Este documento descreve a transferência da Universidade de Lisboa para Coimbra por D. João III em 1537. Fatores como instabilidade política e religiosa em Lisboa, como a questão judaica e a Inquisição, tornaram a cidade pouco propícia para a universidade. Coimbra oferecia um ambiente mais estável e a Igreja de Santa Cruz já tinha um papel de pré-universidade. A reforma levou a melhorias urbanas e econômicas em Coimbra.
Descrição original:
Neste relatório enumero as principais linhas orientadores da reforma universitária de D. João III tendo em conta uma palestra dada pelo investigador português, Fernando Catroga.
Este documento descreve a transferência da Universidade de Lisboa para Coimbra por D. João III em 1537. Fatores como instabilidade política e religiosa em Lisboa, como a questão judaica e a Inquisição, tornaram a cidade pouco propícia para a universidade. Coimbra oferecia um ambiente mais estável e a Igreja de Santa Cruz já tinha um papel de pré-universidade. A reforma levou a melhorias urbanas e econômicas em Coimbra.
Este documento descreve a transferência da Universidade de Lisboa para Coimbra por D. João III em 1537. Fatores como instabilidade política e religiosa em Lisboa, como a questão judaica e a Inquisição, tornaram a cidade pouco propícia para a universidade. Coimbra oferecia um ambiente mais estável e a Igreja de Santa Cruz já tinha um papel de pré-universidade. A reforma levou a melhorias urbanas e econômicas em Coimbra.
Doutor Fernando Taveira da Fonseca (historiador especialista na história da universidade de Coimbra) Em 1537, a universidade é definitivamente estabelecida em Coimbra por D. João III, concentradas no Paço Real da Alcáçova, o que viria a ser conhecido, mais tarde, como o Paço das escolas. (1 e 2) Antes da sua implementação em Coimbra, uma série de precedentes avisavam a sua chegada e, depois da sua chegada, um conjunto de reformas a aperfeiçoou. Mas de todas as perguntas que se podem fazer, destaca- se uma, que por natureza humana é obrigatória, “o porquê”. Qual foi o motivo que incentivou esta transferência de Lisboa para Coimbra? (2) Lisboa, pouco antes da sua transferência, recebia influências externas, de decisões políticas e religiosas que afetavam a estabilidade da cidade. Um desses problemas era a “questão judaica”. Durante o séc. XV, a política católica dos monarcas espanhóis levou á expulsão dos judeus, sendo Portugal um porto de abrigo. A partir de 1497, o rei impôs a lei da conversão dos judeus em “cristãos-novos”. O massacre da “Matança da Páscoa” ocorreu em 1506, como um reflexo do preconceito que já se estava a criar. Este acontecimento deveu-se a um período de seca prolongada e surtos de peste que se vivia na cidade (Lisboa). A 19 de abril desse ano, num momento de resignação na Igreja do Convento de S. Domingos, na baixa de Lisboa, alguém afirmou ter visto a imagem de cristo em um dos altares, visto pelos locais como um sinal de esperança e bonança. Porém um outro local afirmou ter sido um reflexo de um raio de sol e, sendo identificado como um cristão-novo, logo foi espancado pela multidão que ali se reunia até não poder mais respirar. (2 e 3) Claro que isto por si só não é caso de massacre, mas começou o típico comportamento de culpar alguém pelo sofrimento que a cidade passava. Além deste incidente, um frade dominicano decretou 100 dias de indulgências a quem matasse os hereges e durante os seguintes 3 dias (dessa Semana Santa), deu-se a “Matança da Páscoa” de 1506, onde entre dois a quatro mil cristãos-novos foram mortos com a única culpa de serem apenas “judeus”. (2 e 3) Em 1536 a inquisição é instaurada em Portugal, como forma de combater a propagação dos ideais protestantes. A ideia que dominava as mentalidades da época é que “a religião dos súbditos tem de ser a religião do rei.” (2) Com o período de instabilidade que dominava