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Relatório: De Fernando Magno a D.

Afonso Henriques: Origens de


Portugal (aulas: 01/10; 03/10; 08/10 e 15/10 de 2018)

Edgar Dias Miranda

Curso de História Medieval de Portugal


Professora Doutora Leontina Domingos Ventura Duarte Ferreira

Coimbra

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2018

Índice
Índice ……………………………………………………………….….…. Pág. 2
Introdução ………………………………………………………………. Pág. 3
Fernando Magno …………………………………………………….. Pág. 4 e 5
Afonso VI ………………………………………………………………… Pág. 6 e 7
Os Almorávidas e os nobres francos ……………………….. Pág. 8 e 9
O “Pré-Condado Portucalense” ………………………………. Pág. 10
O Condado Portucalense ……………………………………….. Pág. 11 á 16
D. Afonso Henriques ……………………………………………… Pág. 17 á 22
Bibliografia ……………………………………………………………. Pág. 23

2
Introdução
Este documento descreve, sobretudo, as aulas teórico-práticas dos dias
1, 3, 8 e 15 de outubro de 2018 (podendo conter algumas ideias
abordadas posteriormente mas que se inserem no tema do relatório),
da disciplina de História Medieval de Portugal do curso de História da
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.
O trabalho disserta sobre os acontecimentos relativos ao ambiente
político e social, desde o reinado de Fernando Magno ao início do
reinado de D. Afonso Henriques, o primeiro rei português. O presente
relatório recorrerá a bibliografia para complementação de conteúdo
lecionado.
Os temas abordados nas respetivas aulas têm o objetivo de introduzir o
ambiente que levou á formação do Condado Portucalense de D.
Henrique e, mais tarde, reino às mãos de seu filho, Afonso Henriques.

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Fernando Magno
Entre 1009 e 1031 o califado de Córdova deu lugar às taifas. Deste
acontecimento resultou o enfraquecimento do poder bélico
muçulmano e as desavenças entre as taifas. Devido a esta “rebelião”, a
partir de 1031, o maior território em dimensão era o reino cristão de
Leão. (5 e 6)
Dos reinos cristãos, mais a oriente, destacava-se o rei Sancho III de
Pamplona, que viu as suas terras estendidas tanto para oriente
(Aragão) como para ocidente (Castela). As pretensões de Sancho III
criou hostilidade entre o rei Afonso V e seu sucessor Bermudo III de
Leão. (6)
Em 1035, Sancho III morre e utiliza o vulgar sistema ocidental de
divisão do território pelos seus filhos: Garcia Sanches III fica com o
reino de Pamplona (1035-1064), Gonzalo Sanches herda o reino de
Aragão (1035-1045) e a Fernando I sobra o reino de Castela (1035-
1064). (6)
Com as hostilidades em curso, coube ao seu filho Fernando I herdar as
vontades do pai. As exaltações com Leão aumentaram e em 1037 deu-
se a Batalha de Tamarón. Nessa batalha Bermudo III perde a vida. (6)
Após a morte de Bermudo III, Fernando I aproveita-se do facto de ser
casado com a irmã de Bermudo III, Sancha I, e apodera-se do trono de
Leão por direito. Assim, em 1037, Fernando Magno é detentor do reino
de Leão e Castela. (6)
Durante o reinado de Fernando I e devido ao enfraquecimento do
poder bélico muçulmano, o rei cristão lança uma série de ofensivas no
oeste peninsular. Em resultado disso, Seia é reconquistada em 1055,
Lamego em 1057, Viseu em 1058 e em 1064 foi a vez de Coimbra. (5 e 6)

