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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL

FACULDADE DE DIREITO DE ALAGOAS - FDA

PAULO VITOR RAMOS DE ANDRADE

A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE DE


CONCURSOS PÚBLICOS

MACEIÓ - AL
Março/2019
PAULO VITOR RAMOS DE ANDRADE

A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE DE


CONCURSOS PÚBLICOS

Monografia de conclusão de curso apresentada


à Faculdade de Direito de Alagoas
(FDA/UFAL) como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Lins de Lessa


Carvalho.

Assinatura do Orientador

MACEIÓ - AL
Março/2019
PAULO VITOR RAMOS DE ANDRADE

A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE DE


CONCURSOS PÚBLICOS

Esta monografia de conclusão de curso


apresentada à Faculdade de Direito de Alagoas
(FDA/UFAL) como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Direito,
obteve a devida aprovação perante a presente
banca examinadora.

Banca Examinadora:

Presidente: Prof. (a)

Membro: Prof. (a)

Coordenador do NPE: Prof. (a)

MACEIÓ - AL
Março/2019
RESUMO

Diante do atual cenário econômico do país, há o crescente interesse da população em prestar


concursos públicos, daí a necessidade da Administração em elaborar mecanismos de controle
para efetiva adequação dos certames às normas legais, bem como para que se assegure o
respeito aos princípios do ordenamento jurídico-administrativo e aos direitos fundamentais.
Nesse contexto, o Ministério Público, sendo instituição constitucional garantidora da ordem
jurídica, possui importante papel em sua atuação perante o controle no âmbito dos certames. A
presente monografia, portanto, aborda aspectos relevantes de sua atividade na seara de controle
dos concursos públicos, seja este preventivo ou não, ainda, administrativo ou judicial. Este
trabalho, visa, dessa forma, compreender os instrumentos de controle utilizados pelo órgão
ministerial em relação à sua tarefa na fiscalização de concursos públicos, bem como verificar o
grau de sua atuação perante alguns casos. Sendo assim, a metodologia utilizada é
eminentemente bibliográfica, apontando as concepções doutrinárias em relação ao assunto,
noções históricas, além de enfatizar as normas que baseiam a atividade do Parquet, a qual é
objeto deste trabalho acadêmico. Não obstante, no primeiro capítulo, analisa-se características
peculiares do instituto dos concursos públicos, passando desde seu contexto histórico até seus
princípios, destacando também sua perspectiva constitucional recente, a qual se submete, bem
como evidencia o panorama geral dos tipos de controle feitos pela Administração Pública em
concursos. Por outro lado, examina-se, no segundo capítulo, o órgão ministerial, levantando
aspectos históricos de seu surgimento no Brasil, ressaltando sua importância no espectro
constitucional perante a sociedade, diante de seus princípios institucionais, finalizando o
capítulo com a distribuição de competência de sua atuação em relação ao controle de concursos
públicos. Por fim, no terceiro capítulo, averígua-se a atuação ministerial no controle de
concursos públicos, seja este judicial ou extrajudicial, de maneira a realçar os procedimentos
administrativos no âmbito da tutela coletiva, além da ação civil pública, relacionando-os com
sua incumbência constitucional, por meio da qual auxilia a Administração a regularizar, como
também prevenir, possíveis irregularidades em certames, corroborando seu papel de garantidor
da ordem legal, de modo a assegurar um processo seletivo justo, ao qual se respeita os princípios
administrativos da legalidade, isonomia, impessoalidade, eficiência, publicidade, mérito, entre
outros. Portanto, verifica-se que essa atuação garante os direitos constitucionais de acesso
democrático ao cargo público e o de uma Administração que preste o bom serviço público
adequado aos cidadãos.
Palavras chave: Concurso público. Ministério Público. Controle. Tutela coletiva. Princípios.
RESUMEN

Ante el actual panorama económico del país, existe el creciente interés de la población en el
accesso a la función pública, así hay la necesidad de la Administración en elaborar
mecanismos de control para la efectiva adecuación de los certámenes a las normas legales, y
para que se asegure el respeto a los principios del ordenamiento jurídico-administrativo y los
derechos fundamentales. En este contexto, el Ministerio Público, siendo institución
constitucional garantizadora del orden jurídico, tiene importante actuación ante el control en
el ámbito de los certámenes. La presente monografía, por lo tanto, trata aspectos relevantes de
su actividad en lo control de los concursos públicos, sea este preventivo o no, además,
administrativo o judicial. Este trabajo, busca, de esa forma, comprender los instrumentos de
control utilizados por el Procuraduría General en relación a su tarea de fiscalización de
concursos públicos, como verificar su actuación. Por lo tanto, la metodología utilizada es
eminentemente bibliográfica, apuntando a las concepciones doctrinales en relación al asunto,
nociones históricas, todavia enfoca las normas que basan la actividad del Parquet, que es
objeto de este trabajo académico. Sin embargo, en el primer capítulo, se analizan
características peculiares del instituto de los concursos públicos, pasando desde su contexto
histórico hasta sus principios, destacando también su perspectiva constitucional reciente, así
como evidencia el panorama general de las formas de control hechos por la Administración
Pública en concursos. Por otro lado, se examina, en el segundo capítulo, el Ministerio Público,
sobresaliendo los aspectos históricos de su surgimiento en Brasil, resaltando su importancia
en el espectro constitucional ante la sociedad, ante sus principios institucionales, finalizando
el capítulo con la distribución de encargo de su actuación en relación al control de concursos
públicos. Por último, en el tercer capítulo, se averigua la actuación ministerial en el control
de concursos públicos, sea este judicial o extrajudicial, de manera a realzar los procedimientos
administrativos en el ámbito de la tutela colectiva, además de la acción civil pública,
relacionándolos con su incumbencia por medio de la cual auxilia a la Administración a
regularizar, como también a prevenir, posibles irregularidades en ciertos concursos públicos,
corroborando su papel de garante del orden legal, a fin de asegurar un proceso selectivo justo,
al que se respetan los principios administrativos de la legalidad, isonomía , impersonalidad,
eficiencia, publicidad, merito, entre otros. Por lo tanto, se verifica que esa actuación garantiza
los derechos constitucionales de acceso democrático a la función pública y el de una
Administración que preste el buen servicio público adecuado a los ciudadanos.
Palabras clave: Concurso público. Ministerio Público. Control. Tutela colectiva. Principios.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................8

1 ASPECTOS RELEVANTES DO CONCURSO PÚBLICO: UMA VISÃO


DOUTRINÁRIA .......................................................................................................... 11

1.1 NATUREZA JURÍDICA ...................................................................................... 11

1.2 DEFINIÇÃO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCURSOS


PÚBLICOS ...................................................................................................................... 12

1.3 CONCURSO PÚBLICO SOB OS FUNDAMENTOS DA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL DE 1988 ........................................................................................................16

1.4 OS PRINCÍPIOS DOS CONCURSOS PÚBLICOS .............................................. 18

1.5 ASPECTOS GERAIS DO CONTROLE EM CONCURSOS PÚBLICOS


PELA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ............................................................................ 24

2 DO MINISTÉRIO PÚBLICO: BREVES ASPECTOS HISTÓRICOS E


PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS .............................................................................. 27

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS RELEVANTES DO MINISTÉRIO PÚBLICO


NO BRASIL .................................................................................................................... 27

2.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA ATUALIDADE E A CONSTITUIÇÃO


FEDERAL DE 1988 ........................................................................................................30

2.3 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO ......................... 34

2.4 DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA EM SUA ATUAÇÃO NO


CONTROLE DE CONCURSOS PÚBLICOS ..................................................................35

3 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE DE CONCURSOS


PÚBLICOS .................................................................................................................. 39

3.1 DA AMPLITUDE DO CONTROLE EM TODAS AS ETAPAS DE


CONCURSOS PÚBLICOS NA DEFESA DOS INTERESSES COLETIVOS E
DIFUSOS DA SOCIEDADE ........................................................................................... 39

3.2 DOS PROCEDIMENTOS EXTRAJUDICIAIS NA VERIFICAÇÃO DE


IRREGULARIDADES DOS CERTAMES ......................................................................40
3.3 DA POSSIBILIDADE DE CELEBRAÇÃO DO TERMO DE
AJUSTAMENTO DE CONDUTA PARA ADEQUAÇÃO DO CONCURSO
PÚBLICO ÀS NORMAS LEGAIS .................................................................................. 51

3.4 O PROCESSO JUDICIAL NA GARANTIA DA LEGALIDADE DE


CONCURSOS PÚBLICOS .............................................................................................. 54

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 63
8

INTRODUÇÃO

Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o concurso


público ganhou destaque no cenário nacional, sendo uma das principais formas de acesso ao
serviço público, conforme preconiza o artigo 37, inciso II da Constituição Federal.

Da mesma forma, a referida Constituição do Brasil fortaleceu e definiu a atuação do


Ministério Público, este tratado na Seção I, do Capítulo IV - “Das funções essenciais da justiça”,
artigos 127 e seguintes, sendo uma instituição cada vez mais atuante em diversas searas, como
a criminal, ambiental, administrativa, entre outras, em âmbito nacional.

Nesse sentido, esta monografia tratará da atuação ministerial como mecanismo de


controle jurídico-administrativo em concursos públicos, visando a garantia da ordem legal
nessa área.

Ademais, o objeto deste trabalho possui demasiada importância, na medida em que tanto
a instituição do Ministério Público, quanto o instrumento de acesso aos cargos público – o
concurso público, se tornam a cada dia mais evidentes e presentes na vida dos brasileiros.

Por oportuno, diante do atual panorama econômico do país, a busca por funções públicas
é desejo de mais cidadãos enquanto o tempo passa, por diversos motivos, como a expectativa
de estabilidade, boas remunerações e condições de emprego se comparadas ao setor privado.

De outra banda, tem-se a necessidade da Administração Pública de prestar bons serviços


aos administrados, de maneira a preencher os cargos de seu quadro efetivo com mão de obra
qualificada.

Porém, ainda há grande quantidade de irregularidades, fraudes ou demais ilicitudes em


concursos públicos. Nota-se, por conseguinte, evidente crescimento no número em demandas
judiciais nesse ponto, ou seja, a “judicialização” de concursos públicos é cada vez mais
frequente no país, gerando inclusive uma desconfiança por parte dos candidatos e da população
em geral.

Assim, o Ministério Público, sendo uma instituição que visa a garantia da ordem legal
em prol da coletividade, possui papel atuante no controle de concursos públicos, podendo ser
prévio, ou posterior, ainda, administrativo ou judicial, de forma a pretender a garantia da ordem
jurídica, visando os cumprimentos das finalidades constitucionais do concurso público.

Portanto, faz-se relevante o tema abordado no presente estudo, a fim de compreender os


mecanismos de controle utilizados pelo órgão ministerial, bem como verificar sua atuação
9

perante alguns instrumentos administrativos e judiciais, aos quais consubstancia sua atuação no
controle em concursos públicos.

Nesse sentido, a realização de uma pesquisa a respeito da atuação do Parquet em


certames, justifica-se pelo crescente interesse da população em participar desse processo
seletivo, bem como o fortalecimento do Ministério Público como instituição que visa garantir
a ordem legal, após a Constituição de 1988.

Desse modo, após o ano de 1988, o concurso público passou a ser um instrumento
constitucional de acesso aos cargos públicos, visando garantir a isonomia dos concorrentes,
bem como os demais princípios da administração pública.

Destarte, é importante mecanismo democrático que objetiva também a ocupação, em


tese, daqueles que estão melhores aptos a prestar um serviço público de boa qualidade à
sociedade.

Entretanto, a crescente demanda nessa área, tem propiciado muitas irregularidades nas
prestações de certames pelo país. Há, ainda, a desconfiança da comunidade perante os órgãos
estatais, diante de vários casos de corrupção e atos de improbidades cometidos por agentes
públicos, além do despreparo de bancas examinadoras em prestarem o certame.

Assim, o Ministério Público, atualmente, tem sido uma esperança aos candidatos que se
sentem injustiçados em diversos certames, no combate às irregularidades.

Outro aspecto importante é a carência de materiais acadêmicos a respeito do assunto,


pois ainda não se tem divulgado muitos trabalhos sobre tais perspectivas e seus impactos na
sociedade brasileira.

Entende-se que o presente trabalho poderá trazer contribuições para essa nova e
inevitável escalada do Brasil rumo a esse processo de atuação e controle, proporcionando uma
repercussão a respeito dos efeitos desse controle perante a sociedade, a fim de garantir a ordem
dos princípios de origem jurídico-administrativa.

Além disso, em relação ao método de pesquisa utilizado, inicialmente, foi o


bibliográfico. Desse modo, neste estudo, foram consultados livros e artigos publicados em
periódicos científicos. Ademais, também se leva em consideração, além da visão doutrinária,
aspectos históricos, em relação aos concursos públicos e ao Ministério Público, a fim da melhor
compreensão e abordagem do tema.
10

Por fim, o último método adotado foi a análise de procedimentos administrativos e


processos judiciais iniciados pelo Ministério Público, tais como inquérito civil e ação civil
pública, considerando as normas que os regulam, a fim de compreender a efetividade de seu
controle de concursos públicos no que se refere a um plano mais concreto.

Quanto ao desenvolvimento desta obra, a sua estrutura está delineada em três capítulos.
No primeiro capítulo, foram traçados elementos conceituais do concurso público, destacando a
visão doutrinária de seu contexto histórico e seus princípios. Para mais, esse capítulo delineia
considerações acerca desse instituto em seu plano constitucional, tecendo comentários a
respeito de sua importância nos dias atuais para a sociedade e o bom funcionamento estatal.
Além do mais, trata dos aspectos gerais do controle em concursos públicos exercido pela
Administração Pública.

O segundo capítulo estuda o Ministério Público como instituição propriamente dita, seus
aspectos históricos no Brasil, bem como seus princípios organizacionais. Da mesma forma,
apresenta-se seu espectro constitucional, evidenciando a importância de seu papel perante a
sociedade na garantia dos direitos fundamentais, da democracia e do fiel cumprimento da ordem
jurídica. Ademais, ressalta a distribuição de competência constitucional, em sua atuação no
âmbito do controle de concursos públicos.

Já o capítulo terceiro, denominado “A atuação do Ministério Público no controle de


concursos públicos” aborda a relevância da temática analisada no presente trabalho, por meio
de mecanismos utilizados pelo Parquet, a fim da efetiva garantia da ordem legal e jurídica dos
certames públicos. Subdivide-se o mencionado capítulo ao verificar a abrangência da atuação
ministerial em concursos na defesa de direitos coletivos e difusos, depois, os instrumentos
extrajudiciais, a possibilidade de celebração do termo de ajustamento de conduta e, por último,
o viés judicial do controle, dando ênfase à ação civil pública.

Em suma, o presente trabalho pretende problematizar a amplitude e efetividade da


atuação do Ministério Público na seara de atuação dos concursos públicos, bem como abordar
os aspectos jurídicos e doutrinários da temática, a fim de proporcionar a discussão acadêmica a
qual, dentro desse contexto social, vise garantir e respeitar os direitos fundamentais da
Constituição, no que tange a correta regularidade dos concursos públicos, para que se tenha um
acesso democrático aos cargos públicos, como também a melhor prestação dos serviços
administrativos aos cidadãos.
11

1 ASPECTOS RELEVANTES DO CONCURSO PÚBLICO: UMA VISÃO


DOUTRINÁRIA

1.1 NATUREZA JURÍDICA

Inicialmente, na explicação de Maurício Godinho Delgado, a busca pela natureza


jurídica é:

Encontrar a natureza jurídica de instituto do Direito (ou até de um ramo jurídico, como
o Direito do Trabalho) consiste em se apreenderem os elementos fundamentais que
integram sua composição específica, contrapondo-os, em seguida, ao conjunto mais
próximo de figuras jurídicas (ou de segmentos jurídicos, no caso do ramo
justrabalhista), de modo a classificar o instituto enfocado no universo de figuras
existentes no Direito.1

Desse modo, a natureza jurídica de algum instituto ou ramo de estudo do Direito pode
ser entendida como o enquadramento entre a sua definição e a sua classificação no âmbito da
ciência do Direito.

Visto isso, na seara do estudo científico dos concursos públicos, realizado pelos
doutrinadores, pode-se entender o mencionado instituto como o conjunto de atos
administrativos, sendo sua natureza jurídica preponderante de processo (ou procedimento)
administrativo. Nesse sentido, mais precisamente nas palavras de Diógenes Gasparini, a natureza
jurídica do concurso é:

Um conjunto de atos administrativos interligados e realizáveis segundo certa


cronologia previamente estabelecida, destinados à obtenção de um só resultado final:
a seleção, dentre os vários candidatos, daqueles que melhor possam atender ao
interesse público. 2

Ademais, soma-se a esse entendimento a lição de Maia e Queiroz, já que ensinam que sua
natureza jurídica possui características de cunho concorrencial, ampliativo e externo, trata-se,
assim, de:

Um procedimento administrativo externo, ampliativo e de índole concorrencial.


Externo, porque deve ser aberto à coletividade; ampliativo, pois visa ao exercício de
um direito constitucionalmente assegurado; concorrencial, porque envolve uma
competição entre os administrados com vistas ao credenciamento junto ao Estado do
status de agente público.3

1
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho, 14ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 75.
2
GASPARINI, Diógenes. Concurso público – imposição constitucional e sua operacionalização. In: MOTTA,
Fabrício (Coord.). Concurso público e Constituição. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 22-23.
3
MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurídico do concurso público e o seu
controle jurisdicional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 14.
12

Desse modo, enquanto processo administrativo, o concurso público se submete a todos


os princípios aplicáveis e presentes no ordenamento jurídico, mormente aqueles previstos na
Constituição, os princípios setoriais do Direito Administrativo, os princípios da Teoria Geral
do Processo e, por último, alguns princípios específicos de concursos públicos.4

Portanto, a natureza jurídica de um instituto do Direito nada mais é que o alicerce entre
sua definição e a classificação. Dessa forma, na seara dos concursos, os doutrinadores entendem
que, por ser um conjunto de atos administrativos, os certames possuem natureza jurídica de
processo (ou procedimento), com a finalidade de seleção dos candidatos a cargos públicos.
Nada obstante, a natureza jurídica consubstancia a análise, por parte da doutrina e especialistas
dos ramos e institutos do direito, buscando um conceito próprio ao concurso público.

Sendo assim, é relevante o entendimento da sua natureza jurídica para a melhor


compreensão de seu conceito. Então, analisa-se a seguir a definição de concurso público tratada
pela doutrina, bem como alguns aspectos de seu histórico, fazendo breve estudo de seu
surgimento até os dias atuais.

