Figura 4 favorecendo mais intensamente a oxi-
dação das armaduras e a degradação dos pilares a ele justapostos, que por sua vez desencadea-
ram o processo de colapso.

Figura 4 - Reservatório inferior com vazamento e trinca na viga do reservatório

Fonte: (LAUDO CREA-PE, 2005)


3.4 SITUAÇÃO ATUAL

Os moradores do Edifício Areia Branca, que desabou em 2004, lutaram muito para ter
parte dos direitos de volta. No final do ano de 2011, a Justiça determinou que cada uma das 24
famílias deveria receber cerca de R$ 200 mil da seguradora, a MAPFRE Vera Cruz Seguradora
S/A, empresa do Grupo MAPFRE, sendo que um apartamento do Areia Branca valeria R$ 350
mil, valor acima do seguro pago.
Em razão das conclusões do laudo, a Seguradora declarou que: “o sinistro não possui
cobertura de seguro dentro das condições da apólice contratada, ou seja, não foi solicitada a
contratação de cobertura para desmoronamento pelo segurado, Condomínio do Edifício Areia
Branca, motivo pelo qual não se faz devido o pagamento da indenização pleiteada.”

4 CONCLUSÃO

O Edifício Areia Branca, de classe média-alta, foi construído em 1978 pela JB Incorpora-
ção, empresa que não existe mais. Por Recife ser uma cidade litorânea, o prédio ficava a 50
metros da praia, o que enquadra-se na classe de agressividade ambiental III, elencada como
agressividade forte, de acordo com a NBR 6118. Por estar localizado em área próxima ao am-
biente marinho, ocorre na estrutura grande incidência de sais, que se depositam na superfície
23

do concreto e podem penetrar na estrutura, ocasionando diversos tipos de manifestações pato-


lógicas, mas este não foi o principal agente causador para a consequência do desabamento.
Tem-se N fatores que vieram a contribuir, somando-se e formando um todo que resultou
no colapso do Edifício Areia Branca em Recife. Um dos fatores que se comparado com os dias
de hoje, foram os parâmetros da NB1/1960, norma vigente na época da concepção dos projetos
e da obra. Esta norma proibia concretos com resistência acima de 22Mpa, pois em decorrência
dos conhecimentos que haviam, ainda não tinham de forma segura as recomendações para o
que eram considerados concretos de elevadas resistências, permitindo o uso de concretos com
resistências superiores somente nos casos em que houvesse concentrações de tensões, efeitos
localizados. Com isso, na época, praticamente todas as obras limitavam-se ao concreto com
resistência máxima de 22 Mpa e a mínima de 10Mpa para um concreto estrutural, no caso dos
aços 37-CA, o que atualmente correspondem ao CA-50, tendo que pela NBR-6118 projeto de
estruturas de concreto devem possuir resistência característica entre 20 e 50 MPa. .
De acordo com o laudo, a observação da textura das superfícies das sapatas, indicavam
que o concreto foi apenas lançado sem vibração alguma, método que serve para o adensamento
do concreto, evitando assim a ocorrência de bolhas e, diante das observações constatou-se que
o fator água cimento foi elevado, o que torna o concreto mais poroso e vulnerável as ações
agressivas do meio ambiente, pois o fator a/c é de uma importância enorme para o nível de
resistência do concreto e para a vida útil das edificações.
Tendo em vista às evidências do desabamento no laudo, infere-se que a má execução
com enormes falhas construtivas, principalmente da estrutura foi o ápice para o desabamento.
Em decorrência da degradação do concreto da infraestrutura até o colapso do pescoço dos pila-
res em decorrência da ausência de vibração, elevado fator de água cimento, ausência de um
profissional qualificado para execução, pois o laudo aponta que a obra pode ter sido tocada por
operários, devida à práticas errôneas em relação aos métodos construtivos, baixa aderência das
armaduras, geometria das sapatas executadas de forma equivocada, estribos finos (embora per-
mitido pela NB 1/1960) e também a pequena espessura do cobrimento (embora permitido pela
NB 1/1960).
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REFERÊNCIAS

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Disponível em: < http://www.civil.ita.br/~claudioj/aeron.pdf>. Acesso em: 24 out. 2018.

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NOGUEIRA, Kelso Antunes. REAÇÃO ÁLCALI-AGREGADO: DIRETRIZES E RE-


QUISITOS DA ABNT NBR 15577/2008.2010. 93 f. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia
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OLIVEIRA, Romilde. et al, Laudo técnico sobre as causas do desabamento do edifício


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SOUZA, V.; RIPPER, T. Patologia, Recuperação e Reforço de Estruturas de Concreto. 1.


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