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Temas

1. De D. Afonso IV a D. Fernando
2. A construção do reino e seus poderes (séc. XIII-XIV)

Relatório elaborado por Edgar Dias Miranda


Docente responsável: Leontina Ventura
Cadeira: História Medieval de Portugal

Ano Letivo: 2018/2019

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Índice
Capa -------------------------------------------------------------------------- pág. 1
Índice ------------------------------------------------------------------------ pág. 2
1. De D. Afonso IV a D. Fernando
1.1- D. Afonso IV ---------------------------------------------------------- pág. 3
1.2- D. Pedro ------------------------------------------------------------- pág. 15
1.3- D. Fernando -------------------------------------------------------- pág. 17
2. A construção do reino e seus poderes (séc. XIII-XIV)
2.1- Panorama Geral de Portugal (séc. XIII-XV) ------------------ pág. 21
2.2- O comércio marítimo --------------------------------------------- pág. 26
2.3- A Economia do reino ---------------------------------------------- pág. 28
2.4- A administração (séc. XIII – XV) --------------------------------- pág. 30
2.5- A legislação, educação e cultura ------------------------------- pág. 33
2.6- Arquitetura, escultura e pintura -------------------------------- pág. 35
2.7- A crise do séc. XIV -------------------------------------------------- pág. 37
2.8- Cortes ----------------------------------------------------------------- pág. 42
2.9- Os Concelhos -------------------------------------------------------- pág. 47
2.10- Organização municipal (séc. XII/XIII) ------------------------- pág. 51
Conclusão ------------------------------------------------------------------- pág. 54
Bibliografia ----------------------------------------------------------------- pág. 55

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1. 1- D. Afonso IV

Nascido em Coimbra, a 8 de fevereiro de 1291, Afonso, filho de D. Dinis


e D. Isabel, foi batizado na Igreja de S. Pedro, também em Coimbra,
onde fora recebido em grande festa. 2

A educação deste futuro monarca de Portugal ficara a cargo de duas


importantes figuras da alta aristocracia, às mãos de Martim Gil de Riba
de Vizela que á altura era alferes-mor do reino e conde de Barcelos e
do arcebispo de Braga, D. Martinho de Oliveira. 2

Porém, estas nomeações simbolizavam apenas representações


honoríficas, tendo a sua educação por certo ter passado por gente
menos percetível porém mais cultos. O interesse de seu pai, D. Dinis,
pela escrita logo nos levará a pensar que este seu filho valorizava o
“saber”. Além da suposta erudição, incluía-se obrigatoriamente a
montada e o manejo das armas. Como hobbie, o infante parece
apreciar a caça, uma atividade comum da realeza e fidalguia, onde
javalis, veados e até a presença de ursos (que devido á caça se
extinguiu em Portugal). 2

O infante Afonso (com 6 anos) aparece pela primeira vez no plano


político no tratado de Alcanises, em 1297, onde D. Dinis declara por si e
pelos seus (esposa e sucessores) um ato de respeito para com este
tratado, com aspiração á permanência. Com o tratado veio o
arranjamento do casamento do infante português com D. Beatriz, filha
do já falecido ex-rei castelhano D. Sancho IV e também pela mesma
altura negociava-se o casamento entre o monarca castelhano,
Fernando IV e a irmã do infante Afonso, D. Constança. 2 e 5

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Apesar de alguma controvérsia devido a problemas de
consanguinidade, após 4 anos, o Papa Bonifácio VIII autorizou os
casamentos, em 1301. 2

Em 1297, á futura nora foi concedida uma carta de arras, por D. Dinis,
onde o senhorio de Évora, Vila Viçosa, Vila Real, Gaia e Vila Nova lhe
foram entregues com a adição de 6 mil libras de rendimento anual. Tal
casamento só se consumou efetivamente em 1309 onde D. Afonso
teria 18 anos e sua esposa, D. Beatriz, com os seus 15 ou 16 anos. 2

Focando agora em sua mulher, D. Beatriz, que deteve uma participação


ativa na política do reino (após 1325), como nos mostra o ano de 1329,
onde fundou um hospital em Alcáçova de Lisboa. 2

Em 1336, fruto de um estado de conflito entre o monarca português


(D. Afonso IV) e o monarca castelhano (D. Afonso XI), D. Beatriz, dirigiu-
se a Badajoz para pedir fim às hostilidades. 2

Outra ocasião de relevo é o polémico assassinato de Inês de Castro,


onde o infante Pedro, revoltado, rebelou-se contra seu pai, tendo a
rainha um papel fulcral para que os dois fizessem as pazes. 2

Estas atuações de D. Beatriz implicava que detivesse uma certa


autoridade e meios (tinha magistrados privados que ouviam as partes e
procuravam a melhor decisão) que permitisse a influência política que
teve. 2

Voltando ao ainda infante Afonso, acompanharemos agora o seu


período final enquanto infante, descrevendo o panorama político, até á
sua tomada da posse do trono e seu legado, terminando com a sua
morte em 1357. “Segundo a lei de Deus, os filhos são teudos de
obedecer aos pais, e este não foi assim.” A partir dos 26 anos, a

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rebeldia do filho de “O Lavrador” se começava a denotar e no seio de
todos os conflitos, estava a relação que este tinha para com os seus
meios-irmãos (Pedro Afonso, Afonso Sanches e João Afonso). 2

Pedro Afonso recebeu o cargo de alferes-mor do rei e ainda foi conde


de Barcelos. Além disso recebera valiosas terras na região de Lisboa.
Casou por duas vezes: a primeira foi com Branca Peres, uma herdeira
de grande fortuna e depois da morte desta (herdou a riqueza da
esposa) casou novamente com uma herdeira de alto valor, Mariana
Ximenes Coronel. Devido aos cargos, terras e heranças, D. Pedro, filho
bastardo de D. Dinis, tornara-se um dos fidalgos da alta hierarquia em
poder e riqueza de todo o reino. 2 e 5

Além disso, D. Pedro detinha uma maior ligação com a mulher do


infante D. Afonso (filho legítimo de D. Dinis) e com a tradicional
nobreza senhorial o que o levou a tomar a posição de Afonso ao invés
de seu pai. Fruto disso, foi exilado temporariamente. Em 1322 voltou a
Portugal e ajudou na conciliação entre pai e filho, ficando ao lado do
monarca até á sua morte. 2

D. Pedro Afonso, um filho bastardo, representou um importante papel


político e cultural no panorama português e também autor do livro de
Linhagens do Conde D. Pedro (1340-1344), assim como a Crónica Geral
de Espanha, em 1344. Talvez por influência de seu pai, D. Dinis, foi um
poeta trovadoresco. 2 e 5

Ao Afonso Sanches coube o cargo de mordomo-mor, de alta


importância para a política régia onde se manteve por 11 anos, sendo
substituído depois por João Afonso. Este também chegou a exercer o
cargo de alferes-mor. Estes 3 bastardos, com riqueza, prestígio e
influência (além da vontade de D. Dinis em legitimar Afonso Sanches)

5
ativaram as desconfianças do futuro D. Afonso IV, que culminou numa
obsessão que levou o país a estado de guerra civil (1319-1324). 2 e 5

Segundo o Livro de linhagens, a legitimação de Afonso Sanches foi o


motivo que “acordou a fera”, no entanto já se notava ao longo do
tempo várias ideias não sincronizadas entre o Infante e o monarca que
daqui a pouco analisaremos. Especula-se também que a cobiça por
riqueza e poder seja também um bom pretexto para o que se vinha a
suceder. Em adição, algumas fontes retratam um ciúme fruto da
aproximação de D. Dinis aos seus filhos bastardos. 2

Seja como for, o Infante Afonso elaborou um plano de conspiração em


que ele próprio seria o herói e a vítima da história e Afonso Sanches o
“mau da fita”. Esse plano consistia num “ataque falso” do infante
Pedro de Castela, para o infante português Afonso ir em auxílio do
reino elevando-o a um lugar de maior prestigio. A outra parte do plano
era incriminar o seu meio-irmão Afonso Sanches, de um assassinato
organizado contra o herdeiro legítimo do reino (ele próprio, D. Afonso
IV). 2

Mas esta rebeldia era já crónica. Seu pai, D. Dinis, queixava-se já de um


filho ingrato para com as suas posses (casa, terras e bons vassalos),
algo que não se registou com outros herdeiros da coroa. Para acentuar
a posição de rebelde, seu pai o via rodeado de malfeitores, protegendo
violadores, assassinos, ladrões e exilados que viviam em Castela,
demonstrando um entrave á autoridade do monarca português. 2

A situação culminou assim para um conflito. Em 1320, Afonso levou a


mulher e seus filhos para se refugiarem em Castela e D. Dinis vendo a
situação em caos, divulgou através de cartas que quem apoiasse seu
filho seria considerado traidor. Aos alcaides e funcionários régios foi-

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lhes ordenado que eliminassem qualquer um que se juntasse á causa
do infante rebelde. De notar foi a ação de D. Dinis que, segundo a
crónica de 1419, decidira “enclausurar” sua mulher, D. Isabel, em
Alenquer, para não divulgar os planos deste (antes desta decisão, D.
Isabel tinha já partilhado a eminência de um ataque ao infante,
conseguindo este fugir). 2

Fixando-se no Norte de Portugal (local prodigioso, pois lá se


localizavam os tradicionais senhores, partidários de Afonso), o infante
conseguiu uma série de vitórias (tomando cidades como Castelo da
Gaia, Castelo da Feira e até o Porto). 2 e 5

Depois do norte foi a vez de descer para Coimbra, a março de 1322,


onde se deram uma série de combates entre membros da mesma
família (pais, filhos, irmãos lutavam entre si, dependendo de quem
apoiassem). 2

