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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2016.0000631895

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Incidente de Resolução de

Este documento foi liberado nos autos em 31/08/2016 às 16:06, é cópia do original assinado digitalmente por LUCIANA ALMEIDA PRADO BRESCIANI.
Demandas Repetitivas nº 2063941-31.2016.8.26.0000, da Comarca de Tatuí, em que é
requerente MUNICÍPIO DE TATUÍ, é requerido MM JUIZ DE DIREITO DO
SERVIÇO ANEXO DAS FAZENDA DA COMARCA DE TATUI.

ACORDAM, em Turma Especial - Publico do Tribunal de Justiça de São


Paulo, proferir a seguinte decisão: "Não admitiram o incidente V.U.", de conformidade

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com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


LUCIANA BRESCIANI (Presidente), LUIS GANZERLA, ERBETTA FILHO,
COIMBRA SCHMIDT, SIDNEY ROMANO DOS REIS, WANDERLEY JOSÉ
FEDERIGHI, VENICIO SALLES, FERMINO MAGNANI FILHO, CAMARGO
PEREIRA, PAULO ALCIDES, MOREIRA DE CARVALHO, LUIZ FELIPE
NOGUEIRA, RUBENS RIHL, LEONEL COSTA, PAULO BARCELLOS GATTI,
HENRIQUE HARRIS JÚNIOR, PAULO GALIZIA E FLORA MARIA NESI TOSSI
SILVA.

São Paulo, 26 de agosto de 2016.

LUCIANA ALMEIDA PRADO BRESCIANI


RELATOR
Assinatura Eletrônica
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Turma Especial de Direito Público

Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas n° 2063941-31.2016.8.26.0000


Suscitante: MUNICÍPIO DE TATUÍ
Interessado: MM JUIZ DE DIREITO DO SERVIÇO ANEXO DAS FAZENDAS

Este documento foi liberado nos autos em 31/08/2016 às 16:06, é cópia do original assinado digitalmente por LUCIANA ALMEIDA PRADO BRESCIANI.
DA COMARCA DE TATUÍ

VOTO Nº 17.776

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Incidente de resolução de demandas repetitivas Ausência de
correlação entre as razões do incidente e a efetiva controvérsia
existente entre as C. Câmaras de Direito Público deste E.
Tribunal Questão processual suscitada em recurso ordinário
perante o C. Superior Tribunal de Justiça Incidente não
admitido.

Trata-se de incidente de resolução de demandas


repetitivas suscitado pelo Município de Tatuí objetivando a fixação de tese
jurídica acerca da extinção de execuções fiscais sem resolução do mérito
em decorrência do pequeno valor da dívida exequenda.

O suscitante narra que inúmeras execuções


fiscais, ajuizadas perante o Serviço Anexo das Fazendas da Comarca de
Tatuí, foram extintas sem resolução do mérito, por ausência de interesse de
agir, ante o valor irrisório das causas.

Rejeitados os embargos infringentes interpostos


com base no artigo 34 da Lei nº 6.830/1980, o Município impetrou
mandados de segurança perante este E. Tribunal, sustentando a violação de

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direito líquido e certo previsto no artigo 5º, XXXV, da Constituição


Federal.

À medida que as ações mandamentais,


distribuídas para as 14ª, 15ª e 18ª Câmaras de Direito Público, tiveram

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desfechos distintos, o Município de Tatuí suscita o presente Incidente de
Resolução de Demandas Repetitivas visando à fixação de tese unívoca
sobre a questão de mérito, vale dizer, sobre a extinção, sem resolução do

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mérito, das execuções fiscais de pequeno valor.

Com fundamento no artigo 976 e ss. do Novo


Código de Processo Civil, apresentou petição endereçada ao i.
Desembargador Presidente deste E. Tribunal, pleiteando a suspensão de
todos os processos correlatos até o julgamento do incidente. Enumerou os
mandados de segurança já julgados e os que aguardam distribuição.
Apresentou cópias das petições iniciais, dos respectivos v. acórdãos
proferidos, bem como dos recursos ordinários interpostos em face da
denegação da segurança.

