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MACEIÓ - AL
Março/2019
PAULO VITOR RAMOS DE ANDRADE
Assinatura do Orientador
MACEIÓ - AL
Março/2019
PAULO VITOR RAMOS DE ANDRADE
Banca Examinadora:
MACEIÓ - AL
Março/2019
RESUMO
Ante el actual panorama económico del país, existe el creciente interés de la población en el
accesso a la función pública, así hay la necesidad de la Administración en elaborar
mecanismos de control para la efectiva adecuación de los certámenes a las normas legales, y
para que se asegure el respeto a los principios del ordenamiento jurídico-administrativo y los
derechos fundamentales. En este contexto, el Ministerio Público, siendo institución
constitucional garantizadora del orden jurídico, tiene importante actuación ante el control en
el ámbito de los certámenes. La presente monografía, por lo tanto, trata aspectos relevantes de
su actividad en lo control de los concursos públicos, sea este preventivo o no, además,
administrativo o judicial. Este trabajo, busca, de esa forma, comprender los instrumentos de
control utilizados por el Procuraduría General en relación a su tarea de fiscalización de
concursos públicos, como verificar su actuación. Por lo tanto, la metodología utilizada es
eminentemente bibliográfica, apuntando a las concepciones doctrinales en relación al asunto,
nociones históricas, todavia enfoca las normas que basan la actividad del Parquet, que es
objeto de este trabajo académico. Sin embargo, en el primer capítulo, se analizan
características peculiares del instituto de los concursos públicos, pasando desde su contexto
histórico hasta sus principios, destacando también su perspectiva constitucional reciente, así
como evidencia el panorama general de las formas de control hechos por la Administración
Pública en concursos. Por otro lado, se examina, en el segundo capítulo, el Ministerio Público,
sobresaliendo los aspectos históricos de su surgimiento en Brasil, resaltando su importancia
en el espectro constitucional ante la sociedad, ante sus principios institucionales, finalizando
el capítulo con la distribución de encargo de su actuación en relación al control de concursos
públicos. Por último, en el tercer capítulo, se averigua la actuación ministerial en el control
de concursos públicos, sea este judicial o extrajudicial, de manera a realzar los procedimientos
administrativos en el ámbito de la tutela colectiva, además de la acción civil pública,
relacionándolos con su incumbencia por medio de la cual auxilia a la Administración a
regularizar, como también a prevenir, posibles irregularidades en ciertos concursos públicos,
corroborando su papel de garante del orden legal, a fin de asegurar un proceso selectivo justo,
al que se respetan los principios administrativos de la legalidad, isonomía , impersonalidad,
eficiencia, publicidad, merito, entre otros. Por lo tanto, se verifica que esa actuación garantiza
los derechos constitucionales de acceso democrático a la función pública y el de una
Administración que preste el buen servicio público adecuado a los ciudadanos.
Palabras clave: Concurso público. Ministerio Público. Control. Tutela colectiva. Principios.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................8
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................... 63
8
INTRODUÇÃO
Ademais, o objeto deste trabalho possui demasiada importância, na medida em que tanto
a instituição do Ministério Público, quanto o instrumento de acesso aos cargos público – o
concurso público, se tornam a cada dia mais evidentes e presentes na vida dos brasileiros.
Por oportuno, diante do atual panorama econômico do país, a busca por funções públicas
é desejo de mais cidadãos enquanto o tempo passa, por diversos motivos, como a expectativa
de estabilidade, boas remunerações e condições de emprego se comparadas ao setor privado.
Assim, o Ministério Público, sendo uma instituição que visa a garantia da ordem legal
em prol da coletividade, possui papel atuante no controle de concursos públicos, podendo ser
prévio, ou posterior, ainda, administrativo ou judicial, de forma a pretender a garantia da ordem
jurídica, visando os cumprimentos das finalidades constitucionais do concurso público.
perante alguns instrumentos administrativos e judiciais, aos quais consubstancia sua atuação no
controle em concursos públicos.
Desse modo, após o ano de 1988, o concurso público passou a ser um instrumento
constitucional de acesso aos cargos públicos, visando garantir a isonomia dos concorrentes,
bem como os demais princípios da administração pública.
