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1.1 Portanto, a revolução burguesa não foi feita, no Brasil, por burgueses, mas sim por
fazendeiros de café; seu núcleo não foi a indústria, mas sim a fazenda cafeeira; seu centro
não foi a cidade, mas sim o campo; e seu objetivo não foi a derrubada como um todo da
ordem tradicional própria ao antigo regime (no qual o escravismo estava situado), mas a
inserção da economia brasileira no âmbito das relações de produção burguesas, modelo
paradigmático à Europa ocidental da época (Inglaterra, França e Alemanha, mais Estados
Unidos).
1.2 Nesse sentido, podemos definir a revolução burguesa brasileira como conciliação
apolítica e despolitizadora entre República-modernidade-modernização e
patrimonialismo-patriarcalismo-sociedade colonial, em que temos a ênfase preponderante
na inserção da fazenda cafeeira no contexto das relações de produção modernizantes,
próprio à Europa ocidental, e um movimento lento e tímido em relação à modernidade
cultural. Portanto, aqui, temos um capitalismo periférico sem humanismo (ou com pouco
humanismo), uma ordem econômica liberal com tradicionalismo cultural, um Estado
democrático de direito com estratificação social calcada no preconceito de raça e de cor,
uma democracia fortemente oligárquica e autoritária. Nessa conciliação, a ação prática e a
estratificação social, assim como a atuação cotidiana das instituições, são grandemente
determinadas pela necessidade de se conformarem a esse padrão essencialista e
naturalizado de compreensão social, política, cultural, epistemológica e econômica, isto é,
a transformação não pode envolver política e politização; ela não pode ser marcada pelo
protagonismo dos sujeitos sociopolíticos radicados na sociedade civil; trata-se, com isso,
de uma evolução pela despolitização, pela ordem, como que sob a forma de um
espontaneísmo cujo único protagonista são as instituições e cujo princípio fundamental
consiste na recusa da práxis, das contradições cotidianas.
2. Uma das principais características de nossa modernização conservadora está e é
representada exatamente pelo status social, cultural, político, jurídico e econômico do
negro, que mantém-se como que intacto na emergência desse nosso processo de
modernização. No caso, a condição do negro na ordem burguesa conservadora
brasileira é o ponto nevrálgico para entender-se, aqui, a centralidade da modernização
econômica e o caráter periférico da modernidade-modernização cultural enquanto
característica e caminho assumidos-tomados pela nossa modernização conservadora
enquanto conciliação.
3.2 O mito da democracia racial, com isso, legitima e leva à inação política, à
estagnação em termos de estratificação social, ao institucionalismo forte e autoritário.
No mesmo sentido, essa falsa democracia racial é o elemento mais permanente
consolidado pela nossa modernização conservadora como conciliação, marcada pela
primazia da modernização econômica e pelo caráter periférico da modernidade-
modernização cultural. E o escravismo é a herança fundante dela que nos foi legada
até hoje em nossas relações sociais, culturais e políticas cotidianas e frente às
instituições.