1.2 DEFINIÇÃO E EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS CONCURSOS PÚBLICOS

Indubitavelmente, o início do estudo a respeito dos concursos públicos abrange o


entendimento de sua definição por parte da doutrina, após o conhecimento de sua natureza
jurídica. Dessa forma, os especialistas que se debruçam sobre o tema fornecem várias
definições, o que contribui para a efetiva compreensão do que vem a ser o concurso público.

Na concepção de José dos Santos Carvalho Filho:

Concurso público é o procedimento administrativo que tem por fim aferir as aptidões
pessoais e selecionar os melhores candidatos ao provimento de cargos e funções
públicas. Na aferição pessoal, o Estado verifica a capacidade intelectual, física e
psíquica de interessados em ocupar funções públicas e no aspecto seletivo são
escolhidos aqueles que ultrapassam as barreiras opostas no procedimento, obedecida
sempre a ordem de classificação.5

Ademais, Hely Lopes Meirelles o define como:

O meio técnico posto à disposição da administração pública para obter-se moralidade,


eficiência e aperfeiçoamento do serviço público, e ao mesmo tempo, propiciar igual
oportunidade a todos os interessados que atendam aos requisitos da lei, fixados de

4
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Concursos Públicos no Direito Brasileiro. Curitiba: Juruá, 2015, p. 315.
5
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo, 27. ed., rev., ampl. e atual. até 31-
12-2013. São Paulo: Atlas, 2014, p. 651.
13

acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, consoante determina


o art. 37, II, da CF.6

Já Francisco Lobello de Oliveira Rocha:

É um procedimento administrativo, subordinado a um ato administrativo prévio, o


edital – que por sua vez subordina-se a todo o ordenamento jurídico preexistente -,
destinado a propiciar a mais perfeita seleção entre os candidatos que preencherem as
necessidades da administração, garantindo-se a igualdade de oportunidades na
concretização do direito fundamental ao livre acesso a cargos e empregos públicos.7

Nota-se, dessa forma, que o concurso público é instrumento ou procedimento, por meio
do qual o Estado Democrático de Direito o utiliza a fim de selecionar os melhores servidores
públicos, de forma impessoal, respeitando-se os princípios constitucionais vigentes.

Em vista disso, depreende-se de seu conceito que se trata de mecanismo imprescindível


ao Estado Democrático de Direito, pelo qual a Administração Pública, em obediência aos
princípios constitucionais e republicanos, seleciona pessoas a fim de que estas ocupem o quadro
de servidores e desempenhem funções estatais, visando garantir o melhor serviço público aos
administrados, com impessoalidade, probidade e eficiência.

Ademais, com a finalidade da melhor compreensão de seu conceito, é mister levantar


aspectos históricos do concurso público.

É bem verdade que o estudo das fontes históricas se faz necessário, tendo em vista que
o Direito é uma ciência em constante mutação em sociedade, tanto no tempo, como no espaço.
Nesse contexto, Miguel Reale explica que:

A Ciência do Direito é sempre ciência de um Direito positivo, isto é, positivado no


espaço e no tempo, como experiência efetiva, passada ou atual. Assim é que o Direito
dos gregos antigos pode ser objeto de ciência, tanto como o da Grécia de nossos dias.
Não há, em suma, Ciência do Direito em abstrato, isto é, sem referência direta a um
campo de experiência social. Isto não significa, todavia, que, ao estudarmos as leis
vigentes e eficazes no Brasil ou na Itália, não devamos estar fundados em princípios
gerais comuns, produto de uma experiência histórica que tem as mesmas raízes, as do
Direito Romano.8

Assim sendo, a atual definição de concurso público carrega consigo aspectos históricos
de uma evolução do homem em sociedade, bem como do próprio Estado em si, ou seja, para
que se chegasse ao seu atual conceito, a sociedade progrediu os entendimentos de princípios do

6
MEIRELLES, Hely Lopes; BURLE FILHO, José Emmanuel. Direito administrativo brasileiro, colab. Carla
Rosado Burle, 42ª ed., atual. até a Emenda Constitucional nº 90, de 15-9-2015. São Paulo: Malheiros, 2016, p.
542.
7
ROCHA, Francisco Lobello de Oliveira. Regime jurídico dos concursos públicos. São Paulo: Dialética, 2006,
p. 54.
8
REALE, Miguel. Lições Preliminares do Direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 17.
14

Direito, bem como impôs limitações a serem respeitadas por entidades estatais para com o
indivíduo ao longo dos anos.

Outrossim, os cargos estatais sempre foram reconhecidos popularmente no decorrer da


história por seus “privilégios” ou “regalias”, tendo em vista sua proximidade em relação àqueles
que detinham o poder em suas mãos, como monarcas ou clero.

Como é sabido, a busca por cargos estatais geralmente foi algo almejado por cidadãos
em sociedades civilizadas. A partir disso, conclui-se que houve nítida evolução no processo de
escolha de funcionários públicos, sendo o concurso público uma das formas de seleção mais
justas encontradas até o momento, com fundamentos em ideais democráticos.

Dessa forma, não há um marco inicial do surgimento do concurso. Logo, para Cretella
Júnior: “O concurso público foi implantado na França ao tempo de Napoleão e, apesar de sua
idoneidade, foi de início objeto de renhidas resistências, que definharam posteriormente ante o
aspecto democrático que foi reconhecido a esse tipo de procedimento.”9

De mais a mais, o conceito de concurso público começa a se consolidar após a


Revolução Francesa, marco histórico da divisão entre a Idade Moderna e Contemporânea, em
que surgem os primeiros ideais de liberdade, igualdade e fraternidade, ou seja, de proteção do
indivíduo perante o Estado. Dessa forma, destaca-se o artigo 6º da Declaração de Direitos do
Homem e do Cidadão de 1789, ipsis litteris:

Artigo 6º- A Lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de
concorrer, pessoalmente ou através dos seus representantes, para a sua formação. Ela
deve ser a mesma para todos, quer se destine a proteger quer a punir. Todos os
cidadãos são iguais a seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as dignidades,
lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade, e sem outra distinção que não
seja a das suas virtudes e dos seus talentos.10

Assim, diante dessa norma, percebe-se que se fez necessário um instrumento que
forneça a igualdade entre os concorrentes, de maneira impessoal, em conjunto com a seleção
dos mais aptos a ocupar o cargo público.

No Brasil, a primeira Constituição que tratou do concurso público foi a de 1934, em que
pese as Constituições anteriores já expressassem a respeito do acesso ao cargo público, de forma
muito semelhante à Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.

9
CRETELLA JÚNIOR, José apud. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo,
27. ed., rev., ampl. e atual. Até 31-12-2013. São Paulo: Atlas, 2014, p. 651.
10
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO - 1789. Disponível em:
<http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/direitos-
humanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf>. Acesso em: 10 de janeiro de 2019.
15

Visto isso, a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada por
Getúlio Vargas em 1934, estipulou timidamente a figura do concurso público no Brasil em seu
artigo 170, §2º, in verbis:

Art. 170. O Poder Legislativo votará o Estatuto dos Funcionários Públicos, às


seguintes normas, desde já em vigor:

[...]

2º) a primeira investidura nos postos de carreira das repartições administrativas, e nos
demais que a lei determinar, efetuar-se-á depois de exame de sanidade e concurso de
provas ou títulos. 11

Não obstante, as Constituições de 1937 e 1946 repetem a mesma lógica dessa citação.
Desse modo, com o advento da Carta constitucional de 1967, surge a sistemática mais próxima
da qual se conhece atualmente, já que nesta o concurso passa a ser obrigatório para a primeira
investidura, salvo em casos específicos em lei, e dispensável para cargos em comissão, sendo a
estes livres sua exoneração e nomeação. Além disso, o concurso pode ser de provas ou provas
e títulos, diferente do que ocorria nas constituições anteriores em que basicamente a forma de
concurso se dava por títulos. Cita-se a referida Carta constitucional, após a Emenda
Constitucional nº 01 de 1969, em seu artigo 97:

Art. 97 - Os cargos públicos são acessíveis a todos os brasileiros, preenchidos os


requisitos que a lei estabelecer.

§ 1º - A nomeação para cargo público exige aprovação prévia em concurso público de


provas ou de provas e títulos.

§ 2º - Prescinde de concurso a nomeação para cargos em comissão, declarados em lei,


de livre nomeação e exoneração. 12

Destarte, com a promulgação da Constituição Federal de 1988, consolidou-se a


sistemática atual. Entretanto, ante o exposto, fica claro o progresso do concurso público ao
longo do tempo, ao passo em que a sociedade e o Estado evolui. Desde Napoleão até os dias
atuais, cada avanço ganha importância para que se cumpra a finalidade pública dos concursos.

11
POLETTI, Ronaldo. 1934 (Coleção Constituições brasileiras, vol. 3). 3. ed. Brasília: Senado Federal,
Subsecretaria de Edições Técnicas, 2012, p. 142. Disponível em:
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137602/Constituicoes_Brasileiras_v3_1934.pdf>. Acesso
em: 11 de janeiro de 2019.
12
CAVALCANTI, Themístocles Brandão; BRITO, Luiz Navarro de; BALEEIRO, Aliomar. 1967 (Coleção
Constituições brasileiras, vol. 6). 3. ed. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2012, p.
171. Disponível em:
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137604/Constituicoes_Brasileiras_v6_1967.pdf>. Acesso
em: 11 de janeiro de 2019.
16

Daí a relevância de levantar aspectos históricos, a fim de compreender seu conceito, sua
natureza jurídica e sua finalidade.

Portanto, o concurso público, diante da atual Carta Magna, torna-se instrumento


essencial no Direito brasileiro, sendo sua dogmática uma forma de consolidar os princípios e
garantias fundamentais, conforme a seguir analisado.

1.3 CONCURSO PÚBLICO SOB OS FUNDAMENTOS DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL


DE 1988

Inicialmente, é imperioso destacar que as normas constitucionais são supremas no


ordenamento jurídico, assim, a noção de supremacia é inerente à noção de Constituição, aliada
à condição de que a sua superioridade normativa implique a ideia de uma norma fundamental.13

Dessa forma, consubstancia a teoria do escalonamento das normas jurídicas de Hans


Kelsen14. Nas palavras de Dirley da Cunha Júnior, citando o austríaco:

Kelsen, com a sua clássica teoria do escalonamento da ordem jurídica, concebeu o


Direito como um sistema hierarquizado de normas jurídicas. Segundo o jusfilósofo, a
ordem jurídica não é um sistema de normas jurídicas dispostas no mesmo plano,
situadas umas ao lado das outras, mas sim uma construção escalonada de diferentes
degraus ou camadas de normas jurídicas. Na cúspide dessa ordem jurídica encontra-
se a Constituição, considerada o fundamento supremo de validade de todas as normas
jurídicas. Assim, na ordem jurídica nacional, a Constituição representa o escalão de
Direito positivo mais elevado.15

Sabe-se, diante disso, que a norma constitucional está hierarquicamente superior as


demais no ordenamento brasileiro.

No tocante aos concursos públicos, em consonância com tal entendimento, a


Constituição é sua fonte normativa primária. 16 Destarte, na Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, o artigo 37, em seus incisos I e II, revelam de forma expressa, o
instrumento de concurso público como forma de acesso aos cargos efetivos:

Art. 37.

[...]

I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que


preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma
da lei;

13
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional, 9.ed., ver., ampl. e. atual. Salvador: Juspodivm,
2015, p. 94.
14
HANS, Kelsen Apud Idem, Ibidem, p. 94.
15
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Op. cit., p. 94
16
MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. Op. cit., p. 11.
17

II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em


concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a
complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e
exoneração;17

Não obstante, é imprescindível o estudo da administração pública, para o fiel


entendimento da dimensão do concurso público no Estado, ou seja, de sua importância para
todos, bem como a compreensão da abrangência da norma constitucional. Sendo assim, a
doutrina conceitua “administração pública” distinguindo dois sentidos em que é empregada
mais comumente. No aspecto objetivo, utilizando as lições de Carvalho Filho, “a administração
pública deve consistir na própria atividade administrativa exercida pelo Estado por seus órgãos
e agentes, caracterizando, enfim, a função administrativa.”18 Já no aspecto subjetivo, o mesmo
autor, elencando, ainda, os conceitos de administração direta e indireta, afirma que:

A expressão pode também significar o conjunto de agentes, órgãos e pessoas jurídicas


que tenham a incumbência de executar as atividades administrativas. Toma-se aqui
em consideração o sujeito da função administrativa, ou seja, quem a exerce de fato.

Para diferenciar esse sentido da noção anterior, deve a expressão conter as iniciais
maiúsculas: Administração Pública. Os órgãos e agentes a que nos temos referido
integram as entidades estatais, ou seja, aquelas que compõem o sistema federativo
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Entretanto, existem algumas pessoas
jurídicas incumbidas por elas da execução da função administrativa. Tais pessoas
também se incluem no sentido de Administração Pública. São elas as autarquias,
sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações públicas. No primeiro
caso temos a Administração Direta, responsável pelo desempenho das atividades
administrativas de forma centralizada; no segundo se forma a Administração Indireta,
exercendo as entidades integrantes a função administrativa descentralizadamente.19

Visto isso, os concursos públicos, conforme exposto no texto constitucional, se limitam


ao acesso dos cargos dessas instituições, ou seja, da administração direta e indireta de qualquer
ente federativo, ressalvado os cargos em comissão, de livre nomeação ou exoneração.

Ademais, a imposição constitucional está baseada em princípios, por exemplo o


princípio da igualdade, que é critério para aplicação das normas ao administrador público, é um
limite para o legislador, na elaboração das leis, e é modelo de interpretação ao Tribunal, na
elaboração de suas decisões.20

17
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. In: Presidência da República.
Legislação Federal. Constituição. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 31 de julho de 2018.
18
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo, 27. ed., rev., ampl. e atual. São
Paulo: Atlas, 2014, p. 11.
19
Idem, Ibidem p. 12.
20
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Igualdade, discriminação e concursos público: Análise dos requisitos de
acesso aos cargos públicos no Brasil. Maceió: Viva, 2014, p. 23.
18

Entende-se, portanto, da interpretação do texto constitucional que o concurso público é


meio garantidor dos princípios expressos da administração pública previstos no artigo 37, ou
seja, o da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Além do mais,
como já mencionado, a sua natureza jurídica de processo administrativo coaduna-se a aplicação
de princípios do Direito ao referido instituto.

Logo, dada sua importância, inclusive constitucional, estuda-se a base principiológica


dos concursos adiante.

1.4 OS PRINCÍPIOS DOS CONCURSOS PÚBLICOS

Na lição de Celso Antônio Bandeira de Mello a definição de princípio é:

Mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental


que se irradia sobre diferentes normas compondo-lhes o espírito e servindo de critério
para sua exata compreensão e inteligência exatamente por definir a lógica e a
racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido
harmônico. É o conhecimento dos princípios que preside a intelecção das diferentes
partes componentes do todo unitário que há por nome sistema jurídico positivo. 21

É notório que nas últimas décadas, os princípios assumiram uma posição proeminente nos
novos sistemas constitucionais, atuando como verdadeiro pedestal normativo.22

Assim sendo, nas palavras de Fábio Lins de Lessa Carvalho:

A submissão aos princípios jurídicos é uma consequência natural de um Estado que


se qualifica de Direito e tem uma constituição que consagra diversos valores como
parâmetros maiores da ordem jurídica. Pode-se acrescentar que a referida submissão
é uma necessidade ainda mais presente na atividade administrativo do que no setor
privado.

[...]

É na Constituição que podem ser identificados os valores superiores do ordenamento


jurídico e que influenciam de forma decisiva todo o processo de criação e
interpretação e aplicação das normas jurídicas. Assim, há princípios que gerais do
direito, previstos no texto constitucional, que imprimem sua marca em todos os ramos
jurídicos e seus institutos, como também há princípios que têm uma incidência direta
sobre determinados setores e atividades.23

Surge, então, o entendimento que o direito administrativo é um ramo do Direito


eminentemente principiológico.24 Não obstante, a ausência de legislação específica que regule

21
MELLO apud MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. Op. cit., p. 19.
22
BONAVIDES, 2000, p. 237 e 255 apud Idem, Ibidem, p. 19.
23
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 100 e 101.
24
MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. Op. cit., p. 20.
19

os concursos públicos eleva a relevância do papel dos princípios nesse ramo, bem como de seu
estudo científico por parte da doutrina. 25

Visto isso, em primeiro plano, estuda-se os princípios gerais basilares (igualdade,


supremacia do interesse público sobre o privado e da meritocracia) na esfera dos concursos
públicos, depois, os princípios gerais da administração pública no âmbito dos concursos, e por
fim, alguns dos mais destacados princípios específicos dos concursos públicos. Cabe ressaltar,
por conseguinte, que se trata de um rol exemplificativo de princípios.

Desse modo, em relação ao princípio da igualdade, este está expresso no caput artigo 5º
da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, segundo o qual garante que: “Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade.”26

Ademais, não é difícil perceber que a própria noção de concurso público, ora analisada
anteriormente no presente trabalho, carrega consigo o ideal de igualdade, seja na igualdade de
condições dos candidatos no processo em si (provas, títulos, edital para todos, entre outros),
como também na igualdade de acesso ao cargo público por meio do certame.

