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C oleção E ncontro com C risto

1. Ao Vencedor, 4a ed.
Pe. Alberto L. Gambarini

2. Batalha espiritual, 16a ed.


Pe. Alberto L. Gambarini

3. Em que cremos? Doutrina Católica e Bíblia, 8a ed.


Pe. Alberto L. Gambarini
P e . A lberto L uiz G ambarin

BATALHA
ESPIRITUAL

A #«pe Edições L o y o la
As citaçOes bíblicas foram tomadas da
Tradução Ecumênica da B íblia, Edições Loyola
São Paulo, 1996

P reparação: Renato da Rocha Carlos


Maurício Balthazar Leal
R evisão : Maria Helena
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ISBN: 85-15-00836-X
16a edição: fevereiro de 2005
© EDIÇÕES LOYOLA, São Paulo, Brasil, 1996
*
índice

APRESENTAÇÃO............................................................ 9
PRÓLOGO........................................................................ 13
INTRODUÇÃO............................................................... 15

( Iapítulo 1
DESMASCARANDO O IN IM IGO............................... 19
Para a Bíblia, quem é o d ia b o ?..............................20
Como identificar a presença do maligno:
a m entira.................................................................... 22
Campos de b atalh a................................................. 24
Primeiro cam po de batalh a: o in divídu o......... 24
D imensão no espírito...................................... 25
D imensão da alma.......................................... 27
D imensão do corpo: ...................................... 30
Segundo campo de batalha: a Ig reja ................ 31
Terceiro campo de batalha: a so c ied a d e.......... 34
Um testem unho da m entira de Satanás........... 36
Um testemunho de libertação...............................39
Sugestão para uma oração pessoal de
libertação.................................................................... 44
Salmo 91 [90]............................................................ 44
Oração a São Miguel A rcan jo ................................ 45
Oração 46

II
C apítulo
PLANO DE BATALHA.................................................. 47

C apítulo III
TREINAMENTO PARA A BATALHA.......................... 55
Etapas para o trein am en to ..................................... 58
Primeira etapa: entrega real da vida ao senhorio
de Jesus C risto....................................................... 58
Segunda etapa: andar na unção do Espírito ... 61
Terceira etapa: conhecer a Palavra de D eus.... 67
Quarta etapa: a o r a ç ã o ...................................... 74
Quinta etapa: a E u caristia................................. 82
Sexta etapa: a penitência..................................... 87

IV
C apítulo
ENTRANDO NA BATALHA......................................... 95

V
C apítulo
UM GRANDE PERIGO: A NOVA ERA.................... 103
As crenças da nova era e a B íblia...................... 110
Meios de atuação da nova e r a .............................113
A astrologia apresentada como uma ciência
capaz de ajudar o hom em a planejar seu
fu tu ro................................................................... 114
O uso de determinados objetos para atrair
bons flu id o s........................................................ 115
Outros meios de atuação da nova e r a .............. 116
A difusão de métodos de m editação ou
relaxamento de influência o r ie n ta l..................117

6
VI
C apítulo
A NOVA ERA E A IGREJA.......................................... I 21
A nova era na Igreja ca tó lica ............................. 122
A nova era nas Igrejas evangélicas.................. 124
Como identificar o evangelho da nova era .. 127

VII
C apítulo
DMA SEITA DA NOVA ERA: A UNIVERSAL DO
REINO DE D EU S.......................................................... 133
A origem da universal.......................................... 134
Algumas práticas da universal.............................135
Av correntes de f é ............................................... 135
Entrego de objetos poro atrair sorte.................. 136
O descarrego com arru d a.................................... 138

VIII
C apítulo
MARIA SANTÍSSIMA NA BATALHA ESPIRITUAL. 141

C a pítulo I X
O MUNDO VAI ACABAR?........................................ 145
1- sinal: fraude espiritual.......................................151
2- sinal: caos político e social.............................. 153
3Qsinal: manifestações da natureza.................. 153

I
A pên d ice
EXORCISMO................................................................. 157
Contra Satanás e os Anjos Rebeldes................ 157
Publicado por ordem de S. S. Leão X III......... 157
Oração a São Miguel A rcan jo.......................... 157
E xorcism o................................................................ 158
Salmo 6 8 (6 7 )........................................................... 158
O ração....................................................................... 161

/
II
A pên dice
LIVRAI-NOS DO MAL 163

Alocução de Paulo VI, na audiência pública


de 15 de novembro de 1 9 7 2 ..............................163
O ensinam ento b íb lico .......................................... 164
O inimigo o c u lto .................................................. 168
A ação do d em ônio.............................................. 170
A defesa do cristão................................................ 171

8
Apresentação

Uma obra como Batalha espiritual, do Pe.


Alberto Gambarini, é sumamente importante em
nossos dias, pois os livros de espiritualidade e os
sermões paroquiais guardam perigoso silêncio
sobre a tentação e, conseqüentemente, sobre a
ação do mau espírito na vida cristã. Para alguns
autores e pregadores os nomes de Satanás e do
demônio não representam senão uma personifi­
cação mítica e funcional, cujo único significado
seria o de sublinhar de forma dramática o influxo
do mal e do pecado sobre as pessoas e a sociedade.
Todavia, entre a negação da existência do demô­
nio e a da tentação existe apenas um passo.
A este respeito, e em sentido oposto, nos
alegram e impressionam as palavras valentes
do Papa Paulo VI, que representam a posição
oficial da Igreja: "O mal não é somente uma
deficiência, mas uma eficiência, um ser vivo,
espiritual, pervertido e pervertedor. Uma terrí­
vel realidade. Misteriosa e pavorosa. Sai do en­
sinamento bíblico e da Igreja quem rejeita a
9
sua existência ou ensina como sendo uma
pseudo-realidade, ou somente uma maneira
para explicar as causas do mal... O diabo é
homicida desde o princípio... pai da mentira,
como é definido pelo Cristo (cf. Jo 8, 44-45)".
Com efeito a Bíblia, o ensino tradicional
da Igreja, a experiência dos grandes mestres da
espiritualidade e da mística descrevem a vida es­
piritual e detectam nela a existência da tentação,
provocada pelo mau espírito, cuja ação se opõe
à ação do Bom Espírito e da graça divina. Em
outras palavras, a vida espiritual é descrita exata­
mente pela luta. Uma luta real, correspondente
à ação do mau espírito e do Bom Espírito. Ação
que, aliás, não é fácil de identificar, já que o
inimigo costuma se disfarçar e esconde a sua
identidade de pai da mentira.
Graças a Deus, o discernimento espiritual,
praticado em espiritualidades tão sólidas como
a beneditina, carmelitana e inaciana, está no
auge em nossos dias. E alegra-nos, por isso,
constatar que este excelente livro do Pe. Alberto
segue a mesma orientação dos grandes mestres
da espiritualidade e, como eles, não se limita a
"teorizar", mas "ajuda" concretamente os cris­
tãos de nossos tempos a "discernir" a ação dos
diversos espíritos que "agitam", como diria
Loyola, os homens e comunidades que preten­
dem levar a sério a vida espiritual cristã.
É curioso! Para Inácio a luta é inerente à
vida espiritual. Não existe vida espiritual sem
luta. E Inácio desconfia daqueles cuja vida trans­
corre em absoluta calmaria, ou seja, daqueles
10
que, por uma parte, não sentem no seu íntimo
a ação do mau espírito, e que, por outra, são
incapazes de reconhecer e agradecer a ação do
Bom Espírito que estimula e orienta todo e
qualquer progresso na vida espiritual.
Parece-me que prestam um grande servi­
ço a Satanás tanto aqueles que são indiferentes
e ignoram a ação do mau espírito como aque­
les que atribuem poderes de Deus ao inimigo
que é uma pura criatura. Infelizmente estas
pessoas tornam-se incapazes de experimentar a
infinita e gratificante obra do Espírito Divino
que, como na criação, também “geme" nos
nossos corações e não permitirá que sejamos
tentados acima de nossas forças (cf. ICor 10,13).
Obrigado, Pe. Alberto, por este seu novo
livro que, de uma maneira prática, orienta a vida
espiritual de tantos bons cristãos que, impulsio­
nados pela força do Espírito, tentam sair vitori­
osos das muitas batalhas que devem enfrentar
pessoal e socialmente no mundo de hoje.
Parabéns, Pe. Alberto, por este seu 102 livro,
cujo lançamento coincide também com os dez
anos de programação rádio-televisiva do seu pro­
grama evangelizador "Encontro com Cristo".

o—
iC. G alache , SJ*
j E d iç õ es L oyo la
APRESENTAÇAO

" L ivrai-n os d o m a l" é o que pedimos cons­


tantem ente na oração que Jesus nos ensinou.
Sabemos com o o problema do mal angustia a
todas as pessoas de bem. Jesus veio em nosso so­
corro para crucificar, em sua própria carne, todo o
mal das pessoas que o reconhecem como Salvador.
Com sua paixão, morte e ressurreição, venceu o
pecado, o dem ônio e a morte.
Em Cristo, portanto, toda a nossa confiança e a
certeza da vitória final! Não existe vitória sem luta.
Este novo livro do Pe. Alberto Gambarini nos
introduz e nos fortalece na grande Batalha espiritual.
Faço votos que muitos o leiam e, meditando-
-o, saibam vencer o grande com bate.

Consolidai Vossa Vocação!

Bispo Diocesano
Prólogo

Antes de iniciar a leitura deste livro, per­


mitamos que o Senhor libere seu poder em
nossas vidas. Fechemos os olhos e peçamos que
Ele venha em nosso socorro, que supra nossa
incapacidade, nossa limitação humana, e nos
dê a graça da compreensão de sua Palavra: uma
compreensão não apenas intelectual, mas tam­
bém, e principalmente, espiritual.
"Inspira-nos, Senhor, a atenção de que preci­
samos para receber a tua Palavra. Ilumina a
nossa mente, Senhor. Convence o nosso cora­
ção, unge os nossos ouvidos. Que a tua mão
poderosa, Pai, esteja sobre a nossa vida e
confirme a Tua unção, para que a tua Pala­
vra, como luz de nossos passos, traga a nossas
vidas as bênçãos de que necessitamos. Em
nome de Jesus, amém."

P e . A l b e r t o L u iz G a m b a r in i

13
ük.
Introdução

Este livro fala de um dos temas mais atuais


para o cristianismo: a batalha espiritual. Falar deste
tema significa entrar na dimensão dos poderes
das trevas. Não estamos diante de algo fácil. Há
sempre o perigo de cair no engano de desprezar
a presença de Satanás e seus demônios, ou conce­
der exagerada importância a sua influência na
vida dos homens.
A Palavra de Deus nos alerta: a vida cristã
autêntica não é algo pequeno. Para alcançá-la é
necessário exercitar o poder espiritual recebido
em Jesus Cristo. Aqueles que descuidam do trei­
namento para a batalha, mais cedo ou mais tar­
de, caem derrotados diante da vida. Todo cristão
deve viver como um soldado de Cristo, manten­
do uma disciplina apropriada e uma firmeza de
propósito conveniente.
Tendo entendido esta primeira verdade,
é necessário definir: o que é batalha espiritual?
Trata-se de reconhecer que, a partir da queda
15
de Lúcifer, anjo mau que originou o mal, e por
meio do pecado de nossos primeiros pais, co­
meçou um conflito que dura desde sempre.
Este início da batalha espiritual está reve­
lado em Gn 3,15: "Porei hostilidade entre ti
e a mulher, entre a tua descendência e a
descendência dela. Esta te atingirá a cabeça,
e tu lhe atingirás o calcanhar". Sendo Sata­
nás e seus demônios expulsos do céu, o comba­
te passou a ser travado na terra: "Foi precipi­
tado o grande dragão, a antiga serpente,
aquele a quem chamam Diabo e Satanás, o
sedutor do mundo inteiro. Ele foi precipita­
do à terra, seus anjos com ele" (Ap 12,9).
A Escritura é clara quanto ao confronto do
Reino de Deus e o império das trevas: "Ele (Deus)
nos arrancou ao poder das trevas e nos trans­
feriu para o reino do Filho do seu amor". (Cl
1,13). Também somos alertados: "Pois não é o
homem que afrontamos, mas as Autoridades,
os Poderes, os Dominadores deste mundo de
trevas, os espíritos do mal que estão nos céus
(Ef 6,12).
A estratégia de Satanás é tentar, por todos
os meios, impedir os homens de viverem como
verdadeiros habitantes do Reino de Deus. Pode­
mos identificar esta ação destruidora pelos gra­
ves acontecimentos dos dias atuais: destruição
da família, aumento da pornografia, expansão
das drogas, guerras, violência urbana, corrupção
política, a injustiça social, a confusão religiosa
causada pelo crescimento de seitas pseudocristãs
16
e pela onda de esoterismo influenciada pela
nova era.
E o mais grave é constatar esta ameaça
invadindo a própria Igreja. Em 15 de novem­
bro de 1972, o Papa Paulo VI, em sua alocução
intitulada "Livrai-nos do mal", afirmava: "...a
fumaça de Satanás penetrou no Templo de Deus
por alguma brecha".
Existe uma batalha acontecendo. Cada um
de nós é chamado a ocupar o seu lugar de sen­
tinela e guerreiro do Senhor. Cabe a cada cristão
ter consciência da gravidade desta batalha, e ao
mesmo tempo saber discernir as artimanhas do
inimigo, para saber combatê-lo eficazmente.
C apítulo 1

Desmascarando
o inimigo

Todo despertar espiritual autêntico leva a


um confronto com as potências das trevas.
Nesta visão, o cristão é alguém que está em
batalha para deter o avanço do perverso inimi­
go da obra de Deus: Satanás.
Mais do que em outros tempos, torna-se
necessário reconhecer quem é este inimigo per­
verso, e aprender a não permitir que ele nos
engane quanto ao seu poder. Em teoria, a maio­
ria dos cristãos crê que não existe poder igual
ao do nosso grande e poderoso Deus. Todavia,
na prática, um bom número desses mesmos
cristãos reage como se o diabo fosse um deus
mau lutando contra o Deus bom. Muitos vi­
vem um cristianismo feito de medos ou, o mais
grave, cheio de superstições, no qual em tudo
se vê a presença do maligno.
19
O cristianismo sadio tem presente a rea­
lidade de Satanás e seus demônios, sem contu­
do se deixar intimidar. Ser cristão é viver a
certeza revelada em ljo 4,4: "...o que está no
meio de vós é maior que aquele que está no
mundo".

PARA A BÍBLIA, QUEM É O DIABO?


A Sagrada Escritura faz questão de revelar
com todas as letras que o diabo não possui
poder igual ou semelhante a Deus. Afinal, ele
não passa de uma criatura de Deus: "A serpen­
te era o mais astuto de todos os animais do
campo que o senhor Deus havia feito..." (Gn
3,1). Sua posição é abaixo de Deus. Ele necessi­
ta de permissão para agir conforme o testemu­
nho da história de Jó: "então o Senhor disse
ao Adversário: 'Seja assim! Todos os seus bens
estão em teu poder. Só não estendas tua mão
contra ele'. E o Adversário retirou-se da pre­
sença do senhor" (Jó 1,12).
Somos informados de que Satanás era um
anjo de luz, chamado Lúcifer, que se rebelou
contra Deus: "Eras um querubim cintilante,
o protetor que eu havia estabelecido; estavas
sobre a m ontanha santa de Deus, ias e vinhas
no meio das brasas ardentes. Tua conduta
foi perfeita desde o dia de tua criação, até
que se descobriu em ti a perversidade: pela
amplidão do teu comércio, te encheste de
violência e pecaste. Coloco-te, pois, na cate­
goria do profano, longe do monte de Deus,
20
vou expulsar-te, querubim protetor, do meio
das brasas ardentes" (Ez 28,14-16).
Não tendo poder para enfrentar a Deus,
ele tenta atingir o plano divino atacando o
homem: "Ora, Deus criou o homem para ser
incorruptível e o fez imagem daquilo que
lhe é próprio. Mas, pela inveja do diabo a
morte entrou no mundo e a experim entam
os que são do seu partido" (Sb 2,23-24). Deste
modo, a Bíblia faz questão de destacar que
Satanás é o "príncipe deste mundo" Qo 14,30)
e o príncipe das potestades do ar, do espírito
que agora atua nos rebeldes.
O papa Paulo VI, na audiência geral de
15 de novembro de 1972, diante da posição de
alguns em duvidar da existência do diabo,
apresentou a posição oficial da Igreja: "...O mal
não é somente uma deficiência, mas uma
eficiência, um ser vivo, espiritual, pervertido
e pervertedor. Uma terrível realidade. Miste­
riosa e pavorosa. Sai do ensinam ento bíblico
e da Igreja quem rejeita sua existência... ou
ensina como sendo uma pseudo-realidade,
ou somente uma maneira para explicar as
causas do mal... O diabo é hom icida desde o
princípio... pai da m entira, como é definido
pelo Cristo (cf. Jo 8,44-45)".
De acordo com o ensinamento bíblico c
a doutrina da Igreja, devemos crer que o diabo
(o caluniador), ou Satanás (adversário), 6 um
ser pessoal, invisível, incorpóreo, dotado de
conhecimento e liberdade.
I

I
COMO IDENTIFICAR A PRESENÇA DO
MALIGNO: A MENTIRA

O príncipe das trevas manifesta-se ao ho­


mem principalmente por meio da mentira. Esta
foi, desde o início da criação, a sua estratégia.
No paraíso, levou os nossos primeiros pais a
duvidarem da Palavra dada por Deus. Para al­
cançar este objetivo primeiro tentou distorcer
uma ordem de Deus: "Deus vos disse real­
mente: 'Não comereis de todas as árvores do
jardim'"? (Gn 3,1). Em seguida, despertou a
curiosidade, com a finalidade de fazer a mu­
lher crer que existia um certo exagero no man­
damento divino: "A mulher viu que a árvore
era boa de comer, sedutora de se olhar, pre­
ciosa para agir com clarividência. Apanhou
um fruto e dele comeu, deu-o também a seu
homem que estava com ela, e ele comeu"
(Gn 3,6).
O pano de fundo da mentira do diabo
era a falsa impressão de que, desobedecendo à
ordem divina, o homem seria igual a Deus: "É
que Deus sabe que, no dia em que dele co­
merdes, vossos olhos se abrirão e sereis como
deuses, possuindo o conhecimento do que
seja bom ou mau" (Gn 3,5). Esta ainda é a
insinuação mentirosa do maligno, que leva o
homem a se rebelar contra as verdades bíblicas
e buscar em tantos outros caminhos a igualda­
de com Deus.
Os caminhos desse afastamento são os
mais diferentes: muitos decretam a morte de
22
Deus e constroem suas vidas confiando somente
naquilo que é possível ver ou explicar pelo co­
nhecimento humano. Tantos outros fascinam-
-se pela busca de conhecimento em filosofias
ou doutrinas religiosas de conteúdo completa­
mente diferente da mensagem cristã, como por
exemplo toda a onda de misticismo divulgada
pela nova era.
O mais triste é observar que a mentira de
Satanás está entrando nas fileiras da Igreja, le­
vando os seus membros a práticas estranhas à
fé cristã, ou ainda, criando um espírito de rebe­
lião, a ponto de quebrar a comunhão desejada
pelo Senhor Jesus: "...p ara que eles cheguem
à unidade perfeita e, assim, o mundo possa
conhecer que tu me enviaste e os amaste
como tu me amaste" (Jo 17,23). Quantos cris­
tãos estão sendo inchados pelo mesmo orgu­
lho que levou Lúcifer, astro de luz, a se rebelar
contra Deus! E esta nova rebelião evidencia-se
ou pelo confronto dentro da Igreja, ou pelo
crescimento de tantas seitas, em sua grande
maioria nascidas de desentendimentos entre
cristãos.
O sinal da mentira do diabo dentro da Igreja
é a desunião. Se, em nome do evangelho, usa­
mos a calúnia em uma tentativa de destruir o
oponente, revelamos não estar na verdade. O
risco é tentar justificar a destruição que quere­
mos levar aos que julgamos ser nossos inimigos.
Quando a nossa defesa em nome de Deus que­
bra o corpo de Cristo, não estamos mais na ver­
dade de Deus.
É preciso sempre estar atentos para des­
cobrir se, por meio de nossas palavras e atitu­
des, não estamos sendo agentes do inimigo.
Quando perseguido, um líder, sem que tenha
consciência, pode passar a defender as suas
idéias e não os valores do Reino. Os piores
conselheiros são as emoções feridas. A mágoa
ou a incompreensão levam irmão a ficar con­
tra irmão. Este é o momento em que se abre a
brecha para que o inimigo nos leve à rebelião.

CAMPOS DE BATALHA

Primeiro campo de batalha: o indivíduo

O primeiro território que o inimigo dese­


ja alcançar é a nossa mente, olhos e coração. A
armadilha continua sendo a mesma: os nossos
sentidos (cf. Gn 3,6). Jamais seremos soldados
vencedores na batalha espiritual se primeiro
não estivermos em condições de enfrentar e
desmascarar o inimigo em nossa própria vida.
Isto significa que podemos incorrer no engano
de identificar o inimigo na vida dos outros,
na sociedade, sem que tenhamos consciên­
cia do combate que está acontecendo dentro
de nós.
É fundamental buscar e manter a integri­
dade de nosso ser (espírito, alma e corpo). Para
lutar contra o inimigo, devemos buscar a saú­
de espiritual, emocional e física. Satanás derru­
ba os soldados de Cristo por meio de uma destas
24
dimensões do nosso ser. Seguir a Cristo exige
dedicação e disciplina.

D im e n s ã o do e s p ír it o

A partir de nossa decisão de seguir a Cristo,


o nosso espírito é despertado pelo Espírito Santo.
Uma das imagens fortes do Espírito Santo é o
fogo, que nos ajuda a entender: para se manter
acesa, uma fogueira necessita de lenha.
A vida espiritual sadia necessita primeiro
da lenha da Palavra de Deus, "a fim de que o
homem de Deus seja perfeito, qualificado
para qualquer obra boa" (2Tm 3,17). A inti­
midade com a Bíblia dá à fé a segurança para
enfrentar o inimigo.
Foi com a Palavra de Deus na mente, co­
ração e lábios que Jesus enfrentou e venceu o
diabo nas tentações do deserto. Nestas três ten­
tações estão resumidas as formas como o inimi­
go procura nos levar para longe de Deus.
Na tentação de transformar o dinheiro
ou o prazer na meta principal da vida, a resposta
do Senhor foi: "Não só de pão viverá o ho­
mem" (Lc 4,4).
Diante da tentação de possuir poder para
dispor da vida conforme a própria vontade Jesus
repreendeu o diabo dizendo: "Adorarás ao
Senhor, teu Deus, e a ele só prestarás culto"
(Lc 4,8). O risco nesta tentação é não mais
saber qual o limite entre a nossa vontade e a
25
de Deus. Nessa perspectiva, há o perigo de con­
fundir a nossa vontade com a de Deus. Nessa
confusão, para nos convencer mais tarde da
inutilidade de Deus, o diabo cria doutrinas
que dão a ilusão de podermos obrigar Deus a
fazer o que desejamos. Proceder desse modo
significa trocar Deus pelo eu, afastar-nos Dele.
Outro ardil pelo qual o maligno tenta der­
rubar o cristão é a tentação da busca de manifes­
tações extraordinárias: sinais, prodígios e mila­
gres. Satanás é o maior especialista em fazer o
charlatanismo parecer milagre autêntico. O fato
de existirem curas ou milagres não dá a com­
provação da presença de Deus. Quem dá o dis­
cernimento para não ser enganado é a Palavra
de Deus: "D e fato, viva é a palavra de
Deus, eficaz e mais incisiva do que qualquer
espada de dois gumes. Ela penetra até divi­
dir a alm a do espírito, as articulações das
medulas. Ela julga as intenções e os pensa­
mentos do coração". (Hb 4,12). A ocorrência
de sinais extraordinários não pode desviar a
nossa atenção da fonte dos milagres, pois a gló­
ria não pertence a homens ou a qualquer outra
criatura. Diante desta tentação, prontamente
Jesus repreendeu o diabo: "Está escrito: não
porás à prova o Senhor, teu Deus" (Lc 4,12).
Somado ao alimento da Palavra, necessi­
tamos da união com a Igreja e da graça dos
sacramentos.
A comunhão com a Igreja é que dá a
certeza de estarmos com Jesus, pois ela faz
26
parte de seu plano de salvação para as nossas
vidas. Por meio dela somos cobertos da pro­
teção contra as forças do inimigo: "...e a Po­
tência da m orte não terá força con tra ela"
(Mt 16,18).
Os sacramentos são os canais deixados
por Jesus Cristo para comunicar o Seu poder a
nós. Pelo batismo, recebemos o Espírito Santo,
tornando-nos filhos de Deus, discípulos de
Cristo e membros da Igreja. A crisma capacita-
nos para o testemunho público de nossa fé. A
Eucaristia nos dá privilégio da intimidade com
Cristo, renova os efeitos do sacrifício da cruz e
concede-nos todo o auxílio divino para uma
vida de vitória. A reconciliação cura-nos da
doença do pecado. O matrimônio sustenta a
união do homem e da mulher com o amor de
Deus. A unção dos enfermos devolve a saúde
do espírito, alma e corpo. E o sacramento da
ordem revela que o Senhor da messe continua
a convocar pessoas para cuidar com zelo do
Seu povo.

D im e n s ã o d a a lm a

As nossas emoções são um dos canais


preferidos por Satanás para nos derrubar e tirar
o poder espiritual. Uma das armadilhas mais
fortes do demônio é fazer os cristãos não se­
rem capazes de reconhecer os próprios erros.
Trata-se do engano da falsa santidade: "Eu rezo,
jejuo, leio a Bíblia. Portanto os outros é que
estão errados". A armadilha de Satanás é fazer-
27
-nos vestir a roupa dos fariseus. O caminho para
não cair neste engano é jamais perder a cons­
ciência da nossa limitação humana.
Aquele que deseja ser soldado de Cristo,
deve estar atento ao que guarda em seu cora­
ção. A falta de perdão, a inveja, o ciúme, a
vingança ou a cobiça desmedida por bens ma­
teriais são como a erva daninha em uma plan­
tação. A Escritura nos previne: "Velai por que
ninguém venha a subtrair-se à graça de Deus;
nenhuma raiz amarga ponha-se a brotar, a
causar perturbação e, assim, a infeccionar a
comunidade" (Hb 12,15).
Como Jesus tem sofrido! Às vezes, passa­
mos uma vida inteira preocupados com o que
os outros dizem de nós; ficamos entretidos com
as nossas rusgas; destilamos mágoas; às vezes,
Satanás nos distrai fazendo-nos acreditar em
fofocas, levando-nos a tomar partido na comu­
nidade e a brigar entre nós... e o mundo se
perde!
De modo especial, quero falar aos jovens,
que são um dos alvos preferidos de Satanás. Pelos
mais diferentes modos, o Maligno tem levado a
juventude à destruição. Há ídolos da música que
com suas letras incentivam o uso errado do
sexo, dos tóxicos, a rebelião contra tudo. Ao ou­
vir músicas que sacodem e desequilibram o cor­
po, muitos jovens estão se contaminando sem
saber. Há algum tempo, me levantei de madru­
gada, liguei a televisão e vi uns loucos chacoa­
lhando a cabeça e balançando o cabelo em um
28
programa cristão. Um deles berrava, não canta­
va. A música cristã não pode reproduzir os mol­
des do mundo; ela tem de elevar nosso coração
a Deus, abri-lo para a alegria, a meditação, a
adoração e louvor! Você talvez diga: "Esse pa­
dre é muito careta!" Não. Nós cantamos músi­
cas alegres na Igreja. Mas ao fazer isso não repro­
duzimos os moldes do mundo. Temos de to­
mar muito cuidado, porque o Maligno, infeliz­
mente, tem entrado com sua fumaça dentro da
Igreja.
Os jovens devem estar atentos, porque
Satanás deseja plantar a insatisfação em seus
corações. Hoje em dia, quase todos têm um amigo
que se viciou em drogas; e, no futuro, talvez
quase todos terão um parente ou amigo com
a id s . A insatisfação leva o jovem ao tóxico, ao

alcoolismo, ao suicídio...
Não podemos nos esquecer dos casados.
A família está sendo atacada pelas forças do
inferno. Esse ataque começa pela perda dos va­
lores familiares, passa pelo incentivo ao adulté­
rio e termina na desunião de seus integrantes.
Quantos, hoje em dia, acham que não há mal
nenhum em "pular a cerca"! Na televisão, ou­
vimos artistas dizendo: "Se minha esposa sen­
tir atração por alguém e quiser ter algo com
essa pessoa, eu não vou me importar, porque
faço o mesmo. Vamos continuar morando em­
baixo do mesmo teto, porque somos um casal
moderno". Isso é quebrar o padrão de Deus
para a família! O homem e a mulher abençoa­
dos por Deus foram feitos um para o outro, até
29
que a morte os separe! Existem, é claro — e a
Igreja sabe disso —, alguns casos em que ocor­
re a separação. Mas isso são exceções, e não a
regra. Certa vez, ouvi uma jovem dizer ao
noivo: "Vamos casar!" E o rapaz respondeu:
"Ah, casar, não, mas se você quiser uma lua-
-de-mel...". Você que é jovem tome muito cui­
dado, porque o diabo conhece seu ponto fraco!
Sabemos que muitos homens casados di­
zem que não o são. Todos os casados, homem
ou mulher, têm de usar aliança. E hão adianta
usar o pretexto: "Engordei, ela já não serve...";
basta comprar outra e levar para o padre ben­
zer. Mostre que você é casado para defender-se
do adultério! Mostre que não tem vergonha de
reconhecer que diante do altar seu amor foi
consagrado a Deus e Ele lhe dará a graça de
perseverar em sua união! Quando não temos
famílias unidas, mais facilmente destruímos
a sociedade. Noventa e nove por cento daque­
las pessoas que estupram, assaltam ou são vio­
lentas vêm de lares desfeitos. É a família que
mantém a sociedade sadia, e ela vem de Deus.

