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WELINGTON CASTILHO GARCIA

Análise crítica da organização sindical brasileira à


luz dos princípios de liberdade sindical da OIT

Dissertação de Mestrado
Orientador: Professor Doutor Ronaldo Lima dos Santos

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


FACULDADE DE DIREITO
SÃO PAULO - SP
2014
WELINGTON CASTILHO GARCIA

Análise crítica da organização sindical brasileira à


luz dos princípios de liberdade sindical da OIT

Dissertação apresentada à Banca Examinadora do


Programa de Pós-Graduação em Direito, da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção do título de
Mestre em Direito, na área de concentração Direito do
Trabalho e da Seguridade Social, sob a orientação do
Professor Doutor Ronaldo Lima dos Santos.

SÃO PAULO
2014
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer
meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que
citada a fonte.

Serviço de Biblioteca e Documentação


Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

Garcia, Welington Castilho


G211a Análise crítica da organização sindical brasileira à
luz dos princípios de liberdade sindical da OIT / Welington
Castilho Garcia. -- São Paulo: USP / Faculdade de
Direito, 2014.
200 f.

Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Lima dos Santos


Dissertação (Mestrado), Universidade de São Paulo,
USP, Programa de Pós-Graduação em Direito, Direito do
Trabalho e da Seguridade Social, 2014.

1. Liberdade sindical. 2. Direitos humanos.


3. Sindicatos – Brasil. 4. Representação sindical.
5. Sindicalismo – Reforma. I. Santos, Ronaldo Lima dos.
II. Título.

CDU
GARCIA, Welington Castilho. Análise crítica da organização sindical
brasileira à luz dos princípios de liberdade sindical da OIT. Dissertação
apresentada à Banca Examinadora do Programa de Pós-Graduação em Direito,
da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, como exigência parcial
para obtenção do título de Mestre em Direito, na área de concentração Direito do
Trabalho e da Seguridade Social, sob a orientação do Professor Doutor Ronaldo
Lima dos Santos.

Data da aprovação:

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. __________________________ Instituição: ____________________


Julgamento: _______________________ Assinatura: ____________________

Prof. Dr. __________________________ Instituição: ____________________


Julgamento: _______________________ Assinatura: ____________________

Prof. Dr. __________________________ Instituição: ____________________


Julgamento: _______________________ Assinatura: ____________________
Aos meus pais,
Ademir Garcia e Neuza Teodoro Castilho Garcia,
seres de luz na minha vida, cujo amor e esforços foram imprescindíveis à
minha trajetória moral e intelectual.

Às minhas avós,
Josepha Gonçalves Garcia (in memorian) e Maria Helena de Castilho,
pela doçura de vó, carinho e exemplos de perseverança.
AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Professor Doutor Ronaldo Lima dos Santos, padrão


de competência e dedicação, que durante os anos de convivência e amizade
desde a graduação na Unesp em Franca, tem contribuído para o meu
desenvolvimento científico e intelectual, tal como nos incentivos à carreira docente
e na construção de um direito humanizado.

Ao Professor Associado Antônio Rodrigues de Freitas Junior e ao


Professor Doutor José Francisco Siqueira Neto, membros da banca do Exame
de Qualificação, cujos apontamentos repercutiram positivamente no
desenvolvimento e aperfeiçoamento da pesquisa.

À Professora e amiga Mônica Gonçalves, um ser humano de coração


nobríssimo, responsável por despertar em mim o entusiasmo pelo idioma italiano,
o qual, após muitos estudos, resultou em aprovação no exame de proficiência do
processo seletivo da Pós-Graduação.

Ao Professor Titular Nelson Mannrich, pelos ensinamentos e apoio


durante as aulas na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo.

À Doutora Carolina Mercante, amiga generosa e prestativa, cujos


conselhos me impulsionam à luta constante pelos direitos sociais.

À Lidiane Saemy Shiratori, amiga responsável e conselheira, pela


revisão textual de diversos trabalhos.

Ao amigo Duarte Alexandre Oliveira, pelas piadas e conselhos.

À Maria Terezinha G. Primo, “a Teresa”, pelas palavras confortantes e


serenas, que contribuíram para meu processo salutar de introspecção.
Aos queridos amigos de longa data, sejam de Fernandópolis,
Franca, Ibitinga, Itumbiara, São José dos Campos, Votuporanga, Ilha Solteira e
Capivari, bem como aqueles conquistados durante esta etapa tão importante
em São Paulo.

À “Casa do Caminho” e a todos os seus integrantes, responsáveis por


compartilhar momentos de paz e reflexão espiritual.

À Universidade de São Paulo e à Faculdade de Direito, pela


oportunidade de realização do curso de mestrado.

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -


FAPESP, pela concessão da bolsa de mestrado e pelo apoio financeiro para a
realização desta pesquisa.

Por fim, sou grato a todos aqueles não citados nominalmente, mas que
de forma direta ou indireta colaboraram para a realização deste trabalho.
Esta pesquisa foi possível graças ao financiamento da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP - Processo n.
2012/08400-5.
“O desejo de liberdade é mais forte que a paixão.
Pássaro, eu não amaria quem me cortasse as asas.
Barco, eu não amaria quem me amarrasse no cais.”

Rubem Alves
RESUMO

GARCIA, Welington Castilho. Análise crítica da organização sindical brasileira


à luz dos princípios de liberdade sindical da OIT. 2014. 200 f. Dissertação
(Mestrado) - Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014.

Os direitos humanos adquiriram status universal e de aplicabilidade a todos


indistintamente com a promulgação da Declaração Universal dos Direitos
Humanos - DUDH em 1948, cujo preâmbulo assevera a eminência dos direitos
humanos e das liberdades fundamentais direcionados a todos os povos e nações.
Em seguida, inicia-se a adesão de diversos países ao texto da declaração,
visando à proteção na ordem constitucional interna e à consagração da dignidade
da pessoa humana. Quanto às liberdades, no Direito Coletivo do Trabalho,
destaca-se a manifestação do princípio (direito) de liberdade sindical, segundo a
DUDH, “todo o homem tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para
proteção de seus interesses”. Tal princípio também pode ser vislumbrado em
outros diplomas internacionais, principalmente, em determinadas convenções da
Organização Internacional do Trabalho - OIT. O Brasil ratificou a Declaração
Universal dos Direitos Humanos e algumas convenções da OIT, no entanto, no
território brasileiro prevalece a aplicação do modelo de organização sindical
denominado unicidade, que condiciona a existência exclusiva de uma entidade
representativa de categoria profissional ou econômica na mesma base territorial.
Diante disso, a temática da pesquisa incide na relação da liberdade sindical com
os principais modelos de organização adotados sob a égide dos direitos humanos
fundamentais, bem como nos principais problemas enfrentados em decorrência
da aplicação mitigada do referido princípio e na apresentação de medidas
positivas. Ademais, propugna-se a imperiosidade de uma reforma capaz de
substituir a estrutura sindical vigente, de caracteres expressivamente
corporativistas, por uma metodologia consoante aos novos contornos das
relações laborais.

Palavras-chave: liberdade sindical. OIT. direitos humanos fundamentais.


organização sindical brasileira. reforma sindical.
RIASSUNTO

GARCIA, Welington Castilho. Analisi critica del brasiliano sindacato secondo i


principi di libertà di associazione dell'OIL. 2014. 200 f. Tesi (Master) - Facoltà
di Giurisprudenza, Università di São Paulo, São Paulo, 2014.

I diritti umani acquisito il carattere universale e l'applicabilità a tutti senza


distinzione con la promulgazione della Dichiarazione Universale dei Diritti Umani -
DUDU nel 1948, preambolo afferma la preminenza dei diritti umani e delle libertà
fondamentali, diretti a tutti i popoli e le nazioni. Poi inizia l'adesione di diversi paesi
al testo della dichiarazione, al fine di tutelare l'ordine costituzionale interno e la
dedizione della dignità della persona umana. Per quanto riguarda le libertà, il
diritto collettivo di lavoro, c'è la manifestazione del principio (a destra) di libertà,
secondo la Dichiarazione, "ogni uomo ha il diritto di organizzare sindacati e di
unirsi a loro per proteggere i loro interessi." Questo principio può essere intravisto
in altri strumenti internazionali, in particolare in alcune convenzioni
dell'Organizzazione Internazionale del Lavoro - ILO. Brasile ha ratificato la
Dichiarazione universale dei diritti dell'uomo e delle convenzioni dell'OIL, tuttavia,
in Brasile, prevale l'applicazione del modello di sindacato chiamato unità, il che
rende l'esistenza unica di un organo di rappresentanza di categoria professionale
o economica dello stesso territorio . Così, il tema della ricerca si concentra sul
rapporto tra libertà di associazione con i principali modelli di organizzazione
adottati sotto l'egida dei diritti umani fondamentali, così come i principali problemi
che devono affrontare a causa della applicazione mitigato il principio e la
presentazione di misure positive. Inoltre, sostiene di imperiosità di una riforma in
grado di sostituire la struttura sindacale esistente, in modo significativo carattere
corporativo, con una metodologia consonante ai nuovi contorni di rapporti de
lavoro.

Parole chiave: libertà di associazione. ILO. I diritti umani fondamentali. Brazilian


organizzazione sindacale. La riforma dell'Unione.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12

I. JUSTIFICATIVA ................................................................................................ 12
II. DELIMITAÇÃO DO TEMA ................................................................................ 14
III. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA ....................................................... 16

CAPÍTULO 1 LIBERDADE SINDICAL COMO DIREITO HUMANO


FUNDAMENTAL ............................................................................. 17
1.1 Axiologia dos direitos humanos .................................................................. 17
1.1.1 Terminologia dos direitos humanos ............................................................. 22
1.1.2 Liberdade sindical nas Cartas Internacionais ............................................... 28
1.2 Liberdade sindical como direito humano fundamental ............................. 35
1.2.1 Conceito de liberdade sindical ..................................................................... 35
1.2.2 Normatização da Organização Internacional do Trabalho ........................... 39
1.3 Dimensões da liberdade sindical ................................................................. 56
1.3.1 Liberdade sindical individual ........................................................................ 57
1.3.2 Liberdade sindical coletiva ........................................................................... 60

CAPÍTULO 2 ANÁLISE CRÍTICA DA ORGANIZAÇÃO SINDICAL BRASILEIRA


À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS FUNDAMENTAIS ................... 64
2.1 Organizações sindicais: institutos semelhantes ....................................... 64
2.1.1 Evolução sindical brasileira .......................................................................... 68
2.2 Estrutura sindical brasileira na Constituição Federal de 1988 ................. 74
2.2.1 Entidades sindicais ...................................................................................... 74
2.2.1.1 Conceito .................................................................................................... 74
2.2.1.2 Natureza jurídica ....................................................................................... 77
2.2.2 Sistema de representação sindical: sistema piramidal................................. 80
2.2.3Liberdade de criação ..................................................................................... 84
2.2.4 Liberdade de organização ............................................................................ 89
2.2.5 Unicidade sindical e base territorial mínima ................................................. 95
2.2.6 Critério de agregação de trabalhadores e empregadores: categoria e
paralelismo sindical .................................................................................... 100

CAPÍTULO 3 REFORMA SINDICAL BRASILEIRA E OS PRINCÍPIOS DE


LIBERDADE SINDICAL .............................................................. 104
3.1 Reforma sindical brasileira: imperiosidade .............................................. 104
3.1.1 Proposta de Emenda Constitucional n. 369/05 .......................................... 109
3.2 Especificidades da estrutura sindical no projeto de reforma sindical ... 113
3.2.1 Extinção das fontes de sustentação econômica dos sindicatos ................. 119
3.2.2 Representação dos trabalhadores no local de trabalho ............................. 123
3.3 Reforma sindical brasileira e a busca pela liberdade plena .................... 131
3.4 Perspectivas de aprovação da PEC .......................................................... 137

CAPÍTULO 4 PROTEÇÃO CONTRA ATOS E CONDUTAS ANTISSINDICAIS


NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E
COMPARADO .............................................................................. 142
4.1 Violações à liberdade sindical: aspectos gerais ...................................... 142
4.1.1 Mecanismos protetivos............................................................................... 147
4.1.2 Normatização internacional dos atos antissindicais ................................... 150
4.2 Sistema brasileiro de proteção contra atos e condutas antissindicais . 152
4.2.1 Regramento do Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais ........................ 157
4.3 Sistema protetivo contra atos e condutas antissindicais no direito
comparado .................................................................................................. 160
4.4 Comitê de Liberdade Sindical e análise de queixas ................................ 165
4.4.1 Queixas contra o Brasil .............................................................................. 169
4.4.2 Queixas contra Portugal e Espanha ........................................................... 176
4.4.3 Queixa contra a Alemanha ......................................................................... 179

CONCLUSÕES ................................................................................................... 183

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 188


12

INTRODUÇÃO

I. JUSTIFICATIVA

Paralelamente às liberdades individuais, cultuadas pelos iluministas e


mentores da Revolução Francesa de 1789, reconheceram-se, em diversos
diplomas internacionais referentes aos direitos humanos, as liberdades coletivas
dos grupos e a autodeterminação dos povos.

A universalidade ganhou destaque a partir das duas guerras mundiais,


principalmente após a Segunda, em que foi possível constatar algumas das
perversidades que o homem era capaz de realizar contra a humanidade, em
consequência do materialismo1 e do egoísmo.

Diante desse contexto, mostrou-se inevitável a criação de instrumentos


que promovessem a proteção do ser humano e assegurasse condições básicas,
com vista à dignidade da pessoa humana. Após muitos esforços, em 1948, durante
a Assembléia Geral das Nações Unidas, promulgou-se a Declaração Universal dos
Direitos Humanos - DUDH, cujo preâmbulo destaca a importância dos direitos e
das liberdades fundamentais concernentes a todos os povos e nações.

Os direitos humanos fundamentais surgiram da fusão de várias fontes,


sendo imprescindíveis na consagração da dignidade dos seres humanos,
garantindo a limitação do poder e visando ao desenvolvimento completo da
personalidade humana.2

Diante desse cenário, cumpre observar as palavras de Luigi Ferrajoli:

Esta internacionalización de los derechos fundamentales es la tercera de


las tesis indicadas al principio y en la que ahora voy a detenerme. Después

1
Dallari, Dalmo de Abreu. Os 50 anos da declaração universal dos direitos do homem e do
nascimento de um novo direito. In: SOUZA, Carlos Aurélio Mota de; BUENO, Roberto. 50
anos de direitos humanos. São Paulo: Themis, 2003. p. 80.
2
MORAES, Alexandre de. Direitos Humanos Fundamentais. Teoria Geral. Comentários aos arts. 1º a
5º da Constituição da República Federativa do Brasil. Doutrina e Jurisprudência. 7.ed. São Paulo:
Atlas, 2006. p. 21.
13

del nacimiento de la ONU, y gracias a la aprobación de cartas y


convenciones internacionales sobre derechos humanos, estos derechos
son «fundamentales» no sólo dentro de los Estados em cuyas
constituciones se encuentran formulados, son derechos supraestatales a
los que los Estados están vinculados y subordinados también en el plano
del derecho internacional; no, pues, derechos de ciudadanía, sino derechos
3
de las personas con independencia de sus diversas ciudadanías.

Nesse contexto, a liberdade sindical surge como um direito humano


fundamental inerente às relações de trabalho, previsto nos principais instrumentos
de proteção humanitária, como a Carta Internacional de Diretos Humanos, da qual
se extrai o art. 23, IV, da DUDH: “Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e
neles ingressar para proteção de seus interesses”.

Outrossim, a liberdade sindical é reconhecida nas principais


Convenções, Declarações e Recomendações da Organização Internacional do
Trabalho, a qual tem a missão de oportunizar o trabalho decente, em
circunstâncias de liberdade, equidade, segurança e dignidade.

No que diz respeito ao citado direito, ressalta-se a Convenção n. 87 e


na Declaração sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho. O caput
do artigo 2º da citada Declaração dispõe que todos os membros da OIT têm o
compromisso de respeitar, promover e tornar realidade, de boa fé e de
conformidade com a Constituição (da OIT), os princípios relativos aos direitos
fundamentais, dos quais cumpre observar: “a liberdade sindical e o
reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva”.

Frente aos motivos expostos, a justificativa do trabalho encontra


respaldo na análise da relação entre a liberdade sindical com os modelos de
organização sindical, especialmente sob a égide dos direitos humanos
fundamentais, portanto, versando sobre uma temática correlata às questões
atuais, diante de fatores como a crise de representatividade e a descoletivização.

As entidades sindicais já não possuem relevante autonomia ou poder


negocial irrestrito, em decorrência das alterações nas relações e no mercado de
trabalho. Os atores sociais se distanciaram do movimento sindical, apesar da sua
eminência como instrumento da luta de classes.

3
FERRAJOLI, Luigi. Derechos y garantias. La ley del más débil. Madrid: Editorial Trotta, 2004. p. 55.
14

Consoante Enoque Ribeiro dos Santos, o sindicalismo brasileiro está


afastado da maturidade e desenvolvimento ideal. É necessária uma completa
reformulação da organização sindical brasileira para que possa reverter seu
declínio, em se tratando de representação coletiva e da mitigação dos efeitos da
descoletivização.4

A conjuntura sindical brasileira vigente necessita ser revista sob


diversos aspectos, especialmente no que se refere aos elementos
intervencionistas que tornam a liberdade sindical mitigada, como a unicidade
sindical, a contribuição sindical compulsória e a ausência de um sistema
preventivo e punitivo de condutas antissindicais; enfim, aspectos que denotam a
incongruência da estrutura sindical brasileira com as relações trabalhistas.

Verifica-se, assim, que a escolha do tema, baseia-se na relevância


social e jurídica da matéria, já que ela possibilita a discussão de uma temática
recente, ou seja, a análise crítica da organização sindical brasileira à luz da
proteção da liberdade sindical como um direito humano fundamental preconizado
pela OIT; que ultrapassa os lindes do Direito do Trabalho e adquire caráter
interdisciplinar.

II. DELIMITAÇÃO DO TEMA

A pesquisa é concentrada no estudo da liberdade sindical no âmbito da


organização sindical brasileira como um direito humano fundamental, o qual deve
ser reafirmado diuturnamente em decorrência das violações sofridas, que
impedem ou limitam a fruição de conteúdos básicos e indispensáveis à dignidade
humana dos atores sociais, principalmente dos trabalhadores. Para tanto,
utilizam-se como parâmetros os princípios e direitos consagrados pela
Organização Internacional do Trabalho - OIT.

Inicialmente, a análise percorre os aspectos basilares dedicados à


temática humanitária, como o posicionamento esparso dos princípios axiológicos

4
SANTOS, Enoque Ribeiro dos Santos. Direitos Humanos na Negociação Coletiva: Teoria
e Prática Jurisprudencial. São Paulo: LTr, 2004.p. 60-62.
15

de direitos humanos em diplomas clássicos, como a Declaração de


Independência dos Estados Unidos, até o agrupamento na Declaração Universal
dos Direitos Humanos.

Em seguida, apresenta-se a liberdade sindical nos principais diplomas


internacionais, como na Carta Internacional de Direitos Humanos e nas
Convenções da OIT, o que possibilita a conceituação do instituto a partir da
doutrina comparada e brasileira, bem como o alcance das suas dimensões.

Posteriormente, recorre-se a breves observações terminológicas para


individualizar a matéria sindical. Outrossim, expõem-se os principais aspectos da
evolução sindical nacional. Posteriormente, fixa-se na caracterização da estrutura
sindical brasileira, confrontando-a com outros sistemas para demonstrar a
inadequabilidade de determinados conteúdos, como o modelo organizacional de
unicidade sindical.

Após discorrer sobre o sistema sindical vigente, examinam-se os


pontos essenciais da Proposta de Emenda Constitucional n. 369/2005 e do
Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais, cujos questionamentos centram-se na
avaliação da imprescindibilidade de uma reforma, especialmente na forma de
manutenção financeira das organizações sindicais e na concretização da
representação dos trabalhadores no local de trabalho. Além disso, o exame das
propostas permite avaliar se a possível aprovação resultaria no estabelecimento
pleno da liberdade sindical.

Por fim, dedica-se ao estudo das violações de liberdade sindical no


ordenamento jurídico brasileiro e comparado. Intenta-se identificar as principais
condutas antissindicais praticadas pelo empregador, Estado ou organizações
sindicais. Em seguida, coteja-se o atual sistema brasileiro de proteção contra atos
e condutas antissindicais com o regramento do Anteprojeto de Relações
Sindicais. Ademais, examina-se o papel do Comitê de Liberdade Sindical e as
consequências das suas decisões na órbita internacional, também se analisa as
queixas contra Estados que adotam a unicidade, a pluralidade e a unidade
espontânea.
16

III. MÉTODOS E TÉCNICAS DE PESQUISA

O estudo da liberdade sindical, como um direito humano fundamental,


comporta uma análise sob diversas perspectivas. Em decorrência disso, é
necessário ponderar os métodos utilizados com o intuito de delinear nitidamente a
proposta do presente trabalho, pois a insuficiência de ferramentas e técnicas de
pesquisa conduz à ambiguidade e desordem. Para tanto, são utilizados os
seguintes métodos: indutivo, dedutivo, descritivo e analítico.

No que se refere ao procedimento, além do emprego da dogmática


jurídica e do direito comparado, consentâneos às pesquisas jurídicas, adota-se
também o método histórico, em virtude da necessidade de se realizar um estudo
evolutivo de conteúdo, como nas principais normas jurídicas que regularam
conteúdos acerca das entidades sindicais ao longo da História.

Quando se recorre aos conceitos gerais e genéricos, emprega-se o


método dedutivo, por exemplo, ao examinar a liberdade sindical no direito
estrangeiro e depois observá-la à luz do ordenamento jurídico brasileiro. Ao se
inquirir um fato conhecido para extrair conclusões gerais, aplica-se o método
indutivo; e também o método analítico-sintético ao proceder-se à apreciação de
textos jurídicos.

Ademais, as relações laborais possuem caráter interdisciplinar, por isso,


torna-se relevante a comunicação do Direito do Coletivo do Trabalho com outros
ramos, como o Direito Constitucional, Civil e Internacional.

No que tange às técnicas de pesquisa propriamente, cabe mencionar a


utilização das fontes primárias: normas internacionais, legislação estrangeira,
normas coletivas, súmulas dos tribunais superiores, jurisprudência, verbetes do
Comitê de Liberdade Sindical da OIT, e das fontes secundárias: pesquisa
bibliográfica (tratados, manuais, artigos de periódicos) e estudos promovidos pela
Organização Internacional do Trabalho.
17

CAPÍTULO 1 LIBERDADE SINDICAL COMO DIREITO HUMANO


FUNDAMENTAL

1.1 Axiologia dos direitos humanos

A Declaração Universal dos Direitos Humanos - DUDH, promulgada


pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, é um
dos documentos mais importantes no que diz respeito à universalização dos
princípios axiológicos de direitos humanos, quais sejam: liberdade, igualdade e
fraternidade (ou solidariedade).

Anterior a esse marco, vislumbra-se a disposição esparsa dos referidos


princípios. Diante disso, optou-se pela recorrência de alguns documentos e
momentos da História da humanidade a partir do final da Idade Moderna, com o
intuito de apresentar as principais transformações até o desdobramento atual.

Em 4 de julho de 1776, os Estados Unidos da América, por meio do


seu Congresso Geral, aprovaram a sua Declaração de Independência, elaborada,
principalmente por Thomas Jefferson, e a partir da qual as treze colônias da
América do Norte tornar-se-iam independentes do Reino Unido após um período
de conflitos. A aprovação resultou na ruptura com o Estado absolutista inglês e a
consequentemente criação de uma república.

A Declaração1 de Independência consagrou-se como o primeiro


diploma político a reconhecer, “a par da legitimidade da soberania popular, a
existência de direitos inerentes a todo ser humano, independentemente das

1
O reconhecimento da soberania, nessa época, refletiu-se também no próprio vocábulo “declaração”.
Anteriormente, os documentos utilizavam outras denominações, como “Carta” (Magna Carta - 1215),
“’Petição” e “Bill” (Bill of Rights - 1689). As palavras “Petição” e “Bill” mostraram-se inapropriadas,
porquanto referenciam o ato de solicitar algo a um ente superior, já o verbete “Carta” remete a uma
certidão ou escritura. Por sua vez, a Declaração da Independência não se limitou a um ajuste entre
as partes (governante e povo) ou a mera concessão de benefícios, mas, sim, o reconhecimento de
direitos inerentes à condição humana. In: HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma
história. Trad. Rosaura Eichenberg. São Paulo: Companhia das Letras, 2009. p. 114-115.
18

diferenças de sexo, raça e religião, cultura ou posição social”.2 Tal soberania é


comprovada mediante a análise de alguns fragmentos da Declaração, por
exemplo:

[...] governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos


poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer
forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito
de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em tais
princípios e organizando-lhe os poderes pela forma que lhe pareça mais
conveniente para realizar-lhe a segurança e a felicidade.

O “ser feliz” enfatizado no preâmbulo, não invoca um direito em si,


inerente ao indivíduo, o objetivo foi demonstrar a consecução da dignidade
humana por meio da dependência de garantias de oportunidades para a
efetivação da felicidade.3

A despeito do prestígio da referida Declaração de Independência,


não se pode olvidar da Declaração de Direitos de Virgínia, de 12 de junho de
1776, pois, houve a disposição de um rol específico de direitos do homem e do
cidadão direcionado não somente ao povo norte-americano, mas pertencentes
a todos os indivíduos indistintamente em decorrência da dignidade humana de
cada um.4 Sendo assim, destaca-se:

Artigo 1° - Todos os homens nascem igualmente livres e independentes,


têm direitos certos, essenciais e naturais dos quais não podem, por
nenhum contrato, privar nem despojar sua posteridade: tais são o direito
de gozar a vida e a liberdade com os meios de adquirir e possuir
propriedades, de procurar obter a felicidade e a segurança.

O princípio axiológico da liberdade está associado à ideia de


autonomia, “uma sociedade livre é aquela que obedece às leis que ela própria
estabelece e aos governantes por ela escolhidos”. A liberdade foi classificada em

2
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 6.ed. rev. e atual.
São Paulo: Saraiva, 2001. p. 107.
3
Ibid., p. 107.
A felicidade disposta no texto da Declaração da Independência também é encontrada em outro
excerto, qual seja: “Consideramos estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os
homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes
estão a vida, a liberdade e a procura da felicidade”.
4
MUNOZ, Jairo M. De los derechos humanos a los derechos de los pueblos. Una historia de
libertad, democracia y auto determinacion. Franciscanum: Revista de las ciencias del espiritu.
Bogota, v.32, n.94, p.31-44, ene./abr. 1990. p. 35-36.
19

“liberdade pública” (sentido político de autogoverno) e “liberdade privada”


(contraposição à ingerência governamental). Conceitos distintos, mas devem se
relacionar, já que “a liberdade política sem as liberdades individuais não passa de
engodo demagógico de Estados autoritários ou totalitários”.5

Em 26 de agosto de 1789, durante a Revolução Francesa, a


Assembleia Nacional Constituinte da França aprovou a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão6, especialmente em contraposição ao longo regime
monárquico, o que favoreceu o afloramento dos princípios de liberdade, igualdade
e fraternidade. Nesse contexto, o princípio axiológico da igualdade fundamentou-
se na isonomia do indivíduo perante a lei. A sociedade deixou de se estruturar em
estamentos e se dividiu em proprietários e trabalhadores.7

A Declaração da Independência dos Estados Unidos e a Declaração de


Direitos do Homem e do Cidadão impulsionaram o reconhecimento político dos
direitos humanos em caráter natural, igualitário e universal. Destarte, afastou-se o
entendimento e aplicabilidade proselitista, sobreposta pelos direitos humanos ou
direitos naturais universais.8

Por isso, cumpre observar o artigo 1º da Declaração de origem


francesa:

Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções


sociais só podem fundar-se na utilidade comum.

A Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão não representou


uma luta por direitos das coletividades, essencialmente significou o rompimento
com os padrões absolutistas, já que a sociedade francesa de um modo geral não
concebia a intervenção estatal na vida do indivíduo, ambicionava modificações
5
COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 75-76.
6
O conteúdo da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão adveio de diversas fontes,
particularmente pelo trabalho do Marquês de Lafayette e do provável auxílio de Thomas
Jefferson. Notavelmente, houve a mudança na direção do poder, cuja soberania foi reservada à
nação. Certas palavras (por exemplo: rei, nobreza ou igreja) foram substituídas pelas expressões
“homens”, “homem”, “todo homem”, “todos os homens”, “todos os cidadãos”. Contudo,
historiadores relatam e questionam o paradoxo existente entre a aclamação da universalidade de
direitos e certos ambientes inviabilizadores da igualdade sob a forma “autoevidente”, pois
algumas categorias (escravos e mulheres, por exemplo) eram excluídas do processo político.
Além disso, Thomas Jefferson foi um senhor de escravos e o Marquês de Lafayette, um
aristocrata. In: HUNT, Lynn. Op. cit., p. 13-14; 16-17.
7
COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 76.
8
Ibid., p. 19-20
20

nas estruturas do governo, nesse contexto, o liberalismo enraizou-se. Ademais,


caracterizou-se pelo universalismo, individualismo e a abstração.

O caráter universal diz respeito à sua abrangência, não está adstrita


exclusivamente ao povo francês, abrange o indivíduo originário de qualquer nação
e, correlaciona-se à ideia de igualdade entre os homens. No que concerne ao
aspecto individual, valoriza-se o homem de maneira singular, não há referência
aos grupos (família, coletividades públicas ou profissionais). Desse modo, as
liberdades previstas não são coletivas, incidem sobre um direito de agir e não
para fazer reivindicações perante o Estado. Por fim, a abstração emana da
proclamação de princípios e da exposição de noções gerais.9

Em 03 de setembro de 1791, a Assembleia Nacional da França


aprovou a Constituição do país, cujo preâmbulo tem como resultado a própria
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Tal documento também
10
realçou o “caráter antiaristocrático e antifeudal do novo regime político” ; além
disso, dispôs de forma expressa acerca do princípio da fraternidade, por
exemplo: “Haverá feriados nacionais para manter a memória da Revolução
Francesa, manter a fraternidade entre os cidadãos, e anexá-los à Constituição,
às leis e à pátria”.

Por outro lado, o Estado francês também editou normas que foram
de encontro ao direito de associação, conforme ocorreu em 14 de junho de
1791, quando entrou em vigor a Lei Le Chapelier, cujo objetivo era impedir a
formação de sindicatos, greves e a união dos trabalhadores, tendo em vista a
manutenção dos ideais liberalistas. Assim, veja-se:

Art. 1. L'anéantissement de toutes espèces de corporations des citoyens


du même état ou profession étant une des bases fondamentales de la
constitution française, Il est défendu de les rétablir de fait, sous quelque
11
prétexte et quelque forme que ce soit.

À vista disso, ficou proibida a formação de grupos para a defesa de


interesses específicos comuns, priorizou-se o interesse privado à vontade
9
ISRAEL, Jean-Jacques. Direito das liberdades fundamentais. Trad. Carlos Souza. Barueri/SP:
Manole, 2005. p. 89-91.
10
COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 146.
11
“A extinção de todos os tipos de corporações de cidadãos de interesses semelhantes ou
profissionais é uma das bases fundamentais da Constituição francesa, proibe-se o restabelecimento
de fato, sob qualquer pretexto e de qualquer forma que seja.” (Tradução livre)
21

geral. Desse modo, era permitido somente o acordo realizado entre um


indivíduo e outro, uma vez que o pacto coletivo resultaria em pressão do
grupo, colocando em conflito a igualdade jurídica.12

Em caráter de complementaridade à Lei Le Chapelier, havia os artigos


414 e 416 do Código Penal francês, cujo conteúdo considerava crime a reunião
de mais de vinte pessoas, mesmo quando não impediam a atuação profissional
e impunha meios de embaraçá-la. Somente em 1864, o ambiente tornou-se
propício à criação dos sindicatos, com destaque para a fundação, em Londres,
da Primeira Internacional (oficialmente, Associação Internacional dos
Trabalhadores), especialmente com a participação de Henri Louis Tolain.13

Portanto, a existência das associações na sua primeira fase


desenrola-se sob o manto da ilegalidade, já que eram tidas por ilícitas. Todo o
processo organizativo interno, como a elaboração de estatutos e a eleição de
dirigentes, acontecia secretamente.14

Portanto, os movimentos denominados Revolução Americana e


Francesa, que serviram de cenário para a aprovação das mencionadas
Declarações, possuíram conteúdo individualista, especialmente, para a
consolidação da democracia burguesa. Somente a partir da segunda etapa da
Revolução Francesa, visualizou-se a proclamação de direitos sociais do homem,
tais como: direitos relativos ao trabalho e aos meios de existência, assim como o
direito de proteção contra a indigência; porém, a concretização desses direitos
caberia à sociedade e não ao ente público. 15

As mencionadas Declarações inspiraram a Declaração Universal dos


Direitos Humanos, a qual proclama:

Artigo I. Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e


direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação
umas às outras com espírito de fraternidade.

12
VARGAS, João Tritan. Qual é o liberalismo da Lei Chapelier? Seu significado para os contemporâneos
e para a historiografia francesa dos séculos XIX e XX. Revista Mundos do Trabalho, vol. 3, n. 5,
janeiro-junho de 2011, p. 213-232. p. 218.
13
MAGANO, Octávio Bueno. Organização sindical brasileira. São Paulo: Ed. Rev. dos
Tribunais, 1981. p. 31.
14
MAZZONI, Giuliano. Relações coletivas de trabalho. Trad. Antonio Lamarca. São Paulo: Ed.
Revista dos Tribunais, 1972. p.7.
15
HERKENHOFF, João Baptista. Curso de direitos humanos. Gênese dos direitos humanos.
Guarulhos/SP: Acadêmica, 1994. v. I. p. 57.
22

Não obstante o caráter universal das supracitadas normas


internacionais, somente com a DUDH “pela primeira vez em escala planetária,
o papel dos direitos humanos na convivência coletiva, pode ser considerada
um evento inaugural de uma nova concepção da via internacional.” Esse
entendimento conduz à histórica dimensão internacional dos direitos humanos
voltados ao trato coletivo.16

Visando à correção e superação do individualismo, baseado nas


liberdades privadas e na isonomia, o movimento socialista impulsionou o princípio
axiológico da solidariedade como dever jurídico, o qual se assenta na
imprescindibilidade de aplicar a “justiça distributiva”, objetivando a compensação
de bens e vantagens entre as classes sociais.17
Por isso, verifica-se que a Declaração de Independência dos
Estados Unidos e a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
dispuseram enfaticamente apenas sobre a liberdade e a igualdade. Cuidaram
do homem estritamente sob o aspecto individual, enquanto a DUDH enfatiza
a importância da solidariedade entre as pessoas, bem como a exteriorização
de outras liberdades, como o direito à reunião e associação.

É possível encontrar os princípios axiológicos de direitos humanos em


outros textos, entretanto, a tríade sagrada18 adquiriu prestígio com a promulgação
da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Isso se deve, essencialmente,
pelo enredo abarcado à edição do documento, isto é, após as destruições e os
crimes da Segunda Guerra Mundial, cujos algozes subjugaram povos e nações
em nome de causas como o autoritarismo e a obtenção de poder.

1.1.1 Terminologia dos direitos humanos

Os direitos humanos sob o enfoque da proteção internacional são


aqueles inerentes a todo ser humano, de maneira que se garantam os
16
LAFER, Celso. Declaração universal dos direitos humanos (1948). In: MAGNOLI, Demétrio.
(Org.) História da paz: os tratados que desenharam o planeta. São Paulo: Contexto, 2008.
17
COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 77.
18
Expressão utilizada por Fábio Konder Comparato. In: COMPARATO, Fábio Konder, op.
cit., p. 228.
23

instrumentos mínimos para seu desenvolvimento. Isso significa que não há


distinção entre a aplicação do conceito, independente da nacionalidade ou das
características particulares de cada povo nas diferenciadas regiões do planeta
quando se pauta pelo enfoque do universalismo.
Tais direitos receberam nomenclatura diversificada no decorrer do
desenvolvimento e formação da História, sobretudo, na aplicação de termos
dessemelhantes, por vezes examinados como sinônimos.

Os valores experimentados pelas sociedades em diversas épocas


demonstraram a importância (ou, em dadas circunstâncias e interesses, a
trivialidade) e a quem era dedicada a temática, assim como as dimensões da
liberdade, uma vez que por muito tempo relativizou-se o direito de “ser livre”.

Inicialmente, a expressão “direitos humanos” surgiu na França (1763),


congênere a “direito natural”, entretanto, sem intensidade. Na década de 1760,
elaborou-se o termo droits de l’homme (direitos do homem), com peculiar aplicação
após a obra “O contrato social” de Rousseau. Mas, foi o jurista inglês Willian
Blackstone (1723-1780) que os apresentou como sendo a “liberdade natural da
humanidade”, bem como os “direitos absolutos do homem”.19

O nascimento dos direitos humanos e as suas várias nomenclaturas


fundamentam-se nos elementos intrínsecos dos Estados, tal como a política e a
economia em diferentes momentos da sua história particular. Essa
heterogeneidade explica a evolução progressista dos direitos humanos após a
Segunda Guerra Mundial, defronte à propagação individual no território de cada
nação, por vezes conservadora.20

Atualmente, a terminologia está dividida em direitos humanos, direitos


fundamentais e direitos humanos fundamentais.

Consoante Dalmo de Abreu Dallari, os direitos humanos são


apresentados como “uma forma abreviada de mencionar os direitos fundamentais
da pessoa humana. Esses direitos são considerados fundamentais porque sem

19
HUNT, Lynn, op. cit., p. 21-23.
20
AGUILAR CAVALLO, Gonzalo. Derechos fundamentales-derechos humanos. ¿Una distinción
válida en el siglo XXI? Boletin Mexicano de Derecho Comparado. México, v.43, n.127, p.15-
71. ene./abr. 2010. p. 21-22.
24

eles a pessoa humana não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e


de participar plenamente da vida”. 21

Para João Baptista Herkenhoff, os direitos humanos são aqueles


essenciais à pessoa, “pelo fato de ser homem, por sua natureza humana, pela
dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam de uma concessão
da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade política tem o
dever de consagrar e garantir”.22

Para Flávia Piovesan, “são concebidos como uma unidade


indivisível, interdependente e interrelacionada, na qual os valores da igualdade
e liberdade se conjugam e se completam”.23

É notável a substancialidade dos direitos humanos na manutenção da


qualidade de vida dos indivíduos. Nesses termos, torna-se impraticável a
utilização mitigada da proteção humanitária, um Estado não pode, por exemplo,
ratificar uma convenção (sobre direitos humanos) apenas com o intuito de
praticar e adaptar conteúdos pertinentes ao seu ordenamento interno e olvidar o
restante do diploma.

Assim, a aprovação deve ser total, pois são direitos que não
comportam divisibilidade, exemplificativamente, não se pode afirmar que o
direito à vida esteja desvinculado da liberdade ou da igualdade e,
principalmente da dignidade da pessoa humana.

No que tange à denominação de direitos fundamentais, são os


direitos humanos tratados em âmbito internacional, tendo recebido status
constitucional nacional, ou seja, foram positivados na ordem jurídica interna, tal
como os direitos e garantias fundamentais do Título II da Constituição Federal
brasileira de 1988.

Esses direitos são (ou deveriam ser) humanos e fundamentais


concomitantemente, pois uma determinada sociedade assume a tutela de certos
direitos humanos para si, como essenciais ao seu povo. Se essa assunção não
decorrer de efeitos meramente tautológicos, tais direitos humanos são

21
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998. p. 7.
22
HERKENHOFF, João Baptista, op. cit., p. 30-31.
23
PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o direito constitucional internacional. 9.ed. rev.,
ampl. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 13.
25

fundamentais, exercidos de maneira imprescindível e concretamente em um


sistema organizado.24

De acordo com Robert Alexy um direito fundamental completo é “um


feixe de posições de direitos fundamentais”.25

Esses direitos são analisados conceitualmente a partir da forma, matéria


e procedimento. Assim, no sentido formal, visa à delimitação da categoria a qual
pertence, já que poderá estar inserido na Constituição ou disposto alhures do rol
constitucional. Quanto ao conceito material, objetiva transformar os direitos
humanos em direito positivo. Já a concepção procedimental, refere-se a quem cabe
a decisão do conteúdo dos direitos fundamentais, seja do constituinte ou do
legislador comum.26

Luigi Ferrajoli analisa os direitos fundamentais sob a visão formal ou


estrutural, como direitos subjetivos direcionados universalmente a todos os
seres humanos, independente da capacidade de fato ou de direito; já a ordem
subjetiva refere-se a qualquer expectativa positiva (de prestações) ou negativa
(de não sofrer lesões).27

Os direitos fundamentais cotejados aos direitos patrimoniais


apresentam diferenças que os tornam inconfundíveis. Primeiramente, os direitos
fundamentais (direito à vida, por exemplo) possuem caráter universal e são
voltados à coletividade; enquanto os direitos patrimoniais (direito à propriedade,
por exemplo) estão vinculados singularmente a cada titular de forma
determinada, excluindo os demais. Além disso, os direitos fundamentais são
indisponíveis, inalienáveis, invioláveis, intransigíveis e personalíssimos, enquanto
os direitos relacionados à propriedade são disponíveis pela essência, sendo
negociáveis e alienáveis.28

Há que se observar também a sua estrutura jurídica, à medida que os


direitos reais (são predispostos por normas) estão sujeitos às vicissitudes, ou

24
PALOMBELLA, Gianluigi. Dai diritti umani ai diritti fondamentali: sulle conseguenze di una
distinzione concettuale. Sociologia del Diritto. Milano, v.31, n.2, p.61-107, 2004. p. 64.
25
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 5.ed. Trad. Virgílio Afonso da Silva. São
Paulo: Malheiros, 2008. p. 249.
26
BOROWSKI, Martin. La estructura de los derechos fundamentales. Trad. Carlos Bernal
Pulido. Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2003. p. 34-37.
27
FERRAJOLI, Luigi, op. cit., p. 37.
28
Ibid., p. 46-47.
26

seja, são criados, modificados ou extintos por atos jurídicos, já os direitos


fundamentais (são normas) têm seu título submetido à lei, constituídos por meio
de regras gerais, geralmente, constitucionais. Por fim, a estrutura constitucional
de direito, isto é, dos direitos patrimoniais são horizontais (formam-se por meio de
relações intersubjetivas do tipo civilista – contratual ou sucessório, por exemplo) e
dos direitos fundamentais são verticais (construídos por relações publicistas –
indivíduo com o Estado).29

Os direitos fundamentais serão sempre direitos humanos quando


analisados sob a perspectiva dos seus titulares, pois todos são seres humanos.
Por consequência, se examinados unicamente a partir desse ângulo bastaria
simplesmente a utilização do termo “direitos humanos”. 30

Nesse sentido, Ingo Wolfgang Sarlet socorre-se do método da


concreção positiva de Antonio Enrique Pérez Luño, segundo o qual os direitos
humanos possuem maior amplitude e imprecisão, quando comparados aos
direitos fundamentais. Por sua vez, os últimos apresentam características opostas
aos primeiros, já que exteriorizam a positivação de preceitos estatais. Todavia, é
inegável a correspondência entre os institutos, pela razão de que muitos sistemas
constitucionais orientaram-se em diplomas internacionais, sobretudo na DUDH.31

Consequentemente, um Estado de direito deve respeitar e cumprir os


direitos do homem proclamados nos grandes Pactos e Declarações
internacionais.32

Quanto à comunicabilidade dos direitos humanos (patamar


internacional) e dos direitos fundamentais (âmbito nacional), há muitas discussões
acerca da recepção dos tratados internacionais pelo direito interno. Para o Direito
Internacional, não cabe analisar como ocorre a receptividade, torna-se relevante

29
FERRAJOLI, Luigi, op. cit., p. 48-50.
30
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Uma teoria geral dos direitos
fundamentais na perspectiva constitucional. 10.ed. rev., atual. e ampl. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2009. p. 29.
31
Ibid., p. 31-32.
32
CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e a teoria da constituição. 4.ed. Coimbra:
Almedina, 2000. p. 233.
27

apenas saber se houve o cumprimento ou não dos acordos, sem cogitar escusas
para o desrespeito.33

Além disso, a apreciação advinda do Direito Internacional dos Direitos


Humanos tem como ponto nuclear o princípio da interpretação pro homine, ou seja,
sempre objetivando a proteção dos homens.34

No que diz respeito aos direitos humanos fundamentais, Alexandre de


Moraes afirma que:

O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano


que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de
sua proteção contra o arbítrio do poder estatal, e o estabelecimento
de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade
35
humana pode ser definido como direitos humanos fundamentais.

De acordo com José Afonso da Silva, é tarefa árdua a definição lógica


e sintética dos direitos fundamentais do homem também chamados de direitos
fundamentais da pessoa humana ou direitos humanos fundamentais. Segundo o
autor, merece destaque a denominação derechos humanos36 disposta por Antonio
Enrique Pérez Luño:

[...] os direitos humanos aparecem como um conjunto de faculdades e


instituições que, em cada momento histórico, concretizam as
exigências da dignidade, a liberdade e a igualdade humanas, as quais
devem ser reconhecidas positivamente pelos ordenamentos jurídicos
37
em nível nacional e internacional.

33
RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na ordem internacional.
2.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 222.
34
Ibid., p. 82.
35
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. Teoria geral. Comentários aos
arts. 1º a 5º da Constituição da República Federativa do Brasil. Doutrina e jurisprudência.
7.ed. São Paulo: Atlas, 2006. p. 21.
36
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 22.ed. rev. e atual. São
Paulo: Malheiros, 2003. p. 178. Cumpre mencionar que Alexandre de Moraes compartilha do
entendimento de José Afonso da Silva. In: MORAES, Alexandre de, op. cit., p. 22.
37
PÉREZ LUÑO, Antonio Enrique. Derechos humanos, estado de derecho y constitucion.
8.ed. Madrid: Tecnos, 2003. p. 48.
28

No que tange à liberdade sindical, de acordo com a Organização


Internacional do Trabalho, os trabalhadores e empregadores:

[...] têm o direito de constituírem organizações da sua escolha, assim


como o de nelas se filiarem, com vista a promover e defender os seus
interesses, e o direito de negociar colectivamente entre si. Devem poder
fazê-lo livremente, sem a ingerência da outra parte ou do Estado. A
liberdade sindical é um direito humano fundamental e, conjuntamente
com o direito de negociação colectiva, constitui um dos valores
fundamentais da OIT. Os direitos de organização e de negociação
colectiva são direitos indispensáveis para promover a democracia, uma
38
boa governação do mercado de trabalho e condições de trabalho dignas.

Ante as expressões descritas, a liberdade sindical apresenta-se como


um direito humano fundamental, previsto nos principais diplomas internacionais
de proteção e reconhecimento da temática humanitária, qual seja a Carta
Internacional de Direitos Humanos e outros diplomas do Direito Internacional do
Trabalho. Ademais, está inserida no conjunto de direitos e liberdades
fundamentais destinado a proporcionar ao homem os requisitos mínimos para
que possa usufruir de uma vivência digna.

1.1.2 Liberdade sindical nas Cartas Internacionais

O conjunto formado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos


(1948), o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(1966) e o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (1966) e os seus
dois protocolos facultativos (referente ao procedimento de queixa e sobre pena
de morte), constituem a denominada Carta Internacional dos Direitos Humanos.
Não obstante, a Carta não se formou imediatamente, a proclamação
dos três documentos ocorreu paulatinamente, com um lapso temporal de
aproximadamente duas décadas entre a edição da DUDH e dos Pactos.

Essa trilogia não corresponde a um resultado natural e consensual


universal acerca da temática humanitária. O processo de elaboração em etapas
38
OIT. Relatório Global de Acompanhamento da Declaração da OIT relativa aos Princípios e
Direitos Fundamentais no Trabalho. Liberdade sindical na prática: lições a retirar.
Organização Internacional do Trabalho, Genebra, 2008. p. ix.
29

da Carta é consequência das concepções divergentes provenientes dos membros


da Comissão e da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.39

Primeiramente, quanto à Declaração Universal dos Direitos Humanos,


trata-se de uma resolução, portanto, teoricamente, não teria realização vinculada
à atuação dos Estados. Entretanto, a proteção dos direitos humanos está em
patamar superior a qualquer ordenamento jurídico nacional, uma vez que são
direitos supranacionais. Essa transcendência pode ser constatada no excerto:

Esse entendimento, porém, peca por excesso de formalismo.


Reconhece-se hoje, em toda parte, que a vigência dos direitos
humanos independe de sua declaração em constituições, leis e
tratados internacionais, exatamente porque se está diante de
exigências de respeito à dignidade humana, exercidas contra todos os
40
poderes estabelecidos, oficiais ou não.