Desse modo, no processo administrativo, o princípio de igualdade desdobra-se em três


aspectos: em igualdade de riscos, a igualdade de oportunidades e a igualdade de tratamento.27
Vale salientar que a doutrina esclarece a diferença entre a igualdade formal e a material. Nas
palavras de Dirley da Cunha Júnior:

O direito a igualdade é o direito que todos têm de ser tratados igualmente na medida
em que se igualem e desigualmente na medida em que se desigualem, quer perante a
ordem jurídica (igualdade formal), quer perante oportunidade de acesso aos bens da
vida (igualdade material), pois todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade
e direitos. A exigência de igualdade decorre do princípio constitucional da igualdade,
que é um postulado básico da democracia, pois significa que todos merecem as
mesmas oportunidades, sendo defeso qualquer tipo de privilégio e perseguição. O
princípio em tela interdita tratamento desigual às pessoas iguais e tratamento igual às
pessoas desiguais. 28

Sendo assim, na seara dos concursos públicos, para que haja a efetiva igualdade, é
necessária a observância das regras isonômicas daqueles que podem participar do certame,

25
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 100 e 101.
26
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. In: Presidência da República.
Legislação Federal. Constituição. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 31 de julho de 2018.
27
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 113.
28
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Op. cit., p. 550.
20

como também o respeito a um procedimento isonômico de competição, garantindo uma


paridade entre os candidatos.29

De outro modo, a doutrina destaca o princípio da supremacia do interesse público sobre


o privado. Tal supremacia é pressuposto de uma ordem social estável, em que todos e cada um
possam sentir-se garantidos e resguardados nos seus direitos e bens e é premissa lógica do
convívio social. 30 Diante desse contexto, nas explicações de Matheus Carvalho:

Este princípio define os limites da atuação administrativa e decorre do fato de que a


impossibilidade de abrir mão do interesse público deve estabelecer ao administrador
os seus critérios de conduta. De fato, o agente estatal não pode deixar de atuar, quando
as necessidades da coletividade assim exigirem, uma vez que suas atividades são
necessárias à satisfação dos interesses do povo.31

Assim, no âmbito dos concursos, entende-se que o referido princípio é aplicado


mormente seja possível que a administração imponha restrições ao amplo acesso à função pública
para o atendimento de suas necessidades públicas e interesses públicos, o qual prevalece em
detrimento do interesse particular de ocupar um cargo público.32

Outrossim, o princípio da meritocracia, também basilar na seara dos concursos, traz consigo
a ideia de merecimento e aptidão para o provimento do cargo estatal, bem como consubstancia os
ideais republicanos do Estado Democrático de Direito.33 Nesse sentido, assevera Fábio Lins de
Lessa Carvalho:

No ordenamento jurídico brasileiro, é importante destacar que o princípio da


meritocracia (e seu corolário, o concurso público) convive muito bem com dois outros
valores constitucionais: a democracia e a república.

Em relação à conexão entre o princípio da meritocracia e os valores republicanos,


convém asseverar que esses não toleram a existência de privilégios que desigualem
os indivíduos enquanto cidadãos.

[...]

Assim, no sistema republicano, como todas as pessoas são igualmente detentoras do


poder, não são aceitos tratamento concedidos pelo ordenamento jurídico que elevem
ou que reduzam o status dos cidadãos, dimensão política do indivíduo. Isso garante
que o acesso aos cargos públicos (sejam esses políticos ou não) seja o mais universal
possível. Em tese, qualquer pessoa, independentemente de sua origem ou condição

29
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 113.
30
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 30ª ed. rev. atual. São Paulo:
Malheiros Editores, 2013, p. 99.
31
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Adminstrativo. 4ª ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm, 2017,
p. 62.
32
ROCHA, Francisco Lobello de Oliveira. Regime jurídico dos concursos públicos. São Paulo: Dialética, 2006,
p. 27.
33
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., passim.
21

social e econômica, poderá vir a ocupar qualquer cargo público. Vê-se, assim, que a
meritocracia convive muito bem com essa situação. 34

Outro ponto relevante do princípio da meritocracia, é que este consolida o ideal


democrático, na medida em que se asseguram as oportunidades àqueles que demonstrarem
maior capacidade, de maneira impessoal.35 Ademais, é bem verdade que a concretização do
princípio da meritocracia perpassa por dois aspectos, o primeiro que a Administração Pública
garanta a igual oportunidade de todos participarem do concurso, e segundo, que sejam
utilizados meios adequados para aferição do mérito na disputa ao cargo público.36

Portanto, tais princípios basilares, quais sejam: a igualdade, supremacia do interesse


público sobre o privado e a meritocracia, sustentam os ideais democráticos e republicanos,
previstos de forma explícita ou implícita em nosso texto constitucional.

De outra banda, analisa-se brevemente os princípios gerais do Direito Administrativo


em concursos públicos. Nada obstante, estes também têm papel essencial para a formação de
um procedimento que garanta a prevalência e respeite os ideais do Estado Democrático de
Direito e da República.37 São eles os expressos no artigo 37 da Constituição de 198838: o
princípio da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

De mais a mais, o princípio da legalidade, pode ser entendido como, nas palavras de
Celso Antônio Bandeira de Mello, o “princípio específico do Estado de Direito, é justamente
aquele que o qualifica e que lhe dá identidade própria.”39 Além disso, consoante a esse
entendimento, compreende-se que a Administração Pública está limitada àquilo determinado
em lei. Vale ressaltar a clássica comparação de Hely Lopes Meirelles 40, segundo a qual leciona
que enquanto na vida privada os indivíduos podem fazer tudo o que a lei não veda, o
administrador público somente pode atuar onde a lei autorizar.

Além disso, a doutrina destaca os efeitos do princípio da legalidade, nesse sentido, José
Carvalho Filho explica que:

É extremamente importante o efeito do princípio da legalidade no que diz respeito aos


direitos dos indivíduos. Na verdade, o princípio se reflete na consequência de que a

34
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 116.
35
Idem, Ibidem, p. 116.
36
Idem, Ibidem, p. 117.
37
Idem, Ibidem, p. 120.
38
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência [...].
39
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Op. cit., p. 102.
40
MEIRELLES, Hely Lopes; BURLE FILHO, José Emmanuel. Op. cit., p. 92.
22

própria garantia desses direitos depende de sua existência, autorizando-se então os


indivíduos à verificação do confronto entre a atividade administrativa e a lei. Uma
conclusão é inarredável: havendo dissonância entre a conduta e a lei, deverá aquela
ser corrigida para eliminar-se a ilicitude.

Não custa lembrar, por último, que, na teoria do Estado moderno, há duas funções
estatais básicas: a de criar a lei (legislação) e a de executar a lei (administração e
jurisdição). Esta última pressupõe o exercício da primeira, de modo que só se pode
conceber a atividade administrativa diante dos parâmetros já instituídos pela atividade
legisferante. Por isso é que administrar é função subjacente à de legislar. O princípio
da legalidade denota exatamente essa relação: só é legítima a atividade do
administrador público se estiver condizente com o disposto na lei.41

Visto isso, no âmbito dos concursos públicos, o princípio da legalidade entende-se que
este garante a objetividade do procedimento e concede segurança jurídica, assim, vale destacar
as palavras de Fábio Lins de Lessa Carvalho:

Por se tratar de um procedimento administrativo, o concurso público deve ser


precedido de normas que disponham acerca dos atos que deverão ser praticados pela
Administração Pública, para a consecução de seu objetivo, no caso, seleção daqueles
que irão ocupar os cargos e empregos público. Nesse sentido, a presença de tais
normas é imprescindível para garantir a objetividade do procedimento, assim como
sua previsibilidade por parte de todos, gerando uma maior segurança jurídica.42

De outra forma, em relação ao princípio da impessoalidade, tem como finalidade nas


lições de José dos Santos Carvalho Filho: “a igualdade de tratamento que a Administração deve
dispensar aos administrados que se encontrem em idêntica situação jurídica. Nesse ponto,
representa uma faceta do princípio da isonomia.”43

Ademais, em relação aos concursos, é princípio de fundamental importância, assevera


Fábio Lins de Lessa Carvalho:

O concurso público somente é válido se conduzido de forma impessoal, o que se


traduz na exigência do citado procedimento ser definido e conduzido a partir de
critérios objetivos. A ideia que deve prevalecer é a do ideal republicano: todos têm
igual direito de ter acesso aos cargos públicos, o que impões que a Administração
Pública conduza o procedimento seletivo de forma a garantir as mesmas
oportunidades a todos os interessados.

Nesse contexto, a impessoalidade é uma decorrência direta da isonomia: pode-se dizer


que como há o direito dos candidatos ao trato isonômico, há o dever da Administração
pública atuar de forma impessoal.44

Sendo assim, o concurso público perde sua essência ou sentido de ser, caso não haja a
impessoalidade nos atos da administração e na condução do processo como um todo.

41
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. cit., p. 20.
42
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 120.
43
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. cit., p. 20 e 21.
44
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 127.
23

Já no tocante ao princípio constitucional da moralidade, tem papel fundamental nos


concursos, tendo em vista a crescente e notável crise moral que assola o país, a qual se desdobra
em casos de fraudes, corrupção e demais ilicitudes.

Desse modo, Fábio Lins de Lessa Carvalho 45 esclarece que o esperado da Administração
Pública diante da condução do concurso público com base na moralidade, vincula-se
necessariamente a adoção de valores éticos, tendo em vista que decorre diretamente da
moralidade administrativa a lisura, a honestidade, a incorruptibilidade, a boa-fé, a probidade e
lealdade.

Por outro lado, no que se refere ao princípio da publicidade, Francisco Lobello Rocha,
afirma que, no plano do concurso público, o referido princípio constitucional vigente significa
“a ampla e efetiva comunicação de todos os atos, em cada fase do concurso, informando os
candidatos sobre seus deveres e obrigações e garantindo o controle destes, bem como da
sociedade como um todo, sobre os atos praticados pela Administração.”46 Nesse contexto, é
válido destacar que o princípio da publicidade está diretamente relacionado com a eficiência do
concurso público.

Dessa maneira, o princípio da eficiência relaciona-se com o conceito de concurso


público na medida em que este visa, de maneira democrática e isonômica, os mais aptos a
ocupar o cargo público de forma a trabalhar proporcionando uma atuação administrativa
eficiente ao cidadão e respeitando o interesse público.47 Além disso, em um aspecto mais amplo,
o princípio da eficiência se consubstancia na escolha, por parte da administração, das normas e
etapas do processo seletivo a serem utilizadas, as quais devem ser adequadas para que o certame
proporcione a justa disputa e a melhor seleção dos candidatos, mormente se possa evitar,
atuando preventivamente, as demandas judiciais e irregularidades em concursos públicos.48

Por fim, após a análise dos princípios constitucionais expressos, ressalta-se que a
doutrina destaca os princípios específicos dos concursos públicos, tais como: vinculação ao
edital, lealdade, competitividade, extensividade, objetividade, clareza, imparcialidade do
selecionador, razoável duração do concurso, entre outros.49 Entretanto, tratam-se de

45
Idem, Ibidem, p. 130.
46
ROCHA, Francisco Lobello de Oliveira, p. 39-40.
47
MOTTA, Fabrício. Concursos públicos e o princípio da vinculação ao edital. Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, v. 239, p. 139-148, jan. 2005. ISSN 2238-5177. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/43864>. Acesso em: 26 Jan. 2019.
48
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 135.
49
Idem, Ibidem, passim.
24

desdobramentos daqueles princípios constitucionais anteriormente expostos. Nesse sentido,


Fábio Lins de Lessa Carvalho ensina:

Na verdade, pode-se afirmar que os princípios específicos são derivações dos


princípios mais genéricos. Assim, por exemplo, o princípio da vinculação às regras
do edital provém do dever de obediência à legalidade; assim como o princípio de
agilidade procede da exigência de eficiência e o princípio do julgamento objetivo é
uma derivação da impessoalidade administrativa.50

Portanto, é inegável a importância dos princípios, conforme demonstrado, para além do


ordenamento jurídico, mas sobretudo no âmbito dos concursos públicos. Os princípios, mais
que nortear a administração, auxiliam inclusive no controle dos atos praticados por esta. Nada
obstante, se faz imprescindível o estudo dos aspectos gerais do controle em concursos públicos
pela Administração Pública no tópico adiante.

1.5 ASPECTOS GERAIS DO CONTROLE EM CONCURSOS PÚBLICOS PELA


ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Conforme visto, os princípios dos concursos públicos norteiam e fundamentam todo o


processo administrativo do certame. Em face disso, é necessário que haja mecanismos de
controle, aos quais garantam a efetividade e correta aplicação dos princípios vistos. Nesse
sentido, Rita Tourinho aduz que: “para que se verifique a real obediência aos princípios das
legalidade, impessoalidade e moralidade no concurso público, o mesmo deve se desenvolver de
forma a viabilizar a possibilidade de controle, seja interno ou externo.”51

Junto a isso, a importância do controle na esfera dos concursos públicos reside também
no fato de que sua finalidade é selecionar servidores públicos, aos quais serão responsáveis pela
administração do Estado. Assim, de nada adiantaria se não houvesse um sistema de controle à
altura, capaz de garantir a regularidade do ora estudado processo seletivo.

Ademais, apesar da demasiada importância dos princípios, já destacada nesta


monografia, a Administração Pública pode cometer erros e muitas vezes a própria
Administração não segue os parâmetros do ordenamento jurídico, colocando em risco as
garantias dos cidadãos, em especial seu direito ao acesso igualitário aos cargos públicos, bem
como seu direito à boa administração.52

50
Idem, Ibidem, p. 102.
51
TOURINHO, Rita. Concurso Público no ordenamento jurídico brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008,
p. 139.
52
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 406.
25

Ressalta-se que, dada sua natureza jurídica, é inegável que todos os atos do
procedimento do concurso são passíveis de controle, seja administrativo, judicial ou outros
meios, inclusive o social. 53

A respeito das modalidades de controle, a doutrina destaca dois grandes tipos: o controle
administrativo e o judicial. No que se refere ao primeiro, conceitua-se, segundo Hely Lopes
Meirelles:

Controle administrativo é todo aquele que o Executivo e órgãos de administração dos


demais Poderes exercem sobre suas próprias atividades, visando mantê-las dentro da
lei, segundo as necessidades do serviço e as exigências técnicas e econômicas de sua
realização, pelo quê é um controle de legalidade e de mérito. Sob ambos esses
aspectos pode e deve operar-se o controle administrativo para que a atividade pública
em geral se realiza com legitimidade e eficiência, atingindo sua finalidade plena, que
é a satisfação das necessidades coletivas e atendimento dos direitos individuais dos
administrados.54

Por conseguinte, conclui o referido autor55 que tal controle decorre do poder-dever de
autotutela que a Administração possui para anular, revogar ou alterar seus atos, bem como de
punir seus agentes com as penalidades estatutárias.

Já em relação ao controle judicial, nas lições de Meirelles: “é aquele exercido pelos


órgãos do Poder Judiciário, sobre os atos administrativos do Executivo, do Legislativo e do
próprio Judiciário quanto realiza atividade administrativa.”56

A respeito desse controle, Matheus Carvalho 57 afirma que ele não obsta a atuação do
controle administrativo, de forma que a Administração Pública tem o poder para efetivar a
revisão de seus atos independentemente de provocação de interessando, como também a
decisão administrativa não impede que a matéria seja levada à apreciação do Poder Judiciário.

Visto isso, o controle, em matéria de concursos públicos, seja administrativo ou judicial,


possui diversos legitimados a exercer a fiscalização, dentre os quais, a exemplo, a Advocacia
Pública, a Defensoria Pública, o Tribunal de Contas, o Poder Judiciário, a sociedade e o
Ministério Público.

Diante do exposto, o controle do processo seletivo, em qualquer âmbito, é garantidor


dos princípios constitucionais e da correta efetividade dos direitos do cidadão, que ao participar
de um certame, tenha seu direito de acesso ao cargo público, e por outro lado, haja uma

53
Idem, Ibidem, p. 408.
54
MEIRELLES, Hely Lopes; BURLE FILHO, José Emmanuel. Op. cit., p. 801.
55
Idem, Ibidem, p. 802.
56
Idem, Ibidem, p. 845.
57
CARVALHO, Matheus. Op. cit., p. 403.
26

Administração que preste um serviço público adequado. Nada obstante, forte instituição que
contribui para tal controle, a qual ganha cada vez mais projeção em decorrência de sua atuação,
é o Ministério Público, cujas peculiaridades serão analisadas no capítulo a seguir.
27

2 DO MINISTÉRIO PÚBLICO: BREVES ASPECTOS HISTÓRICOS E


PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS RELEVANTES DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO BRASIL

Primeiramente, a fim da melhor compreensão do papel atual do Ministério Público, bem


como de sua importância no controle de legalidade dos atos administrativos, se faz necessário
levantar aspectos históricos dessa instituição no Brasil.

Sendo assim, antes de possuir o status de instituição como hoje é conhecido, havia
agentes do Poder Executivo que, nos períodos colonial e imperial do Brasil, desempenhavam
algumas funções típicas do Ministério Público. Nesse sentido, assevera Hugo Nigro Mazzilli
que: “no Brasil-Colônia e no Brasil-Império, o procurador-geral ainda centralizava o ofício, não
se podendo falar da instituição do Ministério Público nem de independência ou garantia dos
promotores públicos, que eram meros agentes do Poder Executivo. ”58

Destarte, mais especificamente no período imperial, a Constituição de 25 de março de


1824, omissa em relação ao Ministério Público, ordenou a criação dos Códigos Criminal, de
Processo Criminal, em seu artigo 179, inciso XVIII.59 60
Nada obstante, tal legislação penal
firmou o Parquet como acusador criminal. Nesse contexto, nas melhores explicações de
Marcelo Pedroso Goulart:

O promotor de justiça, nomeado pela Corte ou pelos presidentes de província, deveria


ser escolhido dentre as pessoas que pudessem ser jurados. O regulamento nº 120, de
31 de janeiro de 1843, definiu o promotor de justiça como servidor público demissível
ad nutum pelo Imperador ou pelos presidentes de Província. No império, pois, o
promotor de justiça foi tratado como mera longa manus do Executivo, e suas
atribuições reduziram-se praticamente à esfera criminal, muito embora o Aviso de 16
de janeiro de 1838 também lhe atribuísse o papel de fiscal da lei.61

58
MAZZILLI, Hugo Nigro. Manual do promotor de justiça. 2. ed., ampl. e atual. — São Paulo: Saraiva, 1991,
p. 6. Disponível em: <http://www.mazzilli.com.br/pages/livros/manualpj.pdf>. Acesso em: 05 de fevereiro de
2019.
59
Segue disposto constitucional de 1824, in verbis: “Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos
Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela
Constituição do Imperio, pela maneira seguinte.
[...]
XVIII. Organizar-se-ha quanto antes um Codigo Civil, e Criminal, fundado nas solidas bases da Justiça, e
Equidade.”
60
NOGUEIRA, Octaciano. 1824 (Coleção Constituições brasileiras, vol. 1). 3. ed. Brasília: Senado Federal,
2012. p. 85 e 86. Disponível em: <
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137569/Constituicoes_Brasileiras_v1_1824.pdf>. Acesso
em: 05 de fevereiro de 2019.
61
GOULART, Marcelo Pedroso. Ministério Público e democracia: teoria e práxis. São Paulo: LED, 1998, p.
77.
28

Nota-se, desse modo, que o Ministério Público, ainda que timidamente, começa a dar
seus primeiros passos, em que pese estivesse carente de independência funcional e outras
garantias constitucionais.

