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A Gestão Democrática Da Educação Básica - Benvinda Barros Dourado - 310
A Gestão Democrática Da Educação Básica - Benvinda Barros Dourado - 310
RESUMO
O Brasil, a partir da segunda metade da década de 1970 e, com maior destaque, nos
anos de 1980, foi marcado pela emergência de importantes movimentos nacionais
voltados para a democratização do país. Esses movimentos constituíram as condições
para uma maior participação da sociedade civil nas discussões e proposições de políticas
públicas que se consubstanciaram no processo constituinte e na aprovação da
Constituição Federal de 1988. Assim, constitui objetivo deste trabalho compreender o
processo de inclusão do princípio da gestão democrática no texto da Constituição
Brasileira de 1988. Tomou-se por base autores que, por meio das análises de seus
objetos de estudo, sinalizam para a temática da gestão democrática da educação. Ao
percorrer alguns caminhos dos trâmites dessa legislação, os conflitos são evidenciados
por meio da participação de vários setores organizados da sociedade, como os
defensores da escola pública e os empresários do ensino, na tentativa de vislumbrar um
sentido democrático à gestão da educação. Em suma, o texto aprovado para a
Constituição Federal de 1988 incluiu entre os princípios que servirão de base à
educação nacional, no artigo 206, “a gestão democrática do ensino público, na forma da
lei”. O caráter de síntese, atribuído ao texto legal, deixou para regulamentações
posteriores definirem o significado da gestão democrática que se quer imprimir na
educação básica brasileira e as diretrizes para a sua implantação.
A III CBE tem lugar num momento da vida nacional em que governos
eleitos pelo povo lograram estabelecer-se a nível estadual e municipal e em
que se acena com a possível renovação de dirigentes e de orientação na
gestão pública a nível federal, com a revisão da ordem institucional e com a
realização de uma Assembléia Nacional Constituinte. Os movimentos
sociais e a mobilização cívico-política mostram hoje renovado vigor na luta
pela redemocratização. Ao mesmo tempo, porém, preocupa a todos a caótica
situação econômico-financeira do país bem como o seu submetimento aos
ditames do FMI e da banca internacional. Os educadores brasileiros estão
conscientes tanto das possibilidades abertas pelo momento político quanto
da gravidade dos problemas com que se debate a nação, de suas implicações
educacionais e da responsabilidade social que o momento lhes impõe.
1
Gonçalves (1998) classificou as CBEs em quatro períodos distintos: a contestação do autoritarismo (I e
II); a democratização e suas vicissitudes (III e IV); a democratização através da LDB (V) e o confronto de
projetos (VI). Segundo a autora, embora o perfil das conferências terem se modificado a cada versão, o
espírito de construção de uma educação democrática foi mantido.
(MANIFESTO AOS PARTICIPANTES DA III CONFERÊNCIA
BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO, p. 229)
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Ver as entidades nacionais que compunham o Fórum em Cunha (1991).
No primeiro momento do processo constituinte, quando a participação da
sociedade civil no debate sobre a educação era intensa, a Comissão de Sistematização
incorporou o conceito de gestão democrática proposto pelos defensores da escola
pública. Deste modo, os grupos conservadores assimilaram, de certa forma, as
demandas da sociedade civil no que se refere à gestão democrática. No entanto, em um
segundo momento, com a crise deflagrada na Constituinte, a formulação do princípio da
gestão democrática foi alterada, em plenário, por uma emenda coletiva apoiada pelos
setores conservadores.
Na análise de Cunha (1991), no que se refere à gestão da escola, a emenda
3
2044 do “Centrão” chocou com o projeto aprovado pela comissão de sistematização.
Nesse contexto, os legisladores, ao cederem aos lobbies dos interesses privatistas,
permitiram que a lógica do mercado se sobrepusesse à razão e aos interesses da
sociedade, inclusive isentando-os da democratização da gestão escolar. Gohn (2005)
considera que o grupo de deputados do “Centrão” foi o principal opositor do Fórum no
interior do aparelho estatal.
Finalmente, o texto aprovado para a Constituição Federal de 1988 incluiu entre
os princípios que servirão de base à educação nacional, no artigo 206, “a gestão
democrática do ensino público, na forma da lei” (BRASIL, 1988). O caráter de síntese,
atribuído ao texto legal, deixou para regulamentações posteriores definirem o
significado da gestão democrática que se quer imprimir na educação básica brasileira.
Nesse caso, delegou à Lei de Diretrizes e Base da Educação e/ou a cada sistema de
ensino legislar sobre a organização e a institucionalização de mecanismos de
implementação da gestão escolar democrática nas instituições públicas de educação
básica.
Bibliografia
3
Bloco majoritário dos senadores e deputados reacionários ou conservadores que tentou barrar os
avanços democráticos reivindicados pelos setores mais progressistas da sociedade civil (CUNHA, 1991).
CARTA DE GOIÂNIA. In: GHIRALDELLI JR., P. História da educação. São Paulo:
Cortez, 1991.
COUTINHO, C. N. A democracia na batalha das idéias e nas lutas políticas do Brasil de
hoje. In: FÁVERO, O. e SEMERARO, G. (Orgs.). Democracia e construção do público
no pensamento educacional brasileiro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.
CUNHA, L. A.. Educação, Estado e democracia no Brasil. São Paulo: Cortez, RJ:
Editora da Universidade Federal Fluminense, 1991.
DOURADO, L. F.. Plano Nacional de Educação: Avaliações e retomada do
protagonismo da sociedade civil organizada na luta pela educação. In: FERREIRA, N.
S. C. (Org.). Políticas públicas e gestão da educação. Brasília: Líber Livro Editora,
2006.
GOHN, M. da G.. Movimentos sociais e educação. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2005.