Sendo assim, os chamados direitos humanos globalizados influenciam


na compreensão tradicional de soberania estatal, isto é, na sua relativização e
flexibilização, objetivando atribuir aos direitos humanos o efetivo caráter universal.
Consoante Flávia Piovesan, a Segunda Guerra Mundial evidenciou um corte nos
direitos humanos, por outro lado, o pós-guerra poderia ser interpretado como a
reconstrução, representada pela DUDH, assim como pelo apregoamento da
universalidade e da indivisibilidade dos relatados direitos.41

No que tange aos Pactos, exercem função de complementaridade à


DUDH, fazendo com que os direitos elencados recebam força de obrigação
jurídica com relação aos entes estatais-partes, os quais se comprometeram
voluntariamente e de forma solene à implementação.42

Para Dalmo de Abreu Dallari, ambos os Pactos exercem papel de


normas internacionais, verdadeiras obrigações políticas meticulosas sobre
respeito aos direitos na área da saúde, educação, moradia, reforma agrária e em
todos os setores imprescindíveis à existência da vida sob o esteio da dignidade

39
ALVES, José Augusto Lindgren. A arquitetura internacional dos direitos humanos. Coord.
Hélio Bicudo. São Paulo: FTD, 1997. p. 25.
40
COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 227.
41
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos globais, justiça internacional e o Brasil. In: AMARAL
JÚNIOR, Alberto; MOISÉS, Cláudia Perrone. O cinqüentenário da declaração universal dos
direitos do homem.São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999. p. 240.
42
ALVES, José Augusto Lindgren, op. cit., p. 24.
30

humana. Além disso, “os países que assinam esses tratados se obrigam
juridicamente a respeitá-los e fazer com que sejam cumpridos”.43

A existência e a divisão dos temas em dois Pactos assentam-se sobre


um compromisso diplomático. As potências ocidentais almejavam somente o
reconhecimento das liberdades individuais clássicas, ante o poderio estatal na
vida privada das pessoas. Por outro lado, o bloco comunista e os países africanos
ambicionavam os direitos sociais e econômicos, o que resultou a criação dual. Em
dadas passagens, ressalta-se o aspecto de artificialidade, por exemplo, na
disposição do direito à autodeterminação dos povos, previsto de forma idêntica no
artigo 1º de ambos os Pactos.44

Isso posto, é evidente a importância da Carta Internacional dos Direitos


Humanos, a qual está acima de uma mera formalização jurídica. Trata-se da
afirmação e reconhecimento dos direitos e liberdades intrínsecos ao homem, seja
no aspecto individual e, sobretudo, na vertente coletiva.

Durante a primeira metade do século XX, na Segunda Guerra Mundial


(1939-1945) observou-se a ocorrência de diversos crimes contra a humanidade,
especialmente, em decorrência da subjugação de um povo sobre o outro, como
nas crueldades ocorridas nos campos de concentração. Tais fatos evidenciaram a
fragilidade dos sistemas nacionais no que tange ao combate e até mesmo à
prevenção acerca da violação dos direitos humanos, seja aquela realizada sobre
um grupo ou a pessoas isoladamente.

Tornou-se imprescindível a edição de um documento que afirmasse e


reconhecesse os referidos direitos, não uma simples tipificação, houve a
necessidade de enfatizar algo que deveria ser evidente: os direitos humanos
atrelados ao indivíduo em caráter universal, indivisível e imprescritível,
independente da sua localização no globo, ou seja, de alcance transnacional.

Segundo Antônio Augusto Cançado Trindade, houve um


desenvolvimento acerca da proteção dos direitos envolvendo a temática em
comento, tornou-se compreensível que os direitos básicos do homem não

43
DALLARI, Dalmo de Abreu. Os 50 anos da declaração universal dos direitos do homem e do
nascimento de um novo direito. In: SOUZA, Carlos Aurélio Mota de; BUENO, Roberto. 50 anos
de direitos humanos. São Paulo: Themis Livraria e Editora, 2003. p. 81.
44
COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 278.
31

estavam adstritos à atividade estatal por meio da denominada “competência


exclusiva”. O exclusivismo mostrou-se inadequado no que diz respeito à
particularização da soberania, já que não condiz com as relações
internacionais.45

No entanto, a confecção de um documento de alcance internacional


desdobrou-se de forma gradativa.

Durante a sessão do Conselho Econômico e Social das Nações


Unidas, em 16 de fevereiro de 1946, concluiu-se que a Comissão de Direitos
Humanos desenvolveria suas atividades em três estágios. Primeiramente, a
criação de uma declaração de direitos humanos. Em um segundo momento, a
organização de um documento com maior força vinculante. E, por fim, a formação
de instrumentos capazes de garantir o cumprimento dos direitos humanos, tal
como cuidar das possíveis violações. Ante isso, em 18 de junho de 1948 a
mencionada Comissão apresentou o projeto da Declaração.46

Em 10 de dezembro do mesmo ano, a Declaração Universal dos


Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas em Paris, por meio da Resolução 217 A (III), cuja assinatura do
Estado brasileiro ocorrera na mesma data.

A proclamação da DUDH teve como objetivo o delineamento de uma


ordem pública mundial, estruturada na dignidade da pessoa humana diante da
aclamação de direitos básicos. Muito se discutiu sobre a sua aplicabilidade, visto
que não é um tratado e se apresenta sob a forma de resolução, apesar disso,
possui natureza jurídica vinculante, sendo um dos maiores instrumentos jurídicos e
políticos do século XX.47

A existência de uma força jurídica vinculante pode ser sustentada a


partir da corrente defensora da integração ao direito costumeiro internacional,
sob os seguintes argumentos: a) a incorporação de afirmações da Declaração
nos sistemas constitucionais pátrios; b) a referência das resoluções das
Nações Unidas do dever dos Estados em observar a Declaração; c) as

45
TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. A proteção internacional dos direitos humanos:
fundamentos jurídicos e instrumentos básicos. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 04.
46
COMPARATO, Fábio Konder, op. cit., p. 225.
47
PIOVESAN, Flávia (2008), op. cit., p. 137-146.
32

decisões proferidas em sede dos tribunais internos alusivas à Declaração


como fonte de direito.48

O texto da DUDH consagra em vários artigos e, inclusive no


preâmbulo, o respeito aos direitos e liberdade fundamentais relacionados do
homem, tais como o direito à vida, proibição da escravidão, não submissão à
prática de tortura, assim como a liberdade de ir e vir. Nesse contexto, destaca-se
a liberdade de reunião e associação e, consequentemente, a liberdade sindical,
dispostas da seguinte maneira:

Artigo XX. 1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e


associação pacíficas. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de
uma associação.

Artigo XXIII. [...] 4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e


neles ingressar para proteção de seus interesses.

No artigo 20, está compreendida a liberdade de associação, trata-se


do gênero, enquanto no artigo 23, há a espécie liberdade sindical (constituir
sindicatos e o direito de filiação). Posto isso, verifica-se a elevação da liberdade
sindical a status de direito humano, especialmente um direito humano
fundamental do trabalhador, previsto também na Constituição Federal brasileira
de 1988, apesar da mitigação prescrita pelo diploma constitucional.

Há um tratamento tênue acerca da sindicalização na DUDH, porquanto


não caberia a uma Declaração de dimensão geral discorrer detalhadamente sobre
tal particularidade. Ademais, meses antes da sua edição, a Organização
Internacional do Trabalho adotara a Convenção n. 87 tratando especificadamente
sobre a liberdade sindical e a proteção do direito de sindicalização.

A segunda parte referente aos trabalhos da Comissão de Direitos


Humanos alude à criação dos Pactos complementares, isto é, a consagração
dos direitos previstos na DUDH. O primeiro deles é o Pacto Internacional
Relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, adotado e aberto à
assinatura, ratificação e adesão pela Assembleia Geral das Nações Unidas sob
a resolução n. 2.200 – A (XXI) de 16 de dezembro de 1966, cujo início da
vigência ocorreu em 03 de janeiro de 1976.

48
PIOVESAN, Flávia (2008), op. cit., p. 144-145.
33

No ordenamento jurídico brasileiro, o referido Pacto entrou em vigor em


06 de julho de 1992 sob o Decreto n. 591. Seu preâmbulo ressalta a obrigação da
criação de condições que assegurem o acesso das pessoas aos direitos
econômicos, sociais e culturais, tal como aos direitos civis e políticos,
estruturados na dignidade inerente à pessoa humana. Há destaque também para
os deveres de cada indivíduo e aqueles pertencentes às coletividades.

Além disso, há a previsão de outros direitos, tais como: remuneração


adequada, associação sindical, nível de vida apropriado para si e a família,
alimentação, vestuário e moradia satisfatórios, direito ao trabalho, saúde física e
mental, diminuição da mortalidade infantil e previdência social.

O Pacto Internacional Relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e


Culturais apresenta “roupagem de tratado internacional”, visando à obrigatoriedade
dos Estados-partes perante a comunidade internacional e, em caso de violação dos
direitos elencados, receberão a devida responsabilização. Por isso, observa-se o
direcionamento de deveres aos signatários, conforme o uso de expressões como:
“os Estados-partes reconhecem o direito de cada um...”.49

Ademais, os países precisam demonstrar o cumprimento de direitos


sociais elementares, ainda que haja insuficiência de recursos e a situação
econômica seja adversa, pois tais fatos não poderão ser utilizados como
empecilhos ao cumprimento dos deveres aceitos.50

No que concerne ao direito de associação sindical, o Pacto versou


de forma mais detalhada que na DUDH, dedicando o artigo 8º ao tema. No
caput, observa-se a força vinculante atribuída aos Estados assinantes do
documento. Em seguida, no item 1, alínea “a”, há a exteriorização da liberdade
sindical para a fundação e filiação de sindicatos sob a livre escolha do
indivíduo, cabendo restrições somente com previsão na legislação e para
garantir a segurança nacional ou a ordem pública, ou para proteger os direitos
e liberdades alheias.

Na alínea “b”, há a possibilidade dos sindicatos formarem


agrupamentos de grau superior, como federações ou confederações nacionais.

49
PIOVESAN, Flávia (2008), op. cit., p. 174.
50
WEIS, Carlos. Direitos humanos contemporâneos. 2.ed. São Paulo: Malheiros, 2010. p. 102.
34

Tais instituições poderão desenvolver organizações sindicais em âmbito


internacional ou se associar. Às entidades sindicais é garantido o direito de
exercício das suas atividades sem qualquer controle, exceto nas limitações legais
e imprescindíveis (alínea “c”). O primeiro item é finalizado com o direito de greve
conforme as condições legais de cada nação (alínea “d”).

O item 2 faz alusão à limitação dos direitos sindicais previstos no artigo


em comento a certas camadas da sociedade, como os membros das forças
armadas, da política ou da Administração Pública.

O dispositivo é encerrado com o impedimento aos Estados ratificadores


da Convenção n. 87 da Organização Internacional do Trabalho em restringir a
liberdade sindical por meio de leis locais (item 3).

Quanto ao Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos,


aprovado na mesma data que o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais, teve o início da vigência internacional em 23 de março de
1976. Tendo sido incorporado ao ordenamento nacional sob o Decreto n. 592 de
06 de julho de 1992 e a vigência em 24 de abril do referido ano.

O cotejamento dos Pactos demonstrou repetições, inclusive, com a


cópia literal de alguns artigos. Nesse sentido, o art. 1º sobre autodeterminação
dos povos e o art. 5º sobre a interpretação do Pacto. Todavia, apresenta
inovações como o art. 24, dedicado à proteção da criança por parte da família,
Estado e sociedade, bem como a aquisição de nacionalidade. No art. 11, a
proibição da prisão em decorrência do simples inadimplemento contratual.

Todavia, conforme observado anteriormente, a disposição do conteúdo


dos Pactos exclusivamente em um diploma não foi possível em decorrência da
ausência de convergência entre os blocos socialistas e capitalistas.

No tocante ao tratamento dispensado ao direito de associação sindical:

Artigo 22
1. Toda pessoa terá o direito de associar-se livremente a outras,
inclusive o direito de construir sindicatos e de a eles filiar-se, para a
proteção de seus interesses.

2. O exercício desse direito estará sujeito apenas às restrições previstas


em lei e que se façam necessárias, em uma sociedade democrática, no
interesse da segurança nacional, da segurança e da ordem públicas, ou
35

para proteger a saúde ou a moral pública ou os direitos a liberdades das


demais pessoas. O presente artigo não impedirá que se submeta a
restrições legais o exercício desse direito por membros das forças
armadas e da polícia.

3. Nenhuma das disposições do presente artigo permitirá que Estados


Partes da Convenção de 1948 da Organização do Trabalho, relativa à
liberdade sindical e à proteção do direito sindical, venham a adotar
medidas legislativas que restrinjam - ou aplicar a lei de maneira a
restringir - as garantias previstas na referida Convenção.

Diante do excerto, não são verificadas modificações com relação ao


texto do Pacto analisado em momento precedente, exceto pela ausência de alusão
ao direito de greve. Todavia, é certo que se está diante da reafirmação da
liberdade sindical como um direito humano fundamental inerente ao trabalhador.

Quanto à fiscalização sobre o cumprimento dos direitos e deveres


abarcados pelo Pacto, o art. 40 informa que os Estados membros assumem o
compromisso de envio de relatórios sobre as medidas adotadas para a efetivação,
tal como o progresso atingido. Esses documentos serão analisados pelo Comitê
de Direitos Humanos, composto por dezoito membros dos Estados-partes (art. 28).

No que concerne à liberdade sindical, os três diplomas componentes


da Carta Internacional de Direitos Humanos apresentam-na como uma das
liberdades essenciais à preservação da dignidade humana dos atores sociais,
seja para constituir autonomamente organizações sindicais ou simplesmente
escolher de forma livre a entidade a qual pretende se filiar.

1.2 Liberdade sindical como direito humano fundamental

1.2.1 Conceito de liberdade sindical

Em decorrência do seu uso em diversificados períodos da


existência da humanidade, a liberdade evolui e ressignifica-se conforme as
realidades sociais. Para Montesquieu, “não existe palavra que tenha recebido
36

tantos significados e tenha marcado os espíritos de tantas maneiras quanto a


palavra liberdade.51

O dicionário Houaiss da Língua Portuguesa define a palavra


“liberdade” como um grau de independência legítimo que um cidadão, um povo
ou uma nação elege como valor supremo. Ademais, trata-se de um “poder que
tem o cidadão de exercer a sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei”.
No que se refere ao vocábulo “sindical”, está relacionado aos sindicatos.52

No que tange à órbita trabalhista, Octávio Bueno Magano credita à


liberdade sindical “o direito dos grupos profissionais e dos trabalhadores, que os
compõem, de promoverem os interesses respectivos”.53

Para Antonio Ojeda Avilés, a liberdade sindical pode ser definida como
“el derecho fundamental de los trabajadores a agrupar-se establemente para
participar em la ordenación de las relaciones productivas”.54

Amauri Mascaro Nascimento destaca a liberdade sindical como uma


expressão que comporta mais de um sentido. Por exemplo, quando se objetiva
a classificação de sistemas de acordo com o ordenamento jurídico nacional,
faz-se uso do “método de conhecimento do direito sindical”, o qual se
manifesta pela liberdade sindical plena, relativa ou sem liberdade sindical. Por
outro lado, se o desafio é a proposição de uma resposta para a indagação “que
é liberdade sindical”, há o desenvolvimento da liberdade como direito de
organização e liberdade como direito de atuação, possuindo caráter de
complementaridade e integração.55

À medida que se almeja a abrangência da liberdade sindical, constata-


se a concretização da liberdade coletiva (grupos formais ou informais), da
liberdade individual (direito de filiação e desfiliação), bem como da liberdade no
plano relacional, cuja exteriorização ocorre ante o Estado, empregador ou outros
sindicatos. Diante das acepções aventadas, a liberdade sindical “[...] significa
51
MONTESQUIEU, Charles de Secondat. O espírito das leis. Trad. Cristina Murachco. São
Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 165
52
HOUAISS, Antônio. Dicionário houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva,
2009. p. 1175; 1748.
53
MAGANO, Octávio Bueno. Dicionário jurídico-econômico das relações de trabalho. São
Paulo: Saraiva, 2002. p. 138.
54
OJEDA AVILÉS, Antonio. Compendio de derecho sindical. Madrid: Tecnos, 1998. p. 34.
55
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. 24.ed. São Paulo: Saraiva,
2009. p. 1224-1225.
37

mais que liberdade de organizar sindicatos para a defesa dos interesses coletivos
mas, também, um princípio de autonomia coletiva que deve presidir os sistemas
jurídicos pluralistas.”56

José de Segadas Vianna ensina que a liberdade sindical possui


peculiaridades que se sobrepõe ao indivíduo isolado. Trata-se de uma
consequência do direito de associação expresso na Declaração Universal dos
Direitos do Homem, bem como em convenções da Organização Internacional do
Trabalho, relacionando-se com a garantia de reunião prevista nas Cartas
constitucionais dos Estados democráticos.57

José Francisco Siqueira Neto explica que a liberdade sindical é um


direito político vinculado à história dos movimentos de trabalhadores em prol
da expansão do âmbito de participação, cuja finalidade é a “viabilização do
aparecimento de sindicatos livres e autônomos em relação ao Estado e à
contraparte, no sentido de possibilitar o equilíbrio de poder nas relações de
trabalho”.58

Segundo Gino Giugni, o direito de organizar-se livremente, conforme


previsão no ordenamento constitucional italiano, exterioriza-se como um direito
público subjetivo de liberdade, visando ao impedimento da ação estatal lesiva
ao interesse tutelado. Por isso, a inserção na Constituição corrobora para o
estabelecimento de garantias com relação ao Estado. Contudo, essa proteção
não é vislumbrada somente pela disposição normativa, há eminente
59
participação das relações intersubjetivas de caráter privado.

Guillermo Cabanellas assevera:

A liberdade sindical constitui espécie de direito de associação para


fins lícitos e pacíficos, geralmente reconhecido a todos os
habitantes de um país, como faculdade de reunir suas forças com as
de seus semelhantes em uma ou mais atividades, mediante a

56
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2007), op. cit., p. 1225
57
VIANNA, José de Segadas. Direito coletivo do trabalho. São Paulo: LTr, 1972. p. 47.
58
SIQUEIRA NETO, José Francisco. Liberdade sindical e representação dos trabalhadores
nos locais de trabalho. São Paulo: LTr, 1999. p. 81.
59
GIUGNI, Gino; CURZIO, P.; GIROFALO, M. G. Direito Sindical. Trad. Eiko Lucia Itioka. Rev. José
Francisco Siqueira Neto. São Paulo: LTr, 1991. p. 47.
38

criação de organismos coletivos que não visem lucro, constituindo


60
sociedades ou companhias civis ou mercantis.

Para Manuel Alonso Olea, o direito de o trabalhador filiar-se livremente


e constituir sindicatos implica a liberdade sindical como princípio organizativo da
classe de trabalhadores, trata-se de um gênero mais amplo que reconhece a toda
pessoa o direito de associar-se a outras.61

J. J. Gomes Canotilho acentua que a liberdade sindical está acima da


simples associação perante o Estado:

[...] o acento tónico coloca-se no direito à actividade sindical, perante o


Estado e perante o patronato, o que implica, por um lado, o direito de
não ser prejudicado pelo exercício dos direitos sindicais e, por outro lado,
o direito a condições de actividade sindical (direito de informação e de
assembleia nos locais de trabalho, dispensa de trabalho para dirigentes
e delegados sindicais, etc). Finalmente, dada sua natureza de
organizações de classe, os sindicatos possuem uma importante
dimensão política, que se alarga muito para além dos interesses
profissionais dos sindicalizados, fazendo com que a liberdade sindical
consista também no direito dos sindicatos a exercer determinadas
62
funções políticas.

No ordenamento jurídico brasileiro, o legislador consagrou a liberdade


de associação no art. 5º, inciso XVII da Constituição Federal, segundo a qual, a
qualquer pessoa é permitido associar-se com intuitos lícitos, não se admitindo a
de caráter paramilitar.

Nesse sentido, a liberdade de associação é gênero e a liberdade


sindical uma espécie, cuja compreensão não se restringe apenas ao aspecto
individual, ou seja, no direito de filiação e de organizar sindicatos, estende-se à
própria entidade e na autonomia para tomar decisões quanto ao bom
funcionamento, por exemplo.

A simples disposição normativa ou jurídica da liberdade sindical é


insuficiente para a sua verdadeira efetividade no contexto nacional, faz-se
imprescindível garanti-la. Essa garantia somente é vislumbrada em um Estado

60
CABANELLAS, Guillermo. Compendio de derecho laboral. Buenos Aires: Bibliográfica Omeba,
1968. p. 99
61
ALONSO OLEA, Manuel. Derecho del trabajo. 6.ed. Madrid: Universidad de Madrid –
Facultad de Derecho, 1980. p. 399.
62
CANOTILHO, J. J. Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da república portuguesa anotada.
3.ed. rev. Coimbra: Coimbra, 1993. p. 299-300.
39

Democrático de Direito, cuja intervenção seja a mínima possível, necessária


apenas para a concretização do princípio liberatório e para a exteriorização dos
demais direitos sindicais.

1.2.2 Normatização da Organização Internacional do Trabalho

A liberdade sindical está prevista nos principais diplomas internacionais


referentes aos direitos humanos fundamentais. No Direito Internacional do
Trabalho, observa-se a normatização nas convenções e recomendações
aprovadas pela Organização Internacional do Trabalho.

A OIT foi criada após a Primeira Guerra Mundial, em 1919, sendo parte
do Tratado de Versalhes. A instituição possui composição tripartite, formada por
representantes dos governos, trabalhadores e empregadores.

Segundo o preâmbulo da Constituição da OIT, “a paz para ser


universal deve assentar sobre a justiça social”. Além disso, há a enumeração
exemplificativa de melhorias das condições de trabalho, como a afirmação do
princípio de liberdade sindical.

A estrutura orgânica compõe-se da Conferência Internacional do


Trabalho, o Conselho de Administração e a Repartição Internacional do
Trabalho. Destaca-se o papel da Conferência Internacional do Trabalho como
Assembleia Geral (órgão supremo), responsável pela regulamentação
internacional do trabalho, bem como os problemas afins, seja por intermédio de
convenções, recomendações ou resoluções.63

Os fatos propulsores ou etapas motivadoras ao surgimento da


Organização Internacional do Trabalho ocorreram anteriormente à assinatura do
Tratado de Versalhes em 1919.
As concepções iniciais da legislação trabalhista voltada ao âmbito
internacional foram intentadas pelo francês Daniel Le Grand (1783-1859), que

63
SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito internacional do trabalho. In: SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO,
Délio; VIANNA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de direito do trabalho. 22.ed. São
Paulo: LTr, 2005. v.II. p. 1550.
40

almejava a promulgação de normas pelos governos europeus para findar as


“lutas impiedosas entre os competidores”. A disseminação dos seus ideais
surgiu por meio de entidades privadas, como nos Congressos Internacionais de
Beneficência, cujo objetivo essencial era a adoção de regras em nível global,
destinadas à proteção dos trabalhadores; em seguida, adveio a expansão dos
movimentos sindicais.64

Em 1890, ocorreu a Conferência de Berlim, momento incipiente no


qual os países reuniram-se para discutir a normatização trabalhista. Em 1897,
realizou-se o “Primeiro Congresso Internacional da Proteção do Trabalho” em
Zurique, com enfoque para a aprovação de uma resolução solicitando ao
governo suíço a promoção da legislação internacional do trabalho, assim como
o convite a várias nações para a criação de uma repartição voltada ao labor.65

Antes da concretização de tal objetivo, realizou-se um congresso em


Bruxelas (1897). Em 1900, fundou-se a Associação Internacional de Legislação
do Trabalho na Suíça, considerada a predecessora da OIT. Contudo,
diferenciava-se desta, particularmente, pela ausência de governos na sua
estrutura, formada exclusivamente por associações nacionais que poderiam
representar os Estados. Apenas três conferências internacionais haviam sido
realizadas, quando ocorreu a Primeira Guerra Mundial e pôs fim ao exercício da
Associação.66

Em 28 de junho de 1919, a assinatura do Tratado de Versalhes pelas


potências européias encerrou formalmente a mencionada guerra. No tocante à
Parte XIII do documento, versou sobre a criação da OIT como uma instituição
atrelada à Liga das Nações; atualmente, uma agência pertencente às Nações
Unidas desde 1946.

O texto67 do Tratado de Versalhes enfatizou o estabelecimento da paz


universal por meio da justiça social. Para tanto, ante as muitas injustiças na seara

64
OIT. AS NORMAS INTERNACIONAIS DO TRABALHO. Manual de educação obreira. Genebra:
Repartição Internacional de Trabalho, 1978. p. 03.
65
Ibid., p. 04.
66
Ibid., p. 04-05.
67
Texto original do Tratado de Versalhes: Whereas the League of Nations has for its object the
establishment of universal peace, and such a peace can be established only if it is based upon
social justice; And whereas conditions of labour exist involving such injustice, hardship, and
privation to large numbers of people as to produce unrest so great that the peace and harmony
of the world are imperilled; and an improvement of those conditions is urgently required: as, for
41

trabalhista, vislumbrou-se a indispensável melhoria das condições, por exemplo,


mediante a regulamentação das horas de trabalho, bem como o reconhecimento
do princípio da liberdade de associação. Especificamente, o art. 427 dispôs
sobre o princípio da liberdade sindical, assim: “The right of association for all
lawful purposes by the employed as well as by the employers”.

Ainda em 1919, na cidade de Washington, realizou-se a primeira


reunião da Conferência da OIT, a qual elegeu o Conselho de Administração e
também foi escolhido Albert Thomas como diretor da Repartição Internacional do
Trabalho, cargo que ocupou até o seu falecimento em 1932.68

Diversamente da mencionada Associação Internacional de


Legislação do Trabalho, a OIT traz como características:

[...] é uma pessoa jurídica de direito público internacional, de caráter


permanente, constituída de Estados, que assumem, soberanamente, a
obrigação de observar as normas constitucionais da entidade e das
convenções que ratificam, integrando o sistema das Nações Unidas
como uma das suas agências especializadas. A OIT é uma associação
69
de Estados, mas não uma entidade supra-estatal [...]

Ademais, cumpre observar a formação tripartite da OIT nos seus


órgãos colegiados (Conferência Internacional do Trabalho, Conselho de
Administração e Repartição Internacional do Trabalho), isto é, a participação
de representantes de trabalhadores, empregadores, tal como dos governos.
Entretanto, essa composição é creditada, principalmente, aos movimentos
sindicais sucedidos antes e durante a Primeira Guerra Mundial com o intuito de
proteger o trabalho em âmbito internacional.70

Observa-se na Constituição da OIT, sobretudo, no texto anexado,


advindo da Declaração de Filadélfia (1944), a reafirmação dos princípios

example, by the regulation of the hours of work, including the establishment of a maximum
working day and week, the regulation of the labour supply, the prevention of unemployment, the
provision of an adequate living wage, the protection of the worker against sickness, disease and
injury arising out of his employment, the protection of children, young persons and women,
provision for old age and injury, protection of the interests of workers when employed in
countries other than their own recognition of the principle of freedom of association, the
organisation of vocational and technical education and other measures; Disponível em:
<http://avalon.law.yale.edu/imt/partxiii.asp.>. Acesso em: julho de 2013.
68
SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito internacional do trabalho. 3.ed. São Paulo: LTr, 2000. p. 107-108.
69
SÜSSEKIND, Arnaldo. Convenções da OIT. 2.ed. São Paulo: LTr, 1998. p. 19.
70
Ibid., p. 24.
42

básicos71 inerentes à proteção do trabalhador, dos quais se destaca o gênero


“liberdade de associação”.

Nesse sentido, é inegável a preocupação da instituição com relação à


eminência dos direitos humanos fundamentais, por serem “um elemento
essencial de toda ação destinada a melhorar a situação dos trabalhadores”.72 A
proteção aos trabalhadores conferida pela OIT promove a universalização e a
internacionalização dos direitos humanos, consentâneas à dignidade humana.73

Todavia, a disposição genérica do direito associativo nas aludidas


Cartas Internacionais mostrou-se insuficiente para garantir a plena liberdade
sindical. Por isso, foram adotadas normas específicas para tal finalidade, quais
sejam: a Convenção n. 87, Convenção n. 98, Convenção n. 151, assim como a
Declaração da OIT sobre os “Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho”.

Além das referidas normas com o intuito de assegurar a liberdade


sindical, a OIT dispõe do Comitê de Liberdade Sindical, comissão responsável
por analisar os casos de violação dos direitos sindicais, por meio de queixas
apresentadas pelos governos, bem como pelas entidades representantes dos
trabalhadores ou empregadores.

Em 17 de julho de 1948, a Conferência Geral da Organização


Internacional do Trabalho reuniu-se em São Francisco para a 31ª Sessão, a qual
resultou na adoção da Convenção n. 87 sobre “Liberdade Sindical e Proteção do
Direito de Sindicalização”, cuja vigência ocorreu a partir de 4 de julho de 1950.

Atualmente, a lista de Estados ratificadores do Convênio é de cento e


cinquenta e dois74, no entanto, países com destaque no cenário mundial ainda não

71
A Constituição da OIT, no seu Anexo, n. I destaca os seguintes princípios fundamentais: a) o
trabalho não é uma mercadoria; b) a liberdade de expressão e de associação é uma condição
indispensável a um progresso ininterrupto; c) a penúria, seja onde for, constitui um perigo para a
prosperidade geral; d) a luta contra a carência, em qualquer nação, deve ser conduzida com
infatigável energia, e por um esforço internacional contínuo e conjugado, no qual os
representantes dos empregadores e dos empregados discutam, em igualdade, com os dos
Governos, e tomem com eles decisões de caráter democrático, visando o bem comum.
72
OIT (1978), op. cit., p. 27.
73
PASSOS, André Franco de Oliveira; FRIEDRICH, Tatyana Scheila. Direito internacional e
liberdade sindical: da teoria geral à necessidade de aplicação prática. In: NICOLADELI, Sandro
Lunard; PASSOS, André Franco de Oliveira; FRIEDRICH, Tatyana Scheila (Org.). O direito
coletivo, a liberdade sindical e as normas internacionais. São Paulo: LTr, 2013. v. I. p. 25.
74
Listagem obtida por meio de consulta realizado no endereço eletrônico da Organização
Internacional do Trabalho. Disponível em: <http//:www.ilo.org>. Acesso em agosto de 2013.
43

fazem parte desse rol, por exemplo: Brasil, China, Índia, Nova Zelândia e os
Estados Unidos.

Na época da edição da norma internacional, isto é, fim da Segunda


Guerra Mundial, significou uma resposta aos regimes nazista e fascista,
especialmente, às organizações sindicais inspiradas no modelo de Benito
Mussolini.75 Nessas circunstâncias, objetivou-se a proteção dos direitos sindicais
de empregados e empregadores por uma norma internacional criada
especialmente para tal finalidade, diversamente do aspecto geral trazido pelo
Tratado de Versalhes.

Harold Dunning destaca que qualquer trabalhador, seja pertencente ao


setor industrial ou da agricultura, por exemplo, poderia compreender o texto, já
que os artigos são curtos, pois não há uma linguagem técnica dificultando o
entendimento. Além disso, a adoção da Convenção n. 87 repercutiu positivamente
para a formulação de elementos que convergiram para a Declaração Universal
dos Direitos Humanos.76

A aludida Convenção é dividida em quatro partes, quais sejam: Parte I –


liberdade Sindical; Parte II – Proteção do Direito Sindical; Parte III – Medidas
Diversas; Parte IV – Disposições Finais.

O art. 2º trouxe a liberdade de fundação de entidades sindicais e a livre


associação. Segundo esse dispositivo:

Art. 2 - Os trabalhadores e os empregadores, sem nenhuma distinção e


sem autorização prévia, têm o direito de constituir as organizações que
estimem convenientes, assim como o de filiar-se a estas organizações,
com a única condição de observar os estatutos das mesmas.

Portanto, há que se garantir a constituição de organizações


conforme as necessidades profissionais do grupo e a inexistência de regras
sobre critérios de filiação e desfiliação, exceto quanto à imprescindibilidade de
observar o estatuto da entidade a qual pretenda fazer parte.

75
AROUCA, José Carlos. Quem tem medo da convenção n. 87? Revista LTr: Suplemento
Trabalhista, São Paulo, ano 48, n. 155/12, p. 799-805, 2012.
76
DUNNING, Harold. Orígenes del convenio num. 87 sobre libertad sindical y derecho de
sindicación. Revista Internacional del Trabajo, Genebra, v. 117, n. 02, p. 153-166. p. 153.
44

Consoante o entendimento de Amauri Mascaro Nascimento, é


indispensável o estabelecimento da diferenciação entre o direito associativo e a
liberdade sindical. No Brasil, por exemplo, sempre foi garantido o direito de
associação, conforme dispunha a Constituição Republicana de 1891, bem como
nos ordenamentos constitucionais de 1934, 1937 e 1946; mas, a liberdade
sindical não ocorreu. Por isso, tal princípio manifesta-se como um “juízo de valor”,
derivado das concepções entre sindicatos, Estado e outros atores em uma
determinada ordem jurídica.77
No art. 3º, a Comissão elaboradora preocupou-se em garantir a
liberdade de administração e autonomia interna, visto que dispôs acerca do direito
das organizações sindicais elaborarem seus estatutos e regramentos
administrativos, escolher os seus representantes e estabelecer a forma e a
atuação.
Não se pode olvidar da proibição de qualquer interferência das
autoridades públicas que possam mitigar ou obstruir o desempenho das
entidades. Outrossim, a aquisição de personalidade jurídica não poderá ser
condicionada a meios que possam restringir a liberdade de associação e de
administração (art. 7º).
A liberdade sindical não está adstrita às entidades de base, poderão
ser constituídas federações e confederações; inclusive, admitindo-se a filiação às
organizações internacionais de trabalhadores e empregadores, conforme a
disposição do art. 5º.
Em vista disso, nota-se a “independência sindical” das organizações
frente às autoridades públicas e aos demais setores. Todavia, Octavio Bueno
Magano adverte para a utilização da aludida expressão, assim:

É comum entre os agentes da OIT referirem-se à Convenção n. 87,


como asseguradora de independência sindical. Compreende-se que
assim procedam, a fim de dar maior ênfase à Convenção em causa.
Contudo, a rigor, o termo não se mostra apropriado, porque conecta-se
com a idéia de soberania, própria dos Estados Nacionais, ao passo que
a liberdade sindical se traduz em uma mera autonomia, ou seja, poder
78
de auto-regulamentação, contido no âmbito da soberania.

77
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de Direito Sindical. 7.ed. São Paulo: LTr,
2012. p. 177.
78
MAGANO, Octavio Bueno. Proposta de emenda constitucional e convenção n. 87 da OIT.
Revista LTr, São Paulo, vol. 63, n. 01, jan. 1999. p. 09.
45

Data maxima vênia, ao tratar da independência sindical, não se cogita


estabelecer comparação com a soberania de qualquer Estado ou limitá-la, apenas
ressaltar a atuação autônoma da organização sindical, ou seja, sem intervenções
estatais. Além disso, o legislador nacional não poderá, sob determinada razão,
prejudicar as garantias previstas na Convenção ratificada por ele (art. 8º).

A Parte II da Convenção trouxe somente o art. 11, cuja redação


adverte para o compromisso dos membros da Organização Internacional do
Trabalho de assegurarem a efetividade do livre exercício do direito sindical,
seja dos trabalhadores ou empregadores. No que tange às Partes III e IV,
versam acerca de assuntos procedimentais, como renúncia, registro,
ratificação e prazos.

Desde a 31ª Sessão da Conferência Geral do OIT, ou seja, há mais de


meio século, a Convenção n. 87 ainda não foi ratificada pelo Brasil, houve
somente um “ensaio” para a aprovação pelo Congresso Nacional.

Em 31 de maio de 1949, durante o governo do Marechal Eurico Gaspar


Dutra, iniciou-se o processo para adesão à citada norma. Mas, o progresso foi
insignificante, tendo em vista que até 1966, consoante José Carlos Arouca, sua
tramitação foi “tortuosa, melhor dizendo vergonhosa”, ou seja, não ocorreu.79

O mencionado presidente não era considerado um defensor da


liberdade sindical, pois executou diversas ações coibindo o exercício dos
direitos sindicais, por exemplo: a interferência nas organizações sindicais, o
fechamento da Confederação dos Trabalhadores do Brasil (CTB), assim como
a criminalização do direito de greve (Decreto-Lei n. 9.070/46).80

Nesse contexto de entraves, não se pode olvidar do desaparecimento


de documentos precípuos à análise pela Câmara dos Deputados. Tal extravio
mostrou-se propício a não aprovação da Convenção n. 87, uma vez que o país
enfrentava um processo de redemocratização, conquistado com a Constituição de
1946, o que poderia colocar em xeque toda a estrutura sindical baseada no

79
AROUCA, José Carlos (2012), op. cit., p. 799.
80
Ibid.
46

modelo italiano da Carta del Lavoro, cuja manutenção era partilhada por parcela
considerável da sociedade.81

Ademais, com relação à ausência de ratificação pelo governo


brasileiro, são elencados outros fatores de comodidade, como a manutenção da
unicidade sindical e da contribuição sindical obrigatória.

Nesses termos, cumpre observar:

No Brasil, exemplos caricatos de conduta anti-sindical praticada pelo


Estado são a contribuição sindical compulsória e a unicidade sindical,
institutos previstos na Constituição federal em vigor, que ferem a
liberdade sindical. Por essa razão, o Brasil ainda não ratificou a
Convenção nº 87 da OIT, que trata da “Liberdade Sindical e Proteção do
82
Direito de Sindicalização”.

Entretanto, a prática da pluralidade sindical em contraponto ao


monopólio organizacional, não significa a afirmação absoluta da liberdade
sindical. A Convenção n. 87 da OIT aconselha a presença plural de entidades
sindicais, desde que resultantes do livre arbítrio das partes interessadas.83

Nesse sentido, a simples ratificação da Convenção 87 não é capaz de


efetivar a liberdade sindical em sua plenitude, assim como as demais
peculiaridades adstritas. Por isso, cumpre observar:

Não bastará aprovar a Convenção n. 87 para conduzir a classe operária


ao paraíso ou pelo menos ter um pouco mais de segurança e sindicatos
mais fortes e respeitados. Continuará tudo igual se não se aprovar,
também, medidas que imponham a democracia sindical, o autocontrole
através de um Conselho eleito diretamente pelos trabalhadores, a
84
vedação e punição das práticas antissindicais [...]

A incorporação da Convenção ao ordenamento brasileiro é apenas um


dos elementos necessários, pois não basta garantir, é preciso assegurar meios da

81
PINTO, Almir Pazzianotto. Convenção 87. Revista de Direito do trabalho. São Paulo, v. 31, n.
119, p. 11-14, jul./set. 2005. p. 11.
82
PINTO, Roberto Parahyba de Arruda. Pela aprovação da convenção nº 87 da OIT, pelo
Congresso Nacional, nos termos doa rtigo 5º, §3º, da Constituição Federal. Revista do
Advogado: AASP, São Paulo, v. 28, n. 97, p. 184-190, maio 2008. p. 189.
83
MEIRELLES, Davi Furtado. Liberdade sindical: o modelo ideal. LTr: Revista Legislação do
Trabalho. São Paulo, v.74, n.5, p.542-52, maio. 2010. p. 545.
84
AROUCA, José Carlos (2012), op. cit., p. 804.
47

sua efetivação, entre eles: o fortalecimento das organizações sindicais e a


concretização verdadeira da representatividade.
Após a 32ª Sessão da Conferência Geral da Organização Internacional
do Trabalho, realizada em Genebra, em 1º de julho de 1949, adotou-se a
Convenção n. 98, cujo conteúdo versa sobre o “direito de sindicalização e
negociação coletiva”. A aprovação pelo Congresso Nacional brasileiro ocorreu em
27 de agosto de 1952 por meio do Decreto Legislativo n. 49. Torna-se eminente
destacar que a norma internacional em análise exerce papel de
complementaridade em relação à Convenção n. 87.

O Convênio n. 98 visa à proteção contra quaisquer atos considerados


antissindicais, especialmente, aqueles que possam impedir o exercício da
liberdade sindical relacionado ao emprego, conforme dispõe o art. 1º.

Em seguida, são previstas duas hipóteses cuja proteção é


imprescindível, quais sejam:

Art. 1º [...] - 2. Tal proteção deverá, particularmente, aplicar-se a atos


destinados a:

a) subordinar o emprego de um trabalhador à condição de não se filiar a


um sindicato ou de deixar de fazer parte de um sindicato;
b) dispensar um trabalhador ou prejudicá-lo, por qualquer modo, em
virtude de sua filiação a um sindicato ou de sua participação em
atividades sindicais, fora das horas de trabalho ou, com o consentimento
do empregador, durante as mesmas horas.

Na alínea “a”, observa-se a defesa da liberdade de associação, isto é,


o empregador ou qualquer instituição não poderão limitar ou condicionar a
formação da relação de emprego em decorrência da manifestação de vontade do
indivíduo em agregar-se ou não a determinada organização sindical, por exemplo,
cláusulas como a closed shop (empresa aberta somente a filiados) e a open shop
(a empresa é aberta a não filiados).

Em “b”, também se tutela o direito de filiação, visto que o trabalhador


não poderá sofrer dispensa ou prejuízos em consequência da participação no
cotidiano sindical, desde que não o faça durante o exercício do horário regular de
trabalho ou, nessa situação, sem a anuência do empregador.
48

Por vezes, a proteção esbarra na dificuldade dos trabalhadores em


demonstrar o caráter antissindical das condutas adotadas em seu desfavor, ou
seja, a demonstração do real motivo da dispensa ou negativa de contratação,
como no estabelecimento de listas negras circulantes entre os empregadores. Por
isso, em dadas circunstâncias, torna-se salutar a inversão do ônus probatório,
ficando a cargo do empregador demonstrar que a medida aplicada é desconexa
às questões sindicais.85

Para a plena eficácia do art. 1º, os órgãos de controle da OIT defendem


que não basta a existência de uma legislação nacional que permita ao
empregador a dispensa sem justa causa do empregado mediante o pagamento
de indenização, pois em dadas circunstâncias, o real motivo é a filiação ou o
exercício de atividades sindicais. Por isso, a reintegração do trabalhador
dispensado e uma indenização retroativa mostram-se instrumentos adequados
para remediar a prática de atos antissindicais.86

Tais hipóteses externam apenas rol meramente exemplificativo, outras


situações podem ser aventadas. A análise dos casos decididos pelo Comitê de
Liberdade Sindical permite a visualização da criatividade negativa dos Estados,
empregadores, entidades patronais e de trabalhadores na distorção dos direitos
sindicais básicos e a consequente prática antissindical.

No texto da Convenção n. 87 contemplou-se expressamente a


impossibilidade de ingerência das autoridades públicas nas organizações
sindicais, sejam aquelas formadas por trabalhadores ou empregadores. Por sua
vez, a Convenção n. 98 acrescentou o citado impedimento concernente à
intervenção de uma agremiação em outra na formação, funcionamento e
administração da entidade, diretamente ou indiretamente por intermédio de
agentes ou membros (art. 2º, 1.).

Ademais, são elencadas algumas hipóteses que evidenciam a


interferência, tais como: ações objetivando a criação de instituições de
trabalhadores submetidas ao domínio de empregadores ou organizações
patronais; assim como, o fomento aos sindicatos de trabalhadores mediante
85
GERNIGON, Bernard. El convenio núm. 98 de la OIT: un instrumento que sigue siendo de
actualidad cincuenta años después de su adopción. Educacion Obrera. Genebra, v.1/2,
n.114/115. p.19-23. 1999. p. 20.
86
Ibid.
49

diversificados meios com o intuito de estabelecer a vinculação e dependência ao


mencionado controle (art. 2º, 2.).

Diante disso, verifica-se que o empregador é o principal “infrator


potencial da liberdade sindical”. Outrossim, insere-se a figura do Estado na prática
de atos antissindicais, seja na assunção do papel de empregador ou legislador.87

Mesmo com a ratificação da Convenção n. 98, não é possível vislumbrar


mecanismos eficientes que assegurem a negociação coletiva, pois os artigos da
Consolidação das Leis do Trabalho tratam de formalidades relacionadas, por
exemplo, ao quorum das assembleias e conteúdo dos acordos, demonstrando
inércia quanto ao impulso e estrutura da normatização coletiva.88

Nesse contexto, a existência de um sindicato sólido é imprescindível


para que a negociação coletiva também possa repercutir em efeitos positivos,
visto que uma entidade sindical “apática” não terá a autonomia suficiente para
negociar em igualdade com os empregadores.

Tal como a Convenção n. 87, a Convenção n. 98 dispõe ao


ordenamento jurídico nacional à aplicabilidade das garantias às forças armadas e
à polícia. A ratificação da Convenção por um país signatário, “não deverá ser
considerada como devendo afetar qualquer lei, sentença, costume ou acordo já
existentes, que concedam aos membros das forças armadas e da polícia
garantias previstas pela presente Convenção” (art. 5º).

Durante a 64ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho, em


1978, na cidade de Genebra, aprovou-se a Convenção n. 151 da Organização
Internacional do Trabalho, intitulada “Direito de Sindicalização e Relações de
Trabalho na Administração Pública”.

Apesar de a sua vigência ter ocorrido em 25 de fevereiro de 1981,


somente cinquenta países ratificaram-na. Ademais, a maioria das assinaturas
ocorreu a partir da década de noventa ou em momento posterior, como o Estado
brasileiro (signatário a partir de 15 de junho de 2010). Nações que desempenham
papel de relevo na economia mundial, como os Estados Unidos, Japão e China
ainda não adotaram o diploma.
87
PINTO, Roberto Parahyba de Arruda, op. cit., p. 188.
88
LOGUERCIO, José Eymard. Pluralidade sindical. Da legalidade à legitimidade no sistema
sindical brasileiro. São Paulo: LTr, 2000. p. 143.
50

Tendo em vista a participação cada vez mais expressiva da


Administração Pública na prestação de serviços, o preâmbulo da aludida norma
internacional enfatizou a necessária existência de relações salutares entre as
autoridades públicas e as organizações de servidores públicos. A Convenção traz
a expressão “empregados públicos”, mas a expressão deve ser interpretada pelo
modo extensivo, isto é, aplicável a todos os indivíduos que estabeleçam relação
trabalhista com os entes públicos.

Além disso, a execução das atividades públicas está incumbida aos


seus servidores, ou seja, indivíduos merecedores de garantias e direitos sindicais
como os trabalhadores da iniciativa privada. Consequentemente, o Estado
adquire a configuração de empregador, dotado de deveres para com seus
empregados.

No tocante à consciência brasileira para tais circunstâncias, há o


predomínio da morosidade, que não pode ser atribuída unicamente à
ratificação extemporânea da Convenção n. 151. A legislação nacional exerceu
papel limitador por um longo período, cujo exemplo recorrente é o da
Consolidação das Leis do Trabalho de 1943, a qual prevê:

Art. 566 - Não podem sindicalizar-se os servidores do Estado e os das


instituições paraestatais.

Tal dispositivo não foi recepcionado pela Constituição Federal de


1988, já que no art. 37, há a previsão do direito à sindicalização dos servidores
públicos, assim: “VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre
associação sindical”.

No art. 1º da Convenção n. 151, acentua-se a aplicação indistinta do


diploma internacional para todos os servidores da Administração Pública.
Entretanto, em decorrência do princípio da norma mais benéfica, há que se
privilegiar o regramento de outras Convenções Internacionais do Trabalho que
acarretem disposições mais salutares ao trabalhador.

Em seguida, o art. 2º dedica consideração especial à legislação


nacional dos países subscritores, visto que o ordenamento jurídico interno
deverá delimitar em quais circunstâncias as garantias previstas na Convenção
51

aplicam-se aos servidores ocupantes de cargo ou funções, cujas atribuições


demandem caráter decisório, de direção ou obrigações relacionadas a
conteúdo de elevado sigilo.

No tocante às possibilidades de utilização da Convenção para a


proteção, o art. 4º, 2, enumera duas hipóteses, quais sejam: a) o acesso ao
emprego não poderá estar adstrito a não filiação ou à desfiliação; b) a
impossibilidade de dispensa ou causa de prejuízos ao empregado em decorrência
da sua filiação a uma organização ou participação nas atividades normais.

Tal como as Convenções n. 87 e 98, a Convenção 151 cuida em


garantir a independência das organizações (de servidores públicos) em relação às
autoridades públicas, bem como aos atos de ingerência na constituição,
funcionamento e administração das entidades.

Há que se destacar o uso da negociação coletiva para determinar as


condições de emprego e a resolução de conflitos, conforme preceituam os
artigos89 7º e 8º, respectivamente.

Por fim, o art. 9º garante aos empregados públicos o usufruto dos


direitos civis e políticos com a finalidade de exercício da liberdade sindical, salvo
para as “obrigações que se derivem de sua condição e da natureza de suas
funções”.

No início da década de 90, a globalização, o fim da guerra fria e a


revolução da tecnologia da informação evidenciaram as transformações sofridas
pelo mundo. Nesse contexto, possibilitou-se o estabelecimento de um debate
global sobre as normas fundamentais do trabalho, seja no âmbito da OIT ou
externamente. Restou evidente que o crescimento econômico não atingiu o

89
Art. 7. Deverão ser adotadas, sendo necessário, medidas adequadas às condições nacionais para
estimular e fomentar o pleno desenvolvimento e utilização de procedimentos de negociação entre as
autoridades públicas competentes e as organizações de empregados públicos sobre as condições de
emprego, ou de quaisquer outros métodos que permitam aos representantes dos empregados
públicos participar na determinação de tais condições.
Art. 8. A solução dos conflitos que se apresentem por motivo da determinação das condições de
emprego tratar-se-á de conseguir, de maneira apropriada às condições nacionais, por meio da
negociação entre as partes ou mediante procedimentos independentes e imparciais, tais como a
mediação, a conciliação e a arbitragem, estabelecidos de modo que inspirem a confiança dos
interessados.
52

mesmo grau de desenvolvimento em todas as regiões do globo, pois a pobreza


não foi erradicada, assim como a injustiça social e a desigualdade.90

A Conferência Internacional do Trabalho, em junho de 1998, adotou por


maioria absoluta a “Declaração da OIT sobre os Princípios e Direitos
Fundamentais no Trabalho”.

A análise do art. 1º da Declaração não permite a visualização de novas


garantias ou regramento de obrigações. Houve a reafirmação dos princípios e
direitos previstos na Constituição da OIT e na Declaração de Filadélfia, bem como
a adesão livre dos Estados à citada agência da ONU, que os remete à aceitação
dos preceitos dispostos nos referidos documentos.

Sendo assim, conforme o art. 2º, ainda que os países membros da OIT
não tenham ratificado determinada convenção, possuem o compromisso derivado
de obedecer e promover os princípios relativos aos direitos fundamentais que são
objetos desses convênios, quais sejam:

a) a liberdade sindical e o reconhecimento efetivo do direito de


negociação coletiva;

b) a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou obrigatório;

c) a abolição efetiva do trabalho infantil; e

d) a eliminação da discriminação em matéria de emprego e ocupação

No tocante à alínea “a”, disposto de forma especial pelas Convenções


n. 87, 98 e 151 e outros diplomas internacionais, a liberdade sindical plena é
condição para a efetiva negociação coletiva; por conseguinte, sua mitigação
restringe o acesso eficaz aos meios de resolução de conflitos na seara dos
direitos sindicais. Não obstante, nações (signatárias da OIT), sob o pretexto da
não ratificação de certos convênios ou por meio da sua interpretação particular,
permanecem desrespeitando princípios basilares.