D im e n s ã o do co rpo :

Não podemos descuidar de nossa saúde


física. Há pessoas que falam: "Depois que entrei
na Igreja, deixei de praticar esporte". Isso está
errado. É claro que, se depois da partida de
futebol, o pessoal vai "encher a cara", você não
deve mesmo participar do jogo, porque isso
não é sadio. Mas é importante cuidar do cor­
30
po: "Corpo sadio é mente sadia". Se o seu corpo
não funciona direito, sua emoção será enfra­
quecida e sua oração também não terá poder.
Além de praticar algum esporte, deve-se estar
atento ao ritmo do sono, para não abusar do
corpo. Durma as horas necessárias, não seja
dorminhoco: dormir quinze horas por dia tam­
bém faz mal. A medicina diz que oito horas
são suficientes. E antes de dormir, em vez de
ficar assistindo à televisão, leia um versículo
bíblico. Esse vai ser o melhor remédio para um
sono santo.
Este é o passo inicial para ser um guerrei­
ro valoroso no combate espiritual contra o
exército das trevas.

Segundo campo de batalha: a Igreja

Outra batalha é aquela que se trava con­


tra a Igreja. No Sínodo dos Bispos de 1985, foi
dito: "Não podemos negar a existência, na
sociedade, de forças que agem com certo espí­
rito hostil em relação à Igreja. Todas essas coi­
sas manifestam a obra do príncipe deste mun­
do e do mistério da iniqüidade em nossos dias".
Por que a Igreja é um dos alvos preferidos
de Satanás? Em primeiro lugar, porque foi fun­
dada por Jesus Cristo. Sua origem é santa, e
por isso as trevas tentam derrubá-la de todos
os modos. Ela é o lugar onde estão os salvos,
os que não desejam mais viver nas trevas. Ela
é necessária para a nossa salvação. Afinal, se­
31
gundo Efésios 5,25, “Cristo amou a Igreja e se
entregou por ela".
Satanás tenta desacreditar a Igreja, tornan­
do-a desnecessária. Há algum tempo, em uma
viagem à Europa, passei por uma praça e algu­
mas pessoas se aproximaram para falar de Jesus.
Então lhes perguntei de que grupo elas eram,
e me responderam: "Nós não somos de Igreja
nenhuma”. Insisti na pergunta, e a resposta
não se alterou: "Nós só temos Jesus e a Palavra
de Deus". Então comecei a mostrar-lhes, na Bí­
blia, todas as passagens que revelavam a im­
portância da Igreja. Elas então perguntaram o
que eu fazia, e quando descobriram que era
padre disseram: "Poxa! Tanta gente a quem pre­
gar a Palavra de Deus e tínhamos de topar logo
com um padre!".
Satanás tem enganado a muitos dizendo:
“Basta ter Jesus". Mas ninguém pode ter a Jesus
se não tem a Igreja. Quando fez o chamado a
Pedro, Jesus disse: "Tu és Pedro e sobre esta
pedra edificarei a m inha Igreja". E em Atos
dos Apóstolos, o primeiro livro da história da
Igreja, lemos que todos aqueles que aceitavam
Jesus e recebiam o Espírito Santo passavam a
fazer parte da Igreja (cf. At 2,41-47). Portanto,
a Igreja é necessária para a nossa salvação. É
ela que nos protege contra as portas do infer­
no: "...e a Potência da morte não terá força
contra ela" (Mt 16,18).
Quando o papa João Paulo II, na confe­
rência do Cairo, combateu com coragem o abor-
32
to, condenando-o como pecado, os jornais, a
rádio, a televisão tentaram diminuir a palavra
do Papa. Mas ainda assim, por meio do docu­
mento do Cairo, o Vaticano conseguiu impedir
que a vida fosse destruída. Os Estados Unidos,
a maior potência da terra, tiveram de se dobrar
ao Vaticano, o menor Estado do mundo, com
apenas mil habitantes: um Estado que não tem
exército, mas tem o poder de Deus.
Neste espírito de ataque à Igreja, o Malig­
no procura atingir aqueles que têm a responsa­
bilidade de pastorear o povo de Deus: o papa,
bispos e sacerdotes. Nunca foram feitos tantos
ataques ao clero. O inimigo tenta desmoralizar
os consagrados do Senhor, com calúnia, des­
confiança, e levar o rebanho à rebeldia, pois o
demônio sabe que uma Igreja desunida não pode
subsistir.
O grande chamado do Senhor em nossos
dias, reforçado nas aparições de Nossa Senhora
nestes dois séculos, é para que tenhamos um
amor todo especial pelo papa, pelos bispos e
padres, e de modo particular por aqueles pa­
dres que dirigem a nossa paróquia. O padre de
sua paróquia não precisa ser carismático. Ele
é um escolhido do Senhor, e se orar por ele,
e não estiver no meio daqueles que o criti­
cam, Deus reconhecerá isso. Todos os dias,
rezemos pela Igreja, pela santificação do clero,
para que Deus desperte vocações santas. Esta­
mos precisando de oradores repletos do Espíri­
to Santo.
33
Outro meio de ataque de Satanás consiste
em nos levar a duvidar da doutrina da Igreja.
Existe o perigo de nos deixar fascinar, enganar
e iludir por questionamentos às verdades da
nossa Igreja, recebidas desde a origem do cristia­
nismo. Tais verdades, nós as recebemos de Jesus,
por meio dos apóstolos. O apóstolo Paulo, em
Tito 3,9-10, diz: "Mas as vãs pesquisas, as ge­
nealogias, as disputas, as controvérsias acerca
da Lei, evita-as: são inúteis e vãs. Se alguém
for herético, afasta-o depois de uma primeira
e uma segunda advertência". Se você está assis­
tindo a um programa que fala mal da doutrina
de sua Igreja, fuja dele. Em vez de aceitar sem
mais nem menos as críticas, estude os funda­
mentos de nossa fé católica.
O príncipe das trevas deseja estabelecer o
caos espiritual pela confusão de doutrinas com
aparência cristã. Mas a Igreja criada pelo Espí­
rito Santo persevera na "doutrina dos apósto­
los..." (cf. At 2,42), não se deixa levar pelo
sabor de novidades.

Terceiro campo de batalha: a sociedade

O terceiro campo de batalha é aquele que


é travado na sociedade. A maldade de Satanás
se infiltra por agentes humanos e pelas diver­
sas instituições sociais. Por detrás das causas da
miséria, guerras, corrupção, imoralidade, expan­
são das drogas... está também a influência per­
34
niciosa de Satanás. Não se trata de tirar a res­
ponsabilidade do homem, mas ter presente a
perigosa estratégia de destruição do inimigo
contra a obra de Deus.
A batalha espiritual não é travada somente
contra pessoas individuais. O plano do diabo tem
como objetivo influenciar indivíduos que atuam
nos diversos níveis da sociedade. Ele, em nome
da liberdade, leva à contestação dos valores cris­
tãos, tentando apresentá-los como ultrapassados.
Por outro lado, afrouxa as consciências para que
percam a noção de verdade e mentira, honesti­
dade e desonestidade. Ele usa as pessoas, des-
truindo-as em todos os sentidos, com a finalida­
de de desestruturar a sociedade e afastá-la dos
valores de Deus.
Nesse sentido, o diabo pode se servir de
pessoas bem-intencionadas, todavia carentes de
uma experiência de Deus, para alcançar seus
objetivos. Estas pessoas nem sempre têm cons­
ciência de estar lutando contra Deus. Na maio­
ria dos casos, sempre imaginam estar buscando
o bem da humanidade.
O discípulo de Cristo precisa estar sem­
pre atento para que o espírito do mundo não
o afaste do Senhor. Toda a atenção se faz ne­
cessária, pois o inimigo não dá trégua. "Sabe­
mos que todo aquele que nasceu de Deus
não peca mais, mas o Gerado por Deus o
guarda, e o Maligno não tem como apanhá-
-lo” (ljo 5,18).
35
UM TESTEMUNHO DA MENTIRA
DE SATANÁS

Em 1978 comecei meu trabalho pastoral


na Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, em
Itapecerica da Serra, um município da Grande
São Paulo. Nessa ocasião, eu ainda não era pa­
dre, havia acabado de ser ordenado diácono.
Com a idade de 23 anos, de repente fui posto
diante da responsabilidade de pastorear um
rebanho em nome do Senhor.
Desde o início de meu ministério nessa
querida paróquia, senti um chamado a entrar
em guerra contra as forças do exército do ini­
migo de Deus. Alguns meses após a minha
posse, comecei a conscientizar o povo das for­
mas como o diabo se infiltrava para trazer des­
truição aos homens.
A linha mestra da pregação neste período
foram alguns textos da Sagrada Escritura que
esclareciam os malefícios dos cultos onde se
invocam e consultam espíritos. Em minha ci­
dade, como na maioria do Brasil, existe (ouso
dizer que agora em minha paróquia quase não)
uma grande influência do espiritismo kardecis-
ta (alto espiritismo ou mesa branca) e dos afro-
-brasileiros (baixo espiritismo: umbanda, quim-
banda, candomblé...). Por isso minha pregação
causou tamanho impacto.
Os textos bíblicos mais usados naquele
início de uma nova evangelização foram:
36
"Não pratiqueis a adivinhação; não a
procureis, pois tornar-vos-ia impuros. Eu sou
o Senhor, vosso Deus" (Lv 19,31).
"Aquele que se prostituir praticando a
adivinhação, eu me voltarei contra ele e o
cortarei do meio do seu povo" (Lv 20,6).
"Não haverá no meio de ti ninguém que
faça passar pelo fogo seu filho ou sua filha,
que interrogue os oráculos, pratique sorti­
légios, magia, encantam entos, enfeitiçam en-
tos, recorra à adivinhação ou consulte os
mortos. Todo homem que assim proceder é
uma abom inação para o Senhor, e é por
causa de tais abom inações que o Senhor,
teu Deus, desapossa as nações diante de ti"
(Dt 18,10-12).
"E com o o destino dos homens é mor­
rer uma só vez — após o que vem o julga­
m ento..." (Hb 9,27).
A primeira reação veio de dentro da pró­
pria Igreja, afinal muitos (é triste ter de admi­
tir) participavam da missa aos domingos, esta­
vam ligados a algum trabalho da paróquia e,
ao mesmo tempo, freqüentavam com tranqüi-
lidade lugares contrários aos ensinamentos bí­
blicos. Dentre esses, alguns preferiram afastar-
-se da Igreja ou freqüentar uma paróquia onde
não fossem questionados quanto ao erro das
suas crenças.
A segunda frente de batalha do inimigo
veio daqueles que não eram da Igreja, mas esta-
37
vam ligados ao espiritismo ou aos cultos afro. As
armas foram as mais diferentes: as tentativas de
desacreditar nosso trabalho com calúnias ou
ameaças de toda ordem, abaixo-assinados para
minha remoção da paróquia e, inclusive, traba­
lhos de macumba despachados na porta da ma­
triz e da casa paroquial.
Todavia, nem a atitude de repulsa vinda
de dentro da Igreja nem a reação externa al­
cançaram a finalidade de impedir o avanço da
obra de Deus. Afinal, não existe poder igual ao
do nosso Deus. Ele, e somente Ele, tem em
suas mãos todo poder do céu e da terra. Quem
combate com o Senhor dos Exércitos possui a
Sua promessa: "Os que esperam em mim não
ficarão envergonhados" (Is 49,23b).
Desde o início da nossa difícil tarefa, o
Senhor havia dado a convicção de que estava
se abrindo uma grande frente de batalha, a
começar pela paróquia, que representava ape­
nas o ponto de partida.
No começo dessa trajetória espiritual, não
havia ainda entendido claramente toda a am­
plitude da obra para a qual estava sendo pre­
parado. Imaginava tratar-se somente de um tra­
balho normal de evangelização em uma pa­
róquia.
Enquanto escrevo este pequeno histórico,
próximo do dia 20 de outubro de 1996, ocasião
em que serão celebrados os dez anos de progra­
mação de rádio e televisão, vem a minha mente
a visão daquilo que humanamente eu jamais seria
38
capaz de realizar: o alvo do Senhor era ser glori-
ficado pelos meios de comunicação.
Não se trata de falsa modéstia, e sim do
reconhecimento do que faço dentro de minhas
limitações, que são muitas. Como o apóstolo
Paulo declaro: "Por isso farei consistir meu
orgulho antes em m inhas fraquezas, a fim
de que pouse sobre m im o poder do Cristo."
(2Cor 12,9b). Espero em Deus um dia poder
escrever toda a história dessa missão que um dia
me foi confiada pelo chamado de Deus.
Este breve histórico de uma das dimen­
sões de nosso trabalho de evangelização tem
por finalidade introduzir um testemunho de
como Jesus Cristo libertou um membro de
minha paróquia das mentiras do Maligno.

UM TESTEMUNHO DE LIBERTAÇÃO

"Eis os sinais que acom panharão os


que houverem crido: em meu nome, expul­
sarão os demônios, falarão novas línguas..."
(Mc 16,17).
Este testemunho esclarece a realidade ter­
rível da destruição lançada pelo diabo na vida
daqueles que se envolvem com as suas práti­
cas. Ao mesmo tempo, fica desmascarada a
mentira de que o diabo tem um poder igual ou
semelhante ao de Deus.
"Fui criado em um lar católico onde aprendí
desde cedo a participar da missa aos domingos. Apesar
39
de estar freqüentando a igreja, por uma série de
motivos comecei a freqiientar um terreiro de umbanda.
Aí permanecí durante cinco anos. Nunca ouvira fa­
lar de que tal coisa era contrária à lei de Deus. Os
padres que passaram pela paróquia de Nossa Senho­
ra dos Prazeres de Itapecerica da Serra nunca toca­
ram neste assunto.
A promessa da mãe-de-santo era: 'Você vai
conseguir dinheiro, bens materiais, e na vida tudo
será fácil'. Porém, a realidade foi outra: em minha
casa cresceram as brigas, não conseguia trabalho,
não tinha paz interior, tudo parecia amarrado em
minha vida.
Tudo começou a mudar com a vinda do Pe.
Albeito, que começou a usar a Bíblia na missa e a
mostrar que os que freqüentavam centros espíritas ou
terreiros entristeciam a Deus.
Um dia, minha mãe voltou da missa e comen­
tou que o Pe. Albeito chamou a atenção para o pe­
rigo que correm as pessoas que vão aos centros espí­
ritas. Nesse tempo, eu estava no fundo do poço. Tomei
a decisão de não mais ir ao terreiro e voltei a parti­
cipar da Igreja. Os resultados foram maravilhosos: a
paz voltou a reinar na minha família, nunca mais
fiquei sem trabalho. Enfim, posso dizer que tudo se
fez novo pelo poder maravilhoso do Espírito Santo.
É impoitante lembrar que o espírito que descia
na mãe-de-santo rne ameaçou dizendo: 'Não gosto
de igreja, de padres e da oração do terço. Quem
paiticipa do centro fica com o nome marcado aqui.
Se você não voltar mais a este centro uma doença
incurável virá para você'.
40
i
No início nem dei atenção. Tudo estava cor­
rendo normalmente em minha vida. Um ano de-
l>ois de ter abandonado o terreiro, surgiu em mi­
nha perna uma trombose que se tornou tão grave,
a ponto de os médicos estarem dispostos a amputá-
la. Foi aí que lembrei das ameaças feitas pelo diabo.
Apesar de ter voltado a freqüentar a Igreja, ain­
da não estava totalmente integrado a ela. Estava afas­
tado da confissão e da santa comunhão havia nove
anos. Ia à missa, mas não recebia a maior fonte de
benção: o próprio Jesus presente na hóstia consagrada.
Eu não tinha buscado a confissão por medo de receber
alguma bronca, por vergonha de ter freqiientado luga­
res errados e, é chato reconhecer, porque não acredita­
va muito no sacramento da reconciliação.
O caminho para a minha vitória começou
em uma missa em que o Pe. Alberto explicava que
muitas doenças tinham como causa pecados não-
eonfessados, e de como a comunhão tinha a força
para trazer a cura de Jesus.
Mais uma vez, não permiti que o diabo me
enganasse. Pedi ao Espírito Santo que me tirasse o
medo, a vergonha e desse coragem para procurar o
padre e me confessar. A resposta de Deus não
tardou, pois em um domingo de louvor da paró­
quia, durante a oração de cura, Deus mostrou que
estava me curando. Para a glória de Deus, a doen­
ça desapareceu! Na segunda-feira, fui ao médico e
foi constatado que eu estava curado.
Cada dia, vejo bênçãos e mais bênçãos sendo
derramadas em minha vida e em nossa paróquia. Eu
sou testemunha de que quando andamos no temor
41
do Senhor, firmes na Sua Palavra, unidos a Sua
Igreja e fiéis aos Seus pastores não existe mal que
possa nos atingir. A maldição só se abate em nossa
vida quando desobedecemos à Palavra.
Deus seja louvado, porque veio em nosso so­
corro em Jesus Cristo, e agora esta derramando a
plenitude do Espírito Santo!
A n t ô n io C in t r a *

Este testemunho permite tirar algumas


conclusões:
— como ensinam a Bíblia e a Igreja, o
poder do diabo é real;
— o diabo pode mandar destruição para a
vida do homem e, consequentemente,
aqueles que se envolvem com estas prá­
ticas estão sujeitos a esta possibilidade;
— o mal lançado pelo inimigo é sempre
vencido pelo poder de Deus. Quem
se cobre com a proteção do Altíssimo
não teme o diabo;
— é necessário esclarecer as pessoas dos
perigos de freqüentar lugares onde se
invocam espíritos;
— para uma libertação da contaminação
das obras do mal, é preciso romper toda
ligação com elas. De modo prático, a
pessoa deve desfazer-se de tudo que te­
nha ligação com estes cultos e crenças;

* O nome do autor do testemunho foi mudado para


preservar sua privacidade.

42
— é necessário fazer uma oração de renún­
cia e um convite para Jesus Cristo entrar
no coração como Senhor e Salvador;
— procurar um sacerdote para uma boa
confissão e cobrir-se com a proteção
de Jesus presente na Eucaristia;
— participar com alegria da santa missa,
de algum grupo de oração e ser acom­
panhado por pessoas capazes de aju­
dar a não permitir que o inimigo ten­
te tirar a certeza da vitória;
— diariamente usar as armas da oração,
Bíblia e a oração freqiiente do terço;
— ter o coração limpo de toda mentira,
desonestidade, rancor, ódio, calúnia...
pois os sentimentos maus afastam Deus
e dão espaço ao autor do mal: o diabo.

43
SUGESTÃO PARA UMA ORAÇAO
PESSOAL DE LIBERTAÇÃO

SALMO 91 [90]

Aquele que habita onde se esconde o Altíssimo


e passa a noite à sombra do Deus Soberano.
— Do S enhor eu digo: "Ele é meu refúgio, minha
fortaleza,
meu Deus: nele confio!" —
É ele que te livra da rede do caçador
e da peste perniciosa.
De suas asas ele faz para ti um abrigo,
e debaixo da sua plumagem te refugias.
Sua fidelidade é um escudo e uma armadura.
Não temerás nem o terror da noite,
nem a flecha que voa em pleno dia,
nem a peste que ronda na sombra,
nem o flagelo que devasta ao meio-dia.
Se tombarem mil a teu lado
e dez mil à tua direita,
não serás atingido.
Basta abrires os olhos
e verás que recompensa recebem os infiéis.
Sim, S enhor, tu és o meu refúgio! —
44
Fizeste do Altíssimo a tua morada,
não te acontecerá desgraça,
nenhum golpe ameaçará a tua tenda,
pois ele encarregará seus anjos
de guardar-te em todos os teus caminhos.
Eles te carregarão em seus braços
para que o teu pé não se contunda numa pedra;
andarás por sobre o leão e a víbora,
calcarás aos pés o tigre e o dragão.
— Já que ele se apega a mim, eu o liberto,
eu o protegerei, pois conhece o meu nome.
Se me chamar, lhe responderei,
estarei com ele na aflição;
eu o livrarei e o glorificarei;
eu o cumularei de longos dias
e lhe revelarei a minha salvação.

ORAÇÃO A SÃO MIGUEL ARCANJO

São Miguel Arcanjo,


protejei-nos no combate, cobri-nos com vosso
escudo / contra os embustes e ciladas do demônio.
/ Subjugue-o Deus, / instantemente o pedimos, /
e vós, príncipe da milícia celeste, / pelo divino
poder, / precipitai no inferno / a Satanás e aos
outros espíritos malignos / que andam pelo
mundo para perder as almas / Amém. Sacratíssimo
Coração de Jesus (três vezes)
Tende Piedade de nós.

45
ORAÇAO
Senhor Jesus Cristo, eu creio que Tu morreste na
cruz por meus pecados e ressuscitaste da morte. Tu
me redimiste por Teu sangue e pertenço a Ti.
Confesso todos os pecados (........................) co­
nhecidos e desconhecidos. Lamento-me por eles.
Arrependo-me deles. Renuncio a todos eles. Eu per­
doo a todas as pessoas que me ofenderam (......... )
e quero que me perdoes. Perdoa-me agora e pu-
rifica-me com Teu sangue Jesus, que me purifica
agora de todo pecado. Echego a Ti neste momento
como meu Libertador.
Tu sabes minhas necessidades especiais, aquilo que
me perverte, aquele espírito maldito (dizer o nome
se sabe qual é) que me atormenta.
Clamo a promessa de Tua palavra: "Todo aquele,
que invocar o nome do Senhor será salvo".
Clamo a Ti agora: em nome de Jesus Cristo, liberta-
-me ó Senhor!
t Satanás, eu renuncio a você e a toda a sua obra,
inclusive toda e qualquer feitiçaria, macumba,
espiritismo, cartomantes, tudo que direta ou dis-
farçadamente tenha ligação com você.
f Renuncio agora, também, a qualquer ligação que
eu ou membros da minha família, amigos e co­
nhecidos tenhamos tido com as obras ligadas a
você.
t Eu renuncio a você, Satanás, em nome de Jesus
Cristo e ordeno que me deixe agora em nome de
Jesus Cristo, o Filho de Deus vivo, meu Salvador,
Amém.