As atrocidades que esta guerra estava a provocar, a nível moral, levou


á necessidade de um tratado de paz, muito pedido por D. Isabel, que se
veio a consumar em maio de 1322. Nesse tratado o monarca cedeu a
várias exigências em troca da paz no reino. De entre as exigências
destaca-se o afastamento de Afonso Sanches da política portuguesa. 2

Apesar dos esforços, o conflito entre pai e filho reacendia em


1323/1324, onde desta vez o infante tentou forçar uma entrada em
Lisboa, onde D. Dinis se opôs com um combate em Santarém. E mais
uma vez D. Isabel se opôs á batalha através do célebre episódio em que
a rainha “montada” numa mula sem que alguém a conduzisse pelas
rédeas, rompeu pelo meio dos dois exércitos e saiu sem que alguém
lhe tocasse. Assim, tanto o rei como infante regressaram às suas bases,
em Lisboa e Santarém, respetivamente. 2

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Mas o fogo ainda não estava extinto e como tal o conflito voltou a
agudizar-se. Só a 25 de fevereiro de 1324 é que foi acordado um
tratado de paz, onde 2 juízes de cada lado representavam as cabeças
do conflito. Após alguma discussão, o rei acabou por se resignar às
exigências do infante, como o exílio de Afonso Sanches e perda das
suas terras e também o benefício monetário, onde Afonso iria receber
30 mil maravedis (por ano?). 2

O próprio papa João XXII, mais tarde, reprimiu D. Afonso pelo seu
histórico desobediente e que isso contribuiria para a destruição do
reino que herdara. 2

O apoio da nobreza tradicional senhorial ao Infante Afonso deveu-se á


centralização do poder régio de D. Dinis, á diminuição do poder
senhorial e á constante realização de Inquirições. A repressão do poder
senhorial obrigou esta nobreza a procurar uma forma de reverter a
situação e o “revoltoso” infante seria a oportunidade ideal. 2 e 5

Após o tratado de paz, a situação acalmou pois o rei adoeceu


gravemente acabando por falecer no ano seguinte, em 1325, com 64
anos. 2 e 5

Subindo ao trono em 1325, com os seus 34 anos, D. Afonso IV reinaria


de forma semelhante a seus antecessores, numa prática “cultural
centralizadora” perante os poderes senhoriais e concelhios e isto até
1357, ano da sua morte e da coroação da tão aclamada figura
romântica portuguesa: D. Pedro de Portugal. 1 e 5

Mal subira ao trono logo convocou as cortes em Évora para prestação


de homenagem ao novo rei de Portugal. Nessas cortes presenciavam
fidalgos, bispos, clérigos e até representantes concelhios. 2

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Fazendo uso de uma política que reforçava o poder da Coroa, tentou
modernizar e regular a situação administrativa e o poder da justiça.
Tais atos se notaram em 1330, ano em que se instituíram os “juízes de
fora”, magistrados régios que se sobrepunham ao poder dos juízes
concelhios. Em adição, entre 1332 a 1340 iniciou uma política
regulamentar da atividade dos “corregedores”, visando inspecionar as
“manhas” da justiça local. 1 e 5

Por volta de 1340 surge a figura do “vereador” régio, um cargo que


hoje tem uma conotação mais moderna, adaptada às necessidades
administrativas, mas outrora as necessidades eram de ordem diferente
e por tal, estes vereadores detinham funções administrativas
concelhias, mas com o intuito de reduzir a sua autonomia. 1

Esta “cultura centralizadora” aperfeiçoou-se com a incorporação de um


maior número de legistas formados em Direito romano (abstinência
clerical), que iriam aconselhar e fornecer os saberes técnicos do ato de
legislar. É ainda de notar que desde que a universidade de Coimbra foi
criada, esta leciona com “maior importância” o Direito civil e o Direito
Canónico. As universidades do “palco europeu” forneciam ao aparelho
jurídico e administrativo dos reinos a “matéria-prima” necessária para
a mais eficiente capacidade governativa dos monarcas e criação de um
Estado burocrático ao longo dos séculos. 1 e 2

As primeiras medidas políticas deste monarca, mal sucede seu pai, fora
a perseguição a seus irmãos, sobretudo ao filho bastardo de D. Dinis,
Afonso Sanches, este falsamente acusado de tentativa de
envenenamento e de pretensões ao trono. Acusado de traição, viu D.
Afonso IV confiscar as suas terras que possuía em Portugal para a
Coroa. Respondendo ao ato de seu meio-irmão, o filho ilegítimo de “O
Lavrador” pôs em prática um conjunto de raides, compostos por seus
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vassalos e alguns castelhanos, na fronteira portuguesa, em Trás-os-
Montes e no Alentejo. Como resposta, o seu meio-irmão e rei de
Portugal lançou uma expedição á suas possessões em Castela,
resultando, em finais de 1325 ou inícios de 1326, no cerco e destruição
da praça de La Codosera. A partir deste momento o conflito militar
cessou e os ódios acalmaram-se, assinando-se um tratado de paz onde
o monarca aceitou restituir os bens confiscados ao infante bastardo de
D. Dinis. Afonso Sanches viria a falecer em Escalona, em 1328, durante
um cerco das hostes de Afonso XI de Castela. 1

Para além do conflito familiar, logo se notou que o clero também lhe
seria um obstáculo às suas pretensões centralizadoras. Com o
arcebispo do Porto e de Braga o conflito instaura-se devido á
capacidade de legislar, onde o rei pretende impor a sua vontade na
“casa de Deus”, ou seja, surge um problema de jurisdição. 1

A relação com a nobreza seguiu as pisadas do pai e apenas alimentou a


tradição centralizadora, que, sobretudo a partir de D. Afonso II, se fez
sentir. 1 e 5

Em 1334 realizou um “chamamento geral”, onde os nobres se viram


obrigados a comprovar a legitimidade dos seus direitos, podendo ainda
ser alvo de “confirmações”, consoante a situação apresentada.
Além disso, tentou monopolizar a justiça do crime e restringiu os
direitos senhoriais perante a justiça, além de opor-se á constituição de
novas honras. Imitando seus antecessores, lançou de novo inquirições,
na Beira, em Trás-os-Montes e no Minho. 1 e 5

Em 1340 promulgou a “Pragmática”, lei que procurou conter os gastos


e os consumos “ostentaciosos”, tabelando os gastos alimentares e
vestuários que cada categoria social poderia comportar. 1 e 5

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Foi neste governo que a Peste Negra começou a levar as suas primeiras
vítimas em Portugal, a partir de 1347/1348, afetando em grande escala
a capacidade laboral europeia. Por falar em capacidade laboral, surge,
em 1349, pelas mãos do monarca português, uma lei sobre o trabalho
rural onde os salários seriam tabelados pelos concelhos, os mendigos
seriam obrigados a trabalhar, a duração dos contratos de trabalho
fosse fixada e os empregadores deveriam pagar os salários
pontualmente. Porém, esta lei “inovadora” para a época revelou-se
ignorada, pela falta de divulgação e o hábito de velhos costumes. Assim
a crise económica continuou a agravar-se, seguindo o fluxo europeu da
grande crise do séc. XIV, demonstrando também uma precariedade do
monarca no exercício do seu poder. 1

Em 1328, em Escalona, ano e local da morte de seu irmão bastardo


Afonso Sanches, D. Afonso IV começa a percorrer o caminho
diplomático ao assinar com Castela um tratado luso-castelhano que
ficou conhecido como acordo de Escalona, onde D. Afonso IV e Afonso
XI de Castela assinavam uma aliança consumada por dois casamentos:
o de Afonso XI com a filha do monarca português, D. Maria, e o
casamento entre o infante D. Pedro, filho de Afonso IV, e D. Branca,
irmã do monarca castelhano. Porém, Castela entrara de novo em
ambiente de guerra civil e o rei português viu nos fidalgos castelhanos,
que se opunham ao rei de Castela, uma amizade que se traduziu no
casamento entre D. Pedro e D. Constança Manuel, filha do importante
fidalgo D. João Manuel (de Castela). 1

Fruto da “traição” de D. Afonso IV ao acordo de Escalona, surge uma


guerra luso-castelhana de 1336 a 1338/1339. Essa traição teve como
pretexto o infeliz casamento de sua filha D. Maria com D. Afonso XI de
Castela, que a menosprezava em favor de uma outra dama, a Leonor

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de Guzmán. Porém, sabendo D. Afonso XI do acordo entre o monarca
português e do futuro casamento com D. Constança Manuel, onde iria
consolidar uma aliança com um dos opositores mais perigosos ao
monarca castelhano, D. João Manuel, logo o monarca castelhano
decidira raptar a dama antes que esse tratado de aliança se
consumasse. Pois foi esse rapto que definitivamente obrigou Portugal a
declarar guerra a Castela e no verão do ano de 1336 os portugueses
lançaram as suas ofensivas, por terra e por mar, que também tiveram
resposta do monarca castelhano. Por fim, a situação parecia acalmar-se
em 1338, com a ajuda do bispo de Rodes (legado do papa Bento XII) e
do bispo de Reims (enviado do rei Filipe VI de França). 1 e 5

Definitivamente, só em 1339, o papado conseguiu harmonizar a


situação político-militar entre Castela e Portugal, canalizando essas
energias para o histórico inimigo comum do catolicismo, os
muçulmanos. A ameaça muçulmana, apesar de confinada ao sul
peninsular era ainda motivo de preocupação, mas graças a esta “união
de forças”, em 1340, as hostes portuguesas e castelhanas obtém uma
gloriosa vitória na batalha do Salado, colocando um fim á força
expansionista muçulmana, confinada apenas a uma situação de defesa.
1