Em 1998, quando foi adotada a Declaração sobre “Princípios e Direitos


Fundamentais no Trabalho” , Hilary Kellerson (Ex-Conselheira Adjunta da OIT),

90
OIT. Declaración. Antecedentes. Disponível em:
<http://www.ilo.org/declaration/thedeclaration/background/lang--es/index.htm> Acesso em:
agosto de 2013.
53

ressaltou a importância da união do progresso social ao crescimento econômico,


visando à promoção das normas fundamentais do trabalho e dos seus princípios
subjacentes. Consoante a Conselheira, somente “el passo del tiempo permitirá
apreciar todo el valor de este documento, que dependerá de la aplicación activa
del seguimiento por muchos agentes, dentro y fuera de la OIT”.91

Decorrida uma década da aprovação da Declaração sobre “Princípios


Fundamentais no Trabalho”, a OIT publicou um estudo denominado “Liberdade
sindical na prática: lições a retirar”. Trata-se de um relatório global de
acompanhamentos da citada Declaração.

Segundo o relatório, apesar do aumento de ratificações das principais


convenções sobre liberdade sindical, é preciso desenvolver ações que promovam
a “ratificação universal”. Ademais, metade da população ativa total dos Estados
membros da OIT vive em cinco países que não aderiam ao Convênio n. 87 (o
principal sobre a temática), quais sejam: Brasil, China, Índia, República Islâmica
do Irã e os Estados Unidos.92

O estudo acentuou ser incomum a proibição total de organizações de


trabalhadores ou empregadores na atualidade. Além disso, verificou-se um
progresso no que diz respeito à extinção dos monopólios sindicais sob o controle
estatal; entretanto, esse ambiente ainda prospera em países cujo poder político é
exercido por partido único e atrelado aos “atores do mundo do trabalho”.93

As violações da liberdade sindical tornaram-se sutis, mas continuam


propagando efeitos danosos, como a existência de discricionariedade para a
concessão e autorizações referentes à constituição e funcionamento de entidades
sindicais. Para tanto, apontou-se no relatório a necessidade de garantir a total
independência e liberdade das organizações, seja por meio do impedimento de
ingerência das autoridades públicas ou das agremiações entre si.94

De acordo com os órgãos de controle da OIT, houve aumento das


queixas por atos antissindicais, especialmente, os casos envolvendo dispensas,

91
KELLERSON, Hilary. La declaracion de la OIT de 1998 sobre los principios y derechos
fundamentales: un reto para el futuro. Revista Internacional del Trabajo, Ginebra, v.117, n.2, p.243-
8, 1998. p. 248.
92
OIT ( 2008), op. cit., p. 06.
93
Ibid., p. 11.
94
Ibid., p. 9 e 11.
54

destituição de promoções, transferências e recusas em contratar, inclusive pela


administração pública quando investida no posto de empregador. Para evitar
essas condutas, é indispensável a introdução de sanções e vias de recurso que
impossibilitem a prática nociva, pois a legislação ainda se mostra incipiente.95

A proteção sindical não está adstrita às relações trabalhistas tradicionais,


pois o mercado de trabalho contemporâneo descortinou novos vínculos. Muitos
desses postos de trabalho são criados de maneira precária e mediante condições
lesivas ao trabalhador. Isto posto, esse cenário necessita da ação efetiva dos
sindicatos para a promoção do emprego de forma digna, por meio dos princípios e
direitos relacionados à liberdade sindical e à negociação coletiva. 96

O Comitê de Liberdade Sindical identificou avanços no que se refere à


aplicação dos referidos princípios, tais como a diminuição das queixas sobre a
privação das liberdades civis. Por outro lado, alguns entraves continuam
dificultando o exercício pleno dos direitos sindicais, quais sejam: dispensas
coletivas, prisões, casos de violência (homicídios de sindicalistas, por exemplo),
restrições à liberdade de organização e filiação, ingerência do Estado e de
terceiros, negociação coletiva limitada, discriminação de trabalhadores
sindicalizados e supressão do direito de greve.97

Apesar da realidade particular de cada país, os peritos independentes


frisaram a imprescindibilidade de observar elementos básicos para a promoção
dos princípios e direitos fundamentais:

a) a interligação dos quatro princípios e direitos fundamentais no


trabalho, que, na prática se reforçam mutuamente, e o papel chave da
liberdade sindical nesta matéria;

(b) a necessidade de avaliar, simultaneamente, a legislação e a prática e


dos parceiros sociais, em particular os governos, resolverem os
problemas de aplicação desses princípios e direitos;

(c) a necessidade de promover a ratificação das convenções (n. 87) e (n.


98), que correm o risco de passar para segundo plano em relação a
outras convenções fundamentais;

(d) a necessidade de uma maior cooperação técnica para ajudar a


concretizar os princípios e direitos fundamentais no trabalho de forma
integrada, no âmbito dos Programas Nacionais para o Trabalho Digno;

95
OIT (2008), op.cit., p. 12.
96
Ibid., p. 24.
97
Ibid., p. 10-11.
55

(e) a necessidade de formação e do reforço das capacidades para


permitir às organizações de empregadores e trabalhadores promoverem
eficazmente os direitos fundamentais, participarem na totalidade do
processo de implementação e partilharem experiências bem sucedidas;

(f) a necessidade de dedicar uma atenção particular a determinados


setores de atividade e categorias de trabalhadores e empregadores e de
alargar os direitos de liberdade sindical e negociação coletiva àqueles
98
que deles ainda não beneficiem.

No que se refere à interligação dos quatro princípios e direitos


fundamentais, apesar dos avanços, mostra-se empreendimento árduo e
vagaroso, uma vez que existe a dificuldade de conscientização unitária. Estados
membros não ratificaram os diplomas internacionais referentes à liberdade
sindical e insistem na sua aplicação velada, ainda que sejam signatários da Carta
Internacional dos Direitos Humanos.

O segundo elemento mencionado pelo relatório está diretamente


relacionado à atuação estatal, isto é, a atuação do Estado como gestor no
favorecimento de condições propícias ao desenvolvimento dos direitos sindicais
de associação. Contudo, não se pode confundir tais práticas com ingerência, pois
em dadas ocasiões, o ente estatal revestido na figura do legislador comete
inúmeras violações antissindicais.

No tocante à ratificação universal das Convenções, o Convênio n. 87


enseja maior apreensão, visto que somente cento e cinquenta dois países
membros realizaram a assinatura, enquanto trinta e três abstiveram-se. Quanto
ao diploma n. 98, apenas vinte e dois Estados não o aceitaram, apesar de
alguns nomes serem de relevância internacional, como os Estados Unidos, a
China e o Canadá.

Quanto aos itens das alíneas “d”, “e” e “f”, cabe destacar a necessidade
de uma atuação interligada das entidades sindicais visando à promoção dos
direitos fundamentais.

98
OIT (2008), op. cit., p. 81-82.
56

1.3 Dimensões da liberdade sindical

O vocábulo “dimensão” envolve a grandeza ou o alcance de algo. No


que tange à liberdade sindical, a doutrina trabalhista brasileira e estrangeira não
são uníssonas quanto à forma e nomenclatura da sua exteriorização.
De acordo com Túlio de Oliveira Massoni, “a liberdade sindical é uma
liberdade complexa não só em relação aos seus conteúdos mas também em
seus objetivos e manifestações potenciais, que são múltiplos e, em diversos
momentos históricos, podem se contrapor à própria ordem jurídica”.99
Amauri Mascaro Nascimento contempla o estudo da temática dividindo-
a em liberdade de associação, liberdade de organização, liberdade de
administração, liberdade de exercício das funções e liberdade de filiação
sindical.100

Mozart Victor Russomano apresenta a liberdade sindical sob a forma


de um triângulo jurídico, composto por partes distintas (sindicalização livre,
autonomia e pluralidade sindical) e comunicantes entre si por meio das suas
extremidades. Assim, “a liberdade sindical pressupõe a sindicalização livre,
contra a sindicalização obrigatória; a autonomia sindical, contra o dirigismo
sindical; a pluralidade sindical, contra a unicidade sindical”.101

Mauricio Godinho Delgado discorre acerca do princípio de associação,


desdobrando-o em liberdade de associação e liberdade sindical. Inicialmente,
apresenta os caracteres gerais do direito associativo, estruturado no artigo 5º, XX,
da Constituição Federal. Em seguida, direciona o estudo do sindicalismo sob o
manto da liberdade sindical por meio das cláusulas de sindicalização forçada, as
práticas antissindicais e as garantias da atuação sindical.102

Orlando Gomes e Elson Gottschalk analisam a liberdade sindical sob


três aspectos: o individual, como a liberdade de aderir a um sindicato ou a
liberdade de não se filiar; o coletivo, como a liberdade de fundar um sindicato

99
MASSONI, Túlio de Oliveira. Representatividade sindical. São Paulo: LTr, 2007. p. 76.
100
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2012), op cit., p. 35.
101
RUSSOMANO, Mozart Victor. Princípios gerais de direito sindical. 2.ed. ampl. e atual. Rio
de Janeiro: Forense, 1995. p. 65.
102
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 12.ed. São Paulo: LTr,
2013. p. 1343-1347.
57

ou liberdade de determinar o quadro sindical na ordem profissional e territorial;


e quanto ao Poder Público, no que diz respeito à independência do sindicato
em relação ao Estado ou o conflito entre a autoridade do Estado e a ação
sindical, por exemplo.103

Nesse sentido, Antonio Ojeda Avilés discorre acerca da liberdade


sindical individual voltada ao impedimento de violações estatais, da ingerência
patronal, assim como dos ataques aos trabalhadores individualmente. Outrossim,
há a análise sob o âmbito coletivo que repercute na organização das entidades,
por exemplo, nos sindicatos sem registro.104

Ante tais observações sublinha-se a liberdade sindical a partir dos seus


aspectos individuais e coletivos; em seguida, os seus desdobramentos, como a
liberdade individual de organização e a liberdade coletiva de fundar um sindicato,
por exemplo.

1.3.1 Liberdade sindical individual

A liberdade sindical individual possui duas vertentes, quais sejam: o


aspecto positivo da liberdade de associação e o aspecto negativo da liberdade. O
primeiro está relacionado à faculdade de aderir a um sindicato, enquanto o
segundo à liberdade de não se filiar ou de desfiliação.105
O êxito de tais prerrogativas está sujeito à atuação dos sindicatos, do
Estado e dos empregadores. No que diz respeito às entidades sindicais, deverão
restringir seu labor ao conteúdo profissional ou econômico, portanto, não
contempla o foro íntimo ou os direitos individuais de cada associado.106

Por outro lado, não há impedimentos à normatização estatutária acerca


de limitações gerais, como a proibição simultânea de filiação a mais de uma
organização. Contudo, se essa medida fosse engendrada pelo Poder Público,

103
GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de direito do trabalho. 17.ed. atual. por José
Augusto Rodrigues Pinto e Otávio Augusto Reis de Sousa. Rio de Janeiro: Forense, 2005. p. 544.
104
OJEDA AVILÉS, Antonio, op. cit., p. 38-58.
105
GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson, op. cit., p. 544-545.
106
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2012), op. cit., p. 43-44.
58

caracterizaria evidente violação à liberdade sindical, visto que resultaria em


entremetimento nas ideologias, no funcionamento e nas decisões do sindicato.107

Quanto à liberdade de filiação e o Estado, há repercussão especial


no campo das proibições, como a filiação de sindicatos às organizações
internacionais ou a impossibilidade de associação de determinadas
categorias.108 No Brasil, a Constituição Federal garante ao servidor público civil
o direito à livre associação sindical (art. 37, VI), diversamente do que ocorre em
outros países; entretanto, veda-se a sindicalização e o direito de greve aos
militares (art. 142, IV).

Relativamente à ingerência estatal, verifica-se em todo o processo de


sindicalização, especialmente, pelo uso de mecanismos desalentadores à
formação inicial dos sindicatos, como ocorre na proclamação forçada de uma
organização representativa, favorecendo-a e discriminando as demais,
consequentemente, minando a criação de outras organizações a partir do seu
nascimento.109

Já a liberdade de filiação frente aos empregadores almeja o combate


de certas práticas que condicionariam a oferta de emprego e a sua manutenção,
tais como a filiação obrigatória, a renúncia ao direito de associação ou a inscrição
em determinada organização.110

Nesse sentido, a doutrina enumera cláusulas sindicais prejudiciais ao


direito de sindicalização como: a closed shop (empresa fechada a não
sindicalizados), open shop (a empresa é aberta a não filiados), yellow dog
contract (o empregado assume o compromisso de não se filiar), company union
(criação de sindicatos fantasmas), unions shop (compromisso de sindicalizar-
se), preferencial shop (preferência de admissão a filiados) e label (marca do
sindicato nos produtos do empregador para demonstrar a existência da
sindicalização na empresa).111

107
VILLAVICENCIO RIOS, Alfredo. A liberdade sindical nas normas e pronunciamentos da
OIT. Trad. Jorge Alberto Araujo. São Paulo: LTr, 2011. p. 36.
108
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2012), op. cit., p. 44.
109
OJEDA AVILÉS, Antonio (2012), op. cit., p. 39.
110
MANGLANO, Carlos Molero. Derecho sindical. Madrid: Dykinson, 1996. p. 263.
111
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2012), op. cit., p.180.
59

Consoante Mauricio Godinho Delgado, essas cláusulas denominadas


de segurança sindical ou de sindicalização forçada estabelecem um embate entre
a liberdade individual (filiação ou desfiliação) e o fortalecimento sindical, o qual é
sobreposto em alguns ordenamentos, isto é, a liberdade do grupo profissional
superior à liberdade individual.112

No tocante à liberdade sindical individual negativa, ou seja, de não se


filiar a um sindicato ou de se desfiliar, José Carlos Arouca a sublinha como “a
ausência de impedimentos, há liberdade negativa no interior de uma coletividade
se cada um puder agir como melhor lhe convier”.113

Para Luciano Martinez, essa faceta garante ao trabalhador ser


“indiferente” às atividades sindicais e mesmo contrariando os princípios de
solidarismo deve ser respeitada.114 Segundo Mozart Victor Russomano, a
prerrogativa de sindicalização livre não confere nenhum efeito sancionatório, ao
passo que a sindicalização obrigatória refuta o direito individual, seja por ato
direto do Estado ou indiretamente pelos obreiros.115

Carlos Molero Maglano desdobra o direito de filiação em: filiar-se, no


sentido de evitar atos que impeçam o exercício efetivo de filiação; escolher a
organização sindical a qual se pretende filiar; o direito de nova filiação à entidade
a qual pertencia; o direito de alterar a instituição a qual é filiado; e o direito de dar
baixa ou renunciar à filiação.116

Antonio Ojeda Avilés atribui à liberdade individual quatro conteúdos: a


liberdade constitutiva, permissiva ao trabalhador fundar um sindicato com seus
pares; a liberdade de filiação (positiva e negativa), a qual oportuniza o ingresso
a uma organização de livre escolha ou a opção de não se filiar; e a liberdade de
participação no cotidiano sindical, porquanto não seria suficiente a criação e
filiação se a classe dos trabalhadores não participasse das decisões, eleições e
demais atos sindicais.117

112
DELGADO, Mauricio Godinho, op. cit., p. 1345.
113
AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical. São Paulo: LTr, 2006. p. 71.
114
MARTINEZ, Luciano. Condutas antissindicais. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 310-311.
115
RUSSOMANO, Mozart Victor, op. cit., p. 67.
116
MANGLANO, Carlos Molero, op. cit., p. 263.
117
OJEDA AVILÉS, Antonio, op. cit., p.38-39.
60

Dessa forma, a liberdade de constituição em conjunto com a liberdade


positiva formam a estrutura básica da liberdade sindical (direito) e estão dispostas
nos principais diplomas internacionais, enquanto a liberdade negativa e a
participação derivam da experiência sindical e tendem a evitar abusos, estando
previstas nos ordenamentos internos.118

1.3.2 Liberdade sindical coletiva

A liberdade sindical coletiva em sentido oposto à individual, não


pretende a garantia de direitos sindicais a cada uma das pessoas envolvidas de
forma exclusiva. Trata-se do firmamento e manutenção do grupo, por meio da
exteriorização das liberdades (direitos) de associação, organização,
administração e do exercício de funções. Atrelado ao estudo da liberdade sindical
coletiva, deve ser considerado o princípio da autonomia privada coletiva ou
autonomia sindical.
Amauri Mascaro Nascimento dividiu a autonomia coletiva em:
autonomia organizativa (elaboração de estatutos); autonomia negocial
(pactuação de convenções e acordos coletivos de trabalho); autonomia
administrativa (eleição da própria diretoria e administração); e autotutela (meios
para solucionar os conflitos trabalhistas).119

No entendimento de Ronaldo Lima dos Santos a autonomia coletiva


consiste no:

[...] poder jurídico conferido a determinados grupos sociais de criar


normas jurídicas para a tutela de interesses de uma coletividade,
comunidade ou classe de pessoas globalmente consideradas. [...] Sua
concepção baseia-se na percepção social da existência de uma lacuna
entre a norma geral e a particular, entre a abstração das normas gerais
estatais e a excessiva concretude e singularidade das situações
particulares (hiperespecíficas) cujo preenchimento dá-se pela esfera
120
contratual coletiva.

118
OJEDA AVILÉS, Antonio, op. cit., p.39.
119
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2007), op. cit., p. 1224.
120
SANTOS, Ronaldo Lima dos Santos. Teoria das normas coletivas. São Paulo: LTr,
2007. p. 123.
61

Embora a autonomia sindical conceda livre exercício às organizações,


tal princípio não possui alcance amplo e absoluto. De acordo com Mozart Victor
Russomano, há que se observar a segurança interna dos países e a ordem
pública. Isso significa que as entidades estariam sob vigilância com relação ao
atendimento dos fins legais e estatutários, para evitar desvios funcionais, como
objetivos políticos ou a apropriação do patrimônio dos sindicatos.121

A autonomia e a liberdade sindical estabelecem uma relação de


complementaridade. Ademais, a autonomia coletiva externa múltiplas liberdades e
é “estruturada diante da vontade majoritária do grupo, numa relação livre do
conjunto de trabalhadores ou empregadores”.122

Inicialmente, há a liberdade de associação ou liberdade de fundar um


sindicato. Os grupos possuem o direito de criar suas organizações sindicais,
desde que atendida à legislação do Estado. Mas, não basta a simples afirmação
de livre constituição, há que se extirpar obstáculos (formalidades) e permitir aos
grupos de trabalhadores e empregadores a formação de suas entidades,
demonstrando que “a simplicidade das regras de forma é nota marcante de
liberdade”.123

Nesse sentido, o sindicato como entidade privada possui


discricionariedade para realizar tudo aquilo que a norma legal não atribua valor
ilícito ou proibido, diversamente dos entes públicos, cuja atuação está adstrita aos
comandos legais.

Em vista disso, a necessidade de depósito dos estatutos ou o registro


sindical não podem ser entendidos como uma condição imperiosa ou em oposição
aos preceitos contidos na Convenção n. 87 da OIT. A arbitrariedade ficará
caracterizada no caso concreto apenas quando a faculdade estiver revestida de
anuência ou discricionariedade por parte da autoridade competente.124

No tocante à liberdade de determinar o quadro sindical na ordem


profissional e territorial (típica de países onde o sindicalismo é livre), refere-se à
faculdade das entidades sindicais escolherem os critérios de agrupamento,

121
RUSSOMANO, Mozart Victor, op. cit., p. 72-73.
122
AROUCA, José Carlos (2006), op. cit., p. 78.
123
GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson, op. cit., p. 549.
124
SIQUEIRA NETO, José Francisco, op.cit., p. 101.
62

como a formação da categoria, sem que haja o estabelecimento prévio do


quadro de atividades e profissões decorrente de norma legal ou de autoridade.
Consequentemente, permite-se a existência de diversas organizações sindicais
pertencentes ao mesmo ofício ou grupo. Há que se considerar também a
possibilidade do estabelecimento de agrupações mais amplas, seja em âmbito
nacional ou internacional, como o direito de constituir federações e
confederações, bem como a permissão de a elas se filiarem (Liberdade de
estabelecer relações entre sindicatos para formar agrupações mais amplas).125

A liberdade de constituir uma federação encontra limitação nas


legislações que exigem número mínimo de sindicatos ou federações para
constituir organizações de grau superior. Além disso, para a efetividade da
liberdade de federação há que se respeitar as demais liberdades, individuais
positivas ou negativas, bem como a garantia de proteção adequada à liberdade
de regulamentação, eleição de representantes, de gestão e a impossibilidade de
dissolução ou suspensão mediante atos da administração pública.126

Quanto à liberdade de administração, os sindicatos possuem


autonomia para o gerenciamento dos próprios atos, seja para suas atividades
interiores (autarquia interna)127, como a redação dos próprios estatutos, assim
como para a impossibilidade de interferência de terceiros (autarquia externa),
garantindo-lhe, por exemplo, a forma de escolha dos seus dirigentes e a fixação
de contribuições.128 Além da capacidade de organização interna, a liberdade de
gestão também se apresenta externamente, garantindo o direito de negociação

125
GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson, op. cit., p. 550.
126
MANGLANO, Carlos Molero, op. cit., p. 277-278.
127
Ericson Crivelli individualiza a democracia sindical (espécie) a partir da definição de Noberto
Bobbio acerca de democracia (gênero). Nesse sentido, a democracia sustenta-se na
participação dos pertencentes à coletividade nas decisões, assim como pela observância de
regras (primárias ou fundamentais) definidoras do procedimento de tomada de decisões e dos
legitimados a fazerem uso delas. Por outro lado, o conceito de democracia sindical pode ser
dividido em dois sentidos: interno e externo. Desse modo, o sentido interno da democracia
sindical é voltado à dinâmica interior das organizações sindicais e manifesta-se, por exemplo,
nos procedimentos decisórios e nos seus regramentos. No que diz respeito ao sentido externo,
trata-se da exteriorização da atuação sindical, ou seja, a ação dos sindicatos direcionada ao
mundo exterior, principalmente diante dos empregadores e das autoridades em geral em prol do
debate democrático acerca de assuntos variados, com destaque para a normatização coletiva de
trabalho. O autor observa que houve uma democratização nos procedimentos decisórios, ora
pela existência formal das liberdades clássicas ora pela existência de facções de oposição
contestadora à direção sindical. In: CRIVELLI, Ericson. Democracia sindical no Brasil. São
Paulo: LTr, 2000. p. 42; 47; 48; 189.
128
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2012), op.cit., p. 39-40.
63

coletiva, o exercício de greve e cuidado com os conflitos de trabalho individuais


ou coletivos.129

No que tange à liberdade de exercícios de funções, trata-se da


maneira segundo a qual as organizações sindicais exercem a
representatividade do grupo, conforme os preceitos para os quais se formaram.
Essa atuação sindical implica a atuação individual e coletiva, seja diante do
Estado, da classe patronal ou de outros órgãos, exprimindo vontades e
reivindicações dos seus representados.130

Existem muitas funções elencadas à atividade de um sindicato:


como a função regulamentar, a qual lhe possibilita a elaboração de normas
coletivas com o intuito de disciplinar as relações individuais de trabalho; a
função arrecadatória, cuja faculdade permite a imposição de contribuições aos
membros pertencentes à categoria. Porém, tais prerrogativas serão discutidas
com maior contorno em momento específico, o qual se discorrerá a respeito
da organização sindical brasileira.

129
MANGLANO, Carlos Molero, op. cit., p. 274-275.
130
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2012), op.cit., p. 40-41.
64

CAPÍTULO 2 ANÁLISE CRÍTICA DA ORGANIZAÇÃO SINDICAL


BRASILEIRA À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS
FUNDAMENTAIS

2.1 Organizações sindicais: institutos semelhantes

A origem dos sindicatos1, aos moldes contemporâneos, não é


totalmente pacífica no mundo jurídico, há quem remeta a períodos anteriores a
Cristo, bem como às chamadas2 corporações de ofício da época medieval. No
entanto, tais períodos expõem apenas alguns traços do que hoje se entende
como entidade com propósitos de defender os interesses da classe
trabalhadora ou de empregadores.
Os primeiros sinais do sindicalismo ocorreram em meados da primeira
Revolução Industrial. Para tanto, faz-se imprescindível apontamentos de alguns
momentos históricos.

Inicialmente, percorrem-se os colégios romanos, criados por Numa e


formalizados no reinado de Servio Tulio. Os colégios eram divididos em: a)
collegia compitalitia, de cunho religioso; b) collegia artificum vel opificum, de

1
De acordo com a história do Direito Coletivo do Trabalho, o sindicalismo percorreu três fases
evolutivas. A primeira é a fase de proibição, marcada pela criminalização do direito de
associação profissional, especialmente pela extinção das corporações de ofício e aprovação da
lei francesa Le Chapelier. Em seguida, ocorreu a fase de tolerância, Mauricio Godinho Delgado
explica que pode ser vista como uma “fase de transição, em direção ao pleno reconhecimento do
direito de livre associação e de auto-organização dos sindicatos”. In: DELGADO, Mauricio
Godinho. Curso... op. cit., p. 1391. Para Amauri Mascaro Nascimento, “a fase da afirmação das
associações de trabalhadores iniciou-se quando o Estado resolveu revogar as leis penais que
puniam a associação dos trabalhadores e, numa segunda etapa, decidiu aprovar leis que
autorizaram o direito de associação sindical”. In: NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio...,
op. cit., p. 43. Por fim, a fase de reconhecimento jurídico, consoante Ronaldo Lima dos
Santos: “[...] pela integração das entidades sindicais nos ordenamentos jurídicos de diversos
países; seja pela consagração do direito de associação, em sentido amplo, e nesse, incluídas as
formações sindicais; seja, especificadamente, pela previsão do direito de associação profissional
e constituição de sindicatos. [...] A introdução dos sindicatos nos ordenamentos jurídicos não foi
uma graciosidade do Estado, mas uma mudança de postura deste em face da força com a qual o
sindicalismo foi integrando-se na vida social”. In: SANTOS, Ronaldo Lima dos Santos.
Sindicatos e ações coletivas. Acesso à justiça, jurisdição coletiva e tutela dos interesses
difusos, coletivos e individuais homogêneos. 3.ed. São Paulo: LTr, 2012. p. 38-39.
65

características profissionais. Neste contexto, algumas profissões podem ser


elencadas: músicos auxiliares de culto, ourives, carpinteiros, tintureiros,
sapateiros, curtidores, forjadores de cobre e oleiros.3

As referidas instituições constituíram verdadeira força devido ao


número, organização, atribuições e privilégios atingidos. A princípio, faziam
parte somente trabalhadores livres, tempos depois, puderam ser incorporados
os libertos e alguns escravos. Quanto à existência, estava condicionada à
autorização (prescindível a renovação do ato), a qual poderia ser revogada a
qualquer tempo. Referente à documentação, deveriam possuir estatutos
discutidos pelos membros e aceitos pela autoridade competente.4

Apesar dos colégios guardarem ligeiras semelhanças com os


sindicatos, como a existência de estatutos; foram criados mediante determinação
de autoridades, enquanto a entidade sindical moderna é corolário ao
individualismo liberal, fazendo com que a classe obreira, em decorrência da falta
de apoio estatal, reunisse seus membros em prol da defesa de direitos e
exigências.5

No século VII, na Alemanha e Inglaterra, foram constituídas as guildas,


instituições que guardam semelhança e antecedência aos colégios romanos.
Eram verdadeiras famílias artificiais, desenvolvidas sob o juramento de ajuda e
socorro aos membros em acertadas situações, que se dividiam em três
categorias: a) religiosa e social (formada por associações de defesa mútua ou de
cristãos e não possuíam caráter profissional); b) artesãos; c) comerciantes
(especialmente, para assegurar aos membros proteção e bens). As guildas
inglesas ou alemãs tinham seus estatutos e se organizavam de forma
democrática, uma vez que todos os membros participavam das assembléias e
podiam votar nas eleições.6

3
CABANELLAS, Guillermo. Compendio de derecho laboral. Buenos Aires: Bibliográfica
Omeba, 1968. p. 66-67.
4
Ibid., p. 66-67.
5
VIANNA, José de Segadas. Organização sindical. In: SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio;
VIANNA, Segadas; TEIXEIRA, Lima. Instituições de direito do trabalho. 22.ed. São Paulo: LTr, 2005.
v.II. p. 1099.
6
CABANELLAS, Guillermo (1968), op. cit., p. 69
66

A similitude das guildas com os colégios romanos, contudo, não


permite confusão entre os institutos, pois aquelas encerram características
mutualísticas e beneficentes, consideradas “verdadeiros grêmios”.7

Não se pode olvidar das corporações medievais, associações de


mestres de idêntico ofício que viviam na mesma localidade, detinham o monopólio
rigoroso da fabricação, venda e regulamentação dos produtos no mercado. Tal
instituto apresenta semelhança com os sindicatos patronais da atualidade,
também eram compostos pelos companheiros (compagnons) e pelos aprendizes,
esses dois grupos são comparados aos operários da modernidade. A despeito de
alguns traços característicos em relação às entidades sindicais, remetiam apenas
ao interesse da classe patronal.8

Nesse período, em decorrência da submissão dos aprendizes e


companheiros aos mestres, a economia apresentava-se cerrada aos dois
primeiros. Diante de tais circunstâncias, os compagnons formaram grupos
(compagnonnages) para oporem-se ao regime corporativo e terem aceitadas suas
exigências. Esses acontecimentos marcaram as primeiras etapas da ação coletiva
em face das organizações oficiais das profissões.9 O século XVI é considerado o
preambular declínio das corporações de ofício, marcado pelo aumento do poderio
real, por meio da aprovação dos estatutos, bem como da facilidade de entrada e
retirada de membros.

Além disso, a expansão marítima ocasionou o enfraquecimento do


monopólio produtivo, substituindo a pequena oficina pelas grandes indústrias, o
que pôs fim aos traços de domesticidade e irmandade para dar lugar ao
imponente número de operários.10

Consoante os ensinamentos de Orlando Gomes e Elson Gottschalk,


tais conflitos ocorriam raramente e por isso não marcaram o verdadeiro

7
SANTOS, Ronaldo Lima dos, op. cit., p. 31.
8
GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de direito do trabalho. 17.ed. atual. por
José Augusto Rodrigues Pinto e Otávio Augusto Reis de Sousa. Rio de Janeiro: Forense,
2005. p. 537-538.
9
BATALHA, Wilson de Souza Campos. Sindicatos. Sindicalismo. São Paulo: LTr, 1992. p. 20
10
CESARINO JR., A. F. Direito social brasileiro. 6.ed. ampl. e atual. com a colaboração de Marly
A. Cardone. São Paulo: Saraiva, 1970. p. 111.
67

“movimento de massa que assinalou a luta entre o capital e o trabalho no curso


do século XIX”.11

O panorama alterou-se com as modificações tecnológicas trazidas


pela primeira Revolução Industrial. Os indivíduos iniciaram um processo de
agrupamento em torno das fábricas, contudo, sem o devido estabelecimento de
condições adequadas para que esses homens pudessem obter o mínimo de
humanidade. O sofrimento foi acentuado com as crises econômicas, levando à
união e organização dessas pessoas, tendo manifestado junto a esses
trabalhadores (operários) “a consciência de sua comunidade de interesses”.12

A situação tornou-se mais difícil com o êxodo rural e o aumento


massivo da mão de obra urbana, além disso, a aquisição de novo maquinário e
preferência pelo trabalho feminino e infantil, fez com que o desemprego
avançasse. Deste modo, “a técnica, criando uma nova psicologia e apoiada pelas
novas forças econômicas, conduz a uma transformação da atmosfera doutrinária
e política. É este clima que explica o nascimento do movimento operário moderno
do sindicalismo”.13

O sindicato como é conhecido na contemporaneidade, data da


Revolução Industrial, por isso imprescindível a observação de alguns fatos
ocorridos anterior a este momento, por volta do início do ano de 1720. Nesse
período, mestres alfaiates rumaram em direção ao Parlamento Britânico,
representados por uma associação composta de aproximadamente sete mil
trabalhadores. Tal movimento almejava a conquista de melhor remuneração e a
diminuição de uma hora da jornada diária de trabalho. Considera-se o fato
mencionado como o início dos trade unions britânicos.14

Mauricio Godinho Delgado alerta para não se creditar a criação dos


sindicatos a um marco tanto remoto, visto que o início do século XVIII ainda não
albergava todas as condições adequadas, quais sejam: econômicas, sociais,
políticas e ideológicas, fomentadoras da ação coletiva. Entretanto, segundo o
autor, mesmo havendo divergências acerca do ponto inicial das entidades

11
GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson, op. cit., p. 538.
12
Ibid.
13
Ibid., p.539.
14
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 12.ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 1352
68

sindicais, há uma certeza quanto ao local: na Inglaterra, propulsora da Revolução


Industrial e de ideais capitalistas.15

Para tanto, é salutar observar o entendimento:

Neste sentido, podemos afirmar que o nascimento do sindicalismo é a


culminação e um longo processo histórico, cheio de antecedentes
numerosos e importantes, que tinha por desaguadouro o ideal comum de
valorização do homem como pessoa e de reconhecimento dos direitos
essenciais à defesa de seus interesses e à expansão de sua
16
personalidade.

Ante tais circunstâncias, faz-se imprescindível a apresentação de uma


síntese dos antecedentes à criação dos sindicatos, analisando o período no qual
se desenvolveu o sindicalismo, isto é, sua evolução até a entidade sindical
contemporânea, inclusive pelos acontecimentos no território brasileiro.

2.1.1 Evolução sindical brasileira

A primeira Revolução Industrial ocorreu entre o final do século XVIII e


início do século XIX no Reino Unido, especialmente na Inglaterra com a
implantação da máquina a vapor e a rápida difusão pelo país.
Consequentemente, o início dos movimentos sindicais também marcou tal
período e região, por isso o território inglês pode ser compreendido,
popularmente, como o berço do sindicalismo mundial.
Por outro lado, na época citada e em solo brasileiro, não houve o
aparecimento vertiginoso de indústrias. Deve-se lembrar de que, até o fim do
século XIX, perdurou o regime escravocrata, tendo a sua extinção sucedida
vagarosamente com a edição de determinadas legislações, tais como: Lei Bill
Aberdeen (Lei inglesa de 1845); Lei Eusébio de Queirós (1850); Lei do Ventre
Livre (1871); e por fim, a Lei Áurea (13 de maio de 1888). Além disso, a economia
era baseada quase que exclusivamente no sistema agrário.
15
DELGADO, Mauricio Godinho, op. cit., p. 1354-1355.
16
RUSSOMANO, Mozart Victor. Princípios gerais de direito sindical. 2.ed. ampl. e atual. Rio de
Janeiro: Forense, 1995. p. 16-17.
69

José Carlos Arouca informa que, no Brasil do século XIX, havia


aproximadamente 648 mil estabelecimentos agrícolas e apenas 13.000
industriais. Primeiro, os senhores de engenho, em seguida, os fazendeiros de
café, cuja mão de obra utilizada resumia-se aos ex-escravos. Essa parcela de
operários (cerca de 60 mil) era insignificante perante a totalidade da população
(14 milhões), por isso, “a classe trabalhadora não tinha nenhuma importância ou
significado”. Diante do aludido cenário, foi imperceptível de imediato a
repercussão no solo brasileiro dos movimentos socialistas ocorridos na Europa.17

Nota-se que o processo industrial brasileiro é considerado tardio, uma


vez que a efetiva Revolução Industrial tupiniquim ocorreu somente nas décadas
iniciais do século XX, especialmente após a segunda Guerra Mundial. Em
decorrência disso, o surgimento de notícias a respeito dos sindicatos e da
legislação pertinente, também ocorreu de forma retardatária.

Os primeiros sinais do sindicalismo brasileiro, após a extinção das


corporações de ofício, remetem às instituições assistenciais, cujo foco era a
melhoria salarial e a redução da jornada de trabalho, tais como: a Liga Operária
de Socorros Mútuos (1872), Liga de Resistência dos Trabalhadores em Madeira
(1901), Liga dos Operários em Couro (1901) e Liga de Resistência das
Costureiras (1906).18

O primeiro instrumento constitucional a tratar do direito de associação


profissional foi a Constituição Imperial de 1824, em especial no § 25 do artigo 25,
segundo o qual estavam abolidas as corporações de ofício. Já a Constituição de
1891, baseada no modelo norte americano, não fez qualquer referência ao
assunto, apenas o Supremo Tribunal Federal quando julgou um habeas corpus
em 22.11.1920 e interpretou o § 8º do artigo 72 (“a todos é lícito associarem-se e
reunirem-se livremente e sem armas; não podendo intervir a polícia senão para
manter a ordem pública”) e estendeu a liberdade de associação também à
garantia de sindicalização e à greve.19

17
AROUCA, José Carlos. Curso básico de direito sindical. São Paulo: LTr, 2006. p. 79.
18
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Origens históricas e natureza jurídica dos sindicatos. IN:
FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa. (Coord.) Curso de direito coletivo do trabalho.
Estudos em homenagem ao ministro Orlando Teixeira da Costa. São Paulo: LTr, 1998. p. 40.
19
VIANNA, José de Segadas (2005), op. cit., p. 1124.
70

O direito sindical brasileiro percorreu três fases distintas: o


anarcossindicalismo, o intervencionismo e o sindicalismo autônomo. Em linhas
gerais, a primeira fase corresponde aos princípios anarquistas convergentes ao
movimento sindical, sob influência do fluxo imigratório ocorrido entre 1890 a 1920,
com destaque para a aprovação do Decreto n. 979/1903 (sindicatos rurais) e
Decreto n. 1.637/1907 (sindicatos urbanos).20

Para Octavio Bueno Magano, o Decreto n. 979 de 6 de janeiro de 1903


é a primeira lei sindical brasileira, cuja principal função foi a de conceder à
entidade sindical o papel de intermediadora do crédito em prol dos seus sócios,
bem como a venda dos produtos explorados em espécie ou que tenham sido
transformados.21

Segundo o referido decreto, de apenas doze artigos, facultavam-se aos


profissionais da agricultura e indústrias rurais a formação de sindicatos para o
estudo, custeio e a defesa dos seus interesses (art. 1º). O único requisito para a
constituição legal da entidade era o depósito no cartório de registro de hipotecas
de exemplares dos seguintes documentos: estatutos, ata, instalação e da lista de
sócios, cujas cópias deveriam ser enviadas pelo escrivão à Associação Comercial
do Estado onde fossem organizados os sindicatos (art. 2º). O Decreto n. 979
esteve vigente até 1938, quando foi revogado pelo Decreto n. 581.

Em seguida, foi sancionado o Decreto Legislativo n. 1.637/1907


resultante do projeto apresentado pelo deputado Joaquim Ignacio Tosta, cuja
solicitação procedeu de corporações, particularmente da Federação Operária
Cristã de Pernambuco.22

O dispositivo normativo em comento possibilitou a organização de


sindicatos de trabalhadores, até mesmo aqueles pertencentes à categoria de
profissionais liberais, o que repercutiu para o surgimento de inúmeras entidades
sindicais com inexpressivo poder de imposição.23 No citado Decreto, já era possível

20
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de direito do trabalho. p. 1200-1201.
21
MAGANO, Octávio Bueno. Organização sindical brasileira. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais,
1981. p. 93.
22
AROUCA, José Carlos (2006), op. cit., p. 81.
23
RUSSOMANO, Mozart Victor, op. cit., p. 31.
Para tanto, cumpre observar o posicionamento de JOAQUIM PIMENTA acerca da
repercussão de se organizar um sindicato e como o movimento sindical era combatido pelos
empresários, assim: “Organizar um sindicato, por mais específico que fossem os intuitos de
seus promotores; incutir no ânimo dos companheiros uma noção, menos elementar, de
71

vislumbrar a liberdade sindical em âmbito individual, a pessoa era livre para não
participar do movimento sindical, bem como para se desvincular, conforme
dispunha o art. 5º.

Em 1922, fundou-se o Partido Comunista do Brasil, o qual se


concentrou na vida sindical e, em 1929, graças a sua iniciativa, surge a
Confederação Geral do Trabalho do Brasil (CGTB).24

A segunda fase do sindicalismo brasileiro, denominada de


intervencionismo, iniciou-se a partir da década de 1930, em plena Era Vargas e
com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Tal período
baseou-se nos ideais corporativistas, que podem ser percebidos por meio das
principais ações estatais, como o agrupamento de profissões idênticas, similares
e conexas pela comissão de enquadramento sindical do Ministério do Trabalho; a
criação de sindicatos atrelada à autorização do Estado; e a permissão para
criação de Federações e Confederações.25

Em 1931, entrou em vigência o Decreto n. 19.770, para regular a


sindicalização operária e patronal. A aquisição de personalidade jurídica da
entidade sindical estava submetida à aprovação dos seus estatutos pelo
Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (art. 2º), o órgão também era
responsável pela ratificação dos acordos e convenções coletivas de trabalho
(art. 10). Além disso, o art. 15 previa a intervenção de delegados junto às
mencionadas instituições, seja para assistir as assembleias ou examinar a
situação financeira. Evidentemente, tais procedimentos ferem a liberdade
sindical e colocam o Estado como interventor no funcionamento dos sindicatos.

direitos que se tornaram vulgares na legislação de outros povos; discutir uma tabela de
salários ou pleitear a redução dos honorários exaustivos, a que nem as crianças escapavam,
era bastante para ser despedido, boicotado, e se a dispensa do empregado provocava
protestos ou reação pela greve, a interferência do Estado imediatamente se fazia valer,
detendo os mais ousados, dispensando ajustamentos à pata de cavalo, forçando os mais
tímidos a voltarem ao trabalho.” “Grandes empresas, privadas ou que exploravam serviços
públicos, excediam-se na sua sistemática hostilidade a todo movimento associativo. Poucos
eram os sindicatos que poderiam manter-se, desde que se organizassem sem a sua
aquiescência, e, ainda, por elas controlados. Os que se constituíam em divergência,
acabavam por dissolver-se pelo afastamento inevitável dos sócios mais prestigiosos,
demitidos ou removidos para onde não mais pudessem exercer qualquer influência sobre a
classe.” IN: PIMENTA, Joaquim. Sociologia econômica e jurídica do trabalho. 5.ed. Rio
de Janeiro: Freitas Bastos, 1957. p. 190.
24
AROUCA, José Carlos (2006), op. cit., p. 80.
25
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2007), op. cit., p. 1201-1202.
72

Por isso, o Decreto n. 19.770 foi cotejado a um instrumento legislativo


do movimento fascista italiano ou moldado aos costumes comunistas. Joaquim
Pimenta discordou de tais comparações, cujas explicações são fundamentadas
no momento vivido, ou seja, a situação na qual se encontrava a classe
trabalhadora brasileira. O Estado deveria reconhecer o sindicato não apenas
como uma simples sociedade civil, mas uma entidade capaz de estabelecer o
equilíbrio da ordem jurídica na economia nacional.26

A promulgação do Decreto n. 19.770 ocorreu em 19 de março,


transcorridos apenas três meses, haviam sido expedidas aproximadamente
quatrocentas cartas a sindicatos de trabalhadores e mais de setenta para
organizações de empregadores.27

Em 1934, aprovou-se o Decreto n. 24.694, que dispôs sobre os


sindicatos profissionais, entretanto, não apresentou inovações quanto à
autonomia, bem como ao público alvo. Quanto à base territorial, as entidades
representativas dos trabalhadores eram restritas ao espaço local, dando a
impressão de facilitar a integração entre os membros ou o receio do governo na
constituição de organizações poderosas. Cumpre enfatizar a função assistencial
atribuída pelo decreto, isto é, o oferecimento de determinados serviços aos
associados para que assim o Estado pudesse controlar as possíveis
reivindicações.28

Nesse contexto, promulgou-se a Carta Constituinte de 1934, com


previsão expressa às entidades sindicais no art. 120, segundo o qual “os
sindicatos e as associações profissionais serão reconhecidos de conformidade
com a lei” e “a lei assegurará a pluralidade sindical e a completa autonomia dos
sindicatos”. Entretanto, a pluralidade restou prejudicada em decorrência do
Decreto Legislativo n. 24.694, uma vez que exigia a quantidade de um terço do
grupo de trabalhadores para a formação da organização sindical.29

A Constituição outorgada de 1937 retirou o direito de greve do


trabalhador, mas previu o direito de associação profissional, segundo o qual:

26
PIMENTA, Joaquim, op. cit., p. 192.
27
RUSSOMANO, Mozart Victor, op. cit., p. 32.
28
MAGANO, Octávio Bueno (1981), op. cit., p. 99-105.
29
VIANNA, José de Segadas (2005), op. cit., p. 1124-1125.
73

Art. 138 - A associação profissional ou sindical é livre. Somente, porém,


o sindicato regularmente reconhecido pelo Estado tem o direito de
representação legal dos que participarem da categoria de produção para
que foi constituído, e de defender-lhes os direitos perante o Estado e as
outras associações profissionais, estipular contratos coletivos de trabalho
obrigatórios para todos os seus associados, impor-lhes contribuições e
exercer em relação a eles funções delegadas de Poder Público.

A Constituição de 1937, também chamada de ditatorial, revogou a


Carta de 1934 e proclamou o princípio da unicidade, bem como a submissão ao
Ministério do Trabalho, ou seja, relacionou os sindicatos novamente ao Estado,
o que perdurou até a Constituição de 1988, seja por descaso dos constituintes
ou do legislador ordinário.30

Em seguida, houve a edição do Decreto n. 1.402/1939, outro modelo


corporativista de repressão, uma vez que também submetia o enquadramento
sindical à ação do Ministério do Trabalho, bem como a cassação da carta de
reconhecimento em caso de descumprimento da legislação.31 Não se pode olvidar
do Decreto Lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943, o qual instituiu a Consolidação
das Leis do Trabalho.

O legislador constituinte de 1946 estabeleceu o direito de associação


no art. 159, ao dispor que era “livre a associação profissional ou sindical, sendo
reguladas por lei a forma de sua constituição, a sua representação legal nas
convenções coletivas de trabalho e o exercício de funções delegadas pelo Poder
Público”. Nota-se que o texto constitucional somente tratou do assunto de forma
genérica, delegando à legislação infraconstitucional a incumbência de dispor
efetivamente sobre a formação e os critérios de representatividade.

Quanto à terceira fase do movimento sindical, chamada de sindicalismo


autônomo, é marcada pelo rompimento com o modelo estatal intervencionista, ou
seja, o Estado deixou de repercutir no cotidiano dos sindicatos. Trata-se de um
período de abertura política, o que possibilitou a criação de centrais sindicais sem
o esteio legal, por exemplo.32
Além disso, o Ministério do Trabalho e Emprego deixou de seguir
algumas orientações da CLT no que diz respeito à fundação dos sindicatos.

30
RUSSOMANO, Mozart Victor, op. cit., p. 33.
31
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2007), op. cit., p. 1202.
32
Ibid., p. 1203-1204.
74

Tornou-se livre o processo de criação de uma entidade sindical, já não havia a


necessidade de se constituir previamente uma simples associação e, após um
período de estágio, solicitar a carta sindical conforme os requisitos legais. Desse
modo, o funcionamento das organizações sindicais passou a fazer parte da sua
administração interna, sem fiscalização do poder público.33
Por outro lado, a estruturação prevista na Constituição Federal de 1988
impulsionou a criação de um sistema incoerente, uma vez que instituiu a
unicidade sindical sob o amparo da lei, porém, favoreceu a pluralidade sindical de
fato, especialmente quanto às centrais sindicais e à fragmentação de categorias.
Tal conjuntura provocou o aumento vertiginoso do número de sindicatos e a
consequente fragilização do movimento sindical.34

2.2 Estrutura sindical brasileira na Constituição Federal de 1988

2.2.1 Entidades sindicais

2.2.1.1 Conceito

Basicamente, sindicato pode ser definido como a entidade de direito


privado constituída por um grupo de trabalhadores ou empregadores (de cunho
profissional ou econômico, respectivamente), para a defesa dos interesses do
aludido conjunto de pessoas, observado o registro no órgão competente, o
qual lhe garante a personalidade sindical. Quanto à origem etimológica, a
palavra sindicato deriva do termo em latim syndicus (síndico) e do grego
sundikós (advogado).
Para Amauri Mascaro Nascimento, sindicato “é uma organização
social constituída para, segundo um princípio de autonomia privada coletiva,
defender os interesses trabalhistas e econômicos nas relações coletivas entre os
grupos sociais”.35

33
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2007), op. cit., p. 1205.
34
Ibid., p. 1205-1206.
35
Ibid., p. 1254.
75

Segundo Wilson de Souza Campos Batalha, entidade sindical consiste


em uma pessoa jurídica de direito privado, a qual se investe legitimidade para
substituir processualmente seus representados em prol dos interesses da
coletividade. Para tanto, essa representação caracteriza-se por meio da
identidade, ou similaridade, ou conexidade, referente ao trabalho ou face à
empresa, coexistindo o binômio: sindicato de categoria profissional e sindicato de
categoria econômica.36

Para Roberto Barreto Prado, sindicato é “a associação que tem por


objeto a representação e defesa dos interesses gerais da correspondente categoria
profissional ou econômica e, supletivamente, dos interesses individuais dos seus
membros”.37

José de Segadas Vianna atenta para a diversificada conceituação de


sindicato em decorrência das complexas atribuições no cotidiano de um povo.
Segundo o autor, a doutrina clássica trata a entidade sindical como uma coalizão
duradoura para a luta de classes, enquanto uma parcela compreende tratar-se de
um órgão destinado à solução do problema social. Por outro lado, na legislação,
encontra-se desde a definição clássica à moderna. Nesse sentido, a Lei francesa
de 1884 (reformada em 1920 e incorporada ao Código do Trabalho) estabelece
que os sindicatos são formados “por pessoas que exercem a mesma profissão e
têm exclusivamente por objeto o estudo e a defesa dos interesses econômicos,
industriais, comerciais, e agrícolas”.38

Wilson de Souza Campos Batalha recorre à “clássica definição” de


Paul Durant, a qual alude somente às entidades representativas de categorias
profissionais:

O sindicato é um agrupamento no qual várias pessoas, exercentes de


uma atividade profissional, convencionam pôr em comum, de maneira
duradoura e mediante organização interna, suas atividades uma parte
de seus recursos, em vista de assegurar a defesa e a representação
39
de sua profissão e de melhorar suas condições de existência.