46
C apítulo II

Plano de batalha

Existe uma batalha espiritual a ser travada


em nosso interior, na Igreja e na sociedade em
que vivemos. Precisamos estar conscientes desses
três grandes campos de batalha e não podemos
ser ingênuos a ponto de acreditar que ela possa
ser travada por cristãos despreparados, desaten­
tos, que não têm realmente o vigor de quem
deseja ser soldado de vanguarda. É necessário
um plano de batalha para enfrentar o inimigo,
com homens e mulheres repletos do Espírito
Santo.
Atualmente, estamos vivendo o tempo de
um derramamento especial do Espírito Santo
sobre a nossa Igreja. O papa Paulo VI, dirigin­
do-se aos líderes da Renovação Carismática reu­
nidos em Roma há alguns anos, lhes disse: “Esta
renovação espiritual é uma nova chance que
Deus está dando a sua Igreja". Estamos vivendo
justamente o tempo da chance de Deus. Não
47
podemos desperdiçá-lo; não podemos deixar
passar em vão a graça de Deus por nossa vida.
Devemos permitir que o Espírito Santo nos leve
para a frente da batalha, não para que sejamos
derrotados, mas para que possamos realmente
ser vencedores, soldados valorosos.
Os primeiros cristãos são exemplo dessa
atitude de guerra que deve estar presente no
cristianismo: "Eles os apresentaram [Paulo e
Silas] aos estrategos, dizendo: 'Esses homens
lançam a perturbação em nossa cidade: são
judeus e pregam normas de com portam ento
que não é permitido a nós, romanos, nem
adm itir nem seguir"' (At 16,20-21). Os cris­
tãos têm um estilo de vida que não é do mun­
do, mas do padrão de Deus. Eles não se confor­
mam com este mundo; não seguem os modis­
mos da maioria, mas aquilo que o Senhor diz
em sua Palavra.
A Igreja deve ter duas dimensões: em pri­
meiro lugar, deve ser reunião daqueles que são
chamados por Deus. Portanto, só vai à igreja
aquele que deixa Deus falar ao seu coração; só
persevera junto com a Igreja aquele que de fato
é a ovelha que ouve a voz do Bom Pastor. O
próprio Jesus diz: "As m inhas ovelhas ouvem
a m inha voz" (cf. Jo 10,16).
Mas a Igreja não pode ficar presa àquilo
que fazemos no final de semana, em nosso gru­
po de oração, na missa dominical. Portanto, ela
deve ter uma segunda dimensão: ser um benefí­
cio para aqueles que ainda não são membros
dela. Assim como Jesus não esperava que as
48
pessoas fossem a Ele, nós, que dizemos possuir
Jesus Cristo, temos de ir ao encontro dos perdi­
dos, para lhes dizer que existe Alguém que os
ama; temos de levar-lhes uma palavra de espe­
rança. A finalidade da Igreja no mundo é ser
instrumento de salvação para todos os homens.
No mundo, as pessoas querem cargos im­
portantes; querem ser caciques e não índios
comuns. Em um grupo, todos querem ser diri­
gentes; ninguém quer carregar a cadeira. Todos
querem ser da chefia na paróquia; não querem
visitar os pobres, os doentes, os presos, as pros­
titutas ou os drogados... ninguém tem tempo.
Mas as pessoas têm tempo para pensar em seus
interesses.
"Jesus os chamou e lhes disse: 'Como
sabeis, os que são considerados chefes das
nações as mantêm sob seu poder, e os gran­
des, sob seu dom ínio. Não deve ser assim
entre vós. Pelo contrário, se alguém quer ser
grande dentre vós, seja vosso servo, e se al­
guém quer ser o primeiro entre vós, seja o
escravo de todos. Pois o Filho do Homem
veio, não para ser servido, mas para servir e
dar a vida em resgate pela m ultidão'" (Mc
10,42-45). O soldado de Cristo é servo. Ao dar
o passo por Jesus, Ele nos dá o Espírito Santo,
que começa a renovar nosso espírito, nossas
emoções e nosso físico. Deste modo, à medida
que vamos nos treinando na Palavra, na ora­
ção, nos sacramentos e no serviço, tornamo-
-nos grandes aos olhos de Deus, e as bênçãos
crescem em nossa vida.
49
Existem muitos cristãos nos grupos de ora­
ção, nas paróquias, nas igrejas, que não possuem
idéias claras sobre o sentido de ser seguidor de
Jesus. É preciso perguntar: "Por que estou na
Igreja? Por que participo do grupo de oração?
Por que vou à missa todo domingo e visito os
pobres, os doentes? Por que leio a Bíblia e rezo
todos os dias?" Se de fato recebeu o batismo no
Espírito Santo, você então é chamado por Deus
a levar o Evangelho a todas as criaturas e a fazer
discípulos em todas as nações. Ser soldado de
Cristo é semear a boa nova de Jesus Cristo, é
levar a salvação a todas as pessoas. Nossa tarefa
é ganhar almas para Cristo, por meio de uma
vida abundante. Temos de mostrar que Jesus tem
o poder de salvar, libertar e curar.
Não podemos esquecer: estamos em uma
batalha espiritual. Isso significa que precisamos
subir nos telhados e proclamar aquilo que Jesus
fala aos nossos ouvidos. Temos de defender
nossa Igreja, temos de amar nossos pastores, o
papa, os bispos, os sacerdotes; temos de orar
pela perseverança e santidade dos seminaristas,
das religiosas, a fim de que dêem testemunho.
Essa batalha é travada também na socie­
dade, e isso não pode ser desprezado. Dizia um
santo, neste século: o cristão deve ter em uma
das mãos a Bíblia e na outra o jornal. Tem de
saber o que está acontecendo a sua volta, para,
a partir daí, mudar este mundo.
O diabo influencia sociedades inteiras, le­
vando-as ao caos social, político, econômico e
moral: destruição da família, pornografia, ex­
50
pansão das drogas, guerras, confusão religiosa
pelo crescimento das seitas, violência urbana,
corrupção na política. Nós, cristãos, temos de
trabalhar para que essas coisas possam ser der­
rotadas; para que se possa construir a civiliza­
ção do amor. Precisamos mostrar que a Palavra
de Deus tem a força de mudar tudo: minha
vida, minha família, meu trabalho, a política,
a economia, as artes... A fé pode mudar a vida
do empregado, do patrão; pode levar realmen­
te à construção da sociedade, do mundo que
Deus deseja para nós, onde possamos viver
plenamente o verdadeiro amor.
Tudo o que fazemos, na vida pessoal, na
Igreja ou na vida social, deve cumprir o obje­
tivo dado por Deus. Devemos nos perguntar
como usamos nosso tempo; que tipo de edu­
cação temos dado para nossa família ou como
convivemos com nossos parentes; como ga­
nhamos nosso dinheiro e como o temos gasta­
do; se nossas diversões são realmente agradá­
veis a Deus... Quer sejamos solteiros, casados,
viúvos ou separados, devemos nos perguntar
se a vida que levamos é digna daquele que se
diz discípulo de Cristo. O essencial é viver de
acordo com o padrão de Deus: se você é soltei­
ro ou solteira não pode ser, por esse motivo,
uma pessoa frustrada. As coisas nem sempre
acontecem na hora e nos moldes em que que­
remos, e sim quando e como Ele quer.
O apóstolo Paulo, em Colossenses 4,5, diz:
"Valei-vos da ocasião". Não seja soldado de
Cristo apenas à noite, no grupo de oração,
51
quando vai a um curso de noivos ou à missa.
Não seja uma coisa na oração e outra em sua
vida diária. Volte-se para Deus, e sua vida espi­
ritual será abençoada. Você terá uma vida de
poder.
Ninguém vence a batalha sozinho. Uma
das áreas em que Satanás tem êxito é impedir
os cristãos de trabalhar como um exército
unido. Enquanto fico preocupado com alguém
que — dizem — me fez algo, ou sinto ciúme
porque outra pessoa está aparecendo mais, ou
me preocupo com o que podem estar falando
de mim, perco tempo, deixo de trabalhar, por­
que fico triste, deprimido, nervoso. É isso que
o diabo quer. Agindo assim, não teremos tem­
po para salvar almas.
Em nome de Jesus, possamos queimar no
fogo do Espírito essas emoções ruins. Possamos
levar o espírito de unidade às nossas paróquias.
Veremos milagres permanentes quando os cris­
tãos realmente souberem, dentro de suas pró­
prias Igrejas, ser unidos; quando os cristãos de
todas as denominações aprenderem a anunciar a
Palavra, sem querer engordar suas igrejas. A ba­
talha não pode ser travada contra aqueles que
estão recebendo a instrução da Palavra, mas con­
tra Satanás e seus anjos maus.
Não nos afastemos do trabalho quando
alguém nos perseguir, quando falarem mal de
nós, quando quiserem nos “puxar o tapete".
Lembremo-nos da Palavra de Jesus a Pedro quan­
do este Lhe perguntou o que iria ganhar depois
52
de ter deixado tudo para segui-Lo: "Cem vezes
mais agora, no tempo presente, casas, irmãos,
irmãs, mães, filhos e campos, com persegui­
ções, e no mundo futuro a vida eterna" (Mc
10,30). Saibamos ser intercessores, orando por
nossa vida pessoal, pela Igreja e pelo mundo em
que estamos vivendo, para que os pecadores
sejam salvos.

53
C a p ít u l o III

Treinamento
para a batalha

Para enfrentar a batalha contra as forças


espirituais, precisamos estar preparados, e não
apenas como recrutas de última hora, mas como
soldados prontos para vencer, em nome do
Senhor.
Em nossos dias, como talvez em nenhum
outro tempo, vemos de maneira sobrenatural o
derramamento do Espírito Santo. Sem dúvida
alguma, estamos diante de uma renovação es­
piritual que marcará profundamente o cristia­
nismo de nossa geração. E é por isso, por estar­
mos vivendo um tempo do Espírito, que o
inimigo, diante de tal ofensiva espiritual, não
permanecerá quieto. Estamos vivendo um mo­
mento em que Deus está avivando, despertan­
do um povo. Mas ao mesmo tempo, ao lado
do crescimento vertiginoso de pessoas que se
dizem transformadas pelo poder de Deus, não
temos constatado uma real transformação de
suas vidas, apesar de dizerem que estão seguin­
do Jesus Cristo. As idéias, as palavras e a ma­
neira de agir de alguns que afirmam ter nasci­
do de novo em nada se diferenciam do modo
de vida daqueles que estão afastados de toda
prática religiosa. Qual a razão disso? A respos­
ta, a encontramos na parábola do Evangelho
em que o Senhor diz que foi plantado o trigo
e, junto, cresceu o joio. Por que o joio está
crescendo por entre a renovação espiritual? (cf.
Mt 13,24-30.36-43.)
Sem dúvida alguma, o problema é a igno­
rância espiritual, causada por dois motivos:
— por não se ter recebido instrução es­
piritual no início da caminhada;
— pela soberba pessoal de imaginar ser
suficiente sua experiência inicial.
Há quem ache que basta começar a par­
ticipar de um grupo de oração, ou fazer um
seminário de vida no Espírito, para ser um
cristão pleno do Espírito Santo. Não. Isso é
apenas o início de uma caminhada que deve
ser cultivada. Ocorre o mesmo com o agricul­
tor: se deseja ver resultados em sua plantação,
não basta apenas que semeie, ele tem de cuidar
daquilo que foi semeado.
Tais pessoas, expostas às investidas do ini­
migo, deixam de crescer, ou na verdade andam
para trás, porque o resto continua caminhando.
Por estarem alicerçadas não sobre a rocha, mas
56
sobre a areia, elas voltam para sua antiga vida.
Quando essas pessoas entram na batalha espiri­
tual, mais cedo ou mais tarde, com toda proba­
bilidade, enfrentarão o risco de ataques pessoais
de Satanás, e como conseqüência — porque não
estavam de fato no Senhor, mas envolvidas com
suas idéias ou com aquilo que julgavam ser o
Senhor — trarão descrédito para a obra de Deus.
O contratestemunho — por nossa igno­
rância ou soberba, por nossa preguiça de apro­
fundar as verdades divinas — virá por um es­
tilo de vida contrário ao Evangelho ou pela
volta da pessoa a sua antiga vida.
Diante de um tempo de renovação espiri­
tual, em que somos levados a entrar no território
do inimigo, é de fundamental importância um
melhor treinamento de todos os envolvidos na
luta espiritual. Não basta ter um linguajar cristão,
freqüentar uma igreja ou até estar envolvido em
alguma pastoral. Tudo isso é importante, faz parte
do ser cristão, mas é somente uma conseqüência,
pois ser cristão pleno do Espírito Santo é viver de
acordo com o padrão estabelecido por Deus. Muitas
vezes confundimos cristianismo com costumes:
"Não corte o cabelo, não use esse tipo de roupa ou
maquiagem..." Isso é muito fácil fazer, mas não
diz a Jesus Cristo quem você é de fato. Você pode
agir dessa maneira e, ao mesmo tempo, ter um
coração de pedra, duro, não refletindo uma men­
te renovada pelo poder do Espírito.
Certa vez, li uma verdade que marcou pro­
fundamente meu coração: "O cristão está sem­
pre disposto a aprender as coisas básicas do
57
procedimento agradável ao Senhor". É aquele
que deseja agradar a seu Deus naquilo que pen­
sa, vê, ouve, fala e faz. Aquele que, na forma
como está vivendo em família, ou trabalhando,
ou na escola, ou namorando, sabe está sempre
na Presença do Senhor. O verdadeiro cristão
não passa seu tempo envolvido em discussões re­
ligiosas, ou discutindo hábitos, apegado a picui­
nhas... O cristão é aquele que sabe que por sua
vida, por seu proceder, será julgado pelo Todo-
-Poderoso. Em Apocalipse 22,12, está escrito:
"Eis que eu venho em breve, e m inha retri­
buição está comigo, para pagar a cada um
segundo as suas obras". O Senhor está dizen­
do que no dia do julgamento receberemos pela
forma como aqui vivemos. Em ljoão 2,5-6, le­
mos: "Aquele que guarda a sua Palavra, nele
o amor de Deus é verdadeiramente perfeito;
e nisto reconhecem os que estam os nele.
Quem pretende permanecer nele deve tam ­
bém andar no cam inho em que ele [Jesus]
andou".

ETAPAS PARA O TREINAMENTO

Primeira etapa: entrega real da vida ao senhorio


de Jesus Cristo

Nesta primeira etapa, é preciso examinar


quem está no comando de nossa vontade. Não
podemos desprezá-la, sob pena de afetar o res­
to de nosso treinamento, de nosso compromis­
so com Jesus.
58
A entrega da vida a Jesus, no momento
da conversão, é somente um primeiro degrau
tia vida cristã. Paulo, grande conhecedor dos
caminhos de Deus, tem alguns versículos pre­
ciosos a este respeito: "Se alguém está em Cris­
to, é uma nova criatura. O mundo antigo
passou, eis que aí está uma realidade nova"
(2Cor 5,17). E o Apóstolo continua, explican­
do qual é o efeito dessa vida nova em Cristo.
Infelizmente, às vezes, é deixada de lado a lei­
tura dos versículos seguintes, onde está descri­
to como saber se de fato nascemos de novo.
Leiamos juntos 2 Coríntios 5,18-21; 6,1:
"Tudo vem de Deus, que nos reconciliou con­
sigo por Cristo e nos confiou o ministério da
reconciliação. Pois, de qualquer forma, era
Deus que em Cristo reconciliava o mundo
consigo, não imputando aos homens as suas
faltas, e pondo em nós a palavra de reconci­
liação. É em nome de Cristo que exercemos a
função de embaixadores, e, por nós, é o pró­
prio Deus que, na realidade, vos dirige um
apelo. Em nome de Cristo, nérs vos suplicamos,
deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que
não conhecera o pecado, ele o identificou com
o pecado, por nós, a fim de que, por ele, nos
tornemos justiça de Deus". "Visto estarmos
cooperando com ele, nós vos exortamos a não
deixar sem efeito a graça recebida de Deus".
Estamos diante de algo muito sério. Essas
palavras do Apóstolo não foram dirigidas a cris­
tãos marinheiros de primeira viagem, mas a uma
Igreja considerada espiritualmente forte. Aparen­
59
temente, a Igreja de Corinto era digna de admi­
ração, pois tinha todos os dons do Espírito San­
to. No entanto, nas duas cartas de São Paulo aos
Coríntios, percebemos duras correções feitas pelo
Apóstolo. O problema dos cristãos daquela Igreja
eram os relacionamentos. Ali existiam divisões,
ciúmes e contendas, sinais visíveis da falta de
visão da obra realizada por Deus na cruz de Cristo.
O apóstolo Paulo nos diz que por causa da cruz
fomos transformados em embaixadores da recon­
ciliação, do perdão, da comunhão entre as pes­
soas. Em outras palavras, Paulo está dizendo que
não seremos dignos das bênçãos da cruz se não
formos uma bênção para nossos irmãos; se esti­
vermos, como a Igreja de Corinto, repletos de
divisões, mentiras, adultério, desonestidade...
Temos de pôr em ordem nossas idéias e
rendê-las ao Senhor. Temos de pôr em ordem
nossa vida na família; a esposa precisa orar pelo
marido, e este pela esposa; os filhos devem orar
pelos pais, e os pais pelos filhos! "Quem preten­
de permanecer nele deve também andar no
caminho que ele andou" (ljo 2,6). Para pôr em
ordem nossa família, nosso ambiente de traba­
lho, o mundo, é necessário, antes, começar a
faxina em nossa vida pessoal, naquilo que esta­
mos guardando na mente e no coração. Para
alcançar este objetivo, é preciso permitir que o
Espírito Santo nos dê a posse do poder da cruz
para todas as áreas de nossa vida, "pois, de
qualquer forma, era Deus que em Cristo re­
conciliava o mundo consigo, não imputando
aos homens as suas faltas, e pondo em nós a
palavra de reconciliação" (2Cor 5,19).
60
Na hora em que seu coração se angustiar,
desanimar ou entrar em batalha contra outros,
procure lembrar: quando éramos pecadores, Jesus
morreu por nós na cruz, e Ele não fez isso para
que tivéssemos ódio de nossa família, para que
fôssemos desonestos, fofoqueiros, ciumentos....
Não! Ele morreu para que, por seu sangue, fôsse­
mos lavados, libertados do pecado!
Pergunte a si mesmo: "Quem está no co­
mando de meus pensamentos, de minha boca,
meus ouvidos, meus olhos? Quem está no coman­
do de meu coração?" Se você descobrir pensamen­
tos impuros, sentimentos ruins, atitudes de­
sonestas, procure pedir perdão ao Senhor, fazer
uma boa confissão. No domingo, ao comungar,
peça a Jesus que comece a curá-lo, para que você
possa ser fortalecido, abençoado, transformando-
-se em um soldado que vive no poder da cruz.

Segunda etapa: andar na unção do Espírito

" O s que pertencem ao Cristo crucifica­


ram a carne com suas paixões e desejos. Se
vivemos pelo Espírito, andemos também sob
o impulso do Espírito" (G1 5,24-25).
A Igreja primitiva era zelosa quanto à qua­
lidade de seus membros. Procurava de todos os
modos fazer com que aqueles que desejavam
seguir Jesus Cristo entendessem de fato o que
isso significava. Assim, a efusão do Espírito Santo
— ou batismo no Espírito —, momento em que
o Espírito passa a habitar em nós, era condição
necessária para a pessoa ser considerada de fato
61
cristã, e por meio dessa experiência, a Igreja pro­
curava equipar a todos com o poder necessário
para testemunhar a fé.
Os primeiros cristãos não queriam ape­
nas números; não queriam somente pessoas que
freqüentassem a Igreja — aliás nem existia, na
época, a igreja-prédio, pois o cristianismo era
proibido, perseguido, e os irmãos se encontra­
vam nas casas, nas praças, nas cavernas, escon­
didos. O essencial era a qualidade da vida es­
piritual daqueles que aderiam a Jesus Cristo.
Nos Atos dos Apóstolos, encontramos
alguns exemplos importantes do zelo em tor­
nar as pessoas plenas do Espírito Santo:
— a resposta de Jesus aos discípulos antes
do derramamento do Espírito Santo
em Pentecostes: "Jesus lhes recomen­
dou que não deixassem Jerusalém,
mas esperassem aí a promessa do
Pai, 'aquela, disse, que ouvistes de
minha boca: João batizava com água,
mas vós, é no Espírito Santo que
sereis batizados daqui a poucos dias'"
(At 1,4-5).
Jesus não queria que as pessoas saíssem
de qualquer modo pelas ruas e praças falando
do Evangelho. Queria que esperassem pela
unção do Espírito, a unção que lhes desse as
palavras capazes de tocar os corações daqueles
que estavam longe do Evangelho. Os cristãos,
hoje em dia, talvez não estejam buscando essa
unção da maneira como o Senhor exige. Mui-
62
Ias vezes, ficam contentes porque estão em uma
Igreja, ou porque vão a uma reunião, mas isso
não é suficiente. O Senhor deseja fazer jorrar
de nosso interior rios de água viva, para que
nos firmemos n'Ele de uma vez por todas.
— a atitude dos apóstolos de enviar Pe­
dro e João aos irmãos de Samaria. A
Igreja de Jerusalém ficou sabendo que
em Samaria fora pregado o Evange­
lho e, então, mandou os emissários
para que orassem e aquelas pessoas
recebessem o Espírito Santo: "Ao che­
garem, eles oraram pelos samarita-
nos, a fim de que recebessem o Es­
pírito Santo" (At 8,15);
— O grande apóstolo Paulo, após ver ao
Senhor e conversar com Ele na estra­
da de Damasco, chegou à cidade e
ficou como que cego. Então o Senhor
lhe mandou Ananias: "Ananias par­
tiu, entrou na casa e lhe impôs as
mãos, dizendo: 'Saulo, meu irmão,
é o Senhor que me envia — este
Jesus que te apareceu no cam inho
que seguias — a fim de que recupe­
res a vista e fiques repleto de Espí­
rito Santo'" (At 9,17).
Por que motivo preocupavam-se tanto em
levar aqueles que aceitavam Jesus a passar pela
experiência desse mergulhar, dessa efusão, des­
se batismo no Espírito Santo? Em primeiro
lugar, em virtude da vida pessoal do cristão.
Porque o Espírito Santo:
— nos capacita a viver de modo sobre­
natural (cf. At 1,8);
— nos convence do pecado e nos dá
força para vencê-lo (cf. Jo 16,8-10);
— nos dá os dons extraordinários para
sermos pedras vivas da Igreja de Cris­
to, e não somente assistentes (ICor
12,4ss.);
— nos dá o fruto de um proceder novo
com Deus e os irmãos (G1 5,22-23);
— nos dá um novo gosto pela oração,
pela Palavra de Deus e pela participa­
ção nos sacramentos, principalmente
a eucaristia e a confissão (At 2,42ss.).
Em segundo lugar, a Igreja primitiva preo­
cupava-se com a efusão do Espírito em vista da
construção do reino de Deus. Infelizmente, a
busca pela plenitude do Espírito Santo tem sido
incentivada somente em vista da vida pessoal,
como um fim em si mesmo. Daí haver, dentro
das Igrejas, tantas pessoas espiritualmente muti­
ladas. Não basta querermos o Espírito Santo
apenas para a nossa vida pessoal. Precisamos
permitir que Ele faça toda a sua obra. Se não
preenchermos esta segunda condição — que c
justamente permitir que o Espírito nos transfor­
me em instrumentos de construção do reino de
Deus, não teremos plena satisfação espiritual, e
em pouco tempo o Espírito Santo em nós estará
sendo entristecido pelo nosso proceder. Quem
põe a mão no fogo é para se queimar. Em outras
palavras, se queremos o Espírito Santo para con­
tinuar levando uma vida acomodada ou egoísta,
estamos buscando a coisa errada.
64
O discípulo de Cristo deseja que o Espírito
Santo possa agir em sua vida com toda a liber­
dade. Ele não fica fora do campo de batalha; ora,
todos os dias, de modo semelhante aos primei­
ros cristãos: "E agora, Senhor, sê atento às suas
ameaças, e concede aos teus servos que anun­
ciem a tua Palavra com inteira segurança.
Estende, pois, a mão para que se produzam
curas, sinais e prodígios pelo nome de Jesus,
teu santo servo" (At 4,29-30).
Os primeiros cristãos enfrentavam todo tipo
de dificuldade, de incompreensão; seus líderes es­
tavam sendo presos... mas eles não se deixavam
ameaçar, não se deixavam invadir pelo medo, não
desanimavam. Ao reunir-se, essas pessoas o fa­
ziam na certeza de que o poder de Deus iria real­
mente manifestar-se. Tratava-se de homens e
mulheres como nós, que tinham seu trabalho,
suas ocupações, mas que sabiam dar a Deus o lugar
devido em suas vidas. Hoje em dia, as pessoas dão
muito mais ao mundo do que a Deus.
Qual foi o efeito das palavras acima, pro­
nunciadas pelos primeiros cristãos? "No fim
de sua oração, o local em que estavam reu­
nidos estremeceu; todos ficaram repletos do
Espírito Santo, e proclamavam com firmeza
a palavra de Deus" (At 4,31). Na Igreja primi­
tiva não se perdia tempo. Existia a consciência
de se deixar moldar pelo poder de Deus para
ser um pescador de almas.
Há pessoas que passam a vida inteira cho­
rando por seus problemas, reclamando da vida...
Estão perdendo tempo, porque não acreditam
65
que, por estarem em Jesus, receberam a bên­
ção. São ricos, por possuírem uma riqueza que
lhes foi dada em Jesus Cristo, mas ao mesmo
tempo são mendigos, porque não a utilizam. A
partir do momento em que aceitamos Jesus
Cristo e deixamos o Espírito Santo começar a
agir, Ele vai nos moldando, vai devolvendo nos­
sa integridade perdida, nossa autoridade e po­
der diante da vida. A Igreja de nossos dias está
necessitando de um despertar espiritual capaz
de levar cada um de seus membros a ser sal e
luz de Cristo no mundo.
Não há como nos tornarmos plenos do
Espírito Santo com um conta-gotas; no céu
existe somente uma mangueira muito forte para
encher os nossos vasos. Somos vasos de barro,
como diz o apóstolo Paulo, mas repletos e trans­
bordando na graça de Deus, na unção do po­
der do Espírito Santo! Esta é a grande certeza
que devemos ter no coração.
Não desperdicemos a oportunidade que
nos está sendo concedida pelo Senhor Deus. O
Senhor está derramando como que um novo
Pentecostes! Não fique contente com restos; não
aceite lavagem, quando você pode ter o man­
jar do céu que lhe é oferecido na Palavra. Não
se contente com migalhas que caem da mesa
de Deus; é muito pouco, quando você pode
sentar à mesa com Ele e comer do melhor que
existe.
Uma vez que deixemos o Espírito Santo
agir, não o entristeçamos mais, com um proce­
66
der indigno de quem recebeu a vida nova. Nesse
sentido, faço minhas as palavras do apóstolo
Paulo: "Por isso recordo-te que tens de reavivar
o dom de Deus que está em ti desde que te
impus as mãos" (2Tm 1,6).
Aqueles que não estiverem realmente, da
ponta dos cabelos à ponta dos pés, encharcados
na unção do Espírito Santo, que tiverem apenas
uma religiosidade de casca, que forem preguiço­
sos, distraídos, serão engolidos pelos aconteci­
mentos.
Reavive a chama do dom de Deus enquan­
to Deus está falando conosco, enquanto existe
tempo para que nos convertamos. Assim, Ele nos
exaltará como soldados e receberemos toda pro­
visão. Não deseje pequenas coisas, apenas. Dese­
je a plenitude do Espírito Santo, e as pequenas
coisas, então, também serão abençoadas. Meu
irmão, não seja um mendigo espiritual. Se sua
vida, sua família não estão indo bem, se você
está sentindo falta de poder, é porque está preci­
sando renovar a unção do Espírito em sua vida.
Buscando a plenitude do Espírito, Ele passará
então a guiar sua vida, e você passará a ver sal­
vação, libertação, cura, milagres... Na plenitude,
você encontrará vida e poder.