Do reinado deste monarca, em termos de eventos mais escaldantes


ainda por referir, resta apenas abordar as “vontades de se fazer ao
mar” e o episódio do assassinato de D. Inês de Castro. 1

Foi no período de regência deste monarca que a coroa portuguesa


procurou expandir-se pelo mar, através da intensificação da atividade
comercial e o aumento de rotas marítimas, onde os mercadores
portugueses e italianos recebiam constantes privilégios. É neste

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reinado que a frota portuguesa, financiada pela Coroa, se expande até
às Canárias (cuja posse não fora assegurada pelo papa). 1

Em relação ao episódio de Inês de Castro, que chegara ao reino


português pelo séquito pessoal da filha de D. João Manuel, D.
Constança Manuel, esposa prometida de D. Pedro. 1

A relação de Pedro e Inês deu quatro frutos, dos quais se destacam


João e Dinis. Após os nascimentos de seus filhos bastardos (com Inês
de Castro), D. Pedro pretendia a bênção do papa para casar com a sua
pretendida, em 1351. Porém, o rei temeu que os direitos de Fernando,
filho legítimo (do relacionamento com Constança Manuel), se
perdessem (talvez o trauma da sua relação com o meio-irmão, Afonso
Sanches, tenha vindo ao decima). Além disso, o irmão de D. Inês de
Castro, o Álvaro Perez de Castro, estava na orla dos rebeldes que se
opunham ao rei Pedro I de Castela, que provavelmente poderiam atrair
o herdeiro do trono português para o conflito. Para evitar
complicações, D. Afonso IV e os seus vassalos mais próximos
conspiraram o assassinato de Inês. A sentença realizou-se em Coimbra,
a 7 de janeiro de 1355. 1

Tal ação destroçou o infante português, que segundo a lenda, veio a


lamentar as suas lágrimas no hoje conhecido Penedo da Saudade, em
Coimbra. O ato de seu pai consumiu o infante pelo ódio impiedoso e
levou-o a um estado de revolta violenta contra o seu velho e injusto
pai. Após a execução de Inês, o infante fez a vida negra às comarcas de
Entre Douro e Minho e Trás-os-Montes, assolando as terras do rei e
atormentando os seus conselheiros. 1

Só a 5 de agosto de 1355, a intervenção da Rainha D. Beatriz com o


apoio do arcebispo de Braga, logo resultaram em um acordo de paz,

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onde ficava decido que o infante iria perdoar os nobres culpados pela
morte de Inês, recebendo como contrapartida, a cogovernação do
reino. A 14 de agosto desse mesmo ano de 1355, D. Afonso IV selava o
acordo feito com seu filho. Apesar de a paz já estar normalizada,
Afonso IV ainda se encontra em 1356, dois anos após o momento
escaldante de guerra civil, a perdoar os vassalos que tinham
demonstrado lealdade ao seu filho no ato de rebeldia. 1 e 5

Após este momento de crise, a nobreza já não era mais um grupo


unificado, mas dividido entre apoiantes de D. Pedro e fiéis de Afonso
IV. 1 e 5

Após um reinado um tanto conturbado como característica vulgar de


seus antecessores, pela centralização e conflitos, D. Afonso IV perece
em Lisboa a 28 de maio de 1357. A este monarca sucede-se o já
esperado D. Pedro, em um momento ténue da europa, marcada pela
grave crise do séc. XIV. 1 e 5

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1.2- D. Pedro

Subindo ao poder após um momento de tensão, em 1357, D. Pedro


deixou marcas profundas na economia e na forma de governar,
levando o país, 10 anos depois, a uma estabilidade económica, onde a
paz fora uma das palavras-chave de seu reinado. Diferente dos outros
monarcas, a paz foi uma estranheza real mas a vingança foi um
sentimento bem comum. 1 e 5

Seguiu uma política de auxílio a seu sobrinho, Pedro I de Castela, nas


disputas internas do país vizinho. 3

Segundo Oliveira Marques, pode-se descrever D. Pedro como uma


“figura típica dos finais da Idade Média, meio louco e depravado em
moral, sempre preocupado com a administração da justiça, em íntimo
contato com o povo, que o adorava apesar dos seus atos de crueldade
e loucura. Parece ter feito pouco para refrear o poderio dos nobres,
mas foi, no entanto, temido por eles”. 3

Em 1360 tratou de fazer “justiça” com os assassinos da sua pretendida


D. Inês de Castro e tal ação o marcou no cognome, “o justiceiro”. Além
da conhecida vingança, desenvolveu a agricultura, a justiça e a
administração. A legislação foi outra palavra-chave do seu modo de
governo, que apenas almejava construir um sistema normativo
eficiente. 1

Em relação á nobreza, temia-se o pior, mas o pior não aconteceu. O


governo deste “viúvo” foi modesto e os fidalgos até se viram
beneficiados com o aumento das “contias”. 1 e 5

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Em contramão ia o clero, onde as situações de discórdia foram
constantes, culminando na promulgação do Beneplácito Régio, em
1261, que ordenava que as cartas pontifícias não fossem publicadas no
reino sem que o monarca português o autorizasse e tal ato,
considerado por Oliveira Marques como caprichoso e pessoal, tinha
como objetivo último combater a documentação falsa e
consequentemente conferia ao neto de D. Dinis uma maior
centralização régia. 1, 3 e 5

Seguindo as pisadas de seu avô, D. Dinis, procurou nacionalizar as


ordens religiosas-militares, onde a sua maior decisão nesta área foi a
de colocar o seu filho bastardo, D. João, ao cargo de mestre de Avis,
em 1364. 3

A 18 de janeiro de 1367, vítima de peste (possivelmente), D. Pedro


falecia em Estremoz. Seu substituto, D. Fernando, ficou conhecido pela
enorme crise que assolou o reino a todos os níveis. 1

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1.3- D. Fernando

D. Fernando sucedeu seu pai, D. pedro, em 1367 e reinou até 1383.


Podemos destacar dois momentos no governo deste monarca: um
primeiro momento inicial em que a governação ia mais ou menos bem
e um segundo momento em que “as mulheres e os desejos
expansionistas do monarca” mergulharam o reino em um oceano de
devastação e pobreza. 3 e 5

Aproveitando a encruzilhada castelhana tentou intrometer-se como


candidato ao trono, na qualidade de bisneto legítimo de D. Sancho IV
de Castela, e como oposição tinha D. Henrique de Trastâmara
(Henrique II), que assassinara seu irmão, D. Pedro I de Castela,
monarca castelhano. 3 e 5

Como aliados às suas pretensões castelhanas, D. Fernando servia-se do


apoio de Aragão e do reino muçulmano de Granada. Surge assim a
primeira guerra com Castela (1369 – 1371) em que o reino português
não saiu da melhor forma. A derrota levou a uma nova tentativa de
guerra (1372-1373) e depois a um terceiro fôlego (1381-1382) que
apenas mergulharam o pais na devastação e continua miséria, tanto
em moral como em economia. 3 e 5

Renunciando as suas pretensões a Castela, decide agora apoiar um


novo candidato, o inglês João de Gante, marido de Constança (filha
ilegítima do falecido rei D. Pedro I de Castela) e filho de Eduardo III da
Inglaterra. 3

Enquanto isso o opositor, Henrique II, solicita e obtém o apoio de


França, levando assim a península Ibérica a um palco adicional da
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mesma peça de teatro que estava em decurso na europa central-
ocidental: a guerra dos cem anos entre Inglaterra e França. 3

Neste conflito peninsular, Aragão tanto mostra sinais de que está do


lado dos ingleses como mostra que está do lado dos franceses. E
Portugal parece caminhar nesse sentido, apesar do claro apoio á causa
inglesa. 3

Depois da derrota na 1ª guerra, D. Fernando aceita um acordo com o


monarca castelhano onde fica estabelecido que o rei português
compromete-se a casar com a filha de Henrique II, D. Leonor, depois de
fazer uma promessa semelhante com Aragão. 3

Porém a recente paixão por D. Leonor Teles o leva a abandonar o


casamento estipulado e surge assim a 2ª guerra que culminou numa
segunda derrota. Após isso D. Fernando viu na Inglaterra uma luz (João
de Gante) e assim voltou de novo á luta contra Castela, onde mais uma
vez, perde e torna-se “amigo” dos castelhanos. 3

Assim como a constante mudança de alianças foi também a religião,


onde na altura vigorava o Grande cisma, entre Roma e Avinhão,
trocando-se de lado consoante a aliança com Castela (Avinhão) ou
Inglaterra (Roma). 3 e 5

As sucessivas guerras com Castela deixaram o país pilhado e devastado


pela destruição, que afetou gravemente a economia do reino. 3 e 5

No âmbito da 2ª guerra, Henrique II, chegou até Lisboa e ocupou parte


da cidade, queimando, destruindo e saqueando o que podia. A frota
portuguesa estava aniquilada e os problemas socias (combatidos com
relativa eficácia pelos dois monarcas antecessores: Afonso IV e D.