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O território desde o Douro á Extremadura (fronteira com os
muçulmanos) e do Oceano até Viseu era entregue ao moçárabe local
Sesnando Davides. Ao iniciante da 2ª dinastia do Condado de Coimbra
(1064-1091) foi dada uma maior liberdade de prática do poder, apesar
da vassalagem a Fernando I. A sua escolha para o cargo e a sua elevada
autonomia no poder condal deve-se ao seu conhecimento do território
como local oriundo de Tentúgal, á capacidade de poder defender o
território de forma imediata (mobilizar exército sem esperar pelo rei) e
a sua experiência para lidar com a comunidade cristã/muçulmana. (5 e 6)
Apesar do progressivo avanço cristão sobre o poderio muçulmano,
Fernando I morre em 1065 e, tal como seu pai, Sancho III de Pamplona,
divide o seu território pelos seus quatro filhos (sendo a sua mulher
Sancha I, irmã de Bermudo III): Urraca, Sancho, Afonso e Garcia. (5)

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Afonso VI
À morte de Fernando Magno (1065), os seus filhos foram alvo do típico
sistema ocidental de divisão do território, assim como fora com o seu
falecido pai, Sancho III de Pamplona.
A sua filha Urraca recebeu a cidade de Zamora. (6)
Garcia II foi o rei da Galiza. Viu o seu reino ser confrontado com a
crescente autonomia do condado portucalense sobre as mãos de Nuno
Mendes, que o venceu na Batalha de Pedroso, em 1071. Além disso,
logo de seguida, teve a guerra contra a aliança dos seus irmãos: Afonso
VI e Sancho II, que pretendiam roubar-lhe a coroa. Em 1072, Garcia é
exilado num mosteiro onde acabou por morrer em 1090. No seu
funeral contou com as suas irmãs: Elvira (filha ilegítima) e Urraca. (1 e 6)
Sancho II subiu ao poder da Galiza em 1072 e, insatisfeito, declarou
guerra ao seu outro irmão: Afonso VI, que se viu obrigado a exilar na
corte do emir de Sevilha. Quando Sancho II se preparava para assaltar
a cidade onde estava sediada a sua irmã, Urraca (em Zamora), foi
assassinado. Morreu nesse mesmo ano de 1072. (6)
Afonso VI, rei de Leão desde 1065, de Castela desde 1072, da Galiza
desde 1073 e de Toledo desde 1085. Fez-se coroar imperador de toda a
Hispânia em 1077. Depois do exílio forçado pelas mãos do seu irmão
Sancho II, Afonso VI voltou depois ao poder como rei de Castela e de
Leão (depois do assassinato de Sancho II). Além disso, o rei Garcia volta
á coroa da Galiza, depois da morte de Sancho II. Mas seguindo as
pisadas do seu falecido irmão, em 1073, Garcia volta a ser destronado,
só que desta vez apenas por Afonso VI. (1 e 6)

6
Em 1076, após a morte do monarca de Pamplona, anexou alguns
territórios, incluindo o atual País Basco. Em 1077 considerou-se
Imperador de toda a Hispânia. Depois o seu foco foi para sul e os reinos
Taifas. (6)
Em 1085, cerca e conquista Toledo para grande preocupação dos
muçulmanos. (1, 5 e 6)
É de ressaltar que tanto Fernando magno como Afonso VI se apoiaram
numa nobreza mais secundária (dando benefícios), com regiões
claramente mais pequenas que o condado de Portucale ou Coimbra.
São os castelões, a Nobreza de Infanções, os meirinhos ou vigários que
vão apoiar os reis e controlar o crescente poder condal, para evitar
revoltas como a Batalha de Pedroso, em 1071 (Portucale vs Galiza de
Garcia). (1)
Neste contexto destacam-se as seguintes famílias de infanções
portucalenses: os Sousas e os Maias. (1)

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Os Almorávidas e os Nobres Francos