Terceira etapa: conhecer a Palavra de Deus

Assim como um exército comum precisa


de treinamento básico para os seus soldados, o
mesmo se faz necessário para aqueles que estão
envolvidos na batalha espiritual. O Senhor não
67
deseja pessoas religiosas apenas. Ele quer que
aqueles que foram equipados com sua graça —
por meio do batismo no Espírito Santo — pos­
sam crescer sempre mais na condição de solda­
dos valorosos.
Em Efésios 6,17, o apóstolo Paulo diz: "Re­
cebei enfim o capacete da salvação e o gládio
do Espírito, isto é, a Palavra de Deus". O
soldado de Cristo precisa conhecer o plano da
batalha de Deus. Para tanto, é fundamental a
intimidade com a Escritura Sagrada. A Escritu­
ra não pode ser desodorante em nossa vida:
algo que apenas carregamos embaixo do braço,
e pronto. Não pode ser um livro empoeirado
que guardamos em nossa casa ou simplesmen­
te um enfeite bonito que expomos na sala. A
Bíblia deve ser o livro mais usado de nossa
casa, aquele que está à nossa cabeceira e do
qual nos alimentamos todos os dias.
A falha de muitos cristãos é não possuir
a familiaridade necessária com a Palavra. Não
estou falando simplesmente daquele conheci­
mento a partir do qual as pessoas citam sem­
pre determinados textos ou lêem somente as
partes que lhes convêm. Por exemplo:
— aqueles que são dados a um envolvi­
mento social usam e abusam de tre­
chos para tentar mostrar a importân­
cia de seu trabalho. E quantas vezes
acabam esquecendo que nem só de
pão vive o homem!
— os que pregam a cura divina dão a im­
pressão, a seus ouvintes, de ser este o
68
único tema da Escritura. Tal procedi­
mento pode criar cristãos incapazes
de uma verdadeira conversão, cristãos
que não vivem plenamente a Palavra
de Deus, porque ninguém a levou a
eles; e, o pior, tal procedimento pode
levar muitos de seus seguidores ao
desespero quando não se alcançam os
resultados prometidos;
— os que fazem da Bíblia uma espécie
de esparadrapo. Há pessoas que só se
lembram, por exemplo, do Salmo
22(23) ou do Salmo 90(91), como se
a Palavra fosse um tapa-buraco, uma
maneira de pensar positivamente, e
nada mais.
A Bíblia é um livro completo e não uma
colcha de retalhos para ser usada de acordo
com as conveniências individuais. A finalidade
da Palavra de Deus é clara, e está em Deutero-
nômio 12,28: depois de ter libertado seu povo
da opressão do Egito, Deus começou, por meio
de Moisés, a ensiná-lo a ser um povo-luz para
os outros: "Observa e escuta todas as pala­
vras dos mandamentos que te dou; assim
serás feliz, tu e teus filhos depois de ti para
sempre, porque terás feito o que é bom e
reto aos olhos do Senhor, teu Deus".
Quando olhamos apenas uma parte da Es­
critura; quando buscamos não a Deus na Bíblia,
mas desejamos simplesmente satisfazer nosso
egoísmo, nossa vontade humana, imperfeita;
quando vamos atrás das coisas de Deus não por
69
causa de Deus, não para ser filhos d'Ele, não para
aprender a andar segundo seus estatutos, mas
simplesmente pensando nos benefícios pessoais...
ficamos vazios. A Palavra de Deus é completa.
Ela fala de salvação, de ânimo, de cura, mas tam­
bém nos corrige: "Toda a Escritura é inspirada
por Deus, e útil para ensinar, refutar, corrigir,
educar na justiça, a fim de que o homem de
Deus seja perfeito, qualificado para qualquer
obra boa" (2Tm 3,16-17).
A Palavra foi revelada para nos mstruir
sobre a obra de Deus para as nossas /idas. Por
meio da Escritura, devemos ser formados a
pensar biblicamente (com as idéias de Deus, e
não de acordo com a cabeça dos outros) e,
conseqüentemente, a mudar nosso padrão de
vida. Deus precisa de pessoas pensando de
maneira nova, com pensamentos santos, com
o coração puro. O discípulo de Cristo não é
um novo fariseu, alguém que se esconde por
trás de uma falsa religiosidade.
Sempre existe o risco de sermos os juizes
dos erros alheios, sem perceber os nossos pró­
prios. É necessário, antes de tudo, conhecer a
Palavra e pregá-la a nós mesmos, obedecendo
às verdades bíblicas, deixando-nos transformar
por ela. Nunca seremos heróis da fé se não
possuirmos intimidade com a Bíblia. É preciso
conhecer o pensamento de Deus, a forma como
foi em socorro dos homens e, também, como
os corrigiu quando erravam a meta. Quando
precisou, Deus falou duro, para que os homens
pudessem acordar de seus erros. Estamos viven­
70
do um tempo em que não podemos falar man­
so; em que o pecado tem de ser declarado e os
homens têm de ser chamados ao arrependimen­
to. Satanás está fazendo alguns viverem uma fé
superficial, água-com-açúcar, e isso precisa ser
mostrado.
Em cada livro da Bíblia (de Gênesis a Apo­
calipse), por meio do testemunho de fé de tan­
tos homens e mulheres, recebemos a instrução
para enfrentar as tempestades da vida. Na carta
aos Hebreus, há uma preciosa revelação quan­
to aos resultados que a Palavra gera: "Estes [fala-
se aqui dos grandes heróis da Bíblia], graças à
fé, conquistaram reinos, praticaram a justi­
ça, viram realizar-se promessas, am ordaça­
ram a goela dos leões, extinguiram o poder
do fogo, escaparam ao fio da espada, recu­
peraram o vigor após a doença, mostraram-
-se valentes na guerra, e repeliram os exérci­
tos estrangeiros..." (Hb 11,33-34).
Ao examinar as Escrituras, desde o pri­
meiro livro, o Gênesis, descobrimos que Deus
tem um propósito: Ele não nos criou para ser
uma coisa qualquer, ou nos abandonar a nos­
so próprio destino. Somos a obra mais preciosa
de Deus, aquela com quem Ele tem um cuida­
do maior. O Senhor nos criou do pó da terra —
a parte que os oleiros reservavam para suas
peças mais valiosas. Ele criou tudo e colocou
à disposição do homem, para que fôssemos
felizes.
Deus havia apresentado a felicidade, mas
o homem preferiu seguir outro caminho. Até
71
hoje, muitas vezes, as pessoas preferem conti­
nuar em seus caminhos enganosos, em sua vida
vazia. Não percebem que não prosperam; que
em sua família não há paz, harmonia; que no
campo profissional não conseguem satisfação...
Parece que tudo à sua volta está perdendo o
sabor, que as coisas continuam como na época
de nossos primeiros pais! As pessoas continuam
preferindo o fruto proibido, levando uma vida
em que não há tempo para Deus.
Os heróis da Bíblia foram pessoas que tive­
ram de trabalhar e enfrentar o suor, o cansaço,
como todos nós. Tiveram qualidades e também
defeitos. Não eram super-homens. Em seus erros,
foram sendo ensinados por Deus a melhorar,
foram sendo aperfeiçoados. Lendo a Bíblia, você
descobre que não precisa se desmerecer. Reco­
nhece que, de suas perdas, de seus defeitos, Deus
pode tirar uma coisa boa. Ele tem um plano para
a sua vida, mas para isso há necessidade de muita
intimidade com a Palavra, e não apenas em al­
guns pontos.
Muitas pessoas acabam parando no meio
do caminho. Isso acontece ou por acharem que
a partir dali poderão caminhar sozinhas — e
então caem de novo —, ou porque não procu­
raram aprofundar sua fé. Lembre-se sempre:
quem recebeu a missão de nos instruir na Pa­
lavra de Deus foi a Igreja. No caso de qualquer
dúvida a respeito da Palavra, você não pode
recorrer ao vizinho, a pessoas de outra religião,
mas àquele que foi escolhido em sua igreja
para instruí-lo nas verdades de Deus. Temos de
72
tomar cuidado com aquilo que ouvimos ou le­
mos, porque a confusão hoje em dia é tão gran­
de que corremos o risco de não saber em quem
acreditar.
Um pastor da Assembléia de Deus nos
listados Unidos me dizia, há quinze anos: "A
América Latina e o Brasil só vão se converter a
Jesus quando nós crentes pararmos de querer
mudar os católicos e os crentes, Quando nós
crentes aprendermos a pregar Jesus e não pla­
cas de igreja, vamos estar realmente salvando
essa nação, a América Latina".
Isso não deve ser encarado como um ata­
que de minha parte a outras religiões, mas como
um esclarecimento para que não sejamos enga­
nados. A Palavra não foi feita para a confusão,
mas para a edificação. Não foi feita para que se
vá de porta em porta dizendo: "A minha está
certa e a sua está errada!" O pecado dos homens
é que causou isso, porque lêem a Palavra com
os olhos dos homens. É preciso lê-la com os
olhos de Deus! Então veremos que existe "um
só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só
Deus" (Ef 4,5-6).
O soldado de Cristo se abastece da Pala­
vra, e as discussões, contendas, não o abalam.
Ao se deixar abalar pelas críticas, você está
demonstrando que ainda não edificou sua vida
sobre a rocha da Palavra. Se Jesus é o seu
Senhor, e você está vivendo na unção do Espí­
rito, caminhando na Palavra, crescendo na
oração, alimentando-se pelos sacramentos, en­
tão é de fato um soldado de Cristo. Em Isaías
73
43,1, está escrito: "Não tenhas medo, pois eu
te resgatei, te chamei pelo nome, tu és m eu".
Em Deus você não é um número, e Ele diz: Eu
estou com você, não tema. Mas como Deus
pode estar conosco se não estamos com Ele? Se
somos preguiçosos, se estamos com um pé aqui
e outro lá, se não rezamos?
Água e óleo não se misturam. Assim, não há
como seguir Deus e o diabo. Não há como se dizer
católico e, ao mesmo tempo, freqüentar centros
de umbanda, de espiritismo. Tendo a Bíblia como
alimento, carregando-a em suas mãos, em sua
mente e no coração, você vai entrar na batalha e
encontrar a vitória! Construa sua vida sobre a
Palavra, e o Senhor fará de você e de sua casa um
lugar de bênção. Existe um propósito de Deus para
a sua vida, e não é a destruição. É a bênção, meu
irmão!

Quarta etapa: a oração

Quando nos decidimos a seguir Jesus, pas­


samos a entender que está sendo travada uma
batalha contra as forças espirituais do mundo
tenebroso. A partir daí, conscientizamo-nos de
que devemos nos preparar para ser soldados de
Cristo valorosos. Nesse sentido, estamos falan­
do do treinamento espiritual. Após entregar-se
ao senhorio de Jesus, após aprender a andar no
Espírito e dedicar-se ao conhecimento da Pala­
vra, deve-se passar para a quarta etapa desse
treinamento: profundo espírito de oração.
74
Ser cristão não é simplesmente uma aqui­
sição de técnicas; não se trata simplesmente de
ir remendando aqui e acolá. Ser cristão é na ver­
dade algo muito maior: significa crescer cada dia,
a semelhança de nosso Senhor e Salvador, e
permitir que as feições de Jesus Cristo sejam re­
produzidas em nós.
Jesus entregou Sua vida para dar vida, para
que pudéssemos recuperar a integridade perdida
por causa do pecado de nossos primeiros pais.
Ser cristão significa avançar, caminhar de uma
maneira nova. Se Jesus é meu Senhor, seu Espí­
rito Santo está agindo em mim, e sua Palavra
está em minha mente e em meu coração: então
possuo todo o equipamento para avançar cada
dia, sem tropeçar aqui e cair acolá, em crescente
comunhão com Deus, para que então, ao ser
recolhido desta vida, possa contemplar Deus face
a face. "Não receies o que deverás padecer. Eis
que o diabo vai lançar alguns dentre vós na
prisão, para vos tentar, e tereis dez dias de
tribulação. Sê fiel até a morte, e te darei a
coroa da vida" (Ap 2,10).
A arma indispensável para o cristão man­
ter acesa a chama do fogo do Espírito é a ora­
ção incessante e perseverante. Tem-se acredita­
do que a oração dos outros é mais forte: "Ve­
nha para cá porque fulano de tal vai orar por
você". A oração dos outros é importante — e
por isso falamos da oração de intercessão —,
mas não pode substituir a parte que nos cabe.
Ela é como uma ajuda, um pontapé inicial,
mas não substitui minha disposição de tam­
75
bém fazer parte no plano de Deus. Nosso po­
der espiritual depende do espaço dado à ora­
ção pessoal em nosso dia-a-dia.
Não vale apenas a oração feita na missa.
Esta é a oração maior, mas deve ser o coroa-
mento daquilo que fizemos durante a semana;
deve ser o grande momento em que colhemos
o que foi semeado na semana — quando então
a missa se transforma em algo muito rico, a
oração mais forte deixada por Jesus Cristo.
O treinamento completo exige que, como
soldados, aprendamos a dar ao Senhor o tempo
de oração. Medimos a qualidade de nossa comu­
nhão com Deus pela forma como nos levanta­
mos, encaminhamos atividades e encerramos o
dia. Se você levanta atrasado, correndo, começa
seu trabalho de qualquer modo e termina o dia
apressado, você é igual a um pagão. A única di­
ferença talvez esteja no fato de que você vai à
Igreja. O cristão se levanta pensando no Senhor;
começa seu trabalho oferecendo-O ao Senhor. A
dona de casa, quando vai fazer o café ou a refei­
ção do dia, oferece esse momento à glória de
Deus. A mulher ou o homem que vão sair, che­
gando ao trabalho, dizem:
"Senhor, eu te entrego este trabalho para que
nada que eu faça aqui venha a me prejudicar
ou aos meus semelhantes. Ó Pai, não permite
que nenhum ato, nenhuma palavra, nenhum
negócio venha a te envergonhar".
Não se trata, é claro, de uma oração de duas
horas, porque neste caso você seria despedido...
76
Esse exercício de entrega do trabalho nos
laz tomar consciência de que o Senhor vê tudo;
nos faz perceber que nosso trabalho não pode
ser fonte de mentira, de fraude, de prejuízo,
nem para mim nem para os outros. No come­
ço do cristianismo, quando alguém que se con­
vertia exercia uma profissão que não estava de
acordo com a fé, tinha de abandoná-la. Traba­
lhar num motel, por exemplo, é próprio para
quem é cristão? Não, porque ali se está incenti­
vando o adultério, o sexo fora do casamento, a
imoralidade, talvez até o consumo de drogas...
Supondo que Maria Madalena tenha si­
do uma prostituta de fato, ela estaria dando
testemunho de Jesus se, ao se converter, não
tivesse mudado de profissão? Não! Mas Maria
Madalena se transformou em uma mulher vir­
tuosa...
Veja, então, como é importante a forma
como começamos o dia, o trabalho, e a manei­
ra como o encerramos. A Igreja nos diz que,
antes de dormir, devemos fazer um pequeno
exame de consciência, para analisar nossos
pensamentos, nossas palavras durante o dia que
passou e, a partir daí, pedir perdão e no dia
seguinte consertar.
O cristão levanta-se como um soldado:
ao toque da corneta, vai lavar o rosto, pôr a
roupa e apresentar-se diante de quem o coman­
da, para receber a ordem-do-dia. Nosso general
é Jesus, e Ele vai nos dar a ordem-do-dia por
meio da oração. Pela oração recebemos a Pala­
77

À
vra de Deus e a graça necessária para poder
vivê-la cotidianamente. Reconhecer a impor­
tância da oração significa ter presente a profe­
cia de Zacarias: "Não pelo poder, nem pela
força, mas por meu Espírito " (Zc 4,6).
Ao começar o dia com a oração, junto a
Jesus, nossa vida ganha um novo sentido. Ao
tomar consciência de que aquilo que estamos
fazendo, por mais chato que possa parecer, está
sendo feito para o Senhor, nós o oferecemos a
Ele e, então, descobrimos ser possível tirar coi­
sas novas da rotina. Sempre.
Tendo entendido a necessidade da ora­
ção, é preciso praticá-la de acordo com o pro­
pósito de Deus. O que isso significa? O soldado
de Cristo deve ter presente que sua oração tem
por finalidade ser um canal entre os homens e
Deus. Nesse sentido, a batalha começa a ser
travada por meio de uma disciplina espiritual
— a oração não é uma coisa qualquer, ela exi­
ge uma disciplina, e é por isso que muitas
pessoas deixam de fazê-la. Muitas baixas têm
acontecido em virtude da falta de visão da ne­
cessidade da oração pessoal e sobre o que fazer
durante ela.
Uma palavra de Jesus é clara quanto à
importância da oração pessoal: "Quando quise­
res orar, entra em teu quarto mais retirado,
tranca a tua porta, e dirige a tua oração ao
teu Pai que está ali, no segredo. E teu Pai,
que vê no segredo, te retribuirá" (Mt 6,6). O
Senhor está recomendando que não se deve
rezar na cozinha, quando todos estiverem to­
78
mando café. Ele aconselha a buscar um lugar
onde não sejamos incomodados por nossas ati­
vidades ou por outras pessoas; onde não fiquem
batendo na porta, onde o telefone não se po­
nha a tocar. Pode ser debaixo de uma escada,
no jardim, numa igreja, em um lugar reserva­
do no trabalho. Esse lugar reservado é necessá­
rio para criar uma relação de intimidade com
Deus. Somente assim você será capaz de falar
com Deus e deixá-lo falar ao seu coração.
Outro elemento importante é determinar
o tempo para essa oração diária. De nada vale
começar com um momento longo para em
seguida abandoná-lo. Se você não está acostu­
mado a rezar nem dez minutos, não adianta
dizer: "De agora em diante vou rezar durante
duas horas!". Comece com dez ou quinze mi­
nutos, ou mesmo com cinco, devagarinho. Mas
aprenda a reservar todos os dias esses minutos
ao Senhor. Assim como você reserva um tem­
po para visitar os amigos, para assistir à televi­
são, para trabalhar, aprenda também a dar um
espaço especial para o Senhor em sua vida. Você
não vai perder tempo, mas ganhar.
Agora vem a questão que mais assusta as
pessoas: "O que fazer durante a oração, padre?
Vêm pensamentos...". Um grande santo dizia:
"Vêm pensamentos? Ótimo. Significa que você
está vivo". Não se preocupe com os pensamen­
tos, com as distrações. Isso acontece com todas
as pessoas. Apenas volte para a oração, tran-
qüilamente. A dificuldade está em entrar na
presença de Deus? Três tipos de oração ajudam
nessa aproximação:
79
— a ç ã o d e g r a ç a s : trata-se de ir lembran­

do as respostas que nos foram dadas


por Deus às nossas necessidades, e
agradecê-Lo por elas;
— l o u v o r : louvar significa reconhecer

que Deus está no controle de tudo e


que nada irá faltar no combate espi­
ritual. Ao louvar — mesmo sabendo
que o dia será pesado liberamos o
poder de Deus para enfrentar todas as
circunstâncias;
— a d o r a ç ã o : trata-se da contemplação

diante da glória de Deus. Nesse momen­


to, muitas vezes em silêncio, admira­
mos e sentimos a presença forte de
Deus, presença que acontece justamen­
te por termos agradecido e louvado.
Terminados esses três momentos — ação
de graças, louvor e adoração —, chega a hora
em que podemos apresentar nossas necessida­
des. Estando na presença de Deus, podemos
apresentar-Lhe as necessidades pessoais, fami­
liares, profissionais, do país, da Igreja... Assim,
não estaremos rezando apenas por nós mes­
mos, mas cumprindo ITimóteo 2,1-2: "Antes
de tudo, pois, eu recomendo que se façam
pedidos, orações, súplicas, ações de graças
por todos os homens, pelos reis e todos os
que detêm a autoridade..."
Depois de ter apresentado os pedidos ao
Senhor, podemos usar esse momento para ler a
Palavra de Deus. "Mas o que eu vou ler?" Não
faça da Palavra um tarô ao qual você recorrería
todos os dias dizendo: "Senhor, dai-me uma
HO
palavra para este dia". Use desse método apenas
uma vez ou outra, quando precisar do auxílio da
Palavra em meio a uma batalha — para aconse­
lhar uma pessoa, por exemplo — e não souber a
que recorrer. Mas normalmente não se deve agir
assim. Podemos, por exemplo, rezar com o ca­
lendário litúrgico, que traz as leituras de cada
dia. Rezando dessa forma todos os dias, a cada
três anos você terá lido a Bíblia inteira.
Somente seremos guerreiros da oração se
soubermos ouvir o lamento de Deus em Ezequiel
22,30: "Busquei entre eles um homem que le­
vantasse a muralha, que se postasse diante de
mim, na brecha, para o bem da terra, a fim de
que eu não o destrua: não o encontrei". Apren­
dendo todos os dias a entrar em oração, você se
transforma nessa pessoa junto à brecha diante
de Deus. E ao transformar-se nesse guerreiro, você
então passa a colher, todos os dias, os frutos em
sua vida espiritual.
Os grandes heróis da Bíblia, os grandes
santos que admiramos, encontravam sua força
não no fato de terem alguma coisa que não te­
mos, mas no tempo que gastavam em oração. O
próprio Jesus, apesar de ser Deus, retirava-se em
oração, e nela encontrava o poder para enfrentar
todas as dificuldades e tomar todas as grandes
decisões. Quando precisou escolher seus apósto­
los e discípulos, Ele se retirou para orar. Em ago­
nia, sabendo que iria morrer, Jesus também se
retirou e fez a oração: "Pai, se quiseres afastar
de mim essa taça... No entanto, não se faça a
minha vontade, mas a tua"! (Lc 22,42).
81
Lembremo-nos sempre das palavras do
apóstolo Paulo: "Orai incessantemente, dai
graças em todas as circunstâncias, pois esta
é a vontade de Deus a vosso respeito em
Cristo Jesus" (lTs 5,17).

Quinta etapa: a Eucaristia

A vida do soldado de Cristo é uma constan­


te luta contra as forças do mal. Existe um desgas­
te espiritual, emocional e físico que precisa cons­
tantemente de cuidados, a fim de que não ve­
nhamos a nos afastar da linha de combate.
Não devemos entrar na batalha espiritual
imaginando que nunca enfrentaremos dificul­
dades. Esta é uma promessa feita por aqueles
que querem nos enganar, engordar igrejas. Jesus
nunca nos prometeu que não depararíamos
com obstáculos. Ele disse: "Bem-aventurados
quando vos maltratarem e vos perseguirem
por causa de m im " (Mt 5,11). "Eu não vim
trazer a paz, mas a espada" (Mt 10,34). Ele
nos disse inclusive que talvez amigos acabassem
se afastando de nós, porque não aceitaríamos
mais determinadas coisas. Mas, por outro lado,
Jesus também falou que receberiamos cem vezes
mais por tudo aquilo que deixássemos por causa
d'Ele. Portanto, o suprimento que Deus nos dá é
maior que tudo aquilo que porventura venha­
mos a perder.
Em Atos 14,22 aprendemos: "Aí confirma­
vam o coração dos discípulos e os exortavam a
perseverar na fé: 'É necessário, diziam, que pas-
82
somos por muitas tributações para entrar no
Reino de Deus'". Temos de entrar na batalha com
a certeza de que, mesmo que venham as tributa­
ções, as dificuldades, elas nunca serão maiores que
a graça ou a força que o Senhor nos dá para
enfrentá-las (cf. ICor 10,13). Importante é permi­
tir que Deus vá nos tornando capazes de perma­
necer sempre como sentinelas de seu reino. Preci­
samos permitir que o Espírito Santo desenvolva
em nossa mente e em nosso coração a certeza de
que somos membros desse reino.
Não basta ter uma religião. É preciso des­
cobrir: no passado, Deus formou um povo que,
durante séculos, percorreu a história sofrendo
todo tipo de contrariedade sem jamais perder a
consciência de quem eram entre todos os povos.
O que manteve a unidade do povo judeu —
apesar de ter sido invadido pelos vizinhos, de­
portado, perdido guerras e visto suas cidades se­
rem arrasadas —, enquanto outras nações desa­
pareceram, foi sua fé em um Deus único; a fé de
que eram conduzidos por Deus.
A vinda de Jesus inaugurou uma nova di­
mensão do sentido de pertencer ao povo de Deus.
A partir de então, o povo não foi mais identifi­
cado como uma raça — os judeus —, com limite
geográfico — Israel. Nesse momento, a oportuni­
dade foi aberta a todos os homens de boa von­
tade, de todas as raças e nações, como vemos em
Atos 10,34-35, quando Pedro diz: "Na verdade,
eu me dou conta de que Deus é imparcial e de
que, em toda nação, quem quer que o tema e
pratique a justiça é acolhido por ele". Deus
83
não olha se alguém é judeu, grego ou brasileiro;
se é branco, negro ou amarelo; se é rico ou po­
bre; se tem cultura ou é analfabeto... O que lhe
importa é justamente o que está no coração do
homem. Onde há uma pessoa que não serve a
outros deuses, que não mistura sua fé com as
coisas do mundo, que é fiel à graça recebida no
batismo... ali está o povo de Deus. Ali Ele está
presente.
Deus sofre demais ao olhar para a humani­
dade perdida, confusa; ao perceber que as pessoas,
na verdade, não O estão buscando de todo o
coração. Por esse motivo Jesus, à véspera de Sua
morte, mostrou qual é a carteirinha que iden­
tifica os membros de seu povo. Essa carteirinha
foi deixada para nós na última ceia, celebrada na
quinta-feira santa. O povo de Deus é aquele que
celebra o banquete.
Aqueles que são de Cristo, que são de fato
lavados por seu sangue precioso, entendem que
Jesus ao celebrar a última ceia teve um propósi­
to: "Eu desejei tanto comer esta Páscoa con-
vosco antes de padecer!" (Lc 22,15). Essas pala­
vras testemunham algo muito forte: na véspera
de sua morte, Jesus pensou no meio de conti­
nuar sempre com seus discípulos. Essa refeição
não foi uma simples despedida, mas o início de
um modo novo para ter comunhão com o
Senhor. Não podemos voltar ao passado para vê-
-Lo como os apóstolos O viram, mas Jesus quis
que pudéssemos tocá-Lo. Assim, por meio da
eucaristia estamos unidos a Jesus, recebendo os
efeitos de Sua presença.
84
Jesus desejou ardentemente celebrar a ceia
para permitir a seus discípulos de todos os tem­
pos buscar o alimento para sustentar a fé. Você
quer uma fé em chamas, um coração se abrasan-
cio sempre, e alimento para o seu espírito, suas
emoções, seu físico, sua família? Então precisa
desse pão dos céus, que foi deixado por Jesus! A
eucaristia revela aquilo que Jesus sente por você!
"Ele, que amara os seus que estavam no mun­
do, amou-os até o extremo" (Jo 13,1).
Será que Jesus não sofre ao ver pessoas que
são batizadas e não sentem vontade de recebê-
-Lo na comunhão? Ele nos amou ao extremo,
deu a vida pela humanidade, e não sentimos
vontade de receber seu alimento. E o que é pior:
alguns, além de não sentir essa vontade, ainda se
desviam por outros caminhos, mesmo usando
no pescoço um crucifixo ou fazendo o sinal-da-
-cruz ao passar em frente a uma igreja. É preciso
viver o crucifixo, o sinal-da-cruz, e isso é feito
por meio da participação na Eucaristia.
A Eucaristia é um canal precioso do amor
de Jesus para as nossas vidas. A santa comu­
nhão dá, a quem a recebe, a vida que Jesus ofe­
receu em sacrifício por nossa salvação. Jesus
) disse que, se queremos a verdadeira vida, a vida
abundante, devemos receber Seu corpo e san­
gue: "Se não comerdes a carne do Filho do
Homem, e não beberdes o seu sangue, não
tereis a vida em vós" (Jo 6,53). O resultado da
comunhão é algo maravilhoso: em nosso inte­
rior, faz brotar uma nova confiança, um novo
poder diante da vida, pois somos revestidos da
certeza de que não estamos sozinhos.
85
A cada missa celebrada, Jesus quer tirar de
nosso coração todo sentimento de medo, soli­
dão, tristeza, ansiedade, e manter acesa nele a
chama do Espírito Santo. O soldado de Cristo
tem de ser um homem, uma mulher de comu­
nhão. Jesus, depois de falar conosco por sua
Palavra na primeira parte da missa, torna-se en­
tão presente e se oferece a nós de modo visível,
no pão e no vinho, no Corpo e no Sangue. Ce­
lebrando a santa missa e recebendo a comunhão,
você tem a oportunidade de receber o Jesus in­
teiro: o Jesus que traz prosperidade, que abre as
portas fechadas, que afasta o mal... e tudo de
uma vez, porque no céu não existe crediário.
Existem várias moradas na casa do Pai; não
existem vários caminhos para chegar a Deus, mas
apenas um: "Visto haver um só pão, todos nós
somos um só corpo; porque todos participa­
mos desse pão único" (ICor 10,17). Nossa fé
não pode depender de modismos. É preciso en­
tender que Jesus, na véspera de sua partida, dei­
xou-nos o tipo de Igreja que Ele deseja: una,
unida, que celebra a Eucaristia. A identidade do
povo de Deus é estar unido como num só corpo,
porque um só é o pão celebrado sobre o altar.
Assim, não importa se o padre que cele­
bra a missa é bom ou ruim; ou se os irmãos
sentados ao meu lado dão testemunho ou
contratestemunho. Não abandonarei minha fé
por causa disso, pois sei que Jesus, princípio e
fim da Igreja, morreu por mim. As pessoas
podem ser fracas, mas a Igreja é forte e está
presente entre nós. Ao comungar com a con­
86
vicção de estar recebendo o mesmo Jesus que
perdoou os pecadores, converteu a samaritana,
curou cegos, surdos e mudos... ao tornar-me
uma pessoa de comunhão, verei milagres acon­
tecerem em minha vida.
Desde o início, o grande problema do cris­
tianismo foi a tentação de divisão. A causa da
desunião é a maneira imperfeita de viver o amor.
Ser discípulo exige a coragem de renunciar à
própria vontade em vista de um bem maior. Na
Carta aos Filipenses, São Paulo nos revela como
alcançar essa meta: "Tende um mesmo amor,
um mesmo coração; procurai a unidade; nada
façais por rivalidade, nada por vangloria, mas,
com humildade, considerai os outros superio­
res a vós. Que cada um não olhe só por si
mesmo, mas também pelos outros. Comportai-
-vos entre vós assim, como se faz em Jesus
Cristo" (F1 2,2b-5).