Por outro lado, durante a fase republicana, a sobredita instituição ganha mais força. É
bem verdade que os ideais republicanos se coadunam com a própria essência do Ministério
Público, embora na história do Brasil isso se conquistou lentamente. Nesse sentido, Mazzilli,
em suas lições, ao analisar o desenvolvimento do mencionado órgão durante a fase da república,
ressaltou que a partir daquele momento histórico o Ministério Público foi reconhecido como
instituição:

A primeira Constituição da República (1891) ainda não aludiu ao Ministério Público


enquanto instituição: apenas fez referência à escolha do procurador-geral e à sua
iniciativa na revisão criminal pro reo. Entretanto, diante do descortino de Campos
Salles, que era o Ministro da Justiça no Governo Provisório, o Ministério Público
passou a ser tratado como instituição no Decreto n. 848, de 11 de outubro de 1890,
que organizou a justiça federal (todo o Capítulo VI), o mesmo acontecendo com o
Decreto n. 1.030, de 14 de novembro de 1890, que organizou a justiça do Distrito
Federal.

Ressalvado o retrocesso operado na Carta ditatorial de 1937, podemos notar durante


o período republicano um nítido desenvolvimento institucional do Ministério Público,
sempre acompanhado de novos campos de atuação a ele conferidos pela legislação
ordinária. No Código de Processo Penal de 1941, o Ministério Público conquistou o
poder de requisição de inquérito policial e diligências, passando a ser regra sua
titularidade na promoção da ação penal, enquanto também se lhe atribuía a tarefa de
promover e fiscalizar a execução da lei. Nos Códigos de Processo Civil (1939 e 1973),
o Ministério Público conquistou crescente papel de órgão agente e interveniente.62

Desse modo, vale destacar a Carta Magna de 16 de julho de 1934, por meio da qual se
vislumbrou a vontade do constituinte em consagrar os princípios de independência funcional e
autonomia, tendo em vista que a instituição foi tratada em capítulo à parte destinado aos poderes
do Estado, bem como conferiu estabilidade aos seus membros, consubstanciando, inclusive, o
ingresso à carreira por meio de concurso público. 63 Embora, com algumas restrições relativas a
sua autonomia, como a possibilidade do Presidente da República nomear cidadãos não
pertencentes ao Ministério Público para o cargo de Procurador-Geral. 64

Não obstante o ocorrido na Carta política ditatorial de 10 de novembro 1937 que retirou
a independência da instituição, foi a partir da Constituição de 18 de setembro de 1946 que os
princípios anteriormente mencionados puderam retornar a nível constitucional, tais como:
ingresso na carreira mediante concurso público, estabilidade do membro da instituição após

62
MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit., p. 7.
63
GOULART, Marcelo Pedroso. Op. cit., p. 79.
64
Idem, Ibidem. p. 79.
29

dois anos de exercício no cargo, inamovibilidade, criação do sistema de promoção de entrância.


Apesar de tais avanços, a constituição previa que o Procurador-Geral poderia ser demitido ad
nutum pelo Presidente, o que na prática, transformava o cargo de chefe da instituição em cargo
de confiança, como também limitava sua atuação ante o Poder Executivo.65

De outra forma, a Constituição estabelecida durante a ditadura militar em 24 de janeiro


de 1967, se assemelhou muito à Carta de 1937 em relação ao Ministério Público, colocando-o
na seção IX do capítulo VIII, destinado ao Poder Judiciário, bem como manteve instrumentos
de subordinação ao Poder Executivo, como a possibilidade de demissão do Procurador-Geral.
Entretanto, com a Emenda Constitucional nº 01 de 1969, a instituição voltou a ser prevista como
na Carta Constitucional de 1946.66

Visto isso, a partir de 1969 até 1988, o Ministério Público conquista seu espaço com
apoio em leis infraconstitucionais. Desse modo, torna-se relevante seu crescimento com o
advento da Lei Complementar Federal nº 40 de 14 de dezembro de 1981, a qual estabeleceu
normas gerais a serem adotadas na organização do Ministério Público Estadual, lhe assegurando
suas principais garantias, atribuições e vedações.

Além dessa Lei Complementar, no período pré-constituição de 1988, outro importante


instrumento normativo que fortaleceu a instituição, foi a Lei no 7.347, de 24 de julho de 1985,
conhecida como a Lei da Ação Civil Pública, a qual consolidou imprescindível instrumento na
tutela dos direitos difusos, a exemplo da proteção ao meio-ambiente, ao consumidor e a bens
de valor histórico, turístico, artístico, entre outros.

Porém, seu grande avanço jurídico-constitucional se deu em 1988, como hoje o


conhecemos. Portanto, nas excelentes palavras de Mazzilli, foi “com a Constituição democrática
de 1988 que o Ministério Público brasileiro alcançou seu crescimento maior, sequer comparável ao
dos outros países, ainda que de semelhante tradição cultural. ” 67

Por fim, a figura do Ministério Público no Brasil, desde o período colonial até a
Constituição de 1988, conforme exposto, foi permeada de conquistas a fim de sua consolidação
institucional, saindo de mero agente acusador no juízo criminal, para instituição defensora dos
direitos coletivos e difusos, da democracia e dos ideais republicanos. Assim, alcança seu auge

65
Idem, Ibidem, p. 81 e 82.
66
Idem, Ibidem, p. 83 e 84.
67
MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit., p. 7.
30

como instituição dotada dessa finalidade, com a promulgação da Carta de 1988, consoante será
visto no tópico a seguir.

2.2 O MINISTÉRIO PÚBLICO NA ATUALIDADE E A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE


1988

É inegável a relevância do papel institucional do Ministério Público nos dias atuais, seja
no combate à corrupção, proteção dos direitos coletivos, da democracia e da legalidade dos atos
administrativos, entre outros. Ademais, a Constituição Federal de 1988 garantiu força para sua
atuação, sendo assim, destaca-se que cada vez mais o Ministério Público ganha protagonismo
social, de tal modo que se agregou respeito institucional, conhecido por alguns doutrinadores
como o “quarto poder”68, por conseguinte é imprescindível a análise do seu espectro
constitucional.

Visto isso, analisa-se o Ministério Público, de modo que a partir da Constituição Federal
de 1988, como bem preconiza o artigo 127, essa instituição passou a ter autonomia perante aos
demais poderes, in verbis:

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função


jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime
democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. 69

Desse modo, também se assegurou, por meio da Constituição de 1988, nos parágrafos
2º e 3º do supracitado artigo 70, a independência funcional, nas palavras de Marcos Kac:

Ao Ministério Público foram deferidos iniciativa legislativa, criação e extinção de


cargos, fixação de vencimentos e leis complementares, poder auto-organizacional,
listar atribuições através de estatuto próprio, elaboração de proposta orçamentária,

68
Denominação adotada por Alfredo Valladão, dessa maneira, vale ressaltar suas palavras, citado por Roberto
Lyra: “Se Montesquieu tivesse escrito hoje o Espírito das Leis, por certo não seria tríplice, mas quádrupla, a divisão
de poderes. Ao órgão que legisla, ao que executa, ao que julga, um outro acrescentaria ele: o que defende a
sociedade e a lei - perante a Justiça, parta a ofensa de onde partir, isto é, dos indivíduos ou dos próprios poderes
do Estado.”
VALLADÃO, Alfredo. Apud: LYRA, Roberto. Teoria e Prática da Promotoria Pública. 2ª. Ed. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 1989, p.15)
69
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. In: Presidência da República.
Legislação Federal. Constituição. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 31 de julho de 2018.
70
Vale mencionar o referido disposto literalmente: “Art. 127 [...] § 2º Ao Ministério Público é assegurada
autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a
criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas
e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento.
§ 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias.”
31

administrativa e financeira, passando, inclusive, a prover seus próprios cargos de


forma direta.71

Nesse contexto, segundo Marcelo Pedro Goulart 72, a nova ordem constitucional garante
independência funcional do Parquet frente aos órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, bem como a sua posição topográfica em capítulo distinto daqueles destinados aos
poderes do Estado, demonstra a disposição do constituinte em trata-lo como instituição dotada
de autonomia e independência, aos quais revelam-se sob o prisma jurídico-constitucional.

No que tange à atuação em relação ao controle da ordem jurídico-administrativa, após


a promulgação da Carta Magna, assevera Salgado Filho e Martins Júnior que:

O campo de atuação do Ministério Público foi ampliado pela Constituição de 1988,


cabendo ao parquet a promoção de inquérito civil e da ação civil pública para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos, sem a limitação imposta pelo art. 1º da Lei n. 7347/85.73

Destarte, Marcelo Pedroso Goulart74 destaca dois “modelos” de Ministério Público: o


demandista, que prefere atuar perante o Poder Judiciário, como agente processual, transferindo-
lhe a responsabilidade de resolver as diuturnas afrontas à lei, mormente no que se refere aos
direitos sociais e coletivos; e o resolutivo, que, valendo-se dos instrumentos de atuação à sua
disposição (inquérito civil ou procedimento administrativo, termo de ajustamento de conduta e
recomendação), faz deles uso efetivo e legítimo para a solução dos problemas que atentam
contra tais direitos.

Tratando do “modelo” repressivo, o controle pode ocorrer preventivamente ou


repressivamente em relação à ocorrência ou não do dano à sociedade, nesse sentido, Alexandre
Amaral Gavronski afirma que:

Essa resolutividade pode se manifestar tanto preventivamente, para evitar lesões a


direitos coletivos, com a instauração de inquéritos civis ou procedimentos
administrativos para acompanhamento da situação, providência que, não raro, é
suficiente para que o infrator, agente público ou privado, aja em conformidade com a
lei e os interesses coletivos, ou por meio de recomendações; quanto repressivamente,
por meio de termos de ajustamento de conduta.75

71
KAC, Marcos. O Ministério Público na Investigação Penal Preliminar. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2004.
p. 106.
72
GOULART, Marcelo Pedroso. Op. cit., p. 91.
73
SALGADO FILHO, Nilo Spinola; MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Ação Civil Pública: defesa do
patrimônio público e da moralidade administrativa. Revista dos Tribunais: São Paulo. v. 735. 1997. p. 161-
175.
74
GOULART, Marcelo Pedroso. Op. Cit., passim.
75
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Tutela coletiva: visão geral e atuação extrajudicial. Brasília: Escola
Superior do Ministério Público da União; Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, 2006. p.28
32

Desse modo, conforme assevera Goulart76, sua atuação está limitada pelos princípios e
objetivos fundamentais da República do Brasil, tendo como norte o projeto democrático
declinado pela Constituição. Assim sendo, destaca o mesmo autor o aspecto social do
Ministério Público, ao afirmar que o Parquet deve apresentar-se perante a sociedade como uma
das instituições criadoras de uma sociedade livre, justa e solidária, isso quer dizer que,
necessariamente, sua atividade confrontará setores da sociedade que conservam e concentram
riqueza e poder, aos quais alargam as desigualdades sociais.

Nesse sentido, o sobredito autor elucida que:

A defesa dos interesses coletivos e difusos implica, em regra, interferência em


relações estruturais, portanto, nas relações de produção de poder e de saber. Realça as
contradições sociais e, por isso, apresenta potencial transformador. Ou seja, se bem
trabalhada, a defesa de interesses coletivos e difusos pode abrir caminhos para
mudanças de caráter estrutural, que cumulativamente contribuem para a
transformação da sociedade.77

Nota-se, portanto, a amplitude do poder do Parquet como instituição garantidora dos


direitos coletivos. Assim, é evidente que essa atuação abrange também o controle de concursos
públicos, já que este possui princípios aos quais se violados, causarão lesão à coletividade,
cabendo a intervenção do Ministério Público como garantidor da ordem legal e jurídico-
administrativa da sociedade.

Nada obstante, é imperioso destacar que, atualmente, dada a abrangência de seu controle
jurídico preconizada pela Constituição, o Ministério Público passa a atuar como fiscal da ordem
jurídica, expressão consagrada no recente Código de Processo Civil de 2016, em vez de somente
fiscal da lei, como anteriormente conhecido. Nesse contexto, ainda nas palavras de Gavronski:

No primeiro dispositivo que trata de modo específico da atuação como interveniente


(art. 178), adiante mais bem analisado, o legislador fez alteração terminológica
singela, mas plena de significado, substituindo a consolidada denominação de “fiscal
da lei”, constante do art. 83 do CPC/1973 e de toda a legislação esparsa que trata da
intervenção, pela de “fiscal da ordem jurídica”, que é mais consentânea com o modelo
constitucional, não apenas em decorrência da redação do art. 127 da CF como da
moderna hermenêutica, que enfoca o caráter sistêmico do direito e reconhece força
normativa aos princípios.

[...]

É de se esperar que, na esteira da alteração legislativa, abandone-se a vetusta


expressão latina custos legis, que traz consigo a visão de um Ministério Público que
não existe mais desde a Constituição Federal de 1988. Para aqueles que prestigiam o

76
GOULART, Marcelo Pedroso. Op. cit., p. 104.
77
Idem, Ibidem, p. 104.
33

uso do latim na designação dessa forma de atuação, impõe-se agora, no mínimo,


substituir a expressão tradicional por custos juris.78

Além disso, a Carta constitucional de 1988 79 estipulou garantias aos membros do


Ministério Público, quais sejam: a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de
subsidio.

Por outro lado, também de forma expressa, a Lei Maior 80 estabeleceu vedações aos seus
membros, tais como: receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários,
percentagens ou custas processuais; exercer a advocacia; participar de sociedade comercial, na
forma da lei; exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma
de magistério; exercer atividade político-partidária; receber, a qualquer título ou pretexto,
auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
exceções previstas em lei; e, exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes
de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.

Dessa maneira, entende-se da interpretação do texto constitucional, a preocupação do


constituinte em fortalecer a instituição, lhe garantindo autonomia e independência, para que
cumpra suas funções institucionais, previstas no artigo 129 da Carta de 1988, sendo este um rol
meramente exemplificativo, conforme inciso IX do mesmo artigo, bem como diante da
amplitude da atuação do Ministério Público em sociedade, tal como visto neste capítulo.

Portanto, diante de todo o exposto, a Constituição da República de 1988 trouxe avanços


significativos ao Parquet. Consolidou, assim, a referida instituição para que esta atue de forma
a garantir os postulados republicanos vigentes, bem como tutele em prol dos direitos de toda a
sociedade, sejam estes coletivos, difusos ou individuais indisponíveis, sendo sua atividade
essencialmente fiscal da ordem jurídica, para além do simples controle de legalidade. Nos dias
atuais, conquistou o respeito dos brasileiros com brilhantes atuações, seja no combate a
corrupção, a exemplo da famosa “Operação Lava Jato”, seja na defesa do meio-ambiente, dentre
outras áreas, e cada vez mais, no ramo dos concursos públicos.

Por fim, é válido ressaltar que, por ser uma instituição constitucional essencial à função
da justiça, está dotada de princípios aos quais corroboram para uma dogmática mais consistente,
de maneira a serem explorados especificadamente no tópico seguinte.

78
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. A intervenção do Ministério Público no novo Código de Processo Civil. In:
ANJOS FILHO, Robério Nunes dos; RODRIGUES, Geisa de Assis (organizadores). Reflexões sobre o novo
Código de Processo Civil. 2 v. Brasília: ESMPU, 2016, p. 45 e 46.
79
Cf. Artigo 128, §5º, inciso I, alíneas “a”, “b” e “c” da Constituição Federal de 1988.
80
Cf. Artigo 128, § 6º e §5º, inciso II, alíneas “a”, “b”, “c”, “d”, “e” e “f” da Constituição Federal de 1988.
34

2.3 PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Conforme analisado no primeiro capítulo, a Constituição, norma acima das demais, está
repleta de princípios explícitos ou implícitos. Ao tratar do Ministério Público, em seu artigo
127, parágrafo primeiro, expressa que “são princípios institucionais do Ministério Público a
unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. ”81

Em relação ao primeiro princípio, nada mais significa que os membros do Ministério


Público compõem um órgão único. Entende-se, dessa forma, nas nobres lições de Marcos Kac
que a “unidade é o não fracionamento da Instituição, constituindo-se a mesma em um só todo
e, independentemente do órgão ou membro que está se manifestando judicial ou
extrajudicialmente, será sempre o Ministério Público a emitir o seu posicionamento.”82

Vale destacar, ainda, a respeito da unidade desse órgão, nas palavras de Hugo Mazzilli,
que “a unidade é o conceito de que os promotores de um Estado integram um só órgão sob a direção
de um só chefe.”83

Nada obstante, o Parquet é único, ainda que haja repartições de competência (Ministério
Público da Federal, Ministério Público do Trabalho, entre outros...), todos possuem as mesmas
garantias, funções e prerrogativas, com base na Constituição e respectiva lei complementar,
incumbidos de desempenharem as mesmas atribuições, em especial na garantia da ordem legal,
constitucional e democrática, bem como na tutela dos direitos coletivos, difusos ou individuais
indisponíveis.

Outrossim, no tocante ao segundo princípio mencionado, a indivisibilidade coaduna-se


com o princípio da unidade, na medida em que assegura que o membro da sobredita instituição,
ao se manifestar, representa o todo, podendo haver substituições de membros entre si, nos
termos da lei, já que estes representam todo o órgão. Ou seja, nas palavras do Hugo Nigro
Mazzilli, a “indivisibilidade significa que seus membros podem ser substituídos uns pelos
outros, ‘não arbitrariamente, porém, sob pena de grande desordem, mas segundo a forma
estabelecida na lei. ’ ”84

Por último, no que se refere ao terceiro princípio, a independência funcional é um dos


mais importantes postulados do Ministério Público. Nesse sentido, parte-se da premissa que a

81
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. In: Presidência da República.
Legislação Federal. Constituição. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 31 de julho de 2018.
82
KAC, Marcos. Op. cit., p. 124.
83
MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit., p. 48.
84
Idem, Ibidem, p. 48.
35

atuação do Ministério Público deve ser independente, ou seja, todos os membros gozam de
independência em suas funções.85 Destarte, nos ensinamentos de Mazzilli:

Independência Funcional é o princípio segundo o qual cada membro e cada órgão do


Ministério Público gozam de independência para exercer suas funções em face dos
outros membros e órgãos da mesma instituição. Isso significa que, no exercício da
atividade-fim do Ministério Público, cada qual deles pode tomar as decisões últimas
afetas à instituição, sem se ater a ordens de outros membros ou órgãos da mesma
instituição.86

Portanto, diante do exposto, nota-se que o constituinte concretizou a instituição do


Ministério Público expressamente, garantindo-lhe todas as prerrogativas e funções a serem
desempenhadas na melhor atuação para o controle e fiscalização da ordem jurídica. Desse
modo, determinou princípios essenciais à criação da figura do Parquet, a qual conhecemos hoje,
com independência e autonomia, consubstanciando em grande respeito perante a sociedade,
bem como protagonista na defesa dos direitos fundamentais.