Por esta altura, até 1082, os almorávidas (povo Bérbere cuja ascensão
sucedeu-se pelas redondezas do rio Senegal) conquistam a Argélia e
Marrocos no norte de África. (6)
Com a conquista de Toledo por Afonso VI em 1085, as taifas são
obrigadas a pedir auxílio a este novo poder. (5 e 6)
Atendendo ao pedido de socorro por parte das taifas, o comandante
Yusuf (que recentemente tinha-se apoderado de Ceuta) atracou com o
seu exército em Algeciras. Nesse pequeno território, o comandante
encontrou-se com todos os emires do Al-Andalus. Yusuf viu um islão
folgado nas doutrinas e que tratava demasiado bem os judeus e os
cristãos. (5 e 6)
Afonso VI mal soube da chegada dos almorávidas, preparou o exército
e zarpou de Saragoça procurando enfrentar essa nova “esperança dos
muçulmanos”. (1, 5 e 6)
Em 1086, Afonso VI encontrou os almorávidas e logo viu que a
situação iria inverter-se, ao sentir a derrota na Batalha de Zalaca. (1, 5 e 6)
Apesar da vitória, Yusuf, retornou ao Norte de África só voltando em
1090 para conquistar as taifas “mal doutrinadas” e progredir em
terreno cristão (a partir de 1093). (5 e 6)
A partir deste momento, os reinos cristãos passaram á defensiva, com
o auxílio franco. Essa ligação á europa central deveu-se a uma série de
tratados de aliança que o rei Afonso VI consumou com o poderio
franco através de casamentos. Um desses casamentos fora com

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Constança de Borgonha, filha do duque Roberto I, duque de Borgonha,
sendo este o filho mais novo de Roberto II, “o Piedoso” (rei franco). (1)
Dessa aliança e pedido de auxílio em seguimento do surgimento do
poder almorávida na Península Ibérica surge D. Raimundo e D.
Henrique. (1, 5 e 6)
Assim, uma nova história iria surgir que daria forma á atual divisão
territorial (Portugal).

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O “Pré-Condado Portucalense”
Conquistada em 868 por Afonso III das Astúrias, foi dada a Vímara
Peres o Condado de Portucale. (5 e 6)
Em 878 foi a vez de Coimbra e um novo condado foi criado: o
Condado de Coimbra, às mãos de Hermenegildo Guterres. (5 e 6)
A partir de finais do séc. X, os condes portugueses passaram a usar o
título de duques. Com capital em Portucale, inicialmente este território
detinha o nome de Portugália. Em 1071, com a crescente autonomia
do condado face ao reino da Galiza, Nuno Mendes confrontou o Rei
Garcia II na Batalha de Pedroso e perdendo, o condado também
perdeu a sua autonomia. O Condado Portucalense só ressurgiu em
1096 às mãos de Henrique de Borgonha. (5 e 6)
Coimbra foi perdida para as tropas de Almançor em 987, assim como
as cidades de Viseu, Lamego e Feira. Por momentos, o condado foi
suprimido. Em 1064 o condado ergue-se com a conquista de Fernando
Magno e fica á governação de Sisnando Davides (Precursor da 2º
dinastia). A Sisnando sucede o seu genro Martinho Moniz em 1091,
porém em 1093 o condado é dissolvido e incorporado nas mãos de
Raimundo até 1096, onde passa a fazer parte do Condado Portucalense
de Henrique de Borgonha. (5 e 6)