a cidade, criava-se um ambiente pouco propício ao estudo e ao alojamento de uma universidade. (2) Este período também é marcado pela introdução do humanismo, na centralização dos elementos humanos, iniciando-se uma busca do ideal da perfeição literária, destacando-se a cultura greco-latina, onde novos ideais e estilos se desenvolvem. Isto cria um ambiente renovador em termos de ensino, um novo modelo de ensino. (2) Em Coimbra, a Igreja de Santa Cruz sempre teve um papel ativo na cidade. D. Afonso Henriques guardava o seu tesouro ali e além disso, de forma resumida, a igreja teve sempre um papel orientador na política ao monarca e seu sucessor (D. Sancho I), assim como uma influência política local. Apesar de perder importância durante a deslocação das cortes mais para sul (Lisboa e Santarém), voltará a erguer-se com o papel de uma “pré-universidade”. (2) Em 1527, D. João III começou os preparativos para a transferência da universidade. Responsável pela organização deste grande evento foi Frei Brás de Barros, Prior-mor. Determinou-se que os colégios seriam construídos na Rua da Sofia (sabedoria) e concedeu-se bolsas de estudo para Paris, para formar os novos professores com o mais moderno erudito que a Europa tinha para dar. Das áreas dadas nos colégios, destaca-se a Gramática e as Artes (lógica, física, metafísica e a ética). Estas transformações levam a uma reforma religiosa, científica e económica da Igreja de Santa Cruz, que Frei Brás de Barros ficou encarregado. (2) Em 1533, surge um professor grego em Santa Cruz. (2) Em 1535 o curso de artes já funcionava em Santa Cruz. (2) O curso de artes era financiado pela própria Igreja e em 1537, após um “momento de preparação gradual”, surge em Coimbra a Universidade. (2)
Nessa universidade o reitor era a autoridade máxima, o representante
do monarca, onde funcionavam as faculdades de Direito civil, Direito canônico, medicina e teologia. (2) A Universidade funcionava como uma instituição independente, onde as economias provinham de rendimentos/dízimos/direitos senhoriais. (2)
Em 1544, todas as faculdades são deslocadas para o Paço Real, como
empréstimo de território. Porém, mais tarde o Paço real será “a casa” da universidade. (2) Esta nova instituição trás um impacto urbanístico e dinâmico á cidade: com o surgimento dos colégios, das habitações para os novos habitantes (estudantes, funcionários, professores), com a economia centrada e adaptada ao novo estilo de vida estudantil, dinamizando o mercado regional, pois a universidade contratava fornecedores de carne e peixe locais. (2) Com as recentes renovações urbanísticas e a dinâmica que elas trouxeram á economia da cidade, Coimbra cresceu demograficamente e consequentemente no espaço. (2) Entre 1577-1771, a percentagem de estudantes nas seguintes faculdades distribuíam-se, aproximadamente, da seguinte forma: 7 % na medicina, 6% na teologia, 72% no Direito Canônico e 15 % no Direito Civil. (2)
A Reforma Universitária protagonizada pelo
Marquês de Pombal A universidade é frequentada pela classe média/alta (nobres, burgueses e clérigos), cujo objetivo resume-se á ascensão da vida social, como se fosse uma projeção de vontades, de pai para filho, em que o filho superaria o pai. É no fundo o desejo de que os nossos descendentes tenham uma vida melhor que nós tivemos, mentalidade essa que ainda se verifica. (2) Os estudantes partilhavam com os locais a cidade e essa partilha levou a alguns conflitos sociais, como o de 1621/22 onde um grupo de estudantes aterroriza as pessoas da cidade, sendo a polícia chamada a intervir onde 18 estudantes foram detidos. (2) Via-se com facilidade que os estudantes praticavam a indisciplina. Como por exemplo, em 1660, no Pátio da Universidade, começou-se a questionar quantos alunos realmente frequentavam a universidade. As matrículas realizavam-se em Outubro e em