Entretanto, a crescente demanda nessa área, tem propiciado muitas irregularidades nas
prestações de certames pelo país. Há, ainda, a desconfiança da comunidade perante os órgãos
estatais, diante de vários casos de corrupção e atos de improbidades cometidos por agentes
públicos, além do despreparo de bancas examinadoras em prestarem o certame.
Assim, o Ministério Público, atualmente, tem sido uma esperança aos candidatos que se
sentem injustiçados em diversos certames, no combate às irregularidades.
Entende-se que o presente trabalho poderá trazer contribuições para essa nova e
inevitável escalada do Brasil rumo a esse processo de atuação e controle, proporcionando uma
repercussão a respeito dos efeitos desse controle perante a sociedade, a fim de garantir a ordem
dos princípios de origem jurídico-administrativa.
Quanto ao desenvolvimento desta obra, a sua estrutura está delineada em três capítulos.
No primeiro capítulo, foram traçados elementos conceituais do concurso público, destacando a
visão doutrinária de seu contexto histórico e seus princípios. Para mais, esse capítulo delineia
considerações acerca desse instituto em seu plano constitucional, tecendo comentários a
respeito de sua importância nos dias atuais para a sociedade e o bom funcionamento estatal.
Além do mais, trata dos aspectos gerais do controle em concursos públicos exercido pela
Administração Pública.
O segundo capítulo estuda o Ministério Público como instituição propriamente dita, seus
aspectos históricos no Brasil, bem como seus princípios organizacionais. Da mesma forma,
apresenta-se seu espectro constitucional, evidenciando a importância de seu papel perante a
sociedade na garantia dos direitos fundamentais, da democracia e do fiel cumprimento da ordem
jurídica. Ademais, ressalta a distribuição de competência constitucional, em sua atuação no
âmbito do controle de concursos públicos.
Encontrar a natureza jurídica de instituto do Direito (ou até de um ramo jurídico, como
o Direito do Trabalho) consiste em se apreenderem os elementos fundamentais que
integram sua composição específica, contrapondo-os, em seguida, ao conjunto mais
próximo de figuras jurídicas (ou de segmentos jurídicos, no caso do ramo
justrabalhista), de modo a classificar o instituto enfocado no universo de figuras
existentes no Direito.1
Desse modo, a natureza jurídica de algum instituto ou ramo de estudo do Direito pode
ser entendida como o enquadramento entre a sua definição e a sua classificação no âmbito da
ciência do Direito.
Visto isso, na seara do estudo científico dos concursos públicos, realizado pelos
doutrinadores, pode-se entender o mencionado instituto como o conjunto de atos
administrativos, sendo sua natureza jurídica preponderante de processo (ou procedimento)
administrativo. Nesse sentido, mais precisamente nas palavras de Diógenes Gasparini, a natureza
jurídica do concurso é:
Ademais, soma-se a esse entendimento a lição de Maia e Queiroz, já que ensinam que sua
natureza jurídica possui características de cunho concorrencial, ampliativo e externo, trata-se,
assim, de:
1
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho, 14ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 75.
2
GASPARINI, Diógenes. Concurso público – imposição constitucional e sua operacionalização. In: MOTTA,
Fabrício (Coord.). Concurso público e Constituição. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 22-23.
3
MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurídico do concurso público e o seu
controle jurisdicional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 14.
12
Portanto, a natureza jurídica de um instituto do Direito nada mais é que o alicerce entre
sua definição e a classificação. Dessa forma, na seara dos concursos, os doutrinadores entendem
que, por ser um conjunto de atos administrativos, os certames possuem natureza jurídica de
processo (ou procedimento), com a finalidade de seleção dos candidatos a cargos públicos.
Nada obstante, a natureza jurídica consubstancia a análise, por parte da doutrina e especialistas
dos ramos e institutos do direito, buscando um conceito próprio ao concurso público.
Concurso público é o procedimento administrativo que tem por fim aferir as aptidões
pessoais e selecionar os melhores candidatos ao provimento de cargos e funções
públicas. Na aferição pessoal, o Estado verifica a capacidade intelectual, física e
psíquica de interessados em ocupar funções públicas e no aspecto seletivo são
escolhidos aqueles que ultrapassam as barreiras opostas no procedimento, obedecida
sempre a ordem de classificação.5
4
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Concursos Públicos no Direito Brasileiro. Curitiba: Juruá, 2015, p. 315.