36
BATALHA, Wilson de Souza Campos, op. cit., p. 56-57.
37
PRADO, Roberto Barreto. Curso de direito sindical. São Paulo: LTr, 1991. p. 20.
38
VIANNA, José de Segadas (2005), op. cit., p. 1120.
39
DURANT, Paul apud Wilson de Souza Campos, op. cit., p. 56.
76

Nessa linha de pensamento, Guillermo Cabanellas explica que a


palavra sindicato sempre inclui conceitos coletivos e profissionais, assim:

No Direito do Trabalho, por sindicato se entende toda organização ou


associação profissional composta ou integrada por pessoas que,
exercendo o mesmo ofício ou profissão, similares ou conexas, unem-
se para o estudo ou proteção dos interesses que lhes são comuns.
Qualquer entidade profissional que tenha por objeto a defesa dos
interesses comuns da atividade laboral de seus membros, pode
40
chamar-se sindicato.

Manuel Alonso Olea a partir da definição41 de Sidney e Beatriz Webb


(1894) ensina que o sindicato pode ser uma associação permanente de
trabalhadores sem fins lucrativos, visando à progressão econômica e social dos
membros, objetivando, por meio da contratação coletiva, a manutenção e
melhoria das condições de trabalho.42

Giuseppe D’Eufemia faz a diferenciação entre associação operária e


patronal. Desta forma, a primeira, surge como um fenômeno jurídico no momento
da sua organização, os trabalhadores associam-se na base de idêntica atividade
laboral ou no chamado sindicato de indústria, ou seja, a associação consiste no
agrupamento dos indivíduos que participam do mesmo ciclo de produção. Isso
ocorre objetivando a tutela de interesses profissionais comuns dos associados,
especialmente para contrastar perante o monopólio da categoria formada pelos
empregadores, em prol de condições de trabalho e da substituição dos
trabalhadores isolados.43

Quanto à associação patronal, são criadas com o intuito de resistência


às reivindicações das associações de trabalhadores, bem como para a defesa de
interesses econômicos e são organizadas na base por diversos critérios, como o
setor de produção ou pela dimensão da empresa.44

40
CABANELLAS, Guillermo (1968), op. cit., p. 152. (tradução livre)
41
Para Sidney Webb e Beatriz Webb, “um sindicato, como nós entendemos o termo, é uma
contínua associação de trabalhadores assalariados para a finalidade de manter ou melhorar as
condições de suas vidas profissionais”. (Tradução livre). In: WEBB, Sidney; WEBB, Beatriz. The
history of trade unionism. New York: Longmans, Green, 1950. p. 01.
42
ALONSO OLEA, Manuel Alonso. Derecho del trabajo. 6.ed. Madrid: Universidad de Madrid
- Facultad de Derecho, 1980. p. 386.
43
D’EUFEMIA, Giuseppe. Diritto sindacale. Napoli: Morano Editore, 1967. p. 14-15.
44
Ibid., p. 15.
77

No sistema legislativo brasileiro, não é possível visualizar o conceito de


sindicato nem mesmo na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). No diploma
celetista, encontra-se a referência à possibilidade de associação para fins de
estudo, defesa e coordenação dos interesses profissionais e econômicos
(art.511), as prerrogativas (art. 513) e deveres sindicais (art. 514). Para tanto,
torna-se salutar a observação do artigo celetista:

Art. 511. É lícita a associação para fins de estudo, defesa e coordenação


dos seus interesses econômicos ou profissionais de todos os que, como
empregadores, empregados, agentes ou trabalhadores autônomos ou
profissionais liberais exerçam, respectivamente, a mesma atividade ou
profissão ou atividades ou profissões similares ou conexas.

Por outro lado, é possível localizar na legislação estrangeira alusão a


conceitos básicos do sindicalismo. Em Portugal, por exemplo, no Decreto-Lei n.
215-B de 30 de abril de 1975, o sindicato é considerado uma associação de
trabalhadores que visa à defesa e a promoção dos interesses do grupo, definição
disposta no art. 2º. Quanto à aquisição da personalidade sindical, esta ocorre por
meio do registro dos estatutos no Ministério do Trabalho.

Observa-se, na maioria dos conceitos trazidos pela doutrina, um


direcionamento ao poder de representação ou defesa de interesses de terceiros,
associados ou não. Tal competência mostra-se extremamente salutar na
aquisição de força dos atores sociais, especialmente, aqueles pertencentes à
classe de trabalhadores, cujo poderio individual é imperceptível ou insuficiente
perante a autoridade do empregador, visto que o embate direto poderia suscitar
receios ou represálias.

2.2.1.2 Natureza jurídica

A indicação da natureza jurídica do sindicato permite individualizá-lo e


compreender melhor suas funções e características, evitando a confusão de
institutos, especialmente no que diz respeito ao grupo representado.
78

Octávio Bueno Magano ressalta que “o sindicato possui realidade


complexa: participa da natureza da associação, mas ostenta, ao mesmo tempo,
inúmeros traços institucionais. Deve ser por isso caracterizado como associação
institucionalizada”. 45

Consoante Mauricio Godinho Delgado, a entidade sindical consiste em


uma associação coletiva, possuindo natureza privada, a fim de defender os
interesses coletivos profissionais e materiais de trabalhadores, estejam
subordinados ou autônomos, e de empregadores.46

Três teorias devem ser observadas acerca da natureza jurídica dos


sindicatos ante a delimitação entre o direito público e o direito privado.
Primeiramente, a teoria do fim, a qual o interesse público determina a natureza
jurídica do ente, visando a atender as peculiaridades do Estado. Evidentemente, a
citada teoria não prevaleceu, pois em determinadas circunstâncias, a pessoa
jurídica de direito privado poderá exercer, por delegação, atividades correlatas ao
ente estatal, bem como a entidade de direito público efetuar tarefas do ramo
privado. No que concerne à organização sindical, suas atividades não se
destinam a concretização de um fim público que demande a delegação.47

Em seguida, a teoria da funcionalidade, refere-se ao tratamento da


subordinação da atividade da pessoa jurídica ao controle, à vigilância e à tutela do
Estado. Nesse caso, considera-se de direito público a pessoa jurídica cuja
totalidade de operações dependa do aval estatal. A mencionada teoria foi
refutada, uma vez que está dentre as funções estatais a tutela dos interesses
coletivos de profissões e indivíduos.48

Já a terceira teoria, denominada integral ou eclética, se dá quando o


Estado proclama o caráter público da pessoa jurídica ou a cria com esta natureza.
Todavia, a simples interferência não demonstra a natureza pública, como
acontece com as sociedades de economia mista, em que há a participação do
Estado, o que não afasta o entendimento de pessoa jurídica de direito privado. 49

45
MAGANO, Octávio Bueno (1981), op. cit., p. 16
46
DELGADO, Mauricio Godinho, op. cit., p. 1350.
47
GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson, op. cit., p. 561.
48
Ibid., p. 561-562.
49
Ibid., p. 561.
79

Não há um divisor geométrico e rígido entre o interesse público e o


interesse privado, há uma verdadeira intersecção, ou seja, em algum momento
eles se conectam. Quanto ao sindicato ser de direito público ou privado, é
necessário observar a lei local, além disso, o período histórico influenciará
severamente nessa classificação. Nos sistemas ditatoriais, por exemplo, a
legislação atribui à entidade sindical papel de colaboradora do Estado,
subordinando-a ao poder político e sua consequente transformação em pessoa de
direito público. Por outro lado, nas democracias é possível vislumbrar a pessoa de
direito privado, que pode ser uma cooperadora estatal em assuntos de relevo, no
entanto, não está suscetível ao domínio político. 50

O denominado sindicato de direito público encontra respaldo nos


ordenamentos estatais contrários à autonomia sindical, cuja atribuição pública é
responsável pela ingerência direta do Estado em diversos momentos, tais como:
na constituição, reconhecimento jurídico e no desenvolvimento da atividade
sindical. Ante isso, há uma transformação dos caracteres naturais da entidade,
por exemplo, na autonomia aludida, a qual se torna limitada e publicista, portanto,
a natureza pública além de mitigar, desnatura a organização sindical.51

De acordo com a tendência moderna, especialmente em países como


a Itália, Inglaterra e França, o sindicato é pessoa jurídica de direito privado e, em
dadas situações, de interesse público. A atribuição de direito privado não significa
exclusivamente a trajetória dos interesses privados, mas dos particulares, cujos
envolvidos podem ser indivíduos ou grupo de pessoas, consequentemente, o
direito público não remete apenas aos interesses coletivos, atingindo o âmbito dos
interesses gerais da comunidade.52

A. F. Cesarino Jr. sustenta que os sindicatos não se enquadram


como pessoas jurídicas de direito privado ou pessoas jurídicas de direito
público, por isso considera que seria mais lógico adotar a classificação de
53
pessoa jurídica de direito social.

50
RUSSOMANO, Mozart Victor, op. cit., p. 53-55.
51
MAZZONI, Giuliano. Relações coletivas de trabalho. Trad. Antonio Lamarca. São Paulo: Ed.
Revista dos Tribunais, 1972. p. 05.
52
RUSSOMANO, Mozart Victor, op. cit., p. 56-57.
53
CESARINO JR., A. F., op. cit., p. 137.
80

Compartilha-se o entendimento de que o sindicato deva ser


reconhecido como pessoa jurídica de direito privado, sem qualquer relação
subordinada ao poder estatal, isto é, ausente o controle do modus operandi, bem
como quaisquer requisitos que possam restringir ou condicionar sua formação,
inclusive, quanto aos critérios de agregação de trabalhadores e empregadores,
como o de categorias.

2.2.2 Sistema de representação sindical: sistema piramidal

A estrutura sindical brasileira está disposta na Constituição Federal de


1988 (arts. 8º a 11) e na Consolidação das Leis do Trabalho de 1943 (arts. 511 a
625) e apresenta características de um regime livre e corporativista
simultaneamente, ou seja, aspectos e elementos de liberdade em contraponto a
fundamentos intervencionistas, por isso denominada estrutura sindical híbrida.
Esse conjunto é formado por graus de representação, precisamente por três
divisões, o qual se denomina sistema piramidal.

Na base dessa pirâmide encontram-se os sindicatos, representantes


dos interesses individuais e coletivos de empregados e empregadores, assim
como da categoria profissional diferenciada. Comumente, há entidades sindicais
que abarcam os níveis municipal, intermunicipal, estadual ou nacional respeitado
o modelo de organização de unicidade sindical.

Em seguida, no grau intermediário de sustentação, estão localizadas


as federações, que consistem no agrupamento mínimo de cinco sindicatos
representantes da maioria absoluta de um grupo de atividades ou profissões
idênticas, similares ou conexas. Geralmente, sua atuação é limitada ao âmbito
estadual, podendo estender-se ao nível interestadual ou nacional (art. 534,
CLT). Na cúspide ou cúpula da pirâmide, estão as confederações, cuja
formação legal mínima é de três federações, normalmente de desempenho
nacional (art. 535, CLT).

No tocante à legislação internacional, a Convenção n. 87 da OIT (art. 5º)


preceitua o direito dos trabalhadores e empregadores constituírem as ditas
81

organizações de nível elevado, porém, não há menção à quantidade mínima de


instituições filiadas. Mas, o sistema brasileiro coloca-se em oposição acerca da
referida normatização, tal como o impedimento da pluralidade de entidades
superiores representantes da mesma categoria em determinado perímetro.

Com relação ao número de sindicatos para a composição inicial de


uma federação, há que se ponderar a exigência mínima apregoada pelo legislador
(art. 534, CLT), uma vez que após a Constituição Federal de 1988 ocorreu a
fragmentação de inúmeras organizações sindicais, o que obstaculizou a reunião
absoluta (mais de 50%) de membros pertencentes da mesma classe de
trabalhadores ou patronal em apenas cinco unidades. O mesmo problema incide
na formação de uma federação pelo processo de cisão, pois nenhuma das duas
associações poderá ficar com menos de cinco sindicatos. Propugna-se a
liberdade para que os interessados decidam a formação da federação, seja pela
criação inicial ou por processos de cisão e fusão. 54

Homero Batista Mateus da Silva declara a eminência das federações e


confederações na coordenação e defesa dos atores sociais, já que o desempenho
dos inúmeros sindicatos de base, geralmente por meio de ações individualizadas,
não alcança resultados capazes de incutir na trajetória de desenvolvimento do
país ou influenciar o legislador à produção de normas jurídicas. Assim, “o grau
superior da estrutura sindical corresponde, enfim, ao momento de transição entre
o mero ativismo sindical do ponto de vista estritamente trabalhista e o papel
político-social, que transcende os limites do direito do trabalho”.55

O art. 611, § 2º, CLT autoriza unicamente a atuação supletiva das


associações superiores. Mas, a força do sistema confederativo deveria ser
melhor aplicada também às negociações coletivas de cunho laboral, visto que
resultariam em acordos unitários atentos às necessidades da comunidade
trabalhista de forma homogênea, contudo, sem desqualificar a participação local
dos sindicatos de base. Dessa forma, unifica-se o poder de diálogo superior ao
atendimento das necessidades regionais. Notoriamente, essa fórmula adéqua-se
exclusivamente às convenções coletivas, já que se tornaria árdua a pactuação de

54
SILVA, Homero Batista Mateus da. Curso de direito do trabalho aplicado. Direito coletivo do
trabalho. 2.ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012. v. 7 p. 73.
55
Ibid., p. 71.
82

uma federação com cada uma das empresas representantes das categorias
econômicas, por exemplo.

No direito espanhol, as entidades de grau superior são denominadas


organizações sindicais complexas, consistem no agrupamento de unidades de
nível inferior com especial intento de ampliar a capacidade negociadora e o
âmbito de representação sindical. Formam-se a partir de critérios territoriais ou
funcionais, bem como por outros fatores, como a filiação. Em decorrência desse
processo de constituição, é possível vislumbrar a existência de federações por
ramo ou setor, as uniões territoriais, as confederações centrais sindicais e as
organizações internacionais.56

A referência às entidades de grau superior impõe, outrossim,


repercussão às centrais sindicais, que são associações constituídas por
organizações sindicais de representação dos trabalhadores. Apesar do seu
reconhecimento legal, não estão na estrutura formal da Constituição Federal, por
isso não são consideradas sindicatos e não podem exercitar certas atividades
correlacionadas aos mencionados entes coletivos, por exemplo, firmar
negociação coletiva.

Embora não possuam personalidade sindical e o consequente acesso


às prerrogativas prescritas pelo art. 513 da CLT, de acordo com o art. 1º, II da Lei
n. 11.648/2008, as centrais sindicais podem participar de negociações em fóruns,
colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo social de composição
tripartite, como o Conselho Curador do FGTS.

Na década de 1990, portanto, anterior à aprovação da Lei que


regulamenta as centrais sindicais, já se apontava a importância dessas
associações, consideradas de maior expressividade quando comparadas a certos
sindicatos e até mesmo confederações, pois lograram êxito em assuntos
envolvendo a temática trabalhista extensos aos interesses setoriais da categoria.
Todavia, sua inclusão à estrutura sindical brasileira é dificultada pela unicidade,
uma vez que a agregação de trabalhadores resulta de “múltiplas opções de
filiação”, em sentido oposto ao monismo que é concebido a partir das categorias
econômicas e profissionais. Confere-se às centrais sindicais um papel

56
VALVERDE, A. M.; GUTIÉRREZ, F. R. S.; MURCIA, J. G. Derecho del trabajo. 5.ed. Madrid:
Tecnos, 1996. p. 255.
83

transcendente à proteção de nível local ou nacional do trabalhador, estão


correlacionadas à salvaguarda das regras internacionais.57

Apesar de defender interesses trabalhistas, as centrais sindicais não


estão inseridas no contexto tradicional da estrutura sindical brasileira, mas são
custeadas por parte da contribuição sindical. Essa participação tem precipitado
diversas disparidades, já que sua natureza jurídica restringe-se a uma associação
de direito privado sem personalidade sindical, no entanto, é financiada pelo
numerário destinado às organizações sindicais consoante à regulamentação da
Lei n. 11.648/2008. Em virtude disso, questiona-se a constitucionalidade do citado
dispositivo legal, mediante a Ação Declaratória de Inconstitucionalidade (ADI) n.
4.067 ajuizada pelo Partido Político Democratas - DEM em 09/04/2008.58

A ADI foi proposta em face dos artigos 3º e 1º, II da Lei que reconhece
formalmente as centrais sindicais, assim como do art. 589, II, b e art. 593, § 2º da
CLT, cuja redação foi designada pela legislação supracitada. Na petição inicial,
argumentou-se que a contribuição sindical possui um fim específico, não podendo
ser utilizada para o custeio de atividades que excedam a categoria profissional.
Ademais, um tributo destina-se ao Estado, excepcionalmente às entidades não
estatais contempladas no texto constitucional, mas não é o caso das centrais
sindicais, cuja “atuação, a toda evidência, ultrapassa a noção de categorias
profissionais ínsita à própria natureza sindical da contribuição”.

Na citada ação, indagou-se também a participação das centrais nos


fóruns e órgãos públicos de formação tríplice, pois, nessa situação, as
associações representam os trabalhadores sem a devida delegação da parte
interessada, a qual é direcionada apenas às entidades sindicais.

A discussão em torno da (in) constitucionalidade da destinação da


contribuição sindical às centrais sindicais não retrata a problemática enfrentada
pelo sindicalismo brasileiro há décadas. É certo que uma negociação atrelada aos
interesses profissionais no local de trabalho tende a ser vantajosa ao trabalhador,
mas as melhorias das condições laborais não são restritas ao interior da empresa,

57
MACIEL, José Alberto Couto. Papel das centrais sindicais. In: FRANCO FILHO, Georgenor de
Sousa. (Coord.) Curso de direito coletivo do trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro
Orlando Teixeira da Costa. São Paulo: LTr, 1998. p. 125-133.
58
Informações obtidas a partir do andamento processual previsto no sítio eletrônico do Supremo
Tribunal Federal.
84

existem direitos carecedores de debates de maior relevância, como o


desemprego em épocas de crise, o que não ocorre na base sindical adstrita aos
interesses de um dado grupo profissional, além da inexpressividade de certas
entidades no contexto regional e nacional.

Independente dos questionamentos acerca da manutenção da


contribuição sindical no ordenamento brasileiro, impedir o repasse às centrais sob
a justificativa de não ser uma organização sindical diverge de uma solução
adequada, já que tal enquadramento ocorre devido à imposição da unicidade. Por
isso, a tendência não é a vedação, mas a democratização do sistema, isto é,
permitir a coexistência de instituições independente do plano de representação.

2.2.3 Liberdade de criação

Segundo o Código Civil brasileiro, o início legal de uma pessoa jurídica


comum de direito privado ocorre com o registro dos seus atos constitutivos no
respectivo Cartório ou Junta Comercial e, em dadas circunstâncias, carecem de
autorização ou aprovação do Poder Executivo.
No tocante à formação dos sindicatos, José Martins Catharino
sistematizou a aquisição da personalidade sindical em três fases, quais sejam:
“a) da gestação, da ideia associativa ao ato criador consequente; b) nascimento,
com o mesmo ato, constitutivo e estatutário, criador da ‘associação profissional’
sujeita ao registro; da maturidade, correspondente ao reconhecimento e à
investidura sindicais.” 59

Outrossim, o surgimento de uma entidade sindical, geralmente, ocorre


a partir de uma das seguintes hipóteses: fundação originária, será o primeiro
órgão representativo da categoria em determinada localidade; fundação por
transformação de associação em sindicato, advém da mudança do status de
simples associação para sindicato, assim como a aquisição de prerrogativas
sindicais; fundação por desmembramento de categoria, a entidade representa

59
CATHARINO, José Martins. Tratado elementar de direito sindical: doutrina, legislação. São
Paulo: LTr, 1977. p. 170.
85

atividades e há a separação de uma delas para a criação de um sindicato


específico; fundação por divisão de base territorial, um sindicato de base ampla
(nível nacional, estadual ou intermunicipal) fragmenta-se e dá origem a outro de
localização geográfica específica e menor; fundação por fusão de sindicatos, dois
ou mais sindicatos passam por um processo de transformação (união) e surge
uma novo ente.60

As organizações sindicais prescindem de autorização para sua


fundação, assim, proíbe-se a ingerência estatal na sua criação e funcionamento.
Mas, a existência formal depende também da obtenção de personalidade
sindical, consequente do depósito dos estatutos da entidade junto ao órgão
competente, o Ministério do Trabalho e Emprego, conforme leitura extensiva do
art. 8º, I da Constituição Federal de 1988. Trata-se apenas de um ato vinculado,
ou seja, atendido o critério de territorialidade o registro deverá ser concedido.

Tal procedimento burocrático recebeu inúmeras críticas, apontado


durante largo período como uma típica interferência do Estado. No decorrer da
História do Direito Coletivo do Trabalho, diversas hipóteses foram aventadas com
o intuito de explicar a formação da entidade sindical.

Primeiramente, surgiria a partir do reconhecimento oficial e


aprovação da sua constituição pelo Poder Público, enquanto em outro
entendimento apenas com a sua criação, sem a necessidade da ratificação dos
entes públicos. Há quem justificasse o nascimento da pessoa jurídica por um
acordo de vontades com um objetivo concreto. Por fim, há a corrente segundo
a qual a pessoa jurídica possui vida desde o momento do pacto de vontades
para um fim concreto, porém, vem o ente estatal e a legaliza com sua
autorização.61

De acordo com José de Segadas Vianna, “o Estado não tem poder de


criar sindicatos e apenas estabelece condições para que eles sejam registrados
para o exercício de direitos que as leis lhes conferem. Os sindicatos nascem da
vontade de um grupo profissional homogêneo”. 62

60
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 7.ed. São Paulo: LTr, 2012. p. 264.
61
CABANELLAS, Guilhermo. Derecho sindical y corporativo. Buenos Aires: Atalaya, 1946. p. 233.
62
VIANNA, Segadas (2005), op. cit., p. 1123.
86

Precedente à Carta constitucional atual, a conjuntura era


evidentemente intervencionista, a criação de um ente demandava
reconhecimento estatal. Portanto, um poder discricionário do órgão concedente,
ou seja, poderia conferir ou não a formalização da entidade.

A Constituição de 1934 sujeitava o reconhecimento dos sindicatos à


legislação infraconstitucional. A norma constitucional de 1937 assegurava o
exercício representativo apenas às entidades devidamente legitimadas pelo
Estado; enquanto os diplomas de 1946 e 1967 incumbiram à lei de regular a
constituição, representação e as funções delegadas pelo Poder Público.

O texto constitucional em vigor ao sistematizar o registro em órgão


competente, não definiu qual seria a instituição, e tal lapso legislativo impulsionou
diversas discussões interpretativas. Consequentemente, de um lado, defensores
do Ministério do Trabalho como órgão ratificador; em oposição, críticos que
consideravam o procedimento uma forma de ingerência estatal e, portanto,
caberia aos cartórios de registro civil realizar a devida abertura de assento. A
celeuma sofreu intervenção do Superior Tribunal de Justiça no mandado de
segurança n. 29 (DF)63, o qual atribuiu a competência residual ao Ministério do
Trabalho até que sobreviesse lei ordinária disciplinando o assunto.64

O disciplinamento do órgão responsável pelo registro sindical não ficou


adstrito ao STJ, também dispuseram sobre o assunto o Tribunal Superior do
Trabalho e o Supremo Tribunal Federal, com a Orientação Jurisprudencial n. 15
da Seção de Dissídios Coletivos e a súmula n. 677, respectivamente.65

63
EMENTA: MANDADO DE SEGURANÇA – ORGANIZAÇÃO SINDICAL – REGISTRO DE
ENTIDADE SINDICAL – ATRIBUIÇÃO – CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ART. 8º, ITENS I E II. - A
Constituição Federal erigiu como postulado a livre associação profissional e sindical,
estabelecendo que a lei não pode exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato,
ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a
intervenção na organização sindical. Persistência, no campo da legislação de regência, nas regras
legais anteriores que não discrepam da nova realidade constitucional, antes dão-lhe
embasamento e operatividade. Atribuição residual, enquanto lei ordinária não vier dispor de outra
forma. Atuação restrita, no caso, à verificação da observância ou não da ressalva constitucional
que veda a existência de organização sindical da mesma categoria profissional em idêntica base
territorial. - Segurança em parte concedida. STJ. MS n. 29 – DF – (Registro n. 89.72838)
DJ:14.11.1989
64
AROUCA, José Carlos. Repensando o sindicato. São Paulo: LTr, 1988. p. 83-84.
65
(TST - OJ - SDC - 15) Sindicato. Legitimidade "ad processum". Imprescindibilidade do registro
no Ministério do Trabalho A comprovação da legitimidade "ad processum" da entidade sindical
se faz por seu registro no órgão competente do Ministério do Trabalho, mesmo após a
promulgação da Constituição Federal de 1988. (inserida em 27.03.1998)
87

O objetivo do registro sindical está relacionado ao cadastro do sindicato


mais representativo e que esteja apto a cobrar a contribuição. Ademais, os
estatutos devem ser averbados no cartório de registro de títulos e documentos
para adquirir personalidade jurídica e dar publicidade ao ato, enquanto o depósito
no mencionado órgão do Poder Executivo possui fins de verificação da base
territorial mínima e lhe garantir a personalidade sindical.66

Não obstante, portarias e instruções do Ministério do Trabalho e


Emprego, especialmente a Portaria n. 186/2008, receberam avaliação negativa
por exorbitarem seu campo de atuação. Segundo Cássio de Mesquita Barros
Junior, tais dispositivos não estariam apenas regulamentando e, sim, exercendo o
papel de legislação, por exemplo, com a concessão ao aludido órgão o direito de
decidir sobre as impugnações dos pedidos de registro sindical, quando deveria
exclusivamente receber e publicá-los, assim como as manifestações.67

O procedimento de depósito dos estatutos, por vezes, torna o


exercício da vida sindical moroso, incidindo prejuízos à entidade representante e
à classe representada, pois, enquanto pendente a formalização do registro, não
há a possibilidade de usufruir das principais prerrogativas, como a função de
firmar acordos e convenções coletivas de trabalho.68

Não se pode olvidar que o ordenamento constitucional brasileiro prevê a


liberdade de associação profissional e sindical, por isso permite-se a coexistência
de sindicatos e associações profissionais, as quais independem de observância
territorial e devem ser reconhecidas exclusivamente no âmbito civil. Seus
dirigentes não desfrutam de estabilidade e representam somente associados, por
isso não celebram negociação coletiva. Assim sendo, as entidades sindicais
possuem maior representação e prerrogativas diferenciadas.69

(STF - Súmula n. 677) “Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do Trabalho
proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela observância do princípio da unicidade.”
(Sessão Plenária de 24/09/2003)
66
MARTINS, Sergio Pinto. Direito do Trabalho. 29.ed. São Paulo: Atlas, 2013. p. 788-789.
67
BARROS JUNIOR, Cássio de Mesquita. Registro de entidade sindical. In: MANNRICH, Nelson.
(Coord.) Atualidades do direito do trabalho: anais da academia nacional de direito do trabalho.
São Paulo: LTr, 2012. p. 316.
68
MASSONI, Túlio de Oliveira. Sindicatos: criação e registro. In: SANTOS, Enoque Ribeiro dos;
SILVA, Otávio Pinto e. (Coord.) Temas controvertidos do direito coletivo do trabalho no
cenário nacional e internacional. São Paulo: LTr, 2006. p. 173
69
BARROS, Alice Monteiro. Curso de direito do trabalho. 5.ed. São Paulo: LTr, 2009. p. 1241.
88

Na Itália, a Carta del Lavoro (1927) dispunha acerca da organização


sindical e profissional livre, desde que devidamente reconhecida e submissa ao
Poder Estatal. Em 1947, a Constituição do país proibiu a imposição de obrigações
às entidades sindicais, exceto o registro civil nos cartórios.

Portanto, o registro tem por escopo a determinação de um controle


de legitimidade, mas não de mérito, atribuindo ao ente personalidade jurídica
de direito privado.70 Diante disso, não há impedimentos à instituição de
sindicatos considerados entes de fato, podendo negociar e estar em juízo
representando seus filiados.71

No ordenamento jurídico espanhol, é notável certa similitude com o


modelo italiano, visto que a Constituição de 1978 prevê a livre criação e
exercício dos sindicatos e das associações de trabalhadores. Contudo, por força
da Lei Orgânica de Liberdade Sindical n. 11/1985, art. 7º, a concretização da
personalidade e a plena capacidade de agir estão adstritas ao depósito dos seus
estatutos, por meio dos seus dirigentes no devido órgão público.

Conquanto os tribunais superiores brasileiros não tivessem resolvido o


problema interpretativo do registro sindical, o Comitê de Liberdade Sindical leciona:

[...] si bien los fundadores de un sindicato tienen que observar los


requisitos de publicidad u otros análogos que pueden regir de acuerdo
con determinada legislación, tales requisitos no deben equivaler
prácticamente a una autorización previa ni constituir um obstáculo para
la creación de una organización hasta el punto de constituir em los
hechos una prohibición pura y simple. Aun cuando el registro sea
facultativo, si de él depende que las organizaciones puedan gozar de los
derechos básicos para poder «fomentar y defender los intereses de sus
miembros», el mero hecho de que en tales casos la autoridad encargada
de la inscripción goce del derecho discrecional de denegarla conduce a
una situación que apenas diferirá de aquellas en que se exija una
72
autorización previa.

Sendo assim, não há que se falar em intromissão na formação dos


sindicatos ou em prática de antissindicalidade. O registro das entidades sindicais

70
GALANTINO, Luisa. Diritto Sindicale. Torino: G. Giappichelli Editore, 1996. p. 09
71
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2012), op. cit., p. 217.
72
OIT. La libertad sindical. Recopilación de decisiones y princípios del Comité de Libertad
Sindical del Consejo de Administración de la OIT. 5.ed. rev. Ginebra: Oficina Internacional del
Trabajo, 2006. Párrafo 272. p.61.
89

é um mero requisito de publicidade, que não pode ser confundido com um ato
discricionário do poder público.

2.2.4 Liberdade de organização

Quando uma entidade adquire personalidade sindical, torna-se apta a


defender os interesses individuais e coletivos de uma categoria, independente de
prévia filiação, desde que relacionados às atividades profissionais ou econômicas.
Sendo assim, são lhes atribuídas determinadas funções, ou melhor, prerrogativas
que a singularizam em relação a uma simples associação profissional. Ademais,
tal concessão deve ser compreendida como um encargo a ser cumprido.

No magistério de José Martins Catharino: “órgão sem função é um


traste, estático, sem serventia, o que contraria sua própria destinação dinâmica.
Órgão sem meios ou instrumentos teleológicos está fadado à atrofia e ao
desaparecimento”.73

As principais funções das organizações sindicais estão previstas,


especialmente, nos artigos 513 e 514 da CLT, quais sejam: representativa,
regulamentar, arrecadatória e assistencial. Ademais, há as polêmicas funções
econômica e política.

Todavia, a disposição celetista acerca dos objetivos, prerrogativas e


outros caracteres inerentes às entidades sindicais brasileiras costumam sofrer
admoestação, sobretudo, porque a “lei brasileira une prerrogativas, fins concretos,
objetivos díspares e conceitos gerais para conseguir caracterizar os sindicatos.
Esta confusão tem gerado em grande parte perda de brilho à concepção das
organizações, levando-as a serem organismos de caráter corporativo e de
faculdades limitadas”.74

No que diz respeito à função econômica, é vedada expressamente


pela CLT, assim: “Às entidades sindicais, sendo-lhes peculiar e essencial a
atribuição representativa e coordenadora das correspondentes categorias ou

73
CATHARINO, José Martins, op. cit., p. 152.
74
CABANELLLAS, Guillermo (1946), op. cit., p. 271-272.
90

profissões, é vedado, direta ou indiretamente, o exercício de atividade


econômica” (art. 564). Por sua vez, a função política é vedada no art. 521 do
diploma celetista: “d) proibição de quaisquer atividades não compreendidas
nas finalidades mencionadas no art. 511, inclusive as de caráter político-
partidário”.

Mauricio Godinho Delgado informa que tais dispositivos da CLT não


foram recepcionados pela Constituição Federal de 1988, pois restringem a
liberdade de associação e a autonomia sindical. No caso do exercício da atividade
econômica, deve ser analisada como um fator positivo, já que favorece a
execução das suas funções de pessoa jurídica de direito privado. Nesse contexto
afirmativo, há que se observar as questões de aparência exclusivamente políticas,
uma vez que elas poderão influir no cotidiano das relações de trabalho.75

Além disso, o caráter político não nasce dentro do sindicato, vem do


exterior. Os sindicatos são organismos puramente profissionais, cujos
membros podem almejar individualmente fins políticos. Em regra, os partidos
políticos buscam a força coletiva das organizações sindicais, as quais não se
afastam do seu viés apolítico, desde que mantenham sua autonomia.76

A função representativa está disposta no art. 513, alínea a, da CLT:


“representar, perante as autoridades administrativas e judiciárias, os interesses
gerais da respectiva categoria ou profissão liberal ou interesses individuais dos
associados relativos á atividade ou profissão exercida”. Ademais, o art. 8º, III da
CF reforça a defesa singular e coletiva nos referidos âmbitos.

À prerrogativa em comento são concedidas distintas dimensões,


destacando-se: a privada, responsável pelo estabelecimento de relações entre a
classe de trabalhadores e o grupo patronal; a administrativa, buscando o
relacionamento com o Estado e visando à solução de entraves; a pública,
almejando o contato e o apoio da sociedade civil; e a judicial, por meio da atuação
direta em prol dos membros da categoria perante o Poder Judiciário.77

Nesse sentido, “a representação sindical diz respeito a uma série de


fenômenos que não correspondem a um conceito unívoco, pois como

75
DELGADO, Mauricio Godinho, op. cit., p. 1379.
76
CABANELLLAS, Guillermo (1946), op. cit., p. 259.
77
DELGADO, Mauricio Godinho, op. cit., p. 1377-1378.
91

representante o sindicato atua os diferentes setores das relações coletivas de


trabalho”.78

Quanto à função regulamentar ou negocial ou normativa, esta consiste


na elaboração de normas coletivas para regular ou disciplinar as relações
individuais de trabalho, cujo processo se dá por meio de negociações coletivas,
tendo como resultado a convenção ou o acordo coletivo de trabalho, dos quais o
conteúdo integrará os respectivos contratos laborais.

A negociação coletiva tem por objeto a criação, modificação ou


manutenção das condições de trabalho.79 O sindicato de empregados é
compelido a participar de todos os processos de normatização, enquanto a
entidade patronal somente das convenções. Igualmente à representação sindical,
as conseqüências da prerrogativa negocial não estão adstritas aos membros
filiados, é extensiva a todos (categoria) dentro do raio de atuação do sindicato.

No que tange à assistência sindical, basicamente é a prestação de


serviços aos associados, a CLT80 elenca alguns serviços e os trata como
deveres por parte das entidades sindicais, destacam-se os serviços de
natureza médica, educacional, hospitalar e ambulatorial. Entretanto, “são
atribuições, para alguns, impróprias, que desviam o sindicato do seu papel
principal e que devem ser exercidas pelo Estado, e não pelo sindicato”.81

A função assistencial estudada não se confunde com a função


educacional das entidades sindicais. A finalidade educativa reflete a
imperiosidade dos sindicatos em estimularem “a formação sindical que propicie
uma reflexão coletiva sobre carências e problemas comuns”. Tal processo
reflexivo faz-se eminente diante dos novos contornos adquiridos pelas relações

78
SILVA, Walküre Lopes Ribeiro da. Crise de representatividade e participação dos sindicatos
em políticas ativas de emprego. 2001. 333 f. Tese (Professor Titular) – Faculdade de Direito,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. p. 96.
79
AROUCA, José Carlos (2006), op. cit., p. 288.
80
CLT, art. 514. “São deveres dos sindicatos: a) colaborar com os poderes públicos no
desenvolvimento da solidariedade social; b) manter serviços de assistência judiciária para os
associados; c) promover a conciliação nos dissídios de trabalho; d) sempre que possível, e de
acordo com as suas possibilidades, manter no seu quadro de pessoal, em convênio com
entidades assistenciais ou por conta própria, um assistente social com as atribuições específicas
de promover a cooperação operacional na empresa e a integração profissional na Classe.
Parágrafo único. Os sindicatos de empregados terão, outrossim, o dever de : a) promover a
fundação de cooperativas de consumo e de crédito; b) fundar e manter escolas do alfabetização
e pre-vocacionais.”
81
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2012), op. cit., p. 322.
92

laborais, especialmente em decorrência de formas prejudiciais de utilização da


mão de obra, como o trabalho escravo e o subemprego em massa. Incumbe aos
sindicatos promoverem o despertamento dos trabalhadores e empregadores à
liberdade sindical em todas as suas nuances, compreendendo sua importância
no fomento da dignidade humana.82 Além disso, a liberdade sindical necessita
ser interiorizada pelos atores sociais, conforme assevera Tamira Maira
Fioravante:

[...] enquanto a liberdade sindical não for encarada pelos sujeitos da


relação de trabalho como um bem essencial à criação e à manutenção
de relações de trabalho produtivas e simultaneamente emancipadoras,
83
de muito pouco adiantará o reconhecimento jurídico da mesma.

A formação consciencial do trabalhador importa no fortalecimento do


movimento sindical e, consequentemente na repressão da descoletivização
decorrente da descrença do papel dos agrupamentos, frequentemente
justificada pela inexpressividade representativa. Além disso, a metodologia
aludida, outrossim, poderá impulsionar a visualização da função negocial como
instrumento de efetivação dos direitos humanos fundamentais da classe
trabalhadora, sem a dependência da ação do legislador ordinário, diversamente
do plano atual externado por sindicatos apáticos que pactuam negociações
coletivas fracas.

Alusivo à função arrecadatória, Guillermo Cabanellas a denomina


poder tributário e lhe atribui o objetivo de servir para o sustento da entidade.
Recorda também, a confusão entre o poder tributário sindical e o poder tributário do
Estado, este é obrigação de todos os indivíduos para que possam usufruir de
benefícios comuns, enquanto o primeiro repercute exclusivamente aos membros da
categoria, estes, por vezes, sentem-se constrangidos em custear as despesas de
um órgão sem lograr as vantagens relatadas.84

Dessa maneira, a supracitada prerrogativa está associada à produção


das receitas do órgão sindical e é traduzido pelo poder de impor contribuições aos

82
FIORAVANTE, Tamira Maira. Sindicato, educação e liberdade. São Paulo: LTr, 2008. p. 105;125-126.
83
Ibid., p. 09.
84
CABANELLLAS,Guillermo (1946), op. cit., p. 322-323.
93

membros da categoria representada. No Direito brasileiro, tal imposição é


exteriorizada pelas seguintes cobranças: contribuição sindical, contribuição
confederativa, contribuição assistencial e mensalidade sindical.

A contribuição sindical é um instituto que descende do antigo imposto


sindical preconizado pela Constituição de 1937 e Decreto-Lei 2.377/40.
Atualmente, está prevista nos artigos 578 a 610 da CLT85, assim como no art. 8º,
inciso IV da Constituição Federal. Segundo interpretação dos referidos
dispositivos legais, trata-se de uma cobrança anual, correspondente à
remuneração de um dia de trabalho quando empregados, e de acordo com o
capital social da empresa para os empregadores, realizada a todos os
pertencentes à categoria profissional e econômica, tal como o trabalhador
liberal, em prol do sindicato representativo.

Ademais, a sua disposição legal confere-lhe condição de tributo,


consequentemente, dotada de obrigatoriedade, por isso o pagamento independe
do livre arbítrio dos destinatários. Inclusive, no caso dos empregados, o desconto
é efetuado diretamente pelo empregador na remuneração do mês de março, ou
seja, mesmo que houvesse oposição, esta fugiria do controle daqueles.

Desse modo, apresenta todos os requisitos de um tributo, definidos no


art. 3º do Código Tributário Nacional brasileiro, assim: “é toda prestação
pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não
constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade
administrativa plenamente vinculada”.

Em seguida, tem-se a contribuição confederativa, de acordo com a


denominação, destina-se à manutenção do sistema confederativo como um todo:
sindicatos, federações e confederações. Trata-se de uma obrigação consensual,
portanto, necessita da manifestação de vontade dos interessados, ou seja, os
associados. Não se pode olvidar que a fixação do quantum da contribuição ocorre
em assembleia geral, por isso, não há compulsoriedade na sua cobrança e,

85
CLT, art. 578 “As contribuições devidas aos Sindicatos pelos que participem das categorias
econômicas ou profissionais ou das profissões liberais representadas pelas referidas entidades
serão, sob a denominação do "imposto sindical", pagas, recolhidas e aplicadas na forma
estabelecida neste Capítulo.”
94

consequentemente vincula-se apenas os indivíduos filiados.86 Recebe amparo


legal do art. 8º, inciso IV da CF.87

A contribuição assistencial também chamada de taxa de reforço


sindical e contribuição de fortalecimento sindical é convencionada pelas partes e
pode ser cobrada somente dos empregados sindicalizados, conforme art. 513, e,
da CLT. A autorização para cobrança advém de acordo ou convenção coletiva
de trabalho.88

Para tanto, o STF editou a súmula n. 666 e o TST o precedente


normativo n. 119, dispondo acerca da desnecessidade do pagamento pelos
pertencentes às categorias econômicas e profissionais, mas não sindicalizados.89

Por fim, os estatutos das entidades sindicais podem dispor acerca do


recolhimento da mensalidade sindical, reservada à manutenção dos serviços
oferecidos e paga unicamente pelos associados.

Os valores pagos a título de contribuições deveriam ser revertidos à


manutenção do sistema sindical e ao bem estar dos seus representados. Todavia,
em dadas situações, destinam-se apenas à sustentação de organizações
sindicais com poder de representação débil e serviços assistenciais de qualidade
discutível.

86
Sergio pinto Martins 830-833.
87
CF, art. 8º, inciso IV - “a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria
profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação
sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;”
88
DELGADO, Mauricio Godinho. p. 836-839.
89
STF, súmula n. 66, “A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, iv, da Constituição, só é
exigível dos filiados ao sindicato respectivo.”
TST. PRECEDENTE NORMATIVO N. 119 CONTRIBUIÇÕES SINDICAIS - INOBSERVÂNCIA DE
PRECEITOS CONSTITUCIONAIS – (nova redação dada pela SDC em sessão de 02.06.1998 -
homologação Res. 82/1998, DJ 20.08.1998. "A Constituição da República, em seus arts. 5º, XX e 8º, V,
assegura o direito de livre associação e sindicalização. É ofensiva a essa modalidade de liberdade
cláusula constante de acordo, convenção coletiva ou sentença normativa estabelecendo contribuição
em favor de entidade sindical a título de taxa para custeio do sistema confederativo, assistencial,
revigoramento ou fortalecimento sindical e outras da mesma espécie, obrigando trabalhadores não
sindicalizados. Sendo nulas as estipulações que inobservem tal restrição, tornam-se passíveis de
devolução os valores irregularmente descontados."
95

2.2.5 Unicidade sindical e base territorial mínima

A liberdade de fundação dos sindicatos está expressa em diversas


normas da OIT, mas o delineamento dessa prerrogativa dependerá do modelo de
organização adotado por cada Estado, seja por meio da pluralidade sindical ou a
consequente unidade espontânea, bem como da unicidade.

Na pluralidade sindical, o cenário favorece e a legislação nacional não


proíbe a criação de incontáveis sindicatos destinados à representação do mesmo
público, ou seja, não se obsta a existência de quantas sejam as unidades de
idêntica classe de trabalhadores ou empregadores.

A pluralidade é verificada, especialmente em países de grande


desenvolvimento econômico como a Itália, cujo sistema sindical não sofre
regulação estatal com ditames dos requisitos necessários à formação das
entidades ou a imposição de ideologias e objetivos. As características ou o tipo
de pluralismo variam de acordo com a história econômica, social, cultural e
institucional de cada país, assim como nas relações de maior ou menor
integração dos sindicatos com o Estado.90

No interior do sistema plúrimo ocorre a unidade, que consiste no


agrupamento natural de pessoas (empregados ou empregadores) na mesma
entidade sindical, assim sendo, não há a imposição legal para tal formação,
decorre simplesmente da vontade dos indivíduos pertencentes aos grupos.

Tomás Sala Franco e Ignacio Albiol Montesinos explicam que a


existência do pluralismo e da unidade em um mesmo regime de liberdade
sindical somente é possível com grande esforço. Tal fato é corroborado pela
Convenção n. 87 da OIT, que não recomenda nenhuma das figuras, apenas
discorre acerca da vontade e da liberdade de escolha.91

A unidade sindical é classificada em duas categorias: unidade orgânica


e unidade de ação. A primeira ocorre quando há um sindicato organizado e de
autoridade única. Esse unitarismo é manifestado mediante um procedimento legal

90
CARUSO, Bruno. Le relacione sindicali. Torino: G. Giappichelli Editore, 2004. p. 34-35.
91
FRANCO, Tomás Sala; MONTESINOS, Ignacio Albiol. Derecho sindical. Valentia: Tirant Lo
Blanch, 1994. p. 76.
96

ou imposto pela ordem estatal, neste caso, vai de encontro aos preceitos de
liberdade sindical plena, uma vez que o Poder Público poderá impor o sindicato
único, de filiação obrigatória.92

Esse método equivale à unicidade sindical brasileira, a qual a


legislação impõe a fixação de apenas um órgão representativo por classe
econômica ou profissional a dada extensão geográfica, correspondente no
mínimo a área de um município.

Ademais, há a unidade orgânica voluntária, alcançada por meio da


aquiescência de filiados e dos sindicatos. No entanto, a heterogeneidade da
classe obreira, decorrente da ausência de consciência sindical, assim como da
divisão de trabalho (manual, intelectual ou industrial) e da desigualdade no
tratamento entre os atores sociais (por exemplo, a desvalorização da mão de obra
feminina com relação à masculina) dificultam o processo unitário.93

A segunda categoria refere-se à unidade de ação, baseada na


colaboração entre os vários sindicatos organizados de forma independente, cuja
exteriorização ocorre por meio de um procedimento legal ou voluntário. No que
diz respeito à unidade de ação voluntária, ocorre a partir de acordos intersindicais.
Enquanto no âmbito da legalidade, trata-se do estabelecimento de instrumentos
estatais aptos a enfrentar o sistema pluralista. Contudo, isso poderá significar um
ataque à autonomia ou independência sindicais, porquanto manterá/fixará o
monopólio ou oligopólio de diversos sindicatos. Em decorrência disso, emerge
uma função dúbia: o apoio à implantação e desenvolvimento das entidades
sindicais ou a redução da liberdade de ação, por exemplo, na concessão de
privilégios a um sindicato em prejuízo de outro.94

Esses mecanismos têm por escopo a suavização da pluralidade


sindical, tornando-a disciplinada. Um dos meios em destaque é do “conceito de
sindicato mais representativo”, o qual importa na atuação de apenas um sindicato
(o mais representativo). Para tanto, há a fixação de requisitos legais para a

92
FRANCO, Tomás Sala; MONTESINOS, Ignacio Albiol, op. cit., p. 76.
93
Ibid.
94
Ibid., p. 77-78.
97

consagração da entidade, como o número de filiados, montante de contribuições


e antiguidade.95

Walküre Lopes Ribeiro da Silva informa as principais críticas da


doutrina com relação à aferição dos critérios de maior representatividade, como a
de que estaria mais no âmbito da presunção que no plano real. Diante disso,
ressalta-se a participação da jurisprudência “de que a maior representatividade
deve ser constatada no tempo, pois a entidade sindical pode preencher os
requisitos necessários em um dado período e deixar de atendê-los em outro”.96

No Brasil, o pluralismo pôde ser observado na Constituição de 1934:


“A lei assegurará a pluralidade sindical e a completa autonomia dos
sindicatos”. Entretanto, foi revogada pela Carta outorgada de 1937 durante o
golpe de Estado promovido por Getúlio Vargas.

Atualmente, a multiplicidade de organizações em uma mesma base


territorial somente é verificada quanto às associações civis, visto que não
possuem personalidade sindical e se limitam a defender os interesses dos seus
associados; ademais, não compartilham das prerrogativas dos sindicatos.

Desse modo, o sindicalismo brasileiro adota a unicidade como modelo


de organização, também conhecida sob a denominação de sindicato único. De
acordo com Arion Sayão Romita, a expressão comporta três classes: a primeira,
imposta pelos regimes corporativistas, como o da Itália de Mussolini e o Brasil
atual; a segunda, dos países formadores do bloco socialista (leste europeu); e a
terceira, composta pelos Estados cuja base é organizada por meio da unidade
espontânea e sem intervenção estatal, como o Reino Unido, a Austrália e a
Alemanha.97

Consoante Mauricio Godinho Delgado, a unicidade equivale à:

[...] previsão normativa obrigatória de existência de um único sindicato


representativo dos correspondentes obreiros, seja por empresa, seja por
profissão, seja por categoria profissional. Trata-se da definição legal
imperativa do tipo de sindicato passível de organização na sociedade,
vedando-se a existência de entidades sindicais concorrentes ou de

95
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2012), op. cit., p. 194
96
SILVA, Walküre Lopes Ribeiro da (2001), op. cit., p. 103-104.
97
ROMITA, Arion Sayão. Organização sindical. Revista Síntese Trabalhista. Porto Alegre, v. 15,
n. 171, p. 09-24, set. 2003. p. 12.
98

outros tipos sindicais. É, em síntese, o sistema de sindicato único, com


98
monopólio de representação sindical dos sujeitos trabalhistas.

