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Gilberto Safra
É também descrita por Teresa a forma com que se deve Falar com o divino,
para ele deve ser através de palavras as quais chama de "palavras de amor" – é a palavra
que brota da experiência, a qual é benéfica para conversar com o divino. A autora faz
uma discriminação entre a palavra produzida e a palavra que nasce dessa experiência.
Safra coloca que não se deve, para Teresa, usar palavras que foram criadas pelo
intelecto "Não é uma palavra conceitual, ela é poética e ela é justa á experiência, de fato
aí o individuo se diz".
Quando ela viu a estátua de Cristo teve um momento em que foi atravessada
por uma série de experiências como posto, a estátua foi um primeiro momento em que
teve uma experiência ilética– a estátua lhe fala sobre o divino – segundo Safra aqui
Teresa coloca que esse movimento refere-se à sua religiosidade, que tem um sentido
espiritual, que é atravessada por algo na direção desse sentido, que é o seu projeto
fundamental, quando ela vive tais êxtases sente-se arrancada desse projeto, Safra
completa colocando que as pessoas que têm uma experiência mística rompem com suas
religiosidades, assim, essa perda do sentido de si é o que caracteriza sua experiência
mística e que difere da religiosidade
Então se percebe que a oração deixa de ser para a autora uma tentativa de
caminhar para a interioridade, de explorar os espaços sem fim da interioridade. Mas a
oração passa a ser um modo de escavar-se; um modo de manter a abertura ontológica
em direção ao outro. A oração deixa de ter esse caráter de travessias na subjetividade,
para ser esse preparar-se para a experiência ilética, para a visita. (Safra ressalta que há
uma mudança completa na situação.)
Seguindo, a autora descreve sobre o lugar do amor, O amor para Teresa não é
só um sentir, é um sentir que abre para o transcendente, o amor fura, o amor retira de si
e toda a questão da mística, segundo ela, gira ao redor do amor como elemento
"descentralizante" do ser humano, ela compreende também o próprio amor divino como
sendo expressão de um esvaziamento, ou seja, o homem também tem que se esvaziar
para ir ao encontro do divino.
Ao longo do livro Teresa trabalha com várias metáforas e uma delas é falar da
alma como um jardim, Toda idéia de jardim permeia o texto, É a idéia do cultivar: "Com
auxilio de Deus e com os bons jardineiros devemos procurar que cresçam as plantas,
cuidando de as regar para que dêem flores de perfume suave a fim de deliciar esse
senhor nosso.” E assinala que a rega são as lagrimas de amor, sendo o 4 estágio
associado ao regar. Já o primeiro estágio, reflete o que foi parte de sua vida, em que há
um esforço, em que há operação, não é uma oração que surge pela visita, mas ela é
conquistada pela interiorização e pela tentativa de se integrar-se em si mesmo.
Na quarta e quinta parte do Livro da Vida, a orcao deixa de ser o foco principal
e a autora passa a descrever a experiência do inferno. Para Safra a descrição de teresa é
baseado em dois eixos: tempo e espaço.
Nesta experiência, Teresa procura criar uma imagem, (que para ela não é bem
imagem) em que há experiência da presença do divino em tudo, por isso se caracteriza o
divino como Ser. nesta visão ela vai trazer a imagem do diamante, lugar claríssimo,
lugar de espelhos,a autora fará uso desta imagem para falar da criação; esta imagem se
conecta com uma outra, de uma visão na qual ela enxerga a alma também como uma
espécie de diamante, guardando esta relação do ser divino com a alma. Teresa vai
enxergar a alma como uma organização espacial, ela diz que é como um castelo, castelo
às vezes de vidro, de cristal, tendo diversos aposentos que se organizam em forma
concêntrica. Assim que ela descreve a experiência da alma e então vai numa única visão
enxergar esses diversos aposentos, os quais são os diversos espaços da alma humana.
Ela diz: “No centro desse castelo está o divino” a partir disso começa a
descrever toda uma espacialidade dos diferentes aposentos com os estados de alma e
com o percurso que o indivíduo toma até alcançar a experiência que ela viveu. "Então
descreve a alma como esse castelo, como esse diamante em relação com o divino e esta
visão se torna um único livro, que são “As sete moradas”, no qual ela vai descrever a
alma como esse castelo e vai falando de cada uma das etapas, cada uma das capas,
constituindo a alma humana." (Safra)
"Bem se vê que é tolerável, pode praticar-se com descanso, proporciona grande
felicidade para viverem nesta paz as que quiserem a sós fluir de Cristo, seu esposo. Sim,
porque é isso que hão de sempre pretender viver a sós com o só."
Aqui está toda a metafísica de Teresa, “viver a sós com o só” é chegado ao
ponto em que a solidão é um alvo a ser alcançado, sendo esta, a possibilidade de estar só
com aquele que é só, ou seja, com esse percurso ela alcança a possibilidade de estar só à
presença do divino. O só, o silêncio, passa a ser experiência da face do divino, presença
desse Outro absoluto.
Então, viver só é um modo pelo qual um indivíduo vai se aproximando daquele
que é só, a divindade então vive numa solidão, e esta é a imagem do divino para Teresa,
numa solidão esperando a companhia dos humanos, assim sendo, essa é a perspectiva da
visão " do Cristo dela"; é um Deus que vive em precariedade, nessa menção de solidão,
um Deus que sofre por amor. Então a gente vê que a solidão e o estar só adquire para ela
um estatuto de sagrado, de menção fundamental da divindade. O divino se encontra na
solidão porque ele é solidão. Teresa está assinalando uma possibilidade de acolher
aquilo que é mais originário no ser humano, Winnicott vai descrever a questão da
solidão essencial como uma dimensão originária do ser humano paradoxal, pois ela só é
vivida como solidão essencial porque o indivíduo vive em estado de dependência
absoluta, e esta constitui um núcleo que jamais é comunicado, que jamais alcança
relação. E para Teresa, então, esta solidão fundamental, esta solidão essencial, é o trono
do rei, é o lugar da deidade.
"Então todo o trabalho dela, adquire um sentido em que as suas
diferentes características, seu modo de ser, as dificuldades que ela encontrou, de repente
são superadas nesse percurso que ela fez para alcançar um sentido fundamental na
própria visão da divindade que ela alcança."(Safra), no qual podemos ver a integração
dos elementos mais fundamentais das agoniais mais originárias até a dimensão de como
ela alcança a experiência de espiritualidade: Sustentar a solidão como experiência de
amor.