5
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo, 27. ed., rev., ampl. e atual. até 31-
12-2013. São Paulo: Atlas, 2014, p. 651.
13
Nota-se, dessa forma, que o concurso público é instrumento ou procedimento, por meio
do qual o Estado Democrático de Direito o utiliza a fim de selecionar os melhores servidores
públicos, de forma impessoal, respeitando-se os princípios constitucionais vigentes.
É bem verdade que o estudo das fontes históricas se faz necessário, tendo em vista que
o Direito é uma ciência em constante mutação em sociedade, tanto no tempo, como no espaço.
Nesse contexto, Miguel Reale explica que:
Assim sendo, a atual definição de concurso público carrega consigo aspectos históricos
de uma evolução do homem em sociedade, bem como do próprio Estado em si, ou seja, para
que se chegasse ao seu atual conceito, a sociedade progrediu os entendimentos de princípios do
6
MEIRELLES, Hely Lopes; BURLE FILHO, José Emmanuel. Direito administrativo brasileiro, colab. Carla
Rosado Burle, 42ª ed., atual. até a Emenda Constitucional nº 90, de 15-9-2015. São Paulo: Malheiros, 2016, p.
542.
7
ROCHA, Francisco Lobello de Oliveira. Regime jurídico dos concursos públicos. São Paulo: Dialética, 2006,
p. 54.
8
REALE, Miguel. Lições Preliminares do Direito. 27ª ed. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 17.
14
Direito, bem como impôs limitações a serem respeitadas por entidades estatais para com o
indivíduo ao longo dos anos.
Como é sabido, a busca por cargos estatais geralmente foi algo almejado por cidadãos
em sociedades civilizadas. A partir disso, conclui-se que houve nítida evolução no processo de
escolha de funcionários públicos, sendo o concurso público uma das formas de seleção mais
justas encontradas até o momento, com fundamentos em ideais democráticos.
Dessa forma, não há um marco inicial do surgimento do concurso. Logo, para Cretella
Júnior: “O concurso público foi implantado na França ao tempo de Napoleão e, apesar de sua
idoneidade, foi de início objeto de renhidas resistências, que definharam posteriormente ante o
aspecto democrático que foi reconhecido a esse tipo de procedimento.”9
Artigo 6º- A Lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de
concorrer, pessoalmente ou através dos seus representantes, para a sua formação. Ela
deve ser a mesma para todos, quer se destine a proteger quer a punir. Todos os
cidadãos são iguais a seus olhos, são igualmente admissíveis a todas as dignidades,
lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade, e sem outra distinção que não
seja a das suas virtudes e dos seus talentos.10
Assim, diante dessa norma, percebe-se que se fez necessário um instrumento que
forneça a igualdade entre os concorrentes, de maneira impessoal, em conjunto com a seleção
dos mais aptos a ocupar o cargo público.
No Brasil, a primeira Constituição que tratou do concurso público foi a de 1934, em que
pese as Constituições anteriores já expressassem a respeito do acesso ao cargo público, de forma
muito semelhante à Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.
9
CRETELLA JÚNIOR, José apud. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo,
27. ed., rev., ampl. e atual. Até 31-12-2013. São Paulo: Atlas, 2014, p. 651.
10
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO - 1789. Disponível em:
<http://pfdc.pgr.mpf.mp.br/atuacao-e-conteudos-de-apoio/legislacao/direitos-
humanos/declar_dir_homem_cidadao.pdf>. Acesso em: 10 de janeiro de 2019.
15
Visto isso, a Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada por
Getúlio Vargas em 1934, estipulou timidamente a figura do concurso público no Brasil em seu
artigo 170, §2º, in verbis:
[...]
2º) a primeira investidura nos postos de carreira das repartições administrativas, e nos
demais que a lei determinar, efetuar-se-á depois de exame de sanidade e concurso de
provas ou títulos. 11
Não obstante, as Constituições de 1937 e 1946 repetem a mesma lógica dessa citação.