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O Condado Portucalense

Com a crescente pressão dos almorávidas de Yusuf e a sua tentativa de


unificação do Al-Andaluz, D. Afonso VI vê-se obrigado a pedir auxílio a
tropas “externas”. Utilizando as embaixadas/ligações matrimoniais,
Afonso VI pede ajuda aos francos, mais precisamente ao Ducado da
Borgonha. De lá vêm nomes como Raimundo e Henrique. (1, 5 e 6)
Raimundo é o primeiro a ser condecorado com o casamento com
Urraca I (1091), filha legítima de Afonso VI e recebe o condado da
Galiza e os territórios de Portucale e Coimbra, porém as hostes dos
almorávidas demonstram-se superiores às forças de Raimundo, não
conseguindo estas segurarem eficientemente a linha do Tejo. (1)
A linha do Tejo (Lisboa e Santarém) tinha recentemente sido
constituída cristã por meio de um tratado com a Taifa de Badajoz que
pretendia proteção face ao grupo ortodoxo dos almorávidas, este que
queria através das armas unificar a península muçulmana. (1)
A perda de Lisboa em 1094 foi o sinal de alarme. Em 1095/1096
Afonso VI assiste a outro casamento. Desta vez é entre D. Henrique e
D. Teresa (filha ilegítima), ficando este conde com um território
compreendido a sul da Galiza (Galiza sofre a sua 1º divisão). Esse
território juntou os condados de Portucale e de Coimbra, dando o
nome de Condado Portucalense. (1 e 6)
Raimundo visitou a Península Ibérica pela primeira vez em 1087,
acompanhando o Duque Odo da Borgonha e pela 2º vez em 1090 para
se casar com Urraca. Urraca, nascida em 1080, casou-se jovem (10/11
anos), tendo ficado grávida aos 14 anos. Em 1107, Raimundo falece e o
condado da Galiza é entregue a sua esposa, Urraca. (6)

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Com a morte do pai, Afonso VI, em 1109, Urraca tornou-se rainha de
Leão e Castela. Chegou a casar com Afonso I de Aragão mas a união de
facto acabou em discórdia entre 1110 e 1112. Nestes 2 anos, Leão e
Aragão entraram em conflito. Urraca é caracterizada pelo seu legado
diplomático. Morreu em 1126, com 46 anos, no parto. (1 e 6)
Antes da vinda do auxílio de Borgonha (Henrique e Raimundo), os
condes eram “inferiorizados”, tendo o rei associado a uma nobreza
mais secundária para limitar o poder condal que podia levar a revoltas
como a Batalha de Pedroso (em 1071). (6)
A ameaça almorávida obrigou o rei D. Afonso VI á divisão do poder
para mais facilmente controlar o avanço muçulmano. Raimundo e
Henrique detinham um poder que ultrapassava o normal dos condes
ibéricos até então. Ou seja, o poder dos condes assemelhava-se aos
condes/duques Francos (na França havia condados/ducados maiores
que o território régio) (1, 5 e 6)
Com a vinda dos condes de Borgonha: Henrique e Raimundo, o poder
real foi dividido/fragilizado, embora na Península Ibérica o rei fosse
sempre a entidade superior. (6)
Além disso, estes condes ibéricos detinham a transmissão de poder
por meio da hereditariedade, coisa que antes cabia ao rei dar tal título.
(6)

D. Henrique toma o poder do condado portucalense de 1096 até 1112,


ano da sua morte. (1 e 5)
Antes de Afonso VI falecer, em 1108, gerou-se tumultos sobre quem
deveria sucedê-lo. Em 1105, D. Raimundo e D. Henrique assinaram o
“Pacto Sucessório”. Nesse pacto D. Raimundo atribuía benefícios a D.
Henrique, entre os quais a possibilidade da extensão do condado

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Portucalense com a adição da Galiza, caso este apoiasse Raimundo á
posição de rei. (1 e 5)
No entanto, sabendo que de pouco se beneficiaria com o trono leonês
e com pretensões á independência do condado, Henrique pouco se
interessou pelas reuniões com Afonso VI, mostrando rebeldia. (1)
Com a nomeação de Urraca para rainha de Leão e Castela, o conde
Portucalense procurou beneficiar-se com a situação o mais possível.
Esse benefício passava pela posse de terras. Henrique morreu em 1112
em Astorga, domínio conseguido por meio de D. Urraca. O seu filho,
Afonso Henriques, teria os seus dois anos e assim o poder do condado
passou para a sua mulher, D. Teresa. (1 e 5)
Além de procurar expandir o território, o conde portucalense procurou
ainda o consentimento do seu condado como forma de conseguir
expandir-se em segurança (sem revoltas, com o apoio local).
Para tal outorgou as cartas de foral, das quais se destaca: Guimarães
(considerado o primeiro foral português, em 1096), a sua casa “oficial”
que detinha uma importante expressão religiosa, militar e económica á
altura, no contexto do Condado; (2) E Coimbra (em 1111), no qual a
cidade estava envolvida numa polémica que “perturbava” a paz no
reino em torno da questão “gestão da cidade”. (3 e 5)
O foral de Coimbra surgiu no âmbito do descontentamento
populacional em volta dos nomes aos cargos “mais altos” que o conde
nomeara para a cidade. A população revoltou-se pois detinha um
histórico “independente”, já que no passado os gestores da cidade
seriam apenas locais (Sesnando Davides). O Foral assegurou as
vontades á população de Coimbra, garantindo que o juiz e o alcaide
seriam de entre os naturais da cidade, apaziguando assim a situação de
calamidade. (3 e 5)