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Pedro) agravaram-se: sobretudo entre os mercadores e as classes mais
baixas. 3

A inquietação notava-se visível nas Cortes, onde a Nobreza se


beneficiou em privilégios por causa da guerra, podendo mesmo a
tendo incitado ao monarca português. Em adição á situação
problemática surge depois da primeira derrota, o casamento do rei
português com D. Leonor Teles de Meneses, odiada pela população,
que com ou sem razão, era culpada por aconselhar mal D. Fernando. 3

Depois e entre as guerras, D. Fernando tentou reconstruir as defesas,


as questões sociais e a economia do reino. 3

No seguimento da instabilidade, surgem leis sobre a agricultura e a


criação de gado que tentaram adaptar e proteger a economia feudal e
a sociedade tradicional (grandes senhores) afetada pela crise (Lei das
Sesmarias, 1375). Além disso, procura-se proteger a navegação
comercial. Estas medidas foram insuficientes para retirar a mancha que
caracterizava este monarca, com 16 anos pautados por instabilidade
geral. 3 e 5

As primeiras queixas sociais já se faziam sentir em 1372, ano do


casamento com D. Leonor Teles, e continuariam por todo o reinado
pelo descontentamento do resultado da política bélica. 3

Sua filha legítima, D. Beatriz, casa com D. João I de Castela, como


cláusula da 3ª derrota militar, o que obriga, em 1383, a D. Leonor
Teles, assumir a regência do trono, após o falecimento de D. Fernando.
Teria de se esperar que do casamento de D. Beatriz saísse um filho
legítimo ao trono, para este tomar posse. 3

19
Estava-se perante uma crise “tática”, que D. João I de Castela pretendia
aproveitar e por tal vontade sua invadiu o reino português com vista á
usurpação do poder português. Mas, além destes dois partidos como
pretendentes ao poder (D. Leonor Teles e D. João I de Portugal), surge
um terceiro, apoiado pela média e baixa burguesia, encabeçada por D.
João, Mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro. 3

Apoiada pela alta nobreza terratenente, D. Leonor Teles se viu


obrigada a fugir e unir forças com o monarca castelhano.
Autoproclamando-se “regedor e defensor do reino”, o Mestre da
ordem de Avis tomou o poder português e logo tratou de enviar
embaixadores a Inglaterra com o objetivo de renovar a aliança política
contra Castela. O mestre de Avis começou a organizar a defesa,
aproveitando-se do famoso general Nuno Álvares Pereira, seu filho
bastardo, conseguindo um conjunto de vitórias que asseguraram a
independência de Portugal: Atoleiros, Aljubarrota, Trancoso e
Valverde. 3 e 5

Fruto disso, em 1387 (?) surge a primeira trégua, mas só em 1432 (?) é
que definitivamente a paz é formalmente estabelecida. A vitória do
Mestre de Avis, levou á formação da segunda dinastia portuguesa: A
dinastia de Avis (1385 – 1433). 3 e 5

20
2.1- Panorama Geral de Portugal (séc. XIII-XV)

Portugal vivia, como na europa, mergulhado em uma estrutura feudal


devido á evolução do sistema romano-germânico e às necessidades do
processo de “Reconquista Ibérica”, ou seja, a estrutura feudal surgiu de
uma evolução progressiva de valores e da necessidade de fortalecer o
poder régio. 3

O sistema de vassalidade devia beneficiar o rei, aumentando o seu


poder devido ao enorme apoio, havendo também nobres que desse
sistema se aproveitavam para se opor ao monarca. Como exemplo
temos a batalha de Pedroso, em 1071, onde o conde Portucalense se
opõem ao rei Garcia da Galiza. 3

Continuando, a concessão régia em forma de benefício (aos


vassalos/nobres) designa-se por “préstamos” e inicialmente não era
hereditário, mas com o tempo tornaram-se bens hereditários, ao que
se passaram a chamar de “morgadios” ou “morgados”, onde as
terras/feudos e títulos se regiam pelo direito de primogenitura, de
preferência masculina, inalienável e indivisível. 3 e 5

Do rei, a alta aristocracia podia receber esses benefícios por honras


(nobres) ou coutos (clero), onde ficava expresso um conjunto de
privilégios tais como a proibição da entrada a funcionários régios, a
inexistência de impostos da coroa, o exercício da autoridade pública,
uma autonomia administrativa, judicial e financeira. 3 e 5

Os feudos poderiam conter igrejas paroquiais, mosteiros e capelas


cujos respetivos senhores, fundadores ou descendentes de fundadores

21
recebiam as rendas da dízima e as dotações da Igreja (rendimentos,
ofertas de fiéis, direitos eclesiásticos). 3

Estes feudos eram locais apetecíveis (“comunidade mais segura”),


tinham larga procura e eram bem apreciados, no entanto as Igrejas
tentavam reduzir-lhes os números devido aos constantes abusos
(explorações dos senhores feudais) e ao considerável empobrecimento
que traziam para os curas (padres) e seus meios de ação. 3

Apesar destes feudos (honras/coutos) serem dotados de “liberdades”,


o rei podia ter a última palavra nos casos de alta justiça. 3

No séc. XIII, a Coroa, lançou um plano de repressão das imunidades e


da plena autonomia dos senhores feudais, com as leis gerais de Afonso
II e a realização de Confirmações e Inquirições. 3 e 5

Estas inquirições permaneceriam, durante sucessivos reinados, até


finais de séc. XIV, tendo o seu auge no reinado de D. Dinis (1284, 1301,
1303 e 1307). Estas inquirições procuram limitar o tradicional Norte
senhorial (sobretudo) e impor uma administração central, permitindo
assim a interferência da justiça régia que planeava criar um sistema
financeiro planificado e centrado no monarca. 3 e 5

Durante o séc. XIV, outras decisões régias tentaram travar a expansão


do regime senhorial, no governo de D. Dinis, como a proibição da
nobreza de abusos de jurisdição (1317), o impedimento da criação de
novas honras (1321) e obrigou seus nobres a comprovarem os direitos
feudais (1325). 3

Com D. Fernando, o direito da justiça feudal foi negado á maioria das


honras constituídas a partir de 1325. Seu sucessor, D. João I, restringiu

22
as concessões régias aos descendentes legítimos (1384) e, depois, aos
filhos varões (1389). 3

D. Duarte, seguindo as ideias de D. João I, aplicou a lei mental, onde


todas as doações régias só podiam ser transmitidas pela linha legítima,
mas deixando de se considerarem feudos, assim, a administração régia
impunha-se e as imunidades senhoriais eram travadas. Esta lei era
aplicável a todos os feudos, seja pelas doações régias anteriores ou
posteriores á aplicação da mesma. Devido a esta promulgação, várias
terras regressaram ao poder da Coroa. 3

Como é óbvio gerou-se protesto, sobretudo pelo conde de Barcelos,


futuro duque de Bragança, protesto esse que teve relativo sucesso. 3

Contudo, é de refletir que os monarcas foram os grandes causadores


deste problema de “centralização/descentralização” pois foram os
monarcas que concederam honras e coutos á alta aristocracia por
interesse próprio (por ajuda prestada ou por interesse futuro) e agora
procurou reaver o que doou. Exemplo disso foi a divisão de bens no
testemunho de Sancho I, que levou Afonso II a um estado de “guerra
civil” com suas irmãs. Outro exemplo mais recente é o conflito entre D.
Dinis e Afonso (seu irmão). Outra situação são as avultadas doações de
quinhões de solo e fortuna aos filhos de D. João I (filhos legítimos e
ilegítimos). 3

Tal situação deu um enorme poder á nobreza, como foi o caso, das
imensas posses da casa de Bragança, no séc. XV. 3

A generosidade real para com a Alta aristocracia foi consolidada com


uma política de apanágios (privilégios/atributos). Na época medieval
podemos assumir que D. Afonso III, D. Pedro, D. Fernando e D. Afonso
V foram os mais generosos. 3
23
Assim, esta política do “dá e tira” acabou por beneficiar algumas
famílias. A família Meneses (D. Leonor Teles de Meneses, mulher de D.
Fernando) e de Bragança, mais afortunadas, podiam-se comparar a
alguns senhores feudais da França e Alemanha. 3

Podemos resumir este período do feudalismo como uma inexistência


de liberdade individual quanto á propriedade privada (camponês),
coisa que progressivamente vai mudar a nível de mentalidade. 3

À altura, Portugal estava mergulhado no sistema de


aforamentos/emprazamentos (cobria todo o reino e afetava quase
toda a população), ou seja, no sistema de privilégios/deveres. 3

Grandes proprietários doavam herdades maiores ou menores a vilãos,


do mesmo modo que as haviam recebido do rei, o que por sua vez
culminará no surgimento de concelhos (?). 3

Na maioria dos casos, os aforamentos faziam-se a agricultores


individuais, com diversas condições, como o pagamento de um foro de
parte da produção do solo (1/4 da produção), com a prestação de
serviços no paço senhorial e diversos tributos ocasionais. 3

Outros emprazamentos/aforamentos (comuns no séc. XIV/XV) eram


feitos temporariamente por 1, 2 ou 3 vidas (ou até períodos menores,
que com a “liberdade”, por aí caminhava). 3

Ou seja, a Europa era um Estado feudal em transformação entre os


séculos XII a XV. A liberdade de trabalho e circulação era já uma
realidade incontornável, que apesar de reduzida e ameaçada, tendia a
evoluir progressivamente. 3

As cidades traduziam uma realidade que violava as regras básicas da


sociedade feudal:
24
1. Não havia um senhor interno, onde os habitantes gozavam de uma
liberdade e independência económica que contrariava o passado. 3

2. O conceito de mercado e comércio á distancia cada vez mais se


tornava difundido, afetando a autossuficiência do domínio, cada vez
mais dependente, mas bem abastecido, o que questionava o sistema
absoluto da pequena exploração. 3

O sistema fiscal dividia-se em tributações senhoriais e isenção de


tributações por parte dos senhores ao rei. Surge então, com a
centralização régia, uma fiscalização régia que não respeitava os
privilégios do clero e nobreza. Assim, o rei e a burocracia da Coroa
invadiam os privilégios senhoriais, sobrepunham a doutrina régia, em
uma autoridade e centralismo que violava todas as tradições. 3

As instituições feudais, por mais ameaçadas e penetradas que


estivessem, continuavam a resistir. Assim, vemos um país feudal
(ausência de liberdade) que convivia com um país moderno
(liberdade/cidades). 3