Sexta etapa: a penitência

Com o objetivo de desenvolver todas as


características de um verdadeiro soldado de Cris­
to, passaremos agora à última etapa do treina­
mento para a batalha espiritual: a redescoberta
do sacramento da penitência.
A palavra "penitência" desperta na maio­
ria das pessoas uma reação negativa. Ela trans­
mite a impressão de que quem a pratica não
tem mais espaço para a alegria em sua vida.
Esse é um grande equívoco. Não há visão mais
distorcida da Escritura que imaginar que o
87
Senhor poderia dar-nos algo que não fosse para
o nosso bem.
A penitência é um dos grandes temas de toda
a Bíblia, desde o Antigo Testamento, principal­
mente na pregação dos profetas, até o último dos
grandes profetas, João Batista. Em um certo senti­
do, João Batista foi o elo de ligação entre o Antigo
e o Novo Testamento. Em Mateus 3,1-2 lemos:
"Naqueles dias, apresenta-se João, o Batista,
proclamando no deserto da Judéia: 'Convertei-
-vos: o Reinado dos céus aproximou-se!'"
O próprio Jesus Cristo inaugurou seu servi­
ço de pregação da Palavra dizendo: "Conver­
tei-vos: o Reinado dos céus aproximou-se"
(Mt 4,17). Durante os três anos de sua prega­
ção, Jesus Cristo aprofundou a necessidade da
consciência de fazer penitência para agradar a
Deus. A Palavra de Deus mostra a importância
da penitência e do nascer de novo como con­
dição para se entrar em Seu reino: um reino
que não é somente deste mundo.
Se a fé de um cristão se limita a esta vida;
se as coisas que acontecerão no dia em que ele
tiver de ser tirado deste mundo não lhe interes­
sam, então é digno de pena. Não queira somente
coisas de Deus; queira ser digno de recebê-las. Há
pessoas que não se examinam e, porque não se
examinam, não recebem. Só entra na presença
de Deus aquele que o faz segundo o que Ele
apresenta em sua Palavra.
O que é a penitência? Para falar dela, preci­
samos ter a noção de pecado. Mais uma vez, esta­
88
mos diante de algo que parece ter sido riscado do
vocabulário dos cristãos. Tenta-se apresentar por
.ií um cristianismo leve, com a intenção de so­
mente atrair as pessoas. Há algum tempo, pela
lelevisão, ouvi uma mulher dizer que Cristo era
fofinho... Tenta-se mostrar um Cristo light, para
agradar ao mundo, às platéias, em vez de levar
essas platéias a uma real transformação de vida.
Não falar de pecado por medo de escandalizar,
por medo de que as pessoas fiquem com drama de
consciência e não voltem à igreja; por medo de
não ser popular... isso é tornar vã a obra de Jesus
Cristo na cruz. Afinal, na Escritura é dito: "...m or­
reu por nossos pecados" (ICor 15,3).
Se queremos ser vitoriosos, não podemos
perder de vista que o pecado é tudo o que rompe
o plano de Deus para a nossa vida: desamor,
ódio, mentira, desonestidade, adultério, rancor...
muitas vezes podemos vestir a roupa dos ho­
mens justos — como os fariseus, no tempo de
Jesus — e imaginar que os pecados são cometidos
apenas pela prostituta, pelo estuprador, pelos
grandes corruptos deste mundo. Não. Nós tam­
bém pecamos.
Na cruz o pecado foi perdoado, e foi que­
brado o poder de Satanás. Aí foi feita a parte de
Deus, cabendo ao homem viver a obra da cruz
em sua vida. Este passo, nós o damos das mais
diferentes formas: a via normal é a que trilha­
mos, como católicos, por meio dos sacramentos.
O primeiro momento em que o homem
entra em contato com os efeitos do perdão da cruz
é pelo batismo: "Pois pelo batismo, nós fomos
89
sepultados com ele em sua morte, a fim de que,
assim como Cristo ressuscitou dos mortos pela
glória do Pai, também nós levemos uma vida
nova" (Rm 6,4). Na graça do batismo, foi dado o
passo inicial de nossa vida com Deus. E essa graça
inicial é alimentada por aquele meio forjado pelo
próprio Jesus para renovar continuamente em nós
a ação da cruz: a Eucaristia. Quem diz isso não é
só o padre ou a Igreja, mas a Escritura: "Pois todas
as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste
cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele
venha" (ICor 11,26). Porém, o apóstolo Paulo
nos alerta: "Quem comer do pão ou beber do
cálice do Senhor indignamente se tornará cul­
pado para com o corpo e o sangue do Senhor"
(ICor 11,27). Os primeiros cristãos tinham uma
reverência, uma devoção muito forte por aquilo
que celebravam. Tinham zelo pelas coisas sagra­
das. Devemos, então, ter um cuidado muito gran­
de ao comungar.
Estas palavras mostram que o cristão mes­
mo já vivendo a fé pode ofender a Deus. O após­
tolo Paulo não estava falando para pessoas de
fora da Igreja, mas a quem já a freqüentava. Na
comunidade dos coríntios, talvez alguns estives­
sem participando de maneira errada, em pecado:
sabemos que nessa Igreja havia partidos, mal-
-entendidos... Do mesmo modo como existe um
só pão, nós temos de ser um só corpo. O alimen­
to que celebramos no altar deve fazer-nos viver
unidos como o Corpo de Cristo.
Qual, então, a solução para que possa­
mos participar da ceia, da Eucaristia dignamen­
90
te? Essa solução foi apresentada pelo próprio
Jesus Cristo. Diversas vezes, enquanto estava
na terra, Jesus se apresentou como aquele que
perdoa os pecados, como por exemplo no caso
da cura do paralítico em Marcos 2,5: "... Meu
filho, os teus pecados estão perdoados". E
isso, Ele o falou antes da cura. A partir dessa
passagem, entendemos que algumas enfermi­
dades — sejam espirituais, emocionais, físicas
ou na área financeira, na família... — têm como
causa pecados não-confessados, áreas de nossa
vida em que não nos arrependemos.
Nosso Deus é onipotente, onisciente e oni­
presente. Ele pode tudo, sabe tudo e está em
todos os lugares. Conhece os nossos corações.
Portanto, não há como esconder-Lhe as coisas.
Esse mesmo poder foi dado à Igreja por meio
dos apóstolos, antes de Jesus voltar para junto
do Pai: '"Com o o Pai me enviou, assim tam ­
bém eu vos envio'. Tendo assim falado, so­
prou sobre eles e lhes disse: 'Recebei o Espí­
rito Santo. A quem perdoardes os pecados,
ser-lhes-ão perdoados. A quem os retiverdes,
ser-lhes-ão retidos'" 0 ° 20,21 b-23).
Há pessoas que dizem: "Não vou me con­
fessar a um sacerdote, porque ele é um ser hu­
mano como eu". O sacerdote é um ser humano,
é verdade. E ele está sujeito a sucessos e a falhas.
Porém, celebrando a missa, ele está, no altar, em
nome de Jesus. Porque, assim como no passado
chamou seus apóstolos, Jesus continua dando a
vocação, chamando pessoas para continuar Sua
obra. E, no confessionário, não é simplesmente
91
o sacerdote que nos perdoará: ele é um instru­
mento do Senhor, e por isso diz, ao final da
confissão: "Eu te absolvo de teus pecados, em
nome do Pai do Filho e do Espírito Santo" — e
não "em nome do padre". Às vezes se fala: "Ah,
vou me confessar sozinho com Deus..." Nessas
ocasiões, geralmente não damos o braço a tor­
cer. Sempre procuramos justificar nossos erros.
Portanto, não é aconselhável nos abandonar a
nós mesmos.
Assim como, por exemplo, ajudou a sama-
ritana a enxergar onde estava o pecado dela, Jesus,
por meio da Igreja, quer que reconheçamos onde
estamos errando. O sacramento da penitência, a
confissão, não é somente perdão dos pecados,
mas revestimento na graça e no poder da cruz
para os combates espirituais. Os pecados nos tor­
nam expostos ao demônio; quando os confessa­
mos com sincero espírito de arrependimento, dor
por tê-los cometido, somos revestidos pela pro­
teção de Deus.
A confissão é um instrumento de cura inte­
rior precioso, desejado por Jesus para que experi­
mentemos a ação de Seu amor e misericórdia.
Conforme falei há pouco quando me referi ao
paralítico curado por Jesus, o problema da enfermi­
dade pode estar no pecado. Às vezes, aquela paz
que está faltando em seu coração, ou aquela falta
de alegria se devem ao pecado. Já me foi testemu­
nhado: "Padre, eu estava rezando, e rezavam por
mim, mas parecia que tudo estava amarrado! E
quando me confessei, quando reconhecí a mágoa
profunda que estava sentindo pelo meu marido,
foi como se o céu se abrisse!" E eu lhe disse: "Não,
92
não foi como se o céu se abrisse. Ele realmente se
abriu! Porque a senhora se libertou daquilo que a
estava impedindo de ser abençoada, o pecado!"
Achamos que aquela pequena mágoa, ou
aquela pequena mentira, ou aquilo que fizemos
escondido não têm importância. Têm! O soldado
de Cristo precisa estar atento ao que pensa, ouve,
fala e faz em seu dia-a-dia. Vigie, para que Satanás
não tenha o direito de acusá-lo na presença do
Senhor — no livro do profeta Zacarias está escrito
que o diabo está diante de Deus acusando os ho­
mens! Não lhe dê esse direito. Nosso acusador
diante de Deus não olha somente o momento em
que estamos na igreja, mas também quem somos
na vida concreta. Daí entendemos quanto é im­
portante ter a Palavra guardada na mente e no
coração, afinal ela foi escrita "para nos servir de
exemplo, a fim de que não cobicemos o mal
como eles cobiçaram" (ICor 10,6)
A confissão regular feita com sincero de­
sejo de conversão é um escudo de fé para que
possamos "apagar todos os projéteis inflam a­
dos do M aligno" (Ef 6,16). Quando aprende­
mos a andar na Palavra, a viver de acordo com
aquilo que o Senhor nos tem apresentado, es­
tamos nos preparando para entrar na batalha,
identificar onde está o inimigo e enfrentá-lo
na certeza de que venceremos.

93
C apítulo IV

Entrando na
batalha

Desde o início, o cristianismo enfrentou


sérias dificuldades nascidas de desvios vindos de
seu próprio interior e do mundo contrário ao
conteúdo do Evangelho. Sem dúvida alguma, o
grande milagre operado pelo Espírito Santo foi o
triunfo da Igreja, que atravessou todas as suas
crises, mantendo-se viva até os nossos dias. Se a
Igreja fosse somente uma instituição humana, os
homens teriam acabado com ela; se fosse sim­
plesmente um movimento, uma filosofia inven­
tada pela alucinação de alguns homens e mulhe­
res, teria morrido logo no início. Mas, se ela
continua viva, pregando o Evangelho, é porque
nosso Deus é que está em sua origem e a susten­
ta, até o dia em que Ele próprio a arrebatará a
fim de levá-la para junto de si, eternamente. Esta
certeza deve criar em nosso coração alguns sen­
timentos muito fortes:
95
- Confiança de que a Igreja possui a pro­
messa de proteção e da presença do
Senhor Jesus Cristo até o final dos tem­
pos. No dia em que mudou o nome de
Simão para Pedro e disse: "Tu és Pe­
dro, e sobre esta pedra edificarei a
m inha Igreja", Jesus, além de ter fun­
dado a (e não uma) Igreja, deu à Igreja
uma grande certeza: "...a Potência da
morte não terá força contra ela" (Mt
16,18). E Jesus disse também, depois
de ter ressuscitado e estando prestes a
voltar para junto do Pai: "Eis que eu
estou convosco todos os dias, até a
consumação dos tempos" (Mt 28,20b).
Devemos entender, assim, que a Igreja faz
parte do plano de salvação de Deus para as
nossas vidas. A Escritura nos diz: Jesus deu Sua
vida pela Igreja, por nós — que somos mem­
bros da Igreja. Temos de descobrir a importân­
cia de ser pedras vivas da Igreja, e não simples­
mente pessoas sentadas nos bancos.
— Vigilância para não nos deixar levar pelo
engano de falsos pregadores ou pela
ilusão de sinais e prodígios. Estamos
no final de um milênio e, como em
todo final de milênio, levantam-se fal­
sos profetas, falsas doutrinas, filosofias,
religiões que enganam a muitos. Sata­
nás, nesse período, tenta de todos os
meios abalar a obra de Deus. Uma das
armadilhas dele é usar a própria lin­
guagem cristã para deter a obra de sal-
96
vação. Jesus nos alerta: "Tomai cuida­
do para que ninguém vos induza em
erro. Muitos virão assumindo o meu
nome; eles dirão: 'Sou eu', e induzi­
rão em erro muita gente... Surgirão
falsos messias e falsos profetas e fa­
rão sinais e prodígios para induzir
em erro, se possível, até os eleitos.
Vós, pois, estai de sobreaviso, eu vos
preveni de tudo" (Mc 13,5-6.22-23).
O que é mais provável estar certo? Algo que
existe há quase dois mil anos, que nasceu com o
próprio Jesus, ou algo que surgiu há uns dez anos,
há cinco anos, há um ano? Nossa fé pode parecer
velha, mas exatamente por isso temos a segurança
de não estar seguindo coisas inventadas pelos ho­
mens. É importante, portanto, estar atentos.
— Atenção para não cair no perigo da fasci­
nação de novas filosofias de vida com
ensinamentos estranhos ao cristianis­
mo. O apóstolo faz uma profecia mui­
to importante a esse respeito: "Pois so­
brevirá um tempo em que alguns não
suportarão mais a sã doutrina, mas,
ao sabor de seus próprios apetites e
sentindo com ichão nos ouvidos, ro-
dear-se-ão de uma porção de mestres.
Desviarão os ouvidos da verdade e se
voltarão para as fábulas" (2Tm 4,3-4).
Se está sempre à procura de coisas novas,
então você é uma pessoa insatisfeita,
porque não encontrou realmente Jesus
Cristo. Ao viver Jesus, você se mantém
97
firme n'Aquele que nos satisfaz até a eter­
nidade.
— Cuidado para não entrar pelo caminho
da cobiça de possuir bens materiais a
qualquer preço. Não é errado desejar
uma vida melhor. Todos devemos que­
rer progredir, seja no conhecimento,
seja no trabalho, mas "... a raiz de to­
dos os males é, de fato, o amor ao
dinheiro. Por se terem entregue a ele,
alguns se transviaram longe da fé e
transpassaram a própria alma com
múltiplos tormentos" (lTm 6,10). O
apóstolo Paulo, nessa passagem, está
dizendo que ruim não é o dinheiro,
mas o amor, a escravidão ao dinheiro.
Ser cristão não é ser infeliz; não é ser uma
pessoa pobre, miserável; não é ser ignorante, não
poder estudar; não é ser privado do prazer de vi­
ver... Ser cristão é encontrar a verdadeira alegria
da vida, mas sem prejudicar a si mesmo e aos
semelhantes. É ser realmente filho de Deus, mas
não apenas entre as quatro paredes da Igreja.
Temos de estar atentos para viver a integri­
dade de nosso espírito, de nossas emoções e sen­
timentos, de nosso físico, de nossa família...
Devemos encontrar não uma felicidade que es­
capa de nossas mãos, mas uma felicidade verda­
deira. E a Igreja, como uma mãe, quer nos ajudar
a encontrá-la. Diante disso, há quem pergunte:
"Será que não corremos o risco de cair em exa­
gero e fanatismo? E ao alertar sobre os desvios
não estaremos despertando a curiosidade?"
98
A atitude cristã autêntica nunca é feita do
mesmo proselitismo barato das seitas, que agri­
dem por sua intolerância e, infelizmente, na
maioria das vezes, pela falta de conhecimento
da posição dos outros. Por exemplo: a universal
do reino de deus. Eles juntam a garotada no
domingo e prometem um prêmio a quem levar
um novo membro para a seita. E os garotos saem
com exemplares do jornal da universal debaixo
do braço, e com rosas para impressionar as mu­
lheres... Mas o triste é a agressão: para conseguir
membros, atacam a Igreja. É a mesma coisa com
as testemunhas de Jeová, que batem de porta
em porta tentando desmerecer a Igreja católica
e todas as outras Igrejas; ou os adventistas, a
congregação cristã... Isso é fanatismo.
Entre os ataques feitos à Igreja católica,
alguns são movidos por declarada má-fé, com
o desejo de criar um inimigo para engordar sua
facção; outros, por uma análise da doutrina ca­
tólica com pontos de vista parciais, sem uma
pesquisa de suas origens e fundamentos.
Às vezes, recebo cartas anônimas em que
se critica muito a Igreja católica. Eu as rasgo e
ponho na lata de lixorqaorque quem não tem
coragem de se responsabilizar por aquilo que
esjá falando não merece respeito. Ao apontar
um defeito, eu o faço não para destruir, mas pa­
ra esclarecer, para ajudar a sair do erro, e assino
embaixo. Todas as críticas que tive a oportu­
nidade de examinar serviram apenas para refor­
çar meu amor a Jesus e à sua Igreja.
A questão toda está no fato de existir até
dentro da Igreja pessoas que preferem dar ouvi­
99
dos a críticas, sem o mesmo cuidado de verificar
se são verdadeiras. Há pessoas que freqüentam a
Igreja durante anos e não lêem o que o padre lhes
pede, mas quando alguém lhes bate à porta falan­
do mal da Igreja acabam acreditando. Não deve­
mos ser mal-educados quando alguém bate a
nossa porta dessa maneira, mas temos de ser fir­
mes. Não podemos nos deixar abalar. Quem se
deixa convencer dá a impressão de não ter amor
à verdade, nem docilidade ao Espírito Santo.
Temos de entender que a sã doutrina foi
dada por Jesus à Igreja e, por meio dela, transmi­
tida até os nossos dias. Isto se chama Tradição e
quer dizer passar para a frente o que foi recebido
na origem do cristianismo. Aquilo que a Igreja
hoje prega, Jesus o passou para os apóstolos, e
estes para os seus sucessores, até os nossos dias.
Para sua casa ter água, por exemplo, os
canos precisam estar ligados à grande caixa
d'água da cidade, ou a alguma conexão que
venha de lá. Quando estoura algum cano, a
água chega à sua casa? Para recebermos o in­
fluxo da graça que vem de Jesus, o cano não
pode quebrar! O apóstolo Paulo recomenda:
"Assim, pois, irmãos, ficai inabaláveis e guar­
dai firm em ente as tradições que vos ensina­
mos, de viva voz ou por carta" (2Ts 2,15).
Os cristãos sinceros, de todas as Igrejas,
não podem permitir que as diferenças de dou­
trina causem mais danos ainda ao cristianis­
mo. Enquanto ficamos discutindo esta ou aque­
la posição, Satanás está usando as falsas seitas
para confundir os homens.
100
O segundo questionamento reside no medo
de fazer propaganda das heresias e assim desper­
tar curiosidade. Por que falar de espiritismo, ben-
zimento, seitas da nova era? Sem dúvida alguma
estamos correndo riscos ao fazer isso, afinal sem­
pre existem os fracos ou curiosos. Mas, seguindo
o exemplo de Jesus, não podemos pecar por
omissão. Jesus censurou a falsa religiosidade dos
fariseus e escribas; expulsou os vendilhões do
templo e — não podemos nos esquecer deste
que é o maior testemunho de suas correções —
repreendeu as Igrejas do Apocalipse (Ap 2-3).
O soldado de Cristo fala do espiritismo,
mas ama o espírita; chama a atenção para os
erros da universal do reino de deus, mas ora por
seus integrantes... O soldado de Cristo defende
a fé, sem jamais perder a ternura.

101
C apítulo V

Um grande perigo:
a nova era

Neste final de século, tem-se alastrado uma


verdadeira febre pelas questões esotéricas, e esse
interesse místico manifesta-se dos mais diferentes
modos: grafologia, mapa astral, astrologia, viagens
para fora do corpo, comunicações telepáticas, pirâ­
mides, ioga e, principalmente, o tema de vidas pas­
sadas. Também estão surgindo lojas especializa­
das em fornecer material que promete a solução
para todos os problemas humanos: gnomos da
prosperidade, cristais para bons fluidos, incensos
para afastar o mal, duendes, florais de Bach. Ima­
ginamos que se trata de coisas inofensivas, e às
vezes, porque nos são dadas de presente, nós as
mantemos em casa, “apesar de não acreditarmos".
Agindo assim, estamos dando ao inimigo uma
procuração para vir a dominar nosso lar. Como
cristãos, temos de ter a coragem de viver o Evan­
gelho em sua plenitude.
103
Esse misticismo é alimentado por uma far­
ta literatura, acessível em qualquer livraria. Segun­
do uma estatística, os livros da linha nova era do­
minam 30% do mercado editorial. Basta consul­
tar a lista dos autores que mais vendem: Paulo
Coelho, Lair Ribeiro, Luísa Hay, Shirley Mac
Laine, Torres Pastorinho (Minutos de sabedoria),
Mônica Buonfiglio, o "padre" Lauro Trevisan...
Essa invasão está sendo feita também por
meio da música chamada de nova era e, de modo
muito sutil, por meio de desenhos animados,
programas populares de televisão ou filmes sobre
o Além. Se o He-Man, por exemplo, "tem a for­
ça", se ele pode se transformar em um semideus,
então muitos outros homens — ou futuros ho­
mens — poderão ser semideuses também, ou
mesmo deuses. Os personagens principais do fil­
me Ghost podem se comunicar com o Além, ou
então morrem e retornam à terra... E as vidas
passadas, de que trata a atriz Shirley Mac Laine?
Um primeiro questionamento é: por que todo
mundo foi uma pessoa famosa em outras vidas?
Não havia desconhecidos no passado? Só exis­
tiam napoleões bonapartes?
O que está acontecendo com o nosso Oci­
dente que se diz cristão? Como entender o apa­
recimento de toda essa onda? Para entender esse
fenômeno religioso, é preciso ter presente que
estamos diante de algo diferente, pois não se
trata simplesmente de mais uma corrente filosó­
fica ou do surgimento de uma nova religião.
Conhecemos a origem do espiritismo, da umban­
da, da seicho-no-ie. Mas a nova era é completa­
104
mente diferente. Existe entre as diversas corren­
tes desse movimento um consenso acerca de
determinadas idéias e atitudes; entretanto, não
podemos falar da existência de um único funda­
dor ou de um lugar específico de onde estaria
sendo disseminada toda essa epidemia esotérica.
Estamos diante de um fenômeno que irá marcar
profundamente sua presença em todos os níveis
e ambientes de nossa sociedade.
Como cristãos, temos de estar atentos, pois,
infelizmente, as idéias da nova era têm entrado
inclusive nas Igrejas, e, o que é pior, têm surgido
igrejas com o pensamento da nova era. Cristãos
bem-intencionados têm sido influenciados por
idéias ou práticas contrárias à mensagem cristã.
Quais os motivos da expansão da nova era?
O terreno começou a ser preparado no século
XIX, principalmente por meio da difusão da fi­
losofia oriental, carregada de conceitos contrá­
rios à fé cristã. Aquele século viu o despertar da
crença da comunicação com os mortos. Ura dos
fatores para o desencadeamento .dessa moda foi
t^testemunho das irmãs Fox, em 1848, nos,.Es-
tados Unidos, que relataram pseudocon n micações
corn o. ripando dos espíritos. Mais tarde, em_1888,
as ^próprias irmãs Fox revelaram ser tudo uma
fraude. O triste é constatar que o desmentido
chegou tarde demaj.s, porque em dez anasjfor-
mou-se a doutrina espírita: em 1857, na França,
Allan Kardec publicou o Livro dos, espíritos, cha­
mando de espiritismo o movimento que nascia
e apresentando-o corpo a verdadeira religião da
hjumanidade.
105
Portanto, foi impulsionado por uma frau­
de — das irmãs Fox — que Allan Kardec elabo­
rou sua doutrina; foi a partir de uma mentira
que ele afirmou ter recebido uma revelação dife­
rente daquela que havia sido dada por Jesus
Cristo. Não existe doutrina ou mensagem que
possa ser superior à cristã. Porque nossa mensa­
gem não surgiu de um homem que a criou, mas
do Deus que se fez carne e habitou entre nós.
No final do século XIX, mais precisamente
em 1875, fundou-se em Nova York a Sociedade
Teosófica com a finalidade de buscar uma inte­
gração entre o pensamento oriental e o ociden­
tal. Por meio dessa entidade — fundada por uma
nobre russa, Helena Blavatsky —, começaram a
ser lançadas as bases das crenças atuais da nova
era: reencarnação, mestres com outras vidas, via­
gem astral... Madame Blavatsky tentava em seus
ensinamentos demonstrar uma atitude crítica
diante dos valores do cristianismo. Por exemplo,
quanto à doutrina fundamental da expiação: "A
doutrina da expiação é um perigoso dogma em
que os cristãos acreditam. Ensinam que, indepen­
dentemente da enormidade de nossos crimes con­
tra as leis de Deus e dos homens, temos apenas
de acreditar no auto-sacrifício de Jesus para a
salvação da humanidade, e que seu sangue lava­
rá todas as máculas. Faz vinte anos que prego
contra isso" (Helena Blavatsky, A sabedoria tradi­
cional, Hemus Editora, São Paulo, s.d., p. 62).
Em 1893, com a liderança de uma das
sucessoras de madame Blavatsky, Annie Besant,
foi realizado o "Parlamento das religiões" em
106
( Ihicago, marcando outro momento fundamen-
lal para a comunidade do pensamento da teo-
sofia. Por meio deste "Parlamento" houve maior
divulgação do pensamento oriental à popula­
ção em geral. Com a vinda de conferencistas
hindus, foram aí lançadas as sementes de uma
das idéias chaves da nova era: a unidade essen­
cial de todas as religiões.
Toda essa divulgação da filosofia oriental
exerceu grande influência no início do século
XX. O terreno começou a ser preparado para o
avanço futuro. Em um primeiro momento, foi
atingida uma elite intelectual, para mais tarde
influenciar as massas. Segundo z. maioria dos
estudiosos, o termo nova. era jo j criado, pela
escritora Alice Bailey (1880-1948). Ela anun­
ciava a proximidade da era de aquário, quando
então retornaria o Cristo cósmico, queqá teria
vindo a este mundo como Buda, Krishna, Jesus
e Maomé.
Somada a essa aproximação feita por oci­
dentais, teve início uma invasão de gurus e seitas
do Oriente, principalmente a partir da década de
60. A difusão de suas idéias foi facilitada pelo
terreno semeado com o esoterismo tradicional,
pelo fenômeno da imigração em massa de asiá­
ticos para os Estados Unidos e a Europa, e, prin-
cipalmente, pela publicidade implícita na partici­
pação de pessoas famosas — como os Beatles,
que foram para o Oriente com seus gurus... Isso
influenciou a juventude dos anos 60.
O cristianismo, tanto o católico como o
evangélico, na década de 60 atravessava um
107
momento muito difícil. Foi nessa época que
aconteceu o Concilio Vaticano II, em que o
papa João XXIII buscou a renovação da Igreja
católica, para que ela pudesse falar a lingua­
gem de nossos dias. Também as Igrejas evangé­
licas estavam sentindo que faltava algo. Então,
aproveitando-se desse estado de coisas, as no­
vas filosofias tentaram mostrar que o cristia­
nismo não tinha força para mudar mais nada.
Nesse período, cresceram os centros de estudo
de filosofia hindu, a prática de ioga e, princi­
palmente, a difusão de métodos de espirituali­
dade hindu, como os da meditação transcen­
dental e da Associação Internacional para a
Consciência Krishna.
X ' No Brasil, houve outros fatores que tam­
bém serviram para preparar o terreno para as
crenças da nova era: a entrada em cena de
religiões japonesas como a Seicho-no-ie, Perfei­
ta Liberdade e Igreja Messiânica, por exemplo.
Na base de seus ensinamentos, está a idéia da
divindade de cada ser humano, a noção de que
não existe pecado, e de que a morte e a doença
são uma ilusão. Por trás desses conceitos repou­
sa a ilusão de que tudo é apenas uma questão
da força da. mente.
Como cristãos, precisamos ter o discerni­
mento para entender que não basta simples­
mente a coisa ser boa: "Ah, mas eu me sinto
bem..." Não é por nos sentirmos bem que te­
mos de cair em uma religião do egoísmo. Hoje
em dia, as pessoas vão a determinados lugares
porque lá estão ganhando dinheiro, ou conse­
108
guindo alguma outra coisa, e a médio e longo
prazo acabam interiorizando aquilo que é a base
desses caminhos. De que adianta ganhar esta
vida se você vier a perder a eternidade?
No centro de nossa fé, está o fato de que
Deus nos amou tanto, que deu sua vida por
nós na cruz, para nos salvar (cf. Jo 3,16). Po­
rém, falar em salvação, hoje em dia, não está
na moda. Isso os apóstolos já previam. O que
está na moda é pôr a mão na cabeça enquanto
as pessoas se estrebucham; é gritar: "Quem quer
um carro zero-quilômetro levante a mão!" A
nova era tem prometido um mundo novo, em
que os problemas espirituais, emocionais, físi­
cos ou de qualquer outra ordem não mais exis­
tirão, afinal cada homem também é deus.
Mas os meios de que você precisa dispor
para ser forte já foram dados no cristianismo:
— a morte de Jesus na cruz. Ele nos amou
tanto que morreu para nos dar vida!
— o derramamento do Espírito Santo,
que passou a habitar em nós a partir
de nosso batismo. Não aceite aquele
que diz que você tem de se batizar de
novo. O que temos de fazer não é
passar por um novo batismo, mas
parar de entristecer o Espírito Santo
que está em nós!
Você não precisa de uma religião nova. O
que é preciso é viver de uma maneira nova
aquela fé que sempre esteve ali, mas talvez não
tenha sido vivida.

