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Parte I
No dia 10 de Janeiro de 2013, o mandatário de Amílcar (A.) entregou uma petição inicial em que
requeria ao tribunal da Comarca de Lisboa:
1) A condenação de Bernardo (B.) a entregar-lhe 35.000€. Na parte que dizia respeito à matéria
de facto, o Autor referia apenas que a quantia lhe era devida “a título de responsabilidade civil,
pois o Réu causou muitos danos ao Autor” (art. 2.º da petição inicial)., e quanto ao Direito
invocava apenas o art. 483.º do Código Civil (CC);
2) A condenação de B. a pagar-lhe 2.000€, que este lhe devia por efeito da celebração entre as
partes de um contrato de compra e venda do relógio da mãe de A., a 23 de Dezembro de 2012;
Depois de ter sido citado, B. contacta o seu advogado e, aconselhado por este, opta por não apresentar
contestação, mas junta a procuração forense 15 dias depois da citação.
O juiz profere imediatamente sentença: (i) condena o réu a pagar os 35.000€ de indemnização e os
3.000€ doados a A., com fundamento no facto de B., ao não se ter defendido, ter assumido que o A.
tinha razão; e (ii) absolve o réu do pagamento do preço do relógio, com fundamento na nulidade do
contrato, nos termos do art. 892.º CC (venda de bem alheio).
Tendo sido notificado da sentença no dia 24 de Abril de 2013, B fica furioso com o seu advogado, e A.
fica furioso com o juiz, por ter absolvido o réu de um dos pedidos.
1. Analise a possibilidade de formulação dos dois primeiros pedidos de A na mesma acção. (3 v.)
2. B. tem razão em culpar o seu advogado pela sua condenação a pagar a indemnização de 35.000€,
por o ter aconselhado a não contestar? (2.5 v.)
3. Teria A. razão, se requeresse a impugnação da sentença por nulidade, na parte em que absolve o
réu do segundo pedido? Supondo que sim, que meio deveria usar para o fazer? (2.5 v.)
v.s.f.f.
Parte II (continuação)
1) O reconhecimento da sua propriedade sobre a casa onde A. vivia, alegando que a havia
adquirido no início do ano, através de um contrato de compra e venda, celebrado com A..
2) O reconhecimento de que não teria de pagar a A. os 3.000€ alegadamente doados (v. Parte
I), porque se tratou de uma brincadeira na ceia de Natal, ou seja, de uma declaração não séria,
nos termos do art. 245.º CC.
Tendo sido citado, A. apresenta contestação, na qual: (i) invoca que a doação feita por B. não se tratou
de uma brincadeira, tendo antes sido dito de forma muito séria; (ii) alega que, de qualquer forma, o
tribunal não pode decidir a favor do Autor, sob pena de contrariar a decisão anterior; por fim, (iii)
confessa, na própria contestação, que vendeu a casa a B. no início do ano.
Tendo o juiz dispensado a audiência preliminar, profere despacho saneador, e termina com a fixação da
base instrutória. Na base instrutória foram incluídos apenas dois quesitos:
1. A declaração feita pelo Autor, segundo a qual ofereceria 3.000€ à ré, foi feita com falta de
seriedade?
2. O contrato de compra e venda da casa, entre o Autor e o Réu, foi celebrado?
Na sequência da notificação das partes do despacho saneador, B., que não tinha apresentado rol de
testemunhas nem requerido quaisquer meios de prova na petição inicial, pretende agora: i) apresentar
como testemunha a mãe de A., que foi a única pessoa, para além das Partes, que assistiu à conversa
sobre a doação na ceia de Natal, para provar que tudo havia sido uma brincadeira; ii) apresentar como
testemunha um amigo comum de A. e B., que tomou conhecimento de todas as negociações para a
venda da casa, para provar a celebração do contrato.
4. Qualifique os pontos (i) e (ii) da defesa do réu A., e identifique as suas consequências. (2.5 v.)
5. A invocação por A. de que a declaração negocial de B., para doar, não pode ser considerada
como “não séria” nesta segunda acção procede? (3 v.)
7. Pode A. apresentar o rol de testemunhas no momento em que o quer fazer? Se fosse advogado de
B., o que diria acerca da apresentação destas testemunhas como único meio de prova para provar
cada um dos quesitos? (2.5 v.)
CRITÉRIOS DE CORRECÇÃO
Nota I: à identificação da cumulação simples sem justificar é atribuída cotação de 0,3 v (em 1 v.);
Nota II: à enumeração destes requisitos sem verificação aprofundada do seu preenchimento no caso
concreto (ex. referir a conexão objectiva sem dizer se existe no caso em análise, e porquê), não será
atribuída cotação superior a 0.2 v (em 1 v.). A verificação de alguns requisitos no caso concreto, mas não
de outros, implica uma diminuição proporcional da cotação;
Nota III: para verificar a compatibilidade processual é necessário, primeiro, determinar qual o tribunal
competente - em razão da nacionalidade, hierarquia e matéria - para conhecer cada um dos pedidos, e
determinar qual a forma de processo que cada um dos pedidos seguiria. Só após este processo é possível
verificar, com segurança, se os pedidos são ou não compatíveis. A ausência ou incompletude desta
justificação implica uma diminuição proporcional da cotação.
2. B. tem razão em culpar o seu advogado pela sua condenação a pagar a indemnização de
35.000€, por o ter aconselhado a não contestar?
Nota: à qualificação da revelia sem justificar não será atribuída cotação superior a 0.4 v. (em 1 v.). A
justificação de uma qualificação, mas não da outra, implica uma diminuição proporcional da cotação.
Nota: à identificação da al. d) do art. 668.º, mas justificação correspondente à al. e), e vice-versa, não é
dada qualquer cotação (em 1 v.);
5. A invocação por A. de que a declaração negocial de B., para doar, não pode ser considerada
como “não séria” nesta segunda acção procede?
Nota: o adiantamento da resposta à questão 5 na resposta à questão 4, embora seja penalizado por
demonstrar não ter compreendido o que é pedido em cada questão (qualificar a defesa nunca implica
avaliar a sua procedência), será excepcionalmente contabilizada na cotação da questão 5. Apesar disso,
todos os erros ou incongruências que o aluno revele implicarão, consequentemente, uma penalização
6. Comente separadamente cada um dos quesitos, de forma sucinta, referindo: i) se foi
correctamente incluído na base instrutória; ii) se sim, a quem caberá o ónus da prova, e qual a
consequência de não o conseguir fazer; iii) se não, de que forma pode a parte insatisfeita reagir?
Nota: As três subquestões são independentes. Assim, seja qual for a resposta do aluno ao ponto ii),
deveria responder na mesma (ainda que de forma hipotética) aos pontos ii) e iii).
7. Pode A. apresentar o rol de testemunhas no momento em que o quer fazer? Se fosse advogado
de B., o que diria acerca da apresentação destas testemunhas como único meio de prova para
provar cada um dos quesitos?