Desse modo, com o advento da Carta constitucional de 1967, surge a sistemática mais próxima
da qual se conhece atualmente, já que nesta o concurso passa a ser obrigatório para a primeira
investidura, salvo em casos específicos em lei, e dispensável para cargos em comissão, sendo a
estes livres sua exoneração e nomeação. Além disso, o concurso pode ser de provas ou provas
e títulos, diferente do que ocorria nas constituições anteriores em que basicamente a forma de
concurso se dava por títulos. Cita-se a referida Carta constitucional, após a Emenda
Constitucional nº 01 de 1969, em seu artigo 97:
11
POLETTI, Ronaldo. 1934 (Coleção Constituições brasileiras, vol. 3). 3. ed. Brasília: Senado Federal,
Subsecretaria de Edições Técnicas, 2012, p. 142. Disponível em:
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137602/Constituicoes_Brasileiras_v3_1934.pdf>. Acesso
em: 11 de janeiro de 2019.
12
CAVALCANTI, Themístocles Brandão; BRITO, Luiz Navarro de; BALEEIRO, Aliomar. 1967 (Coleção
Constituições brasileiras, vol. 6). 3. ed. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 2012, p.
171. Disponível em:
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137604/Constituicoes_Brasileiras_v6_1967.pdf>. Acesso
em: 11 de janeiro de 2019.
16
Daí a relevância de levantar aspectos históricos, a fim de compreender seu conceito, sua
natureza jurídica e sua finalidade.
Art. 37.
[...]
13
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Curso de Direito Constitucional, 9.ed., ver., ampl. e. atual. Salvador: Juspodivm,
2015, p. 94.
14
HANS, Kelsen Apud Idem, Ibidem, p. 94.
15
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Op. cit., p. 94
16
MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. Op. cit., p. 11.
17
Para diferenciar esse sentido da noção anterior, deve a expressão conter as iniciais
maiúsculas: Administração Pública. Os órgãos e agentes a que nos temos referido
integram as entidades estatais, ou seja, aquelas que compõem o sistema federativo
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Entretanto, existem algumas pessoas
jurídicas incumbidas por elas da execução da função administrativa. Tais pessoas
também se incluem no sentido de Administração Pública. São elas as autarquias,
sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações públicas. No primeiro
caso temos a Administração Direta, responsável pelo desempenho das atividades
administrativas de forma centralizada; no segundo se forma a Administração Indireta,
exercendo as entidades integrantes a função administrativa descentralizadamente.19
17
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. In: Presidência da República.
Legislação Federal. Constituição. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 31 de julho de 2018.
18
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo, 27. ed., rev., ampl. e atual. São
Paulo: Atlas, 2014, p. 11.
19
Idem, Ibidem p. 12.
20
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Igualdade, discriminação e concursos público: Análise dos requisitos de
acesso aos cargos públicos no Brasil. Maceió: Viva, 2014, p. 23.
18
É notório que nas últimas décadas, os princípios assumiram uma posição proeminente nos
novos sistemas constitucionais, atuando como verdadeiro pedestal normativo.22
[...]
21
MELLO apud MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. Op. cit., p. 19.
22
BONAVIDES, 2000, p. 237 e 255 apud Idem, Ibidem, p. 19.
23
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 100 e 101.
24
MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. Op. cit., p. 20.
19
os concursos públicos eleva a relevância do papel dos princípios nesse ramo, bem como de seu
estudo científico por parte da doutrina. 25
Desse modo, em relação ao princípio da igualdade, este está expresso no caput artigo 5º
da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, segundo o qual garante que: “Todos
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade.”26
Ademais, não é difícil perceber que a própria noção de concurso público, ora analisada
anteriormente no presente trabalho, carrega consigo o ideal de igualdade, seja na igualdade de
condições dos candidatos no processo em si (provas, títulos, edital para todos, entre outros),
como também na igualdade de acesso ao cargo público por meio do certame.
O direito a igualdade é o direito que todos têm de ser tratados igualmente na medida
em que se igualem e desigualmente na medida em que se desigualem, quer perante a
ordem jurídica (igualdade formal), quer perante oportunidade de acesso aos bens da
vida (igualdade material), pois todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade
e direitos. A exigência de igualdade decorre do princípio constitucional da igualdade,
que é um postulado básico da democracia, pois significa que todos merecem as
mesmas oportunidades, sendo defeso qualquer tipo de privilégio e perseguição. O
princípio em tela interdita tratamento desigual às pessoas iguais e tratamento igual às
pessoas desiguais. 28
Sendo assim, na seara dos concursos públicos, para que haja a efetiva igualdade, é
necessária a observância das regras isonômicas daqueles que podem participar do certame,
25
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 100 e 101.