109
AS CRENÇAS DA NOVA ERA E A BÍBLIA
As idéias e práticas da nova era não abar­
cam somente a dimensão religiosa da humani­
dade. Seus propagadores têm presente a neces­
sidade de influenciar todos os campos do co­
nhecimento humano com a finalidade precisa
de alcançar seus objetivos de uma humanidade
nova. Seguindo este propósito, marcam presen­
ça nos mais diferentes setores para difundir suas
idéias: política, psicologia, arte, saúde, biolo­
gia... A meta é preparar a era de aquário, que
será, segundo a nova era, um tempo de felici­
dade e abundância, em que já não existirá a
influência negativa do cristianismo. Tal crença
entra em conflito com uma certeza fundamen­
tal dada por Jesus a seus seguidores: "O céu e
a terra passarão, mas as m inhas palavras não
passarão" (Mt 24,35).
Essa esperança do nascimento de uma civi­
lização sem o cristianismo põe em discussão um
ponto central: a questão da divindade de Jesus
Cristo. Para a nova era, Jesus não passa de um
mestre religioso, comparável a Buda, Confúcio,
Maomé ou tantos outros fundadores de corren­
tes religiosas. Nessa linha de pensamento, todos
esses homens, incluindo Jesus, foram seres hu­
manos capazes de encontrar seu "eu superior",
isto é, sua identidade divina.
A finalidade de um mestre espiritual seria
ajudar os seguidores de sua doutrina a desco­
brir "sua divindade própria". O grave na nova
era é relativizar o sentido da vinda de Jesus
Cristo e, ao mesmo tempo, passar a impressão
110
de que o homem, por sua própria capacidade,
é capaz de encontrar a salvação.
A Escritura nos revela uma diferença primor­
dial entre Jesus Cristo e outros homens religiosos
exemplares: Ele é o Filho único de Deus, confor­
me as palavras de João 3,16: "Deus, com efeito,
amou tanto o mundo, que deu o seu Filho, o
seu único...". Ainda segundo a Escritura, Jesus
não é somente mais um mestre espiritual: "Eu sou
o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao
Pai a não ser por m im " (Jo 14,6). O homem
somente se torna filho de Deus por adoção em
Jesus Cristo: "Mas aos que O receberam, aos que
crêem em seu nome, ele deu o poder de se tor­
narem filhos de Deus" (Jo 1,12).
A nova era não acredita em um Deus pes­
soal distinto do homem e da natureza. Ela difun­
de a heresia chamada panteísmo, a partir da qual
Deus é visto somente como uma força presente
em tudo, em que o homem e a natureza são
uma parte. Como conseqüência, o homem é divi­
no. Desejar ser Deus foi o pecado de nossos pri­
meiros pais. Em nossos dias, por meio da prega­
ção da nova era repete-se a tentação da serpente:
"É que Deus sabe que no dia em que dele
comerdes, vossos olhos se abrirão e sereis como
deuses, possuindo o conhecimento do que seja
bom ou mau" (Gn 3,5).
Outro aspecto perigoso da nova era é aquele
que leva à convicção de que o homem somente
encontra salvação por si mesmo. O caminho con­
sistiría no autoconhecimento, que tem por finali­
dade a chegada ao eu verdadeiro, isto é, ao ser
m
divino. Sob este prisma, a nova era é um sistema
ateu, pois a salvação estaria na própria pessoa.
Para o cristianismo, ter fé não significa
somente crer em si mesmo, mas aceitar o pla­
no de Deus para a vida de todos os homens.
"Ora, a vida eterna é que eles te conheçam
a ti, o único verdadeiro Deus, e àquele que
enviaste, Jesus Cristo" 0 ° 17,3).
A conseqüência da salvação realizada pelo
próprio homem é a perda da noção de pecado e da
própria obra realizada por Jesus na cruz. Se o pe­
cado não existe, a missão de Jesus Cristo foi em
vão. São Paulo resume de modo claro a finalidade
da vinda do Filho de Deus: "Eu vos transmiti, em
primeiro lugar, o que eu mesmo recebera: Cris­
to morreu por nossos pecados, segundo as Es­
crituras" (ICor 15,3). O fato de Jesus ter morrido
pelos pecados dos homens não pode ser separado
do restante de sua obra. Todo o seu ministério foi
voltado para essa hora decisiva.
A morte redentora de Jesus na cruz tam­
bém rebate outra crença forte na nova era: a
reencarnação. Esta doutrina ensina que o espí­
rito de uma pessoa volta por diversas vidas para
pagar por erros do passado. O cristianismo crê
que a morte de Jesus foi suficiente para dar ao
homem a vida eterna. Em 1 João 5,13, lemos:
"Eu vos escrevi tudo isso para que saibais
que tendes a vida eterna, vós que tendes a fé
no nome do Filho de Deus".
A filosofia da nova era defende, ainda, toda
a busca de poder espiritual enveredando pelo
112
caminho da magia e pelo uso de determinados
objetos para alcançar cura ou iluminação. Ne­
nhum poder da natureza tem algum poder em si
mesmo. Todo poder vem unicamente de Deus,
pois Ele é o Criador dos céus e da terra.

MEIOS DE ATUAÇÃO DA NOVA ERA


O grande perigo da nova era está em seu
aparente aspecto inofensivo. Quem observa com
atenção o conteúdo de suas práticas constata co­
mo suas bases são contrárias às crenças cristãs.
Dom Estêvão Bettencourt termina um artigo sobre
a nova era dizendo: "A mensagem da nova era
é, de ponta a ponta, contrária à mensagem cris­
tã. Nega a transcendência de Deus, a distinção
entre espírito e matéria, a existência do pecado,
a divindade de Jesus Cristo... Cai no relativismo
religioso, fazendo da religião uma atividade sen­
timental e cega, e não adesão à verdade; ora, a
perda de identidade vem a ser o fim da mesma"
(.Mensageiro de Santo Antônio, outubro de 1992).
Muitos cristãos sinceros têm-se deixado ilu­
dir pelo engano das práticas da nova era. Não
’i digamos apressadamente: "Eu não estou entre
eles", pois a nova era, de modo geral, tenta apre­
sentar-se somente como uma ajuda para que os
homens encontrem a felicidade integral.
Como identificar a filosofia da nova era?
São duas suas idéias fundamentais:
— a noção panteísta de Deus, isto é, sua
identificação com a natureza como
113
uma força da qual o homem seria uma
parte;
— a ilusão de que o homem alcança sua
salvação por si mesmo, fazendo cair
por terra toda a doutrina do pecado e
da necessidade do sacrifício da cruz.
Esses dois conceitos são o pano de fundo das
mais diferentes práticas da nova era, dentre as
quais examinaremos:

A astrologia apresentada como uma ciência


capaz de ajudar o homem a planejar seu futuro

Não se fala mais simplesmente daquela


astrologia de almanaque com previsões gerais,
mas procura-se personalizar as informações por
meio de um mapa astral a partir de dados da
vida de cada indivíduo. Crescem as organizações
de assessoria astrológica pessoal e, o mais incrí­
vel, empresarial. Um estudo feito por um profes­
sor da Universidade de São Paulo afirma: "A car­
tomante deu lugar à empresa moderna e compe­
titiva" (O Estado de S. Paulo, abril de 1995, Cl).
No livro do Gênesis nos é dada uma res­
posta definitiva: "Deus disse: que haja lum i­
nares no firm am ento do céu para separar o
dia da noite" (Gn 1,14). Os astros ou planetas
são obra da criação de Deus sem influência
sobre a vida dos homens, pois todo poder per­
tence unicamente a Deus. A origem da astrolo­
gia vem do tempo em que os astros eram ado­
rados como deuses, daí essa prática não ser algo
próprio para quem diz crer no único Deus.
114
Buscar orientação nos astros revela falta
de confiança na providência divina e, ao mes­
mo tempo, revela um ato de desobediência a
Deus, que disse em Êxodo 20,3: "Não terás
outros deuses diante de m im ".
No Catecismo da Igreja Católica nos é ensi­
nado: "Todas as formas de adivinhação hão de
ser rejeitadas: recursos a Satanás ou demônios,
evocação dos mortos ou práticas que erroneamen­
te se supõe descobrir o futuro. A consulta aos
horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a inter­
pretação de presságios e da sorte, os fenômenos
da visão, o recurso a médiuns escondem a von­
tade de poder sobre o tempo, sobre a história e,
finalmente, sobre os homens, ao mesmo tempo
que um desejo de ganhar para si os poderes ocul­
tos. Essas práticas contradizem a honra e o res­
peito que, unidos ao amoroso temor, devemos
exclusivamente a Deus".
Por fim, é importante ter sempre presen­
te que buscar orientação nos astros é um ato
de paganismo: "Não vos conformeis às m a­
neiras das nações! Não deixeis que vos assus­
tem os sinais do céu!" (Jr 10,2).

O uso de determinados objetos para atrair


bons fluidos

Um dos símbolos por excelência da nova


era são os cristais. São usados das mais diferentes
formas, porém tendo sempre como finalidade
captar energias ou ajudar na meditação e relaxa­
mento. Os seguidores da nova era afirmam que
115
os cristais têm o poder de realizar as mais dife­
rentes curas, por possuírem uma espécie de elixir
tonificante capaz de devolver o equilíbrio das
energias humanas. Não existe confirmação cien­
tífica de que os cristais tragam qualquer benefí­
cio de cura para o ser humano.
O importante é ter presente que estamos
diante de uma grave distorção da imagem de
Deus, afinal todo poder pertence a Ele, e não às
obras de sua criação. No Salmo 121,1-2 nos é
dada a orientação segura para encontrar o equi­
líbrio desejado de nosso ser: "Levanto os olhos
para as montanhas: donde me virá o socorro?"

OUTROS MEIOS DE ATUAÇÃO DA NOVA ERA


Em 1987 o papa João Paulo II, na catedral
de Santa Maria, em San Francisco, Estados Uni­
dos, disse: "Cada época apresenta desafios e novas
tentações para o povo de Deus em sua peregri­
nação, e nossa época não é uma exceção". O
desafio e a tentação do cristianismo neste final
de século é o movimento da nova era, presente
no mundo secular e entrando nas igrejas, defor­
mando-as com seus princípios em desacordo com
as Escrituras.
Minha finalidade, aqui, não é de modo
algum semear o pânico, levando as pessoas a
enxergar em tudo a presença da nova era. A
intenção é ajudar a entender que a atração das
idéias e práticas da nova era está justamente em
usar aquilo que os homens mais querem: suces­
so profissional, prosperidade financeira, saúde
116
física... Apresentam a ilusão de que seus seguido­
res estarão isentos dos problemas normais a to­
das as pessoas. Jesus jamais prometeu tal coisa,
mas revelou como seus seguidores seriam capa­
zes de não se deixar afetar pelos efeitos negati­
vos. Tendo entendido isso, continuemos a ver
como identificar a filosofia da nova era.

A difusão de métodos de meditação


ou relaxamento de influência oriental

IOGA. Tenta-se apresentar a ioga como


sendo apenas uma técnica de relaxamento ou
de meditação inofensiva. O cristão não pode
ingenuamente aceitar este caminho como se
ele fosse compatível com sua fé. A base da ioga
é a filosofia hindu, que é panteísta (tudo é
Deus, somos uma parte de Deus) e baseada na
crença da reencarnação. A ioga deseja levar seus
praticantes a um esvaziamento de si e dissolvê-
-los na divindade, com a finalidade de fazê-los
acreditar serem eles mesmos divinos.
Nessa linha de pensamento, cada pessoa se
transforma em seu próprio instrumento de sal­
vação e de comunhão com o Ser Supremo. Tal
convicção não tem sustentação nas Escrituras,
pois com ela aprendemos que "Ele é a pedra
que vós, os construtores, tínheis rejeitado e
que se tornou a pedra angular. Não há nenhu­
ma salvação, a não ser nele; pois não há sob
o céu nenhum outro nome oferecido aos ho­
mens, que seja necessário à nossa salvação"
(At 4,11-12).
117
Crer que nossa salvação depende de uma
técnica ou fazer nossa vida espiritual resumir-
-se a alguns exercícios capazes de transmitir
uma sensação de bem-estar é algo extremamen­
te contrário à fé cristã
TAI-CHI-CHUAN. Apesar de ser também
apresentada como sendo somente uma técnica
de relaxamento, trata-se de uma forma de medi­
tação cuja origem e fundamentos são encontra­
dos no budismo (filosofia religiosa criada na índia
por Buda; seus fundamentos têm influência da
religião hindu — panteísmo e reencarnação).
A característica do tai-chi-chuan é buscar
o domínio de todo o ser por meio do domínio
da respiração e da leveza dos gestos. Para tanto,
a pessoa aprende a fixar sua atenção em um
determinado ponto, evitando todo pensamen­
to. A finalidade dessa técnica é levar quem a
pratica a sentir-se parte da força que move o
universo. De novo, tenta-se dar a impressão de
que o homem é o autor de sua salvação.
MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL. É uma for­
ma de meditação baseada no hinduísmo, trazida
para o Ocidente em 1959 por um guru vindo da
índia. Tentou-se, em um primeiro momento, pas­
sar a idéia de que se tratava de uma técnica sem
vínculo com qualquer credo religioso. Todavia,
ao examiná-la, percebemos que isso é uma men­
tira, pois os que a praticam são levados à adora­
ção de deuses hindus e às práticas do hinduísmo.
O método da meditação transcendental
consiste na repetição de um mantra (palavra, frase
118
ou verso sagrado dados por um guru com a fina­
lidade de levar a pessoa a estar em união com a
força divina em seu interior). Seu objetivo é se
libertar da matéria para mergulhar no divino até
atingir o nirvana, isto é, a ausência de qualquer
desejo ou vontade. Em outras palavras, a pessoa
é levada ao nada.
O cristianismo busca o esvaziamento de
nosso eu para preencher nosso ser com o Tudo
de nosso Deus por meio do amor.
Aqueles que aceitam essas práticas somen­
te em vista de uma satisfação imediata, e às vezes
egoísta, aos poucos, como espera a nova era, vão
assimilando consciente ou inconscientemente
princípios que enfraquecem ou fazem desapare­
cer a fé cristã.

119
C a p ít u l o VI

A nova era
e a Igreja

Toda essa situação de caos espiritual que


vivemos hoje nada mais é que o cumprimento
da própria Escritura: "Surgirá uma multidão de
falsos profetas e induzirão em erro muitos ho­
mens" (Mt 24,11). Ou: "O Espírito o diz expres­
samente: nos últimos tempos, alguns renega­
rão à fé, aderirão a espíritos sedutores e a dou­
trinas inspiradas pelos demônios" (lTm 4,1).
Esses dois versículos são suficientes para enten-
i der que as forças do mal tentariam enfraquecer
a Igreja, inclusive por meio de seus membros.
As doutrinas da nova era estão entrando
como um invasor invisível capaz de distorcer as
genuínas práticas cristãs. O perigo dessa invasão
de idéias não é privilégio desta ou daquela Igreja
cristã; infelizmente o cristianismo como um todo
está sendo contaminado pelo erro dos falsos
profetas e dos espíritos embusteiros.
121
O problema da influência está em dois
pontos: à primeira vista tem-se a impressão de
que se trata de uma mensagem fundamentada
na Escritura, daí a atração entre aqueles que
têm sede de uma experiência mais forte do
poder de Deus. Entretanto, o perigo maior re­
side no segundo ponto: a fascinação exercida
por uma pregação centralizada na promessa de
saúde física, prosperidade financeira, sucesso
em todas as áreas. A fé cristã não depende da
opinião desta ou daquela pessoa, nem pode ser
reduzida a mera busca de satisfação de nossos
caprichos humanos.
Existe um risco, que já vem acontecendo,
de se transformar a Igreja em um reduto de
pessoas egoístas, materialistas e mundanas. No
futuro, teremos uma catástrofe sem igual, pois
muitos, decepcionados pelas falsas promessas,
não estarão mais abertos ao Evangelho.

A NOVA ERA NA IGREJA CATÓLICA


No dia 28 de maio de 1993, nos Estados
Unidos, o papa João Paulo II alertava: "As idéias
do movimento da nova era conseguem, às vezes,
insinuar-se na pregação, na catequese, nas obras e
nos retiros, e deste modo influenciam até cató­
licos praticantes, que talvez não tenham cons­
ciência da incompatibilidade entre aquelas idéias
e a fé da Igreja". As palavras de Sua Santidade
são um alerta para o erro de alguns setores da
Igreja, que estão introduzindo métodos de medi­
tação ou relaxamento de influência oriental.
122
Crescem os cursos de ioga, controle mental
e tantos outros, sempre justificados como um
meio de ajudar as pessoas a desenvolver melhor
suas capacidades. Nesse sentido, no mesmo dis­
curso, João Paulo II explica onde reside o perigo:
"... procuram chegar a Deus mediante a inteli­
gência e a experiência, baseadas em elementos
da espiritualidade oriental ou de técnicas psicoló­
gicas..." E afirma ainda: "... substituem a respon­
sabilidade pessoal das próprias ações perante Deus
por um sentido de dever em relação ao cosmos,
opondo-se, assim, ao verdadeiro conceito de pe­
cado, à necessidade de redenção por meio de
Cristo".
O católico fiel não corre atrás, de modo
simplista, de tudo o que parece bom. Ele avalia
tudo à luz da Palavra de Deus e da orientação
da Igreja. A sadia doutrina não depende da con­
cordância dos homens, e sim da revelação de
Deus. Quem de fato está edificado na certeza
da verdade das Escrituras não necessita de ata­
lhos ou muletas de filosofias com crenças con­
trárias à fé cristã. O cristianismo não é uma col­
cha de retalhos, mas a plena certeza de que em
Cristo Jesus temos toda a provisão de bênçãos
da parte de Deus.
Em Efésios 1,3 lemos: "Bendito seja Deus,
Pai de nosso Senhor Jesus Cristo: ele nos aben­
çoou com toda a bênção espiritual". Mergu­
lhado nessa profunda experiência do amor de
Deus testemunhado em Jesus Cristo, São Paulo
foi capaz de enfrentar as mais duras realidades.
Lendo o livro de Atos dos Apóstolos e suas car­
123
tas, vemos que a vida de Paulo não foi fácil:
perdeu amigos depois de sua conversão; a prin­
cípio foi visto com desconfiança pelos cristãos;
passou por dificuldades financeiras, suportou o
espinho na carne, foi preso e morto por causa do
Evangelho. A forma como enfrentou essas duras
circunstâncias está testemunhada em 2Timóteo
1,12: "... eis por que suporto esses sofrimentos.
Mas não me envergonho deles, pois sei em
quem depositei a minha fé e tenho a certeza
de que ele tem o poder de guardar o depósito
que me é confiado até aquele dia".

A NOVA ERA NAS IGREJAS EVANGÉLICAS


Paulo falou aos dirigentes da Igreja em
Mileto: "Cuidai de vós mesmos e de todo o
rebanho de cuja guarda o Espírito Santo vos
constituiu responsáveis; apascentai a Igreja
de Deus que ele adquiriu para si com o seu
próprio sangue. Bem sei que, após a minha
partida, vão se introduzir entre vós lobos
ferozes que não pouparão o rebanho; do meio
de vós mesmos surgirão hom ens de palavras
perversas, que arrastarão os discípulos atrás
de si. V igiai..." (At 20,28-31).
Essa infiltração de que fala o apóstolo
Paulo tem ocorrido na maioria das denomina­
ções, chegando até à formação de Igrejas.
No Brasil, já há algum tempo o terreno
para as idéias da nova era foi preparado por
uma teologia importada dos Estados Unidos. A
linha geral dessa teologia trazia como pontos
principais: a promessa de saúde total, resposta
para todos os problemas, prosperidade finan­
ceira e promessa de experiências fora do nor­
mal. Um dos maiores responsáveis pela expan­
são dessas idéias em nossa pátria foi o pastor
Kenneth Hagin, autor de livros devorados por
membros de todas as denominações cristãs e
por católicos.
Toda a mensagem de Hagin fundamenta-
-se em algumas experiências muito estranhas,
em que ele afirma ter saído do corpo quando
se encontrava inconsciente durante um perío­
do de grave enfermidade. Em um de seus rela­
tos mais graves, Hagin aproxima a unção do
Espírito e o transe no espiritismo: "Contei-lhe
que não tinha consciência de uma só palavra
que falei durante os últimos dezessete minutos
do culto por causa da unção que estava tão
poderosamente sobre mim" (Compreendendo a
unção, pp. 50-51).
Allan Kardec explica como os espíritos se
manifestam nos médiuns: o médium falante
geralmente se exprime sem ter consciência do
que diz, e muitas vezes diz coisas completa­
mente estranhas a suas idéias habituais, a seu
conhecimento e, até, fora do alcance de sua
inteligência. Embora se ache perfeitamente
acordado e em estado normal, raramente guar­
da lembrança do que diz.
Esses são pequenos exemplos dos relatos
tidos como sobrenaturais, que possuem forte
semelhança com as doutrinas esotéricas difun­
didas pelo movimento da nova era.
12S
A impressão que se tem é de que Hagin usa
esses relatos tidos como experiências sensíveis com
Jesus como uma espécie de muleta para confirmar
a verdade de seus ensinamentos. Infelizmente, as
pessoas estão mais uma vez sendo seduzidas pela
antiga arma utilizada pela serpente para levar
nossos primeiros pais a pecar contra Deus: os sen­
tidos: "A mulher viu que a árvore era boa de
comer, sedutora de se olhar, preciosa para agir
com clarividência. Apanhou um fruto e dele
comeu, deu-o também a seu homem que esta­
va com ela, e ele comeu" (Gn 3,6).
O ensinamento básico de Hagin é levar
os cristãos a imaginar que têm poderes a ponto
de determinar a Deus qualquer coisa, que as­
sim será feita. Visto por esse prisma, Deus pas­
sa a depender das ordens dos homens, que,
então, passam a ser praticamente deuses.
Como cristãos, cremos no poder de Deus
como fonte para a solução de nossos problemas.
Essa é uma certeza confirmada pelo próprio Cris­
to ressuscitado em Marcos 16,17: "E eis os si­
nais que acom panharão os que houverem
crido". Entretanto, essa convicção não nos auto­
riza a imaginar que possuímos algum meio para
obrigar Deus a atender a nossos desejos. O ver­
dadeiro Filho de Deus ora na certeza de que Deus
lhe dá sempre o melhor de acordo com aquilo
que é adequado à nossa salvação.
Desse modo, as respostas do Senhor podem
ser: 1. aquelas que pedimos; 2. diferentes do que
pedimos (aqui provamos a fé, que é capacidade
para enxergar as respostas de Deus); ou 3. permis­
i
são para que nada mude, dando-nos, porém, a
graça, o auxílio necessário para não desanimar. O
apóstolo Paulo testemunha um exemplo forte
desta última postura de Deus: "E porque essas
revelações eram extraordinárias, para poupar-
-me qualquer orgulho, um espinho foi posto na
minha carne, um anjo de Satanás encarregado
de me bater, para poupar-me qualquer orgu­
lho. A respeito disso, três vezes roguei ao Senhor
que o afastasse de mim. Mas ele me declarou:
'A minha graça te basta; o meu poder se com ­
pleta na fraqueza'" (2Cor 12,7-9).
Não se trata de não crer que Deus faça
milagres, mas de evitar danos à nossa vida espi­
ritual. Quem aprende a andar segundo a verdade
da Palavra jamais é decepcionado e sempre en­
contra as respostas para tudo o que o aflige no
espírito, na alma e no corpo.

COMO IDENTIFICAR O EVANGELHO


DA NOVA ERA

Muitos cristãos sinceros estão sendo incons­


cientemente arrebatados pelos atrativos de uma pre­
gação motivada por doutrinas estranhas ao Evan­
gelho. Estamos vivendo o tempo da realização das
profecias sobre a preparação dos tempos finais.
Por trás do fenômeno da explosão das
novas seitas está a influência da filosofia da
nova era. Trata-se de um pseudocristianismo
que dá ênfase quase exclusiva a sinais e mara­
vilhas: curas, prosperidade financeira, êxito...
127
além do incentivo a certas crendices e supers­
tições. O cristianismo está sendo apresentado
como uma mercadoria exposta para atrair se­
guidores, usando-se o recurso de exaltar deter­
minado líder como detentor de uma mensa­
gem especial de Deus.
Talvez alguns argumentem que saíram de
suas Igrejas para freqüentar uma nova pela evi­
dência das manifestações de maravilhas. Muitos
cristãos imaginam que o atestado da presença de
Deus em um determinado lugar são os milagres.
Em Deuteronômio 13,2-4, temos uma orientação
precisa e atual para o nosso discernimento: "Se
surgir em teu meio um profeta ou um visioná­
rio — mesmo que ele te anuncie um sinal ou
um prodígio, e mesmo que o sinal ou o prodí­
gio prometido se realizem —-, se ele disser: 'Si­
gamos e sirvamos a outros deuses', deuses que
não conheces, não darás ouvido às palavras
deste profeta ou às visões deste visionário; pois
o Senhor, vosso Deus, nisto vos provará, para
saber se sois amantes do Senhor, vosso Deus,
com todo o vosso coração, de todo o vosso ser".
A fé cristã não deve depender de líderes a
quem se atribuem poderes sobrenaturais; se as­
sim for, quando eles caem ou morrem tudo aca­
ba. A fé cristã não pode ser como uma moda:
hoje as pessoas freqüentam determinada igreja
porque "tem rock pauleira pra moçada", e ama­
nhã vão para outra igreja ou voltam para o
mundo. O cristianismo não pode levar as pes­
soas a medir o padrão de sua fé pela quantidade
dos bens materiais; tal prática gera um cristianis-
mo materialista. Se não quisermos perder os fru­
tos do despertar espiritual deste nosso século, é
necessário não se deixar enganar pela onda das
falsas seitas do evangelho da nova era.
Eu creio no poder de Deus de transformar
vidas, libertar oprimidos, curar enfermos. Creio
nos dons extraordinários do Espírito Santo como
são apresentados em Atos dos Apóstolos e, prin­
cipalmente, nas cartas de São Paulo. Todavia,
creio também que não podemos ir além daquilo
que encontramos na Palavra de Deus, a Bíblia.
A questão é: como identificar os pregado­
res da nova era? Um primeiro critério para per­
ceber a influência da nova era na pregação cristã
é a ênfase no dinheiro. Se é dado destaque à
busca da prosperidade material como sinal de
que estamos no caminho certo, é preciso não
esquecer duas orientações precisas da Escritura:
"Não vos preocupeis, portanto, dizendo: 'Que
comeremos? que beberemos? com que nos
vestiremos?' tudo isso os pagãos procuram
sem descanso" (Mt 6,31-32). "Se depositamos
a nossa confiança em Cristo somente para
esta vida, somos os mais dignos de pena de
todos os hom ens" (ICor 15,19).
Na visão dos pregadores da prosperidade,
Jesus, Pedro, Paulo não podem ser considera­
dos bem-sucedidos, pois não morreram ricos.
O cristão firmado na rocha sólida da Palavra
não baseia sua fé nos bens que possui, mas em
Jesus Cristo. Se conhecemos as Escrituras anda­
mos na mesma confiança do Salmo 37,25: "Fui
jovem, e envelhecí sem nunca ver um justo
129
abandonado, nem seus descendentes mendi­
garem pão".
A ênfase no dinheiro, como vimos, é o
primeiro critério para reconhecer a filosofia da
nova era. A prosperidade financeira é apresen­
tada como meta fundamental na vida dos cris­
tãos. Tal atitude faz com que as pessoas bus­
quem a Deus não por aquilo que Ele é, mas
por aquilo que Ele pode dar. Estamos diante de
uma distorção do sentido da verdadeira con­
versão, que tem como base a fé, o arrependi­
mento e a disposição de deixar-se conduzir por
Deus. Em Mateus 16,24 Jesus nos revela: "Se
alguém quer vir em meu seguimento, renun­
cie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me".
O cristão pleno do Espírito Santo não mede
o grau de sua espiritualidade por sua conta bancá­
ria, mas pelo poder de Deus, que o capacita a
enfrentar todas as circunstâncias da vida! Ninguém
mais do que o apóstolo Paulo tem autoridade para
falar sobre este tema, revelando em dois textos
como é o dia do cristão: "Ao contrário, nós nos
recomendamos em tudo como ministros de
Deus, por uma grande perseverança nas tribu-
lações, nos constrangimentos, nas angústias,
nos açoites, nas prisões, nos motins, nas fadi­
gas, nas vigílias, nos jejuns..." (2Cor 6,4-5). "Não
é a necessidade que me faz falar, pois aprendi
a bastar-me a mim mesmo em qualquer situa­
ção. Sei viver na penúria, sei viver na abundân­
cia. Aprendi, em toda a circunstância e de to­
dos os modos, tanto a estar saciado como a ter
fome, a viver na abundância como na indigên-
cia. Tudo posso n'Aquele que me dá forças"
(F1 4,11-13).
É triste ver como as pessoas se deixam
levar pela atração do que está sendo oferecido
sem examinar à luz da Palavra tal pregação. A
fé cristã não se presta somente a vitórias nos
padrões do mundo onde é dito que alguém
somente é feliz possuindo bens. A fé autêntica
é muito mais que isso. Por meio dela recebe­
mos auxílio para enfrentar os problemas e pro­
vações comuns a todos os homens.
Um segundo critério para reconhecê-la é a
promessa de que o cristão não fica doente, iden­
tificando todas as doenças com o Maligno... Aqui
surge o grande drama desse tipo de pregação
distorcida das verdades perenes da Escritura: afir­
mar que quem fica doente desconhece a obra de
Cristo, não tem fé suficiente ou está em pecado.
Pregar de tal modo significa apresentar so­
mente um lado da moeda: nos evangelhos encon­
tramos Jesus ora curando a todos, ora apenas a
alguns... Um exemplo muito forte pode ser en­
contrado no relato da cura do paralítico junto ao
tanque de Betesda. Lemos em João 5,3.5.8: "Ela
tem cinco pórticos debaixo dos quais jazia uma
multidão de doentes. Havia lá um homem en­
fermo fazia já trinta e oito anos. Jesus lhe disse:
'Levanta-te, toma a tua maca e anda'. E imedia­
tamente o homem ficou curado; tomou a maca
e andava." Quantos foram curados? Somente um!
Em Gálatas 4,13, Paulo diz: "Bem o sabeis,
foi por ocasião de uma doença que eu vos
anunciei pela primeira vez a boa nova". E tam­
bém seus amigos ficavam doentes, apesar de Paulo
possuir um grande ministério de cura: "...deixei
Trófimo doente em Mileto" (2Tm 4,20).
131
Quem já não passou pela experiência de
adoecer? Quem prega em contrário prega a
falsidade: sabe-se que muitos desses pregadores
adoeceram e tiveram de ser internados às es­
condidas para não escandalizar seus seguido­
res. Quanto à cura, é preciso ter presente: Deus
cura com os médicos e os remédios, e outras
vezes, como aconteceu com São Paulo, permite
que a doença permaneça.
Não devemos deixar que nenhum senti­
mento de culpa nos envolva, nem imaginar
que a cura vem em troca de dinheiro. A verda­
deira conversão tem como base a fé, o arrepen­
dimento e a disposição de deixar-se conduzir
por Deus.
C apítulo VII

Uma seita da nova era:


a universal do reino de deus

Todo despertar espiritual corre o risco de


perder a sua vitalidade ou confiabilidade pelo
descrédito lançado por Satanás. No meio da
grande colheita semeada pelo poder do Espíri­
to Santo, existem sempre o trigo e o joio. A
ingenuidade espiritual de muitos faz com que
o joio prospere trazendo danos graves à credi­
bilidade da pregação do Evangelho.
O cristão cheio do Espírito Santo deve ser
capaz de examinar tudo com discernimento, e
permanecer fiel aos ensinamentos de Jesus,
confiados à Sua Igreja.
Neste espírito de alerta é conveniente o exa­
me explícito de como a nova era está se infiltrando
no meio cristão de um modo perigoso. Em um
primeiro momento, preparou o caminho no
mundo secular. Em segundo passo entrou pela
133
porta das Igrejas estabelecidas, e agora por fim está
organizando seitas com a sua filosofia. Esta sua
estratégia tem a finalidade precisa de desestabilizar
o cristianismo, fazendo os cristãos migrarem de
uma comunidade para a outra e estabelecer o caos.
Um exemplo da artimanha satânica é a
chamada igreja universal do reino de deus. Em
suas práticas e costumes, encontramos um dos
mais tristes testemunhos de como a pureza do
evangelho está sendo distorcida, e muitos sen­
do levados para o engano.