Portugal do séc. XIII teria aproximadamente 1 milhão de habitantes,


destacando-se a Norte do Tejo: Porto, Braga, Coimbra, Guimarães e
Bragança e sul do Tejo: Lisboa, Santarém, Évora e Faro. 3

Vemos assim um norte povoado com predomínio de minifúndios e um


sul desértico “semeado” de latifúndios. Em 1300 notamos Lisboa a
destacar-se como centro da vida económica, social, política e cultural
do país. 3

25
2.2- O comércio marítimo

A partir de 1200 a costa ocidental portuguesa crescera e desenvolvera-


se devido á crescente atividade comercial e consequentes relações
com o “Norte da Europa” (relações além-Pirenéus pelo contato
comercial). Essas ligações europeias foram logo fomentadas por
casamentos, formas mais vulgares de tratado, como por exemplo o
casamento de uma das filhas do nosso primeiro monarca português, D.
Afonso Henriques, com o conde Filipe da Flandres. 3

Com os tratados e crescente fomentação comercial vemos vários


povoadores europeus, sobretudo francos, a fixar-se em Portugal
(famílias com nomes terminados em aldo significa origem franca),
assim como a presença de mercadores portugueses se vão encontrar
em Inglaterra, Flandres, Alemanha e França. 3 e 5

Em 1293, D. Dinis aprovara a bolsa dos mercadores, onde incluía um


sistema de seguros para as mercadorias que iam para o estrangeiro. 3

Vários anos depois, em 1353, entre os portugueses e os ingleses, foi


assinado um tratado, com a duração de 50 anos, com o monarca inglês
Eduardo III, em que se prometia proteção aos mercadores. 3

Para a europa ocidental, as exportações portuguesas resumiam-se, na


maioria, a bens perecíveis (fruta: figos, passas; sal, vinho, azeite, mel,
cortiça, couros e peles) e da Europa (França e Inglaterra) vinham
produtos manufaturados, como armas e munições, especiarias e
cereais (fulcrais na crise que abalou o país depois da peste negra e
guerras fernandinas, ou seja, maior necessidade de importação). 3

26
Já comercializar com Castela era como se fosse a continuação de um
comércio interno. 3

Por falar em comércio interno, a partir do século XIII nota-se um claro


movimento comercial com a criação de feiras. No país, no séc. XIII,
surgem 43 das 95 feiras existentes; já no séc. XIV aparecem mais 26
feiras e no séc. XV nascem mais 23 feiras, demonstrando um maior
crescimento comercial e troca de produtos, acentuando uma maior
dependência e também crescimento (populacional, comercial e
financeiro), apesar da crise do séc. XIV que claramente vai afetar as
trocas e rotas comerciais. 3

É com D. Dinis (1279-1325) que vemos a maior concentração de cartas


de feira, mais de metade do total, o que por si traduzia um reinado
“quente” na comercialização interna. 3

Nos tipos de feiras, podemos destacar as feiras francas, onde os


mercadores ficavam livres do pagamento de impostos. Apesar de raras
no séc. XIII, foram tornando-se mais comuns no séc. XIV e XV, sendo
este último século uma época mais propícia ao fomento comercial. 3

Em termos de “atividade industrial”, Portugal mal se nota no mapa, tal


fora a insignificância em comparação com o desenvolvimento
comercial. 3

Além disso, a tradição feudal, sintonizada em camponeses e pequenos


proprietários, representavam um forte entrave ao desenvolvimento
artesanal que só conseguira as suas primeiras corporações (primitivas)
em finais do séc. XIV, mas mais “profissionais” e organizadas só mesmo
no séc. XV. 3

27
2.3- A Economia do reino

A expansão comercial (e sucessivas crises), interna e externa, gerou


problemas relativos a preços e á moeda (dificuldade em tabelar
preços). Tais problemas resultaram numa europa e Portugal pautados
pela constante subida dos preços de vários produtos, entre meados do
séc. XIII e meados do séc. XIV (explicados mais á frente no relatório). 3

Em 1253, em Portugal, decreta-se o primeiro tabelamento de preços,


seguindo-se outros vários que estarão presentes nos concelhos,
maioritariamente. 3

De início omitia-se alguns produtos, como os cereais, para exploração e


benefício dos interesses dos grandes senhores e até do próprio rei. 3

O sistema medieval monetário português passava a abandonar o


morabitino e substituir-lhe por outro modelo financeiro que acabaria
por se tornar problemático, desvalorizando-se continuamente,
atingindo um pico no governo de D. Fernando. 3

Ou seja, no reinado de D. Afonso III (1248) originou-se um sistema


financeiro de influência bolonhesa o que levou á produção dos últimos
morabitinos, atrás referidos. 3

Durante este tempo, surgem em Portugal moedas muçulmanas e


europeias (crescente comércio além-Pirenéus). 3

Com D. Pedro e D. Fernando, tenta-se reintroduzir moedas de ouro e


prata, mas foi uma ação “fraca” e logo se tornam raras e obsoletas. 3 e 5

28
Uma das maneiras medievais de conseguir dinheiro consistia em
desvalorizá-lo, ou seja, “cunhavam-se novas moedas com o mesmo
valor oficial mas com menor quantidade de ouro ou de prata.” 3 e 5

Pois, “à medida que se iam tornando mais complexas, tanto a


administração como a maneira de viver, surgiram também os primeiros
orçamentos deficitários e houve a necessidade de mais dinheiro.” 3

Numa sociedade feudal que enriquecia com os saques das guerras,


agora carecia da principal fonte de rendimento medieval, o que afetava
tanto Portugal como a Europa, exigindo assim, uma necessidade de ir
buscar riquezas, se não fora (saques aos muçulmanos, guerras locais)
que fosse dentro (fiscalização, centralização, economia comercial). 3

Por exemplo, Afonso III desvalorizou a moeda 4 vezes, com e sem o


consentimento do povo. Em relação a seu sucessor, D. Dinis, rodeado
por uma economia mais estável e de prosperidade, não necessitou de
ter mais dinheiro/inflacionar a moeda. Agora com seu filho Afonso IV, a
história fora semelhante á de seu avô, só que com uma agravante: o
período da crise do séc. XIV, que “os ventos” trouxeram do centro da
europa para a periferia. A falta de bens e riqueza, inflacionou a moeda
de uma forma sistemática e que já se tornava vulgar. 3

29
2.4- A administração (séc. XIII – XV)

A gradual capacidade política e económica tornou necessária a criação


de novos cargos de governo e de administração, como o mordomo-
mor (governante do palácio, cargo administrativo) e do chanceler-mor
(tratava da papelada: carregava consigo o selo real, tratava da
burocracia real, redigia as leis), onde a partir de finais de séc. XIII esta
personagem tornara-se numa espécie de “chefe do governo”,
acompanhado por um número crescente de funcionários (ao longo do
tempo). 3 e 5

Além disso, surge o escrivão de puridade, outro cargo que assistia o rei
nos assuntos mais íntimos e em decisões imediatas, “rivalizando
mesmo” com as funções de chanceler-mor. 3

Também surgem os ovençais, funcionários régios menos importantes,


espalhados por todo o reino e com atribuições muito diversas, desde a
recolha de impostos a tarefas na Casa do Rei e á vigilância das terras da
Coroa. O alferes-mor, cargo mais antigo, significava apenas o chefe
militar, portador do estandarte real ou, no caso de o rei não estar
presente, comandava ele mesmo a hoste. 3 e 5

Mas voltando aos cargos administrativos, mais correspondentes á


necessidade da fazer face á complexidade burocrática. Abaixo do
chanceler-mor estavam os sobrejuízes, ouvidores, vedores de fazenda.
Estes informavam o chanceler e o rei e eram geralmente legistas
formados ou em lei canónica ou em civil, possuindo graus
universitários. 3 e 5

30
Para a administração da justiça do reino havia 3 tribunais: Santarém
(tribunal fixo, depois surge em Lisboa), ou seja, a Casa do Cível; a Casa
da Justiça da Corte, depois denominada de Casa da suplicação
(acompanhava o monarca pelo país) e o terceiro tribunal apenas
tratava da propriedade régia. 3

Do geral para o particular, a administração local tornara-se mais


complexa. Aumentou-se o número de magistrados eleitos pelo
concelho de cada município e as suas funções especializaram-se: surgia
também o procurador, que servia de advogado público e criou-se
novos arquivos para registo das escrituras locais. 3

Abordando agora os concelhos, estes procuraram defender os seus


direitos de autonomia enquanto o monarca caminhava,
tradicionalmente, para o supremo objetivo da centralização e tais
divergências de vontades acabariam por entrar em conflito (como foi o
caso das disputas entre os monarcas e o clero e a nobreza senhorial),
onde o suserano levaria a melhor. 3 e 5

Em meados do séc. XIII, os alcaides (governador civil e militar)


passaram a ser assistidos por alguns novos funcionários de nomeação
régia, com o objetivo de melhorar a administração da justiça e a
manutenção da ordem: surgem os corregedores (no séc. XIV), que
procuram manter a justiça, a lei e a ordem; quando necessário
mandava-se os “juízes de fora” (fora do concelho/externos) julgar as
intrigas caso os juízes locais se demonstrassem ineficazes. 3 e 5

Com D. Afonso IV, os juízes locais passaram a ser confirmados pelo


rei, caindo a administração da justiça sob o monopólio firme da coroa.
Além disso, o monarca português também determinou que fossem

31
eleitos novos magistrados á escala local: os vereadores, que iriam
assistir os juízes em todos os feitos de justiça. 3