26
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. In: Presidência da República.
Legislação Federal. Constituição. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 31 de julho de 2018.
27
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 113.
28
CUNHA JÚNIOR, Dirley da. Op. cit., p. 550.
20
Outrossim, o princípio da meritocracia, também basilar na seara dos concursos, traz consigo
a ideia de merecimento e aptidão para o provimento do cargo estatal, bem como consubstancia os
ideais republicanos do Estado Democrático de Direito.33 Nesse sentido, assevera Fábio Lins de
Lessa Carvalho:
[...]
29
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 113.
30
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 30ª ed. rev. atual. São Paulo:
Malheiros Editores, 2013, p. 99.
31
CARVALHO, Matheus. Manual de Direito Adminstrativo. 4ª ed. rev. ampl. atual. Salvador: Juspodivm, 2017,
p. 62.
32
ROCHA, Francisco Lobello de Oliveira. Regime jurídico dos concursos públicos. São Paulo: Dialética, 2006,
p. 27.
33
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., passim.
21
social e econômica, poderá vir a ocupar qualquer cargo público. Vê-se, assim, que a
meritocracia convive muito bem com essa situação. 34
De mais a mais, o princípio da legalidade, pode ser entendido como, nas palavras de
Celso Antônio Bandeira de Mello, o “princípio específico do Estado de Direito, é justamente
aquele que o qualifica e que lhe dá identidade própria.”39 Além disso, consoante a esse
entendimento, compreende-se que a Administração Pública está limitada àquilo determinado
em lei. Vale ressaltar a clássica comparação de Hely Lopes Meirelles 40, segundo a qual leciona
que enquanto na vida privada os indivíduos podem fazer tudo o que a lei não veda, o
administrador público somente pode atuar onde a lei autorizar.
Além disso, a doutrina destaca os efeitos do princípio da legalidade, nesse sentido, José
Carvalho Filho explica que:
34
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 116.
35
Idem, Ibidem, p. 116.
36
Idem, Ibidem, p. 117.
37
Idem, Ibidem, p. 120.
38
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência [...].
39
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Op. cit., p. 102.
40
MEIRELLES, Hely Lopes; BURLE FILHO, José Emmanuel. Op. cit., p. 92.
22
Não custa lembrar, por último, que, na teoria do Estado moderno, há duas funções
estatais básicas: a de criar a lei (legislação) e a de executar a lei (administração e
jurisdição). Esta última pressupõe o exercício da primeira, de modo que só se pode
conceber a atividade administrativa diante dos parâmetros já instituídos pela atividade
legisferante. Por isso é que administrar é função subjacente à de legislar. O princípio
da legalidade denota exatamente essa relação: só é legítima a atividade do
administrador público se estiver condizente com o disposto na lei.41
Visto isso, no âmbito dos concursos públicos, o princípio da legalidade entende-se que
este garante a objetividade do procedimento e concede segurança jurídica, assim, vale destacar
as palavras de Fábio Lins de Lessa Carvalho:
Sendo assim, o concurso público perde sua essência ou sentido de ser, caso não haja a
impessoalidade nos atos da administração e na condução do processo como um todo.
41
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. cit., p. 20.
42
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 120.
43
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. cit., p. 20 e 21.
44
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 127.
23
Desse modo, Fábio Lins de Lessa Carvalho 45 esclarece que o esperado da Administração
Pública diante da condução do concurso público com base na moralidade, vincula-se
necessariamente a adoção de valores éticos, tendo em vista que decorre diretamente da
moralidade administrativa a lisura, a honestidade, a incorruptibilidade, a boa-fé, a probidade e
lealdade.
Por outro lado, no que se refere ao princípio da publicidade, Francisco Lobello Rocha,
afirma que, no plano do concurso público, o referido princípio constitucional vigente significa
“a ampla e efetiva comunicação de todos os atos, em cada fase do concurso, informando os
candidatos sobre seus deveres e obrigações e garantindo o controle destes, bem como da
sociedade como um todo, sobre os atos praticados pela Administração.”46 Nesse contexto, é
válido destacar que o princípio da publicidade está diretamente relacionado com a eficiência do
concurso público.