Se faz imprescindível, por conseguinte, salientar que sua atividade está organizada
seguindo a distribuição de competência prevista na Constituição, que assim determinou sua
formação. No âmbito dos concursos públicos, isso se faz relevante conforme demonstrado no
tópico que segue.

2.4 DISTRIBUIÇÃO DA COMPETÊNCIA EM SUA ATUAÇÃO NO CONTROLE DE


CONCURSOS PÚBLICOS

Como é sabido, para que haja efetividade na atuação ministerial, é mister que o exercício
de sua atividade seja organizado por distribuição de competência conforme a Constituição
Federal de 198887 assim expressa. Em seu artigo 128, determina que o Ministério Público
abrange o Ministério Público dos Estados, e o Ministério Público da União que compreende o
Ministério Público Federal, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar, o
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.

85
Idem, Ibidem, p. 81.
86
Idem. Introdução ao Ministério Público. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 67.
87
Cita-se o artigo 128, incisos I e II, ipsis litteris:
Art. 128. O Ministério Público abrange:
I - o Ministério Público da União, que compreende:
a) o Ministério Público Federal;
b) o Ministério Público do Trabalho;
c) o Ministério Público Militar;
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II - os Ministérios Públicos dos Estados.
36

Visto isso, a distribuição de competência do Ministério Público em concursos públicos


está diretamente ligada perante ao juízo de atuação ministerial, bem como a sua legitimidade
processual face à demanda. Nesse sentido, o artigo 109, inciso I da Constituição Federal,
expressa que:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem


interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do
Trabalho;88

Tendo em conta tal dispositivo, já se consolidou na jurisprudência dos tribunais, que a


competência na esfera cível, do referido artigo constitucional é ratione personae, ou seja, para
fixar a competência da Justiça Federal, basta que a ação civil pública seja proposta pelo
Ministério Público Federal. 89

Dessa maneira, incumbirá ao Ministério Público Federal investigar e atuar em casos em


que há concursos públicos com interesse da União, como servidores públicos estatutários da
administração direta ou indireta, salvo as sociedades de economia mista. Nesse contexto, há os
Enunciados nº 04 e 14 da 1ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal 90

88
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. In: Presidência da República.
Legislação Federal. Constituição. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 31 de julho de 2018.
89
Em sua decisão, no Recurso Extraordinário n. º 773798, o Ministro Zavascki citou: “Figurando o Ministério
Público Federal, órgão da União, como parte na relação processual, a um juiz federal caberá apreciar a demanda,
ainda que seja para dizer que não é ele, e sim o Ministério Público Estadual, o que tem legitimação ativa para a
causa. Para efeito de competência, como se sabe, pouco importa que a parte seja legítima ou não. A existência ou
não da legitimação deve ser apreciada e decidida pelo juiz considerado competente para tanto, o que significa que
a questão competencial é logicamente antecedente e eventualmente prejudicial à da legitimidade das partes. Para
efeito de competência, o critério ratione personae (que é o estabelecido no art. 109, I, da CF) é considerado em
face apenas dos termos em que foi estabelecida a relação processual. Em outras palavras, para efeito de
determinação de competência, o que se leva em consideração é a parte processual, o que nem sempre coincide
com a parte legítima. Parte processual é a que efetivamente figura na relação processual, ou seja, é aquela que
pede ou em face de quem se pede a tutela jurisdicional numa determinada demanda. Já a parte legítima é aquela
que, segundo a lei, deve figurar como demandante ou demandada no processo.”
Referência: BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. º 773798/RJ. Direito
Administrativo e outras matérias de Direito Público. Atos Administrativos. Improbidade Administrativa. Direito
Processual Civil e do Trabalho. Jurisdição e competência. Competência. Recorrente: Edson Bedim de Azeredo.
Recorrido: Ministério Público Federal. Relator: Min. Teori Zavascki. Brasília, Diário da Justiça Eletrônico, 06 de
outubro de 2015. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=307869084&tipoApp=.pdf>. Acesso em: 10 fev.
2019.
90
A 1ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal é órgão Colegiado que possui atribuições
de Coordenação, Integração e Revisão do exercício funcional dos Membros do Ministério Público Federal, previsto
na Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993, a qual dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto
do Ministério Público da União.
37

91 92
, os quais esclarecem que não é atribuição do Ministério Público Federal apurar
irregularidades em concursos públicos no âmbito estadual, municipal ou distrital, nem
referentes a sociedades de economia mista.

Por conseguinte, é residual a competência do Ministério Público Estadual (este


responsável pela apuração de irregularidades em certames estaduais e municipais) ou Ministério
Público do Distrito Federal e Territórios.

Ainda, conforme o supracitado artigo constitucional combinado com o artigo 114, inciso
I, da Lei Maior 93, entende-se que, no tocante a apuração de irregularidades em concursos para
provimentos de cargos regidos pela Consolidações das Leis Trabalhistas (relação contratual de
emprego), será da competência do Ministério Público do Trabalho, em qualquer ente da
administração (União, Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios).

Salienta-se, por oportuno, que o Ministério Público Militar não atua no âmbito dos
concursos públicos, tendo em vista que sua atuação, conforme artigo 116 e seguintes da Lei
Complementar nº 75 de 20 de maio de 1993, está limitada à apuração de crimes militares,
previstos no Código Penal Militar, representando perante a Justiça Militar.

Por todo o exposto no presente capítulo, conclui-se que o Ministério Público é, não
somente pelos aspectos constitucionais, mas também históricos, instituição essencial ao pleno
desempenho da justiça, da defesa da democracia e dos direitos constitucionais e legais. No
âmbito dos concursos públicos, ou seja, na seara da tutela coletiva cível, destaca-se cada vez
mais sua atuação nesses conflitos, conforme se analisará no próximo capítulo. Assim, o
Ministério Público, atualmente, tem sido uma esperança tanto aos candidatos que se sentem
injustiçados em diversos certames, no combate às irregularidades, como também aos cidadãos

91
Cf. Enunciado nº 4: Ausência de atribuição do Ministério Público Federal para apurar
irregularidades/ilegalidades relativas a concursos públicos estaduais, distritais ou municipais
A apuração de supostas irregularidades ou ilegalidades praticadas em concursos públicos ou quaisquer processos
seletivos para provimento de cargos ou empregos públicos municipais, estaduais ou distritais não é da atribuição
do Ministério Público Federal. Referência: Ata da 19ª Sessão Extraordinária realizada em 16.12.2014, publicada
em 03.07.2015
92
Cf. Enunciado nº 14: Ausência de atribuição do Ministério Público Federal para apurar fatos relacionados a
concurso público para provimento de cargos em sociedade de economia mista.
A apuração de fatos relacionados a concurso público para provimento de cargos em sociedade de economia mista
não é, em regra, da atribuição do Ministério Público Federal. Enunciado alterado conforme deliberação do
Colegiado na 4ª Sessão de Coordenação (6/8/2018).
93
Cita-se o artigo 114, inciso I, da Constituição Federal de 1988, in verbis:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração
pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
38

que esperam uma boa prestação do serviço público e respeito das normas legais por parte da
Administração.

Portanto, vislumbra-se que o parquet é instituição essencial garantidora da legalidade


dos certames, em que pese haja, em sua atuação, muitos obstáculos que dificultem a plena
efetividade de sua função no controle jurídico-administrativo. Sob essa ótica, a necessidade de
tomar medidas de maneira rápida (a fim de evitar maior dano), a dificuldade em colher provas
e a potencial consequência de suas decisões, são exemplos de algumas dificuldades enfrentadas
na atuação de seu controle jurídico-administrativo.

Não restam dúvidas, por conseguinte, que o Ministério Público é legitimado para a
fiscalização dos certames no Brasil. Nesse sentido, Fábio Lins de Lessa Carvalho explica que:

Outro legitimado para a fiscalização dos processos seletivos brasileiros é o Ministério


Público, órgão com ampla autonomia, que tem como missão, segundo o art. 127 da
Constituição: “(...) a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos
interesses sociais e individuais indisponíveis. ”

O Ministério Público tanto pode atuar no âmbito administrativo através de


procedimentos investigativos (inquérito administrativo), onde pode solicitar
informações com respeito dos atos da Administração (no caso, atos dos concursos
públicos), e, se necessários, instar a celebração de Termos de Ajustamento de
Conduta, como também pode intervir no âmbito judicial, seja no âmbito penal, como
no civil, especialmente através da ação civil pública.94

Nada obstante, embora haja algumas dificuldades, os instrumentos de apuração das


irregularidades dos certames, seja na esfera administrativa ou judicial, utilizados pelo Parquet
merecem estudo específico, dada sua amplitude, bem como as suas peculiaridades e notória
capacidade de resolução das demandas, conforme será demonstrado no capítulo a seguir.

94
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Concursos públicos no direito brasileiro. Curitiba: Juruá, 2015, p. 443.
39

3 A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTROLE DE CONCURSOS


PÚBLICOS

3.1 DA AMPLITUDE DO CONTROLE EM TODAS AS ETAPAS DE CONCURSOS


PÚBLICOS NA DEFESA DOS INTERESSES COLETIVOS E DIFUSOS DA
SOCIEDADE

É mister salientar que o alcance na atuação do Ministério Público no controle de


certames pode ser exercido em qualquer fase destes, seja interna ou externa, em função da sua
incumbência constitucional na tutela dos direitos e garantias fundamentais coletivos e difusos.

Inicialmente, cabe mencionar os conceitos de fase interna e externa do concurso público.


A primeira, segundo Diógenes Gasparini95, pode ser entendida como aquela em que a
Administração Pública será convencida da necessidade em realizar o concurso público, por
meio de levantamento de informações indispensáveis à efetuação do certame, tais como,
balanço de cargos vagos (como também suas remunerações e atribuições), previsão de dotação
orçamentária, elaboração das normas do edital, estabelecimento da taxa de inscrição, assim por
diante. Em suma, são todos os procedimentos preparatórios do concurso público, até a
publicação de seu edital.

Por outro lado, a fase externa, ainda de acordo com o supracitado autor 96, é aquela
conhecida por “concurso de ingresso no serviço público propriamente dito”, ou seja, essa fase
está relacionada com o desenvolvimento do certame, a exemplo, o procedimento de abertura,
deferimento ou indeferimento de inscrição, promoção das provas, publicação de resultados,
homologação, entre outros.

Visto isso, é inegável que ambas as fases referidas são passíveis de controle. Nesse
sentido, Fábio Lins de Lessa Carvalho destaca que:

É plenamente possível afirmar que todos os atos dos processos administrativos de


concurso público estão submetidos a controle, seja administrativo, judicial ou por
outros meios (inclusive social), tanto que esse é um dos princípios da referida
atividade administrativa (sindicabilidade), como já sublinhado. 97

Desse modo, depreende-se que é possível a atuação ministerial na fase interna do


certame (desde a criação das carreiras públicas por lei, da contratação da entidade externa que
organizará o concurso, bem como o controle do edital e todas as questões que o envolve, a

95
GASPARINI, Diógenes. Concurso público – imposição constitucional e sua operacionalização. In: MOTTA,
Fabrício (Coord.). Concurso público e Constituição. Belo Horizonte: Fórum, 2005, p. 51-57.
96
Idem, Ibidem, p. 57.
97
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Concursos públicos no direito brasileiro. Curitiba: Juruá, 2015, p. 408.
40

exemplo de regras para participação, utilização das cotas para pessoas com deficiência e cotas
raciais), como em sua fase externa (questões que atingem os interesses difusos, fraudes nas
provas, controle das nomeações, entre outros).

Entretanto, é na fase externa que se verifica a maior incidência da sua atuação, embora
a fase interna seja igualmente importante na regularidade do certame. Isso ocorre porque na
fase externa há maior interesse dos candidatos, tendo em vista a disputa dos concorrentes,
momento em que estes mais se relacionam com a Administração Pública. 98

Insta esclarecer que a referida amplitude não se confunde com uma atuação ilimitada,
dessa forma, a atividade do Ministério Público está regida por normas e princípios, às quais
fundamentam a utilização de seus procedimentos a fim de garantir a supremacia do interesse
público.

Nada obstante, é imprescindível ressaltar os instrumentos de atuação do Parquet os


quais viabilizam seu controle, em qualquer etapa do certame. Destarte, os mecanismos podem
ser administrativos ou judiciais, exercendo tanto um controle prévio, como posterior, em busca
da melhor adequação da Administração aos princípios constitucionais de concursos públicos,
apurando suas irregularidades, e as sanando, de modo a assegurar os direitos fundamentais da
coletividade, conforme se demonstrará nos tópicos a seguir.

3.2 DOS PROCEDIMENTOS EXTRAJUDICIAIS NA VERIFICAÇÃO DE


IRREGULARIDADES DOS CERTAMES

De início, é imperioso destacar que o sistema normativo brasileiro está voltado para o
incentivo à utilização das vias extrajudiciais na busca pela solução dos conflitos da sociedade.
O estímulo à autocomposição, dessa forma, passa a ser um princípio, pautado por forte política
pública de tratamento adequado dos conflitos jurídicos, bem como pelo Poder Legislativo, com
a elaboração de diversas leis nesse sentido.99

Diante desse contexto, Fredie Didier Júnior elucida em relação a solução consensual de
conflitos:

Compreende-se que a solução negocial não é apenas um meio eficaz e econômico de


resolução de litígios: trata-se de importante instrumento de desenvolvimento da
cidadania, em que os interessados passam a ser protagonistas da construção da decisão
jurídica que regula as suas relações. Nesse sentido, o estímulo à autocomposição pode

98
Idem, Ibidem, p. 411.
99
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito processual civil, parte
geral e processo de conhecimento. vol 1. 17ª. ed. Salvador: Juspodivm. 2015, p. 273.
41

ser entendido como um reforço a participação popular no exercício do poder – no


caso, o poder de solução de litígios. Tem, também por isso, forte caráter democrático

[...]

O sistema do direito processual civil brasileiro é, enfim, estruturado no sentido de


estimular a autocomposição.100

Visto isso, a Lei nº 13.105, de março de 2015, o recente Código de Processo Civil, não
por coincidência, estabeleceu em seu artigo 3º, parágrafos 2º e 3º, litteris:

Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.

[...]

§2º o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.

§3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos


deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do
Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.101

Ademais, é sabido que, geralmente, quando há um conflito entre o particular e a


administração, tenta-se resolver primeiramente o litígio na esfera administrativa, e caso não
haja solução, parte-se para o âmbito judicial. Desse modo, a seara extrajudicial passa a assumir
protagonismo no cenário jurídico nacional recente.

Sendo assim, a doutrina entende que há três áreas de proteção dos direitos difusos e
coletivos, a primeira se dá na esfera política, com a formulação de normas; a segunda, no âmbito
extrajudicial; e a terceira na seara judicial, com ações coletivas. 102 Especialmente, em relação
ao âmbito extrajudicial, este:

[...] conheceu extenso desenvolvimento na experiência brasileira. Promovida


principalmente pelo Ministério Público, e mais recentemente pela Defensoria Pública,
o uso de instrumentos administrativos como inquéritos civis (uma exclusividade do
MP), compromissos de ajustamento de conduta e recomendações tem sido muito
frequente. 103

Nada obstante, em relação ao Ministério Público, os procedimentos extrajudiciais


ganham cada vez mais destaque e importância, já que além de possuir amplos instrumentos,

100
Idem, ibidem, p. 273.
101
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 2015. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 15 fev. 2019.
102
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça Pesquisa – Relatório Analítico Propositivo. Direitos e
Garantias Fundamentais. Ações Coletivas no Brasil: Temas, atores e desafios da tutela coletiva. CNJ,
Brasília: 2017. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/03/799b01d7a3f27f85b334448b8554c914.pdf >. Acesso em:
16 fev. 2019, p. 16.
103
Idem, Ibidem, p. 16.
42

estes muitas vezes são suficientes para corrigir possíveis irregularidades praticadas pela
Administração. O Parquet, por conseguinte, não tem sua atuação limitada aos processos
judiciais. Nesse contexto, Sérgio Gilberto Porto elucida:

Oportuno destacar, também, que o Ministério Público não é órgão de atuação


exclusivamente processual, pois dentre suas missões institucionais encontra-se uma
gama infindável de atribuições extraprocessuais, muitas as quais desconhecidas dos
demais profissionais do Direito e da própria sociedade. Por exemplo, quando instala
e desenvolve inquérito civil, fiscaliza fundações, prisões e delegacias de polícia, como
também quando procede ao exame das habilitações de casamento ou homologa
acordos ou ainda quando estabelece os compromissos de ajustamento. Nesta medida,
nota-se que o teatro de operações do Ministério Público se alarga e extrapola a órbita
judicial, daí ter dito o legislador constituinte menos do que devia, na medida em que
a instituição também é essencial em tarefas não-jurisdicionais a si incumbidas.104

Outrossim, no âmbito da tutela coletiva, esses instrumentos administrativos são


essenciais. Nesse sentido, Alexandre Amaral Gavronski, ao realçar e diferenciar o âmbito da
tutela com outras áreas de atuação do Ministério Público, destaca:

Há, por isso, uma grande diferença em relação às demais áreas de atuação no que se
refere ao acompanhamento, impulso e registro dos procedimentos. Enquanto nos
inquéritos e processos os autos chegam na procuradoria, vão aos gabinetes (onde há
manifestação do procurador) e posteriormente voltam para a Polícia ou para a Justiça
(uma espécie de "bate-volta"), na tutela coletiva os procedimentos são movimentados
inúmeras vezes dentro da própria procuradoria, antes da adoção de alguma
providência judicial que, não raro, torna-se dispensável, pois a situação é resolvida no
âmbito do procedimento, com mais celeridade e efetividade no cumprimento da
missão constitucional. Em razão dessa distinção, há muito mais trabalho de apoio
administrativo na tutela coletiva que nas demais áreas.105 (grifos do autor)

No tocante à atuação ministerial no âmbito do controle de concursos públicos de


maneira extrajudicial, esta se revela mecanismo imprescindível, consoante se demonstrará nos
itens a seguir. Destarte, aborda-se alguns aspectos dogmáticos dos instrumentos de cunho
administrativos, especificadamente no âmbito da tutela coletiva, em relação à apuração e
correção de possíveis irregularidades, tais como notícia de fato, procedimento administrativo,
inquérito civil, recomendações e o termo de ajustamento de conduta.