Maio, sendo as únicas épocas de controlo da população estudantil. Geralmente, os frequentadores universitários, depois da matrícula voltavam para as suas terras, e só vinham para renovar ou fazer os exames ao quinto ano de estudo. Por outras palavras, eles não viviam em Coimbra, o que por sua vez obrigou á descida dos preços de arrendamento (já que não havia disputa pelo alojamento/falta de população). Esta situação verificar-se-ia ao longo do séc. XVIII. (2) A pedido dos locais e porque a universidade não detinha um “auxiliar de estudos”, foi pedido ao rei a criação de uma biblioteca, o que se veio a realizar (construída ao longo da década de 1720), ficando conhecida como a Biblioteca Joanina. (2) Em 1728, constrói-se a Torre da Cabra, onde no seu cimo haveria espaço para a implementação de instrumentos que permitissem a observação das estrelas. (2) Em 1746, surge o plano para a construção do jardim botânico, concluído em 1772. (4) Em 1772, a Universidade viu-se objeto de uma reforma renovadora onde se introduziria as ciências do rigor e da natureza. Criou-se duas novas faculdades, Matemática e a Filosofia Natural. Também se estabeleceu um limite de idade que podia variar entre os 13 e os 18 anos, consoante a faculdade. Nesta reforma, a própria avaliação modifica-se: Implementa-se a avaliação anual. O curso demoraria 5 anos, mais um ano caso o estudante se aperfeiçoasse no doutoramento. A avaliação também funcionava por interrogatórios, diários, semanários e mensais. Os alunos que demonstrassem falta de desempenho podiam ficar retidos. As propinas são pagas antes de fazer o exame (antes pagava-se cerca de 30 reis (1kg de carne) como uma “taxa de inscrição”, depois passou a 12800 reis por ano. Esperava-se do professor universitário um espírito inventor, que incorpora o novo. 12/04/2018 (complementação das duas últimas aulas) No reinado de D. Manuel, um conjunto de renovações urbanísticas foram iniciadas, de entre as quais destaca-se a ponte manuelina, construída sobre a ponte medieval de 1131 (construção esta ordenada por D. Afonso Henriques), realça-se também as obras de renovações no Mosteiro de Santa Cruz (pelo arquiteto João de Ruão), construção de uma nova torre e construção de um hospital, em 1504. (2) Estas obras régias, sobretudo o hospital, são demonstrações da centralização régia, onde o poder real auxilia a população de Coimbra. Antes essa assistência estava ligada á ordem eclesiástica (assistência médica). (2) Em 1504, não só é criado o hospital, como se sucede um conjunto de renovações a nível arquitetónico: inclui a Sé, o Paço Real e Porta Especiosa, onde se destacou o arquiteto João de Ruão. (2) As muralhas também foram alvo de obras para poder conter as cheias e as suas desastrosas consequências, que afetavam os mosteiros de Santa Clara-velha, Santana e S. Francisco. (2) Após a morte de D. Manuel, as obras não cessaram com o seu sucessor, D. João III, que preparou o caminho e recebendo a universidade, o que consequentemente levou a um crescimento físico e demográfico, assistindo-se a um rejuvenescimento da população/cidade. Além disso conferiu um desenvolvimento campestre, onde a natureza se “miscigena” com o urbano. Um dos exemplos dessa miscigenação é o Claustro da Manga, construído pelo já mencionado João de Ruão, entre 1527/1528. (2) João de Ruão era de origem francesa, depois de em Coimbra se estabelecer casa com a filha de um carpinteiro régio e integra-se na corte como um arquiteto de renome. (2) O crescimento da cidade é bem visível. Antes da chegada da universidade, Coimbra era casa de 5 mil habitantes e pouco mais tarde, chegou a ter cerca 10/12 mil de habitantes. (2) Coimbra deve o seu estatuto por ser a única sede de Estudos Gerais do império português até 1911. (2) D. João III preocupa-se com a universidade e a sua inserção e entre 1537 e 1544 é a fase inicial, a