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Tal foral foi necessário já que Santarém se tinha perdido nesse mesmo
ano de 1111 e a cidade mais importante fronteiriça era precisamente
Coimbra. Apaziguar a situação e garantir a lealdade era uma
necessidade maior. (3)
Depois de 1112, D. Teresa, regente do condado, abandona a ideia de
expansão e concentra as suas forças militares na defesa do território,
principalmente a sul. (1)
O ano de 1116 mostrou-se difícil, com as incursões muçulmanas a
arrasar a região sul de Coimbra, ameaçando mesmo a cidade. (1)
Com a irmã no trono leonês, D. Teresa, parece ter ambições galegas,
seguindo os passos do “Pacto Sucessório” assinado entre os primos da
Borgonha, já falecidos. Além disso, talvez por não achar menor que sua
irmã e a sua pretensão de um reino independente, levam-na a
autointitular-se Rainha. Para realizar o seu plano, surge uma futura
união com a Galiza através das ligações com a família dos Travas,
sobretudo com Fernão Peres de Trava. (1 e 5)
José Mattoso vê este movimento como uma pretensão de D. Teresa
em unir a Galiza e o condado Portucalense em um “reino
independente”. Para isso aliava-se aos Travas, que á data, eram uma
das principais famílias condais galegas que pretendiam ascender
socialmente apoiando-se na recente rainha “ilegítima” e nas suas
pretensões. (1 e 5)
Esta crescente unificação punha em causa a importância social do
clero e da nobreza portucalense que se viam “substituídos” pela
nobreza galega. Por exemplo, em 1121, Fernão Peres de Trava aparece
com o cargo de chefia da fronteira sul, afetando a importância das
principais linhagens de infanções, que passaram a ter um papel
secundário no âmbito da reconquista (famílias prejudicadas: Sousas,

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Ribadouros e Maias). Em 1125, a nobreza portucalense é
progressivamente afastada e vai perdendo a sua importância social e
política. (1 e 5)
Com D. Henrique, vários benefícios são atribuídos aos mosteiros e às
igrejas, assim como o apoio prestado às pretensões metropolitanas da
Sé de Braga, estando esta ameaçada agora (1120) pela supremacia
crescente da Sé de Santiago de Compostela. Do lado civil, a promoção
dos povoamentos por cartas de foral (política iniciada por Fernando
Magno) e a crescente importância política das linhagens de infanções
Entre Douro e Minho, aproximando-se do conde nas decisões militares
e políticas condais. (1)
A nova afirmação social da “rainha” D. Teresa punha em jogo os títulos
dados pelo seu falecido marido às classes sociais portucalenses. (1)
Apesar das alianças com Diego Gelmírez, que chefiava a Sé de Santiago
de Compostela e com a família dos Travas, o clero e a nobreza
portucalense afastavam-se das vontades e aspirações da “rainha” D.
Teresa. (1)
Com o apoio do bispado de Braga e dos nobres que apoiavam a
integridade portucalense, Afonso Henriques, filho de D. Henrique sai
em defesa dos interesses do seu reino e luta contra a vontade de sua
mãe. Essa luta, a batalha de S. Mamede, a 24 de junho de 1128, foi
considerada “a primeira tarde portuguesa”, onde D. Afonso Henriques
fazia parte da primeira cena de uma peça de teatro, a formação do
Reino de Portugal. (1 e 5)
Após a vitória, D. Teresa refugia-se na Galiza, onde desejou “pragas”
ao filho, como nos mostra Oliveira Martins: “Affonso Henriques, meu
filho, prendeste-me e meteste-me em ferros e exherdaste-me da
minha terra que me deixou meu padre e quintaste-me de meu marido:

