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Roteiro Temático Rui, Direito e Política

 Introdução

Rui Barbosa, sua família e sua casa podem ser estudados a partir de infinitas
perspectivas: desde a maneira como a casa e seus objetos demonstram os laços afetivos
entre seus moradores, até a evidência de uma preocupação religiosa/metafísica por parte
de seu patrono. Várias discursividades podem ressoar a partir de uma visita à Vila
Maria Augusta.
A amplitude de narrativas a partir de lugares, objetos e memórias pode ser
aprofundada sob determinados enfoques. É possível pensar, por exemplo, sobre saúde,
higiene e toalete na virada do século XIX para o XX, tendo como objeto analítico a
própria casa de Rui e seus utensílios. Esta proposta está em cena enquanto mostra
atualmente (agosto de 2018), inclusive.
No entanto, nesta infinita possibilidade de narrativas, um elemento parece
elementar a quase todas elas: a necessidade da ciência sobre quem foi este ator histórico
que dá à Casa seu sentido, e lhe tira do mero patamar de imóvel, para colocá-la como
pano de fundo de uma dinâmica historicidade: seu comprador, Rui Barbosa.
Se toda narrativa que parte da Casa de Rui Barbosa inicia-se a partir da
compreensão de quem foi esse Rui, na vida deste também parece haver um fio que
encadeia todo o tecido histórico de sua vida adulta: seu engajamento político.
Aliado a seu engajamento político, sempre esteve seu conhecimento enquanto
profissional do Direito. Dessa condição enquanto jurista, Rui conduz sua militância em
favor de temas como a laicidade do estado, habeas corpus e o casamento civil.
Portanto, deter-se no engajamento político de Rui, ressaltando o modo como seu
conhecimento jurídico o balizava nesta atuação, é fundamental para compreender de
fato quem era esse sujeito histórico que fazia na Vila Maria Augusta sua morada
principal, e que tipos de atividades ocorriam nesse patrimônio histórico.
Assim, é sobre refletir sobre a vida de Rui, e compreender como seu
engajamento político é o fio histórico que nos permite interpretar a mobilidade sua me
diversos momentos de sua vida, que se trata esse roteiro temático.

 O Roteiro
Por meio do Roteiro temático aqui apresentado, pretendemos subsidiar visitas à
Casa de Rui Barbosa nas quais se destaca narrativamente a vida e atuação de Rui
Barbosa no tocante ao Direito e à Política. Para tal, iremos privilegiar nove
ambientes/momentos onde trataremos de fatos históricos pertinentes ao tema
supracitado. São eles: a entrada (pela biblioteca), a biblioteca, a Sala Código Civil, a
Sala de Haia, a Sala Habeas Corpus, a Sala Pró-aliados, Sala Federação, a Sala Buenos
Aires e o Gabinete Gótico.
A ordem a ser percorrida, neste roteiro, será de acordo com a ordem acima
citada, ou seja: começando na entrada (pela biblioteca), e concluindo no Gabinete
Gótico. Devemos ressaltar, contudo, que o roteiro não irá inviabilizar a visita a nenhum
ambiente da casa. Ele não se pretende exclusor em nenhuma medida. Deste modo, os
nove ambientes acima citados serão ambientes privilegiados nas visitas roteirizadas,
sendo contemplados com narrativas e dados referentes a Rui, Direito e Política. Os
ambientes não citados também serão percorridos. Contudo, neles, a mediação irá
apresentar a narrativa usual das visitas, e não alguma narrativa específica elaborada para
o roteiro.
Em cada um dos ambientes citados, a narrativa contemplará algo referente a vida
e atuação de Rui na Política e no Direito. Na Sala, Habeas Corpus, por exemplo, se
evidenciará de que se trata o conceito de “Habeas Corpus”, bem como exemplificar
como o engajamento de Rui se deu ao redor dessa questão.
Para tal, nos utilizaremos também da exposição de objetos do Acervo de Rui
Barbosa, de modo a contextualizar e trazer materialidade às narrativas propostas.

 Mapa do Roteiro
A ordem de visitação, bem como e os ambientes selecionados para
implementação de narrativas específicas preparadas para o dito roteiro, estão
evidenciadas no mapa abaixo.

 Ambientes e Narrativas

Entrada (pela biblioteca)


Contextualização geral sobre o patrono da Vila Maria Augusta e a trajetória da
casa.

Biblioteca (Sala Constituição)


A Biblioteca da Casa de Rui Barbosa frequentemente é analisada, corretamente, em
função de sua magnitude física. Uma biblioteca imponente, que conta com um dos
maiores acervos privados do Brasil da primeira metade do século XX, com cerca de 37
mil volumes, além do destacado mobiliário que enriquece o ambiente: a união de todos
esses fatores faz, da biblioteca particular de Rui Barbosa, um lugar de destaque na
própria casa de Rui.
Contudo, uma biblioteca não é apenas a junção de livros, antes, diz muito mais do
que o aparentemente resumido à sua materialidade: diz respeito a um comportamento,
em escolher investir recursos em livros, e não a outras coisas; diz respeito a um hábito,
de ler, meditar, refletir; diz respeito a uma seleção consciente de conteúdos com os quais
se deparar, em detrimento de outros; e sobretudo, diz respeiro às fontes nas quais o
pensamento de um indivíduo pode estar ancorado. É sobre a este último aspecto que
devemos nos deter ao entrar, via Biblioteca, neste roteiro temático de visitação à Casa
de Rui Barbosa.
Na biblioteca de Rui, temos acesso ao conjunto literário que fez de Rui um agente
político envolvido com a causa democrática, acreditando que apenas por esta um Estado
funcionaria em prol da sociedade. Além de democrata, o pensamento político de Rui
também revela um federalista que, pouco a pouco, foi atraído pelo pensamento
republicano. O liberalismo europeu, e a maneira como este foi implantado nos Estados
Unidos, foi amplamente analisado por Rui, levando-o a concebê-lo como modelo ideal.
Na contramão do conservadorismo, a biblioteca de Rui Barbosa revela sua
aproximação do pensamento liberal, e a maneira como concebia as leis como
instrumento maior de ajuste de uma sociedade que deveria viver à luz da liberdade.