década das iniciativas. (2) Já em 1535, assiste-se á criação dos colégios de S. Miguel (para os nobres) e o de Todos os Santos (para os mais desfavorecidos), estes criados no interior do mosteiro de Santa Cruz. (6) Além destas obras, destaca-se a Rua da Sofia (que substituiu o nome da Rua Direita), uma rua larga (cerca de 13 metros) com 500 metros de comprimentos, movimentada, que em 1535 surge na documentação a intenção em criá-la (numa troca de documentos entre D. João III e Frei Brás de Barros, por intermédio de D. Castillo) devido á intensa movimentação que o colégio de Santa Cruz criava. O objetivo resumia- se e criar uma rua onde iria comportar um conjunto de infraestruturas estudantis (colégios). (5 e 6) Em 1538, a rua direita toma formalmente a designação de “Rua de Santa Sofia”. Em 1541 procede-se á construção de colégios ao longo do lado nascente da rua (lado direito). Entre os quais destacam-se: “o de S. Pedro dos Terceiros, em 1540; o de S. Bernardo ou do Espírito Santo, da Ordem de Cister, em 1548; o de Nossa Senhora da Graça, em 1543; o de S. Tomás, da Ordem de São Domingos, em 1547; e o Real Colégio das Artes que, em 1547, foi ocupar as instalações dos de Todos-os- Santos e S. Miguel”. (5) No lado poente da rua (esquerdo), o espaço é dedicado a habitações (estudantes/professores/funcionários), mas também funcionavam os colégios: S. Boaventura (1527, onde hoje é tomado por espaços comerciais) e S. Tomás (onde hoje é o Tribunal de Coimbra. Por Diogo Castillo, 1543). (6) Em 1537, com a vinda da universidade, dá-se a separação formal entre a igreja e o ensino. Por outras palavras a universidade torna-se uma instituição independente, às mãos do Reitor D. Garcia de Almeida. Com a nomeação de Frei Diogo de Murça como reitor da universidade, procedeu-se, em 1545, á unificação do estudo, em que as diversas áreas (latim, medicina, teologia, artes) se instalassem na Alta da cidade. Assim, “lançou-se” a ideia de que os estudos superiores deveriam ser concentrados na Alta e os “estudos preparatórios das artes e humanidades” deviam ser concentrados na Baixa. (5 e 6) Assim, a Rua da Santa Sofia passou a albergar colégios somente com fins religiosos, havendo de certo modo uma separação definitiva. (6) Apesar da Rua da Santa Sofia ser considerada património mundial da UNESCO, os colégios deixaram de ser funcionais devido á extinção das ordens religiosas em 1834. Apenas o Colégio da Graça, também construído por Diogo Castillo em 1543 (começo da construção), está englobado em um plano de reabilitação para “reerguer”/dar a sua devida importância a um local que o tempo e a sociedade deixaram para trás. (6) A universidade confere entidade/imagem á cidade, sendo por isso uma das razões por ser uma das cidades mais conceituadas do País e do mundo. Bibliografia 1. Universidade de Coimbra. (s.d.). História da Universidade de Coimbra. [Em Linha]. Disponível em https://www.uc.pt/sobrenos/historia. [consultado em 24/04/2018] 2. Apontamentos 3. Patriarcado de lisboa. (s.d.). A Matança da Páscoa (1506). [Em Linha]. Disponível em http://www.ucp.pt/site/resources/documents/FT/Memoriais.p df. [consultado em 24/04/2018] 4. Universidade de Coimbra. (s.d.). O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. [Em Linha]. Disponível em https://www.uc.pt/jardimbotanico/O_Jardim_Botanico_da_UC. [consultado em 25/04/2018] 5. Araújo, Luís Paulo da Silva Araújo. (2015). Alta de Coimbra: Evolução urbana e funcionalidades. (Tese de Mestrado disponível em https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/29849/1/Dissert ação%20de%20Mestrado%20%28Luís%20Araújo%29.pdf. Universidade de Coimbra, Portugal. 6. Pires, J. Norberto. (2017). A Rua de Santa Sophia e um FUTURO POR CUMPRIR. [Disponível em https://pt.linkedin.com/pulse/rua- de-santa-sophia-e-um-futuro-por-cumprir-j-norberto-pires. [consultado a 25/04/2018]