O modelo de unidade obrigatória mostra-se inadequado às


modificações presentes nas relações de trabalho, especialmente com a inserção
de recursos tecnológicos que as tornam cada vez mais dinâmicas. Além disso,
outros atores sociais devem ser considerados na formação do sindicalismo,
como os aposentados e os desempregados. O sistema em comento está
conectado às práticas ultrapassadas do corporativismo italiano. Ademais, pode
se considerar como uma forma de antissindicalidade promovida pelo Estado,
afinal, não há liberdade de escolha, o indivíduo deve se contentar com as
entidades representativas existentes.

A Constituição Federal de 1988, no artigo 8º, inciso II, dispõe sobre a


livre associação profissional e sindical, mas limitada a representação por
categoria profissional ou econômica, em qualquer graduação, à base territorial
mínima, equivalente a área não inferior ao tamanho de um município.

Nesse sentido, o artigo 516 da Consolidação das Leis do Trabalho -


CLT reforça a unitarismo legal: “Não será reconhecido mais de um Sindicato
representativo da mesma categoria econômica ou profissional, ou profissão
liberal, em uma dada base territorial.”

A partir de tal normatização torna-se evidente o predomínio de uma


estrutura heterogênea, isto é, possui traços simultâneos de um regime de
liberdade (livre associação) e de características corporativistas (limitação
territorial). Essa herança intervencionista procede do sistema italiano de
Mussolini, especialmente de diplomas como a Carta del Lavoro (1927), fonte
de inspiração para a redação da CLT (1943). Para alguns, uma verdadeira
cópia do mencionado documento italiano, período em que os sindicatos eram
uma extensão ou se subordinavam ao poderio estatal.

No que diz respeito ao significado da expressão “base territorial”,


consiste no espaçamento geográfico segundo o qual as organizações sindicais
deverão respeitar para exercer o direito de fundação e, consequentemente o

98
DELGADO, Mauricio Godinho, op. cit., p. 1368.
99

direito de representação. Em decorrência dessa característica, o sistema nacional


não viabiliza a criação de entidades sindicais no âmbito das empresas.

A unicidade sindical é uma marca da atual estrutura constitucional


corporativa, que ocasiona a inoperatividade dos sindicatos, resumindo sua
existência a aspectos formais (não atuantes) e impedindo um sindicalismo
espontâneo, autêntico e representativo.99

Em 1966, J. M. Verdier já acentuava que “a unidade imposta não tem


a virtude de apagar os antagonismos ou as divergências ideológicas que
somente a unificação voluntária e livre pode permitir superar, como ocorre em
certos países”.100

C. A. Barata Silva externa seu posicionamento favorável ao pluralismo


comparando o sindicato único com um partido político único: “Se quiser
sindicalizar poderá fazê-lo, mas será neste ou naquele sindicato ou se quiser
participar da vida política, pode participar, mas será em tal partido”. A imposição
da sindicalização única não garante a unidade, pode, inclusive, elevar os níveis
de abstenção no cotidiano sindical, por sua vez, a pluralidade estimularia as
entidades sindicais a proporcionar diversas vantagens aos associados.101
Segundo Antônio Rodrigues de Freitas Júnior, a unicidade sindical
necessita ser analisada em um conjunto, pois a particularização remete a
incertezas, uma vez que a extinção do citado modelo organizacional por si só
não garante a renúncia ao corporativismo ou a mera inserção do sistema
pluralista seja capaz de assegurar a liberdade sindical de maneira efetiva.102
Compartilha-se o entendimento de que a unicidade sindical não seja o
melhor modelo de organização para o Brasil. Primeiramente, por causa da
supracitada mitigação da liberdade sindical; em segundo lugar, porque denota o
sucateamento do sistema das relações trabalhistas. Ademais, já não se admite a
falácia de que o monisto freia a expansão descontrolada de entidades sindicais,
99
MASSONI, Túlio de Oliveira. Sindicatos: criação e registro. In: SANTOS, Enoque Ribeiro dos;
SILVA, Otávio Pinto e. (Coord.) Temas controvertidos do direito coletivo do trabalho no cenário
nacional e internacional. São Paulo: LTr, 2006. p. 173.
100
VERDIER, J. M. Syndicats-traité du droit du travail, 1966 apud FERRARI, Irany. Unidade e
pluralidade sindicais. In: ROMITA, Arion Sayão (Coord.). Sindicalismo. São Paulo: LTr, 1986. p. 67.
101
Barata Silva, C. A. Liberdade sindical - unidade e pluralidade. In: TEIXEIRA FILHO, João de
Lima. Relações coletivas de Trabalho. Estudos em homenagem ao Ministro Arnaldo
Süssekind. São Paulo: LTr, 1989. p. 310-311.
102
FREITAS JÚNIOR, Antônio Rodrigues de. Sindicato: domesticação e ruptura. Um estudo de
representação sindical no direito brasileiro. São Paulo: Ordem dos Advogados do Brasil, 1989. p. 157.
100

notoriamente, atesta-se um crescimento vertiginoso de entes, especialmente em


decorrência do desmembramento de categorias. Por outro lado, não se defende
de forma utópica a pluralidade como a salvação de todos os problemas
enfrentados pelo sindicalismo brasileiro, cujas raízes são mais profundas, como o
descrédito do trabalhador ao movimento sindical.

2.2.6 Critério de agregação de trabalhadores e empregadores: categoria e


paralelismo sindical

O critério de agregação de trabalhadores e empregadores é o


instrumento manejado pelos sindicatos para o agrupamento dos seus
representados, mas esses mecanismos podem variar de acordo com regime
sindical organizativo adotado por cada país, consequentemente, afetará a
propagação do direito à liberdade sindical plena, tornando-o mitigado ou inócuo.
Uma entidade pode reunir os indivíduos que exerçam a mesma
atividade laboral. Essa ordenação é denominada sindicato por ofício ou profissão,
por exemplo, professores, músicos profissionais, aeronautas. No Brasil, esse
agrupamento é conhecido por categoria profissional diferenciada, cuja união dos
empregados ocorre em razão de estatuto profissional especial ou condição de
vida singular, consoante o art. 511, §3º da CLT, com o devido respeito à extensão
territorial exigida. Em decorrência de o liame existir por causa do ofício, não há a
criação de sindicatos diferenciados para os empregadores.

Há também a agregação no âmbito da empresa, e o vínculo surge


devido ao trabalho exercido para o mesmo empregador, seja em setores ou na
totalidade do empreendimento. Notavelmente, essa situação não se aplica ao
contexto brasileiro, visto que a legislação exige a área mínima de um município
para a fundação de uma organização sindical. No Brasil, o instituto que mais se
aproxima do sindicato por empresa é o da eleição de um representante no local
de trabalho para intermediar o entendimento com o empregador, conforme art. 11
da CF, contudo, no entanto, tal representação não possui atributos sindicais.
101

A agremiação sindical por empresa é verificada, principalmente, em


grandes empresas e recorrente em países como Itália e Estados Unidos. No
que diz respeito aos pequenos estabelecimentos empresariais, não utilizam o
instituto com frequência, porquanto poderão buscar outros métodos
simplificados, como as comissões ou seções sindicais. A principal
desvantagem dessa formação é a possibilidade de cooptação do sindicato pelo
empregador; por outro lado, há a vantagem de facilitar a comunicação entre
entidade sindical e os seus representados.103

No âmbito brasileiro, a herança do corporativismo italiano do século XX


não se restringe à unicidade, estão presentes outras particularidades, como a
agregação dos trabalhadores nos sindicatos por meio de categorias.

Consoante Octávio Bueno Magano, “categoria é o conjunto de pessoas


que, ligadas pela solidariedade resultante da identidade de condições de vida,
perseguem interesses profissionais comuns”.104

Para Arion Sayão Romita, a categoria é “determinada pelos modos de


exteriorização da autonomia coletiva, principalmente mercê da negociação. A
noção sociológica de categoria expressa-se como coletividade caracterizada pelo
conjunto dos destinatários de determinada organização”.105

O art. 577, da CLT, apresenta o quadro oficial das categorias que não é
mais revisto e atualizado, já que a formação da categoria não mais advém do
alvitre do Estado. Trata-se de prerrogativa atribuída aos sindicatos, por isso, a
denominação anterior categorias a priori foi substituída por categorias a posteriori.
“Antes a categoria precedia ao sindicato e agora o sindicato precede ou nasce
com a categoria. Foi a nossa maior mudança”.106

Segundo o art. 511, § 1º e 2º da CLT, as categorias dividem-se em:


econômica, que consiste na “solidariedade de interesses econômicos dos que
empreendem atividades idênticas, similares ou conexas, constitui o vínculo
social básico”, e profissional, formada a partir da “similitude de condições de
vida oriunda da profissão ou trabalho em comum, em situação de emprego na

103
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2012), op. cit., p. 211-212.
104
MAGANO, Octavio Bueno. Direito coletivo do trabalho. 3.ed. São Paulo: LTr, 1993. v. 3. p. 106.
105
ROMITA, Arion Sayão (2003), op. cit., p. 14.
106
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Problemas que dificultam a reforma sindical. LTr: revista
legislação do trabalho. São Paulo, v.71, n.6, p.647-53, jun. 2007. p. 653.
102

mesma atividade econômica ou em atividades econômicas similares ou


conexas”. À vista disso, constata-se o que Octávio Bueno Magano denominou
“paralelismo simétrico”. 107

Assim, a formação da representação da classe trabalhadora, em regra,


é dependente da atividade econômica preponderante do empregador, já que para
cada categoria econômica existente, haverá uma respectiva categoria
profissional. Essa metodologia é extremamente prejudicial ao exercício da
liberdade sindical, em razão da impossibilidade da união espontânea de
trabalhadores, como a que tem origem na identidade de profissões.

O paralelismo sindical não impede, desde que respeitada a


territorialidade mínima, o desmembramento de uma categoria, seja profissional ou
econômica. Geralmente, isso ocorre a partir de entidades sindicais de grande
extensão representativa, como a fragmentação de uma organização de amplitude
estadual em um ou mais sindicatos de domínio municipal.

A indivisibilidade da categoria trata-se de um princípio, enquanto a


divisibilidade um fato. Dessa maneira, a primeira assertiva correlaciona-se ao
plano teórico ou abstrato, ou melhor, à unidade absoluta da categoria; à medida
que a divisão está concatenada ao direito de livre sindicalização (não restrito ao
ingresso ou abstenção da prática sindical). Além disso, a categoria é constituída
por interesses coletivos e individuais, bem como de atores sociais (o empregado e
o empregador) concebidos na sua singularidade, com ideias discrepantes e, por
vezes, conflituosas, consequentemente, levando à partição.108

O fracionamento dos sindicatos de abrangência intermunicipal é


justificado, outrossim, pelo intuito de preservar a homogeneidade do grupo.
Destarte, criam uma entidade em cada um dos municípios pertencentes à base
original, cuja atuação, em determinados casos, fica a cargo de “órgãos
fantasmas”, resultando em ineficiência.109

A fragmentação ocasionou o aumento desenfreado do número de


sindicatos, mesmo obedecendo ao modelo de organizacional de unicidade.

107
MAGANO, Octavio Bueno (1993), op. cit., p.109.
108
RUSSOMANO, Mozart Victor, op. cit., p. 82-83.
109
MEIRELLES, Davi Furtado. Liberdade sindical: o modelo ideal. LTr: Revista Legislação do
Trabalho. São Paulo, v.74, n.5, p.542-52, maio. 2010. p. 544.
103

Segundo os dados coletados pelo Ministério do Trabalho e Emprego110, em


2014, o Brasil atingiu o número de 15.520 sindicatos ativos, desse total:
10.539 sindicatos de trabalhadores e 4.981 sindicatos de empregadores,
assim como 5 centrais sindicais. Tais números mostram-se paradoxais
quando comparados a países que adotam o modelo de unidade, como a
Alemanha, sua estrutura é composta de apenas 16 sindicatos e uma central
sindical, a DGB.

Desse modo, resta evidente o aspecto retrocessivo da unicidade e da


agregação por categorias, uma vez que não cumprem nem mesmo o papel
principal para o qual foram adotados, qual seja: a limitação do número de
entidades.

O enquadramento legal estatal por categorias, auferido da Itália, foi


abandonado por lá desde a sua redemocratização. Mas, no território brasileiro,
o modo pelo qual foi concebido, oportunizou sua subsistência, mesmo após
modificações políticas e econômicas ocorridas pelo país. “Mais que uma opção
política, o conceito de categoria passou a ser considerado um critério
ontológico de organização sindical.” Tal constatação evidencia-se imprecisa, já
que o nascimento dos sindicatos não decorre da formação da categoria, e sim
o oposto.111

110
MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGADO, 2014. Disponível em: <http://
www.mte.gov.br>.
111
SANTOS, Ronaldo Lima dos (2012), op. cit., p. 219.
104

CAPÍTULO 3 REFORMA SINDICAL BRASILEIRA E OS PRINCÍPIOS


DE LIBERDADE SINDICAL

3.1 Reforma sindical brasileira: imperiosidade

Na última década, tem ressoado o discurso imponente de que o


ordenamento brasileiro carece de modificação em diversos setores, comumente
argúi-se a revisão do sistema político e tributário, assim como uma reforma
sindical completa do antigo regime. Mas, visivelmente, os esforços de mudança
esbarram em obstáculos diversificados, como a inércia do legislador e o
desinteresse de grupos acomodados e satisfeitos com o modelo vigente. Ante a
temática em desenvolvimento, cumpre tecer comentários exclusivamente sobre
as transformações ambicionadas ao sindicalismo.

O modelo sindical brasileiro atual, com mínimas modificações desde a


sua criação, notoriamente, não se adéqua ao cotidiano laboral contemporâneo.
Antônio Rodrigues de Freitas Junior aponta dois fatores à continuidade desse
sistema díspar:

[...] dispersão das forças políticas desejosas de sua superação


(imersas em diferenças doutrinárias e duvidosamente motivadas em
abraçar processos de mudança de resultado incerto), e coesão
daquelas que se alimentam do sistema sindical vigente (marcadamente
pragmáticas e altamente motivadas para a defesa da manutenção dos
1
privilégios e prerrogativas em que se sustentam.

Nesse sentido, Arion Sayão Romita recorreu ao mecanismo de


parábolas para explicar a permanência (conservadorismo) das condições
sindicais brasileiras. Inicialmente, reproduziu notícia acerca da Conferência
Estadual do Trabalho realizada no Rio de Janeiro em 2003, formada por
integrantes de diversas categorias, especialmente representantes do Ministério
1
FREITAS JÚNIOR, Antônio Rodrigues. A negociação coletiva do trabalho e o projeto de reforma
sindical de 2005. Revista do Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social,
São Paulo, v.1, n.1, p.9-14, jan./jun. 2006. p. 11.
105

Público, empregados e empregadores. O encontro resultou no entendimento de


que a conjuntura deveria permanecer intacta, ou seja, preservando-se a unicidade
sindical e a contribuição sindical obrigatória, por exemplo.2

Em seguida, o autor apresentou uma alegoria, segundo a qual o senhor


Pi Ti Liu detinha a posse de um bananal que não lhe auferia lucratividade, mas
também não demandava trabalho. Incentivado por seu amigo pernambucano
Severino, resolvera transformar o bananal em canavial. Para tanto, necessitaria
consultar os primatas que ali residiam há mais de seis décadas. Depois de
realizada a votação entre os símios, obteve-se o seguinte resultado: quatro votos
favoráveis à mudança, visto que se tratava de macacos que não gostavam de
bananas; e, dez mil votos contrários à proposta.3

Assim, a decisão majoritária foi acatada pelo proprietário, a qual resulta


em três morais:

Primeira moral da história: Quem deseja transformar bananal em


canavial não deve consultar macacos. Segunda moral da história: O
proprietário do bananal não desejava de verdade transformá-lo em
canavial. Terceira moral da história: Com bananal que produz boas
4
bananas para os macacos, não se deve mexer.

A “árvore sindical” nacional é cultivada desde o Estado Novo e


permanece em vigor. Paralelamente, o histórico constitucional mostrou-se
incipiente com relação ao assunto, mesmo com os avanços da Constituição
Federal de 1988. O cenário é marcado pela incoerência, tendo em vista a adoção
concomitante de detalhes progressistas e conservadores, como a aplicação do
princípio da liberdade sindical e, de forma oposta, a imposição da unicidade e o
enquadramento por categorias. Mas, “uma coisa não pode ser e não ser ao
mesmo tempo”.5

Enquanto no Brasil de 1943, compilava-se a Consolidação das Leis do


Trabalho, espelhada na Carta del Lavoro; na Itália, remodelava-se o

2
ROMITA, Arion Sayão. Parábola do bananal sindical brasileiro. Revista da Academia Nacional
de Direito do Trabalho. São Paulo, v.12, n.12, p.57-8, 2004. p. 57.
3
Ibid., p. 57-58.
4
Ibid., p. 58.
5
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Problemas que dificultam a reforma sindical. LTr: revista
legislação do trabalho. São Paulo, v.71, n.6, p.647-53, jun. 2007. p. 647-648
106

aparelhamento sindical; concedendo, por exemplo, a condição de entes de direito


privado às organizações sindicais, o que resultou, especialmente em: liberdade de
criação de entidades em todos os níveis, fim da agregação por categorias,
existência simultânea de sindicatos de fato e outros dotados de personalidade
jurídica, contratação coletiva articulada entre Confederações e sindicatos, assim
como a punição de atos antissindicais.6

Inicialmente, o ordenamento italiano optou pela organização sindical


com representatividade auferida pelas Confederações, com o intento de evitar a
propagação desenfreada de entes de base, o que se evidenciou ineficiente à
conjuntura. Por isso, em 1995, mediante um referendo destitui-se a mencionada
prerrogativa das entidades de cúpula e a conferiu aos sindicatos.7

A construção de um “novo modelo sindical” não é diminuta à revisão


dos excertos reacionários da estrutura existente, incumbe a implementação
concomitantemente de garantias jurídicas à efetivação, organização e
fortalecimento dos sindicatos. Desse modo, buscou-se a promoção concreta
dos princípios da livre associação e da autonomia sindical.8

José Pastore afirma que a durabilidade de um sistema incute-se na


adequação dos pactos presentes e vindouros, principalmente devido ao seu
caráter de transitoriedade no “mundo do emprego” e no “mundo do trabalho”;
assim, demandam-se ações que acolham os novos vínculos, diversamente do
protecionismo predominante de relações subordinadas. Culturalmente, muitos
optam pela exclusiva proteção legal e rechaçam a negociação.9

O trabalhador não deve ser eleito o responsável pela valorização da


legislação em detrimento da negociação coletiva, essa característica descende da
própria cultura sindical implantada por décadas, segundo a qual, muitos sindicatos
sem expressividade logram pactos também inexpressivos, dialogando apenas
condições mínimas já previstas no ordenamento. A elevação da negociação deve
ser observada cautelosamente para que não incorra no desejo empresarial de
flexibilizar as normas trabalhistas e, consequentemente, induzir à precarização

6
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2007), op. cit., p. 648.
7
Ibid., p. 649.
8
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 12.ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 1402.
9
PASTORE, José. Reforma sindical: para onde o Brasil quer ir? São Paulo: LTr, 2003. p. 12.
107

das relações laborais. Ademais, deve-se negociar para melhorar e ampliar, e não
para diminuir vantagens e condições.

Edésio Passos destaca a organização do movimento sindical brasileiro,


mas indica alguns fatores que expõem deficiências estruturais dos agrupamentos
de trabalhadores, quais sejam: ausência de entidades sindicais no âmbito da
empresa, carência de planejamento estratégico acerca das pretensões de toda a
classe representada, reduzido nível de associação em determinados campos,
fragmentação corporativa, escassez de recursos financeiros de muitos entes.10

Márcio Túlio Viana realça um sindicato brasileiro frágil, sobretudo em


decorrência do comando legal regulador e igualmente repressor. Corroborando
com a assertiva, menciona outros fatos perquiridos pela Associação Nacional dos
Magistrados da Justiça do Trabalho - ANAMATRA, quais sejam: a ausência de
combate efetivo às condutas antissindicais, inexistência de representação sindical
nos locais de trabalho, o espaçamento entre as entidades de bases e as de
cúpula, o impedimento de contratos coletivos de maior amplitude, a manutenção
da contribuição sindical forçada em ambientes marcados pela baixa
representatividade.11

Nesse ínterim, o autor questiona: “como o próprio sindicato está se


vendo?”. O sindicalismo creditava as atuais circunstâncias negativas
exclusivamente ao incansável e repetido discurso do legado corporativista da Era
Vargas, exteriorizado por: unicidade sindical, “imposto” sindical, poder normativo,
enquadramento por categorias. Contudo, sob novas perspectivas, tal
entendimento foi reformulado e a maioria das organizações percebeu que “a
principal razão da fragilidade do movimento sindical não é a herança de Vargas,
mas a nova forma de acumulação capitalista. É a estrutura, bem mais do que a
circunstância”.12

Gilnei M. Teixeira ressalta a imperiosidade de haver reciprocidade


entre o sistema brasileiro de relações de trabalho e os novos contornos da
economia, sociedade e tecnologia, “configuradoras de um novo mundo do

10
PASSOS, Edésio. Reflexões e propostas sobre a reforma trabalhista e sindical. LTr: revista
legislação do trabalho. São Paulo, v.67, n.5, p.519-35, maio. 2003. p. 532.
11
VIANA, Márcio Túlio. A reforma sindical, entre o consenso e o dissenso. Revista do Tribunal
Superior do Trabalho, Brasília, vol. 70, n. 2, p. 52-71, jul./dez. 2004. p. 54.
12
Ibid., p. 56.
108

trabalho. Ao lado disto, é imperativa e urgente a mudança da cultura


corporativista desse sistema, pela influência que exerce sobre o comportamento
dos atores sociais”.13

Altamiro Borges explica que o sindicalismo foi proibido durante a


ditadura militar, já “o neoliberalismo procurou quebrar sua espinha dorsal; e as
novas técnicas gerenciais tentam torná-lo supérfluo”. Por isso, o avanço da
organização sindical brasileira depende da atuação planejada em algumas
matérias. Inicialmente, vislumbra-se a necessidade de politizar a classe, pois as
disputas econômicas e corporativas de caráter imediatista não se mostram
suficientes à aquisição prolongada de direitos, pois “sem um sindicalismo
protagonista da luta política não haverá as urgentes mudanças estruturais”. Em
seguida, propugna-se a reorganização sindical de base nos ambientes laborais, o
que é altamente combatido pelos empregadores.14

A terceira medida apontada refere-se à renovação da formação


sindical, pois houve o envelhecimento das diretorias, em contraponto há o
surgimento de novas relações de trabalho e o ingresso constante do jovem no
mercado. Posteriormente, intenta-se a ação intersindical por meio da união da
classe ante a fragmentação recorrente das entidades representativas de
empregados. Por fim, almeja-se a ação de movimentos sociais em prol da
inserção de outros entes (informais e desempregados, por exemplo) à
contemporânea classe de trabalhadores caracterizada pela complexidade e
pulverização.15

Em decorrência da disseminação de regimes democráticos na


América Latina, assim como da ratificação das Convenções 87 e 98 da OIT,
tem ocorrido um processo de reformulação das legislações acerca da liberdade
sindical. Porém, a temática possui queixas recorrentes perante o Comitê de
Liberdade Sindical do citado órgão internacional.16

No magistério de Enoque Ribeiro dos Santos, há imperiosidade de uma


reforma sindical convergente à eminência da revitalização do sindicalismo, assim
13
TEIXEIRA, Gilnei M. Liberdade sindical no Brasil: uma visão estratégica. In: OIT. Reforma
sindical e negociação coletiva. Brasília, DF: OIT, 2001. p. 55.
14
BORGES, Altamiro. Encruzilhadas do sindicalismo. São Paulo: Anita Garibaldi, 2005. p. 42.
15
Ibid., p. 43-44.
16
VEGA RUIZ, María Luz. Reforma laboral en América Latina. Educación Obrera. Genebra,
n.143/144, p.87-95, 2006. p. 92.
109

como a valorização da negociação coletiva pelo Estado em um ambiente


pluralista propício e sem o engessamento (regulamentação) da atuação sindical.17

O enfatizado desejo por uma reforma não pode ocasionar a propositura


de equívocos, como a exacerbada crítica ao modelo vigente, tampouco a aclamação
desmedida e impensada à ratificação da Convenção n. 87 da OIT, como especial
antídoto aos problemas de ordem estrutural. Para tanto, Altamiro Borges recorda o
entusiasmo do ex-presidente Lula com o pluralismo disposto no aludido diploma
internacional, comparando a CLT (legislação sindical) a um “AI-5 dos trabalhadores”.
No entanto, deve-se cuidar para que o pluralismo não incuta na formação de
“sindicatos-casa”, isto é, à disposição dos interesses da classe empregadora.18

Evidentemente, o Brasil necessita olvidar muitas das características


tradicionais que envolvem o sindicalismo hodierno, entretanto, o mero transporte
de modelos prontos e implantados em outros países não representa a decisão
mais prudente, conquanto sejam experiências de êxito invejável. Há que se
priorizar a realidade nacional, almejando a reconstrução de organizações
sindicais fortemente representativas e imbuídas de melhorar o sistema protetivo
trabalhista.

3.1.1 Proposta de Emenda Constitucional n. 369/05

Em vista de ratificar o anseio por uma mudança no cenário sindical,


está em tramitação no Congresso Nacional a Proposta de Emenda Constitucional
(PEC) n. 369/05 e, em anexo, segue o Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais
com 238 artigos. Tais proposições surgiram em derivação às numerosas
negociações entre diversos setores da sociedade, as quais, inicialmente,
ocorreram em meados de 2003 durante o Fórum Nacional do Trabalho (FNT).
O citado espaço de diálogo de formação tripartite reuniu representantes
dos trabalhadores, empregadores e do Governo; no que diz respeito às entidades
17
SANTOS, Enoque Ribeiro dos. Reforma sindical e emenda constitucional n. 45/2004: fontes
formais de sustentação do novo modelo sindical. In: SANTOS, Enoque Ribeiro dos; SILVA,
Otávio Pinto e. (Coords.) Temas controvertidos do direito coletivo do trabalho no cenário
nacional e internacional. São Paulo: LTr, 2006. p. 48-49.
18
BORGES, Altamiro, op. cit., p. 83, 86, 162.
110

sindicais, credenciaram-se apenas as instituições de caráter nacional. O FNT foi


instituído pelo Governo Federal mediante o Decreto n. 4.796 de 30 de julho de
2003 e se incumbiu de atualizar e reformular a legislação sindical e trabalhista,
assim como as organizações reguladoras do trabalho, adequando-as à
efetividade econômica, política e social do país, conforme dispõe o seu
Regimento Interno.

O texto da PEC e do anteprojeto desenhado pelas mencionadas


classes surgiu a partir de perspectivas diametralmente opostas. Enquanto as
centrais e o governo defenderam apenas a revisão inicial da estrutura coletiva,
os empregadores (representantes) advogaram a favor da reforma trabalhista
mediante a flexibilização de direitos, tal como pela redução do número de
dirigentes estáveis e críticas à existência de entidades sindicais no local de
trabalho.19

A PEC n. 369/2005 visa a alterar a redação dos artigos 8º, 11, 37 e 114
da Constituição Federal de 1988. No que concerne ao art. 8º, se promulgada a
proposta de emenda, passará a contar com nove incisos e um parágrafo único, os
quais serão devidamente cotejados ao modelo vigente.

As modificações iniciam-se pelo caput com exaltação à liberdade


sindical; apesar disso, o redator colocou a expressão “observando o seguinte”. Tal
frase transparece a ideia de restrição ou de contradição, pois afirma estabelecer
um regime livre e simultaneamente emprega a ponderação. Em sentido oposto,
ressalta-se a Constituição italiana, a qual se resume a dispor que a “organização
sindical é livre”, assim como o diploma constitucional português, o qual prescreve:
“É reconhecida aos trabalhadores a liberdade sindical, condição e garantia da
construção da sua unidade para defesa dos seus direitos e interesses”.20

19
BORGES, Altamiro, op. cit., p. 86-87.
20
Nova redação com a reforma sindical: Art. 8°. É assegurada a liberdade sindical, observado o
seguinte:
I - o Estado não poderá exigir autorização para fundação de entidade sindical, ressalvado o registro no
órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção nas entidades sindicais; II
- o Estado atribuirá personalidade sindical às entidades que, na forma da lei, atenderem a requisitos de
representatividade, de participação democrática dos representados e de agregação que assegurem a
compatibilidade de representação em todos os níveis e âmbitos da negociação coletiva; III - às
entidades sindicais cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais do âmbito da
representação, inclusive em questões judiciais e administrativas; IV - a lei estabelecerá o limite da
contribuição em favor das entidades sindicais que será custeada por todos os abrangidos pela
negociação coletiva, cabendo à assembléia geral fixar seu percentual, cujo desconto, em se tratando de
111

Para José Pastore, ainda se opta pela proteção legal em detrimento


da normatização coletiva entre as partes. Assim, “o sistema atual, altamente
regulamentado por lei, dificilmente será abandonado. O mais provável é que
ele venha a ser substituído por outro sistema igualmente regulado por lei”.21 A
regulamentação inflexível é salutar sob a ótica individual, pois é sabido que o
trabalhador não possui condições equivalentes para se sobrepor à voracidade
do capital; por outro lado, a norma jurídica voltada aos agrupamentos não deve
possuir especificidades capazes de “engessar” as organizações sindicais.

No inciso I da nova redação do art. 8º, observa-se a substituição do


verbete “lei” por “Estado”, assim a proibição de se interferir na fundação de um
organismo sindical não está restrita à legislação ordinária, mas a quaisquer atos
concretos emanados do Poder Público com o objetivo de obstar. Também há a
supressão do termo “sindicato” por “entidade sindical”; nesse caso, pretende-se
ampliar a circunscrição sindical, pois no texto hoje em vigor, subentende-se tratar
apenas do ente de base, ainda que na prática refira-se às organizações de nível
superior.

Quanto ao inciso II, nota-se a extinção da unicidade sindical.


Atualmente, o monopólio de representação tem causado o “desencanto dos
trabalhadores”, uma vez que os atores sociais, de modo geral, não estão
conectados ao movimento sindical. Por isso, a mudança normativa decorrente
da reforma sindical demanda o estabelecimento cultural de um relacionamento
efetivo do empregado com a respectiva organização representativa, isto é,
visando a emendar as deficiências de representação. Desse modo, evitar-se-á,
por exemplo, o saneamento tardio de vícios contratuais pela Justiça do Trabalho

entidade sindical de trabalhadores, será efetivado em folha de pagamento; V - a contribuição


associativa dos filiados à entidade sindical será descontada em folha de pagamento; VI - ninguém será
obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato; VII - é obrigatória a participação das entidades
sindicais na negociação coletiva; VIII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas
organizações sindicais; e IX - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da
candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano
após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei. Parágrafo único. As
disposições deste artigo aplicam-se à organização de entidades sindicais rurais e de colônias de
pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.
21
PASTORE, José, op. cit., p. 54.
112

somente ao fim do vínculo empregatício ou a criação de um modelo pluralista


repleto de novas entidades sem legitimidade.22

O aludido dispositivo também estabelece a atribuição de personalidade


sindical às entidades que atendam aos requisitos de representatividade.

Concernente ao inciso III, o novo texto altera “sindicato” para


“entidades sindicais”. Ademais, reforça “a defesa dos direitos e interesses
coletivos ou individuais”, bem como a atuação em matérias judiciais e
administrativas para todo o âmbito da representação e exclui o enquadramento
por categorias.

A composição dos sindicatos não deve emanar do imperativo estatal;


desse modo, não cumpre ao Estado a aferição de critérios de associação, como
sucede atualmente com a formação de categorias. Otávio Pinto e Silva explica
que não há impedimentos para a continuidade de agrupamento consoante
condições símiles de vida ou das atividades laborais desenvolvidas, desde que
essa decisão advenha do entendimento da classe de trabalhadores. No tocante
aos empregadores, assevera a mesma liberdade de composição, mas decorrente
da reciprocidade de interesses econômicos.23

No item IV, há a modificação do sistema de custeio das entidades


sindicais, a qual exclui a contribuição sindical obrigatória e, consequentemente
outras cobranças sindicais. Em substituição a essas receitas, implanta-se a
contribuição negocial, financiada por todos os beneficiados da negociação
coletiva (independente de filiação). Prevê também a contribuição associativa,
destinada apenas aos associados, cujo desconto ocorrerá em folha de
pagamento, de acordo com o inciso V.

Em relação ao inciso VI, (atual inciso V) não há modificações,


preceitua a liberdade sindical individual positiva e negativa, isto é, o direito de
filiação e desfiliação. No tocante ao item VII (hoje, inciso VI), mantém a
obrigatoriedade da participação das “entidades sindicais” e não apenas
“sindicatos” às negociações coletivas.

22
HINZ, Henrique Macedo. Mais um olhar sobre a reforma sindical. LTR: Legislação do
Trabalho. Suplemento Trabalhista, São Paulo, v.42, n.39, p.177-81, 2006. p. 180-181.
23
SILVA, Otávio Pinto e. O Brasil precisa de uma reforma sindical? In: SANTOS, Enoque Ribeiro
dos; SILVA, Otávio Pinto e. (Coords). Temas controvertidos do direito coletivo do trabalho
no cenário nacional e internacional, São Paulo: LTr, 2006. p. 11.
113

O aposentado filiado permanece com o direito de sufrágio nas


organizações sindicais, garantia prevista no novo inciso VIII (atualmente, item
VII). Por fim, o inciso IX (no presente, inciso VIII) e o parágrafo único
permanecem com idêntica semântica, exceto pela substituição da expressão
“sindicatos” por “entidades sindicais”, garantindo a estabilidade sindical aos
ocupantes de cargo de direção ou representação e a reciprocidade de
aplicação dos dispositivos às organizações rurais e colônias de pescadores,
respectivamente.

A PEC n. 369/05, se aprovada, revogará o art. 11 que cuida da


eleição de um representante nas empresas com mais de duzentos empregados
e estabelecerá a representação dos trabalhadores no local de trabalho. No que
diz respeito ao art. 37, a reforma visa à supressão da “negociação coletiva”
prevista no inciso VII, mantendo somente o direito de greve ao serviço público.

A proposta é encerrada com a modificação de alguns dispositivos do


art. 114 da Carta Magna no que tange à competência da Justiça do Trabalho
para julgar e processar, especialmente acerca do ajuizamento do dissídio
coletivo, diminuindo-lhe sua aplicabilidade e nomenclatura.24 No que diz
respeito ao Anteprojeto de Relações Sindicais, analisaram-se suas principais
contribuições ao sindicalismo brasileiro, como a estrutura sindical e seus
principais elementos, as novas fontes de custeio das entidades sindicais, assim
como a representação dos trabalhadores no local de trabalho.

3.2 Especificidades da estrutura sindical no projeto de reforma sindical

De acordo com Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais, a formação


inicial das entidades dependerá da aquisição de personalidade sindical para o

24
Art. 114. [...]
III - as ações sobre representação sindical, entre entidades sindicais, entre entidades sindicais e
trabalhadores, e entre entidades sindicais e empregadores; [...] § 2° Recusando-se qualquer das
partes à arbitragem voluntária, faculta-se a elas, de comum acordo, na forma da lei, ajuizar ação
normativa, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas
legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. § 3° Em caso de greve
em atividade essencial, o Ministério Público do Trabalho tem legitimidade para ajuizamento de ação
coletiva quando não forem assegurados os serviços mínimos à comunidade ou assim exigir o
interesse público ou a defesa da ordem jurídica.
114

exercício das suas prerrogativas.25 Para tanto, será necessário o registro dos
respectivos atos constitutivos e dos estatutos da organização junto ao Registro
Civil de Pessoas Jurídicas, bem como o reconhecimento de representatividade.
A representatividade será comprovada ou derivada. Na primeira, a
organização sindical deverá atender critérios objetivos, os quais serão obtidos
por meio da taxa de sindicalização, distribuição territorial e a presença no
setor26 ou ramo de atividade econômica. Já a representatividade derivada,
decorrerá da transferência de representação devidamente comprovada das
centrais, federações ou confederações aos sindicatos de base. Assim,
preenchidos os requisitos, a personalidade sindical será conferida pelo Ministro
do Trabalho e Emprego.

A análise da “representatividade derivada” permite supor que se trata


de um método artificial de transferência de representatividade, pois a verdadeira
filiação ocorre em relação à entidade de cúpula. Mas, o Ministério do Trabalho e
Emprego contestou tal entendimento, segundo cartilha27 elaborada pelo órgão do
Poder Executivo, o processo derivado é utilizado em outros ordenamentos, cujas
organizações superiores definem sua base e estrutura de acordo com o ramo ou
setor de atividade econômica, possibilitando a estruturação conforme julguem
mais satisfatório.

Por consequência, o projeto estabelece a representação das


organizações sindicais dos trabalhadores em âmbito nacional, interestadual,
estadual, intermunicipal e municipal por meio das centrais sindicais,

25
O Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais lista as seguintes prerrogativas aos entes sindicais: I
- representar os interesses do respectivo âmbito de representação perante as autoridades
administrativas e judiciárias; II - propor e participar de negociação coletiva; III - celebrar contratos
coletivos de trabalho; IV - atuar em juízo como legitimado ordinário ou extraordinário; V -
estabelecer contribuições de negociação coletiva.
26
Os setores econômicos e os ramos de atividade são os critérios de agregação que substituem
o sistema atual de categorias. Eles serão determinados por ato do Ministro do Trabalho e
Emprego por meio de proposta do Conselho Nacional de Relações de Trabalho (CNRT). Tal
órgão de formação tripartite constitui-se de uma Câmara Tripartite e duas Câmaras Bipartites,
imbuídas, por exemplo: na determinação dos mencionados setores e ramos, assim como na
aprovação do procedimento de recolhimento e da prestação de contas dos valores da
contribuição de negociação coletiva.
27
FÓRUM NACIONAL DO TRABALHO. Espaço de diálogo e negociação. Reforma sindical:
perguntas e respostas. 2.ed. rev. e atual. Brasília: Ministério do trabalho e emprego, 2005. Questão n.
52. p. 21.
115

confederações, federações e sindicatos, desde que atendidos os requisitos


impostos legalmente para o reconhecimento da representatividade.28

A central sindical será formada em âmbito nacional a partir de


sindicatos pertencentes a qualquer setor econômico ou ramo de atividade,
podendo criar confederação, federação e sindicato. Por outro lado, a
confederação não filiada a nenhuma central sindical, constituir-se-á em amplitude
nacional a partir de sindicatos pertencentes à idêntica área econômica, inclusive
admitindo a constituição de outras entidades de grau inferior; o mesmo se dará
com a federação não atrelada à central, observada a abrangência estadual e o
ramo de atividade. Já os sindicatos seguirão o ramo de atividade predominante
das empresas em área não inferior a um município.

Desse modo, a reforma impulsiona à centralização do sindicalismo


nos órgãos de cúpula, no caso da classe trabalhadora serão as centrais
sindicais, inclusive, porque muitos sindicatos de base sobreviverão de forma
exclusiva em razão da “representatividade derivada”. A centralidade pode ser
analisada positivamente quando se observa a expressividade das centrais em

28
As centrais sindicais obedecerão a três requisitos, quais sejam: I - filiação de sindicatos com
representatividade comprovada em pelo menos 18 (dezoito) unidades da Federação, distribuídas
nas 5 (cinco) regiões do país; II - filiação de sindicatos com representatividade comprovada em
pelo menos 9 (nove) unidades da Federação, com índice de filiação igual ou superior a 15%
(quinze por cento) do total de trabalhadores em cada uma delas; III - filiação de trabalhadores
aos sindicatos filiados à central sindical em número igual ou superior a 22% (vinte e dois por
cento) do total de trabalhadores nos respectivos âmbitos de representação; IV - filiação de
trabalhadores aos sindicatos filiados à central sindical, em pelo menos 7 (sete) setores
econômicos, em número igual ou superior a 15% (quinze por cento) do total de trabalhadores em
cada um desses setores em âmbito nacional. Já as confederações atenderão aos seguintes
critérios: I - filiação de sindicatos com representatividade comprovada em pelo menos 18
(dezoito) unidades da Federação, distribuídas nas 5 (cinco) regiões do país; II - filiação de
sindicatos com representatividade comprovada em pelo menos 9 (nove) unidades da Federação,
com índice de filiação igual ou superior a 15% (quinze por cento) do total de trabalhadores no
respectivo âmbito de representação em cada uma dessas unidades federativas; III - filiação de
trabalhadores aos sindicatos filiados à confederação em número igual ou superior a 22% (vinte e
dois por cento) do total de trabalhadores nos respectivos âmbitos de representação. Enquanto as
federações observarão as condições de: I - filiação de trabalhadores aos sindicatos filiados à
federação em número igual ou superior a 22% (vinte e dois por cento) do total de trabalhadores
nos respectivos âmbitos de representação desses sindicatos; II - filiação de trabalhadores aos
sindicatos filiados à federação em número igual ou superior a 15% (quinze por cento) do total de
trabalhadores no âmbito de representação da federação. Por fim, os sindicatos obterão
representatividade mediante vinculação a central sindical, ou a confederação, ou a federação ou
mediante a filiação de número igual ou superior a 20% (vinte por cento) dos trabalhadores do
âmbito de representação.
116

relação à politização das reivindicações; de outro modo, negativamente, quando


incorrer no risco de ensejar o “peleguismo de cúpula”.29

As transformações no âmbito sindical não devem dizimar a atuação


dos sindicatos em prol à valorização das centrais sindicais, estas devem
coexistir com as confederações em nível superior. Todavia, há que se delimitar o
plano de ação de cada uma das mencionadas instituições, isto é, a
confederação atrelada à categoria, enquanto a central ao caráter de “supra
categorias” e de dar suporte aos entes débeis, sem olvidar a imprescindibilidade
do sindicato às reais necessidades dos trabalhadores.30

Referente à constituição das entidades sindicais patronais, segundo o


Anteprojeto, possuirão o mesmo âmbito de atuação das organizações defensoras
da classe trabalhadora, exceto pelo diferencial de não contemplarem a central
sindical de empregadores. A cúpula confederativa será formada pelas federações
estaduais/interestaduais e pelos sindicatos do mesmo setor econômico.

A federação não vinculada ao sistema confederativo, formar-se-á por


meio da filiação ou correlação de sindicatos do mesmo ramo ou setor econômico, e
ainda, podendo formar sindicatos junto a sua estrutura. Tal independência também
será conferida aos sindicatos; dessa forma, eles obedecerão ao critério do setor
econômico ou ramo de atividade preponderante das empresas, respeitado o
território mínimo de um município. Além disso, as entidades sindicais de
empregadores obrigar-se-ão a respeitar os critérios31 específicos de
representatividade.

29
VIANA, Márcio Túlio (2004), op. cit., p. 66.
30
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2007), op. cit., p. 652-653.
31
As confederações deverão obedecer aos seguintes requisitos: Art. 20 [...] I - filiação de
sindicatos, com representatividade comprovada, em pelo menos 18 (dezoito) unidades da
Federação, distribuídas nas 5 (cinco) regiões do país; II - filiação de sindicatos, com
representatividade comprovada, em pelo menos 12 (doze) unidades da Federação, com índice
de filiação igual ou superior a 20% (vinte por cento) da soma das empresas ou unidades
econômicas correspondentes aos âmbitos de representação desses sindicatos; III - filiação de
sindicatos, com representatividade comprovada, em pelo menos 18 (dezoito) unidades da
Federação, nas quais a soma do capital social das empresas ou unidades econômicas filiadas
aos sindicatos vinculados à confederação seja igual ou superior a 20% (vinte por cento) da soma
do capital social das empresas ou unidades econômicas correspondentes aos âmbitos de
representação desses sindicatos; IV - filiação de sindicatos, com representatividade comprovada,
em pelo menos 18 (dezoito) unidades da Federação, nas quais a soma do número de
empregados nas empresas ou unidades econômicas filiadas aos sindicatos vinculados à
confederação seja igual ou superior a 20% (vinte por cento) da soma dos empregados as
empresas ou unidades econômicas correspondentes aos âmbitos de representação desses
sindicatos. Quanto às federações, deverão observar: Art. 21 [...] I - filiação de sindicatos com
117

Ante as ponderações efetuadas, constata-se que não há a


predominância total da unicidade sindical visando a tolher a pluralidade da criação
de organizações, independente do grau de representação e em qualquer unidade
territorial, a qual se configura pela área de um município. Apesar do Anteprojeto
de Lei trazer inovações, ainda carrega muitos vestígios conservadores.

A alteração repentina para o regime pluralista acarretaria a


fragmentação do sistema e, por consequência, o enfraquecimento das
organizações e a flexibilização de direitos. Por isso, propugna-se pela
transformação paulatina, cujo início se dê no fortalecimento da base e na
extensão da representação nos locais de trabalho.32

Visando a atenuar os efeitos do novo modelo às organizações


sindicais atuais, o projeto de lei estabelece no art. 38, a denominada
“exclusividade de representação”, que se fundamenta na “concessão de
personalidade sindical a um único sindicato no respectivo âmbito de
representação”. Trata-se da possibilidade de manutenção do monopólio sindical
à entidade que já o possuía anteriormente à entrada em vigor da Lei.

Para tanto, a organização deverá atentar para certos requisitos, por


exemplo: prazo para opção do regime de exclusividade, deliberação da
assembleia de filiados e não-filiados, comprovação da representatividade durante
o período de transição e aderir às normas estatutárias definidas pelo CNRT.
Adquirida a exclusividade, a existência de novas instituições no mesmo âmbito de
representação estará condicionada ao desmembramento da base.

representatividade comprovada, em pelo menos 3 (três) ramos de atividade econômica; II -


filiação de sindicatos com representatividade comprovada e cuja soma de empresas ou unidades
econômicas filiadas seja igual ou superior a 20% (vinte por cento) da soma das empresas ou
unidades econômicas nos respectivos âmbitos de representação; III - filiação de sindicatos com
representatividade comprovada e cuja soma de capital social das empresas ou unidades
econômicas filiadas seja igual ou superior a 20% (vinte por cento) da soma do capital social das
empresas ou unidades econômicas nos respectivos âmbitos de representação; IV - filiação de
sindicatos com representatividade comprovada e cuja soma do número de empregados nas
empresas ou unidades econômicas filiadas seja igual ou superior a 20% (vinte por cento) da
soma do número de empregados das empresas ou unidades econômicas nos respectivos
âmbitos de representação. Já os sindicatos: Art. 22 [...] I - filiação de número igual ou superior a
20% (vinte por cento) das empresas ou unidades econômicas em seu âmbito de representação;
II - filiação de empresas ou unidades econômicas, cuja soma de capital social seja igual ou
superior a 20% (vinte por cento) da soma do capital social das empresas ou unidades
econômicas no respectivo âmbito de representação; III - filiação de empresas ou unidades
econômicas, cuja soma do número de seus empregados seja igual ou superior a 20% (vinte por
cento) da soma do número de empregados das empresas ou unidades econômicas no
respectivo âmbito de representação.
32
PASSOS, Edésio, op. cit., p. 533.
118

Dessa forma, verifica-se que a “exclusividade de representação”


mantém resquícios da unicidade sindical, pois é pouco provável que as
organizações não optem pela manutenção do monopólio de representação,
ainda que tenham de comprovar sua representatividade. Nessa perspectiva, a
cartilha33 do Ministério do Trabalho e Emprego, conquanto indiretamente,
admite a dubiedade presente no projeto: “o novo modelo conjuga princípios que
derivam da unicidade, como a exclusividade de representação, com princípios
da liberdade sindical, como a possibilidade de existência de mais de uma
entidade sindical em um mesmo âmbito de representação”.

A implantação de um sistema pluralista na base sindical atingirá


diretamente os empregadores e trabalhadores. Por isso, é imperioso verificar as
perspectivas desses atores sociais quanto à aceitação ou negação ao aludido
modelo organizatório. A classe patronal é favorável ao pluralismo, ambicionando
níveis mais elevados de fragmentação dos trabalhadores, já assolados por
inúmeros fatores que tornam a atividade laboral precária. Por outro lado, a classe
de trabalhadores visualiza maior “agilidade” aos sindicatos, principalmente devido
à possibilidade de agregar os trabalhadores excluídos do dia a dia sindical.34

Por sua vez, há trabalhadores contrários a existência desmedida de


entidades na base, pois causaria maior pulverização da categoria e poderia incitar
a fundação de sindicatos imbuídos aos interesses dos empresários. Já o setor
empresarial defensor da unicidade aspira à manutenção dos laços entre si.35

Evidentemente, o remodelamento sindical deve ocorrer de maneira


comedida, desassociado de fórmulas exatas importadas. Para tanto, incumbe-se
a participação de todos os entes interessados na construção dessa estrutura e
não exclusivamente àqueles detentores de maior e significativa
representatividade.36

33
FNT..., op. cit., p. 18.
34
VIANA, Márcio Túlio. A reforma..., op. cit., p. 1422.
35
Ibid.
36
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Problemas..., op. cit., p. 653.
119

3.2.1 Extinção das fontes de sustentação econômica dos sindicatos

Segundo Antônio Moreira de Carvalho Neto, o fim da contribuição


sindical obrigatória e a ratificação da Convenção n. 87 da OIT poderia ocasionar o
surgimento de duas conjunturas. Primeiramente, se a extinção da cobrança
ocorresse de maneira repentina, consequentemente poderia ensejar o fim de
inúmeras organizações sindicais em todos os graus de representação e muitos
entes de representatividade nula desapareciam. Por outro lado, em seguida,
haveria um “boom” descontrolado de novas entidades em disputa pela divisão da
base territorial.37

No segundo cenário, se a contribuição não fosse dizimada


imediatamente e a Convenção n. 87 aplicada posteriormente, possibilitaria a
existência de um lapso temporal para a transição de sistemas. Por isso,
propugna-se um prazo razoável, por exemplo, correspondente a um mandato
sindical (três anos), pois facilitaria a preparação da comunidade às mudanças
vindouras.38

A PEC n. 369/05 visa a extinguir o sistema de contribuição sindical


hodierno e implantar novas fontes de sustentação econômica das entidades
sindicais, quais sejam a contribuição associativa e a contribuição de negociação
coletiva. O Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais pormenoriza que as receitas
das organizações serão auferidas mediante as ditas prestações, assim como
pelos frutos dos rendimentos do seu patrimônio, doações e multas. Assim, serão
revogadas a contribuição sindical compulsória, a contribuição confederativa, a
contribuição assistencial e a mensalidade sindical.
Conforme dispõe o Anteprojeto de Lei, a contribuição sindical
obrigatória não será extinta de forma automática com a sua aprovação, a
supressão ocorrerá de forma gradativa com relação aos descontos dos
trabalhadores e empregadores. Para a classe de trabalhadores a aduzida
cobrança findar-se-á em três anos a partir do início da lei, correspondente a:

37
CARVALHO NETO, Antônio Moreira de. Liberdade e autonomia sindical no Brasil: meio século
de atraso na aplicação da convenção nº 87 da OIT. In: PEREIRA, Armand F. (Org.). Reforma
sindical e negociação coletiva. Brasília: OIT, 2001. p. 74-75.
38
Ibid., p. 74-75.
120

75% de um dia no primeiro ano, 55% de um dia de trabalho no segundo ano e


35% de um dia de trabalho no terceiro ano. Além disso, durante o período
transitório, o rateio entre as entidades sindicais será na proporção de: 5% para
a confederação, 15% para a federação, 60% para o sindicato e 20% para a
“Conta Especial Emprego e Salário”.