Por fim, após a análise dos princípios constitucionais expressos, ressalta-se que a
doutrina destaca os princípios específicos dos concursos públicos, tais como: vinculação ao
edital, lealdade, competitividade, extensividade, objetividade, clareza, imparcialidade do
selecionador, razoável duração do concurso, entre outros.49 Entretanto, tratam-se de
45
Idem, Ibidem, p. 130.
46
ROCHA, Francisco Lobello de Oliveira, p. 39-40.
47
MOTTA, Fabrício. Concursos públicos e o princípio da vinculação ao edital. Revista de Direito
Administrativo, Rio de Janeiro, v. 239, p. 139-148, jan. 2005. ISSN 2238-5177. Disponível em:
<http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/article/view/43864>. Acesso em: 26 Jan. 2019.
48
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 135.
49
Idem, Ibidem, passim.
24
Junto a isso, a importância do controle na esfera dos concursos públicos reside também
no fato de que sua finalidade é selecionar servidores públicos, aos quais serão responsáveis pela
administração do Estado. Assim, de nada adiantaria se não houvesse um sistema de controle à
altura, capaz de garantir a regularidade do ora estudado processo seletivo.
50
Idem, Ibidem, p. 102.
51
TOURINHO, Rita. Concurso Público no ordenamento jurídico brasileiro. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008,
p. 139.
52
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Op. cit., p. 406.
25
Ressalta-se que, dada sua natureza jurídica, é inegável que todos os atos do
procedimento do concurso são passíveis de controle, seja administrativo, judicial ou outros
meios, inclusive o social. 53
A respeito das modalidades de controle, a doutrina destaca dois grandes tipos: o controle
administrativo e o judicial. No que se refere ao primeiro, conceitua-se, segundo Hely Lopes
Meirelles:
Por conseguinte, conclui o referido autor55 que tal controle decorre do poder-dever de
autotutela que a Administração possui para anular, revogar ou alterar seus atos, bem como de
punir seus agentes com as penalidades estatutárias.
A respeito desse controle, Matheus Carvalho 57 afirma que ele não obsta a atuação do
controle administrativo, de forma que a Administração Pública tem o poder para efetivar a
revisão de seus atos independentemente de provocação de interessando, como também a
decisão administrativa não impede que a matéria seja levada à apreciação do Poder Judiciário.
53
Idem, Ibidem, p. 408.
54
MEIRELLES, Hely Lopes; BURLE FILHO, José Emmanuel. Op. cit., p. 801.
55
Idem, Ibidem, p. 802.
56
Idem, Ibidem, p. 845.
57
CARVALHO, Matheus. Op. cit., p. 403.
26
Administração que preste um serviço público adequado. Nada obstante, forte instituição que
contribui para tal controle, a qual ganha cada vez mais projeção em decorrência de sua atuação,
é o Ministério Público, cujas peculiaridades serão analisadas no capítulo a seguir.
27
Sendo assim, antes de possuir o status de instituição como hoje é conhecido, havia
agentes do Poder Executivo que, nos períodos colonial e imperial do Brasil, desempenhavam
algumas funções típicas do Ministério Público. Nesse sentido, assevera Hugo Nigro Mazzilli
que: “no Brasil-Colônia e no Brasil-Império, o procurador-geral ainda centralizava o ofício, não
se podendo falar da instituição do Ministério Público nem de independência ou garantia dos
promotores públicos, que eram meros agentes do Poder Executivo. ”58
58
MAZZILLI, Hugo Nigro. Manual do promotor de justiça. 2. ed., ampl. e atual. — São Paulo: Saraiva, 1991,
p. 6. Disponível em: <http://www.mazzilli.com.br/pages/livros/manualpj.pdf>. Acesso em: 05 de fevereiro de
2019.
59
Segue disposto constitucional de 1824, in verbis: “Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos
Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela
Constituição do Imperio, pela maneira seguinte.
[...]
XVIII. Organizar-se-ha quanto antes um Codigo Civil, e Criminal, fundado nas solidas bases da Justiça, e
Equidade.”
60
NOGUEIRA, Octaciano. 1824 (Coleção Constituições brasileiras, vol. 1). 3. ed. Brasília: Senado Federal,
2012. p. 85 e 86. Disponível em: <
https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/137569/Constituicoes_Brasileiras_v1_1824.pdf>. Acesso
em: 05 de fevereiro de 2019.