A notícia de fato

Em conformidade com o antes visto, normalmente, a investigação do Ministério Público


começa com a instauração de um procedimento extrajudicial, inclusive se o objeto do
procedimento versar sobre concursos públicos. Dessa maneira, a notícia de fato é um tipo de

104
PORTO, Sérgio Gilberto. Sobre o Ministério Público no processo não criminal. 2ª. ed. Rio de Janeiro: AIDE,
1998. p. 16.
105
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Tutela coletiva: visão geral e atuação extrajudicial. Brasília: Escola
Superior do Ministério Público da União; Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, 2006, p. 26.
43

procedimento inicial, voltada para a análise, dentre outros aspectos, da competência de


apreciação da matéria por parte do Ministério Público.

Assim, o artigo 1º da Resolução nº 174, de 4 de julho de 2017, do Conselho Nacional


do Ministério Público, expressa que:

Art. 1º A Notícia de Fato é qualquer demanda dirigida aos órgãos da atividade-fim do


Ministério Público, submetida à apreciação das Procuradorias e Promotorias de
Justiça, conforme as atribuições das respectivas áreas de atuação, podendo ser
formulada presencialmente ou não, entendendo-se como tal a realização de
atendimentos, bem como a entrada de notícias, documentos, requerimentos ou
representações. 106

Desse modo, é a partir da notícia de fato que o membro do Ministério Público recebe a
representação ou denúncia do fato, mormente analisa-se as atribuições da sua área de atuação.
No âmbito dos concursos, geralmente a matéria é da área cível, ademais, pode o procedimento
tramitar, como já exposto nesta monografia, entre os Ministérios Públicos Federal, Estadual, do
Distrito Federal e Territórios ou do Trabalho, a depender do objeto investigado no bojo do
procedimento.

Não obstante, é possível a obtenção por parte do Ministério Público dos primeiros
indícios ou informações, já nessa fase, para que se possa deliberar sobre a instauração dos autos
(seja um inquérito civil ou procedimento preparatório), sendo vedada a expedição de
requisições, conforme artigo 3º, parágrafo único, da resolução supracitada.107 Dessa maneira,
entende-se que é possível solicitar informações ou esclarecimentos da própria notícia
(representação ou denúncia) apresentada.

Ademais, expressa o caput do mesmo artigo 108, que a notícia de fato será apreciada no
prazo 30 (trinta dias), a contar do seu recebimento, podendo ser prorrogada de maneira
fundamentada até 90 (noventa) dias.

106
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 174, de 4 de julho de 2017.
Disciplina, no âmbito do Ministério Público, a instauração e a tramitação da Notícia de Fato e do Procedimento
Administrativo. Brasília, 2017. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-174-1.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2019
107
Nesse sentido, cita-se o dispositivo integralmente:
“Art. 3º [...]
Parágrafo único. No prazo do caput, o membro do Ministério Público poderá colher informações preliminares
imprescindíveis para deliberar sobre a instauração do procedimento próprio, sendo vedada a expedição de
requisições.”
108
Assim expõe o artigo, litteris: “Art. 3º A Notícia de Fato será apreciada no prazo de 30 (trinta) dias, a contar
do seu recebimento, prorrogável uma vez, fundamentadamente, por até 90 (noventa) dias. ”
44

A respeito de seu prazo, é importante lembrar que, na seara da investigação de concursos


públicos, o Parquet deve agir o mais rápido possível, tendo em vista que o demasiado tempo
de um procedimento é um fator negativo.

Nesse sentido, vislumbra-se que, na prática, quanto mais tempo levar a investigação,
mais difícil será de reverter o quadro de uma possível irregularidade. Por exemplo, caso
nenhuma medida seja tomada e o procedimento se prolongue, poderia haver a convocação de
aprovados em um certame irregular, de modo que, nesse exemplo, o membro do Ministério
Público deveria possuir um arcabouço probatório significativo, além de argumentos
convincentes, caso fosse necessário pedir a suposta exoneração de servidores públicos, já na
esfera judicial.

Além disso, no tocante ao não prosseguimento da notícia de fato, é importante destacar


que, não havendo os motivos para o procedimento extrajudicial, a notícia de fato poderá ser
arquivada, nos seguintes termos do artigo 4º da referida resolução, in verbis:

Art. 4º A Notícia de Fato será arquivada quando: (Redação alterada pela Resolução nº
189, de 18 de junho de 2018)

I – o fato narrado já tiver sido objeto de investigação ou de ação judicial ou já se


encontrar solucionado; (Redação alterada pela Resolução nº 189, de 18 de junho de
2018)

II – a lesão ao bem jurídico tutelado for manifestamente insignificante, nos termos de


jurisprudência consolidada ou orientação do Conselho Superior ou de Câmara de
Coordenação e Revisão; (Redação alterada pela Resolução nº 189, de 18 de junho de
2018)

III – for desprovida de elementos de prova ou de informação mínimos para o início


de uma apuração, e o noticiante não atender à intimação para complementá-la.
(Redação alterada pela Resolução nº 189, de 18 de junho de 2018)

[…]

§ 4º Será indeferida a instauração de Notícia de Fato quando o fato narrado não


configurar lesão ou ameaça de lesão aos interesses ou direitos tutelados pelo
Ministério Público ou for incompreensível. 109

Portanto, a relevante peculiaridade da notícia de fato está relacionada com o primeiro


contato do Ministério Público com as possíveis irregularidades, sendo imprescindível sua
rápida análise da matéria, bem como a verificação da possibilidade de atuação do Parquet.

109
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 174, de 4 de julho de 2017.
Disciplina, no âmbito do Ministério Público, a instauração e a tramitação da Notícia de Fato e do Procedimento
Administrativo. Brasília, 2017. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-174-1.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2019
45

Dessa maneira, com o recebimento da notícia de fato, deve estar clara a legitimidade do
Ministério Público para sua atuação no âmbito dos concursos, em especial os interesses
coletivos ou difusos tutelados, de forma a delimitar o objeto do procedimento especificamente.

O procedimento administrativo

De outro plano, importante mecanismo utilizado pelo Ministério Público é o


procedimento administrativo. Segundo o artigo 8º da Resolução nº 174/2017, o seu conceito é,
ipsis litteris:

Art. 8° O procedimento administrativo é o instrumento próprio da atividade-fim


destinado a:

I – acompanhar o cumprimento das cláusulas de termo de ajustamento de conduta


celebrado;

II – acompanhar e fiscalizar, de forma continuada, políticas públicas ou instituições;

III – apurar fato que enseje a tutela de interesses individuais indisponíveis;

IV – embasar outras atividades não sujeitas a inquérito civil.110

Depreende-se, portanto, que se trata de um instrumento, por meio do qual o Ministério


Público acompanha a atividade da Administração. Corrobora-se a isso, conforme o parágrafo
único do mesmo artigo, o qual expressa que: “O procedimento administrativo não tem caráter
de investigação cível ou criminal de determinada pessoa, em função de um ilícito específico.”111

Em relação ao termo “procedimento administrativo”, ressalta-se, por oportuno, que não


se refere ao conceito de “procedimento administrativo” em lato sensu, mas, tão somente, a uma
espécie de procedimento próprio utilizado pelo Parquet com a natureza preponderantemente,
conforme se observa por meio das normas mencionadas, de acompanhamento de atos da
Administração Pública.

Assim sendo, como visto no presente estudo, o Parquet tem o dever de fiscalizar os atos
administrativos, dada sua incumbência constitucional de garantir a legalidade, exercendo um
controle dos atos da Administração. Surge, a partir de então, a ideia do procedimento
administrativo ora estudado no presente tópico.

De mais a mais, o procedimento, em especial na seara de concursos públicos, merece


considerável importância, tendo em vista que é utilizado para o acompanhamento seja de

110
Idem, Ibidem.
111
Idem, Ibidem.
46

cumprimento dos termos de ajustes de conduta ou de recomendações. A respeito destes, serão


analisados em tópico específico adiante.

Entretanto, é imperioso destacar que o procedimento administrativo serve como um


apoio ao fiel cumprimento das decisões e determinações vinculadas à administração. Nesse
sentido, em sede de concursos públicos, geralmente está relacionado às obrigações em
acompanhar a realização do certame, bem como o cumprimento de normas legais pelos editais,
e até mesmo a observância na criação de cargos a serem providos por meio de concursos, dentre
outros.

Por fim, ante o exposto, verifica-se que o procedimento administrativo é mecanismo


fundamental no acompanhamento ministerial por parte dos órgãos públicos na elaboração e
aplicação de concursos, sendo, portanto, instrumento de fiscalização exercido pelo Parquet a
fim de garantir a legalidade dos atos e procedimentos administrativos.

O inquérito civil

De outra banda, o inquérito civil é o instrumento extrajudicial por intermédio do qual o


membro do Ministério Público realiza maior parte de suas diligências. A Resolução nº 23, de
17 de setembro de 2007, do Conselho Nacional do Ministério Público, a qual regulamenta os
artigos 6º, inciso VII, e 7º, inciso I, da Lei Complementar nº 75/93 e os artigos 25, inciso IV, e
26, inciso I, da Lei nº 8.625/93, disciplinando, no âmbito do Ministério Público, a instauração
e tramitação do inquérito civil, expressa em seu primeiro artigo que, litteris:

Art. 1º O inquérito civil, de natureza unilateral e facultativa, será instaurado para


apurar fato que possa autorizar a tutela dos interesses ou direitos a cargo do Ministério
Público nos termos da legislação aplicável, servindo como preparação para o exercício
das atribuições inerentes às suas funções institucionais.112

Desse modo, o inquérito civil tem natureza jurídica de procedimento administrativo não
obrigatório, com o objetivo de investigar fato que enseje a possível tutela dos direitos coletivos
ou difusos, servindo como base para o fiel cumprimento dos interesses do Ministério Público,
bem como a concretização de suas funções legais ou institucionais.

112
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 23, de 17 de setembro de 2007.
Regulamenta os artigos 6º, inciso VII, e 7º, inciso I, da Lei Complementar nº 75/93 e os artigos 25, inciso IV, e
26, inciso I, da Lei nº 8.625/93, disciplinando, no âmbito do Ministério Público, a instauração e tramitação do
inquérito civil. Brasília, 2007. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-174-1.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2019.
47

Ademais, ressalta-se que nos termos do parágrafo único do artigo supracitado: “O


inquérito civil não é condição de procedibilidade para o ajuizamento das ações a cargo do
Ministério Público, nem para a realização das demais medidas de sua atribuição própria.” 113

Outrossim, o inquérito civil, com base na mencionada resolução, possui as seguintes


características: a possibilidade de ser instaurado ex officio114; bem como o princípio da
prevenção do membro do Ministério Público incumbido de realizar as investigações.115

Apesar do princípio da prevenção ser um bom aliado na melhor investigação e


prosseguimento de uma possível ação, cabe esclarecer que no Ministério Público ainda não há
um ofício ou núcleo específico apenas para a apuração de concursos públicos. Dessa maneira,
os procedimentos que versam sobre esse objeto, geralmente ficam no âmbito do Ofício da
“Tutela Coletiva”. No tocante a esta, vale citar as palavras de Alexandre Amaral Gavronski, ao
tecer comentários a respeito das diferenças entre o inquérito no âmbito criminal e o da tutela
coletiva:

Enquanto que na apuração criminal é a Polícia Federal que, via de regra, conduz o
inquérito policial (com seus agentes preparados especificamente para a função
investigativa) e remete-o concluso para denunciar, arquivar ou requerer novas
diligências, na tutela coletiva cabe ao Ministério Público essa função, visto que ele
preside o inquérito civil ou procedimento administrativo que viabiliza a futura adoção
de providências (art. 8º, §1º, Lei 7.347/85). Assim, é ao Ministério Público que cabe
buscar as informações necessárias à propositura da ação (ou à formação de
convencimento fundamentado pelo arquivamento), ouvir pessoas, receber
reclamações, fazer diligências in loco etc, providências estas que merecem o adequado
registro físico (no procedimento) e eletrônico (nos bancos de dados, viabilizando
melhor controle e a elaboração de estatística).

[...]

Apesar de tudo isso, nem os procuradores da República nem os servidores de apoio


(ambos em número insuficiente), são, ainda, especificamente preparados para tal fim,
visto que o processo seletivo permanece voltado para as atribuições processuais e
pouco se tem feito para reverter o quadro em termos de capacitação, ressalvadas
algumas valiosas iniciativas da Escola Superior do Ministério Público da União e,
mais recentemente, das Câmaras de Coordenação e Revisão. Todas, entretanto,
costumam abordar mais o direito que as técnicas de apuração e o manejo dos
instrumentos investigativos de que dispomos (aí incluída a capacitação para acessar
informações nos bancos de dados público). 116

113
Idem, Ibidem.
114
Segue dispositivo da sobredita resolução, ipsis litteris: “Art. 2º O inquérito civil poderá ser instaurado:
I – de ofício; ”
115
Consoante norma da mesma resolução, in verbis: “Art. 3º Caberá ao membro do Ministério Público investido
da atribuição para propositura da ação civil pública a responsabilidade pela instauração de inquérito civil. ”
116
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Op. cit., p. 24-26.
48

Visto isso, nota-se que seria interessante fomentar a capacitação de servidores no âmbito
da tutela coletiva a fim de tratarem especificamente de concursos públicos, diante do aumento
da demanda e frequentes irregularidades dos certames.

Não obstante, são várias as formas em que o membro do Ministério Público dispõe, no
curso do inquérito civil, a fim de atingir seu objetivo, algumas delas são: ofícios requisitórios
de informações, notificações, diligências in loco, oitivas, elaboração de certidões, perícias,
reuniões e audiências públicas.117

Por fim, não há um prazo definido para o encerramento do inquérito civil. O artigo 9º,
da citada Resolução nº 23/2007, alterado recentemente pela Resolução nº 193/2018, de 14 de
dezembro de 2018, expressa que:

Art. 9º O inquérito civil deverá ser concluído no prazo de um ano, prorrogável pelo
mesmo prazo e quantas vezes forem necessárias, por decisão fundamentada de seu
presidente, à vista da imprescindibilidade da realização ou conclusão de diligências,
dando-se ciência ao Conselho Superior do Ministério Público, à Câmara de
Coordenação e Revisão ou à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. (Redação
dada pela Resolução n° 193, de 14 de dezembro de 2018)118

A rigor, impõe-se o arquivamento, de maneira fundamentada, dos autos quando


esgotadas todas as possibilidades de diligências, bem como o membro do Ministério Público se
convença da inexistência de fundamento para propositura de ação civil pública, nos termos da
sobredita resolução.119

Nesse sentido, são motivos de arquivamento, segundo Hugo Nigro Mazzilli:

O inquérito civil pode ser arquivado:

a) porque a investigação dos fatos demonstrou inexistirem os pressupostos fáticos ou


jurídicos que sirvam de base ou justa causa para a propositura da ação civil pública;

b) porque a investigação demonstrou que, embora tivessem existido tais pressupostos,


ficou prejudicado o ajuizamento da ação. Esta última hipótese pode ocorrer quando
deixe de existir o interesse de agir, como pelo desaparecimento do objeto da ação ou
pelo cumprimento espontâneo da obrigação em virtude do ressarcimento integral do
dano, da restauração do status quo ante, da obtenção de satisfatório compromisso de

117
Idem, Ibidem, passim.
118
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 23, de 17 de setembro de 2007.
Regulamenta os artigos 6º, inciso VII, e 7º, inciso I, da Lei Complementar nº 75/93 e os artigos 25, inciso IV, e
26, inciso I, da Lei nº 8.625/93, disciplinando, no âmbito do Ministério Público, a instauração e tramitação do
inquérito civil. Brasília, 2007. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-174-1.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2019.
119
Desse modo, transcreve-se literalmente a norma: “Art. 10. Esgotadas todas as possibilidades de diligências, o
membro do Ministério Público, caso se convença da inexistência de fundamento para a propositura de ação civil
pública, promoverá, fundamentadamente, o arquivamento do inquérito civil ou do procedimento preparatório.”
49

ajustamento, ou em virtude de atendimento espontâneo do investigado às


recomendações feitas pelo Ministério Público aos órgãos e entidades interessadas.120

Portanto, o inquérito civil é sem dúvidas, um dos instrumentos mais importantes na


atuação do controle do Ministério Público em concursos públicos, em especial no âmbito da
tutela coletiva, garantindo o cumprimento do seu papel institucional na proteção dos direitos
constitucionais vigentes.

Ademais, registra Alexandre Amaral Gavronski121 que não sendo o caso de


arquivamento do inquérito civil, há três hipóteses de atuação do Parquet, sendo duas
extrajudicialmente, quais sejam: expedir recomendação, ou tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de conduta; e uma judicialmente, a qual seria ajuizar a ação
cabível. E conclui o mencionado autor que, sem embargo dos instrumentos disponíveis ao
Ministério Público, acrescidos de legitimidade social e jurídica, o órgão: “não resolve sozinho
a lesão ou ameaça de lesão a tais direitos. Precisará sempre convencer o destinatário da
recomendação, o compromissário ou o Poder Judiciário.”122

À parte isso, os referidos instrumentos serão estudados de forma detalhada nos itens a
seguir, mormente associadas suas funções à matéria de concursos públicos.

Das recomendações

A expedição de recomendações por parte do Ministério Público está regulamentada pela


Resolução nº 164, de 28 de março de 2017, do Conselho Nacional do Ministério Público, a qual
define o referido instrumento, em seu artigo 1º, in verbis:

Art. 1º A recomendação é instrumento de atuação extrajudicial do Ministério Público


por intermédio do qual este expõe, em ato formal, razões fáticas e jurídicas sobre
determinada questão, com o objetivo de persuadir o destinatário a praticar ou deixar
de praticar determinados atos em benefício da melhoria dos serviços públicos e de
relevância pública ou do respeito aos interesses, direitos e bens defendidos pela
instituição, atuando, assim, como instrumento de prevenção de responsabilidades ou
correção de condutas.123

120
MAZZILLI, Hugo Nigro. O inquérito civil: investigações do Ministério Público, compromissos de
ajustamento e audiências públicas. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 258 e 259.
121
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Op. cit., p. 104.
122
Idem, Ibidem, p. 105.
123
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 164, de 28 de março de 2017.
Disciplina a expedição de recomendações pelo Ministério Público brasileiro. Brasília, 2017. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/Resolu%C3%A7%C3%A3o-164.pdf>. Acesso em: 16 fev.
2019.
50

Depreende-se da citada norma que é um meio de atividade extrajudicial, inclusive


preventivo, utilizado pelo Ministério Público para que a Administração Pública possa melhorar
o serviço público.