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rogo a Deus sejas assi como eu sou, e porque meteste ferros nos meus
pés, quebradas sejam as tuas pernas com ferros: mande Deus que isto
assim seja!” (7)
Tal profecia se verificava na Batalha de Badajoz, com seu genro,
Fernando II de Leão. (7)
D. Teresa acaba por falecer em 1130, aos 40 anos de idade. (1)

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D. Afonso Henriques
Na Crónica de Duarte Galvão (Chronica dÉl-Rei D.Affonso Henriques),
D. Afonso Henriques era glorificado pela força na guerra do mesmo
modo como a bondade de coração: “E sendo tal o esforço de seu
braço, que o manejo das Armas, não era menos o valor do seu coração
para com o exercício das virtudes”, pois com “a espada sempre
empunhada representava um vivo simulacro de justiça”, cuidando do
seu povo e dividindo os despojos das batalhas com os que o ajudavam
a vencer. Além de bondoso e bom guerreiro, a crónica destaca a sua
misericórdia, “porque não cabendo já nos limites de seu estado, lá se
dilatou para o Hospital de Jerusalém com oitenta mil dinheiros de ouro
para o sustento dos pobres que o Hospital procuravam.” (4)
Além disso, Afonso Henriques também se “ilumina” pela sua piedade
ao “fundar” os “Reais Mosteiros de S. Vicente de Fóra em Lisboa, e o
de Alcobaça, aos quais dotou de amplos Senhorios, e copiosíssimos
patrimónios.” (4 – pág. 35-37)
Um ano depois da tomada de posse do condado, Afonso Henriques
doou Soure á recém-criada Ordem do Templo que detinha um
importante papel na defesa do condado contra as hostes muçulmanas.
Mas a sua atenção estava dirigida para o norte: Assim, “seguiu as
pisadas da mãe” e dedicou-se nos anos seguintes á expansão para o sul
da Galiza. Em 1130, D. Afonso Henriques encontrava-se em Vilaza,
onde já detinha um bom reconhecimento da região. (1)
Em 1136/1137, Afonso Henriques, após ter derrotado uma hoste
galega se preparava para tomar Tui. Afonso VII, ao saber de tal ato
acorreu o sul da Galiza e obrigou o rei a retirar-se e a prestar-lhe
vassalagem no conhecido Tratado de Tui assinado a 4 de julho de 1137.
(1)

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A dificuldade em tomar a Galiza militarmente foi uma dificuldade que
D. Teresa pretendia lidar, com a união entre os dois condados, o que
promoveria uma maior força política e social na Península Ibérica,
podendo de facto por em causa a autoridade castelhana, que nesta
época estava distraída em lidar com as rebeliões de Navarra e Aragão.
(1)

Reconhecendo as dificuldades da sua estratégia de expansão pela


tomada da Galiza, logo nos anos 30, em 1135 dedica-se á construção
do castelo de Leiria, considerada por Mattoso a primeira iniciativa
contra o poderio muçulmano. O castelo de Leiria significava, á altura,
uma importante linha de apoio às ofensivas cristãs a Santarém, uma
importante fortificação muçulmana de cariz militar. (1)
A possível consciência deste perigo levou á tomada do castelo por
parte dos almorávidas, que por sinal, demostravam uma rápida
capacidade de resposta aos movimentos estratégicos cristãos.
Enquanto o conde ainda estava com a ambição da tomada de Tui, os
almorávidas lideravam o jogo estratégico militar que se fazia sentir a
sul da região de Coimbra, com a destruição do Castelo de Celmes
(1134) e de Leiria (1137). O Conde português lutava em duas frentes,
no norte ao sul, que apesar do relativo sucesso, tornava-se difícil o
sucesso perante inimigos que rapidamente respondiam ás suas
pretensões. Mas nesse ano de 1137, o nosso conde assinava o Tratado
de Tui com Afonso VII onde punha fim às hostilidades. (1)
Em 1136, Miranda do Corvo e Penela receberam cartas de foral e
foram fortificadas. (5)
Nos anos seguintes a fronteira do Mondego recebeu especial atenção,
sobretudo com a estrutura de castelos construídos no território da
Ladeia (perto de Penela). (1)