A ORIGEM DA UNIVERSAL
Ela foi fundada em 1977 no Rio de Janei­
ro, quando alguns membros da igreja evangé­
lica de Nova Vida tomaram a decisão de iniciar
uma nova denominação. Entre estes estavam:
Edir Macedo, Romildo Soares (seu cunhado),
Roberto Augusto Alves entre outros.
Nos primeiros anos, a universal em nada se
diferenciou de outras igrejas evangélicas. Toda­
via, aos poucos foi revelando para que estava
surgindo. Quatro anos depois de sua fundação,
Edir Macedo passou a usar o título de "bispo”.
A finalidade de tal decisão tinha um objetivo
mal-intencionado, revelado por Roberto Augusto
Alves em depoimento ao "Jornal da Tarde" de 2
de abril de 1991, p. 16: "Esse negócio de bispo
é só um título para envolver os católicos”.
O terreno estava sendo preparado com toda
a estratégia do lançamento de um produto feito
para agradar ao público, e não para realmente
pregar o evangelho. Quem faz um estudo mais
apurado dos cultos realizados por esta seita obser­
va o cuidado de estar atento ao gosto da platéia.
Para alcançar mais facilmente as massas, usam-
-se artifícios que recordam e reforçam as crendi­
ces e superstições do lugar onde a seita universal
se instala.

ALGUMAS PRÁTICAS DA UNIVERSAL


Uma das características fortes dos cultos
desta seita é a tentativa de apresentar elemen­
tos cristãos, tendo como pano de fundo a explo­
ração de crenças pagãs. Edir Macedo e seu gru­
po sabe que o povo brasileiro carece de um
conhecimento mais profundo da Escritura. Por
isso, explora de modo triste a ingenuidade do
povo. Todo aquele que compara a pregação des­
sa seita com a mensagem pura do evangelho
não se deixa enganar.

As correntes de fé

Uma das práticas muito usadas para atrair


católicos são as chamadas correntes, que recor­
dam as novenas. As pessoas são incentivadas a
escolher a corrente do dia da semana que mais
diz respeito ao s^u problema: corrente da pros­
peridade e dos empresários, do amor, da saúde,
da família... e uma perigosa corrente do desa­
fio onde as pessoas são levadas a dar tudo o
que possuem para obrigar Deus a abençoá-las.
135
Nessas correntes, observa-se a mentalida­
de da pretensa prosperidade ensinada pela nova
era, onde se propaga que o sinal da realização
são os bens materiais. A seita universal procura
fazer o mesmo, levando seus membros a uma
ânsia em demonstrar que estão sendo abençoa­
dos porque conseguiram isso ou aquilo. O após­
tolo Paulo corrige este erro ensinando: "Se de­
positamos a nossa confiança em Cristo so­
mente para esta vida, somos os mais dignos
de pena de todos os hom ens" (ICor 15,19).
A Sagrada Escritura promete que Deus
jamais desampara os justos, porém o cristão
não faz da prosperidade material o ponto-cha-
ve da sua fé. O discípulo confia nos cuidados
amorosos da providência divina, como prome­
te o próprio Senhor Jesus: "Não vos preocu­
peis por vossa vida, com o que comereis,
nem por vosso corpo, com o que vestireis. A
vida não vale mais do que o alimento, e o
corpo, mais do que a roupa?" (Mt 6,25).
Para quem deseja uma vida abençoada
"necessário vos é nascer do alto" 0 ° 3,7)
"...d a água e do Espírito" 0o 3,5). "Procurai
primeiro o Reino e a justiça de Deus, e tudo
isso vos será dado por acréscim o" (Mt 6,33).

Entrega de objetos para atrair sorte

A nova era explora a crendice das pessoas


incentivando-as a crer que determinados obje­
tos são capazes de atrair bons fluidos. Neste
sentido são usados cristais, duendes, gnomos,
fadinhas ou bruxas, incenso, flores... que as
pessoas introduzem em suas casas buscando boa
sorte e tentando afastar as desgraças. Esse pro­
ceder cria pessoas cheias de medo e inseguras.
Um desses exemplos está no uso de muitas flo­
res na casa para evitar todo mal que outras pes­
soas queiram fazer. Quantas vezes, por um
motivo qualquer, as flores murcham antes do
esperado, e fica estabelecido o medo de que
algum mal está em marcha?
Na seita universal, existe o hábito seme­
lhante de dar uma rosa que deve ser levada para
casa e que irá concentrar todo mal sobre si.
Paralelamente, são distribuídas pedras de
algum monte da terra santa, água que dizem
vir do rio Jordão, um certo óleo do monte das
Oliveiras, o cajado de Jacó ou de Moisés... des­
viando a atenção do único que pode realmente
abençoar: o Deus Todo-Poderoso.
Estas práticas ressuscitam uma antiga here­
sia chamada panteísmo. Trata-se de uma crença
pagã que afirma a existência de uma identidade
entre Deus e a natureza. Este conceito está em
contradição com o princípio bíblico de criação,
que apresenta Deus como criador, o qual impri­
miu por sua livre vontade uma forma e ordem em
todas coisas. Podemos ver as maravilhas de Deus
na natureza, mas jamais confundi-lo com ela.
E o mais grave é entender que quando
cremos que qualquer obra da natureza ou objeto
possui algum poder tiramos a glória de Deus. Tal
agir na Bíblia é chamado de idolatria:
137
"Quem sacrificar aos deuses será vota­
do ao interdito" (Ex 22,19).

O descarrego com arruda

Outra prática semelhante às crenças da nova


era é o chamado descarrego com arruda. A mes­
ma seita universal que em uma quinta-feira dia
12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida,
acusou a Igreja Católica de idólatra, no dia se­
guinte convidava pela sua rede de televisão para
a corrente do descarrego com arruda.
Por se estar depositando a segurança em
um elemento da natureza, cultiva-se um costu­
me pagão e idólatra, usando uma crendice
própria de terreiros de umbanda, cujas práticas
são completamente estranhas à fé cristã.
Também existe uma ligação com as cren­
ças da nova era. Em junho de 1991 foi publi­
cada na revista Destino uma entrevista intitulada
"O mago das plantas". O entrevistado era um
propagador desta linha de pensamento, e em
sua resposta sobre o poder da arruda observa-
-se uma perfeita semelhança com a corrente do
descarrego. Ao tal mago foi perguntado: "Como
a arruda é usada para espantar maus fluidos?"
"A arruda libera uma energia que fortalece
nosso campo astral e torna-o capaz de repelir
forças que poderiam afetá-la negativamente".
Nestas reuniões de descarrego, geralmente
feitas às sextas-feiras, sob a alegação de ser o dia
em que são feitos os trabalhos mais fortes nos
138
terreiros, os pastores ordenam aos espíritos maus
que se manifestem. Estamos diante de uma gra­
ve desobediência à ordem de Deus, isto é, a proibi­
ção de invocar os espíritos: "Não haverá no meio
de ti ninguém que faça passar pelo fogo seu fi­
lho ou sua filha, que interrogue os oráculos,
pratique sortilégios, magia, encantamentos,
enfeitiçamentos, recorra à adivinhação ou con­
sulte os mortos. Todo homem que assim pro­
ceder é uma abominação para o Senhor..."
(Dt 18,10-12).
Tem-se a impressão de algo que se faz para
explorar a mentalidade do brasileiro, tão conta­
minado por idéias ligadas ao espiritismo, umban­
da e agora pela difusão de crenças em vidas
passadas...
Para o cristão consciente de sua fé, a sexta-
-feira é dia de vitória e não de medo. Foi em
uma sexta-feira que Jesus morreu na cruz para
nos libertar de toda maldição e nos dar a salvação.
Quem tem Jesus Cristo em seu coração não teme
o poder de Satanás pois "não te acontecerá des­
graça, nenhum golpe ameaçará a tua tenda,
pois ele encarregará seus anjos de guardar-te
em todos os teus cam inhos" (SI 91,10-11).

139
C apítulo VIII

Maria Santíssima na
batalha espiritual

No Tratado da verdadeira devoção à


Santíssima Virgem1, São Luís Maria Grignion
de Monfort fala de um modo forte como a
devoção a Santíssima Virgem será especialmente
necessária no final dos tempos:
Maria deve ser, enfim, terrível para o demônio
e seus sequazes como um exército em linha de
batalha, principalmente nesses últimos tempos,
pois o demônio, sabendo bem que pouco tempo
lhe resta para perder as almas, redobra cada dia
seus esforços e ataques. Suscitará, em breve, per­
seguições cruéis e terríveis emboscadas aos ser­
vidores fiéis e aos verdadeiros filhos de Maria,
que mais trabalho lhe dão para vencer.

1. 1’etrópolis, Vozes, 1987, pp. 53-57.

141
* * •*

É principalmente a estas últimas e cruéis perse­


guições do demônio, que se multiplicarão todos os dias
até o reino do anticristo, que se refere aquela primeira
e célebre predição e maldição que Deus lançou contra
a serpente no paraíso terrestre. Vem a propósito explicá-
-la aqui, para glória da Santíssima Virgem, salvação
de seus filhos e confusão do demônio.
"Inimicitias ponam inter te et mulierem, etsemen
tiuim et semen illius; ipsa conteret caput tuum, et tu
insidiaberis calcaneo eius" (Gn 3,15): P o r e i h o s t i l i ­
d a d e e n t r e ti e a m u lh e r , e n t r e a t u a d e s c e n d ê n ­
c ia e a d e s c e n d ê n c ia d e la . E s ta te a tin g ir á a c a ­
b e ç a , e tu lh e a t in g ir á s o c a lc a n h a r .

Uma única inimizade Deus promoveu e esta­


beleceu, inimizade irreconciliável, que não só há de
durar, mas aumentar até o fim: a inimizade entre
Maria, sua digna Mãe, e o demônio; entre os filhos
e servos da Santíssima Virgem e os fílhos e sequazes
de Lúcifer; de modo que Maria é a mais terrível
inimiga que Deus armou contra o demônio. Ele lhe
deu até, desde o paraíso, tanto ódio a esse amaldi­
çoado inimigo de Deus, tanta clarividência para
descobrir a malícia dessa velha serpente, tanta força
para vencer, esmagar e aniquilar esse ímpio orgulho­
so, que o temor que Maria inspira ao demônio é
maior que o que lhe inspiram todos os anjos e ho­
mens e, em certo sentido, o próprio Deus. Não que
a ira, o ódio, o poder de Deus não sejam infinita­
mente maiores que os da Santíssima Virgem, pois as
perfeições de Maria são limitadas, mas, em primeiro
lugar, Satanás, porque é orgulhoso, sofre incompara­
velmente mais, por ser vencido e punido pela peque-
142
na e humilde escrava de Deus, cuja humildade o
humilha mais que o poder divino; segundo, porque
Deus concedeu a Maria tão grande poder sobre os
demônios, que, como muitas vezes se viram obriga­
dos a confessar, pela boca dos possessos, infunde-
-Ihes mais temor um só de seus suspiros por uma
alma, que as orações de todos os santos; e uma só
de suas ameaças que todos os outros tormentos.
O que Lúcifer perdeu por orgulho, Maria ga­
nhou por humildade. O que Eva condenou e perdeu
pela desobediência, salvou-o de Maria pela obediên­
cia. Eva, obedecendo à serpente, perdeu consigo todos
os seus filhos e os entregou ao poder infernal; Maria,
por sua perfeita fidelidade a Deus, salvou consigo
todos os seus filhos e servos, e os consagrou a Deus.
Deus não pôs somente inimizade, mas inimi­
zades, e não somente entre Maria e o demônio, mas
também entre a posteridade da Santíssima Virgem e
a posteridade do demônio. Quer dizer, Deus estabe­
leceu inimizades, antipatias e ódios secretos entre os
verdadeiros filhos e servos da Santíssima Virgem e os
filhos e escravos do demônio. Não há entre eles a
menor sombra de amor, nem correspondência íntima
existe entre uns e outros. Os filhos de Beliai, os escra­
vos de Satã, os amigos do mundo (pois é a mes­
ma coisa) sempre perseguiram até hoje e perseguirão
no futuro aqueles que pertencem à Santíssima
Virgem, como outrora Caim perseguiu seu irmão Abel
e Esaú, seu irmão jacó, figurando os réprobos e os
predestinados. Mas a humilde Maria será sempre
vitoriosa na luta contra esse orgulhoso, e tão grande
será a vitória final que ela chegará a esmagar-lhe a
cabeça, sede de todo o orgulho. Ela descobrirá sem­
143
pre sua malícia de serpente, desvendará suas tramas
infernais, desfará seus conselhos diabólicos, e até ao
fim dos tempos garantirá seus fiéis servidores contra
as garras de tão cruel inimigo.
Mas o poder de Maria sobre todos os demô­
nios há de patentear-se com mais intensidade, nos
últimos tempos, quando Satanás começar a armar
insídias ao seu calcanhar, isto é, aos seus humildes
servos, aos seus pobres filhos, os quais ela suscita­
rá para combater o príncipe das trevas. Eles serão
pequenos e pobres aos olhos do mundo, e rebaixa­
dos diante de todos como o calcanhar, calcados e
perseguidos como o calcanhar em comparação com
os outros membros do corpo. Mas, em troca, eles
serão ricos em graças a Deus, graças que Maria
lhes distribuirá abundantemente. Serão grandes e
notáveis em santidade diante de Deus, superiores
a toda criatura, por seu zelo ativo, e tão fortemen­
te amparados pelo poder divino, que, com a humil­
dade de seu calcanhar e em união com Maria,
esmagarão a cabeça do demônio e promoverão o
triunfo de Jesus Cristo.

144
C apítulo IX

O mundo
vai acabar?

Na proximidade do final de mais um sécu­


lo, surge no coração de muitas pessoas uma preo­
cupação: será que o mundo vai acabar? As pessoas
têm devorado avidamente livros contendo previ­
sões sobre este tema. As profecias de Nostradamus
voltaram a ser o tema de muitas conversas; a
filosofia da nova era proclama com todas as trom-
betas que o cristianismo chegará ao fim e no
novo século começará a era de aquário...
Somado a tudo isso, o panorama do mun­
do atual é preocupante:
— crescente criminalidade e violência
nas grandes cidades e no campo;
— guerras intermináveis;
— crescimento da miséria e da fome,
mesmo nos países que foram chama­
dos de Primeiro Mundo;
145
— fenômenos da natureza como nunca em
outro tempo: furacões, terremotos, se­
cas, tempestades...
— o descrédito da família, da religião, da
política... e a destruição da juventude
pelos tóxicos e pelo álcool;
— o contínuo surgimento de novas doenças.
Afinal, o que está acontecendo? O que pen­
sar diante dessa situação da humanidade? Qual
deve ser nossa atitude como cristãos? Devemos
ter uma convicção profunda: este mundo che­
gará ao seu fim porque cremos na segunda volta
de Jesus, como diz a Palavra.
Aos discípulos perplexos com a Ascensão
de Jesus, foi dito: "Homens da Galiléia, por
que ficais aí a olhar para o céu? Este Jesus,
que vos foi arrebatado para o céu, há de vir
do mesmo modo como o vistes partir" (At
1,11). E em 2 Pedro 3,10 está escrito: "O dia
do Senhor virá como um ladrão, dia em que
os céus desaparecerão com enorme estron­
do, em que os elementos abrasados se dissol­
verão e a terra e suas obras serão chamadas
ao julgam ento".
A Bíblia é muito clara quanto a um ponto:
o dia final será um dia escuro. A terra estreme­
cerá, os céus se agitarão, o sol escurecerá, e as
estrelas não mais brilharão. Haverá uma sepa­
ração definitiva entre os que são da Luz e os
seguidores das trevas. Tais revelações não de­
vem causar desespero ao nosso coração, se de
fato nossa vida está entronizada no senhorio
de Jesus Cristo. Porque Ele virá para levar aque­
les que são d'Ele, para arrebatar sua Igreja aos
céus, para introduzir na Jerusalém celeste aque­
les que Lhe foram fiéis (cf. lTs 4,17).
Porém, temos de estar preparados para reco­
nhecer os sinais de Deus e não ser enganados.
Não podemos ficar de braços cruzados, distraídos.
Estamos vivendo tempos em que o inimigo tem
como nunca tentado mostrar suas garras, por sa­
ber que seu fim está próximo! Lemos em 2 Tessa-
lonicenses 2,3: "Que ninguém vos engane, de
maneira alguma. É preciso que primeiro venha
a apostasia e se revele o Homem da impieda­
de, o Filho da perdição, aquele que se ergue e
se insurge contra tudo o que se chama deus
ou se adora, a ponto de se assentar em pessoa
no templo de Deus e proclamar-se Deus".
Vivemos dias em que, talvez mais do que
em outros tempos, começam a se cumprir al­
gumas das profecias sobre o tempo da tribula-
ção. Os verdadeiros cristãos de nosso tempo
estão na mesma situação dos primeiros cris­
tãos, isto é, a sociedade de hoje, como a socie­
dade pagã do passado, tem idéias, hábitos e
costumes contrários aos padrões bíblicos. Pos­
sivelmente a humanidade em pouco tempo
chegará a um estágio — e ele já está surgindo,
principalmente nos países ricos — onde haverá
de tudo dentro das casas para trazer comodida­
de aos homens. Entretanto, não haverá paz ou
felicidade duradoura, pois Deus e sua Palavra
serão riscados das prioridades da vida. O papa
João Paulo II deixou claro, em uma viagem aos
147
Estados Unidos, que de nada vale termos com­
putador, máquina de lavar, forno de microon­
das, freezer, ar condicionado e as prateleiras
repletas de alimentos finos, se não há harmo­
nia no lar, se não existe bênção. Não imagine­
mos que essas previsões são minhas ou do papa:
estão contidas nas Escrituras.
Muitos cristãos têm sido levianos ou des­
cuidados, transformando a religião em uma
espécie de clubezinho particular, onde vamos
para nos divertir, bater palmas, levantar os
braços, ficar emocionados com os sinais, mila­
gres, prodígios, sem perceber que algo grave
está acontecendo. O Senhor não está derraman­
do o Espírito Santo somente para nos entreter
com religião. Ele o está fazendo porque está
preparando um povo, aquilo que a Bíblia cha­
ma de pequeno resto fiel.
A Igreja deve se encher de alegria, é ver­
dade; nosso coração deve exultar em louvores,
glórias, aleluias, na presença do Deus Altíssi­
mo, para que possamos nos unir à grande As­
sembléia celestial onde estão os anjos e os san­
tos. Mas o propósito de Deus é muito maior
que simplesmente isto. Deus está falando ao
nosso tempo, e quem O está ouvindo?
Este século começou com um grande si­
nal do Senhor: a aparição de Fátima. Em
Medjugorje, por meio de aparições atribuídas a
Nossa Senhora, Maria está falando das mais
diferentes formas. Quem está ouvindo essas
mensagens? Quase ninguém! As pessoas estão
interpretando os sinais de Deus somente como
148
fenômenos da natureza. Tenho a certeza de que
alguns estão neste momento zombando das
minhas palavras, mas quero com toda a ênfase
repetir: por trás dos graves problemas do mun­
do atual está a questão de Deus!
Não estou falando de religião, porque o
anticristo também se serve dela para confundir
o homem. A humanidade cada dia está se re­
belando mais e mais contra Deus. Os homens
estão construindo suas vidas, suas famílias e
profissões sem a influência do Senhor. Quantos
afirmam crer em Deus — e muitas vezes es­
tão nos grupos de oração, são catequistas —,
mas acham normal o aborto, o divórcio, o adul­
tério, as pequenas e grandes desonestidades
em nome de alguma vantagem, as calúnias e
tantas outras atitudes ruins para alcançar o
desejado. As pessoas já não se incomodam com
o rancor que carregam no coração; muitas ve­
zes, dentro das próprias igrejas, temos visto
pessoas que não olham nos rostos umas das
outras. Se você está nessa situação, converta-
-se, meu irmão, porque, se Jesus voltar e você
não estiver olhando no rosto de um semelhan­
te, você não será arrebatado!
A Bíblia nos ensina que ao proceder desse
modo estamos colaborando para a realização
das predições sobre o governo terrível do anti­
cristo. Na Sagrada Escritura, encontramos uma
descrição clara e impressionante do final dos
tempos. Ao ler essas passagens, sinta os infer­
nos tremendo e os céus se alegrando, porque
você será esclarecido.
149
Somos advertidos para não perder tempo
com especulações bobas quanto à questão da
data fatal. O discípulo de Cristo não se deixa
envolver por pretensas profecias em que são
apresentadas datas. Porque a Palavra de Deus é
clara: "Mas este dia e esta hora, ninguém os
conhece, nem os anjos do céu, nem o Filho,
ninguém senão o Pai, e só ele" (Mt 24,36).
No século passado, surgiram duas seitas esti­
pulando datas: a primeira foi a dos Adventistas
do Sétimo Dia. Apareceu um homem dizendo
que recebera uma revelação e marcou o dia em
que o mundo iria acabar. Muitas pessoas saíram
de suas igrejas para ir ao lugar que ele havia
determinado, mas quando chegou o dia nada
aconteceu. Uma profetisa, uma senhora cha­
mada Ellen White, afirmou que Deus havia
adiado sua data. Depois surgiu a seita Testemu­
nhas de Jeová, que marcou a data da volta de
Jesus para 1914. Nada aconteceu nesse ano, e
eles então adiaram a data para o final da década
de 20. Construíram uma grande mansão na
Califórnia, para receber Jesus, Elias e Moisés, mas
ninguém apareceu...
Quando se acrescentam outros sentidos à
Palavra de Deus, incorre-se no erro. O discípu­
lo vive como se todos os dias fossem o dia da
volta de Jesus! Ele não se deixa envolver pelo
medo, porque nosso Deus não é um Deus de
medo, mas de alegria, de poder. Quando fala
conosco, Sua intenção não é nos aterrorizar,
mas trazer vitória, paz. Quem não aceita agora
Cristo como seu Salvador acabará apresentan­
150
do-se diante d'Ele como Juiz. Por nossa respos­
ta a Jesus, escolhemos nosso destino: "Não vos
iludais: Deus não se deixa ludibriar; pois o
que o homem semeia, ele o colherá" (G1 6,7).
Examinemos, agora, os sinais que nos são
revelados em Mateus 24 quanto ao tempo da
tribulação:

P SINAL: FRAUDE ESPIRITUAL


Uma das primeiras maneiras de o anticristo
enganar os homens será por meio da religião.
Perceba a atualidade dessa passagem bíblica:
"Tomai cuidado para que ninguém vos induza
em erro. Pois muitos virão assumindo o meu
nome; eles dirão: 'O Messias sou eu', e induzi­
rão em erro muita gente"' (Mt 24,4-5). "Surgirá
uma multidão de falsos profetas e induzirão
em erro muitos homens" (Mt 24,11). "Então, se
alguém vos disser: 'O Messias estás aqui!', ou
então: 'Ele está ali!', não deis crédito. De fato
levantar-se-ão falsos messias e falsos profetas e
produzirão sinais formidáveis e prodígios, a
ponto de induzir em erro, se fosse possível, até
os eleitos"' (Mt 24,23-24).
Essas profecias não poderiam — como
falam alguns — dizer respeito à Igreja católica,
porque ela existe desde o início do cristianis­
mo, e as profecias falam do futuro.
Lembro-me aqui das palavras do pastor
Juan Carlos Ortiz: "Nós, evangélicos, muitas
vezes criticamos as tradições católicas e não per­
151
cebemos as nossas próprias tradições. E não en­
tendemos que as tradições católicas são mais
antigas. Nós evangélicos", continua o pastor,
"queremos justificar nossas denominações, nos­
sas divisões, dizendo que Deus é responsável por
nosso pecado"1.
A divisão — e os evangélicos sérios têm
de entender isto — é nossa culpa, de nós católi­
cos, e dos evangélicos também. No plano de
Deus não há divisão, porque há apenas um
Deus, e uma só fé. Eu acredito que o Espírito
Santo também sopre fora da Igreja católica,
naqueles que sinceramente buscam o Senhor.
Mas dentro da Igreja católica eu tenho todos
os meios de que preciso para a minha salvação.
As profecias tratam de seitas que surgiríam
no final dos tempos. Além disso, descrevem
essas seitas como aquelas que usariam das curas
e milagres para atrair as pessoas e levá-las à
apostasia. A Palavra de Deus é clara: "Tom ai
cuidado para que ninguém vos induza em
erro" (Mt 24,4). Por ingenuidade ou ignorân­
cia das Escrituras, ou, o que é pior, querendo
levar vantagens, muitos têm se deixado iludir
pela aparência dos sinais. Parece que ainda não
entenderam o que diz o apóstolo Paulo: "Quan­
to à vinda do ímpio, assinalada pela ativi­
dade de Satanás, ela se manifestará com toda
sorte de obras portentosas, milagres, prodí­
gios enganosos" (2Ts 2,9).