Os parlamentos medievais na Península Ibérica revelaram-se precoces


em comparação á evolução política europeia. Ou seja, em finais do séc.
XII, as Cortes castelhanas incluíam já representantes do povo (além do
habitual clero e nobreza) e no caso português, as primeiras cortes de
representação popular só surgem em 1254, em Leiria. 3

32
2.5- A legislação, educação e cultura

A administração e justiça baseavam-se no direito canónico (resolvia


casos da vida quotidiana: casamento, relações de parentesco, doações
pias, testamentos, usura e lucros) e no direito romano. 3

A primeira legislação portuguesa saiu com D. Afonso II, fruto das Cortes
de 1211. Mas o primeiro “corpo legislativo” bem estruturado apareceu
em meados do séc. XIV, chamado “o livro das leis e Posturas”,
seguindo-lhes as ordenações de D. Duarte e, a mais completa, as
ordenações afonsinas (D. Afonso V). 3

As escolas catedrais do séc. XI, apesar de serem exclusivamente para


treinar clérigos, detêm uma importância no enquadramento geral da
educação pública. Surgem as escolas conventuais que acabam também
por partilhar as matérias em estudo: Gramática, dialética e a liturgia. 3

Em 1288, um grupo de clérigos pede ao papa Nicolau IV a confirmação


da criação de uma universidade em Portugal, que pretendia ser um
local dedicado á formação de futuros clérigos. Porém, esta
universidade não obtendo prestígio internacional, acabou por ser de
alta relevância para o reino, com a formação de clérigos, advogados,
notários e médicos. 3

De notar ainda na educação seria a casa dos nobres, um local de lições,


onde professores privados, podendo ser estrangeiros, ali educavam
seus futuros nobres portugueses. 3

A partir de D. Sancho I, nota-se a figura dos “jograis”, eruditos da


poesia e da música que vagueavam pelo país e além-fronteiras., que
estavam presentes nas Cortes reais. 3
33
A cultura trovadoresca, de origem francesa, encontrou na Península
Ibérica uma influência tradicional islâmica, conferindo aos portugueses
uma poética original. A grande época trovadoresca centra-se entre
1250-1350, com início no reinado de D. Afonso III, “importador desta
modalidade”. 3

Os trovadores eram geralmente ligados á cultura, ou seja, eram na sua


maioria nobres e as suas obras eram cantadas para um público nobre.
Neste caso, destaca-se D. Dinis e as suas trovas. 3

O uso de linguagem portuguesa nas trovas reforçou o desenvolvimento


cultural e nacionalizou o português enquanto língua identitária do
reino. 3

A poesia é a forma literária que mais se desenvolve ao longo do reino. 3

2.6- Arquitetura, escultura e pintura

34
Os saques da reconquista (espólios) foram grandemente investidos
num surto de construção religiosa de catedrais, abadias, igrejas,
paróquias e capelas, onde se notava que eram demasiadas para um
país pequeno e relativamente pobre. O séc. XII e XIII demonstrou-se
uma época de construções onde os vários edifícios religiosos
apresentavam características de âmbito militar, como as poucas
aberturas. 3

Na viragem para o séc. XIII, o estilo românico é progressivamente


substituído pelo estilo gótico (uma evolução que se deu em frança no
séc. XII, fruto de uma resposta económica e filosófica de valores da
sociedade) e que chegou a Portugal em plena época de construção
(séc. XII-XIII). Por tal resultou numa época de hibridação entre gótico e
românico, onde o estilo gótico chegou apenas a dominar a parte sul,
pois o norte tinha já as construções românicas realizadas. 3

Ou seja, resumindo, temos um norte românico (séc. XI/XII) e um sul


gótico (séc. XII/XIII). Vários monumentos arquitetónicos foram
construídos para além das nossas capacidades e tal ato se reflete por
volta de 1390, com a construção do Mosteiro da Batalha, obra
grandiosa que segundo as ideias do emblemático Eduardo Lourenço
nos caracteriza: “vivemos acima das nossas posses”. 3

As arquiteturas não religiosas são escassas, resumem-se a castelos,


muralhas e suas reparações por D. Dinis, D. Fernando e D. João I. 3

Na escultura, o Norte, terra mais “rija”, de granito local, é mais difícil


de moldar para peças esculturais. Agora o sul, de materiais mais
moldáveis, se nota mais esculturas. 3

Em relação á pintura, é a parte medieval mais pobre, pouco


desenvolvida em comparação aos outros aspetos. 3
35
2.7- A crise do séc. XIV

Em 1340 surgem os indícios da crise geral que os ventos da europa


assopravam para a sua zona mais periférica. Neste momento os preços

36
estão constantemente a subir, a aristocracia se nota ostentaciosa, a
“burguesia” (mercadores: fruto do crescente comércio interno e
externo) começa a superar os nobres e exige privilégios e a terra torna-
se um lugar obsoleto, de poucos lucros em comparação com o
fomentar comercial e do artesanato. Por esta altura, tendo a
reconquista cessado á cerca de 100 anos, os nobres perdem um dos
seus trunfos económicos: o saque. 3

Em 1348 a peste Negra devasta o país e leva para a cova uma boa
porção da população culminando numa consequência geográfica
irreparável. A praga dizima cidades, mosteiros e locais de elevada
densidade populacional assim como os campos, que não escapam á
doença. Tal epidemia leva ao desesperado movimento migratório em
busca de salvação (sobretudo para as cidades maiores. Busca de
melhor assistência, talvez… mas á o inverso: quem procure fugir para o
campo). 3 e 5

A população citadina, fruto da migração desesperada, entra agora em


situação de desemprego generalizado e os campos são claramente
afetados em produção e trabalhadores. Aqui, neste desemprego, surge
a mão-de-obra ideal para as pretensões de D. Fernando (homens para
as sucessivas guerras). 3

Pela epidemia, surgem os “fogos-mortos”, onde se nota uma clara


falha de trabalhadores rurais que procuram, vagueando, quem lhes
oferecesse melhores condições de vida, o que preocupava os senhores,
ou seja, poucos camponeses, muitos senhorios, assim os camponeses
tinham mais escolha, procurando aquele que melhor beneficiasse. 3 e 5

A situação obrigava o país a um défice alimentício que não se poderia


suportar e por tal, em 1375, surge a lei das sesmarias, que pretende

37
obrigar os trabalhadores rurais a trabalhar por um salário fixo, uma
promulgação que visava o benefício dos grandes proprietários, de
estabelecerem a riqueza que estavam a perder, fruto da crise
generalizada. 3 e 5

Porém, apesar do combate á vagabundagem a liberdade do trabalho


foi uma realidade que visava crescer com o tempo. Cem anos mais
tarde, a mão-de-obra era livre e os contratos de trabalho eram
revogáveis e temporários. 3

A crise do séc. XIV era de cariz demográfica, o que significava terras


abandonadas, baldios e mais zonas de caça, surge assim um aumento
da criação de gado para supressão alimentar (reinado de D. Pedro). 3

A fome, falta de pão e as reduzidas colheitas levaram ao declínio da


população rural que migrou o que punha em causa um desequilíbrio na
balança entre produção e consumo. 3

Os cereais podem ter sido reduzidos, mas nota-se uma maior


exploração do azeite e vinha, investimentos tradicionais que hoje
resultam, em plena época moderna, dos principais produtos de
exportação portuguesa. Continuando, a crise alimentícia obrigou á
importação do estrangeiro (via marítima e terrestre: Inglaterra,
Espanha, França, Alemanha, Norte de África e Sul de Itália). 3

E esse equilíbrio (através da importação) levou a um equilíbrio de


alimentos no país o que por si reajustou os preços dos vários
alimentos, incluindo os cereais, até 1470. 3

Voltando á situação da crise do séc. XIV, com este momento de


instabilidade surge o medo, a perda e o refúgio em Deus como
salvação de uma Peste Negra que parecia devastadora e demoníaca.

38
Tal situação obrigou moralmente proprietários alodiais, nobres e vilãos
á doação de bens ao clero, buscando com isso obter a salvação eterna,
num momento de alto sofrimento geral. Apesar da proibição régia em
relação a tais doações, a crise e o medo sobrepuseram-se e por tal, a
salvação de Deus parecia mais credível e superior que a salvação pelo
monarca. 3

Assim, ao longo desta crise, o clero cresceu abruptamente ao ponto de


na corte se queixar que se tal situação assim continuasse “todo o
Portugal estaria em suas mãos.” 3

Tendo a Igreja mais terras, teria mais imunidades pelas isenções fiscais
de que tinha direito e isso contribuiria para o enfraquecimento dos
cofres da Coroa, pois tal coisa não era muito aceitável (constante
conflito entre clero e rei). 3

De qualquer forma, o clero não podia simplesmente ver as terras


doadas ficarem vazias e por tal, através de sistemas de aforamentos
(que poderia durar vidas) pretendeu dar “vida” às terras “mortas”
(fazendo contratos de benefícios com os camponeses). 3

A consequência desta crise refletia-se na inflação do sistema


financeiro, que cada vez mais tinha de produzir mais moedas para fazer
face á crescente despesa e isso levou ao constante inflacionamento,
culminando no período de 1350-1435. 3 e 5

Com D. Afonso IV, 1 libra = 20 soldos = 240 dinheiros e 19 libras


correspondia a 1 marco. 3

Pois bem, em 1435, 1 marco valia 25 000 libras. A inflação galopante,


que piorou a partir das guerras fernandinas e da guerra da

39
independência de D. João I, condenava o sistema financeiro português.
3

Quando o pior período de inflação chegou a Portugal, o reino


mergulhava já na paz e tranquilidade (período pós-guerra e
instabilidade), mas a falta de ouro e prata apenas acentuava a crise
prolongada (viciamento da inflação). Fruto da insustentável situação
financeira, surge assim o real, uma cópia da moeda castelhana, que
vem a substituir a inflacionada moeda portuguesa. Só depois com D.
Duarte é que a crise inflacionária termina. 3

Com a crise, de alguma forma, a classe média sai beneficiada. Os


comerciantes e artesãos prosperam (aumento do comércio ao longo do
séc. XIII/XIV/XV) o que os leva a investimentos, comprando alódios e
foros, conseguindo assim ainda mais riqueza. 3 e 5

O crescimento da riqueza levou-os a uma “competição” com a nobreza.