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Organizadas as defesas, o caminho estava aberto para a penetração
nas terras muçulmanas. Em 1137/1138 realiza-se a ofensiva cristã,
conhecida como o “fossado da Ladeia” e pouco tempo depois surge a
famosa Batalha de Ourique. (1 e 5)
Os feitos heroicos do confronto militar levaram Afonso Henriques a ser
apelidado de “Rex”. (1 e 5)
Com a tomada de Afonso I como conde portucalense surgem
alterações políticas e sociais, incluindo a “sede” do condado. Coimbra
substitui Guimarães no plano de “capital condal”. Coimbra destaca-se
por ser uma zona de fronteira, sendo uma boa fortificação defensiva e
ideal para o planeamento de incursões ao sul. Afasta-se assim das
famílias nobres mais prestigiadas concentradas ao norte e que
poderiam “chateá-lo” em relação aos benefícios que pretendiam
receber. Na região de Coimbra estavam sediados os cavaleiros mais
fiéis ao conde, servindo a cidade de um importante apoio social á
“Reconquista”. (1 e 5)
Em 1143, no contexto dos sucessos militares e do apoio social, Afonso
VII, proclamado imperador de Espanha, aceitou D. Afonso Henriques
como Rei, pois para ser considerado imperador era necessário ter reis
como vassalos, como os de Aragão e Navarra. (1)
Em 1147, Lisboa e Santarém caem a seu favor, tendo até a ajuda da 2ª
cruzada á Terra Santa no cerco de Lisboa. (1 e 5)
Até 1169 a maior parte do Alentejo estava em suas mãos, incluindo
várias praças que deveriam pertencer aos leoneses pelo Tratado de
Sahagún (tratado de divisão das conquistas). (5)
Nesse ano, de 1169, durante o cerco de Badajoz e quase a subjugar as
tropas muçulmanas, a hoste de Fernando II, rei de Leão e seu genro,

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avança pelas ruas da cidade e ataca as tropas portuguesas. Afonso
Henriques percebendo da inevitabilidade de uma derrota certa pelo
cansaço acumulado, vê-se obrigado a fugir. Durante a fuga feriu-se na
coxa. (7)
Apesar de tudo, seu genro cuidou da sua ferida com os seus melhores
médicos e em troca, as praças que deveriam pertencer a Fernando II
por direito a ele voltariam. (7)
A partir dessa data e até 1185, ano da sua morte, o primeiro rei passa
ao “trabalho de secretária” devido á incapacidade física para os atos
militares. Tal responsabilidade ficou a cargo de seu filho Sancho. (5)
Os seus enormes esforços em combate, política e estratégia
compensaram a 23 de maio de 1179, quando o papa através da Bula
Manifestis Probatum reconhecia Portugal como Reino e D. Afonso
Henriques como o seu primeiro Rei. Tal deveu-se não só aos famosos
feitos contra os infiéis, como a idolatrada Batalha de Ourique, como a
insistente outorga de cartas de couto para “seduzir” a opinião do papa
Alexandre III. (5)
Oliveira Martins, em “História de Portugal” questiona-se sobre quem
realmente era D. Afonso Henriques, dando a seguinte resposta: “Era
audaz, temerário até, pessoalmente bravo, qualidade nem tão comum
no tempo, como a muitos casos pareça. Fraco general, ao que se vê,
porque as batalhas feridas com as tropas leonesas perdeu-as sempre,
era feliz guerrilheiro. Capitaneando um troço de soldados, caía de
improviso sobre um lugar, e a fúria irresistível do ataque deu-lhe a
maior parte das suas vitórias. Nem a grandeza das empresas o
assustava, nem as distâncias o impediam de acudir a um tempo, do
extremo norte, quase ao extremo sul do país. A estes dotes militares
reunia outros não menos valiosos, na precária situação em que se