Vale destacar que, consoante teor do parágrafo único do mencionado artigo 124, a
recomendação não tem caráter coercitivo. Nesse contexto, a recomendação possui como seu
alicerce o fundamento jurídico e o convencimento, de modo que sua natureza jurídica não se
deve confundir com a inocuidade, ao contrário, trata-se de mecanismo a ser manejado pelo
Ministério Público com certo grau de eficácia, sob pena de consequências pelo seu não
atendimento, nos termos da resolução ora analisada.125

Seguindo esse raciocínio, elenca Alexandre Amaral Gavronski126 que as consequências


podem ser a responsabilização do agente, por exemplo, se tal responsabilidade depender de
elemento subjetivo, este ficará configurado com a continuidade de seu desatendimento, após a
recomendação.

Ademais, dentre outros benefícios, a expedição da recomendação possui como


característica sua agilidade, em relação à adoção de medida judicial, a fim de atingir seu objeto.
É, portanto, uma maneira de evitar a judicialização 127, e buscar a solução para os problemas de
modo prático e eficaz.

Na área dos concursos públicos, a recomendação é comumente utilizada, a exemplo,


para diminuir abusos na contratação de temporários128 129
, suspender concursos públicos com

124
Cita-se o dispositivo de maneira literal: “Art. 1º [...] Parágrafo único. Por depender do convencimento
decorrente de sua fundamentação para ser atendida e, assim, alcançar sua plena eficácia, a recomendação não tem
caráter coercitivo.
125
Assim determina a resolução, in verbis: “Art. 11. Na hipótese de desatendimento à recomendação, de falta de
resposta ou de resposta considerada inconsistente, o órgão do Ministério Público adotará as medidas cabíveis à
obtenção do resultado pretendido com a expedição da recomendação.”
126
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Op. cit., passim.
127
Vale ressaltar o §1º do artigo 11, da supracitada resolução, in verbis: “§ 1º No intuito de evitar a judicialização
e fornecer ao destinatário todas as informações úteis à formação de seu convencimento quanto ao atendimento da
recomendação, poderá o órgão do Ministério Público, ao expedir a recomendação, indicar as medidas que entende
cabíveis, em tese, no caso de desatendimento da recomendação, desde que incluídas em sua esfera de atribuições.”
128
Cf. notícia publicada: “O Ministério Público do Pará (MPPA), no município de Medicilândia, oeste do Pará,
expediu, na última quarta-feira (28), recomendação ao prefeito municipal, Celso Trezeciak, para que providencie,
dentro do prazo máximo de seis meses, concurso público para o preenchimento de vagas para os cargos da
municipalidade, de forma que os temporários sejam substituídos por servidores efetivos. (...)”. Referência:
ASCOM. Promotoria expede recomendação à prefeitura para a realização de concurso público. Ministério
Público do Pará, Medicilândia, 30 nov. 2018. Disponível em: <https://www2.mppa.mp.br/noticias/promotoria-
expede-recomendacao-a-prefeitura-para-a-realizacao-de-concurso-publico.htm>. Acesso em: 16 fev. 2019.
129
Cf. notícia publicada: “A Promotoria de Justiça considerou irregulares as contratações e defendeu a realização
do processo como regra moralizadora e de garantia da isonomia e da impessoalidade no recrutamento de servidores
públicos municipais.
O promotor também recomendou ao Município que se abstenha de fazer novas contratações temporárias para o
preenchimento dos cargos permanentes até que se realize o novo concurso público.”
51

possíveis irregularidades enquanto são realizadas investigações130, viabilizar a prorrogação e a


convocação de candidatos aprovados nas vagas previstas em edital 131, entre outras medidas
cabíveis.

Nesse contexto, dada sua natureza eminentemente de controle prévio, é válido lembrar
que, nas palavras de Maia e Queiroz, “em matéria de concurso, é muito importante uma atuação
preventiva. Quanto mais célere for o desfecho do problema menores serão os prejuízos para
administração e para os candidatos. ”132

Portanto, são vários os exemplos desse tipo de fiscalização exercida pelo Ministério
Público em qualquer parte do Brasil. Destarte, tal mecanismo ganha relevância, tendo em vista
sua agilidade e eficiência, bem como a sua valorização de medidas extrajudiciais para a solução
de possíveis irregularidades. Há, contudo, casos em que a celebração de um termo de
ajustamento de conduta é mais adequada, instrumento esse também muito utilizado pelo
Parquet no ramo de concursos públicos, como forma de atuação no controle de legalidade,
conforme se demonstrará no tópico que segue.

3.3 DA POSSIBILIDADE DE CELEBRAÇÃO DO TERMO DE AJUSTAMENTO DE


CONDUTA PARA ADEQUAÇÃO DO CONCURSO PÚBLICO ÀS NORMAS LEGAIS

A norma que regulamenta o termo de ajustamento de conduta no âmbito do Ministério


Público é a Resolução nº 179, de 26 de julho de 2017, do Conselho Nacional do Ministério
Público, e esta o define expressamente em seu primeiro artigo, litteris:

Referência: ALEIXO, Caroline. Prefeitura acata recomendação do MP para realizar concurso em Uberlândia. G1,
Triângulo Mineiro, Uberlândia, 2 out. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/triangulo-
mineiro/concursos-e-emprego/noticia/2018/10/02/prefeitura-acata-recomendacao-do-mp-para-realizar-concurso-
em-uberlandia.ghtml>. Acesso em: 16 fev. 2019.
130
A título de exemplo prático, a Recomendação nº 001/2017, expedida pela Procuradoria da República em Sergipe
expressa, em sua alínea “a”, que “não sejam realizadas nomeações de candidatos aprovados no Concurso Público
nº 001/2017 – CREA/SE, para provimento dos cargos públicos de Agente Fiscal – Técnico de Nível Médio nas
áreas: Engenharias e Agronomias vinculados ao sistema Confea/Crea, Analista Técnico - Nível superior nas áreas:
Engenharias e Agronomias vinculados ao sistema Confea/Crea e Contador de Nível Superior, até a solução judicial
ou extrajudicial do objeto do procedimento em epígrafe em trâmite neste Ministério Público Federal.”
Referência: PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SERGIPE. Recomendação nº 001/2017, 26 de setembro
de 2017. Aracajú, 26 set. 2017. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/se/sala-de-imprensa/docs/recomendacao-
concurso-crea>. Acesso em: 16 fev. 2019.
131
A exemplo, a Recomendação nº 002/2016, expedida pelo Ministério Público do Estado do Ceará, por intermédio
da Promotoria de Justiça da Comarca de Eusébio elenca que o prefeito municipal de Eusébio, do Estado do Ceará
“proceda, no prazo de 10 (dez) dias, a prorrogação do concurso público em alusão, para viabilizar a convocação
de todos os candidatos aprovados dentro do número de vagas estabelecido no edital.”
Referência: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Recomendação nº 002/2016, 10 de maio de
2016. Eusébio, 10 mai. 2016. Disponível em: <http://www.mpce.mp.br/wp-
content/uploads/2016/03/recomenda%C3%A7%C3%A3o-02-de-2016.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2019.
132
MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurídico do concurso público e o seu
controle jurisdicional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 167.
52

Art 1º O compromisso de ajustamento de conduta é instrumento de garantia dos


direitos e interesses difusos e coletivos, individuais homogêneos e outros direitos de
cuja defesa está incumbido o Ministério Público, com natureza de negócio jurídico
que tem por finalidade a adequação da conduta às exigências legais e constitucionais,
com eficácia de título executivo extrajudicial a partir da celebração.133

Desse modo, extrai-se de sua definição que se trata de um negócio jurídico celebrado
entre as partes, dotado de exigibilidade judicial. Ademais, interpreta-se do dispositivo que o
ajustamento de conduta está limitado à lei e à Constituição, de modo que o negócio jurídico
celebrado não pode flexibilizar o que neles se asseguram.

Outrossim, a respeito do referido instrumento, Alexandre Amaral Gavronski destaca


suas vantagens em utilizá-lo como forma de atuação no controle e consequente adequação das
condutas às exigências legais, assim, ele ressalta:

Se o consenso é a melhor solução para uma crise, como é correntemente afirmado, o


compromisso de ajustamento de conduta é o melhor dos instrumentos de atuação do
Ministério Público para a solução efetiva dos problemas relacionados à falta de
efetividade ou à afronta aos interesses coletivos. Possui o TAC, no mínimo, duas
grandes vantagens sobre a via judicial: (1) tende a equacionar de forma mais rápida e
efetiva a irregularidade, visto que pressupõe, em princípio, boa vontade para
cumprimento espontâneo da obrigação assumida por parte daquele que está
descumprindo a lei, e (2) prevê mecanismos de sanção exigíveis desde logo (as multas
ou outras cominações acordadas) para caso de eventual descumprimento. Há ainda
outras vantagens: permite que a discussão seja ampliada para além da irregularidade
motivadora da negociação, ajustando-se à lei, no compromisso, outras práticas do
interessado; viabiliza, paralelamente à correção da conduta, a adoção de mecanismos
eficazes na repressão ou prevenção de condutas futuras; permite que se ajuste à lei,
concomitantemente e de forma idêntica, a conduta de vários interessados, sem o
tumulto que isso causaria em um processo com inúmeros réus e, ainda, enseja maior
participação da sociedade na identificação das soluções (mormente quando o TAC é
precedido de audiências públicas).134

Além do mais, é válido mencionar que, conforme artigo 3º, da Resolução nº 179/2017135,
o compromisso pode ser ajustado em qualquer fase de investigação, ou no curso de ação
judicial, e deve conter obrigações certas, liquidas e exigíveis, salvo peculiaridades do caso em
questão.

133
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 179, de 26 de julho de 2017.
Regulamenta o § 6º do art. 5º da Lei nº 7.347/1985, disciplinando, no âmbito do Ministério Público, a tomada do
compromisso de ajustamento de conduta. Brasília, 2017. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/Resolu%C3%A7%C3%A3o-179.pdf>. Acesso em: 16 fev.
2019.
134
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Op. cit., p. 115.
135
Assim expressa o artigo 3º, da mencionada resolução, in verbis: “Art. 3º O compromisso de ajustamento de
conduta será tomado em qualquer fase da investigação, nos autos de inquérito civil ou procedimento correlato, ou
no curso da ação judicial, devendo conter obrigações certas, líquidas e exigíveis, salvo peculiaridades do caso
concreto, e ser assinado pelo órgão do Ministério Público e pelo compromissário.”
53

Não obstante, nas cláusulas do acordo, é possível ainda a previsão de multas, diárias ou
de outra espécie, para o caso de descumprimento das obrigações assumidas pelo
compromissário no prazo definido em acordo, consoante teor do artigo 4º da referida
Resolução.136 Ainda, é interessante salientar a previsão do artigo 11, também do mesmo
diploma, a qual determina, em regra, a execução judicial das cláusulas em que se constatar a
mora ou inadimplência, em caso de descumprimento do acordo, em até sessenta dias. 137

Na esfera dos concursos públicos, a celebração do termo de ajustamento de conduta é


inegavelmente um instrumento de controle muito utilizado pelo Ministério Público. Sendo
assim, são várias as possibilidades de adequação às normas legais, por exemplo, para firmar o
comprometimento na elaboração de concurso138, anulação de certame irregular 139, criação de

136
Cita-se artigo 4º, da mesma resolução, ipsis litteris: “Art. 4º O compromisso de ajustamento de conduta deverá
prever multa diária ou outras espécies de cominação para o caso de descumprimento das obrigações nos prazos
assumidos, admitindo-se, em casos excepcionais e devidamente fundamentados, a previsão de que esta cominação
seja fixada judicialmente, se necessária à execução do compromisso.”
137
Nesse sentido, expressa o artigo 11, da citada resolução, de maneira literal: “Art. 11. Descumprido o
compromisso de ajustamento de conduta, integral ou parcialmente, deverá o órgão de execução do Ministério
Público com atribuição para fiscalizar o seu cumprimento promover, no prazo máximo de sessenta dias, ou assim
que possível, nos casos de urgência, a execução judicial do respectivo título executivo extrajudicial com relação
às cláusulas em que se constatar a mora ou inadimplência.”
138
A título de exemplo, cita-se o Termo de Ajustamento de Conduta firmado pelo Ministério Público de Minas
Gerais, por intermédio da 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Pará de Minas, em que o Município de Onça de
Pitangui se comprometeu, dentre outras obrigações, a realizar concurso público e a rescisão dos contratos
temporários de trabalho, conforme cláusula primeira e quarta, respectivamente, de maneira extrajudicial.
Referência: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS (MG). Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC) que entre si celebram o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por intermédio da
Promotora de Justiça Juliana Maria Ribeiro da Fonseca Salomão e o Município de Onça de Pitangui, representado
pelo Prefeito Municipal Geraldo Magela Barbosa. Termo de Ajustamento de Conduta, Inquérito Civil nº:
MPMG-0471.16.000482-9, 06 de março de 2017. Pará de Minas, 6 mar. 2017. Disponível em:
<http://www.oncadopitangui.mg.gov.br/wp-content/uploads/2017/03/TAC201710032017-1.pdf>. Acesso em: 17
fev. 2019.
139
Cf. notícia publicada, esta informa que: “Após terem sido acionados judicialmente, o Município de Rio Branco
e a Assessoria Consultoria Planejamento e Informática Ltda firmaram Termo de Ajustamento de Conduta com o
Ministério Público Estadual assumindo a obrigação de anular todas as provas realizadas no concurso público
referente ao edital 001/2011, de 29 de dezembro do ano passado. O certame estava suspenso por determinação
judicial em virtude de uma ação proposta pela Promotoria de Justiça do município, após constatação de uma série
de irregularidades.”
Referência: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO. TAC garante anulação de concurso
público e realização de novas provas no prazo de 90 dias. In: Jusbrasil, 04 mai. 2012. Disponível em: <https://mp-
mt.jusbrasil.com.br/noticias/3107320/tac-garante-anulacao-de-concurso-publico-e-realizacao-de-novas-provas-
no-prazo-de-90-dias>. Acesso em: 16 fev. 2019.
54

cargos a serem providos por concurso140, vedação à excessiva utilização de cadastro de reservas
em concursos141, entre outras irregularidades a serem sanadas.

Nota-se, então, que a celebração do acordo pelo Ministério Público pode efetivar um
controle prévio (preventivo), bem como um controle posterior, seja no bojo de procedimento
extrajudicial (administrativo) ou ação judicial. Dessa forma, verifica-se a amplitude da atuação
no controle de legalidade exercido pelo Parquet, a fim de resguardar a finalidade pública dos
certames e os princípios constitucionais vigentes.

Entretanto, a depender do caso, o Ministério Público necessita utilizar-se de meios


judiciais para que sejam pleiteados e garantidos os direitos constitucionais e legais no âmbito
dos concursos públicos, conforme se verifica no tópico a seguir.

3.4 O PROCESSO JUDICIAL NA GARANTIA DA LEGALIDADE DE CONCURSOS


PÚBLICOS

Como antes visto, o Ministério Público é uma instituição essencial à função jurisdicional
estatal que, por força constitucional, possui legitimidade para atuar em juízo na defesa dos
direitos coletivos, difusos e individuais indisponíveis.

Nesse sentido, nem sempre há problemas que são resolvidos na esfera extrajudicial,
cabendo ao Ministério Público, garantidor da ordem legal, promover ações judiciais, a fim de
pleitear a efetividade dos direitos constitucionais, de maneira a contribuir para o pleno exercício
do controle judicial.

140
Cf. matéria do jornal Tribuna Hoje, em que diz: “A prefeitura de Atalaia não poderá mais celebrar contratos
temporários, a não ser em casos de extrema necessidade. O Poder Executivo também não deverá mais criar cargos
comissionados que não sejam de chefia, direção ou assessoramento. Ao contrário disso, ela terá um prazo de até
seis meses para encaminhar Projeto de Lei (PL) à Câmara de Vereadores visando a realização de um concurso
público. O compromisso foi firmado em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado entre o Ministério
Público do Estado de Alagoas (MPE/AL), por meio da 1ª Promotoria de Justiça daquele município, e o prefeito de
Atalaia.”
Referência: ASCOM MPE/AL. Ministério Público firma TAC para realização de concurso público em Atalaia.
Tribuna Hoje, Maceió, 13 jun. de 2018. Disponível em:
<https://tribunahoje.com/noticias/politica/2018/06/13/ministerio-publico-firma-tac-para-realizacao-de-concurso-
publico-em-atalaia>. Acesso em: 18 fev. 2019.
141
A exemplo, cita-se o Termo de Ajustamento de Conduta firmado pelo Ministério Público do Trabalho, por
intermédio da Procuradoria Regional do Trabalho da 10ª Região, em que o Banco do Brasil S.A. se comprometeu,
dentre outras obrigações, a se abster de utilizar a figura exclusiva do cadastro de reserva, comprometendo-se a
fazer constar, nos próximos editais de seus concursos públicos, o número de vagas disponíveis, a fim de evitar a
criação de falsas expectativas a candidatos aprovados nos certames.
Referência: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO (MPT). Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que
entre si celebram o Ministério Público do Trabalho, por intermédio da Procurador do Trabalho Carlos Eduardo
Brisolla e o Banco do Brasil S.A. Termo de Ajustamento de Conduta, homologado por sentença nos autos do
processo de nº: 0000267-83.2015.5.10.0020, 07 de abril de 2015. Brasília, 7 abr. 2015. Disponível em:
<http://www.prt10.mpt.mp.br/images/Ascom/ACORDOBB.pdf >. Acesso em: 17 fev. 2019.
55

Ocorre que, nos últimos anos, percebe-se um aumento significativo na demanda judicial
dos concursos públicos. Nesse sentido, Fábio Lins de Lessa Carvalho aduz que:

Pode-se afirmar que praticamente não há um único concurso público que não tenha
uma de suas fases questionada perante o Poder Judiciário.

[...]