Distribuído o Incidente a esta Relatora, os autos


foram remetidos à mesa para o juízo de admissibilidade pelo Colegiado, na
forma dos artigos 981 do NCPC e 192, §3º, I, do Regimento Interno deste
E. Tribunal.

É o relatório.

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Trata-se de incidente de resolução de demandas


repetitivas suscitado pelo Município de Tatuí objetivando a fixação de tese
jurídica acerca da extinção de execuções fiscais sem resolução do mérito
em decorrência do pequeno valor da dívida exequenda.

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De início, mostra-se oportuna a explicitação das
premissas adotadas neste juízo de admissibilidade, considerando (i) que o
incidente de resolução de demandas repetitivas vem reconhecido pelos

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autores como a maior novidade ou a grande alteração a ser implementada
pelo NCPC1 e (ii) que o seu processamento, disciplinado nos artigos 976 e
ss. do Código de Processo Civil de 2015 e nos artigos 191 e ss. do
Regimento Interno deste E. Tribunal, ainda carece de detalhada
regulamentação.

Na dicção legal, o cabimento do incidente


depende da verificação de dois pressupostos simultaneamente:

I efetiva repetição de processos que contenham


controvérsia sobre a mesma questão unicamente de direito;
II risco de ofensa à isonomia e à segurança
jurídica.

Originariamente chamado de “incidente de


coletivização”, o instituto foi idealizado com natureza preventiva,
conforme se afere da exposição de motivos elaborada pela comissão de
1
Cf. OLIVEIRA, Guilherme J. Braz, Técnicas de uniformização da jurisprudência e o incidente de
resolução de demandas repetitivas, in Revista do advogado, ano XXXV, nº 126, maio de 2015, p. 107.

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juristas:

[...] Criou-se, com inspiração no direito alemão,


o já referido incidente de Resolução de Demandas Repetitivas, que
consiste na identificação de processos que contenham a mesma questão de

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direito, que estejam ainda no primeiro grau de jurisdição, para decisão
conjunta.
O incidente de resolução de demandas repetitivas

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é admissível quando identificada, em primeiro grau, controvérsia com
potencial de gerar multiplicação expressiva de demandas e o correlato
risco da coexistência de decisões conflitantes.

No entanto, para Daniel Amorim Assumpção


Neves, a redação aprovada afasta essa realidade a exigir a existência de
múltiplos processos, dando a entender que a questão jurídica deve ser
enfrentada e decidida em diversos processos antes de ser instaurado o
incidente processual2.

O segundo aspecto de sua natureza preventiva diz


respeito à exclusão, durante o processo legislativo, da regra expressa de
que o incidente somente poderia ser suscitado na pendência de qualquer
processo de competência do tribunal. Não obstante a divergência entre os
autores, tem-se que, a partir de uma interpretação sistemática, a retirada de
regra expressa do texto final do Novo CPC não seria apta a mudar tal
exigência, o que se pode concluir da previsão contida no art. 978,
parágrafo único, do Novo CPC, que prevê a competência do órgão
2 Cf. Novo código de processo civil: lei 13.105/2015, Rio de Janeiro, Forense, 2015, p.

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julgador do incidente para o julgamento do recurso, remessa necessária


ou processo de competência de onde se originou o incidente.

Na hipótese, o suscitante afirma que, diante das


decisões conflitantes das Câmaras de Direito Público e da

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imprevisibilidade das decisões sobre a mesma questão única de direito,
vislumbra-se risco de ofensa à segurança jurídica.

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De forma suficientemente clara, sua
fundamentação circunscreve-se à questão da extinção de ofício das ações
de pequeno valor. Tanto assim, invoca o enunciado da Súmula 452 do C.
Superior Tribunal de Justiça e sustenta afronta ao artigo 5º, XXXV, da
Constituição Federal, quer pelo condicionamento do acesso ao Poder
Judiciário ao valor atribuído à causa, quer pelo óbice ao exercício do
próprio direito tutelado, porque somente se admite a cobrança pela via
judicial. Inegavelmente, o Município pretende a inversão das decisões que
extinguiram as execuções fiscais propostas.