1. Juan Carlos Ortiz, 0 discípulo, Belo Horizonte, Betânia, 1976,


pp. 130-137.

152
2" SINAL: CAOS POLÍTICO E SOCIAL
"Ouvireis falar de guerras e rumores de
guerras. Ficai atentos! Não vos alarmeis: é
preciso que isto aconteça, mas ainda não é
o fim. Pois, uma nação se levantará contra
outra e um reino contra outro" (Mt 24,6-7a).
A América do Sul está mergulhada na insta­
bilidade política, na guerrilha, no crescente poder
dos traficantes de drogas, na violência nas cida­
des... A África, assolada pela fome, pela guerra e
por todo tipo de doenças. Muitos dos ex-países
comunistas, como a Iugoslávia, estão se destruin­
do entre tantas guerras, nas quais famílias são
separadas, mulheres violadas e milhares mortos
em nome da pureza da raça. Nos Estados Unidos,
crescem a pobreza, as diferenças entre brancos e
negros, os crimes brutais e a destruição do valor
da família. Também nessa grande nação, estão
crescendo o alcoolismo, o vício das drogas, a por­
nografia... A Europa atravessa os mesmos proble­
mas graves, trazendo incertezas a essa sociedade
outrora tão segura de seus valores.
Estamos vendo o mundo em convulsão.
Explodem por todos os lados os sinais de Deus.

3e SINAL: MANIFESTAÇÕES DA NATUREZA


"Haverá em diversos lugares fomes e
terrem otos" (Mt 24,7b). "E tudo isso será o
com eço das dores" (Mt 24,8).
No final deste milênio, estamos acom­
panhando um progresso sem limites em todas
153
as áreas da vida humana, ao mesmo tempo so­
mos ameaçados por alguns fatos alarmantes.
Um dos mais graves perigos são antigas doen­
ças tidas como controladas e que estão voltan­
do com toda a força, como por exemplo a
cólera; ou ainda, enfermidades desconhecidas
que estão colocando em risco o próprio futuro
da raça humana: a AIDS.
Também é significativo constatar que a pro­
dução de alimentos aumentou, sendo capaz de
alimentar toda a humanidade, contudo milhões
morrem de fome em todas as partes do mundo.
Sabe-se que o lixo dos países ricos e o alimento
dado aos animais ou queimado para elevar os
preços seriam suficientes para mudar este estado
de coisas.
Somado à ameaça das doenças e ao flagelo
da fome, temos todas as mudanças climáticas
do planeta, as temperaturas estão mudando ra­
pidamente. O inverno está se tornando mais
rigoroso em países tropicais e o calor mais for­
te em países frios. O sol está ficando cada vez
mais forte, a ponto de matar pessoas, inclusive
nos países mais abastados. Ao mesmo tempo
com maior freqüência estamos vendo fenôme­
nos da natureza, como terremotos ou vulcões
há muito inativos destruindo cidades.
Os sinais estão aí, as profecias estão se
cumprindo. Estamos sendo alertados das mais
diferentes formas para que não venhamos a
dizer, naquele dia: "Não sabia..."
154
Em 2 Pedro 3,9, recebemos uma revelação:
"O Senhor não tarda em cumprir sua pro­
messa, quando alguns pretendem que ele está
em atraso; mas ele está demonstrando pa­
ciência para convosco; pois não quer que
alguns se percam, mas que todos cheguem à
conversão". Arrependa-se. Limpe sua vida,
endireite seus caminhos, purifique seu coração,
porque a forma como você vive atualmente irá
determinar o que acontecerá no futuro, e já
estamos vivendo os dias da tribulação. Basta
colocarmos os ouvidos no chão: o tropel dos
cavaleiros do Apocalipse já se faz ouvir!
Deus não quer nossa condenação, não nos
quer ver no inferno, distante d'Ele. Porque ele
nos ama.

Felizes os que lavam suas vestes,


para que lhes caiba o direito à árvore
de vida...
(Ap 22,14)

155
A pêndice I

Exorcismo

CONTRA SATANÁS E OS ANJOS REBELDES

Publicado por ordem de S. S. Leão XIII

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito


Santo. Amém.

Oração a São Miguel Arcanjo

Gloriosíssimo príncipe dos exércitos ce­


lestes, São Miguel Arcanjo, defendei-nos no
combate contra os principados e as potestades,
contra os chefes das trevas do mundo, contra
os espíritos malignos espalhados pelos ares (Ef
6). Vinde em auxílio do homem que Deus fez
à sua imagem e semelhança, e "resgatou-o, a
grande preço", da tirania do demônio (ICor
6,20). A vós, venera a Igreja como seu guarda
157
e patrono. A vós, confiou o Senhor as almas re­
midas para colocá-los no lugar da suprema feli­
cidade. — Rogai, pois, ao Deus da paz, que esma­
gue o demônio debaixo de nossos pés, arrancan­
do-lhe todo o poder de reter os homens cativos
de causar danos à Igreja. Ponde as nossas preces
sob as vistas do Altíssimo, a fim de que se derra­
mem, quanto antes sobre nós, as misericórdias
do Senhor e se prenda o dragão, aquela antiga
serpente, que é o diabo e Satanás para precipitá-
-lo acorrentado no abismo, de modo que nunca
mais possa seduzir as nações (Ap 20,1-3).

EXORCISMO

Em nome de Jesus Cristo, Deus e Senhor


nosso, pela intercessão da Imaculada Virgem
Maria, Mãe de Deus, de São Miguel Arcanjo, dos
Santos Apóstolos Pedro e Paulo, e de todos os
santos, procedamos com coragem segura para
rechaçar os assaltos que a astúcia do demônio
excita contra nós.

SALMO 68(67)

Deus levanta-se, seus inimigos se dispersam.


E os que o odeiam, fogem ante sua face.
Como se dissipa o fumo, se dissipam eles;
Como se consome a cera ao fogo, ante
Deus os pecadores se consomem.
C — Eis a cruz do Senhor. Fugi potências
inimigas.
15 8
R — Venceu o Leão da tribo de Judá, o
Filho de Davi.
C — Venha a nós, Senhor, a vossa mise­
ricórdia.
R — Pois em quem pusemos nossa espe­
rança.
Nós vos exorcizamos, espíritos de impu­
reza, poderes satânicos, ataques do inimigo in­
fernal, legiões, reuniões, seitas diabólicas, em
nome e verdade de Jesus Cristo t Nosso Se­
nhor, arrancamo-vos e expulsamo-vos da Igre­
ja de Deus, das almas criadas à imagem de Deus
resgatadas pelo precioso sangue do Cordeiro
divino, t — Não te atrevas mais, pérfida serpen­
te, a enganar o gênero humano, nem a perseguir
a Igreja de Deus, nem a sacudir os eleitos de
Deus, e peneirá-los na joeira como trigo, t —
Governa-te Deus altíssimo, t — a quem, preten­
des assemelhar-te e de quem vontade é que "to­
dos os homens se salvem e cheguem ao conhe­
cimento da verdade" (lTm 2). Govema-te Deus
Pai f . — Govema-te Deus Filho f . — Govema-te
Deus Espírito Santo t — Governa-te Cristo Ver­
bo eterno de Deus feito carne t — que, para
salvar nossa linhagem perdida por tua inveja,
"humilhou-se e fez-se obediente até a morte"
(F1 2), que edificou sua Igreja sobre pedra fir­
me, prometendo que as portas do inferno ja­
mais prevaleceríam contra ela, e que permane­
cería com ela "todos os tempos até a consuma­
ção dos séculos" (Mt 28,20). Governa-te o san­
to sinal da cruz e a virtude de todos os misté­
rios da fé cristã.

\ 159
Governa-te o poder da excelsa Mãe de
Deus, a Virgem Maria, que desde o primeiro
instante de sua Imaculada Conceição esmagou
a tua mui orgulhosa cabeça por virtude de sua
humildade. — Governa-te a fé dos Santos, os
Apóstolos Pedro e Paulo, e os outros Apóstolos.
— Governa-te o sangue dos Mártires, e a pie­
dosa intercessão de todos os Santos e Santas.
Assim pois, dragão maldito e toda a le­
gião diabólica, nós vos conjuramos pelo Deus
t vivo, pelo Deus t verdadeiro, pelo Deus t
santo, pelo Deus "que tanto amou o mundo,
que chegou até lhe dar o seu Unigênito Filho,
a fim de que todos os que crêem nele não
pereçam, e vivam eternamente" (Jo 3). Cessa
de enganar as criaturas humanas e de convidá-
-las a beber o veneno da condenação eterna.
Cessa de prejudicar a Igreja e de travar a sua
liberdade. — Foge daqui, Satanás, inventor e
mestre de todos os enganos inimigos da salva­
ção dos homens. — Retrocede diante de Cristo,
em quem nada tens encontrado semelhante às
tuas obras; retrocede diante da Igreja, una, san­
ta, católica e àpostólica, que o Cristo mesmo
comprou com o seu sangue. — Humilha-te sob
a mão poderosa de Deus, treme e desaparece
diante da invocação que fazemos do santo e
terrível nome de Jesus, perante o qual estreme­
cem os infernos; a quem estão submissas as
virtudes do céu; as potestades e dominações; a
quem os Querubins e Serafins louvam sem
cessar em seus cânticos, dizendo: Santo, Santo,
Santo, é o Senhor Deus dos exércitos.
160
C — Senhor ouvi a minha oração.
R— E meus clamores cheguem até vós.
C — E com o vosso Espírito.
R— O Senhor seja convosco.

ORAÇÃO
Deus do céu e da terra, Deus dos anjos,
Deus dos arcanjos, Deus dos patriarcas, Deus dos
profetas, Deus dos apóstolos, Deus dos mártires,
Deus dos confessores, Deus das virgens, Deus que
tem poder de dar a vida depois da morte, o
descanso do trabalho; não há outro Deus diante
de vós, nem pode haver outro além de vós mes­
mo, criador de todas as coisas visíveis e invisíveis
cujo Reino não terá fim: humildemente suplica­
mos a vossa majestade se digne livrar-nos eficaz­
mente e guardar-nos ilesos de todo o poder, laço,
mentira e maldade dos espíritos infernais. Por
Cristo Nosso Senhor. Amém.
Das ciladas do demônio, livrai-nos, Senhor.
Dignai-vos conceder à vossa Igreja a tran-
qüilidade e a liberdade necessárias para vosso
serviço, rogamo-vos, ouvi-nos, dignai-vos hu­
milhar os inimigos da Santa Igreja, rogamo-
-vos, escutai-nos.
(Asperge-se com água benta o lugar
onde se recita o exorcismo).

161
1
A pêndice II

Livrai-nos do mal

Alocução de Paulo VI,


na audiência pública de 15 de novembro de 1972

Atualmente, quais são as maiores necessi­


dades da Igreja?
Não deveis considerar a nossa resposta
simplista, ou até supersticiosa e irreal: uma das
maiores necessidades é a defesa daquele mal, a
que chamamos demônio.
Antes de esclarecermos o nosso pensamen­
to, convidamos o vosso a abrir-se à luz da fé
sobre a visão da vida humana, visão que, deste
observatório, se alarga imensamente e penetra
em singulares profundidades. E, para dizer a
verdade, o quadro que somos convidados a
contemplar com realismo global é muito lin­
do. É o quadro da criação, a obra de Deus, que
é o próprio Deus: como espelho exterior da sua
Sabedoria e do seu poder, admirou na sua be-
163
leza substancial1. Além disso, é muito interes­
sante o quadro da história dramática da huma­
nidade, da qual emerge a da redenção, a de
Cristo, da nossa salvação, com os seus magní­
ficos tesouros de revelação, de profecia, de san­
tidade, de vida elevada em nível sobrenatural,
de promessas eternas12. Se soubermos contem­
plar este quadro, não poderemos deixar de fi­
car encantados3; tudo tem um sentido, tudo
tem um fim, tudo tem uma ordem e tudo deixa
entrever uma presença-transcendência, um
pensamento, uma vida e, finalmente, um amor,
de tal modo que o universo, por aquilo que é
e por aquilo que não é, se nos apresenta como
uma preparação entusiasmante e inebriante
para alguma coisa ainda mais bela e mais per­
feita4. A visão cristã do cosmos e da vida é,
portanto, triunfalmente otimista; e esta visão
justifica a nossa alegria e o nosso reconheci­
mento pela vida, motivo porque, celebrando a
glória de Deus, cantamos a nossa felicidade5.

O ENSINAMENTO BÍBLICO

Esta visão, porém, é completa, é exata?


Não nos importamos, porventura, com as
deficiências que se encontram no mundo, como

1. Cf. Gn l,10ss.
2. Cf. Ef 1,10.
3. Cf. Santo Agostinho, Solilóquios.
4. Cf. ICor 2,9; 13,2; Rm 8,19-23.
5. Cf. Glória da liturgia da Missa.

164
o comportamento anormal das coisas em relação
à nossa existência, com a dor, com a morte, com
a maldade, com a crueldade, com o pecado, numa
palavra, com o mal? E não vemos quanto mal
existe no mundo, especialmente quanto mal
moral, ou seja, contra o homem e, simultanea­
mente, embora de modo diverso, contra Deus?
Não constitui isto um triste espetáculo, um misté­
rio inexplicável? E não somos nós, exatamente
nós, cultores do Verbo, os cantores do bem, nós,
crentes, os mais sensíveis, os mais perturbados
perante a observação e a prática do mal?
Encontramo-lo no reino da natureza, onde mui­
tas das suas m anifestações, segundo nos
parece, denunciam -um a desordem. Depois,
encontramo-lo no âmbito humano, onde se ma­
nifestam a fraqueza, a fragilidade, a dor, a morte,
e ainda coisas piores; observa-se uma dupla lei
contrastante, que, por um lado, quereria o bem e,
por outro, se inclina para o mal, tormento este
que São Paulo põe em humilhante evidência para
demonstrar a necessidade e a felicidade de uma
graça salvadora, ou seja, da salvação trazida por
Cristo6. Já o poeta pagão, Ovídio, tinha denuncia­
do este conflito no próprio coração do homem:
“Video meliosa proboque, deteriora sequor"7. En­
contramos o pecado, perversão da liberdade hu­
mana e causa profunda da morte, porque é um
afastamento de Deus, fonte da vida8, e, também,
a ocasião e o efeito de uma intervenção em nós,

6. Cf. Rm 7.
7. Ovídio, Met. 7,19.
8. Cf. Rm 5,12.

165
e no nosso mundo, de um agente obscuro e inimi­
go, o demônio. O mal já não é apenas uma defi­
ciência, mas uma eficiência, um ser vivo, espiri­
tual, pervertido e perversor. Trata-se de uma rea­
lidade terrível, misteriosa e medonha.
Sai do âmbito dos ensinamentos bíblicos
e eclesiásticos quem se recusa a reconhecer a
existência desta realidade; ou melhor, quem
faz dela um princípio em si mesmo, como se
não tivesse, como todas as criaturas, origem de
Deus, ou a explica como uma pseudo-realida-
de, como uma personificação conceituai e fan­
tástica das causas desconhecidas das nossas
desgraças.
O problema do mal, visto na sua comple­
xidade e na sua absurdidade em relação à nos­
sa racionalidade, torna-se obsessionante. Cons­
titui a maior dificuldade para a nossa compreen­
são religiosa do cosmos. Foi por isso que Santo
Agostinho penou durante vários anos: "Quaere-
bam unde malum, et non erat exitus": procu­
rava de onde vinha o mal e não encontrava
explicação9.
Vejamos, então, a importância que ad­
quire a advertência do mal, para a nossa justa
concepção cristã do mundo, da vida, da salva­
ção. E o próprio Cristo quem nos faz sentir
essa importância. Primeiro, no desenvolvimen­
to da história evangélica, no princípio da sua
vida pública: haverá quem não recorde a pági­

9. Santo Agostinho, C onfissões, VII, 5ss.; em PL 32,


736, 739.

166
na, tão densa de significado, da tríplice tenta­
ção? E, ainda, em muitos episódios evangéli­
cos, nos quais o demônio se encontra com o
Senhor e aparece nos seus ensinamentos101? E
como não haveriamos de recordar que Jesus
Cristo, referindo-se três vezes ao demônio, como
seu adversário, o qualifica como "príncipe des­
te mundo”11? E a ameaça desta nociva presen­
ça é indicada em muitas passagens do Novo
Testamento. São Paulo o chama de "deus deste
mundo”12 e previne-nos contra as lutas ocultas,
que nós, cristãos, devemos travar não só com
o demônio, mas com a sua tremenda pluralida­
de: "Revesti-vos da armadura de Deus para que
possais resistir às ciladas do demônio. Porque
nós não temos de lutar (só) contra a carne e o
sangue, mas contra os Principados e Potestades,
contra os Dominadores deste mundo tenebro­
so, contra os espíritos malignos espalhados pe­
los ares”13.
Diversas passagens do Evangelho dizem-
-nos que não se trata de um só demônio, mas
de muitos14, um dos quais é o principal: Sata­
nás, que significa o adversário, o inimigo; e, ao
lado dele, estão muitos outros, todos criaturas
de Deus, mas decaídas, porque eram rebeldes e
tinham sido castigadas15; constituem um mun­

10. Cf. Mt 12,43.


11. Jo 12,31; 14,30.
12. 2Cor 4,4.
13. Ef 6,11-12.
14. Cf. Lc 11,21; Mc 5,9.
15. Cf. DS 800.

167
do misterioso, transformado por um drama
muito infeliz, do qual conhecemos pouco.

O INIMIGO OCULTO
Conhecemos, todavia, muitas coisas des­
te mundo diabólico que dizem respeito à nossa
vida e a toda a história humana. O demônio é
a origem da primeira desgraça da humanidade;
foi o pérfido e fatal do primeiro pecado, o pe­
cado original16. Com aquela falta de Adão, o
demônio adquiriu um certo poder sobre o ho­
mem, do qual só a redenção de Cristo nos pode
libertar.
Trata-se de uma história que ainda hoje
existe: recordemos os exorcismos do batismo e
as freqüentes referências da Sagrada Escritura e
da liturgia ao agressivo e opressivo "domínio
das trevas"17. Ele é o inimigo número um, é o
tentador por excelência. Sabemos, portanto, que
este ser mesquinho e perturbador existe real­
mente, e que ainda atua com astúcia traiçoei­
ra; é o inimigo oculto que semeia erros e des­
graças na história humana.
Deve-se recordar a significativa parábola
evangélica do trigo e da cizânia, síntese e expli­
cação do ilogismo que parece presidir às nossas
contrastantes vicissitudes: "Inimicus homo hoc
fecit"18. É o "assassino desde o princípio... e pai

16. Cf. Gn 3; Sb 1,24.


17. Lc 22,53.
18. Mt 13,28.

168
da mentira", como o define Cristo19; é o insidia-
dor sofista do equilíbrio moral do homem. Ele é
o pérfido e astuto encantador, que sabe insinuar-
-se em nós por meio dos sentidos, da fantasia, da
concupiscência, da lógica utópica, ou de desor­
denados contatos sociais na realização da nossa
obra, para introduzir neles desvios, tão nocivos
quanto, na aparência, conformes às nossas estru­
turas físicas ou psíquicas, ou às nossas profundas
aspirações instintivas.
Este capítulo, relativo ao demônio e ao
influxo que ele pode exercer sobre cada pessoa,
assim como sobre comunidades, sobre socieda­
des inteiras, ou sobre acontecimentos, é um ca­
pítulo muito importante da doutrina católica que
deve voltar a ser estudado, dado que hoje o é
pouco. Algumas pessoas julgam encontrar nos
estudos da psicanálise ou da psiquiatria, ou em
práticas de espiritismo, hoje tão difundidas em
alguns países, uma compensação suficiente. Re­
ceia-se cair em velhas teorias maniqueístas, ou
em divagações fantásticas e supersticiosas. Hoje,
algumas pessoas preferem mostrar-se fortes, li­
vres de preconceitos, assumir ares de positivistas,
mas, depois, dão crédito a muitas superstições de
magia ou populares, ou, pior, abrem a própria
alma — a própria alma batizada, visitada tantas
vezes pela presença Eucarística e habitada pelo
Espírito Santo! — às experiências licenciosas dos
sentidos, às experiências deletérias dos estupefa­
cientes, assim como às seduções ideológicas dos
erros na moda, fendas estas por onde o maligno

19. Cf. Jo 44-45.

169
pode facilmente penetrar e alterar a mentalidade
humana.
Não quer dizer que todo o pecado seja
devido, diretamente, à ação diabólica20; mas
também é verdade que aquele que não vigia,
com um certo rigor moral, sobre si mesmo21, se
expõe ao influxo do "mysterium iniquitatis",
ao qual São Paulo se refere22, e que torna pro­
blemática a alternativa da nossa salvação.
A nossa doutrina torna-se incerta, obscure-
cida como está pelas próprias trevas que circun­
dam o demônio. Mas a nossa curiosidade, exci­
tada pela certeza da sua existência múltipla,
torna-se legítima, com duas perguntas: — Há
sinais da presença da ação diabólica e quais
são eles? —- Quais são os meios de defesa con­
tra um perigo tão traiçoeiro?

A AÇÃO DO DEMÔNIO
A resposta à primeira pergunta requer muito
cuidado, embora os sinais do maligno às vezes
pareçam tornar-se evidentes23. Podemos admitir
a sua ação sinistra onde a negação de Deus se
torna radical, sutil ou absurda; onde o engano se
revela hipócrita, contra a evidência da verdade;
onde o amor é anulado por um egoísmo frio e

20. Cf. São Tomás de Aquino, Su m m a T heologiae, I, q.


104 a 3.
21. Cf. Mt 12,45; Uf 6,11.
22. 2Ts 2,3-12.
23. Tertuliano, A pologia, 23.

170
cruel; onde o nome de Cristo é empregado com
ódio consciente e rebelde24; onde o espírito do
Evangelho é falsificado e desmentido; onde o
desespero se manifesta como a última palavra
etc. Mas é um diagnóstico demasiado amplo e
difícil, que agora não ousamos aprofundar nem
autenticar; que não é desprovido de dramático
interesse para todos, e ao qual até a literatura
moderna dedicou páginas famosas25.
O problema do mal continua a ser um
dos maiores e permanentes problemas para o
espírito humano, até depois da resposta vitorio­
sa que Jesus Cristo dá a respeito dele.
"Sabemos — escreve o Evangelista João
— que quem nasceu de Deus não peca, mas o
Gerado por Deus guarda-o, e o maligno não o
toca"26.

A DEFESA DO CRISTÃO
À outra pergunta, que defesa, que remé­
dio há para combater a ação do demônio, a
resposta é mais fácil de ser formulada, embora
seja difícil pô-la em prática. Poderiamos dizer
que tudo aquilo que nos defende do pecado
nos protege, por isso mesmo, contra o inimigo

24. Cf. ICor 16,22; 12,3.


25. Cf. Obras de Bernanos, estudadas por Charles
Moelley, Litter. du XX siécle, 1 p. 397 ss; P. Macchi, II volto
dei in ale in Bernanos ; cf. "Satan", in Études Ccum elitaines,
Desclé de Brouwer, 1948.
26. Cf. ljo 5,18.

171
invisível. A graça é a defesa decisiva. A inocên­
cia assume um aspecto de fortaleza. E, depois,
todos devem recordar o que a pedagogia apos­
tólica simbolizou na armadura de um soldado,
ou seja, as virtudes que podem tornar o cristão
invulnerável27. O cristão deve ser militante; deve
ser vigilante e forte28; e, algumas vezes, deve
recorrer a algum exercício ascético especial, para
afastar determinadas invasões diabólicas; Jesus
ensina-o, indicando o remédio “na oração e no
jejum "29. E o Apóstolo indica a linha mestra
que se deve seguir: “Não te deixes vencer pelo
mal; vence antes o mal com o bem"30. Cons­
cientes, portanto, das presentes adversidades em
que hoje se encontram as almas, a Igreja e o
mundo, procuraremos dar sentido e eficácia à
usual invocação da nossa oração principal: “Pai
nosso... livrai-nos do mal!" Contribua para isso
também a nossa Bênção Apostólica.
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27. Cf. Rm 13,12; Ef 6,11.14.17; l i s 5,8.


28. lPd 5,8.
29. Mc 9,29.
30. Rm 12,21; Mt 13,29.

172
L B JA T A M 3 Ê Ê\ O U T f í D j
L J V íi g S DO M E OM 0 A Ü T Q f i

PERG U N TA S E RESPO STA S


SOBRE A FÉ

R E S P O S T A S À S C R ÍT IC A S À
D O U T R I N A C A T Ó L I C A : O B atis­
mo das crianças - A Besta do Apo­
calipse - A questão das im agens -
Sábado e Domingo - Domingo e Sá­
bado - O P apa é o sucessor de Pe­
dro? R E S P O S T A S À S F A L S A S
D O U T R I N A S : O Espiritism o - Al­
gum as questões sobre o Espiritismo
- U m banda - Os Mórmons - Moon
- Seicho-No-Iê - T estem unhas de
Je o v á - A M a ç o n a ria - Os
A dventistas do Sétimo Dia - Quem
vai para o céu - Qual o castigo dos
m aus - S eita de cura. P E R G U N T A S S O B R E N O S S A S E ­
NHORA: Culto a Maria: Certo ou Errado? - Im aculada Con­
ceição de M aria - Assunção de Nossa Senhora - Jesus teve
outros irmãos? - Aparições de Nossa Senhora: verdade ou
m entira? - Rosário - Aprendendo a rezar o terço. O F U N D A ­
M E N T O D A F É : Todas as Bíblias são iguais? - A regra da
nossa fé: só a bíblia ou Bíblia, tradição e magistério? A R E ­
A L I D A D E D O M A L : Diabo: Realidade ou fantasia? - Jesus
e a derrota de Satanás - Questão do mal: contaminação m a­
ligna - Meios para não ser contaminado
pelo maligno. O C R I S T Ã O E A C U R A :
Jesus cura? - Cura: Novo Testam ento -
A Igreja e a C ura - M issa e C ura - Per-
dãó e Cura.

V IT Ó R IA P E L A
ORAÇÃO

Tipos de oração. O jejum. E ucaristia: o


lugar p a ra um a vida abençoada. Com­
plem ento p ara todos os tipos de oração.
Plano de Oração. Oração de Jesus. Ro­
sário. A prendendo a rezar o terço
Este é um livro de cele­
b ra çã o . Há dez anos
(outubro de 1986), Pe.
Alberto Luiz Gambarini
lançou-se à pregação da
Palavra de Deus por todos
os meios modernos: im­
prensa, rádio, televisão. Seu apostolado tem dado
frutos de conversão e renovação de vidas e estruturas
nos m ais d iferen tes lugares de nosso p aís.
Celebramos com alegria esta década de pregação,
em louvor ao Senhor, doador de todo dom.
Batalha espiritual, coincidentemente, vem a ser o
décimo livro de Pe. Gambarini. Para comemorar a
sincronia entre os anos de pregação eletrônica e o
crescente número de obras, fruto desta pregação,
Edições Loyola oferece à Igreja do Brasil um apelo
de conversão, nascido do coração do pregador.
Há verdades que não podem ser silenciadas, a ig­
norância religiosa precisa ser iluminada e a con­
vicção de que a mensagem primeira da Igreja é de
salvação e nunca de condenação deve ser pregada
sobre os telhados, por meio de rádios, televisões,
^ntação de Cristo", Duccio di Buoninsegna*

livros e quantos outros meios surgirem. Fundamen­


tal é a eternidade do chamado à felicidade e rea­
lização, que só se darão sob o olhar bondoso do
Deus que, por meio de seu Espírito, nos transforma
e realiza infinitamente.

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