Quanto à contribuição sindical dos empregadores será abolida no


interstício de cinco anos, sendo que no biênio inicial permanecerá a cobrança nos
moldes atuais, decaindo somente a partir do terceiro ano na proporção de: 75% no
terceiro ano, 55% no quarto ano e 35% no quinto ano. Já o repasse às entidades
superiores será de: 5% para as confederações, 15% para as federações, 60% para
os sindicatos e 20% para a "Conta Especial Emprego e Salário".

Evidentemente, o citado período de transição é salutar à adaptação


das novas realidades pelas organizações sindicais e, especialmente ao
trabalhador que possuirá nova sistemática para o pagamento da sua contribuição.

No que tange à contribuição associativa, será custeada somente pelos


membros filiados à entidade sindical conforme o estatuto e as deliberações em
assembleia. Ademais, poderá ser cobrada por intermédio de desconto em folha
de pagamento, desde que autorizada pelo associado e requerida à empresa pela
entidade sindical dos trabalhadores.

Quanto à contribuição de negociação coletiva ou negocial, para


custear a participação sindical na pactuação ou no efeito geral do resultado. A
proposta do valor a ser cobrado será apreciada e deliberada anualmente em
assembleia pelos destinatários da negociação (filiados ou não) e não admitirá
oposição. Em relação ao desconto, será justificado pela produção de convenção
ou acordo coletivo de trabalho, bem como pela certificação de ter sido frustrada.

Almir Pazzianotto Pinto entende ser arbitrária a impossibilidade de


contestar o valor da contribuição aprovado em assembleia disposto no projeto de
lei, pois “atropela todas as garantias constitucionais de livre associação [...] Em
outras palavras, o cidadão trabalhador ficaria privado do direito de resistir à
121

decisão de assembléia de que não participou, da qual discorda e que o


prejudica”.39

No art. 46 do projeto, há a advertência para a imprescindibilidade de


constar no contrato negociado as entidades para as quais o repasse deverá ser
efetuado, tendo em vista a participação na pactuação. Destarte, será possível o
rateio equivalente ao índice de sindicalização e da posição na estrutura
organizativa, na proporção de: 10% para a central sindical, 5% para a
confederação, 10% para a federação, 70% para o sindicato e 5% para o Fundo
Solidário de Promoção Sindical (FSPS).

Desse modo, as centrais sindicais disporão de receita própria


independente da aquiescência dos sindicatos. Argúi-se na doutrina, a hipótese
de outra forma de compartilhamento de receitas, advinda, por exemplo, da
transferência total das receitas às entidades de base e, posteriormente, uma
negociação com as entidades de nível superior acerca da divisão; desse modo,
afiançaria maior controle aos sindicatos. Mas, na conjuntura apresentada pelo
projeto confia-se “poder econômico, organizacional e político às Centrais
Sindicais. Transfere também poder de barganha”.40

Por outro lado, a destinação absoluta da arrecadação aos sindicatos


poderia ocasionar conflitos intransponíveis pela negociação entre as partes, já
que envolveria a subjetividade de cada entidade acerca da aplicação das verbas,
podendo resultar em litígios judiciais procrastinados.

No que concerne ao valor de cobrança da contribuição negocial dos


trabalhadores, além de observar a definição em assembleia, não poderá
ultrapassar o montante de 1% sobre o total da remuneração líquida percebida
pelo trabalhador no ano anterior, podendo ser dividido, no mínimo, em três
parcelas a serem pagas a partir do mês de abril. O trabalhador que romper o
vínculo empregatício antes do pagamento terá descontada, proporcionalmente,
a importância no momento do recebimento das verbas rescisórias.

39
PINTO, Almir Pazzianotto. A contra-reforma sindical. Síntese Trabalhista, Porto Alegre, v.16,
n.191, p.5-7, maio. 2005. p. 6.
40
ZYLBERSTAJN, Hélio. A reforma sindical de Lula. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo,
v.31, n.119, p.94-116, jul./set. 2005. p. 109.
122

O sistema vigente prevê no art. 580 da CLT, a autorização para a


exigência única da contribuição sindical compulsória no valor de um dia de
trabalho sobre a remuneração mensal do trabalhador. Nesse contexto, um
empregado que possua a remuneração de R$ 2.000,00 por mês, recolherá
aproximadamente R$ 66,00. Por outro lado, de acordo com o Anteprojeto de
Lei desembolsará R$ 240,00, uma vez que o cálculo será projetado sobre a
remuneração anual. Assim, o modelo de cobrança em tramitação no
Congresso mostra-se desvantajoso e prejudicial ao trabalhador, já que o
onera ainda mais.

Nessa perspectiva, José Alberto Couto Maciel insurge-se acerca da


contribuição de negociação coletiva. Assim sendo, é mister analisar a
ponderação:

Assim, todo o empregado, sindicalizado ou não, será obrigado a pagar


a contribuição de negociação, não podendo a ela se opor, o que
contraria flagrantemente o princípio da liberdade sindical [...] Mas qual
o calor dessa contribuição? Aqui está a grande farsa. O valor
obrigatório deverá ser muito superior ao pago atualmente [...] É um
absurdo, é gritantemente assustador a fome de dinheiro e o ataque ao
trabalhador feito por esta proposta de alteração constitucional, e é este
o anteprojeto de lei de relações sindicais elaborado para “modernizar
41
as relações sindicais”

De acordo com Amauri Mascaro Nascimento, para o trabalhador é


indiferente a quantidade de contribuições a se pagar, o que se torna indispensável
é o montante a ser cobrado. Ademais, em decorrência de a contribuição ser devida
pela negociação coletiva, ainda que não se tenha firmado o contrato coletivo,
incorre-se na possibilidade de entidades sindicais mal intencionadas almejarem
celebrações duvidosas simplesmente com o intuito de arrecadação.42

Com relação à contribuição negocial dos empregadores, deverá ser


recolhida todo mês de maio de cada ano por todas as empresas, independente
do tamanho. A cobrança limita-se a 0,8% sobre o capital social do
empreendimento, tratando-se do setor rural sobre o valor da terra nua tributável,
41
MACIEL, José Alberto Couto. Contribuição de negociação coletiva: lesão aos trabalhadores
na reforma sindical. LTr: Legislação do Trabalho. Suplemento Trabalhista, São Paulo, v.41,
n.44, p.175-7, 2005. p. 176.
42
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 7.ed. São Paulo: LTr,
2012. p. 651 e 653.
123

observada a importância mínima de R$ 100,00 e máxima de até oitocentas


vezes sobre o mínimo. No rateio, visto que não há central sindical de
empregador, a receita será dividida em: 10% para a confederação, 20% para a
federação, 65% para o sindicato e 5% para o FSPS.

Afastada a polêmica envolvendo a cobrança da contribuição de


negociação coletiva, o Anteprojeto de Relações Sindicais inovou ao introduzir a
subseção “prestação de contas” pelas entidades sindicais, que deverão apresentar
lançamentos contábeis que oportunizem a quaisquer representados o
acompanhamento das transações, débitos e créditos, recolhimento e repasse das
contribuições e a composição patrimonial. Torna-se dever dos dirigentes, sob pena
de violação: a regular escrituração contábil e prestação anual de contas,
disponibilização por 5 anos dos balanços e outros documentos que comprovem os
lançamentos, bem como proporcionar o acesso desses dados a qualquer
representado.

Esse mecanismo de apresentação da arrecadação e gastos das


organizações sindicais não viola a proibição de interferência e intervenção nas
entidades sindicais, ao contrário, mostra-se como eficaz instrumento de fiscalização
para que os representados visualizem a real destinação das suas contribuições e
impeça o enriquecimento ilícito de certos administradores.

3.2.2 Representação dos trabalhadores no local de trabalho

Parte dos trabalhadores, no Brasil contemporâneo, clama pela


existência do sindicato de empresa, sustentam que tal forma de representação
estaria mais próxima à realidade e necessidades dos trabalhadores.
Entretanto, tal modelo representativo encontra óbices na legislação em vigor e
até mesmo com a aprovação do Anteprojeto de Lei em comento, conforme as
observações a seguir.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, a
“participação dos trabalhadores nas decisões da empresa” possui objetivos que
124

estão interligados entre si, os quais se dividem em três grandes categorias sob os
seguintes pontos de vista: ético, político-social e econômico.43

Sob o ângulo ético, a participação do trabalhador propende-se ao


desenvolvimento da personalidade humana ou da realização do indivíduo,
baseada na solidificação do homem e da dignidade humana prevista na
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nesse ínterim, o conceito ético
atribuído a todo trabalhador em sua qualidade humana expressou-se em
contextos diversificados, desde encíclicas papais a constituições nacionais e
movimentos sindicais.44

No que diz respeito aos objetivos de ordem político-social, apresentam-


se de forma heterogênea e formam a chamada “democracia industrial” ou as
seguintes expressões: “democracia laboral”, “democracia no trabalho”,
“democracia na vida profissional” ou “democracia na empresa”. Nota-se a
existência de um paradoxo, pois a vivência do trabalhador na área política dá-se
como a de qualquer outro cidadão, especialmente em períodos eleitorais quando
sua escolha (voto) é eminente, todavia, não tem voz na tomada de decisões no
local de trabalho que lhe repercutem diretamente. “No se puede considerar a um
hombre maduro como ciudadano para la democracia política y al miesmo tiempo
negarle como trabajador el derecho a la deocracia em la vida económica.”45

Faz-se imperativo retificar tais contradições por meio da implementação


da participação dos trabalhadores nas decisões da empresa e fortalecer a
democracia política, colocando em prática seus princípios na vida econômica.
Assim, a democratização da empresa externa-se sob diferenciadas configurações,
desde que se reconheça o direito dos trabalhadores e de seus representantes
negociarem as condições de trabalho no âmbito da empresa, protegendo seus
interesses contra decisões superiores que possam causar prejuízos.46

Quanto aos objetivos de ordem econômica, ressoam direta ou


indiretamente na melhoria da eficiência da empresa. Com o auxílio do trabalhador
favorece-se, por exemplo: o melhoramento quantitativo e qualitativo da produção; a

43
OIT. Oficina Internacional del Trabajo. Participación de los trabajadores em las decisiones de
la empresa. Ginebra, 1981. p. 9.
44
Ibid., p. 10.
45
Ibid., p. 11.
46
Ibid., p. 11-12
125

utilização racional da mão de obra e de matéria-prima; a introdução de técnicas


novas. A participação pode resultar na diminuição das zonas de conflitos de
interesses entre a direção e os empregados, o que, consequentemente, aprimora
as relações laborais. Por isso, o Poder Público visualiza a participação no local de
trabalho como meio de aumentar a eficiência empresarial e prevenir conflitos. 47

Sendo assim, a participação fundada nos interesses comuns dos


trabalhadores e empregadores reproduz o bom funcionamento da empresa e
proporciona rentabilidade. Por conseguinte, garante inúmeros benefícios, como a
preservação de empregos e a criação de postos, bem como o melhoramento do
trabalho e da remuneração.48

A introdução da organização sindical no ambiente laboral


oportunizará a participação efetiva dos trabalhadores no processo de
negociação, isto é, ingressar de forma concreta no cotidiano sindical, inclusive
com efeitos atenuantes ao poder disciplinar e de direção do empregador, sem a
existência de represálias e possibilita a defesa de direitos fundamentais como
dignidade humana. Ademais, à dita representação local caberá a mediação de
conflitos individuais de trabalho, o que não poderá ensejar a facilitação para se
usurpar direitos.49

Evidentemente, o empregador tem à disposição o poder de direção,


principalmente porque é o detentor dos meios de produção. Tal poderio se realiza
por meio do poder de organização, do poder de regulamentação, do poder de
fiscalização e do poder disciplinar, os quais devem ter sua aplicação relativizada.
De fato, a classe empresarial possui liberdade para dispor do modo de operação do
seu empreendimento, mas até o limite que não prejudique terceiros (trabalhadores
e a sociedade). Por isso, a terminologia “poder” deve ser interpretada como um
direito, o qual não pode ensejar abuso de direito.

Nesse contexto, o trabalhador deve ser considerado um colaborador


(sentido literal do vocábulo) no ambiente empresarial, e não apenas uma expressão
falaciosa com o intuito de enaltecer a empresa perante a clientela. Assim, o
47
OIT (1981), op. cit., p. 18.
48
Ibid., p. 20.
49
SILVA, Sayonara Grillo Coutinho Leonardo. Relações coletivas de trabalho entre a mudança e a
conservação: perscrutando o projeto de emenda constitucional 369 e o anteprojeto de lei da
reforma sindical. Revista de Direito do Trabalho. São Paulo, v.31, n.119, p.185-204, jul./set.
2005. p. 197.
126

empregado deve participar do processo de gestão que o envolva direta ou


indiretamente.

Consoante o entendimento internacional, a instituição das


representações nos locais de trabalho ocorrem de forma voluntária, legal ou por
intermédio de acordos nacionais. Quanto às instituições voluntárias, são aquelas
estabelecidas pela vontade do empregador ou por meio de negociação coletiva
sindical, não há a participação do legislador na aferição do instituto. Citam-se
como exemplo os Estados Unidos da América, cujas pactuações entre
empregados e empregadores no ambiente laboral são habituais.50

Em relação aos organismos decorrentes da lei, ressalta-se sua


difusão e reconhecimento, uma vez que se articula com a estrutura sindical e,
simultaneamente conserva sua identidade própria, seja no interior ou no exterior
da empresa. Registra-se as primeiras legislações acerca dos conselhos de
empresa entre 1918 e 1920 na Alemanha, Áustria, antiga Tchecoslováquia e
Noruega e, após a Segunda Guerra Mundial, expandiram-se para a Europa
51
ocidental e central. Hoje, sublinha-se a normatização alemã, a qual prevê
entre outros pontos: os espaços de eleição do conselho, as formas de eleger um
conselho, a estrutura jurídica da representação na empresa e os direitos do
conselho, tal como as violações dos direitos de participação causadas pelos
empregadores.52

No que se refere às instituições oriundas de acordos nacionais, José


Francisco Siqueira Neto as explica mediante a apresentação de alguns
sistemas europeus, dos quais ressalta o modelo dinamarquês e o norueguês.
No primeiro, o acordo de 2 de outubro de 1970 resultou na obrigatoriedade de
implantar um órgão de formação mista em todas as empresas com contingente
mínimo de 50 pessoas. Já na Noruega, tornou-se obrigatória a criação de um
comitê misto nos empreendimentos que contassem com pelo menos 100
empregados.53

50
SIQUEIRA NETO, José Francisco. Liberdade sindical e representação dos trabalhadores
nos locais de trabalho. São Paulo: LTr, 1999. p.160-161.
51
OIT (1981), op. cit., p. 136-137.
52
SIQUEIRA NETO, José Francisco, op. cit., p. 162-163.
53
Ibid., p. 166.
127

A temática recebeu suporte na legislação internacional, especialmente


na Convenção n. 13554 sobre a proteção de representantes de trabalhadores,
assim como pela Recomendação n. 143 sobre proteção e facilidades a serem
dispensadas aos representantes de trabalhadores na empresa, ambas de 1971.

O art. 1º da Convenção n. 135 dispõe acerca da necessidade de


uma proteção eficiente aos representantes dos trabalhadores na empresa em
face de condutas prejudiciais “motivadas por sua qualidade ou suas atividades
como representantes dos trabalhadores, sua filiação sindical, ou participação
em atividades sindicais, conquanto ajam de acordo com as leis, convenções
coletivas ou outros arranjos convencionais”.

Além disso, no art. 3º, o diploma designa os detentores da


incumbência de representar os trabalhadores, quais sejam: os representantes
sindicais (nomeados e eleitos por entidades sindicais) e os representantes
eleitos (eleitos pelos trabalhadores da empresa e com previsão na
normatização do país, não possuindo correlação com as prerrogativas adstritas
às organizações sindicais).

Consoante a Recomendação n. 143, as medidas protetivas


externam-se, principalmente, na justificação dos motivos propulsores à ruptura
do vínculo contratual dos representantes dos trabalhadores, por exemplo: 1) a
definição precisa e o detalhamento; 2) a exigência de consulta a um órgão
independente, público ou privado antes de efetivar a dispensa; 3) a inversão do
ônus da prova quando incorrer em dispensa supostamente discriminatória ou de
mudança desfavorável das condições de emprego.

A Constituição Federal brasileira, no art. 11, prevê que “nas empresas


de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante
destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os
empregadores”. Trata-se de uma representação sem a participação sindical
(formação exclusiva dos trabalhadores), por isso o legislador constituinte optou
por não lhe conferir garantia de emprego similar ao do dirigente de sindicato.
Ademais, imperioso destacar que o dispositivo constitucional não depende de
regulamentação e faz parte das normas de aplicabilidade imediata.

54
Ratificada pelo Brasil em 18 de maio de 1990 e publicada mediante o decreto n. 131, de 22 de
maio de 1991.
128

Apesar disso, no cenário prático, não se verificam muitas


representações nesse sentido, sobretudo, esbarradas no fator cultural de que a
representação satisfatória dar-se-á unicamente pela atuação das organizações
sindicais, preconceito advindo, inclusive, de parte das entidades.

Para João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força Sindical, “[...]


enquanto país democrático, avançamos até a porta da fábrica; da porta da
fábrica, é impossível o sindicato entrar, a não ser por meio de seus associados
ou dos delegados clandestinos [...]”.55 Apesar desse cenário, cumpre enfatizar
as primeiras negociações desse âmbito realizadas no setor de metalurgia56 do
ABC paulista na década de 1980.

O Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais expõe detalhadamente a


“representação dos trabalhadores nos locais de trabalho”, a qual integra o
sistema sindical e exerce suas atividades em colaboração com as entidades
sindicais. Haverá somente uma representação por espaço laboral, por isso nas
localidades onde prevalecer a formação plúrima a atuação ocorrerá de forma
conjunta.

Anterior ao texto final da proposta apresentada ao Congresso Nacional,


a organização dos trabalhadores no local de trabalho ocorreria por intermédio dos
Comitês Sindicais de Empresa, cujas funções circundariam, por exemplo, a
representação dos sindicatos e dos seus associados no empreendimento e nas
demais instâncias do sindicato, tal qual a assunção das negociações coletivas.
Evidentemente, o patronato insurgiu-se diante da possibilidade da presença
sindical, salvo a escolha dos delegados coubesse ao arbítrio dos empregadores.57

No art. 62 do Anteprojeto de Lei, estão os objetivos da constituição de


uma unidade de representação no local de trabalho, os quais se sublinham: I -
representar os trabalhadores perante a administração da empresa; II - aprimorar o

55
GONÇALVES, João Carlos. Desafios e perspectivas para o diálogo social no brasil: o modelo
sindical brasileiro e a reforma sindical. Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, vol.
76, n. 4, p. 105-109, out/dez 2010. p. 107.
56
José Francisco Siqueira Neto destaca que “a primeira Representação dos Trabalhadores
(Comissão de Fábrica) negociada pelo sindicato dos trabalhadores data de 1981 (Ford). As
demais representações foram instaladas, respectivamente, em 1982 (Volkswagem), 1983 (Saab
Scania e 1984 (Mercedez-Benz). Posteriormente, todos os Acordos Coletivos de Trabalho foram
renovados a cada dois anos”. In: SIQUEIRA NETO, José Francisco, op. cit., p.364.
57
AROUCA, José Carlos. Reforma da legislação sindical: relatório do Fórum Nacional do Trabalho:
primeira leitura. LTr: revista legislação do trabalho. São Paulo, v.68, n.5, p.524-34, maio.
2004. p. 532.
129

relacionamento entre a empresa e seus trabalhadores com base nos princípios da


boa-fé e do respeito mútuo; III - promover o diálogo e o entendimento no ambiente
de trabalho com o fim de prevenir conflitos.

Sem embargo, há o entendimento de que a proposta proclama a


desvirtuação da representação no local de trabalho, analisada como uma mera
substituição às antigas Comissões de Conciliação Prévia (CCP) e prejudicial à
negociação coletiva, já que difunde a formação de sindicatos fracos. Assim, o
“projeto fixa que ela poderá ‘mediar e conciliar os conflitos individuais de
trabalho’ [...]. A redação lembra a triste experiência do ‘sindicato-casa’, que
fragilizou e dividiu o sindicalismo no Japão”. 58

De acordo com o art. 64, a unidade de representação será fixada por


meio de iniciativa do sindicato de base ou ante a requisição de 20% dos
empregados com mais de seis meses na empresa. Diversamente da permissão
constitucional vigente, a qual condiciona a eleição de um representante a cada
duzentos trabalhadores, o projeto assegura a constituição a partir de trinta
empregados. Nos empreendimentos, cujo contingente seja inferior à apontada
dezena, a criação da representação terá sua existência atrelada à autorização de
um contrato coletivo.

O mandato do representante obedecerá ao interstício de três anos, o


qual será respaldado pela garantia momentânea de emprego típica dos diretores
sindicais. Além disso, gozará da inamovibilidade, isto é, não poderá sofrer
transferência de unidade empresarial, salvo extinção do empreendimento.
Outrossim, preserva-se o direito de opinião, tal como a garantia de publicar e
distribuir material em prol dos trabalhadores.

Outro ponto inovador no âmbito da representação nos locais de trabalho


refere-se à possibilidade de realização da negociação coletiva, pois, atualmente, o
acordo e a convenção coletiva de trabalho são firmados exclusivamente pelos
sindicatos das respectivas categorias. Segundo Otávio Pinto e Silva, a existência
real de um processo negocial amplo está correlacionada à verdadeira liberdade

58
BORGES, Altamiro, op. cit., p. 90.
130

sindical, somada a um comportamento educacional e consciente da classe


trabalhadora.59

Para Leôncio Martins Rodrigues, as representações locais foram


fundamentais em alguns países da Europa, pois impediram quedas consideráveis
nas taxas de sindicalização. Para tanto, o autor recorre aos estudos de Thomas
Kochan e Kirsten Wever para explicitar que muitos debates acerca de questões
estratégicas envolvendo a empresa são realizados em nível superior ao ambiente
de trabalho. Por isso, a atuação da entidade sindical deve atingir patamares mais
“baixos” que o típico acordo coletivo de empresa, fazendo-se presente ao
cotidiano local e, desse modo, atender às novas conjunturas que abrangem o
trabalhador.60

Apesar das inovações almejadas pelo Anteprojeto de Lei, a


representação no local de trabalho enfrenta óbices decorrentes da indisposição
do empregador frente à suavização do seu mando no ambiente de trabalho, seja
pela participação dos empregados ou dos sindicatos. Houve inúmeros debates no
Fórum Nacional do Trabalho sem a obtenção de consenso, já que o setor
empresarial não acolheu a representação mediante a cooperação sindical; por
outro lado, o sindicato vislumbra a atuação no local de trabalho como o
prolongamento da sua operação.61

A participação sindical no âmbito da representação local é


imprescindível à realidade brasileira, caso contrário, ter-se-á uma legislação sem
efeitos práticos, já que o empregador continuará exercendo suas atividades em
prol do capital. Nesse diapasão, Enoque Ribeiro dos Santos preceitua que o
estabelecimento da representação no ambiente de trabalho, “certamente será
ampliada e fortalecida com o advento da pluralidade sindical, que tornará a
relação capital-trabalho muito mais equilibrada e democrática, com a inserção
no novo cenário sindical brasileiro do sindicato por empresa”.62

59
SILVA, Otávio Pinto e. A contratação coletiva como fonte do direito do trabalho. São
Paulo: LTr, 1998.
60
RODRIGUES, Leôncio Martins. Destino do sindicalismo. São Paulo: Edusp, 1999. p. 204-205.
61
ZYLBERSTAJN, Hélio, op. cit., p. 110.
62
SANTOS, Enoque Ribeiro. Fundamentos do direito coletivo do trabalho nos estados
unidos da América, na união européia, no mercosul e a experiência brasileira. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2005. p. 189-190.
131

3.3 Reforma sindical brasileira e a busca pela liberdade plena

O sistema sindical brasileiro, exceto por ínfimas modificações,


permanece sob o mesmo padrão há mais de meio século. Por outro lado,
notoriamente as relações de trabalho estão em constante dinamicidade, assim, a
visão tradicional dos atores sociais (empregado e empregador) da CLT já não
denota a realidade, outras paisagens e personagens foram introduzidos no
universo laboral. Nesse sentido, Eliana dos Santos Alves Nogueira alerta para a
desproporcionalidade do projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional,
qual seja:

O projeto de reforma sindical apresentado não vê esta realidade, já que


continua se pautando pela criação de entidades sindicais apenas por
empregados e não por trabalhadores de um modo geral. Neste sentido,
referida reforma sindical deveria ter em mente essa grande parte dos
trabalhadores brasileiros que, sindicalizando-se, poderiam estabelecer
direitos mínimos, em contratos coletivos, para a grande rede de
trabalhadores individuais, pessoais, que laboram como “autônomos” ou
63
se perdem nas imensas redes de terceirização precária.

Desse modo, quando se coteja o Direito Individual e o Direito Coletivo


do Trabalho, torna-se evidente que o primeiro é constantemente atualizado para
abarcar o maior número de situações; enquanto o segundo, não fossem as raras
intervenções específicas do legislador e o esforço dos tribunais por meio da
jurisprudência, permaneceria intacto aos moldes do Decreto-Lei n. 5.452/43, o
qual estabeleceu o diploma celetista. Ademais, inúmeros dispositivos64 da CLT
atrelados aos mecanismos sindicais encontram-se revogados tacitamente por não
se correlacionarem aos preceitos constitucionais de 1988.

A celeuma sindical não se resume à necessidade de uma reforma na


legislação infraconstitucional e na própria Constituição Federal, pois não basta
apenas extinguir o conteúdo que emperra o estabelecimento da verdadeira

63
NOGUEIRA, Eliana dos Santos Alves. Direito do trabalho e justiça do trabalho: panorama e
perspectivas em face das atuais reformas. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª
Região, Campinas, n.26, p.87-98, jan./jun. 2005. p. 97.
64
Exemplos de artigos da CLT que se encontram prejudicados em decorrência da promulgação da
Constituição Federal de 1988: art. 512; art. 515; art. 517 ao art. 521; art. 523 ao art. 532; art. 544;
art. 553 ao art. 559; art. 564 ao art. 566; art. 570 ao art. 576; art. 600.
132

liberdade sindical preconizada pela OIT, tais como: a unicidade, o


enquadramento por categorias, o paralelismo simétrico e a contribuição
compulsória. O novo sistema terá de enfrentar os estigmas culturais herdados
do modelo corporativista, que afastou e fez o trabalhador desacreditar no
movimento sindical, restando poucas entidades imbuídas na defesa dos ideais
de uma classe.

Para tanto, José Carlos Arouca indaga:

A quem interessa a reforma? Os trabalhadores não foram sensibilizados


para defendê-la ou combatê-la, até porque a ignoram e os sindicatos que
dela só tem notícias, pelas centrais, não se preocuparam em convocá-
los para discutir seu alcance. Pior de tudo é que a bancada dos
trabalhadores chegou ao Fórum sem ter um projeto próprio para
65
defender e dele saiu defendendo o projeto desenhado pelo governo.

Diante disso, a organização atual não é preservada porque se mostra


adequada aos trabalhadores, sua sobrevivência decorre da comodidade e do
beneficiamento de setores conservadores. Posto isso, reformular ou adequar o
sindicalismo não se trata de capricho, mas de uma imprescindibilidade.

Outrossim, justifica-se que o emperramento da reforma sindical


brasileira deve-se a não ratificação da Convenção n. 87 da OIT, já que sua
aprovação impulsionaria a implementação do modelo pluralista e,
consequentemente, acarretaria a rivalidade entre as entidades, ou seja, a
subsistência dependeria do abandono do comodismo atual, o qual não enseja a
supressão territorial ou a queda das taxas de representação.66

A ausência de ratificação da citada Convenção não é a causa


principal que impede a efetividade da liberdade sindical. Se a existência de
diversas entidades sindicais fosse a resposta para a crise do sindicalismo
brasileiro, não haveria inadequabilidade do sistema atual, composto por
inúmeras organizações graças ao desmembramento de categorias.

Para Márcio Túlio Viana, o enaltecimento do supracitado diploma


internacional, defendendo-o como meio de resolução dos entraves advindos do

65
AROUCA, José Carlos (2004), op. cit., p. 534.
66
NASCIMENTO, Amauri Mascaro (2007), op. cit., p. 651.
133

monopólio sindical, certamente, impulsiona ao entendimento de que a aceitação


do documento resultaria em um universo onde “tudo seriam flores”. Nessa linha,
o pluralismo representaria a efetividade da democracia, enquanto o monismo a
encarnação da tirania ou do Estado fascista.67

O autor se insurge acerca desse entendimento, o qual incute em


“desviar o foco” dos problemas decorrentes da reestruturação produtiva, por
exemplo. Para tanto, assevera que não se trata de uma opção entre a
democracia ou o fascismo, “mas de encontrar a melhor estratégia para enfrentar
problemas antes de serem jurídicos são políticos e, sobretudo
econômicos”.68

Segundo José Pastore, o alcance de um regime sindical livre


depende do enfrentamento da problemática que envolve: o financiamento dos
sindicatos; a organização das novas estruturas sindicais; a aferição da
representatividade das entidades; a proteção do trabalho informal; a
sobrevivência do sindicato na nova economia.69

Tal posicionamento converge para a reestruturação de todo o sistema


sindical, com especial observação ao protecionismo dos trabalhadores
marginalizados pela informalidade e a necessidade de entidades
verdadeiramente representativas. Contudo, é preciso cautela com a inserção do
sindicato em uma “nova economia”, para que ele não seja vitimado pelo capital e
se torne um simples pactuante dos interesses da classe patronal.

Hélio Zylberstajn esclarece que as modificações sindicais almejam


desacelerar o processo de fragmentação representativa e, por consequência, a
redução do número de entidades, visto que os organismos mais abrangentes
incorporarão aqueles de menor amplitude, mas a sobrevivência daqueles está
atrelada à condição de se tornarem representativos ou arcarem com a perda de
exclusividade. A proposta do Fórum Nacional do Trabalho não vislumbra o
destino das associações de trabalhadores terceirizados, contudo, a tendência é a
ocorrência da supracitada absorção pelo ente mais amplo.70

67
VIANA, Márcio Túlio (2004), op. cit., p. 1422.
68
Ibid., p. 1422.
69
PASTORE, José, op. cit., p. 86.
70
ZYLBERSTAJN, Hélio, op. cit., p. 108 e 112.
134

Evidentemente, o sindicato brasileiro necessita rever os ideais pelos


quais foi criado e, assim, alçar novos objetivos que restabeleçam seu status. As
baixas taxas de sindicalização e a ausência sindical em muitos setores são
indicativos de que algo não está bem. Entretanto, mudanças estruturais súbitas
podem surtir efeitos contrários ao almejado, uma vez que demandam
amadurecimento de ideias e comportamentos. Não se pode olvidar que as novas
e as tradicionais relações sindicais imploram o firmamento da liberdade sindical
plena, diversamente da constatação contemporânea, a qual é mitigada, para não
dizer inexistente.

Defender a propositura de um modelo reproduzido do direito


comparado vai ao encontro da experiência em vigor, a qual foi copiada da
estrutura italiana do período fascista e criou vida própria, adaptando-se ao
“jeitinho brasileiro” de contornar os problemas sem lhes dar solução
adequada. Por isso, utilizar os ensinamentos estrangeiros requer o cuidadoso
empenho de verificar a compatibilidade com os fatos sociais, políticos e
econômicos brasileiros.

A PEC n. 369/05 e o Anteprojeto de Lei que a acompanha


propugnam dar novo fôlego às entidades sindicais. Contudo, não fixará a
“sonhada” liberdade sindical sem ressalvas apregoada pela Organização
Internacional do Trabalho. A redação dos projetos demonstra a intenção de
preparar um período de transição do regime antigo para o novo, mas em
determinados pontos percebe-se a manutenção do conservadorismo mediante
nomenclaturas modernas e rearranjos estruturais, além da ausência de muitos
tópicos indispensáveis para uma reforma que hipoteticamente almeja o
remodelamento.

Nesse sentido, analisa-se negativamente o modelo apresentado,


particularmente pelo enquadramento sindical com “outra roupagem” e a
concessão do registro das entidades a cargo do Ministério do Trabalho e
Emprego. Ademais, no que diz respeito à exclusividade, trata-se da unicidade de
base acobertada por denominação distinta. A base territorial das organizações
sindicais continuará semelhante aos moldes atuais.71

71
AROUCA, José Carlos (2004), op. cit., p. 527-529.
135

Tal posicionamento é comprovado a partir da análise da


72
documentação emitida pelo Ministério do Trabalho e Emprego, segundo o qual
o novo modelo de organização sindical é um misto de unicidade com princípios
de liberdade sindical. A primeira externa-se com a “exclusividade”, a qual
possibilita a permanência do monopólio de base às entidades existentes antes
da aprovação da Lei, desde que comprovem a respectiva representatividade. Já
a liberdade é notada pela existência simultânea de mais de uma entidade no
mesmo âmbito de representação, desde que não haja entidades protegidas pela
exclusividade.

Outrossim, Altamiro Borges ressalta:

Ao estimular a cizânia e a disputa na base de trabalhadores, gestando um


Frankenstein sindical, o projeto já fragiliza o sindicalismo diante dos duros e
inevitáveis confrontos em torno da reforma trabalhista. Para piorar, o
governo ainda retirou do seu projeto o único dispositivo que dava uma
tímida segurança frente à flexibilização - que consagrava “o princípio do
uso da norma mais benéfica ao trabalhador”, capitulando diante do uso da
norma mais benéfica ao trabalhador”, capitulando diante da pressão
patronal. [...] A aprovação da PEC, que antecipa a votação do projeto de lei,
viabilizaria o império da desregulamentação do trabalho e propicia a
“prevalência do negociado sobre o legislado” - agora embalada na ideia da
73
livre negociação.

A ANAMATRA propõe a reforma sindical a partir de pontos não


elencados ou com tratativa diversificada pelo relatório do FNT, bem como das
propostas. A associação sustenta a revisão da estrutura sindical, a representação
dos trabalhadores na empresa, a negociação coletiva, o direito de greve e o
dissídio coletivo. Quanto à estrutura do sindicalismo, defende-se, por exemplo, o
impedimento da dispensa arbitrária e a defesa dos indivíduos excluídos do
mercado formal de trabalho, tal como o estabelecimento de uma relação
duradoura entre as entidades de cúpula e de base.74

No que diz respeito à representação em âmbito local, objetiva-se a


implantação de um regime empresarial democrático, isto é, o qual seja partilhado
o poder diretivo e a concretude dos direitos individuais, evitando o

72
FNT. Espaço de diálogo e negociação. Reforma sindical: perguntas e respostas. 2.ed. rev. e atual.
Brasília: Ministério do trabalho e emprego, 2005. p. 18.
73
BORGES, Altamiro, op. cit., p. 92-93.
74
VIANA, Márcio Túlio (2004), op. cit., p. 67.
136

reconhecimento de uma representação meramente homologatória de renúncias e


transações. Ademais, defende-se a importância da negociação coletiva, a
manutenção dos efeitos erga omnes e a permanência da ultratividade das normas
coletivas.75

A reforma sindical almejada e substanciada pela citada proposta


carece de revisão em alguns pontos, para que a posteriori não se vislumbre um
novo sistema inadequado aos anseios da coletividade trabalhista. Esse
processo de revisão não ocorrerá sem desgastes, porquanto, durante as
negociações do FNT, certas instituições pretendiam a conservação do modelo
defasado atual. Indubitavelmente, há de se fazer concessões, desde que não
ocasionem a precarização das relações.

Reformar não é uma empreitada de realização inteligível, cita-se


como exemplo a América Latina. Posteriormente às suas revisões,
constataram-se inúmeras entidades sindicais fracas e com índices reduzidos de
filiação. Todavia, não é possível relacionar tais fatos ao remodelamento
sindical, que ocasionou o fortalecimento das relações de trabalho na empresa,
mas em países com grande concentração de pequenas e médias empresas
houve um encolhimento da atuação dos sindicatos.76

Para María Luz Vega Ruiz, os efeitos de uma reforma trabalhista não
podem ser facilmente mensurados, visto que muitas falhas atribuídas ao direito
material, efetivamente, estão vinculadas a falhas na aplicação legal ou
procedimentos administrativos e judiciais. Por isso, “la búsqueda de la inmediatez,
la simplicidad y la transparencia, bajo la vigilancia de los interlocutores sociales,
pudiera conducir a uma nueva etapa, más satisfactoria, de regulación de las
relaciones de trabajo”.77

Assim, a reforma sindical ambicionada pela PEC n. 369/05 em


tramitação no Congresso Nacional e o Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais
não favorecem o estabelecimento da liberdade sindical plena, sequer oportunizam
a ratificação da Convenção n. 87 da OIT. Ademais, a tentativa de fazer prevalecer
o negociado sobre o legislado deve ser posta em xeque, caso contrário, ensejará

75
VIANA, Márcio Túlio (2004), op. cit., p. 69.
76
VEGA RUIZ, María Luz, op. cit., p. 93.
77
Ibid., p. 95.
137

a precarização de direitos trabalhistas e desvirtuará a negociação coletiva,


instrumento cujo propósito essencial é o assentamento da melhoria das condições
de trabalho e não a flexibilização.

3.4 Perspectivas de aprovação da PEC

A ascensão à Presidência da República de Luiz Inácio Lula da


Silva78, ex-sindicalista e militante do Partido dos Trabalhadores, foi vislumbrada
como cenário ideal para o reavivamento da reforma sindical desejada há
décadas, principalmente pela classe trabalhadora.
Conforme exposto anteriormente, o mencionado anseio resultou em
diversas discussões no Fórum Nacional do Trabalho pelos representantes dos
principais setores interessados, quais sejam: empregados, empregadores e
governo. No término dos debates, compilou-se um relatório final, o qual foi
submetido à apreciação do Poder Executivo e deu origem à PEC n. 369/05 e ao
Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais.

A PEC foi apresentada à Câmara dos Deputados em 04 de março de


2005 e lá permanece sob vagaroso andamento processual, o qual se
movimentou pela última vez em 20 de junho de 2013 com a solicitação do seu
apensamento à PEC n. 314/2004. Aparentemente, o desejo reformista está
adormecido diante do conflito de interesses, e de acordo com alguns recortes da
época da apresentação a seguir expostos.

Para Amauri mascaro Nascimento, não é possível apontar os rumos da


proposta elaborada pelo FNT, especialmente pela falta de apoio político das
entidades sindicais, seja de trabalhadores ou empregadores que se dividiram e
indicaram modificações somente após a conclusão das etapas do Fórum. Nessas

78
Para Altamiro Borges, “alguns setores apostaram que o governo Lula abriria uma chance
histórica para promover avanços na legislação. Afinal, o presidente se projetou na luta operária e
sempre defendeu o fortalecimento do sindicalismo; já os neoliberais, que nunca esconderam seu
ódio às entidades de classe, foram derrotados nas urnas. Essa seria uma oportunidade impar
para conquistar a legalização das centrais, a organização no local de trabalho e outros avanços.
Não podia ser desperdiçada.” In: BORGES, Altamiro, op. cit., p. 84-85.
138

circunstâncias, a aprovação da reforma sindical depende de “profundas


alterações”.79

De acordo com o material produzido pelo Ministério do Trabalho e


Emprego durante reuniões do FNT, as confederações80 se insurgiram para que
não ocorresse a promoção de mudanças bruscas à estrutura existente e, de modo
inexorável, fosse priorizada a continuidade da unicidade, a forma de arrecadação
e o poder normativo da Justiça do Trabalho. Tais acontecimentos tornaram
infrutíferas as conversações das referidas entidades com o restante das
organizações.81

A Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo


do Estado de São Paulo) reuniu sindicalistas e discutiu uma proposta alternativa à
apresentada pelo Poder Executivo, a qual foi rotulada de “centralizadora e mais
intervencionista”, alinhada aos interesses da classe patronal. A federação não
vislumbrou sequer a correção da proposta governamental e defendeu a rejeição
total do documento e acentuou os seguintes pontos, entre outros: permanência da
unicidade; liberdade sindical sem interferência estatal; registro sindical a cargo
das organizações, sem intervenção do Ministério do Trabalho e Emprego (auto-
gestão do sistema); arrecadação compulsória das contribuições de natureza
confederativa e de negociação coletiva.82

O posicionamento da Fecomercio prega a manutenção do


corporativismo, já que a manutenção do monopólio de representação e a
pretensão de uma liberdade sindical sem a interveniência do Poder Público são
institutos jurídicos que se contrapõem. Primeiramente, porque a unicidade surge a
partir de um imperativo legal, em seguida, pelo motivo de que em um sistema livre
não há que se falar em “escolher” a única entidade existente na base de

79
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 7.ed. São Paulo: LTr, 2012. p. 657.
80
Nesse sentido: “[...] apenas as grandes centrais sindicais estão aprovando integralmente as novas
regras. O texto tem sido bombardeado por antigas e carcomidas confederações de trabalhadores que
perderão poder e os recursos do chamado imposto sindical compulsório que hoje as mantém.
Centrais e sindicatos com menor expressão política condenam o poder que será atribuído às grandes
centrais”. In: DIANEZI, Vicente. Buraco Negro. Reforma sindical do governo corre risco de
engavetamento. Revista Consultor jurídico, 29 abr. 2005. Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2005-abr-29/reforma_sindical_governo_corre_risco_engavetamento>.
Acesso em: maio 2014.
81
FNT, op. cit., p. 11.
82
FECOMERCIO. Fecomercio propõe alternativa ao projeto de reforma sindical. Tome Nota.
Informativo de legislação trabalhista, previdenciária e sindical, n. 20, São Paulo, maio 2005.
139

representação. Para tanto, cumpre observar o entendimento da Organização


Internacional do Trabalho:

[...] puede ser ventajoso para los trabajadores y los empleadores evitar la
multiplicación del número de organizaciones defensoras de sus
intereses, toda situación de monopolio impuesta por vía legal se halla en
contradicción con el principio de la libertad de elección de las
83
organizaciones de empleadores y de trabajadores.

Quanto ao registro sindical, o Comitê de Liberdade Sindical dispõe


que “el registro de los sindicatos consiste únicamente en una formalidad cuyas
condiciones no son de tal naturaleza que pongan en peligro las garantías
previstas por el Convenio” (Convenção n. 87).84

Consoante matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo,


representantes da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e da Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) informaram, durante o
seminário sobre reforma sindical em São Paulo, que “sem reforma trabalhista, a
reforma sindical não sai”, em decorrência da possibilidade de se perder
investimentos. A classe empresarial criticou principalmente a substituição
processual prevista no projeto, creditando-lhe aumento dos custos de produção e
maior estímulo aos conflitos. Quando indagado sobre a hipótese de frustrar a
reforma, Paulo Skaf (presidente da Fiesp à época), advertiu sobre “uma
articulação política forte nos corredores do Congresso”. 85

À época da apresentação da PEC, 1/3 dos membros do Congresso


Nacional eram desfavoráveis à aprovação da proposta advinda das discussões
do FNT, especialmente partidos como PCdoB, PDT, PTB, PSB e PMDB. De
acordo com o PCdoB, a proposta significa um retrocesso à Constituição Federal
de 1988, pois favorece a desregulamentação de direitos trabalhistas, fragmenta
as organizações sindicais e restringe o direito à greve. Já a bancada do PDT
classificou a reforma como uma desnecessidade imediata, além disso, carecia de
83
OIT. La libertad sindical. Recopilación de decisiones y princípios del Comité de Libertad
Sindical del Consejo de Administración de la OIT. 5.ed. rev. Ginebra: Oficina Internacional
del Trabajo, 2006. Párrafo 320. p.71.
84
Ibid., párrafo 294. p. 65.
85
ROLLI, Claudia. Reforma sindical vai aumentar custos, diz indústria. Folha de São Paulo, Mercado,
São Paulo, 16 mar. 2005. Disponível em: <
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1603200516.htm>. Acesso em maio 2014.
140

debates entre entes de base. O PSB defendeu a continuidade da unicidade


sindical como forma de evitar a dispersão dos trabalhadores.86

São citados três motivos que dificultaram a aprovação da reforma


sindical ainda durante o período do “Governo Lula”, quais sejam: 1) a inabilidade
política dos interlocutores do Ministério do Trabalho e Emprego; 2) a resistência
de parcela expressiva do movimento sindical; 3) a crise política. Nesse contexto, o
FTN excluiu a participação das confederações, dos trabalhadores rurais e de
servidores públicos. A restrição ao sistema confederativo fez com que suas
entidades criassem o Fórum Sindical dos Trabalhadores (FST) como instância
alternativa para debater a estrutura sindical. Ademais, o Governo descuidou-se
com relação às articulações prévias no Congresso Nacional, o que ocasionou a
contrariedade até dos partidos da base governamental.87

Para José Maria de Almeida (o Zé Maria), a reforma sindical indica


prejudicial tolhimento de direitos trabalhistas solidificados no decorrer da história,
especialmente pela instituição do “negociado sobre o legislado” e a exclusão do
princípio da norma mais favorável. Outrossim, explica que a proposta favorece as
cúpulas das centrais sindicais sob o argumento simulado de eliminar sindicatos
pelegos e taxas compulsórias. Ademais, a classe empresarial ambiciona uma
reforma trabalhista concomitante a sindical, objetivando a retirada de direitos.88

Ante os fatos apresentados, verifica-se que o trabalhador não é o ponto


central de preocupação da maioria das instituições elencadas, o receio delas é
fixado na perda de representatividade, diminuição do valor destinado pela
contribuição sindical, redução dos custos com mão de obra em prol à obtenção de
maior lucratividade, enfim, nota-se que a oportunidade de debates oferecida pelo
FNT não favoreceu o consenso, apenas clarificou os interesses de cada parte.

86
VERLAINE, Marcos. Reforma sindical: 1/3 do Congresso é contrário ao texto produzido pelo FNT.
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Brasília, 08 maio 2005. Disponível em:
< http://www.diap.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5665:reforma-sindical-13-do-
congresso-e-contrario-ao-texto-produzido-pelo-fnt&catid=46&Itemid=207>. Acesso em maio 2014.
87
QUEIROZ, Antônio Augusto de. As razões da derrota do Governo na reforma sindical.
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar, Brasília, 23 fev. 2006. Disponível em:
<http://www.diap.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5582:as-razoes-da-
derrota-do-governo-na-reforma-sindical&catid=46&Itemid=207>. Acesso em maio 2014.
88
ALMEIDA, José Maria de. Reforma sindical cria superpelegos. Folha de são Paulo, Opinião,
São Paulo, 21 abr. 2005. Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2104200510.htm>. Acesso em maio 2014.
141

O dissenso entre as classes é uma das causas de emperramento da


proposta de reforma sindical. Evidentemente, os projetos carecem revisões
importantíssimas, visto que nos moldes apresentados não vislumbram a liberdade
sindical plena e denotam retrocesso em determinados itens, como a atribuição de
exclusividade. Ademais, a estrutura sindical atual é cômoda a muitos grupos,
especialmente a certas entidades patronais que se sobrepõem aos direitos
trabalhistas e às organizações de trabalhadores sem expressividade.
142

CAPÍTULO 4 PROTEÇÃO CONTRA ATOS E CONDUTAS


ANTISSINDICAIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO
BRASILEIRO E COMPARADO

4.1 Violações à liberdade sindical: aspectos gerais

A liberdade sindical reconhecida como um direito humano fundamental


deve ser garantida em qualquer Estado democrático mediante instrumentos
eficazes de proteção em face dos denominados atos antissindicais. Nesse
sentido, Walküre Lopes Ribeiro da Silva leciona:

Tratando-se de direito de natureza fundamental, seu exercício deve ser


assegurado por meios enérgicos, para que não seja direito existente
apenas em caráter formal, devendo ser protegido para que o regime de
sua fundamentalidade seja material, tal qual um direito deste quilate
pede. [...] O ato antissindical é aquele que vem desafiar o exercício da
1
liberdade sindical em suas mais variadas formas.