Sala Casamento Civil


Faz alusão à campanha de Rui pela obrigatoriedade do casamento civil, antes
formalizado apenas pela celebração católica. Para tanto, ele estabelece relação com um
antigo professor, D. Antônio de Macedo Costa, ouvindo desta forma a opinião da Igreja.
O mesmo aconteceu no momento da elaboração da Lei de 7 de janeiro de 1890, lei da
separação da Igreja do Estado. Eles buscavam encontrar a melhor solução para as
medidas fossem instituídas sem grandes prejuízos ao país.

Sala Código Civil


Com uma disposição de móveis peculiar, a enorme mesa no centro da sala
parece estar deslocando dentro do pequeno ambiente, entretanto ela servia perfeitamente
aos anseios de Rui, que pesquisava diversos livros simultaneamente, comparando-os e
consultando-os de acordo com o que cada trabalho exigia.

O cômodo, conhecido como gabinete branco, foi renomeado com a


transformação da casa em museu como sala Código Civil. Remete a atuação de Rui
como relator da Comissão Especial do Senado do projeto do Código Civil. Na ocasião
Rui Barbosa apresentou um parecer com mais de mil emendas à linguagem do texto,
chamando de “obra tosca, indigesta, aleijada”. 1

O trabalho que fora revisto por seu professor, Ernesto Carneiro Ribeiro, causou
polêmica que acabou por resultar em um trabalho de autoria de Rui denominado
“Réplica”. No ano seguinte Ernesto Carneiro Ribeiro, publica “A Redacção do Projecto
do Codigo Civil e a Replica do Dr. Ruy Barbosa” livro referente as considerações de
Rui.

Sala de Haia
Este cômodo relembra a participação de Rui na Conferência de Haya, na
Holanda, como embaixador extraordinário e plenipotenciário do Brasil. No evento, que
durou meses, Rui pregava a igualdade das nações, sendo apelidado como Águia de
Haya antes mesmo de sua saída do Brasil.

Era o quarto de dormir de Maria Luísa Vitória, filha caçula de Rui Barbosa,
nascida na Inglaterra durante o exílio do pai (1894-1895).

Sala Habeas Corpus


Antigo quarto do casal, recebe o nome de sala Habeas Corpus com a
transformação da casa em museu. Alude a atuação de Rui Barbosa enquanto advogado
ao impetrar o primeiro habeas-corpus, em 1892, junto ao Supremo Tribunal Federal da
República em favor de perseguidos políticos do governo de Floriano Peixoto. Tal ato
levou a acusação de ser um dos mentores intelectuais do levante e Rui Barbosa viu-se
obrigado a se exilar com sua família fora do Brasil.

Sala Pró-aliados

1
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 36ª edição. 1º Volume. São Paulo: Editora
Saraiva, 1999.
Lembra a participação de Rui como presidente e porta-voz da Liga Brasileira
pelos Aliados atuando em favor do eixo dos aliados da 1º Guerra Mundial. Rui
condenou as atrocidades da Alemanha sobre a Bélgica e Luxemburgo e criticou as
nações neutras por não terem protestado vigorosamente contra a guerra.

Sala Federação

A Sala Federação leva este nome em memória de uma das principais pautas do
pensamento político de Rui Barbosa: a pauta federalista. Rui lutava de modo árduo em
prol da autonomia das províncias brasileiras, à época do Império de D. Pedro II.
Aos poucos, Rui passa a desenvolver o pensamento pró República. Em boa
medida, tal mudança de pensamento (de monarquista a republicano), deve-se a sua
constatação pessoal de que a monarquia seria um ambiente-modelo incompatível com a
causa federalista. Por tanto, a luta pela república viria ao lado da própria luta em prol da
própria autonomia das províncias brasileiras.

Sala Buenos Aires


Refere-se ao centenário do congresso de Tucumã onde foi declarada
independência argentina e na qual Rui Barbosa foi nomeado Embaixador Extraordinário
e Plenipotenciário para representar o Brasil nas festividades. Na ocasião, Rui Barbosa,
pronunciou no dia 14 de julho de 1916 no salão da Faculdade de Direito de Buenos
Aires a conferência com o nome “O dever dos neutros” que acabou por trazer dimensão
internacional a campanha pró-aliados, na qual protestava contra a neutralidade
inflexível entre direito e o crime. Esse discurso acabou emergir as bases da teoria da
“neutralidade vigilante”.

Sala Civilista (gabinete gótico)


Ambiente favorito de trabalho de Rui Barbosa, era chamado de gabinete gótico
pela decoração na parte superior das estantes. Recebe o nome de Sala Civilista
rememorando a campanha civilista (1909-1910). Nessa ocasião Rui disputou com
Marechal Hermes da Fonseca a Presidência da República, e foi derrotado.
REFERÊNCIAS

LACOMBE, Américo Jacobina. À sombra de Rui Barbosa. Fundação Casa de Rui


Barbosa: Rio de Janeiro, 1984.

FUNDAÇÃO CASA DE RUI BARBOSA. Centro de Memória e Documentação.


Museu Casa de Rui Barbosa: guia do visitante. Fundação Casa de Rui Barbosa. Rio
de Janeiro: Ed. Casa de Rui Barbosa, 2000

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