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O LOBO MAU

Adriane Lima

ERA UMA VEZ um lobo que vivia numa floresta; era a coisa mais feia e assustadora que se
podia imaginar. Ninguém gostava dele, os caçadores menos ainda. Muitos caçadores o procuravam pela
floresta e queriam matá-lo assim que o encontrassem. E sua fama de terrível e assustador se espalhou de
tal modo pela floresta e arredores, que logo passou a ser chamado por todos de Lobo Mau.
Um dia, tendo andado por três noites e três dias pela floresta, sem comer nada e cansado de
fugir de vários caçadores enfurecidos, encontrou uma linda menininha de chapeuzinho vermelho que
andava sozinha pela floresta carregando uma cestinha. Assim que o lobo sentiu um cheiro de bolo que se
misturava a um delicioso cheiro de criancinha, ele ficou louco de vontade de comê-la com bolo e tudo,
mas não ousou fazer isso naquele momento, pois sabia da presença de alguns lenhadores na floresta.
Andou calmamente até a apetitosa menininha e perguntou mansamente, para não assustá-la, aonde ela
ia. E a menina, que ignorava ser perigoso parar para conversar com um lobo, respondeu:
— Vou à casa da minha avó, para levar-lhe um bolo e um potezinho de manteiga que mamãe
mandou.
— Ela mora muito longe? — quis saber o Lobo.
— Mora, sim! — respondeu a menina. —Mora depois daquele moinho que se avista lá longe,
muito longe, na primeira casa da aldeia.
— Muito bem — disse espertamente o Lobo. — Eu também vou visitá-la. Eu sigo por este
caminho aqui, e você por aquele lá. Vamos ver quem chega primeiro.
O Lobo saiu correndo a toda velocidade pelo caminho mais curto. Ele conhecia muito bem
aquela floresta, sabia de atalhos e passagens secretas que ninguém conhecia e de tanto correr de
caçadores era o melhor e mais rápido corredor daquela floresta.
E assim, o Lobo não levou muito tempo para chegar à casa da avó. E bateu suavemente na
porta: toc, toc.
— Quem é? — perguntou a avó.
— É a sua neta, vovó! — falou o Lobo, disfarçando a voz. — Trouxe para a senhora um bolo
e um potezinho de manteiga, que minha mãe mandou.
A boa avozinha, que estava acamada porque não se sentia muito bem, gritou-lhe:

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— Levante a aldraba, que o ferrolho sobe.
O Lobo fez isso e a porta se abriu. Ele lançou-se sobre a boa mulher e a devorou num segundo,
pois fazia mais de três dias que não comia. Em seguida, fechou a porta e se deitou na cama da avó, à
espera da doce menina de chapeuzinho vermelho.
Quanto mais ela demorava, mais sua fome aumentava. Ele estava ansioso. Teve vontade de ir
até a porta olhar se ela estava chegando, mas decidiu esperar deitado mesmo, pois com tanta correria
sentia-se um pouco cansado. Passado algum tempo ela bateu à porta: toc, toc.
— Quem é? – Perguntou o lobo disfarçando a voz e fingindo ser a vovozinha adoentada.
A menina respondeu:
— É sua neta, Chapeuzinho Vermelho, que traz para a senhora um bolo e um potezinho de
manteiga, que mamãe mandou.
O Lobo gritou-lhe, adoçando um pouco mais a voz:
— Levante a aldraba, que o ferrolho sobe.
A inocente menininha fez isso e a porta se abriu.
O Lobo, vendo-a entrar, ficou ainda mais faminto e disse-lhe, escondido sob as cobertas:
— Ponha o bolo e o potezinho de manteiga sobre a arca e venha deitar aqui comigo.
Enquanto Chapeuzinho Vermelho despia-se para se deitar com o lobo disfarçado de vovó, o
lobo já estava salivando, sua fome aumentava ainda mais e ele tinha vontade de devorá-la rapidamente,
mas esperou pacientemente a menina curiosa fazer algumas perguntas para que ela não fugisse
correndo.
E a menina de chapeuzinho perguntou:
— Vovó, como são grandes os seus braços!
— É para melhor te abraçar, minha filha! – respondeu o lobo faminto.
— Vovó, como são grandes as suas pernas!
— É para poder correr melhor, minha netinha!
— Vovó, como são grandes as suas orelhas!
— É para ouvir melhor, netinha!
— Vovó, como são grandes os seus dentes!
— É para te comer!
E assim dizendo, o malvado e esfomeado lobo se atirou sobre a menina e a comeu.

2
Quando ele se viu de barriga cheia, satisfeito, e vendo aquela cama tão macia e aconchegante,
ele tornou a deitar-se e adormeceu, profundamente, pondo-se a roncar alto, forte, fazendo estremecer
a pequena casinha da vovó.
Ora, sucedeu que um caçador ia passando perto da casa:
— Oh! – exclamou ele. — Como ronca a avozinha! Vou ver se ela não estará passando mal.
Entrou na casa, foi até o quarto e ao chegar perto da cama, viu que era o lobo que roncava tão
alto.
— Há, há! Já te pego seu patife! – falou ele. — Há muito tempo que te procuro.
E já ia dar-lhe um tiro com sua espingarda quando percebeu que o lobo estava com uma barriga
imensa e tinha evidentemente comido a avozinha, mas imaginou que talvez ainda houvesse um meio de
salvá-la. Em vez de atirar, ele passou a mão numa enorme tesoura e começou a cortar a vasta pança de
Sua Excelência, o Lobo Mau, e este dormia tão pesadamente que continuava a roncar sem nada
perceber. Mal havia o caçador dado duas tesouradas quando viu aparecer um chapeuzinho vermelho;
mais dois cortes e a menina, libertada, saltou por terra gritando:
— Oh, que medo eu tive! Estava tão escuro dentro da barriga do lobo!
Logo em seguida veio a avó, ainda viva, mas mal podendo respirar. E então a menina de
chapeuzinho vermelho foi correndo apanhar um punhado de pedras, com as quais encheram a barriga do
lobo.
Quando o terrível Lobo Mau acordou e viu todo mundo ali ele, ainda meio sonolento, não
entendeu nada. Mas quando olhou para o caçador armado com aquela enorme espingarda, assustado, ele
quis saltar da cama para fugir. Mas as pedras eram tão pesadas, que ele desabou ao chão com estrondo,
deu dois gemidos de dor, um pequeno uivo, um suspiro esquisito e morreu.
A partir de então, dizem que a floresta e seus arredores viveram felizes, felizes para sempre.

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