Ocorre que, bem analisando os v. acórdãos


proferidos por este E. Tribunal, a divergência jurisprudencial consiste,
antes, em questão processual sobre o cabimento de mandado de segurança
contra decisão que julga embargos infringentes. O r. entendimento da C.
18ª Câmara de Direito Público refere à inadequação da via eleita,
consignando a inadmissibilidade do uso da writ constitucional como
substitutivo de recurso.

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Nessa medida, impõe-se reconhecer que a


controvérsia apontada pelo suscitante é de mérito, ao passo que a
divergência efetivamente existente diz respeito à questão processual.

Em princípio, essa diferenciação não pode ser

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ignorada, porque o julgamento do IRDR ocorrerá [...] de forma objetiva,
i.e., dissociada da demanda ou recurso no qual se originou. Após a fixação
da tese é que a ação será efetivamente julgada pela corte, para aplicação

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do precedente aos casos concretos de maneira específica.

Ora, mais do que a resolução da demanda do


Município de Tatuí, o incidente visa a fixar tese jurídica de sorte a vincular
todos os demais casos que estejam sob a competência territorial do
tribunal julgador.

Nessa medida, não parece oportuna a substituição


de ofício da tese controvertida, porque, não bastasse a ausência de
correspondência entre as razões do incidente e a controvérsia neste E.
Tribunal, o Município de Tatuí interpôs recurso ordinário, com fundamento
no art. 105, II, b, da CF, contra os v. acórdãos da C. 18ª Câmara de Direito
Público (fls. 384/389 e 406/411).

Nesse contexto, vislumbra-se segundo óbice ao


conhecimento do incidente com substituição da tese, à medida que a
questão da admissibilidade da ação mandamental foi devolvida ao C.
Superior Tribunal de Justiça.

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Dispõe o artigo 976, §4º, do Código de Processo


Civil que é incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas
quando um dos tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva
competência, já tiver afetado recurso para definição de tese sobre questão

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de direito material ou processual repetitiva.

Na interpretação de Cassio Scarpinella Bueno, a

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norma transcrita veda a instauração do incidente quando já houver
afetação do recuso extraordinário ou recurso especial repetitivo sobre a
mesma questão, de direito material ou processual, perante o STF ou o STJ,
respectivamente. O que ocorrerá, nesses casos, é que a decisão a ser
proferida por aqueles Tribunais no âmbito daqueles recursos quererá
preponderar a todos os demais Tribunais e magistrados da primeira
instância, nos termos da parte final do inciso II do art. 927, tornando
desnecessário, por isso mesmo, outro segmento recursal tirado do próprio
incidente (art. 987) para atingir o mesmo objetivo3.

É certo que a hipótese em tela não trata


rigorosamente de recurso excepcional de cunho repetitivo. Por outro lado,
tem-se que a admissão do presente incidente não só implica o
conhecimento de questões não suscitadas pela parte no instrumento, como
também atinge matéria devolvida em recurso interposto perante Tribunal
Superior.

Por fim, é relevante ressaltar o que dispõe o §3º


3 Cf. Novo código de processo civil anotado, São Paulo, Saraiva, 2015, pp. 614-5.

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do artigo 976 no sentido de que a inadmissão do incidente de resolução de


demandas repetitivas por ausência de qualquer de seus pressupostos de
admissibilidade não impede que, uma vez satisfeito o requisito, seja o
incidente novamente suscitado.

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Ante o exposto, pelo meu voto, pronuncio-me
pela inadmissibilidade do presente incidente.

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LUCIANA ALMEIDA PRADO BRESCIANI
Relatora

Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas nº 2063941-31.2016.8.26.0000


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