3

O rei aproveitava a situação e aliava-se a quem mais lhe convinha,


fomentando assim as suas vontades de centralização régia. 3

As consequências políticas da crise do séc. XIV em Portugal foram


graves, o que levou a uma maior inquietação e instabilidade social,
obrigando o monarca português a aconselhar-se nas cortes com mais
frequência (maior dependência está ligada a maior período de
instabilidade. De Afonso IV a Afonso V, as cortes reuniram-se por esse
motivo. Aliás, D. João foi “eleito” numa corte). 3

O séc. XIV destaca-se a nível das mentalidades como o refúgio na


Igreja, o abraço aos franciscanos e o surgimento das procissões
flagelantes, ainda que limitadas. 3

40
O séc. XIV (meados) a XV é marcado por uma pobreza cultural, onde a
poesia e a prosa se notam mais frágeis em comparação ao séc. XIII/XIV
Mas surgem algumas obras de qualidade, como as crónicas de Fernão
Lopes, o livro de D. João I e de D. Duarte. 3

Durante o séc. XIV, a universidade sofre de problemas económicos. A


partir de 1340 surgem mais mestres estrangeiros e os lentes nacionais
recebem menos ordenado. D. Afonso IV e D. Fernando tentaram
reformar a Universidade pois muitos procuravam estudar fora. As
sucessivas transferências de Lisboa para Coimbra e vice-versa eram
sinal de inadaptação e instabilidade. No séc. XV pouco se nota da
participação da universidade na vida cultural do país (letras, arte,
ciência), sendo que os melhores profissionais revelam uma experiencia
obtida além-Pirenéus (França, Itália, Alemanha, Inglaterra). 3

2.8- Cortes

As cortes, inicialmente, constituíam órgãos consultivos que o rei


convocava para ouvir o parecer do clero e nobreza. Só a partir de 1254,

41
com as Cortes de Leiria, vemos membros do povo a ingressar nas
cortes. 5

Surgem rumores da lendária corte de Lamego, em 1143, onde D.


Afonso Henriques possa ter eventualmente sido “legitimado rei”,
embora os documentos se apresentem falsos, segundo Alexandre
Herculano. 4

Os temas de debate eram dos mais variados, desde lançamento de


impostos, quebra da moeda, promulgação de leis, mas a sua realização
estava intimamente interligada com uma situação de crise
generalizada, onde o rei mais necessitava de conselhos e ajudas para
solucionar problemas. 4

Nas cortes, os representantes dos vários Estados davam conta do seu


desagrado e o monarca tentava satisfazer as queixas e pretensões em
busca de apoio e estabilidade geral. 4

Especula-se que a origem das cortes tenha uma tradição visigótica,


onde o clero deliberava a matéria em causa e a nobreza apenas se
cingia á administração civil. 4

As primeiras Cortes em Portugal, de 1211, em Coimbra, foi uma cúria


régia (clero, nobreza) onde se manifestou a vontade régia. Dessa
assembleia (parlamento medieval) surgiu a aprovação das primeiras
leis gerais que tinham uma aspiração para futuros monarcas. Em 1211,
tudo leva a crer que fora o chanceler Julião Pais que organizara a
reunião e a ele se deva o corpo legislativo aprovado nessas cortes. 4

A 2ª assembleia realizada sucedeu-se em 1229, em Coimbra, no


reinado de Sancho II, onde estavam presentes vários bispos, priores,

42
vários fidalgos e senhores. Tinha como objetivos principais prover a
nova Sé e fomentar o povoamento da terra. 4

Em 1250, surge em Guimarães uma 3ª assembleia, onde se pretende


tratar de negócios públicos. Segundo se indica estavam presentes
bispos, ricos-homens, cavaleiros e outras pessoas. Segundo Alexandre
Herculano, esses outros homens pode significar por si a presença de
membros concelhios. 4

Depois da conquista do Algarve, Afonso III dirige-se ao norte, cuja


presença serve para firmar a sua autoridade régia aos domínios
“frágeis”, divididos ainda pela guerra civil que recentemente tinha tido
com seu falecido irmão D. Sancho II. 4

Nas cortes, comuns são as queixas do clero que se demonstrava


insatisfeito com os abusos da autoridade real quanto á tributação da
moeda e á aposentadoria (dar asilo aos senhores, que implicava muitas
despesas locais), assim como também se sentiam prejudicados pela
classe senhorial, que muitas vezes apoiava os oficiais da coroa para
hostilizar os privilégios do clero. 4

Foi neste contexto que o clero bem se deu com Afonso III, em oposição
a Sancho II, rei que apenas causava a desordem. No entanto, após
usufruir do apoio do clero, Afonso III logo se tentou livrar dele,
isolando-se num centralismo régio. 4

É com este monarca, D. Afonso III, que os concelhos ganham lugar na


discussão da administração do país. Logo no início do reinado do
monarca português se nota a impressionante participação de
mercadores nos atos públicos. 4

43
Por exemplo, na publicação da lei da quebra da moeda, em 1253, onde
o monarca manda tabelar os artigos de maior procura, nota-se o apoio
de homens de comércio e de procuradores do concelho. 4

Assim, os mercadores surgem e fazem parte do concelho régio,


traduzindo a sua nova política de equilíbrio social, que Afonso III
pretendia implementar. Surge assim a presença do povo nas Cortes de
Leiria de 1254. 4

Nesta assembleia pretendia-se tratar do “estado do reino” e para


corrigir e emendar o que poderia ser conveniente. Estas cortes
procuraram resolver problemas de origem eclesiástica (Sé do Porto),
concedeu-se um foral a Beja e procurou fixar-se um novo tributo (mais
impostos) da moeda, para evitar que esta se desvalorizasse (buscava-se
mais dinheiro e a desvalorização da moeda era um possibilidade). 4

A participação concelhia nas cortes resultava de uma maior consciência


de autonomia municipal face aos tradicionais privilégios do clero e da
nobreza. 4

A coroa aproveitará a crescente força política do 3º estado para


aumentar a sua autoridade numa aliança tática. Porém, o problema da
queda da moeda continuava presente e por tal levou a Corte a
continuar a sua reunião em Coimbra. 4

Em 1256 nota-se a presença das Cortes em Guimarães e em 1261,


encontram-se em Coimbra. 4

Nesta última corte o rei procurou estabelecer as relações entre o


próprio monarca e o clero e nobreza, ou seja procurava-se limitar os
gastos relacionados com as visitas ao rei, em que estes só devessem
visitá-lo se tivessem bom motivo para tal. 4

44
Alem disso, a locomotiva pessoal daqueles que visitariam o rei ou iam
para a reunião de cortes, deveria ser limitada consoante a riqueza do
possuidor. Por exemplo, os ricos-homens que tivessem uma riqueza
avaliada em 5.000 libras, fazia-se acompanhar por 5 cavaleiros. Além
disso surgem outras normas que regulavam o acompanhamento dos
ricos-homens, infanções e cavaleiros, quando se avistavam com o
monarca. 4

Esta medida reguladora do tamanho da locomotiva servia para


diminuir as despesas relacionadas com o direito de aposentadoria,
onde nobres e seus criados fixavam-se nas igrejas e conventos como se
fosse sua pertença. Apesar da realização de cortes dar prestigio ao
lugar, revelava-se uma dor de cabeça em termos de despesa. 4

Neste mesmo ano de 1261, o rei pretendia fazer nova cunhagem da


moeda, o que agravaria o problema monetário. Os procuradores
queixavam-se, pois receavam as consequências na vida económica
desta desvalorização. 4

As cortes de Guimarães-Coimbra (1256-1261), segundo Marcello


Caetano, são referidas como as primeiras instituições parlamentares
em Portugal. 4

As cortes de 1273, em Santarém, foram já “lecionadas” pela


administração régia devido á doença consumir o monarca: visava
resolver os problemas com o clero e destaca-se o papel do chanceler-
mor, D. Estevão Anes; o mordomo-mor, D. João de Aboim e também o
bispo de Évora, D. Durando Pais. 4

Já no governo de D. Dinis, surgem as primeiras cortes de Évora. 4

45
Em 1281, as cortes realizam-se em Guarda. Estavam presentes
prelados, cavaleiros e procuradores que desejavam resposta para
certos artigos referentes á política religiosa. Mais tarde, a corte fora
transferida para Évora onde aí as queixas foram satisfeitas. 4

Mais reuniões de assembleia se realizaram entre 1282 a 1289,


passando por Coimbra, Lisboa e Guimarães. 4

Em 1290, surgem as últimas cortes de 1290, onde se nota um clero


avultado em bens (doações, concessões), benefícios e detentores da
cultura erudita, o que por si provocava no rei uma necessidade de
limitar o poder eclesiástico, poder este que por sua vez demonstra o
seu desagrado fazendo queixas a Roma. 4

2.9- Os concelhos

46
A maioria da população vivia dos produtos da terra e seus
rendimentos, ou seja, uma sociedade agrícola, tendo a nobreza o
predomínio económico. 4

O avanço da reconquista libertava as terras rurais da devastação da


guerra, assim surge uma maior produtividade que se traduz em
excedentes que por si fomentarão o comércio. 4