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apossara do reino. Era seco, astuto, friamente ambicioso, sem
quimeras nem ilusões. Era um espírito agudo e prático, e isso fazia boa
parte da sua força. Mal dos políticos ao mesmo tempo apóstolos!
Como a tenra haste que verga à mais leve brisa do canavial, assim
Afonso Henriques, sem rebuços, obedecia, logo que a sorte lhe era
adversa. Passada a tormenta erguia-se; e à facilidade astuta com que
se humilhava, respondia logo a teima pérfida com que se rebelava. Isto
fazia-o indomável. Tinha o quer que é de fugitivo, na sua política e no
modo por que fazia a guerra. Ubíquo militarmente, era nos negócios
um proteu. Os seus inimigos, leoneses, sarracenos, não achavam por
onde prendê-lo. Submisso e humilde quando se achava vencido,
subscrevia a todas as condições, aceitava todas as durezas; para logo
mentir a todas as promessas, rasgar todos os tratados, com uma
franqueza ingénua, uma simplicidade natural que chegavam a espantar
a própria Idade Média. Nem brios cavaleirosos, nem sentimentos de
família, nem ódios pessoais, nem vinganças estupendas: nenhuma
quimera, nenhuma grande ambição, nenhum sentimento poético
enchiam a sua cabeça, estreita, e inteiramente ocupada pela ideia fixa
de consolidar a sua independência. O predomínio absoluto de uma
ideia prática, servida por uma inteligência lúcida, por um caracter sem
grandeza, e por uma valentia provada, tornavam-no invencível, ainda
mesmo quando era batido. A sua teima fazia-o semelhante a uma
lâmina de aço: um instante vergada por um esforço momentâneo, logo
estendida e livre; impossível de manter curvada, desde que foi solta. O
seu pensamento tinha a tenacidade da mola, e não a rijeza do bronze
nem o peso do chumbo. Vivia dentro do seu Portugal como um javardo
no seu refoio: assaltado, investia, despedaçando tudo com as suas
fortes prezas. Perseguido, fugia. Não tinha a nobreza do Leão, nem a
ferina astúcia do tigre: possuía só a brava e bronca tenacidade do
javali. Um fraco apenas lhe notam, embora os atos da sua vida não

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denunciem que esse defeito o prejudicasse muito: gostava de ser
adulado.” (texto aproximado ao português dos dias de hoje). (7)

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Bibliografia
1. Oliveira, António Resende de. (2007). Do Reino da Galiza ao reino de
Portugal (1065-1143). Revista de História das Ideias. Volume 28, pp. 17
a 35
2. Reis, António Matos. (1996). O foral de Guimarães – primeiro foral
português – o contributo dos burgueses para a fundação de Portugal.
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[consultado a 19/10/2018]
3. Arquivo Histórico Municipal de Coimbra. (2012). O Poder, o Local e a
Memória, 1085-1824, pp. 9 a 13
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5. Apontamentos de História Medieval de Portugal
6. Apontamentos de História da Península Ibérica
7. Martins, Joaquim Pedro Oliveira. (1882). HISTORIA DE PORTUGAL.
Lisboa. Livraria Bertrand. Disponível em http://purl.pt/217/4/hg-
32225-p/hg-32225-p_item5/hg-32225-p_PDF/hg-32225-p_PDF_24-C-
R0072/hg-32225-p_0000_anterosto-309_t24-C-R0072.pdf (Biblioteca
Nacional de Portugal), pp. 61 a 78 e 87 a 98. [consultado nos dias
20/10, 23/10 e 24/10/2018]

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