Certamente o fato acima descrito representa uma moeda com duas faces: se por um
lado sinaliza um maior acesso ao Judiciário e um suposto maior controle da atividade
administrativa de recrutamento dos servidores públicos, por outro lado gera inúmeros
inconvenientes.142

Seguindo esse raciocínio, o lado negativo da “judicialização” dos concursos públicos, é


a lentidão no julgamento da demanda, afetando o interesse público, tendo em vista que os
certames deveriam ser concluídos em tempo razoável. 143

Ademais, Adilson Dallari144 alerta para a importância da coerência das decisões, a fim
de resguardar a segurança jurídica, ao tratar do fenômeno da “judicialização” dos concursos,
como também tece comentários acerca da luta diária do Ministério Público e do Poder Judiciário
na adoção de medidas contra irregulares em concursos. Desse modo, afirma:

A consagração definitiva do concurso público como instrumento de realização do


princípio constitucional da isonomia somente ocorrerá quando o Ministério Público e
o Poder Judiciário, com rigor e firmeza, não mais tolerarem subterfúgios de toda
ordem utilizados para burlar essa exigência, muito especialmente a vergonhosa e
desmedida criação de cargos em comissão, a começar pela proliferação
indiscriminada de ministérios como moeda de troca em acertos políticos.145

Visto isso, nota-se evidente crescimento no número em demandas judiciais, ou seja,


inevitavelmente há a desconfiança dos concorrentes no tocante à regularidade dos certames.
Diante disso, a chamada “judicialização” dos concursos é um fenômeno cada vez mais presente,
principalmente com o aumento da demanda no âmbito da tutela coletiva, de modo que o
Ministério Público deve estar preparado para apurar as possíveis irregularidades e tomar as
medidas cabíveis.

Nesse contexto, acrescenta-se que são diversos os mecanismos em que o Ministério


Público pode atuar judicialmente na seara do controle dos concursos públicos.

142
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Concursos públicos no direito brasileiro. Curitiba: Juruá, 2015, p. 413.
143
Idem, Ibidem, p. 413.
144
DALLARI, Adilson Abreu. Princípio da isonomia e concurso público. In: MOTTA, Fabrício (Coord.).
Concurso público e Constituição. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 91-120.
145
Idem, Ibidem, p. 120.
56

No âmbito penal, o Ministério Público é titular da ação penal pública, nos termos do
artigo 129, inciso I, da Constituição Federal.146 Em relação a esse aspecto, infelizmente, no
Brasil é cada vez mais comum a formação de organizações criminosas especializadas em
fraudar concursos.147 Assim, o Parquet tem o dever de denunciar aqueles suspeitos por fraude
em concursos públicos, com o objetivo da responsabilização penal dos infratores, aos quais
contribuíram para um processo seletivo ilícito.

Por outro lado, na esfera cível, o Ministério Público pode atuar como custos legis nas
ações constitucionais, a exemplo do mandado de segurança, ação popular, entre outras. A
respeito disso, interessante notar que há o entendimento que o Ministério Público é legitimado
a emitir o parecer no bojo dessas ações, podendo inclusive, interpor recurso caso entenda
necessário, para pleitear posse de candidato em concurso, por exemplo. 148

Nada obstante, o sobredito órgão pode ser autor da ação em prol da legalidade dos
concursos públicos. Em face disso, dentre outras, o mecanismo mais comum e importante, sem
dúvidas, é a ação civil pública, de modo que esta será tratada em tópico específico adiante.

A ação civil pública como instrumento de controle em concurso públicos

Como visto no segundo capítulo desta monografia, a Lei da Ação Civil Pública, além
de regular o trâmite processual da referida ação civil, foi um marco na consolidação do
Ministério Público, tendo em vista que lhe possibilitou a sua utilização a fim de garantir direitos
difusos e coletivos, como também o fiel cumprimento de sua finalidade institucional prevista
na Constituição Federal. 149

146
Cita-se o dispositivo, ipsis litteris: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; ”
147
Cf. notícia publicada no Folha Dirigida. Dentre vários exemplos, menciona-se a “Operação Panoptes”, que está
em sua terceira fase e os indiciados responderão por crimes de fraude a certame licitatório e organização criminosa.
Referência: GOMES, Fernanda. ‘Operação Panoptes’: MP denuncia mais oito pessoas por fraudes em concursos.
Folha Dirigida, Rio de Janeiro, 23 nov. 2017. Disponível em:
<https://folhadirigida.com.br/noticias/tema/especial-noticiario/operacao-panoptes-mp-denuncia-mais-oito-
pessoas-por-fraudes-em-concursos>. Acesso em: 18 fev. 2019.
148
REDE DE ENSINO LUIZ FLÁVIO GOMES. Ministério Público tem legitimidade para garantir posse em
concurso público. In: Jusbrasil, 04 mai. 2009. Disponível em:
<https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1040784/ministerio-publico-tem-legitimidade-para-garantir-posse-em-
concurso-publico>. Acesso em: 16 fev. 2019.
149
Cita-se a norma de forma literal: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
[...]
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; ”
57

De acordo com Nelson Nery Júnior, a ação civil pública é “o direito conferido pela lei,
em nome do interesse público, ao Ministério Público, a fim de que ingresse com pedido de
providências judiciais."150

Visto isso, o referido diploma é bastante amplo, o que possibilita maior atuação e
controle por parte do Ministério Público. Nesse sentido, Hugo Nigro Mazzilli comenta que:

Assim, em face das Leis n. 7.347/85, 7.853/89 e 7.913/89 e, sobretudo, diante do art.
129, III, da Constituição Federal, por ação civil pública alcançam-se agora não só as
ações para proteção do meio ambiente, do consumidor, do patrimônio cultural, como
também aquelas para defesa do patrimônio público e social e de outros interesses
difusos e coletivos.

Outrossim, por ação civil pública compreendem-se não só as principais (condenatórias


ou de execução) como as cautelares (preparatórias e incidentes, e ainda as
satisfativas).

Quando a lei confere legitimidade de agir ao Ministério Público, presume-se o


interesse, pois que está identificado por princípio como defensor dos interesses
indisponíveis da sociedade (cf. F. Carnelutti, Mettere il pubblico ministero al suo
posto, Rivista di Diritto Processuale, Padova, 1953); quanto aos demais legitimados,
porém, o interesse há de ser demonstrado concretamente.151

É importante ressaltar que o Ministério Público é o legitimado que mais propõe ações
civis públicas em relação aos demais, como também suas ações são mais bem sucedidas que as
propostas por outros legitimados.152

Salienta-se, ainda, que Nelson Nery Júnior 153 expõe os princípios informativos da ação
civil pública, são eles: da taxatividade, da obrigatoriedade e da indisponibilidade.

O primeiro, conforme o mesmo autor, “consiste ele na enumeração exaustiva, em


numerus clausus das hipóteses em que o Ministério Público é legitimado a agir.”154 Já o segundo
princípio, significa que o Ministério Público tem o direito-dever de ajuizar a ação civil
pública. 155 Entretanto, ressalta o referido autor que não se trata de uma obrigatoriedade estrita,
pois esta “deve ser temperada com a conveniência e a oportunidade a fim de que não gere

150
NERY JUNIOR, Nelson. Ação Civil Pública. In: Revista de Processo, v. 31, São Paulo: RT, p. 224-232,
jul.1983.
151
MAZZILLI, Hugo Nigro. Manual do promotor de justiça. 2. ed., ampl. e atual. — São Paulo: Saraiva, 1991,
p. 479. Disponível em: <http://www.mazzilli.com.br/pages/livros/manualpj.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2019.
152
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça Pesquisa – Relatório Analítico Propositivo. Direitos e
Garantias Fundamentais. Ações Coletivas no Brasil: Temas, atores e desafios da tutela coletiva. CNJ,
Brasília: 2017. Disponível em: <
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/03/799b01d7a3f27f85b334448b8554c914.pdf >. Acesso em:
16 fev. 2019, p. 24.
153
NERY JUNIOR, Nelson. Op. cit.
154
Idem, Ibidem.
155
Idem, Ibidem.
58

constrangimentos ao ‘parquet’, já que é o órgão encarregado de velar pelo interesse público.”156


Por último, o princípio da indisponibilidade é decorrência lógica do princípio da
obrigatoriedade da ação civil pública, ou seja, o Ministério Público, nas palavras do citado
autor, “não pode praticar atos que importem em disposição do direito material (reconhecimento
jurídico do pedido, transação, renúncia, etc.), nem que impor tem em disposição do direito de
ação como, por exemplo, desistir da ação já proposta.”157

Outrossim, na seara dos concursos, a referida ação coletiva é, sem dúvidas, a mais
utilizada e eficaz. Desse modo, não há óbices quanto à possibilidade da propositura de uma
ação civil pública para o controle legal e constitucional dos concursos públicos pelo Ministério
Público em geral, na tutela de grupo de concursados, em defesa dos interesses individuais
homogêneos, coletivos ou difusos.158

São inúmeros exemplos de ações civis públicas propostas pelo Ministério Público na
área de concursos públicos, e seus efeitos e pedidos são os mais variados, revelando a amplitude
desse instrumento no âmbito da atuação do Parquet em controle de certames irregulares. Dentre
os casos mais comuns, estão aqueles relacionados à preterição de candidatos, seja por possuir
contratação de terceirizados e comissionados de maneira ilegal 159, seja por omissão na
nomeação de candidatos dentro dos números de vagas 160, requerendo o Ministério Público, em
ambos os casos, a nomeação dos aprovados de maneira regular. Além disso, outra irregularidade
verificada é em relação ao uso abusivo de cadastro de reservas, pleiteando o Parquet pela sua
declaração de inconstitucionalidade, por atingir os princípios constitucionais da segurança
jurídica e da confiança, ao gerar falsas expectativas aos candidatos aprovados. 161

156
Idem, Ibidem.
157
Idem, Ibidem.
158
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, Op. cit., p. 213.
159
Cf. matéria do portal Alagoas 24 horas, em que diz: “A Promotoria de Justiça de Boca da Mata propôs,
nesta sexta-feira (5), ao Juiz de Direito daquela Comarca, Ação Civil Pública cominatória de obrigação de fazer
para que a Prefeitura exonere contratados temporários e comissionados e nomeie aprovados em concurso público.
O processo seletivo teve início em 2012, foi homologado em 2014 e teve o seu prazo de validade prorrogado por
mais dois anos. ”
Referência: ASCOM MPE/AL. MP propõe ação cobrando nomeação de candidatos aprovados em concurso
público. Alagoas 24 horas, Maceió, 05 jan. de 2018. Disponível em:
<https://www.cadaminuto.com.br/noticia/314689/2018/01/05/mp-propoe-acao-cobrando-nomeacao-de-
candidatos-aprovados-em-concurso-publico >. Acesso em: 18 fev. 2019.
160
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Op. cit., p. 78.
161
A título de exemplo, cita-se a sentença presente nos autos da Ação Civil Pública nº 0000059-10.2016.5.10.0006,
proposta pelo Ministério Público do Trabalho da 10ª Região, em desfavor da Caixa Econômica Federal, na qual a
magistrada, ao tratar do uso irregular de cadastro de reserva, afirma que: “O que se presume, pois quanto a tal
ponto não há provas, é que o administrador não indica as vagas disponíveis em seus quadros, no edital, para não
estar vinculado às mesmas, pois a jurisprudência majoritária entende que há apenas expectativa de direito para o
candidato aprovado, quando o edital apenas indica o quadro de reservas.”
59

Dessa maneira, constata-se a amplitude da atuação do Ministério Público no controle


em concursos públicos, sendo a ação civil pública, especificamente, um tipo de ação coletiva
imprescindível no auxílio da tutela dos direitos de candidatos em concursos públicos, bem como
na adequação destes às regras e princípios vigentes em nosso ordenamento jurídico.

Portanto, ante o exposto no presente capítulo desta monografia, é inegável que a


atividade ministerial se coaduna com os princípios constitucionais dos concursos públicos
expostos no primeiro capítulo, como também aos objetivos institucionais e fundamentais do
Ministério Público, previstos na Constituição, analisados no capítulo anterior. Assim, a tutela
coletiva se mostra uma área cada vez mais aprimorada a fim de resguardar os direitos coletivos,
dotada de efetividade na prática, em que pese ainda haja dificuldades a serem enfrentadas por
membros do Ministério Público, como também dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
Incentivos a estudos e trabalhos acadêmicos nessa área, capacitação dos servidores para
atuarem em conflitos presentes em concursos públicos, são algumas das formas pelas quais é
possível aperfeiçoar, primeiramente, o controle prévio (evitando que surjam concursos públicos
com irregularidades), e em seguida, o controle posterior, atuando com agilidade para que os
danos sejam minimizados e a sociedade possa presenciar cada vez mais concursos públicos com
lisura e respeito às garantias fundamentais constitucionais, prevalecendo o interesse público na
adequada prestação do serviço pela Administração.

Referência: DISTRITO FEDERAL E TOCANTINS, Tribunal Regional do Trabalho 10ª Região. Sentença.
Processo nº 0000059-10.2016.5.10.0006. Trata-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do
Trabalho da 10ª Região contra a Caixa Econômica Federal por descumprimento de acordo coletivo na convocação
de candidatos do concurso público Edital nº 01/2014, bem como uso abusivo da figura do cadastro de reserva. 6ª
Vara do Trabalho de Brasília. Juíza do Trabalho Substituta Natália Queiroz Cabral Rodrigues. Brasília, 6 outubros
de 2016. Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, 10 de outubro de 2016, ed. 2082/2016, p. 667-674.
60

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho buscou compreender um pouco mais acerca dos instrumentos de


controle do Ministério Público em relação aos concursos públicos, bem como verificar a
atuação, a efetividade e o alcance de sua incumbência no âmbito extrajudicial e judicial. O
presente estudo visou, também, se debruçar e analisar a temática, abordando seus aspectos
legais e doutrinários sobre o tema.

Conforme exposto, no âmbito dos concursos públicos, entendeu-se, com base na


doutrina, que, por ser um conjunto de atos administrativos, os certames possuem natureza
jurídica de processo (ou procedimento), com a finalidade de seleção democrática dos candidatos
a cargos públicos.

Em vista disso, depreendeu-se de seu conceito que se trata de mecanismo imprescindível


ao Estado Democrático de Direito, por meio do qual a Administração Pública, em consonância
com os princípios constitucionais e republicanos, escolhe indivíduos, para que estes ocupem o
quadro de servidores e desempenhem funções estatais previstas em lei, pretendendo garantir o
melhor serviço público aos administrados, com impessoalidade, probidade e eficiência, e
demais princípios administrativos.

Assim, ao tempo em que a sociedade e o Estado se desenvolveram, ficou evidente o


progresso do concurso público ao longo do tempo. Nesse sentido, levantou-se aspectos
históricos, de modo que se compreendeu seu conceito, sua natureza jurídica e sua finalidade.

Entendeu-se, portanto, da extração do texto constitucional, que o concurso público é


meio garantidor dos princípios expressos da administração pública previstos no artigo 37, ou
seja, o da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Além do mais,
vislumbrou-se, a partir disso, que a sua natureza jurídica de processo administrativo se coaduna
ante a aplicação de princípios do Direito ao referido instituto.

Visto isso, em relação ao controle, em matéria de concursos públicos, seja


administrativo ou judicial, identificou-se que a Administração possui diversos legitimados a
exercer a fiscalização, dentre os quais, se destaca o Ministério Público. Diante do exposto,
constatou-se que as formas de controle são garantidoras dos princípios constitucionais e da
correta efetividade dos direitos do cidadão, em especial aos participantes de algum certame,
para que tenham seu direito de acesso ao cargo público, e por outro lado, haja uma
Administração que preste um serviço público adequado.
61

Nesse aspecto, verificou-se que a história do Ministério Público no Brasil, foi construída
a partir de conquistas, pouco a pouco, passando de simples agente acusador no juízo criminal,
à consolidação de uma instituição defensora dos direitos coletivos e difusos, da democracia e
dos ideais republicanos. Nos dias atuais, diante de sua atuação nas mais diversas áreas do
Direito, conquistou o respeito dos brasileiros, de modo que é inegável a amplitude de sua
atividade no cumprimento das funções institucionais, mormente no âmbito de certames possa
atuar em qualquer fase destes.

No que se refere à atuação extrajudicial ministerial no âmbito do controle de concursos


públicos, esta se revelou instrumento imprescindível. Destarte, abordou-se características,
aspectos normativos e doutrinários dos instrumentos de cunho administrativos, precisamente
no âmbito da tutela coletiva, em relação à investigação e correção de irregularidades presentes
nos certames.

Por outro lado, na esfera judicial, verificou-se que o Parquet possui uma atuação
eminentemente ativa, sendo a ação civil pública, especificamente, a ação coletiva mais eficaz,
indispensável no auxílio da tutela dos direitos de candidatos, como também na adequação dos
certames às normas do ordenamento jurídico.

Portanto, vislumbra-se que o Parquet é instituição essencial garantidora da legalidade


dos certames, embora possua, alguns percalços que dificultam a efetividade plena de sua
atuação no controle jurídico dos concursos. Sob essa ótica, conclui-se que há a necessidade de
tomar medidas imediatas, para que sejam minimizados os danos provenientes de um concurso
irregular.

Além disso, destaca-se que a promoção de termo de ajustamento de conduta pelo


Ministério Público pode garantir um controle extremamente amplo, podendo ser realizado no
campo judicial ou extrajudicial, a fim de garantir o fiel cumprimento da lei no âmbito dos
certames.

Por fim, ante o exposto, é inegável que a atividade do Ministério Público passa a ser
essencial no âmbito dos concursos públicos, diante da crescente demanda nessa área. Assim, a
tutela coletiva é um ramo do Direito recente que se aperfeiçoa, com o objetivo de resguardar os
direitos e garantias constitucionais, sendo o Parquet protagonista nessa atuação. Em face disso,
a pesquisa em relação a esse campo não se deve esgotar por esta monografia, sendo
imprescindível a realização de novos estudos acadêmicos nessa seara. Além do mais, outras
medidas são pertinentes visando agilidade e eficiência no controle de certames, seja este
62

preventivo ou não, tais como a disponibilização de novas ferramentas de aprimoramento aos


servidores (do Ministério Público, dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário) e criação
de núcleos específicos, a fim de otimizar suas práticas ao lidar com os litígios e irregularidades
presentes em concursos públicos; promoção de eventos e publicações sobre o tema; criação de
uma jurisprudência para que se possa resguardar a segurança jurídica, elaboração de leis que
regulem o concurso público e editais, dentre outras soluções. Desse modo, garante-se que
possíveis danos sejam atenuados e os cidadãos possam disfrutar da plena efetividade dos
direitos e garantias fundamentais, mormente se preserve o caráter democrático dos concursos,
bem como o interesse público na adequada prestação do serviço pela Administração.
63

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