A ação dos mercadores e o trabalho dos mesteres (artesãos)


contribuíram para uma economia de trocas que fazia de cada terra um
centro económico de autoconsumo, cada vez mais independente. Isso
contribui, na segunda metade do séc. XIII, a vida municipal, graças às
cartas de foral que o rei e certos particulares concediam a estas
povoações de cariz autónomo. 4

A autonomia local era um direito sagrado para a visão municipalista,


que por si servia como aliada da coroa para centralização do poder
monárquico, como já se tem vindo a referir ao longo do relatório,
funcionando também como vetor de desenvolvimento regional. 4

Este surto de concelhos como células da vida comunitária deu-se no


séc. XII. Especula-se que sua existência remonta os romanos ou até a
ocupação muçulmana, mas é no processo de reconquista que estes
povoados independentes surgem, devido em grande parte, á sua
capacidade de autonomia. 4

Segundo Sánchez-Albornoz, o município hispânico não foi um órgão


puramente administrativo mas antes um produto social da Reconquista
cristã, imposto pelas circunstâncias do povoamento. A sua formação
dependia de condições políticas e militares (necessidade de povoação e
defesa) e só depois surge a economia e os privilégios sociais

47
(autossustentável e dinamizador regional) que culminam na outorga de
cartas de foral. 4

Definir município e a sua origem torna-se uma questão um pouco


complexa e de difícil definição. 4

A instituição do concelho assentava num foral (carta) ou diploma que


regulava a administração, as relações sociais e os direitos e encargos
dos moradores. 4

Marcello Caetano refere a esta instituição como uma “lei orgânica


local”, onde se fixava limites territoriais, garantia o direito á
propriedade e determinava os tributos e prestações que os vizinhos
(membros da comunidade) deviam pagar ao outorgante. 4

Estas “cartas de privilégios” (ou forais/diplomas) impunham as leis da


comunidade, defendiam os foros municipais contra opressões e abusos
da classe senhorial e dos oficiais régios e o nome dos confirmantes
garantia a validade e eficácia do diploma. 4

Ou seja, a carta de foral pressupunha a existência de uma terra e por aí


surge o concelho. 4

Era uma povoação individualizada que para defesa dos direitos de seus
membros carecia de órgãos próprios de administração, cingindo-se á
assembleia dos vizinhos e dos magistrados. Apesar do foral não
expressar o surgimento independente do concelho, os privilégios
indiretamente os levava naquela direção (autonomia). 4

Além da carta de foral/diplomas, surgem as cartas de povoação que


garantem as liberdades às pessoas e seus bens. 4

48
Questiona-se qual o modelo-tipo dos forais, surgindo o modelo do foral
de Coimbra de 1111, e os forais concedidos por D. Afonso Henriques
em 1179 (Coimbra, Santarém e Lisboa) que tiveram um objetivo
defensivo contra os almorávidas e também visaram a incrementação
populacional. 4

Segundo Alexandre herculano tipificam-se 3 formas de concelhos: os


“rudimentares”, os “imperfeitos” e os “completos”. 4

Estes diferem na capacidade administrativa e número de efetivos na


magistratura local, ou seja, menos cargos administrativos é sinal de
maior primitividade e menor desenvolvimento concelhio. Os menos
administrados são os “rudimentares”, seguindo-se os “imperfeitos” e
terminando no tipo de concelho mais aperfeiçoado, os “completos”. 4

Além disso, surge uma outra definição tipológica que procura estipular
diferentes tipos de concelho: são os concelhos rurais e os concelhos
urbanos. 4

Os concelhos rurais eram dotados de pouca autonomia, onde a base


económica resumia-se a contratos enfitêuticos, ou seja, um contrato
de arrendamento. Em suma, eram povoações menores com um
pequeno número de povoadores (concentram-se mais no Norte do
país). 4

Os concelhos urbanos cobrem todo o reino e formavam 5 grupos de


principais povoações, mais administrados, de maior dimensão e
complexidade económica. 4

A outorga de “cartas de foro” era um importante momento de


independência concelhia, onde a vida política, social e económica era

49
regulada regionalmente, incrementando a sua independência face ao
cada vez mais obsoleto sistema senhorial. 4

50
2.10- Organização municipal (séc. XII/XIII)

O cargo supremo, de alcaide/pretor, era nomeado pelo rei e tinha


sangue nobre, pertencendo aos homens bons da cidade. Já o juiz
representava o poder civil e militar da coroa. 4

Aliás, em Lisboa, havia dois alcaides (da terra e do mar). Mais tarde,
com D. Dinis o alcaide do mar é substituído pelo cargo de Almirante-
mor. 4

Em 1179 surge o alvazil que se encarregava da administração local. O


número variava consoante as localidades. Por exemplo, em Santarém
havia 4, no final do séc. XII e em Lisboa mais havia. 4

Temos também presente a figura do almotacé, que regulava o


abastecimento das povoações (comércio e saúde pública). 4

Mais tarde as terras começaram a possuir procuradores, estes


escolhidos entre os homens-bons (vilãos que se destacavam por suas
posses), assim como os juízes, vigários e outros oficiais ligados ao fisco
e outros campos administrativos. 4

Com Afonso III, aumentaram os funcionários incumbidos da cobrança


de impostos. 4

Até D. Afonso IV, a administração da justiça era competência concelhia,


por meio de juízes eleitos anualmente, mas os desacordos nas decisões
tomadas e a falta de legislação local, tornava a aplicação do direito
difícil. Quando as medidas era do desagrado do povo dos concelhos,
estes recorriam da decisão aos oficiais régios da comarca/região que
ouviriam as queixas. 4
51
Ou seja, havia uma dificuldade acrescida dos juízes em fazer os locais
cumprir as suas determinações. Muitas vezes, colidia-se as normas
jurídicas com os interesses familiares e locais o que levou os moradores
a apresentar a situação ao monarca. 4

Depois, a situação da Peste Negra agravou a capacidade efetiva da


administração local de legislar e manter a ordem o que por si obrigou
ao monarca português, D. Afonso IV, a nomear os “juízes de fora” para
muitas cidades, vilas, lugares para “implementar” uma melhor
administração que permita o correto funcionamento. 4

Fruto da decisão do monarca português, os concelhos reclamam da


decisão régia, que claramente afetava a autonomia adquirida até
àquele momento, ou seja, seus foros (concedidos por rei ou
particulares) tinham sido violados. 4

Como os juízes de fora não eram da sua confiança, os concelhos


recusavam-se a pagar-lhes salário e esse agravo foi transmitido nas
cortes de 1352, embora tenha ficado decidido que os corregedores
(juízes de fora) se manteriam. 4

Nessas cortes concedeu-se às povoações que elegessem os seus juízes


e alvazis, mas o tema dos “juízes de fora”, como já mencionado, não
fora tocado. 4

D. Pedro manteve a proteção política de seu pai quanto á presença de


“juízes de fora”, onde claramente se notava que a nomeação régia se
sobrepunha às nomeações concelhias (mais notório que no governo de
seu pai). 4

Nas cortes de Elvas de 1361, o povo manteve o seu desagrado contra


os juízes de fora, justificando que “na terra havia homens capazes de

52
exercer o referido ofício”, não devendo as localidades aceitar os juízes
que a Coroa impunha. 4

Em Elvas (1367) o monarca português, D. Pedro, prometera respeitar


os foros locais, mandando eleger anualmente os juízes e alvazis, nos
concelhos. Ordenou também que se guardassem os foros e costumes
do município e não se criassem novos magistrados de nomeação régia.
4

53
Conclusão

A governação dos descendentes de D. Dinis foram marcados pela


situação de uma grave crise europeia que se arrastou para Portugal
(governo de D. Afonso IV) e tal crise fora acompanhada por um
momento de uma certa estabilidade, presidida por um louco “viúvo”
que tanto assustava os seus mais próximos pelo seu feitio doentio (D.
Pedro). Com D. Fernando, os desejos da grandeza assombraram o reino
português, condenado á miséria pela devastação das pilhagens e dos
custos da manutenção das pretensões bélicas fernandinas.

O séc. XIV, mais do que uma crise marcada pela peste, devastação
demográfica, guerras, devastação dos campos agrícolas, inflação
monetária, marcou Portugal por um período negro, uma pausa da
ascensão (cultural e política) que se fazia sentir com D. Afonso III e D.
Dinis e mais tarde com D. João I, mestre de Avis.

Este momento do meio, um período de azares e más decisões, além de


um visível empobrecimento cultural, foi de mão dada com a europa na
construção da ideia de “regressão” (económica, demográfica, cultural)
perante o “progressivo” avanço para o período Renascentista.

No entanto, é de ressaltar que fora este momento de regressão o


momento anterior ao humanismo, onde através da escuridão da dor e
das desgraças se encontrou uma luz, uma solução para os problemas e
Ceuta acabava por ser parte do plano dessa solução, ao que muitos
marcam como o inicio do maior período áurico português, os
Descobrimentos (séc. XV-XVI).

54
Bibliografia

1. Teixeira, Nuno Severiano, et al. História Militar de Portugal. A esfera


dos livros, [Em linha] disponível em
https://www.researchgate.net/profile/Joao_Monteiro45/publication/3
26958089_Da_Fundacao_ao_Principe_Perfeito_1096-
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2. Sousa, Bernardo Vasconcelos. (2009). D. Afonso IV.  Editora Temas e


Debates

3. Marques, A. H. de Oliveira. (1998). Breve História de Portugal.


Lisboa, Editorial Presença

4. Serrão, Joaquim Veríssimo. (1979). História de Portugal (1080-1415)


– Estado, Pátria e Nação. Editorial Verbo

5. Apontamentos de História Medieval de Portugal

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