Para Gino Giugni, “a mera existência da norma jurídica não é ainda, de


fato, elemento suficiente para adequar a ela o dano real. Se isto é verdadeiro em
geral, para o direito sindical o é particularmente enquanto regula relações
fortemente conflituais”. Por isso, demanda a presença de instrumentos eficazes e
garantidores da liberdade sindical, pois a previsão de certas violações no tipo
penal é uma medida insuficiente, uma vez que o empregador, detentor dos meios
de produção e organizador de toda a estrutura empresarial, poderá utilizar sua
força para evitar (ser um obstáculo) a aplicação legal pró-trabalhador. Os
prejuízos serão intensificados se a entidade sindical representativa dos
trabalhadores não atuar de forma diligente.2

1
SILVA, Walküre Lopes Ribeiro da; LIMA, Firmino Alves. Repressão penal dos atos
antissindicais. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Campinas, n. 37,
p. 67-84, 2010. p. 70-71.
2
GIUGNI, Gino; CURZIO, P.; GIROFALO, M. G. Direito Sindical. Trad. Eiko Lucia Itioka. Rev. José
Francisco Siqueira Neto. São Paulo: LTr, 1991. p. 87.
143

A liberdade sindical pode ser atacada por incontáveis ofensas, as quais


podem manifestar-se por meio de atos de extrema violência. O Comitê de
Liberdade Sindical verificou, especialmente a partir de meados da década de
1990, o melhoramento das condições sindicais na América Latina. Doravante,
observou-se a elevação do respeito aos direitos humanos, civis e políticos. Por
outro lado, a violência antissindical aperfeiçoou-se e sua identificação nas
relações trabalhistas foi dificultada, diversamente das manifestações ocorridas no
passado. Antes, tolerava-se a antissindicalidade, por vezes, consequente da
atividade estatal; hoje, a violência é diagnosticada, inclusive em face do Estado e
atinge entidades sindicais, bem como as demais instituições e grupos sociais.3

Por isso, garantir a liberdade sindical não é uma medida


exclusivamente reparatória dos atos considerados atentatórios, outrossim, importa
no estabelecimento de instrumentos preventivos.4

Os mecanismos protetivos de liberdade sindical e as suas violações


diversificam-se de acordo com o país e o sistema legal vigente, assim como pelo
modelo de organização sindical adotado. Sendo assim, convém realizar o
esclarecimento acerca de alguns dos institutos recorridos veementemente.

De acordo com Luciano Martinez, a antissindicalidade e o


antissindicalismo, apesar de receberem designação similar, são termos distintos. O
primeiro termo consiste na ofensividade em relação à organização ou à ação
sindical, conquanto advinda de uma “atuação isolada ou de uma atividade
concertada com fins especificadamente definidos”. Já o segundo vocábulo denota a

Para José Francisco Siqueira Neto, as disparidades nas relações trabalhistas, principalmente
quanto à classe empregadora e ao poder que exerce sobre os trabalhadores. Igualmente, enfatiza
a indispensabilidade de corrigir tais distorções, para tanto, primeiramente, há que se constatar as
desigualdades dessa conjuntura, sejam aquelas de ordem social, econômica, política, jurídica e,
em especial o reconhecimento do conflito entre os atores sociais, pois a “negação do conflito leva,
inexoravelmente, a saídas autoritárias e à imposição da vontade de uma parte - na maioria das
vezes os empregadores - sobre a outra. Posteriormente, defende-se a liberdade sindical e a
representação dos trabalhadores por local de trabalho como instrumento corretivo às discrepâncias
elencadas, desde que haja ambiente favorável ao diálogo e confronto positivo entre os
interessados. In: SIQUEIRA NETO, José Francisco. Liberdade sindical e representação dos
trabalhadores nos locais de trabalho no Brasil: obstáculos e desafios. In: PEREIRA, Armand F.
(Org.). Reforma sindical e negociação coletiva. Brasília: OIT, 2001. p. 81-82.
3
BRONSTEIN, Arturo S. In: ERMIDA URIARTE, Oscar; OJEDA AVILÉS, Antonio. (Coord.) El
derecho sindical em america latina. Montevideo: Fundación de Cultura Universitaria,
1995. p. 88.
4
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Liberdade sindical: condutas antissindicais e atuação do
Ministério Público do Trabalho. Revista Justiça do Trabalho, Porto Alegre, v.30, n.358, p.7-18,
out. 2013. p. 17.
144

propositura de entraves ao sindicalismo “como um movimento que dá suporte à


ação social, reivindicatória ou política” de realização dos organismos sindicais. O
autor informa que existe a “antissindicalidade lato sensu”, a qual se bifurca em
“antissindicalidade stricto sensu” (formada por atos antissindicais simples) e
“antissindicalismo” (caracterizada por atos complexos).5

A antissindicalidade apresenta-se de forma ostensiva quando se


coloca de maneira intolerante e sob proibições, tal como a Lei Le Chapelier.
Outrossim, a aludida violação poderá repercutir por intermédio de controle direto
(característica de regimes totalitários), pelo qual o ente estatal contorna os
conflitos sindicais intencionando a sua minimização e, por conseqüência
conduzi-lo à extinção, tal qual as ocorrências espanholas no período franquista.
Não se pode olvidar da antissindicalidade exercida por controle externo, cuja
execução transcorre mediante instrumentos fraudulentos e clandestinos, como a
normatização coletiva benéfica exclusivamente aos associados.6

O praticante da antissindicalidade é aquele que por meio de:

[...] ação ou omissão, independentemente da constatação de culpa,


violar direitos de liberdade sindical. A culpa ou o dolo qualificará,
evidentemente, o ilícito civil-trabalhista aqui em análise. [...] a
caracterização de uma conduta como antissindical dependerá
fundamentalmente da natureza da lesão que afete o sujeito sindical. Diz-
se isso porque somente as condutas geradoras de lesões antijurídicas
[...] poderão ser entendidas como suficientes à caracterização da
7
antissindicalidade.

A configuração da subjetividade dos atos antissindicais não se faz


necessária para a verificação da violação da liberdade sindical, isto é, não importa
a intencionalidade do agente. Sendo assim, estará caracterizada a ofensa de
procedência direta ou indireta. Desse modo, reflete uma ação comportamental
ativa ou omissiva “por parte do empregador ou de outros grupos interessados na
relação, que venham a destruir, mitigar ou tornar sem efeito a liberdade sindical
em suas diversas formas de expressão”.8

5
MARTINEZ, Luciano. Condutas antissindicais. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 168-169.
6
Ibid., p. 172-180.
7
Ibid., p. 216-217.
8
SILVA, Walküre Lopes Ribeiro da; LIMA, Firmino Alves, op. cit., p. 75-76.
145

No magistério de Oscar Ermida Uriarte:

[...] alguns dos atos antissindicais derivam de legislação ou atos estatais


ou ainda de climas políticos que impedem ou limitam a liberdade sindical,
direta ou indiretamente. Outros são produtos de práticas desleais, de
atos de ingerência ou de discriminação no emprego. Conseqüentemente,
a proteção contra atos ou práticas anti-sindicais, inclui toda medida
tendente a evitar reparar ou sancionar qualquer ato que prejudique
indevidamente o trabalhador ou as organizações sindicais no exercício
da atividade sindical ou a causa desta ou que lhes negue
injustificadamente as facilidades ou prerrogativas necessárias para o
9
normal desenvolvimento da ação coletiva.

Desse modo, a expressão “conduta antissindical”, muitas vezes


disposta nos ordenamentos jurídicos, possui significado amplo, uma vez que
compreende o foro sindical (empregado em países latinos como Venezuela e
Colômbia) e as práticas desleais de origem norte-americana. Inicialmente, o foro
sindical consistia apenas no sistema protetivo do dirigente sindical, em seguida,
estendeu-se o conceito a qualquer trabalhador que desempenhasse atividades
sindicais.10

O foro sindical e as práticas desleais utilizados como meio de combate


às violações da liberdade sindical agrupam medidas com o almejo de prevenção,
reparação ou sanção que possam lesionar a classe trabalhadora, assim como as
entidades representativas, favorecendo a atuação sindical e coletiva. Mas, em
decorrência da escassez de legislação brasileira apropriada nesse sentido, a
negociação coletiva tem se mostrado instrumento de elevada importância. Para
tanto, há que se valorizar a representação no local de trabalho preceituada pelo
art. 11 da Constituição Federal brasileira, já que beneficia tanto os empregados
quanto os sindicatos, dificultando, por exemplo, o assédio moral e sexual, tal
como diversas práticas antissindicais.11

Já as práticas desleais provenientes da Lei Wagner (1935, Estados


Unidos) dizem respeito ao comportamento dos empregadores relacionado à

9
ERMIDA URIARTE, Oscar. A proteção contra os atos anti-sindicais. Trad. Irany Ferrari. São
Paulo: LTr, 1989. p. 17.
10
BARROS, Alice Monteiro de. Condutas anti-sindicais - procedimento. Revista do Tribunal
Regional do Trabalho da 3ª Região, Belo Horizonte, n. 59, p. 29-44, jan./jun. 1999. p. 29.
11
PEREIRA, Ricardo Jose Macedo de Britto. Novas perspectivas do direito coletivo do trabalho no
Brasil. In: SANTOS, Élisson Miessa; CORREIA, Henrique. Estudos aprofundados MPT:
Ministério Público do Trabalho. Salvador: JusPODIVM, 2012. p. 421-423.
146

interferência na entidade sindical de trabalhadores, no emperramento de direitos


sindicais e na recusa ao firmamento de negociações. Em junho de 1947, o
Congresso estadunidense aprovou a Lei Taft-Hartley, que acrescentou as
organizações sindicais de empregados ao rol de entidades praticantes de atos
desleais.12

Frequentemente, utilizam-se coações de ordem física e econômica, que


se externam, por exemplo, em decorrência de ameaças para que o trabalhador
abandone os movimentos paredistas ou pelo oferecimento de vantagens
financeiras.13

No que diz respeito à discriminação, apresenta-se sob a ótica direta,


indireta e oculta. O ato discriminatório direto reside no procedimento díspar
estabelecido a partir de razões proibidas, já a discriminação indireta assenta-se
em normas neutras com prejuízo a determinado grupo, enquanto a sua face
oculta é caracterizada pela intenção direta sobreposta por outras justificativas.14

Nesse diapasão, ao empregador é defesa a utilização de meios


discriminatórios em qualquer fase da relação contratual trabalhista. Assim, não se
pode inserir empecilhos na contratação, dispensa, pagamento da remuneração e
de vantagens sociais a quaisquer indivíduos com atuação sindical, seja diretor,
representante ou militante.15

Tradicionalmente, Mauricio Godinho Delgado explica a violação à


liberdade sindical a partir de dois sistemas, quais sejam as cláusulas de
segurança e as práticas antissindicais. As primeiras elencam hipóteses
incentivadoras à sindicalização; mas, são verdadeiros artifícios que forçam o
trabalhador a se filiar. Nesse sistema, estão inclusas as afamadas cláusulas:
close shop, union shop, preferencial shop e a maintenance of membership.16

No que tange às práticas antissindicais, exercem papel diametralmente


oposto, isto é, desestimulam a sindicalização e, por consequência, impulsionam o

12
BARROS, Alice Monteiro de (1999), op. cit., p. 30.
13
MENEZES, Cláudio Armando Couce de. Proteção contra condutas anti-sindicais (atos anti-
sindicais, controle contra discriminação e procedimentos anti-sindicais). Revista do Tribunal
Superior do Trabalho, Brasília, vol. 71, n. 2, p. 44-55, maio/ago. 2005. p. 46.
14
ARAUJO, Adriane Reis de. A liberdade sindical e os atos anti-sindicais no direito brasileiro.
Revista do Ministério Público do Trabalho, Brasília, ano XVI, n. 32, p. 29-48, out. 2006. p. 37.
15
MENEZES, Cláudio Armando Couce de, op. cit., p. 47.
16
DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 12.ed. São Paulo: LTr, 2013. p. 1344.
147

enfraquecimento das organizações sindicais, sendo as mais conhecidas: yellow


dog contracts, company unions e mise à l’index. Sendo assim, ambos os modelos
conduzem ao desrespeito da livre sindicalização.17

4.1.1 Mecanismos protetivos

No que tange aos instrumentos de defesa da liberdade sindical,


normalmente, os Estados a tutelam por meio da esfera administrativa, cível-
trabalhista e penal. Na primeira hipótese, os atos antissindicais são atacados por
intermédio de métodos não judiciais, como ocorre nos Estados Unidos, onde,
inicialmente, instaura-se um procedimento administrativo. Quanto à segunda
hipótese, cita-se a título exemplificativo a Espanha, cuja legislação prevê a
interposição do recurso de amparo pelo indivíduo lesionado. No que diz respeito à
proteção penal, a tipificação ocorre em diversos ordenamentos com o intento de
constringir o empregador a obedecer ao supracitado direito.18

Os mecanismos de proteção estão presentes em todas as fases de


exteriorização da liberdade sindical, assim, são encontrados desde a constituição
do sindicato, tal qual no decorrer do exercício das funções de direção ou
representação da entidade. Dessa maneira, sob a perspectiva individual o
empregado estará protegido do registro da candidatura (anterior ao exercício) até
um ano após o término do mandato do cargo sindical (posterior às atividades),
enquanto o restante da classe obreira está amparado pela liberdade sindical
positiva e negativa, isto é, o direito de se filiar ou se desfiliar de uma
organização.19

Evidentemente, o sistema protetivo não se resume ao mero


abarcamento do direito de filiação e desfiliação às entidades sindicais, mas estão
embutidas todas as hipóteses que estejam relacionadas, direta ou indiretamente,
como a garantia do exercício de greve.

17
DELGADO, Mauricio Godinho, op. cit., p. 1345.
18
SILVA, Walküre Lopes Ribeiro da; LIMA, Firmino Alves, op. cit., 76-78.
19
ARAUJO, Adriane Reis de, op. cit., p. 39.
148

Alice Monteiro de Barros alerta para a antissindicalidade ocorrida na


fase pré-contratual, tratando-a como o tipo mais temerário e pérfido, pois o
empregador declina à contratação em decorrência do engajamento sindical e,
especialmente devido à filiação. A ausência de mecanismos de proteção
demonstra a complexidade para a aferição de provas da conduta prejudicial, por
vezes, ocultada por manobras “aparentemente lícitas”, visto que a contratação de
um trabalhador “manifesta-se dentro de um contexto discricionário, capaz de
conduzir a uma vertente psicológica e subjetiva de difícil controle, colocando o
empregador em posição inicialmente vantajosa”.20

Isso significa que, em dadas circunstâncias, dificilmente haverá a


comprovação da conduta nociva do empregador, devido aos subterfúgios
utilizados para negar a admissão do militante sindical, exceto quando a
violação seja explícita, tal como ocorreu no estado de Minas Gerais, onde
determinada empresa foi condena pela Justiça Trabalhista21 em danos morais
coletivos pela prática de conduta antissindical. O ato ofensivo consistia na
exigência do futuro trabalhador de firmar declaração, no momento da
contratação, de que não integrava qualquer diretoria, conselho sindical ou
associação de qualquer natureza.

Nessa linha, o TST possui Orientação Jurisprudencial n. 20 da SDC, a


qual indica violação do art. 8º, V, da CF (direito de filiação e desfiliação), a
normatização coletiva que incute na admissão de trabalhador sindicalizado em
detrimento de outros não filiados.

Por isso, há que se garantir a liberdade sindical por intermédio de


ações preventivas, reparatórias e inibitórias. A tutela de prevenção consiste em
atos cuja execução depende de comunicação ou autorização, assim como de
agentes fiscalizadores de órgãos judiciários, administrativos ou sindicais. Já a

20
BARROS, Alice Monteiro de (199), op. cit., p. 33.
21
[...] CONDUTA ANTISSINDICAL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL COLETIVO.
POSSIBILIDADE. A egrégia Corte Regional consignou que a ré, ao contratar seus empregados,
exigia que eles firmassem um termo declarando não fazerem parte de diretoria ou organização
sindical. Concluiu, então, que tal conduta se caracterizava como antissindical, porquanto tinha o
condão de afastar os empregados dos órgãos representativos da categoria profissional
correspondente, afrontando, assim, o princípio da liberdade sindical. Nesse passo, condenou a ré ao
pagamento de dano moral coletivo, no montante de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), reversíveis
ao FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador. [...] (TST, RR - 51500-08.2005.5.03.0007 , Relator
Ministro: Guilherme Augusto Caputo Bastos, Data de Julgamento: 24/11/2010, 2ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 17/12/2010)
149

reparação decorre da atuação após a violação da liberdade sindical, geralmente,


por meio da determinação de nulidade do ato, bem como pelas consequências
indenizatórias. O mecanismo inibitório efetiva-se depois do ato antissindical e
objetiva sua sustação, “melhor do que o pagamento de qualquer quantia para o
ressarcimento do prejuízo com o desrespeito ao direito fundamental da liberdade
sindical é a célere anulação de seus efeitos”.22

Ressalta-se a suspensão do ato antissindical como medida eminente


de evitar a propagação dos seus efeitos danosos. Ademais, destaca-se a
utilização de procedimentos processuais específicos como a inversão do ônus
probatório, haja vista a simples propensão do empregador à formação do conjunto
de provas e a complexidade do trabalhador e da organização sindical obreira.23

Costumeiramente, acentua-se a proteção doméstica e internacional


contra os atos antissindicais violadores da dignidade dos indivíduos inseridos na
típica relação de trabalho. Entretanto, olvida-se dos atores sociais não
pertencentes ao mercado formal, fato que os impossibilita de exercer direitos
sindicais básicos. Propugna-se uma releitura desse cenário, para que esses
trabalhadores tenham garantida sua dignidade, apesar da disposição na
informalidade, assim como em situação de desemprego. Caso contrário, o
Estado poderá ser responsabilizado pela prática de antissindicalidade, já que
“limita a preservação das liberdades sindicais e a proteção contra a prática de
atos anti-sindicais apenas para os que se encontram vinculados por um elo de
subordinação”.24

O direito à liberdade sindical deve ser protegido em todas as suas


manifestações, em especial pela ação estatal para impedir a disseminação de
atos antissindicais. De outro modo, há que prevalecer o desempenho exemplar
das organizações sindicais com o propósito de impulsionar a defesa das
prerrogativas das ações sindicais, seja por intermédio da divulgação e

22
ARAUJO, Adriane Reis de, op. cit., p. 39-40.
23
Ibid., p. 41-42.
24
VASCONCELOS FILHO, Oton de Albuquerque. Liberdades sindicais e atos anti-sindicais.
São Paulo: LTr, 2008. p. 72.
150

internacionalização dos ataques ao aludido direito e, igualmente, pelas queixas ao


Comitê de Liberdade Sindical da OIT.25

4.1.2 Normatização internacional dos atos antissindicais

No âmbito internacional, a proteção contra as violações do direito de


liberdade sindical é respalda pelas Convenções n. 87 (Liberdade Sindical e
Proteção ao Direito de Sindicalização), n. 98 (Direito de Sindicalização e de
Negociação Coletiva), n. 135 (Proteção de Representantes de Trabalhadores) e
n. 151 (Direito de Sindicalização e Relações de Trabalho na Administração
Pública), cujos principais dispositivos foram apresentados no decorrer do
trabalho.
Dentre as mencionadas Convenções, cumpre ressaltar o diploma n. 98,
a qual apresenta caracteres dos atos antissindicais a partir de duas perspectivas
jurídicas de variada origem, qual seja a tradição romano-germânica, quando faz
uso da terminologia “discriminação” que advém do foro sindical, que consiste na
proteção obreira voltada à liberdade sindical individual. A segunda tradição é a
consutuedinária do common law, peculiarmente caracterizada pela interferência
na livre organização sindical, atrela-se às práticas desleais26 e dizem respeito à
liberdade sindical coletiva.

Ademais, sua temática versa de forma geral, principalmente para não


interferir na sistemática do ordenamento jurídico de cada Estado, tal como pela
possibilidade de abarcar o maior número de situações. Assim, a legislação
nacional deve proteger a liberdade sindical além pactuação e da ruptura do
vínculo de emprego, há de se considerar também o decurso do contrato de

25
NICOLADELI, Sandro Lunard. A natureza jurídica da liberdade sindical e sua normatividade
internacional. In: NICOLADELI, Sandro Lunard; PASSOS, André Franco de Oliveira;
FRIEDRICH, Tatyana Scheila. O direito coletivo, a liberdade sindical e as normas
internacionais. São Paulo: LTr, 2013. v. I. p. 48.
SILVA, Walküre Lopes Ribeiro da; LIMA, Firmino Alves, op. cit., p. 71-72.
26
151

trabalho e os atos que possam acometê-lo, como a transferência e o


rebaixamento do trabalhador.27

No que tange às discriminações antissindicais, conquanto tratem


perfunctoriamente, não se pode olvidar das Convenções n. 111(Discriminação em
Matéria de Emprego e Ocupação), n. 141 (Organizações de Trabalhadores
Rurais), n. 154 (Fomento à Negociação Coletiva) e n. 158 (Término da Relação
de Trabalho por Iniciativa do Empregador).

A Convenção n. 111 foi aprovada na 42ª reunião da Conferência


Internacional do Trabalho em 1958 e ratificada pelo Brasil em 26 de novembro de
1965. Apesar de não tratar diretamente da antissindicalidade, o diploma
internacional considera que a discriminação viola os direitos previstos na
Declaração Universal dos Direitos Humanos, a qual preceitua a liberdade sindical.

Ademais, conjuga a liberdade e a dignidade dispostas na Declaração


de Filadélfia e se alinha com a Recomendação n. 111 da OIT, cuja alínea “f” do
art. 2º prevê o dever de todo Estado-membro formular uma política nacional que
impeça a discriminação em emprego e ocupação, particularmente, em
observância de “organizações de empregadores e de trabalhadores não deveriam
praticar ou tolerar que se praticasse a discriminação com relação à admissão de
associados, à manutenção da filiação ou à participação em suas atividades”.

Quanto à Convenção n. 141, aprovada pela 60ª reunião da Conferência


Internacional do Trabalho em 1975 e ratificada pelo ordenamento brasileiro em 27
de setembro de 1994; no preâmbulo, o texto convencional atenta para a
importância das Convenções n. 11, 87 e 98, as quais são aplicáveis também aos
trabalhadores rurais, especialmente no que tange à liberdade de constituir
organizações livres e independentes. No item 2 do art. 3º, alerta para o respeito
dos princípios de liberdade sindical, assim como pela proibição de ingerência,
coerção ou repressão nas entidades sindicais rurais. Já no art. 5º, assevera que
tais instituições não poderão sofrer discriminações de ordem legislativa ou
administrativa.

27
KAUFMANN, Marcus de Oliveira. A anti-sindicalidade e o anteprojeto de lei de relações sindicais.
Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, vol. 71, n. 2, p. 188-229, maio/ago. 2005. p. 191.
152

No que concerne à Convenção n. 154, aprovada na 67ª reunião da


Conferência Internacional do Trabalho em 1981 e ratificada em 10 de julho de
1992, visualiza-se a promoção de especial instrumento de efetivação da liberdade
sindical, qual seja a negociação coletiva. Além disso, propugna-se a eminência
das Convenções n. 87 e 98, bem como de outras recomendações da OIT. A
redação do art. 2º dita os fins do referido mecanismo, os quais se destacam: “a)
fixar as condições de trabalho e emprego; ou b) regular as relações entre
empregadores e trabalhadores; ou c) regular as relações entre os empregadores
ou suas organizações e uma ou várias organizações de trabalhadores, ou
alcançar todos estes objetivos de uma só vez”.

Por fim, a Convenção n. 158, aprovada na 68ª reunião da Conferência


Internacional do Trabalho em 1982, ratificada em 05 de janeiro de 1995 e
denunciada pelo Governo brasileiro em 20 de dezembro de 1996. No diploma,
ressalta-se o art. 5º, o qual apresenta algumas circunstâncias que não constituem
causa justificada para o fim da relação empregatícia pelo empregador, como “a) a
filiação a um sindicato ou a participação em atividades sindicais fora das horas de
trabalho ou, com o consentimento do empregador, durante as horas de trabalho”
e “b) ser candidato a representante dos trabalhadores ou atuar ou ter atuado
nessa qualidade”.

4.2 Sistema brasileiro de proteção contra atos e condutas antissindicais

No que concerne à antissindicalidade no Brasil, cumpre aduzir sua


propagação em quatro fases. A primeira fase denominada de “resistência”
transcorreu do fim do regime escravocrata até 1934 e ambicionou o impedimento
de movimentos revoltosos de trabalhadores, cujos óbices derivaram da ação
legiferante propensa a “entorpecer e domesticar” as manifestações contrárias. Em
seguida, a segunda etapa assinalada como de “controle”, perdurou de 1934 a
153

1945, na qual se observou o domínio estatal sobre as organizações sindicais,


ainda que marcante a resistência dos organismos sindicais.28

De 1945 a 1988, sobreveio a fase centrada na “competição”, período


em que o movimento sindical teve seu comando disputado por várias correntes
políticas. Ademais, o Estado ainda se manifestava por força da legislação
corporativista. Na quarta fase, cuja marca é a “contemporização”, a etapa inicia-se
a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988. A despeito da
continuidade dos instrumentos de cunho controlador, como a unicidade e a
contribuição compulsória, destacou-se a atuação estatal pela não ingerência nas
entidades sindicais.29

O ordenamento jurídico brasileiro não dispõe de legislação específica


contra atos e condutas antissindicais. O protecionismo decorre de dispositivos
esparsos na Constituição Federal, nos Atos das Disposições Constitucionais
Transitórias e da Consolidação das Leis do Trabalho, bem como do arcabouço de
Precedentes do Tribunal Superior do Trabalho. Tais regramentos assemelham-se
ao foro sindical expandido, uma vez que prevê, especialmente, a proteção dos
dirigentes e representantes sindicais e, por consequência, os demais indivíduos na
fruição dos direitos relacionados à liberdade sindical.

Primeiramente, identifica-se no art. 8º, I, da CF a impossibilidade de


autorização para a constituição de organizações de trabalhadores ou
empregadores, tal qual a proibição de quaisquer interferências do Poder Público.
De acordo com Cláudio A. C. de Menezes30, “em suma, todo procedimento que
vise à dominação, ao controle ou à interferência nas organizações obreiras é
visto como indevido e ilícito.” No inciso V do mesmo dispositivo, encontra-se a
proteção acerca da livre filiação e desfiliação, o qual deve ser combinado ao art.
543, § 6º da CLT, que proíbe a empresa de impedir o empregado de se associar
a sindicato, organizar associação profissional ou sindical, bem como o exercício
das atividades inerentes a qualquer ente sindicalizado, sob pena de ser punida.

A proteção à liberdade de fundação de sindicatos é contemplada na


maioria dos ordenamentos latino-americanos e faz parte do denominado fuero

28
MARTINEZ, Luciano, op. cit., p. 181-182.
29
Ibid., p. 183-184.
30
MENEZES, Claudio Armando Couce de, op. cit., p. 47.
154

sindical (foro sindical), com destaque para a inamovibilidade dos fundadores


enquanto perdurar as etapas fundacionais. O sistema protetivo concedido pelo
foro sindical não é circunscrito exclusivamente aos dirigentes ou representantes
sindicais. Na Colômbia, Paraguai, Peru e República Dominicana, por exemplo, há
a salvaguarda dos negociadores de contratos coletivos e, no Brasil, dos membros
da CIPA31 (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes).32 No que se refere ao
cipeiro no Brasil, o art. 165 da CLT considera como arbitrária a dispensa não
baseada em razões disciplinares, técnicas, econômicas ou financeiras, sob pena
de reintegração do empregado dispensado.

Nesse contexto, o art. 8º, VIII da CF e o art. 543, § 3º da CLT


prevêem a garantia de emprego do diretor ou representante sindical33 durante o
exercício da função de três anos e, complementarmente desde o registro da
candidatura e um ano após o término do mandato. Nesses termos, a CLT
garante por meio do art. 659, X, no caso de propositura de reclamação
trabalhista visando à reintegração do dirigente afastado, suspenso ou
dispensado pelo empregador, a concessão de liminar até o resultado do mérito
da demanda.

Segundo entendimento doutrinário, a garantia de emprego durante o


exercício sindical não é medida suficiente para impedir a antissindicalidade, por
isso, diversas legislações nacionais na América Latina, optam pelo elastecimento
protetivo para antes e depois do mandato, uma vez que “han cesado em sus
cargos de temer que la dirección de la empresa ceda a la tentación de ‘arreglar
cuentas’ com los dirigentes o delgados que hayan mostrado más dinamismo o
intransigencia”.34 Todavia, a súmula n. 369, II do TST limita a estabilidade

31
Ato das disposições constitucionais transitórias. “Art. 10. [...] II - fica vedada a dispensa arbitrária
ou sem justa causa: a) do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de
prevenção de acidentes, desde o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu
mandato”.
TST- Súm. n. 339. “[...] II - A estabilidade provisória do cipeiro não constitui vantagem pessoal,
mas garantia para as atividades dos membros da CIPA, que somente tem razão de ser quando
em atividade a empresa. Extinto o estabelecimento, não se verifica a despedida arbitrária, sendo
impossível a reintegração e indevida a indenização do período estabilitário”.
32
BRONSTEIN, op. cit., p. 95; 99.
33
Precedente normativo n. 83 do TST: “Assegura-se a frequência livre dos dirigentes sindicais
para participarem de assembléias e reuniões sindicais devidamente convocadas e comprovadas,
sem ônus para o empregador”.
34
BRONSTEIN, op. cit., p. 102.
155

provisória para apenas sete dirigentes sindicais e igualmente para o contingente


de suplentes.

A limitação numérica dos sindicalistas contemplados pela garantia


de emprego é veementemente defendida pela classe patronal, a qual sustenta
tratar-se de um instrumento utilizado para beneficiar trabalhadores de pouca
eficiência e indisciplinados. Por sua vez, os trabalhadores rechaçam tal
colocação e explicam que a proteção para números reduzidos é insuficiente,
pois os demais (sem garantia) permanecem sob o risco de represálias. Para
tanto, propugna-se que a escolha do número dos sindicalistas protegidos não
seja auferida com base na quantidade de membros pertencentes à entidade ou
ao total de trabalhadores na empresa.35

A análise dos atos antissindicais a partir do empresariado tradicional


demonstra o interesse da classe patronal pela manutenção da estrutura atual, a
qual é mantida pelo apogeu do capital e do trabalho alheio como ferramenta para
auferir lucratividade. Por isso, a atuação sindical capaz de alterar o cenário e
constituir o mínimo de dignidade, por vezes, é posta em xeque pelos grupos
econômicos.36

Ainda na seara constitucional, há de se mencionar o art. 11, segundo o


qual se permite a eleição de representante dos trabalhadores nas empresas acima
de duzentos empregados para intermediar o diálogo entre a classe patronal e de
empregados. Entretanto, o representante eleito não usufrui da garantia de emprego
assemelhada ao dirigente sindical, o que acarreta a pouca expressividade da
representação nos locais de trabalho diante da iminência de retaliações de
empregadores.

Mas, conforme acentua Alice Monteiro de Barros, o Brasil ratificou a


Convenção n. 135 da OIT, que garante o emprego e autoriza a reintegração em
decorrência de dispensa sem justa causa. A autora explica que há necessidade
de regulamentação do prazo de “estabilidade” empregatícia transitória, da

35
BRONSTEIN, op. cit., p. 100.
36
VASCONCELOS FILHO, Oton de Albuquerque, op. cit., p. 87.
156

extensão ao suplente e da imprescindibilidade de inquérito para apuração de falta


grave, seja por meio ordinário ou pela normatização coletiva.37

Evidentemente, até que ocorra o disciplinamento legal sobre tais


circunstâncias, os trabalhadores não poderão ser prejudicados. Assim,
clamando pelo princípio protetivo, caberia a interpretação favorável e,
consequentemente, a aplicabilidade analógica da garantia de emprego do
dirigente ao representante local. Ademais, a ratificação de um documento
internacional não autoriza a aplicabilidade somente dos dispositivos favoráveis
aos interesses internos do país, por isso, o ato de ratificar é um chancela ao
conteúdo disposto, sem mitigá-lo.

Acentua-se no diploma celetista, o art. 614, § 2º, o qual versa sobre o


dever dos sindicatos de afixarem38 em local visível da empresa, as cópias
autênticas das convenções ou acordos coletivos firmados. Aparentemente, o
descumprimento desse múnus não demonstra qualquer ato antissindical, porém,
aqueles empregados não participantes do cotidiano sindical ficariam
desinformados acerca das benesses acordadas entres as respectivas entidades e,
em consequência, certos empregadores imbuídos de má-fé não lhes concederiam
os direitos ajustados nos instrumentos coletivos.

No art. 544 da CLT, verifica-se exemplo expresso de prática


discriminatória denominada preferencial shop, já que o dispositivo em comento
estabelece preferência de contratação para os indivíduos sindicalizados. Contudo,
o entendimento majoritário é pela não recepção do supracitado artigo pela
Constituição Federal de 1988.

Realizadas as ponderações no ordenamento constitucional e


trabalhista, é essencial a alusão à normatização penal a respeito do sistema
protetivo antissindical. O Código Penal brasileiro é parco concernente à temática,
tipifica no título IV os denominados “crimes contra a organização do trabalho”,
cujo art. 199 dispõe sobre o atentado à liberdade de associação, qual seja:

37
BARROS, Alice Monteiro de. Representante dos empregados no local de trabalho. Revista do
Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Belo Horizonte, n. 58, p. 179-188, jan./dez. 1998 p. 188.
38
Outrossim, cumpre observar: TST - Precedente normativo n. 104: Quadro de avisos (positivo).
Defere-se a afixação, na empresa, de quadro de avisos do sindicato, para comunicados de
interesse dos empregados, vedados os de conteúdo político-partidário ou ofensivo.
157

Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a participar


ou deixar de participar de determinado sindicato ou associação
profissional:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa, além da pena
correspondente à violência.

A disposição legislativa penal mostra-se incompleta, visto que tutela


apenas um aspecto da liberdade sindical. Além disso, protege a organização do
trabalho contra condutas criminosas, enquanto as liberdades trabalhistas e de
associação sindical ficam sem respaldo. Diante do cenário, observa-se a
inadequação apresentada pelo legislador, seja pela ausência de tipo para as
condutas antissindicais ou pela incongruência na tutela da organização do
trabalho, aquém dos preceitos de um Estado Democrático de Direito.39

Ante as observações, constata-se que o ordenamento jurídico


brasileiro não dispõe de um sistema de proteção contra atos e condutas
antissindicais dotado de coercitividade e de efeitos sancionátorios.
Evidentemente, tal existência poderia acarretar positivamente no desestímulo
às violações do direito de liberdade sindical.

O legislador constitucional e infraconstitucional trata a proteção


contra atos antissindicais com parcimônia. Desse modo, os atores sociais não
são capazes de se munirem com recursos suficientes para impedir e punir
exemplarmente as aludidas violações, o que reflete o elevado número de
queixas perante o Comitê de Liberdade Sindical.

4.2.1 Regramento do Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais

Diversamente do ordenamento contemporâneo, o Anteprojeto de Lei de


Relações Sindicais destina capítulo específico formado por cinco artigos para
prevenir e reprimir violações ao direito de liberdade sindical, segundo o qual,
considera-se conduta antissindical “todo e qualquer ato do empregador que tenha
por objetivo impedir ou limitar a liberdade ou a atividade sindical”.
39
SILVA, Walküre Lopes Ribeiro da; LIMA, Firmino Alves, op. cit., p. 81-82.
158

A redação do projeto mostra-se inovadora ao se desvencilhar do “restrito


método brasileiro de foro sindical”, substituindo-o pelo tratamento sistemático das
práticas antissindicais e de formas de combate. Nesse contexto, cita-se a proteção
além dos dirigentes sindicais, o sistema protetivo poderá beneficiar indivíduos não
sindicalizados, inclusive. Ademais, “se amolda aos costumes legais internacionais
(principalmente à Convenção n. 98 da OIT) quando da previsão de um moderno
sistema de combate”, em especial por apresentar um rol40 não taxativo de práticas
a serem combatidas.41

No art. 173 do Anteprojeto, conferem-se poderes ao magistrado


trabalhista para determinar a interrupção do ato ilegítimo e a eliminação dos seus
efeitos por parte do empregador violador da liberdade sindical (impedir ou limitar),
assim como outras atividades inerentes ao seu exercício e ao direito de greve. O
dispositivo não menciona o Estado como praticante de atos antissindicais, no
entanto, o ente estatal também compõe a figura quando se reveste da figura de
empregador e legislador.

Quanto aos legitimados à propositura da demanda, no art. 174


designa-se a organização com personalidade sindical (dentro do seu espaço de
representação), bem como o trabalhador que sofreu a conduta prejudicial. Já no
art. 176, concede-se ao juiz (mediante provocação) a faculdade de aplicar multa
punitiva em decorrência da configuração de conduta antissindical, a qual deverá
levar em consideração a três fatores: gravidade da infração, eventual
reincidência e capacidade econômica do infrator. Ademais, a penalidade
respeitará o valor de uma a quinhentas vezes o menor piso salarial no âmbito de

40
O Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais enumera as seguintes condutas: “Art. 175 [...] I -
subordinar a admissão ou a preservação do emprego à filiação ou não a uma entidade
sindical; II - subordinar a admissão ou a preservação do emprego ao desligamento de uma
entidade sindical; III - despedir ou discriminar trabalhador em razão de sua filiação a sindicato,
participação em greve, atuação em entidade sindical ou em representação dos trabalhadores
nos locais de trabalho; IV - conceder tratamento econômico de favorecimento com caráter
discriminatório em virtude de filiação ou atividade sindical; V - interferir nas organizações
sindicais de trabalhadores; VI - induzir o trabalhador a requerer sua exclusão de processo
instaurado por entidade sindical em defesa de direito individual; VII - contratar, fora dos limites
desta Lei, mão-de-obra com o objetivo de substituir trabalhadores em greve; VIII - contratar
trabalhadores em quantidade ou por período superior ao que for razoável para garantir,
durante a greve, a continuidade dos serviços mínimos nas atividades essenciais à comunidade
ou destinados a evitar danos a pessoas ou prejuízo irreparável ao próprio patrimônio ou de
terceiros; IX - constranger o trabalhador a comparecer ao trabalho com o objetivo de frustrar
ou dificultar o exercício do direito de greve; X - violar o dever de boa-fé na negociação
coletiva.”
41
KAUFMANN, Marcus de Oliveira, op. cit., p. 189; 204; 206.
159

representação da organização sindical, independente do pagamento de multa


coercitiva decorrente de obrigação de fazer ou não fazer.

No art. 177, destina-se tratamento isonômico para as entidades


sindicais de trabalhadores que praticarem antissindicalidade.42 Trata-se da
bilateralidade de combate aos atos antissindicais, pois demonstra que o status da
entidade sindical de trabalhadores não se limita a ser sujeito passivo, ou seja,
somente objeto de lesividade; outrossim, é visto como praticante de danos à
liberdade sindical individual positiva e negativa, bem como à liberdade sindical
coletiva ao atingir outras organizações. A bilateralização do projeto brasileiro é
considerada excesso de zelo, visto que, frequentemente, o empregador é o autor
da antissindicalidade, e não vítima. Na Argentina, por exemplo, o caráter bilateral
foi sobreposto pela unilateralidade, tal qual pressupõe o arcabouço protetivo da
legislação trabalhista latina.43

Antônio Rodrigues de Freitas Junior enfatiza a imperiosidade do


estabelecimento de um regramento legal das condutas antissindicais e ressalta:

Patenteia-se, por qualquer dos ângulos que se adote, a relevância e


certa urgência no refinamento dos mecanismos jurídicos disponíveis, no
Brasil, à coibição de condutas antissindicais. Até mesmo na remota
hipótese de se lograr uma revisão no sistema jurídico brasileiro [...]. E
assim para que o processo de acomodação à nova realidade não seja
44
estigmatizado pela ingerência de empregadores inescrupulosos.

Marcus de Oliveira Kaufmann explica que a defesa às práticas


antissindicais não está adstrita à reformulação do sistema atual por meio do
estabelecimento de um sindicalismo espontâneo e sem laços com o poder
estatal ou da implementação do pluralismo sindical com observância da
unidade. Complementarmente a isso, o ordenamento brasileiro não pode
submeter-se a um “sistema de foro sindical, que precisa ser teleologicamente

42
Segundo esse dispositivo, são cabíveis as providências judiciais visando a prevenção e
reparação, as organizações obreiras que: “I - induzir o empregador a admitir ou dispensar
alguém em razão de filiação ou não a uma entidade sindical; II - interferir nas organizações
sindicais de empregadores; III - violar o dever de boa-fé na negociação coletiva; IV - deflagrar
greve sem a prévia comunicação de que trata o art. 109 desta Lei”.
43
KAUFMANN, Marcus de Oliveira, op. cit., p. 209; 212.
44
FREITAS JÚNIOR, Antônio Rodrigues de. Novas perspectivas para o direito coletivo do trabalho
no Brasil(ou sobre a premência da disciplina legal da conduta antissindical). Revista do
Advogado, São Paulo, v.30, n.110, p.17-23, dez. 2010.p. 22-23.
160

interpretado para se tornar amplo, com previsões pontuais não concatenadas e


endereçadas, de forma dogmática e científica, diretamente ao combate” das
violações de liberdade sindical.45

A despeito do caráter inovador do projeto, o verbete n. 818 do Comitê


de Liberdade Sindical informa que as normas existentes nos ordenamentos
domésticos, que proíbem a prática de atos antissindicais, são insuficientes caso
não estejam acompanhas de procedimentos que assegurem a proteção
eficazmente. Além disso, os meios de reparação devem ser rápidos, econômicos
e totalmente imparciais.46

4.3 Sistema protetivo contra atos e condutas antissindicais no direito


comparado

Diante da impossibilidade de cotejar inúmeros ordenamentos protetivos


no direito comparado, optou-se pelo cotejamento do sistema italiano e espanhol
em decorrência das contribuições legislativas e doutrinárias ao regramento
brasileiro, bem como o modelo chileno, argentino e paraguaio devido à
proximidade territorial e a inserção no Mercosul. Ademais, todos os países
nominados ratificaram as Convenções n. 87 e 98 da OIT, normas internacionais
fundamentais ao combate das práticas antissindicais.
A Lei italiana n. 300 de 20 de maio de 1970 dispõe sobre o Statuto dei
lavoratori (Estatuto dos trabalhadores), cujo art. 28 apresenta o procedimento
para a repressão do comportamento antissindical. O dispositivo mencionado
estabelece que as associações sindicais nacionais poderão recorrer ao juiz local
nos dois dias seguintes após o empregador praticar condutas que visem a
impedir ou limitar o exercício da liberdade sindical e das atividades

45
KAUFMANN, op. cit., p. 225.
46
OIT. La libertad sindical. Recopilación de decisiones del Comité de Libertad Sindical del
Consejo de Administración de la OIT. 5. ed. rev. Ginebra: Oficina Internacional del Trabajo,
2006. párrafos n. 820; 818. Nesse sentido observa-se o verbete n. 821: “Cuanto más se demora
en completar un procedimiento, más difícil Le resulta al órgano competente fi jar una
indemnización justa y adecuada, ya que la situación alegada ha cambiado a menudo de manera
irreversible, el personal ha sido trasladada, etc., de suerte que resulta imposible ordenar una
reparación adecuada o retornar a la situación anterior.”
161

correlacionadas, bem como o desrespeito ao direito de greve. Se o magistrado


verificar a infração, ordenará ao empregador o imediato cessamento da conduta
ilícita e a remoção dos seus efeitos.

No que tange ao interesse de agir dos sindicatos, majoritariamente há


a interpretação de forma ampla, a qual contempla a defesa de trabalhadores não
filiados ou aqueles ligados a outro sindicato. Ademais, entende-se que a ofensa
antissindical dirigida a um trabalhador é extensiva ao interesse geral de liberdade
sindical.47

Para obstar a atuação empresarial lesiva existem os instrumentos de


resolução de conflitos baseados na autotutela, contudo, mostram-se ineficientes
ante a força de algumas organizações sindicais. Por isso, o Estatuto dos
Trabalhadores não se limitou na determinação de respeitar os direitos sindicais, o
diploma impôs a respectiva sanção e a anulação das medidas indevidas de
acordo com o procedimento específico.48

No art. 28, não há a apresentação detalhada e específica dos


comportamentos antissindicais, o que favorece uma “noção de amplo espectro”.
Evidentemente, seria tarefa árdua a individualização de cada uma das possíveis
condutas de discriminação, particularmente dos hábitos empresariais.49 Por outro
lado, de acordo com Giancarlo Perone, a formulação normativa ampla comporta
problemas interpretativos significativos referentes à definição do seu âmbito de
aplicabilidade ou de individualização dos casos concretos atribuídos à conduta
antissindical. Isso ocorre porque nem todos os comportamentos antagonistas
podem ser qualificados juridicamente sob o enfoque violador. Sendo assim, é
preciso individualizar um critério discriminatório entre os comportamentos
meramente antagônicos daqueles ilegítimos.50

O procedimento do Estatuto é divido em: a) especialidade das regras


processuais; b) atuação do sindicato; c) instrumento sancionatório particular; d)
uso de técnica normativa particular para a identificação do caso juridicamente
relevante. No que diz respeito à especialidade, incute na aplicação de

47
LEVI, Alberto. A repressão da conduta anti-sindical na Itália. In: FREDIANI, Yone; ZAINAGHI,
Domingos Sávio (Coord.). Relações de direito coletivo brasil-itália. São Paulo: LTr, 2004. p. 197.
48
GIUGNI, Gino, op. cit., p. 87.
49
LEVI, Alberto. op. cit., p. 193.
50
PERONE, Giancarlo. Lo statuto dei lavoratori. Torino: Utet, 1997. p. 160.
162

regramento diferenciado para acelerar a tutela jurisdicional, visto que a


tempestividade é fundamental nas ocorrências sindicais. Quanto à participação
da organização sindical, reflete a dimensão coletiva dos conflitos industriais. Por
fim, os efeitos sancionatórios correspondem a uma espécie de coação indireta, a
qual obriga o violador a cumprir as determinações do magistrado, sob pena de
prisão ou pagamento de indenização, por exemplo.51

Consoante a doutrina e a jurisprudência itálica, para a aplicabilidade do


procedimento disposto no referido artigo (28), a conduta antissindical deverá ser
atual ou com efeitos atuais, isto é, não comporta atos predecessores.52

O legislador cercou-se por normas teleológicas, pois caracterizam “o


comportamento ilegítimo baseado em sua potencialidade para lesar os bens
protegidos e não em características estruturais”. Desse modo, insere-se em um
universo de maior amplitude, já que possibilita o tratamento de diversas
situações. Ademais, o comportamento antissindical é de natureza
“pluriofensiva”, pois a norma destinada a reparar ou prevenir a conduta pode
ser aplica em âmbito coletivo e individual. Isso significa que o trabalhador
poderá requerer a defesa dos seus interesses e de maneira concomitante, o
sindicato atuará sobre o mesmo ato. Em tal hipótese, há a violação da
liberdade sindical do indivíduo e do grupo ao qual pertence.53

Essa pluriofensividade se dá, por exemplo, no afastamento do dirigente


de representação sindical empresarial, distanciamento que incidirá
54
simultaneamente na entidade sindical e no trabalhador individual.

A relevância do art. 28 não se exaure somente no fato de ter


introduzido no sistema italiano de relações laborais, um modo de tutela
jurisdicional dos direitos e da liberdade sindical, mas também por ter elaborado
um procedimento com características próprias, concebido para reprimir de forma
eficaz a atividade antissindical.55

51
GIUGNI, Gino, op. cit. 89.
52
LEVI, Alberto, op. cit., p. 194.
53
GIUGNI, Gino, op. cit., p. 89-90.
54
LEVI, Alberto, op. cit., p. 194.
55
COLLA, Filippo; ROTONDI, Francesco. Il comportamento antisindacale. (aspetti sostanziali e
processuali). Milani: CEDAM, 2004. p. 56.
163

Na Espanha56, a repressão às violações de liberdade sindical é


amparada pela combinação do art. 15 da Lei Orgânica de Liberdade Sindical
(LOLS) com o art. 315 do Código Penal (CP).57 De acordo com tal normatização,
a decisão que reconhece a conduta antissindical determinará o seu imediato
cessamento, assim como a reparação pelos danos sofridos e o encaminhamento
ao Ministério Público para apuração de possíveis delitos. Ademais, a condenação
pode variar com a prisão de seis meses a três anos e multa.58

A LOLS articula-se em torno de dois núcleos básicos, quais sejam: a) a


introdução de procedimentos jurisdicionais especiais e o aparato sancionatório
peculiar; b) a caracterização do conjunto de condutas disfuncionais cuja
repressão se persegue por meio dos citados mecanismos. No que diz respeito
aos aspectos processuais, cita-se os instrumentos protetivos anteriores à edição
da referida legislação, cuja rigidez não supria as diversas formas que podem
adquirir as práticas antissindicais.59

A prática antissindical consiste em um crime comum, cujo bem jurídico


protegido é a liberdade sindical. Os principais autores são os empregadores, o
sindicato patronal, os entes da administração pública, a associação pública ou
privada, assim como qualquer pessoa. No setor privado, geralmente o praticante
do ato é o empresário em razão da oposição de interesses com relação aos
trabalhadores. Quanto às condutas praticadas no âmbito público, externam-se
pela proibição de atividades sindicais, concessão de privilégios a certas entidades

56
A partir da articulação dos artigos 13 e 15 da LOLS é possível extrair o seguinte conceito de
conduta antissindical: “[...] son caracterizadas como lesiones de la libertad sindical o
comportamientos lesivos de los derechos de libertad sindical, pues el rasgo a través del que el
legislador há decidido identificarlas es el de su idoneidad para lesionar o violar los derechos
tutelados. In: RAYMOND, Wilfredo Sanguineti. Lesion de la libertad sindical y
comportamientos antisindicales. Estúdio de la estructura y el contenido del juicio de
antisindicalidad. Madrid: Ministerio de Trabajo y Seguridade Social, 1993. p. 29.
57
LOLS: art. 15 - “Si el órgano judicial entendiese probada la violación del derecho de libertad
sindical decretará el cese inmediato del comportamiento antisindical, así como la reparación
consiguiente de sus consecuencias ilícitas, remitiendo las actuaciones al Ministerio Fiscal, a los
efectos de depuración de eventuales conductas delictivas.”
CP: art. 315 - “1. Serán castigados con las penas de prisión de seis meses a tres años y multa
de seis a doce meses los que mediante engaño o abuso de situación de necesidad, impidieren o
limitaren el ejercicio de la libertad sindical o el derecho de huelga. 2. Si las conductas reseñadas
en el apartado anterior se llevaren a cabo con fuerza, violencia o intimidación se impondrán las
penas superiores en grado. 3. Las mismas penas del apartado segundo se impondrán a los que,
actuando en grupo, o individualmente pero de acuerdo con otros, coaccionen a otras personas a
iniciar o continuar una huelga.”
58
BAYLOS, Antonio; TERRADILLOS, Juan. Derecho penal del trabajo. Madrid: Trotta, 1997. p. 142.
59
RAYMOND, Wilfredo Sanguineti. Op. cit., 20;24.
164

em detrimento a outras e atos prejudiciais ao exercício do direito de greve. Os


sujeitos passivos da violação podem ser todos, exceto os membros das Forças
Armadas, os Institutos Armados de caráter militar e os magistrados.60

No Chile, o regramento sindical fica a cargo do Código del Trabajo em


sete artigos do capítulo X, os quais prevêem a antissindicalidade e impõem
sanções. Em tal diploma destaca-se o art. 289, cujos principais atos praticados
pelo empregador atentatórios à liberdade sindical incorrem na tentativa de obstruir
a formação ou funcionamento das organizações sindicais de trabalhadores, bem
como a negativa injustificada de receber seus dirigentes, efetuar pressões por
meio de ameaças de perda de emprego ou benefícios e o fechamento da
empresa caso acordem a fundação de um sindicato.

O referido dispositivo também elenca: a negativa de informações


pertinentes aos dirigentes; a oferta ou outorga de benefícios especiais com o fim
exclusivo de desestimular a criação de sindicatos; ações que incentivem a não
filiação a entidades já formadas; a prática de atos de ingerência sindical; a
execução de discriminações entre trabalhadores com o objetivo de incentivar ou
desestimular a filiação ou desfiliação.

Ademais, o art. 290 apresenta as práticas desleais do trabalhador, das


organizações sindicais e do empregador no que se refere aos atos contrários à
liberdade sindical, as quais se destacam: o acordo com o empregador para a
execução das práticas desleais atentatórias previstas no art. 289 ou corrigir o
empregador a executar tais atos; a combinação com o empregador para
dispensar trabalhadores ou outra medida discriminatória por não ter efetuado o
pagamento de multas ou dívidas a um sindicato.

Na Argentina, a antissindicalidade é disciplinada pela Ley n. 23.551 de


1988 (Asociaciones Sindicales), a qual dedica três artigos ao denominado
sistema das práticas desleais. O art. 53 elenca como autores da deslealdade os
empregadores e as organizações sindicais que os representam, os quais não
podem, por exemplo: subvencionar direta ou indiretamente as organizações
sindicais de empregados; intervir na constituição, funcionamento ou
administração das entidades; obstruir ou dificultar a filiação dos trabalhadores;

60
BAYLOS, Antonio; TERRADILLOS, Juan. op. cit., 149-150.
165

promover ou patrocinar a filiação dos trabalhadores em determinada associação


sindical; adotar represálias contra os trabalhadores que participem das atividades
sindicais ou de terem acusado, testemunhado em procedimentos vinculados às
práticas desleais.

No art. 55, há como forma de sanção o pagamento de multas, e


quando a prática derivar das organizações patronais a penalidade será calculada
pelo juiz até o limite de 20% das receitas auferidas a partir das contribuições
pagas pelos membros no mês de ocorrência da infração.

No Paraguai, a Lei n. 213 de 1993 estabelece o Código del Trabajo e


apresenta um sistema protetivo baseado no fuero sindical. De acordo com o art.
318, usufruem de estabilidade sindical: a) onze membros titulares do conselho de
cada sindicato, identificados durante a eleição e se houver mais de um sindicato
de empresa, o mais representativo terá assegurada a proteção de sete dirigentes;
delegados do sindicato representativo; até três dirigentes sindicais ou
organizadores; até 4 negociadores de contrato coletivo e regulamento interno; e
os diretores dos sindicatos, federações e confederações.

Ressalta-se o rápido procedimento de reintegração do dirigente


afastado, segundo o art. 320, o magistrado determinará o retorno às funções no
prazo de quarenta e oito horas, bem como o restabelecimento das condições
modificadas. Assim, o afastamento do trabalhador estável ocorrerá somente em
decorrência da existência de justa causa.

Verifica-se que o modelo paraguaio é o que mais se aproxima da


realidade brasileira ao disciplinar o foro sindical, entretanto, a sistemática italiana
relaciona-se à disposição do Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais que
depende da aprovação da PEC n. 369/2005.

4.4 Comitê de Liberdade Sindical e análise de queixas

Em 1951, logo após a adoção das Convenções n. 87 e 98, o


Conselho de Administração da OIT instituiu o Comitê de Liberdade Sindical
(CLS). Trata-se de uma comissão tripartite permanente, formada por
166

representantes dos governos, empregadores e trabalhadores, cujo objetivo


primordial é a análise das queixas61 advindas de entidades sindicais patronais
ou de trabalhadores acerca das violações de liberdade sindical.
Inicialmente, a base para a investigação das reclamações sobre o
desrespeito ao dito princípio limitava-se aos artigos 24 a 34 da Constituição da
OIT. Entretanto, tais dispositivos não contemplavam a possibilidade de análise de
casos em que determinado Estado membro não tivesse ratificado qualquer das
mencionadas Convenções, assim:

Art. 24. Toda reclamação, dirigida à Repartição Internacional do


Trabalho, por uma organização profissional de empregados ou de
empregadores, e segundo a qual um dos Estados-Membros não tenha
assegurado satisfatoriamente a execução de uma convenção a que o
dito Estado haja aderido, poderá ser transmitida pelo Conselho de
Administração ao Governo em questão e este poderá ser convidado a
fazer, sobre a matéria, a declaração que julgar conveniente.

Diante da celeuma, criou-se um instrumento com efetividade plena com


a finalidade de proteger “verdaderamente la libertad sindical y su aplicación en la
práctica, era necesario crear un mecanismo adicional que abarcase también las
situaciones respecto de las cuales los convenios pertinentes no han sido
ratificados”.62

Desse modo, originou o Comitê de Liberdade Sindical, defensor do


direito de negociar conectado à liberdade sindical, assim como uma negociação
coletiva subordinada ao respeito da boa fé e confiança entre as partes
negociantes para alcançar o êxito.63

Consoante o verbete n. 2 do CLS, a criação do referido órgão


internacional tem o condão de melhorar as condições de trabalho e promover a
liberdade sindical nos Estados. Por isso, a temática tratada pela OIT nesse
sentido não interfere na autonomia dos países ou significa qualquer intervenção

61
Consoante Arnaldo Süssekind, “a expressão ‘queixa’ empregada no ato instituidor do Comitê
tem sentido genérico e alcança os procedimentos previstos nos arts. 24 a 34 da Constituição. A
quase totalidade dos casos resulta de reclamações oferecidas por organizações sindicais de
trabalhadores”. In: SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito internacional do trabalho. 3.ed. São Paulo:
LTr, 2000. p. 275.
62
OIT. El Comité de Libertad Sindical: impacto desde su creación. Oficina Internacional del
Trabajo: Ginebra, 2001. p. 08.
63
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Compêndio de direito sindical. 7.ed. São Paulo: LTr,
2012. p. 100.
167

nos assuntos internos, pois essa atuação está de acordo com os limites da
chancela advinda dos seus membros.64

A Comissão reúne-se três vezes ao ano e, geralmente, os casos


submetidos são acompanhados de provas documentais. No entanto,
frequentemente, representantes da OIT dirigem-se aos países em busca de
informações adicionais acerca dos elementos componentes da queixa, bem como
para dialogar diretamente com os Estados e demais partes interessadas. Há que se
destacar também as missões tripartites formadas por integrantes das três
categorias supramencionadas.65

Quanto aos efeitos produzidos pela análise realizada, o Comitê visa à


garantia e a promoção do direito de associação de trabalhadores e empregadores.
Sendo assim, sua função precípua não acarreta a acusação de governos ou a
condenação. Desse modo, o Comitê pode ser caracterizado pelo:

[...] el carácter constructivo y no represivo del proceder del Comité de


Libertad Sindical, que presta asesoramiento a los Estados que tratan de
poner su legislación nacional en armonía con los principios en materia de
libertad sindical. Dado que la delimitación de su competencia es de su
exclusiva incumbencia, las críticas referentes a una motivación política
subyacente han sido dejadas de lado y así, poco a poco, se elevó al Comité
66
al rango de mecanismo que podríamos denominar cuasijudicial.

A despeito do alvitre educativo das decisões do Comitê, não há que se


falar em soberania da legislação nacional, pois a comissão possui faculdade, por
exemplo, para estabelecer se uma organização será considerada de caráter
profissional, consoante os preceitos da Constituição da OIT ou receber
reclamações de entidades consideradas dissolvidas, clandestinas ou exiladas.67

De acordo com Arnaldo Süssekind, há natureza de sanção moral nas


conclusões e recomendações do Comitê aprovadas pelo Conselho de

64
OIT. La libertad sindical. Recopilación de decisiones del Comité de Libertad Sindical del
Consejo de Administración de la OIT. 5. ed. rev. Ginebra: Oficina Internacional del Trabajo,
2006. párrafo n. 2, p. 7.
65
Ibid., p. 11, 16 e 17.
66
Ibid., p. 13-14.
67
Ibid., p. 13.
168

Administração, visto que fazem parte do Boletim Oficial da Repartição Internacional


do Trabalho e de massiva divulgação na imprensa mundial.68

Ultimamente, constatou-se diminuição considerável junto ao Comitê


de Liberdade Sindical da OIT das queixas relacionadas à suspensão e
dissolução das entidades sindicais. Por outro lado, observa-se o quão sutis
tornaram-se as perseguições antissindicais, uma vez que tais ações
“sofisticaram-se, escondendo-se, agora, sob o manto da respeitabilidade
jurídica”. Nesse contexto, habitualmente, são verificados atos praticados pelo
empregador em face de sindicalistas (individualmente) e em desfavor das
organizações de trabalhadores, tal como práticas comissivas e omissivas
emanadas de autoridades públicas em prejuízo dos agrupamentos.69

Certas práticas antissindicais, frequentemente são constadas em maior


número, o que permite a divisão em blocos. No primeiro grupo, o empregador é o
agente antissindical e os sindicalistas, em âmbito individual, as vítimas. Tais
ações ocorrem de forma preventiva, quando intentam obstaculizar a constituição
de organizações sindicais, impedem a filiação a sindicatos já existentes ou
interferem na designação das autoridades sindicais. De outro modo, existe a
forma repressiva, cujos atos são manifestados por meio de represálias ao
exercício sindical dos trabalhadores.70

No segundo grupo, reúnem-se as técnicas patronais contra a o


sindicato (ser coletivo), comumente conexas ao reconhecimento do sindicato. Nos
países latinos americanos, de maneira contumaz, constata-se o fomento aos
“sindicatos amarillos” (sindicatos amarelos), assim como a outras associações
obreiras sob dependência econômica do setor empresarial. Nesse sentido, o CLS
(1993) menciona as associações solidárias da Costa Rica.71

O terceiro grupo é formado por ações ou omissões das autoridades


visando o declínio das organizações sindicais. Constata-se, expressa ou
tacitamente, a negativa de concessão do registro ou da personalidade jurídica
dos sindicatos. Outrossim, há a ingerência estatal na constituição e
funcionamento das entidades, particularmente pelo regramento doméstico
68
SÜSSEKIND, Arnaldo (200), op. cit., p. 279.
69
VASCONCELOS FILHO, op. cit., p. 79.
70
BRONSTEIN, op. cit., p. 89.
71
Ibid., p. 89.
169

exagerado no cotidiano sindical. Nesse contexto, cita-se o conluio entre


autoridades públicas e o patronato para a procrastinação do registro sindical,
enquanto o empregador dispensa ou empreende represálias àqueles que
desejam sindicalizar-se. Trata-se de evidente afronta à liberdade sindical
individual de constituir entidades representativas da classe trabalhadora,
especialmente na modalidade de sindicato de empresa.72

Após a apresentação das principais características do CLS, faz-se


imprescindível realizar um estudo de casos73 contemplando as violações de
liberdade sindical. Para tanto, analisou-se reclamações originadas de
ordenamentos onde prevalece a unicidade sindical, a pluralidade sindical e a
unidade espontânea. Ressalta-se que no caso do monisto a pesquisa centralizou-
se apenas no ordenamento brasileiro, tendo em vista o desenvolvimento da
temática do trabalho. Outrossim, considerou-se países que ratificaram os
principais instrumentos de combate aos atos antissindicais aprovados pela
Organização Internacional do Trabalho.

4.4.1 Queixas contra o Brasil

O Brasil possui catalogado perante o CLS dois casos em andamento e


sessenta e quatro encerrados. Na pesquisa, optou-se por reclamações que
envolvessem a figura do empregador sob o aspecto público e privado.
Primeiramente, analisou-se o Caso n. 2.470, apresentado em 1º de
dezembro de 2005, cujos querelantes são a Central Única dos Trabalhadores e o
Sindicato dos Químicos Unificados (Regional de Vinhedo) em face da empresa
IGL Industrial Ltda pertencente ao grupo econômico Unilever.

72
BRONSTEIN, op. cit., p. 89-90; 94; 96-97. Para o autor, “[...] la constituición de um sindicato de
industria se hace normalmente fuera del lugar de trabajo y pasa más desapercibida para el
empleador que la de um sindicato de empresa. [...] el empleador tiende a resistir mucho más la
creación de um sindicato de empresa que uno de industria, al que percibe como una amenaza
más lejana al ejercicio de su autoridad.”
73
As informações acerca das queixas envolvendo as organizações sindicais e os Governos
estrangeiros foram coletadas no sítio eletrônico da Organização Internacional do Trabalho até a
data de 31 ago. 2014. Disponível em: <http://www.ilo.org/global/lang--es/index.htm>.
170

De acordo com os reclamantes, a referida entidade sindical representa


59,70% dos trabalhadores da empresa. Nas últimas décadas, alegaram que o
empregador utilizou práticas autoritárias e não favoreceu o diálogo social, tendo
em vista os diversos conflitos com o sindicato. Tal como ocorreu em 2001,
durante paralisação da linha produtiva em prol de reivindicações por melhores
salários, renovação de contratos coletivos, assim como pela dispensa em massa
efetuada em anos anteriores.

Diante das manifestações, a querelada insurgiu-se por meio de ameaças


telefônicas aos trabalhadores e de filmagens para identificar os empregados
participantes e lhes pressionarem. Ademais, recorreu à infiltração de líderes nas
assembleias dos trabalhadores e negou o livre acesso dos dirigentes sindicais ao
ambiente laboral ou permitiu com o acompanhamento de seguranças.

Outrossim, aduziram que a empresa constituiu uma forma própria de


representação dos empregados no local de trabalho (Grupo de Trabalho para a
Melhoria do Ambiente), paralela ao sindicato (semelhante ao sindicato de
empresa), “y dócil ante sus deseos e imposiciones”. Além disso, informaram que a
Unilever não reconheceu o Comitê Sindical Nacional da Unilever Brasil, formado
pelos sindicatos representativos de todas as unidades empresariais espalhadas
pelo território nacional.

Por fim, os querelantes citaram a campanha patronal para incentivar a


desfiliação sindical dos seus empregados a partir da distribuição de formulários e
a disposição de linha telefônica gratuita, inclusive com a possibilidade de solicitar
a desfiliação.

Ante a exposição dos fatos, os denunciantes solicitaram ao CLS


recomendação do governo brasileiro para que garantisse: a manifestação
sindical de forma livre, no interior e exterior da empresa; liberdade de filiação;
liberdade de realização de piquetes pacíficos sem ingerência patronal;
abstenção de práticas incentivadoras da desfiliação, reconhecimento do
referido Comitê; e a abstenção de filmar as manifestações e assembleias de
trabalhadores sem o consentimento individual.
171

Em reposta, o governo brasileiro argumentou que o Ministério do


Trabalho e Emprego enviou auditor fiscal do trabalho a fim de realizar entrevistas
com as partes para a apuração das circunstâncias.

No que diz respeito às observações formuladas pela Unilever e


transmitidas pelo governo brasileiro, cumpre destacar que a empresa rechaçou
taxativamente as acusações da queixa e afirmou que sempre atuou no sentido de
proteger a integridade física dos seus trabalhadores e respeitou o livre direito de
manifestação sindical, até mesmo quando exercido de forma violenta e agressiva.
Quanto à alegação de realizar campanha de desfiliação, arguiu que o sindicato
distorceu os fatos, porque desde janeiro de 2005 colocou à disposição de todos
os trabalhadores das unidades da América Latina, linha telefônica gratuita (0800)
para a solicitação de serviços e realização de consultas por meio de ofício
prestado por empresa subcontratada sob orientação da Unilever.

Entretanto, afirmou que houve elevado contingente de pedidos do


procedimento de desfiliação sindical, o que repercutiu na suspensão de
contribuições sindicais mensais, por isso “um funcionário da empresa
subcontratada, por sua própria iniciativa e de boa fé, mas em dissonância com a
direção da Unilever, decidiu produzir um formulário de orientação e colocou-o no
quadro de avisos, a fim de facilitar o seu trabalho”.

No que concerne à criação do aludido grupo de trabalho, destacou a


intenção de sempre manter canais permanentes de comunicação com os
trabalhadores, os quais possibilitam aos empregados manifestarem livremente
suas opiniões, reivindicações, esclarecimentos de dúvidas e o oferecimento de
sugestões; contudo, sem a finalidade de substituir ou inibir a atuação sindical. Em
relação ao reconhecimento do citado Comitê Sindical Nacional, sustentou que
apenas a minoria dos sindicatos desejou a representação por essa via, a maioria
analisou a situação como uma ameaça à organização.

O CLS lembrou nas suas conclusões iniciais de que as alegações da


queixa referem-se às práticas antissindicais e considerou preocupante que o
governo brasileiro apenas transmitiu as informações das partes sem ter emitido
qualquer juízo a respeito. Ademais, o órgão da OIT observou contradição nas
afirmações dos querelantes e da empresa, bem como lamentou a resposta
172

brasileira acerca da ausência de observações específicas sobre os fatos


alegados.

O CLS classificou a distribuição de formulários e a disponibilização de


linha telefônica para desfiliação sindical, como práticas de ingerência nos
assuntos internos do sindicato. Para tanto, recordou o art. 2º da Convenção n. 98,
o qual preceitua a necessidade de proteção contra os referidos atos.

Por fim, o CLS recomendou que: 1) o governo brasileiro realizasse


investigação acerca das práticas antissindicais alegadas; 2) o acompanhamento
dos dirigentes sindicais por seguranças em dadas oportunidades parece medida
necessária, mas não deve interferir nos assuntos sindicais e nem na comunicação
com os trabalhadores; 3) quanto ao grupo de trabalho, o governo fiscalizasse para
que não seja usado em detrimento do sindicato; 4) lamentou o governo não ter
enviado informações sobre o reconhecimento do Comitê Sindical Nacional pela
empresa e solicitou que realizasse investigação sobre os fatos alegados; e 5)
quanto à distribuição de formulários e colocação de linha telefônica gratuita, pediu
ao governo brasileiro que corrigisse rapidamente os efeitos desse tipo de
ingerência e, inclusive, impusesse sanções dissuasivas contra o empregador para
evitar incidentes semelhantes futuramente.

Posteriormente às cobranças, o Governo brasileiro apresentou o


empreendimento das seguintes ações: 1) o trabalho investigativo do Ministério
Público do Trabalho (MPT) em relação aos direitos, tal como o papel do Juízo
trabalhista que condenou a empresa em abster-se da prática de ações que
possam influenciar a filiação ou desfiliação a um sindicato profissional ou nas
atividades sindicais; 2) a Procuradoria Regional do Trabalho comprovou as
irregularidades após a oitiva dos representantes sindicais e da empresa; 3)
fixação de multa ante o descumprimento das obrigações de não cometer atos
antissindicais detalhados na sentença; 4) homologação de acordo entre o
Ministério Público do Trabalho e a Unilever, o qual reafirma os princípios de
liberdade sindical e negociação coletiva.

Diante dos fatos apresentados, o CLS lamentou a constatação judicial


dos atos antissindicais e destacou as medidas corretivas. Além disso, solicitou ao
Governo que vigie o cumprimento dos princípios de liberdade sindical na Unilever
e enviasse consideração acerca da negativa de reconhecimento do Comitê
173

Sindical Nacional. Em 30 de março de 2009, a CUT e o sindicato profissional


enviaram comunicado informando o descumprimento por parte da empresa do
acordo firmado junto ao MPT e a realização de novos atos antissindicais, como a
perseguição de dirigente sindical, o não reconhecimento do mencionado Comitê,
a restrição ao exercício das licenças sindicais dos dirigentes e a dificuldade para a
emissão da documentação dos acidentes de trabalho.

O CLS analisou o caso pela última vez após o envio de informe da


Unilever, segundo o qual a empresa esclareceu que não reconheceu a existência
do Comitê Sindical Nacional devido à estrutura sindical brasileira, que não prevê a
comissão de empregados por empresa. Ademais, o Sindicato dos Químicos
Unificado representa apenas 3% de todos os seus empregados e, de outro modo,
a Unilever mantém o diálogo e canais de comunicação com toda representação
legítima de trabalhadores.

Em relação às novas práticas antissindicais a empresa: 1) declarou que


o dirigente foi dispensado por baixa produtividade, bem como não gozava de
estabilidade, inclusive o sindicato havia suspendido-o das suas funções até o final
do mandato; 2) ressaltou a existência de 25 dirigentes sindicais, dos quais 70%
usufruem de licença remunerada e aqueles que não a tem podem ausentar-se do
trabalho para as atividades sindicais; 3) informou a documentação da totalidade
de acidentes de trabalho e investiu R$ 3.5 milhões de reais em 2009 nas áreas de
saúde e segurança no trabalho, cujos índices acidentários são de 10 sinistros por
ano em uma totalidade de 12.300 trabalhadores. Diante de tais informações, o
CLS “toma nota con interés de estas últimas informaciones”.

Posteriormente, examinou-se o Caso n. 2.795, cuja queixa foi


apresentada ao CLS em 15 de junho de 2010, pela União Geral dos
Trabalhadores (UGT) em razão de inegociabilidade do Tribunal de Justiça de São
Paulo (TJSP) e de autoridades competentes.

Segundo a reclamante, por diversas ocasiões o Sindicato União dos


Servidores do Poder Judiciário do Estado de São Paulo (SUSPJESP) formulou,
sem sucesso, reivindicações acerca de recomposição salarial perante o referido
órgão judiciário e o Governo do estado de São Paulo. Diante das circunstâncias,
não restou alternativa a não ser a realização de uma greve com o intuito de
174

sensibilizar o atendimento fixado na Lei n. 12.177/2004, que estabelece a data de


1º de março de cada ano para deliberar sobre tais questões financeiras.

Ainda de acordo com a UGT, o sindicato profissional interpôs dissídio


coletivo de greve perante Órgão Especial do TJSP, cuja autoridade judicial
violou decisões do CLS, quais sejam: 1) determinou o desconto salarial dos
servidores grevistas pelos dias de ausência, sem a possibilidade de
compensação; 2) sustentou a proibição do exercício do direito de greve por
servidores que desempenham atividades relacionadas à manutenção da ordem
e da segurança pública, assim como da administração da justiça e dos
integrantes das carreiras de Estado; e 3) estabeleceu que o sindicato se
abstivesse de promover a paralisação, seja total ou parcial, das atividades dos
seus representados a partir da notificação, sob o risco de pagamento de multa
diária, bem como a cominação ao sindicato e aos dirigentes (solidariamente)
que não iniciassem outras greves até o julgamento definitivo da demanda.

O CLS lamentou a ausência de resposta às alegações da querelante


por parte do Governo brasileiro. Também lembrou que o objetivo de todo exame
das denúncias relativas às violações de liberdade sindical é promover o respeito
aos direitos sindicais de direito e de fato. Nesse sentido, se o procedimento
protege os governos contra acusações infundadas, tais entes devem reconhecer
a importância do fornecimento de respostas detalhadas e precisas acerca do
alegado. Para tanto, esperava que o Governo brasileiro se mostrasse mais
cooperativo futuramente.

Ademais, quanto à negativa de negociação coletiva, o CLS recorda a


ratificação da Convenção n. 151 (Direito de Sindicalização e Relações de
Trabalho na Administração Pública), a qual se aplica às instituições públicas. Por
isso, o órgão insistiu para que o Governo tomasse todas as medidas cabíveis com
o intuito de fomentar as negociações entre o SUSPJESP e as autoridades
competentes.

No tocante à decisão que autorizou os descontos salariais e a proibição


de novas greves, o CLS enfatizou por meio do verbete n. 654 que a dedução
salarial dos dias de greve não coloca objeções aos princípios de liberdade
sindical. Além disso, entendeu que a impossibilidade de novas medidas de força
até o julgamento final da demanda, também não contrariam o aludido direito. Por
175

isso, resolveu pelo não prosseguimento de análise das alegações. Por fim, a título
de recomendação, insistiu para que o Governo brasileiro fomentasse a
negociação coletiva entre as partes e que atendidas às particularidades da
Convenção n. 154 (Incentivo à Negociação Coletiva), os servidores públicos
pudessem exercer o direito de negociação coletiva.

Em 5 de junho de 2012, o Governo brasileiro enviou comunicado ao


CLS, no qual informou as ações implementadas, quais sejam: 1) o Ministério do
Trabalho e Emprego constituiu o Conselho de Relações de Trabalho - CRT
(consiste em fórum de composição tripartite, cujo objetivo é promover a
democratização das relações de trabalho, bem como o entendimento entre
trabalhadores, empregadores e o Governo Federal); 2) o CRT fomenta a
negociação coletiva e orienta o Ministério do Trabalho e Emprego; 3) o CRT
formou três câmaras de formação dúplice (servidores públicos, Governo -
empregadores, Governo - servidores públicos); 4) realização de reuniões do
Governo com servidores.

Diante de tais circunstâncias, o CLS elogiou a constituição do


Fórum, o fomento à negociação coletiva e o diálogo social. A Comissão
também expressou a esperança de que as partes possam considerar as
modalidades de aplicação da Convenção n. 154 da OIT.

A partir dos casos expostos, inicialmente, restou evidente a inércia do


Governo brasileiro em ambas as situações. As providências necessárias foram
adotadas somente depois de reiterada solicitação do CLS. Sendo assim, cumpre
ressaltar o papel do Estado74 brasileiro em atuar imediatamente a qualquer sinal
de antissindicalidade, uma vez que a procrastinação é prejudicial aos direitos
fundamentais dos trabalhadores e à solução eficaz. De outro modo, a apatia pode
caracterizar o ente estatal como um violador de liberdade sindical.

74
O Verbete 817 do CLS destaca o papel do Governo: “El gobierno es responsable de la
prevención de todo acto de discriminación antisindical y que debe velar por que todas las quejas
contra prácticas discriminatorias de esa índole sean examinadas con arreglo a un procedimiento
que además de expeditivo no sólo debería ser imparcial sino también parecerlo a las partes
interesadas”.In: OIT. La libertad sindical. Recopilación de decisiones del Comité de Libertad
Sindical del Consejo de Administración de la OIT. 5. ed. rev. Ginebra: Oficina Internacional del
Trabajo, 1976. párrafo n. 817, p. 174.
176

4.4.2 Queixas contra Portugal e Espanha

O arquivo do CLS contabiliza 34 casos encerrados e apenas um ativo


de origem portuguesa, enquanto as queixas de origem espanhola totalizam um
caso em andamento e noventa e dois encerrados.

Inicialmente, perquiriu-se o caso n. 2.729 advindo de Portugal, o qual


foi protocolado pela Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses -
Intersindical Nacional (CGTP-IN) em 17 de julho de 2009, em desacordo à
recente atualização do Código do Trabalho português.

Segundo a proponente, tal revisão ocasionou o surgimento de nova


figura jurídica: a possibilidade de “escolher a convenção coletiva”. Assim, o art.
497 do referido diploma permite que o trabalhador não filiado, tenha o direito de
escolher entre a convenção coletiva ou a decisão arbitral sempre que a empresa
aplique um ou mais dos supramencionados instrumentos. Por isso, a norma é
vista como desestimuladora à filiação e promove a desfiliação ao colocar os
trabalhadores não filiados em situação mais benéfica que a dos filiados, pois
enquanto aos indivíduos associados emprega-se a convenção concluída pela
entidade sindical, aos outros se oferece a escolha da que melhor lhe convenha, o
que afronta as organizações sindicais e seus filiados em típica disposição
antissindical, consoante o entendimento da CGTP-IN.

Ademais, a reclamante explicou que tal possibilidade impulsiona a


interferência do empregador na escolha do empregado pelo instrumento coletivo
atrelado aos ideais empresariais e em detrimento de certos sindicatos.

A queixa também faz referência à empresa CTT Correios de Portugal


S.A., a qual estaria obstando a negociação coletiva com o Sindicato dos
Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT), representante de
65% dos trabalhadores da empresa. A reclamação decorreu, principalmente pelo
firmamento de “acordo de princípio” (2008) entre a supracitada empresa e outra
associação sindical que representa 24% dos seus empregados. Entretanto, o
SNTCT não subscreveu o novo acordo e continuou vinculado à antiga convenção
coletiva (2006), mas o empregador alegou caducidade sobre esse documento e
177

por meio de procedimento de “adesão individual” iniciou a aplicação do no


instrumento (2008), inclusive aos filiados do SNTCT.

Invocando a decadência da convenção (2006), a empresa diminuiu o


número de dirigentes sindicais com licença sindical completa (aqueles que
desempenham atividade sindical em mais de 1.800 locais de trabalho) em notória
ofensa à Convenção n. 135 da OIT. Nesse contexto, os filiados ao SNTCT foram
convocados ou pressionados a aderirem ao novo documento (2008) de forma
escrita, o que gerou a interferência do Departamento de Investigação e Ação
Penal, levando às reuniões de conciliação com o Ministério do Trabalho e as
partes (SNTCT e empresa).

Após tentativas infrutíferas de arbitragem voluntária, solicitou-se a


arbitragem obrigatória para a revisão da convenção (2006) sob a justificativa de
invocação de longas e ineficazes negociações, nas quais se verificou a má-fé
empresarial e a ausência de ânimo para negociar. Decorridos noventa dias, o
Ministério do Trabalho não respondeu ao pedido, mas posicionou-se
favoravelmente à caducidade da convenção coletiva (2006).

Na sua primeira conclusão, o CLS lamentou a ausência de resposta do


governo português às alegações da querelante. Quanto à possibilidade do art.
496 do Código do Trabalho estimular a desfiliação sindical, o órgão posicionou-se
no sentido de que o trabalhador não filiado está em melhor posição para
determinar qual sindicato defendeu melhor os interesses da categoria profissional.
No que diz respeito à hipótese de interferência empresarial na escolha do
trabalhador pela convenção, dispôs que a legislação portuguesa prevê a proteção
contra atos de ingerência patronal.

No que concerne à avaliação sobre as práticas contrárias à negociação


coletiva da empresa de Correios, o CLS cobrou do Governo lusitano o envio de
suas observações acerca das aludidas violações e condutas antissindicais em
face do SNTCT, assim como decisões administrativas e judiciais emitidas
(inclusive do Departamento de Investigação e Ação Penal) e informações sobre a
evolução do conflito desde a apresentação da queixa, fato ocorrido somente em
março de 2011.
178

O Governo português afirmou que o SNTCT chegou a um acordo com


a empresa em julho de 2009, três dias antes da apresentação da denúncia ao
CLS, para assinar uma nova convenção coletiva de empresa, que foi concluída
em um curto espaço de tempo e publicada em janeiro de 2010. Em decorrência
do firmamento de novo acordo entre as partes, o CLS entendeu que não cabia um
exame mais detalhado.

Em seguida, analisou-se o Caso n. 2.121 proveniente do ordenamento


espanhol, apresentado em 23 de março de 2001 pela União Geral de
Trabalhadores da Espanha (UGT) em face do Governo.

A querelante aduziu que a vigência da Lei Orgânica n. 8/2000 sobre


direitos e liberdades dos estrangeiros na Espanha e sua integração social indicam
graves restrições aos direito básicos por parte do Governo espanhol. Para tanto, a
normatização ensejou a limitação do exercício da liberdade de sindicalização e do
direito de greve, da manifestação e associação, assim como do direito de
negociação coletiva, pois determinou que os estrangeiros tivessem acesso aos
citados direitos somente quando obtivessem autorização para permanecer ou
residir em território espanhol.

Ademais, a mudança legislativa repentina ocasionou a insegurança


jurídica, além de tragédias sociais e familiares entre os imigrantes. Outrossim,
violou direitos fundamentais reconhecidos na Constituição, na Declaração
Universal dos Direitos Humanos e em outros tratados internacionais ratificados
pela Espanha. No que se refere às Convenções da OIT sobre liberdade sindical e
outra normas que tutelam direitos trabalhistas, entendeu-se que os estrangeiros
também possuem a condição de trabalhadores protegidos, independente do tipo
de estadia no país.

Em resposta ao CLS, o Governo espanhol comunicou que os


estrangeiros exercem seus direitos previstos na referida lei em situação de
igualdade com os espanhóis. Ressaltou também que a desigualdade na
compreensão de direitos e liberdades não ocorre entre nacionais e estrangeiros,
mas entre “imigrantes legais” e “imigrantes ilegais” (a quem certos direitos são
restritos). Ainda de acordo com o Estado, a Lei Orgânica clarificou a situação dos
estrangeiros que se encontram legalmente no país, pois dividiu os direitos em
179

duas classes: a primeira extensiva a todos os estrangeiros devido a sua natureza


fundamental, enquanto a segunda, apenas àqueles em situação regular.

O Estado informou que os textos internacionais reconhecedores de


liberdades são de cunho geral, porém, permitem ao legislador nacional o
estabelecimento de restrições ou exigências básicas para a aferição de tais
direitos, objetivando salvaguardar bens relevantes da sociedade democrática.
Para tanto, destacou a Convenção n. 87 e n. 98 da OIT que reconhecem direitos
fundamentais, mas carecem de normas jurídicas de desenvolvimento.

Nas considerações finais, o CLS observou que a querelante desejou


dar interpretação extensiva ao conceito de “trabalhadores”, sem quaisquer
distinções ou autorização prévia para que possa se filiar às organizações que
julgar convenientes. No que diz respeito à Convenção n. 87, obsta somente os
membros das forças armadas e da polícia. Desse modo, o CLS concluiu que
todos os trabalhadores, salvo a hipótese mencionada, estão amparados pelo
citado diploma internacional.

Por isso, solicitou ao Governo hispânico que considerasse o conteúdo


do art. 2º da Convenção e salientou que os sindicatos devem usufruir o direito de
representar e assistir aos trabalhadores, especialmente com a finalidade de
promover seus interesses.

4.4.3 Queixa contra a Alemanha

A Alemanha possui apenas dez reclamações encerradas e não detém


procedimentos em andamento ou ativos junto ao CLS. Por isso, pesquisou-se o
Caso n. 2.805 por ser o mais recente, cuja primeira data de apresentação foi em
09 de abril de 2010 pela Freie Arbeiterinnen - und Arbeiter - Union - FAU, a qual
se define como um sindicato de base alemão e representa a seção alemã da
Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT).

A querelante informou que durante um conflito laboral da sua seção


de Berlim (Asy-Berlim) com a sala de cinema local Babylon Berlin, em
decorrência de um acordo coletivo, um Tribunal local proferiu decisão que
180

impediu a FAU de exercer o direito de negociação coletiva e atividades


correlacionadas, bem como a possibilidade de se autodenominar sindicato
(Gewerkschaft) ou sindicato de base (Basisgewerkschaft), circunstância que a
impediu de negociar com o empregador e, desse modo, favoreceu a empresa.
Além disso, a direção da sala de cinema requereu a imposição de multa se
houvesse o descumprimento da decisão judicial. Por tais motivos, a FAU
sustentou ofensa às Convenções n. 87 e n. 98.

A referida proibição foi revogada posteriormente em nome da liberdade


de expressão, no entanto, a entidade continuou sem poder atuar como um
sindicato. O CLS constatou que a FAU carecia de condição jurídica de sindicato e,
consequentemente a FAU-Berlim não estava habilitada a participar das reuniões
em nível de empresa. Mas, de acordo com a querelante, viola os princípios da
OIT equiparar a obtenção de personalidade sindical à capacidade de conduzir
contratos coletivos; além disso, entendeu que não há distinção jurídica entre a
negociação coletiva em âmbito empresarial e na escala regional.

O Governo alemão manifestou-se contrário à queixa apresentada e


negou a violação aos diplomas internacionais, pois garantem a liberdade sindical
e de associação, bem como a negociação coletiva em termos gerais e não
consideram a capacidade para concluir contratos coletivos na condição de
sindicato. Desse modo, entendeu que a capacidade das organizações de
trabalhadores deve sujeitar-se a requisitos mínimos para a conclusão de
convênios coletivos, por exemplo, a estrutura organizativa básica que possibilite a
execução das suas tarefas e a possibilidade de se afirmar frentes aos
interlocutores sociais. Por isso, asseverou que “sólo se puede lograr un equilibrio
de intereses a través de un convenio colectivo si la organización de trabajadores
es tan eficaz que el empleador se ve obligado a negociar y suscribir un convenio
colectivo; de otro modo, todo dependería de la buena voluntad del empleador”.

Nas suas ponderações, o CLS recordou que a designação de sindicato


mais representativo e apto exclusivamente a negociar, não contraria o art. 3º da
Convenção n. 87. Ademais, quando o ordenamento adota tal sistemática, o
sindicato deve ser determinado a partir de critérios objetivos e previamente
determinados para não ensejar parcialidade ou abuso de direito. Para tanto,
enfatizou a jurisprudência alemã, a qual dispõe as regras mínimas a serem
181

obedecidas pelas entidades aptas a negociarem, assim: 1) de acordo com os


estatutos da organização, deve objetivar os interesses dos seus membros na
qualidade de empregados; 2) concluir convênios coletivos; 3) constituir-se
livremente, não carecer de adversários e ser independente; 4) ser organizado em
nível superior no local de trabalho; 5) reconhecer a legislação vigente sobre
negociação coletiva; 6) atuar de forma efetiva na negociação coletiva, “lo que
implica una cierta firmeza frente al interlocutor social, una posición de fuerza y
una cierta eficiencia en la organización”.

Mas, o CLS explicou que a firmeza e a eficiência são insuficientes


frente ao empregador, pois as organizações de trabalhadores necessitam de
capacidade de negociação de convênios coletivos (característica presente apenas
às entidades que possuem a condição de sindicato) e, por consequência, o
empreendimento da greve, por exemplo, é extensiva à aptidão de negociar. Já as
associações desprovidas de tais condições estão amparadas pela Lei
Fundamental alemã, a qual consagra o princípio da liberdade sindical e de
associação.

Desse modo, o CLS concluiu que a decisão judicial estava de acordo


com os preceitos jurisprudenciais. Além disso, observou que a FAU-Berlim
demonstrou firmeza considerável diante da sala de cinema local Babylon Berlim,
mas não era o bastante para estabelecer a capacidade de concluir contratos
coletivos com efeitos normativos. Por isso, o CLS entendeu que os critérios
adotados pelo Tribunal não constituem violações aos princípios de liberdade
sindical e de associação, inclusive a querelante tem o direito de tentar novamente
a apreciação do Tribunal para o reconhecimento da sua capacidade se houver
alteração dos fatos.

A Comissão permanente da OIT também destacou a decisão judicial no


que diz respeito ao não reconhecimento da querelante como sindicato e os
possíveis efeitos negativos relatados na queixa. De acordo com o Governo
alemão, a entidade foi considerada uma associação protegida pelo direito
fundamental de liberdade sindical e de associação por lei nacional, o que lhe
proporciona o livre exercício de atividades e de filiação de trabalhadores,
enquadrando-se como uma organização de trabalhadores abrangida pela
Convenção n. 87. No entanto, o CLS asseverou o dever de garantir às entidades
182

minoritárias o direito de serem porta-vozes dos seus membros e de representá-los


nas reclamações individuais.

Por fim, solicitou-se ao ente estatal que garanta a FAU-Berlim o


desempenho de atividades que possam ampliar e defender os interesses dos
seus representados, consoante os preceitos convencionais aludidos, em especial:
“expresar su opinión en público, acceder al lugar de trabajo de los miembros del
sindicato y, en caso de que goce de representatividad en la empresa en cuestión,
participar en las reuniones del comité de empresa”.
183

CONCLUSÕES

O fim da Segunda Guerra Mundial significou um novo ciclo para a


temática humanitária, qual seja, a imprescindibilidade de reafirmá-la e garanti-la
diante das violações ocorridas durante o aludido conflito. De um lado, a Carta
Internacional dos Direitos Humanos, reconhecendo os direitos e liberdades
imprescindíveis à manutenção da vida; de outro, a Organização Internacional do
Trabalho, pormenorizando conteúdos vitais à seara trabalhista.

Nesse contexto protecionista, destaca-se a Convenção n. 87, a qual


exalta a liberdade sindical e os direitos inerentes a ela. A liberdade sindical trata-
se de um direito humano fundamental às relações laborais e detém nuances
diversificadas, por exemplo, a possibilidade dos trabalhadores e empregadores
constituírem livremente suas organizações sindicais, assim como a garantia de
filiação e desfiliação às entidades que julgar conveniente.

Para a efetividade da liberdade sindical nos ordenamentos jurídicos


nacionais, é indispensável um cenário adequado à plena manifestação das suas
dimensões, o que reflete no sistema legal, no modelo de organização sindical e,
especialmente na expressividade dos movimentos sindicais. Outrossim, consiste
no empenho da OIT para que os direitos sejam garantidos em todos os Estados,
principiando pela ratificação do mencionado diploma internacional.

A despeito dos esforços, há países onde a liberdade sindical é


inexistente ou é exercida de forma mitigada, como no Brasil. A estrutura do
sindicalismo brasileiro, adotada na primeira metade do século XX e herdada do
fascismo italiano, sofreu poucas modificações até a contemporaneidade, renunciou
ao modelo completamente corporativista e se tornou um sistema híbrido, em
especial após a promulgação da Constituição Federal de 1988, a qual introduziu
um regime com características livres e, simultaneamente, manteve elementos
intervencionistas, que não permitem o desenvolvimento pleno dos direitos sindicais.

As principais críticas a esse sistema misto estão relacionadas à


imposição da unicidade sindical por meio da legislação, a qual impede a
184

existência plúrima de sindicatos em determinada base territorial, o que destoa


dos princípios de liberdade patrocinados pela OIT.

Defensores do citado modelo organizacional justificam a sua


aplicabilidade em decorrência da preservação da forte representatividade e do
controle da quantidade de entidades sindicais. No entanto, tal argumento
mostra-se falacioso diante da possibilidade de fragmentação de categorias,
artifício que redundou no expressivo número de organizações disseminadas pelo
território nacional, das quais, muitas com poder de negociação medíocre.

Outrossim, a crise de representatividade é reforçada pela cobrança da


contribuição sindical compulsória, a qual permite a sobrevivência financeira dos
denominados “sindicatos de carimbo”.

Na presente conjuntura, não se pode olvidar do critério de agregação


de trabalhadores e empregadores por categoria, o qual remete ao paralelismo
simétrico. Obrigatoriamente, a categoria profissional será definida pela
atividade econômica preponderante do empregador, salvo nas categorias
diferenciadas. Tal metodologia tolhe a liberdade sindical, visto que obsta a
formação de agrupamentos por meio da união espontânea, como a decorrente
da identidade de profissões.

Ante as observações, constata-se que as violações à liberdade sindical


não decorrem puramente de atos e condutas advindos do empregador ou das
organizações sindicais. O Estado também pode ser qualificado como um agente
antissindical, seja quando revestido da função de empregador e, em especial, ao
ocupar o posto de legislador.

Em 2005, a partir de discussões durante o Fórum Nacional do


Trabalho - FNT, foram redigidas a Proposta de Emenda Constitucional n. 369 e
o Anteprojeto de Lei de Relações Sindicais, com o objetivo de implantar uma
reforma na organização sindical brasileira. Tais projetos apresentaram traços
inovadores, como a implantação de um sistema de prevenção e repressão de
condutas antissindicais.

Por outro lado, mantiveram-se pontos que evidenciam o


conservadorismo e a completa inadequação com as relações de trabalho
hodiernas, o que não possibilita nem mesmo a ratificação da Convenção n. 87 da
185

OIT. A título de exemplo, cita-se a exclusividade de representação, instrumento


que, na prática, trata da concessão do monopólio sindical (com outra roupagem),
uma vez que terá preferência o sindicato constituído anteriormente à nova lei.

Além disso, prevê a extinção da contribuição sindical compulsória e a


criação da contribuição de negociação coletiva, cujo valor a ser custeado será
superior ao sistema atual e, de fato, de cunho obrigatório, independente da
filiação e da garantia satisfatória à classe representada, já que baseada na
participação ou no efeito geral do resultado.

Os pontos de retrocesso justificam em parte a tramitação morosa de


aproximadamente uma década da PEC n. 369/2005 no Congresso Nacional,
todavia, ainda que haja a presença de caracteres anacrônicos, sua aprovação
não interessa a diversos grupos satisfeitos com a presente estrutura, como foi
demonstrado nos conflitos ocorridos durante as discussões do FNT.

Desse modo, propugna-se uma reforma no sistema sindical brasileiro,


a qual compreenda alterações facilitadoras do estabelecimento pleno da liberdade
sindical, tais como:

1. Substituir o modelo organizacional denominado unicidade sindical


pelo de pluralidade sindical, o qual favoreça a competição entre as entidades e
prevaleça a mais representativa, evoluindo para a unidade espontânea;

2. Incentivar a representação dos trabalhadores no local de trabalho,


favorecendo a proximidade dos indivíduos com o cotidiano sindical e das
entidades com as necessidades imediatas dos seus representados, visando à
promoção dos direitos humanos fundamentais;

3. Extinguir a forma de sustentação econômica das organizações


sindicais, substituindo-a pelo modelo da contribuição negocial, desde que não
mais oneroso aos representados. Ademais, a nova metodologia deverá
possibilitar a fiscalização da tentativa de negociação entre as entidades;

4. Extinção do paralelismo simétrico obrigatório, permitindo aos grupos


determinarem o melhor critério de agregação de trabalhadores e empregadores,
até mesmo o arranjo por categorias, desde que seja decorrente da livre escolha
dos interessados;
186

5. Ratificar a Convenção n. 87 da OIT sobre “Liberdade Sindical e


Proteção ao Direito de Sindicalização” pelo Estado brasileiro e respeitar os
diplomas já ratificados referentes à temática, em especial as Convenções 98 e
151, assim como a Declaração da OIT sobre os Princípios Fundamentais no
Trabalho;

6. Empenho do Estado brasileiro para cumprir os direcionamentos do


Comitê de Liberdade Sindical e fiscalizar a ação dos agentes antissindicais em
potencial, assim como seguir as orientações gerais da OIT;

7. Revisar o texto da PEC n. 369 e do Anteprojeto de Lei de Relações


Sindicais para que se torne adequado à realidade das relações de trabalho
contemporâneas, incluindo os atores sociais excluídos da proteção coletiva, como
o trabalhador autônomo, o eventual e o terceirizado;

8. Implantar um sistema preventivo e repressivo de atos e condutas


antissindicais, no qual seja possível a efetividade da norma jurídica por meio da
aplicação de sanções rigorosas aos violadores de liberdade sindical e dos direitos
a ela inerentes;

9. Estabelecer maior comunicabilidade e apoio das organizações


superiores aos sindicatos de base, visando ao seu fortalecimento, em especial
para consolidar a negociação coletiva como um instrumento efetivo para a
melhoria das condições de trabalho. Mas, o negociado não deverá prevalecer
sobre o legislado quando se almejar apenas a flexibilização de direitos.

Evidentemente, os apontamentos acima não formam um rol exaustivo


de medidas para a concretização da liberdade sindical plena. Além disso, a
substituição da legislação sindical vigente de traços intervencionistas por outra
considerada progressista, por si só, não será capaz de reverter a crise que
assola o sindicalismo brasileiro.

Outrossim, deve-se evitar receitas prontas do direito comparado, isto é,


não intentar a mera transposição de modelos realizados em outros países, ainda
que tenham sido bem sucedidos na origem. Há que se considerar as
particularidades da realidade brasileira, como dados econômicos, políticos e
sociais, em seguida, ponderar a metodologia estrangeira ao contexto nacional.
187

Essa diligência faz-se necessária para não incorrer em oportunismos e


comodismos como no sistema vigente.

Para tanto, o movimento sindical precisa ser revigorado e resgatar


seus ideais clássicos de luta por melhores condições de trabalho, os quais
poderão reavivar a confiança perdida dos atores sociais.

Atualmente, a maioria das classes enxerga o sindicato como um


“parasita”, que almeja exclusivamente a usurpação da contribuição sindical
anual para garantir a manutenção de “cabides de emprego”, e tais preconceitos
são decorrentes da atuação pífia de certas organizações.

Ademais, o trabalhador carece de uma formação educacional que


propicie maior conscientização do seu papel na constituição do direito coletivo, a
qual deve ser conduzida pelas entidades sindicais.

No decorrer do trabalho, manifestou-se a defesa da liberdade sindical


como um direito humano fundamental, isto é, inerente às relações de trabalho e,
consequentemente, atrelado à manutenção da dignidade de cada ator social.
Sendo assim, não há que se cogitar a aplicação limitada ou prejudicada, visto
que os direitos humanos fundamentais são universais, indivisíveis e
imprescritíveis, ou seja, não comportam quaisquer diminuições.
188

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