61
GOULART, Marcelo Pedroso. Ministério Público e democracia: teoria e práxis. São Paulo: LED, 1998, p.
77.
28
Nota-se, desse modo, que o Ministério Público, ainda que timidamente, começa a dar
seus primeiros passos, em que pese estivesse carente de independência funcional e outras
garantias constitucionais.
Por outro lado, durante a fase republicana, a sobredita instituição ganha mais força. É
bem verdade que os ideais republicanos se coadunam com a própria essência do Ministério
Público, embora na história do Brasil isso se conquistou lentamente. Nesse sentido, Mazzilli,
em suas lições, ao analisar o desenvolvimento do mencionado órgão durante a fase da república,
ressaltou que a partir daquele momento histórico o Ministério Público foi reconhecido como
instituição:
Desse modo, vale destacar a Carta Magna de 16 de julho de 1934, por meio da qual se
vislumbrou a vontade do constituinte em consagrar os princípios de independência funcional e
autonomia, tendo em vista que a instituição foi tratada em capítulo à parte destinado aos poderes
do Estado, bem como conferiu estabilidade aos seus membros, consubstanciando, inclusive, o
ingresso à carreira por meio de concurso público. 63 Embora, com algumas restrições relativas a
sua autonomia, como a possibilidade do Presidente da República nomear cidadãos não
pertencentes ao Ministério Público para o cargo de Procurador-Geral. 64
Não obstante o ocorrido na Carta política ditatorial de 10 de novembro 1937 que retirou
a independência da instituição, foi a partir da Constituição de 18 de setembro de 1946 que os
princípios anteriormente mencionados puderam retornar a nível constitucional, tais como:
ingresso na carreira mediante concurso público, estabilidade do membro da instituição após
62
MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit., p. 7.
63
GOULART, Marcelo Pedroso. Op. cit., p. 79.
64
Idem, Ibidem. p. 79.
29
Visto isso, a partir de 1969 até 1988, o Ministério Público conquista seu espaço com
apoio em leis infraconstitucionais. Desse modo, torna-se relevante seu crescimento com o
advento da Lei Complementar Federal nº 40 de 14 de dezembro de 1981, a qual estabeleceu
normas gerais a serem adotadas na organização do Ministério Público Estadual, lhe assegurando
suas principais garantias, atribuições e vedações.
Por fim, a figura do Ministério Público no Brasil, desde o período colonial até a
Constituição de 1988, conforme exposto, foi permeada de conquistas a fim de sua consolidação
institucional, saindo de mero agente acusador no juízo criminal, para instituição defensora dos
direitos coletivos e difusos, da democracia e dos ideais republicanos. Assim, alcança seu auge
65
Idem, Ibidem, p. 81 e 82.
66
Idem, Ibidem, p. 83 e 84.
67
MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit., p. 7.
30
como instituição dotada dessa finalidade, com a promulgação da Carta de 1988, consoante será
visto no tópico a seguir.
É inegável a relevância do papel institucional do Ministério Público nos dias atuais, seja
no combate à corrupção, proteção dos direitos coletivos, da democracia e da legalidade dos atos
administrativos, entre outros. Ademais, a Constituição Federal de 1988 garantiu força para sua
atuação, sendo assim, destaca-se que cada vez mais o Ministério Público ganha protagonismo
social, de tal modo que se agregou respeito institucional, conhecido por alguns doutrinadores
como o “quarto poder”68, por conseguinte é imprescindível a análise do seu espectro
constitucional.
Visto isso, analisa-se o Ministério Público, de modo que a partir da Constituição Federal
de 1988, como bem preconiza o artigo 127, essa instituição passou a ter autonomia perante aos
demais poderes, in verbis:
Desse modo, também se assegurou, por meio da Constituição de 1988, nos parágrafos
2º e 3º do supracitado artigo 70, a independência funcional, nas palavras de Marcos Kac:
68
Denominação adotada por Alfredo Valladão, dessa maneira, vale ressaltar suas palavras, citado por Roberto
Lyra: “Se Montesquieu tivesse escrito hoje o Espírito das Leis, por certo não seria tríplice, mas quádrupla, a divisão
de poderes. Ao órgão que legisla, ao que executa, ao que julga, um outro acrescentaria ele: o que defende a
sociedade e a lei - perante a Justiça, parta a ofensa de onde partir, isto é, dos indivíduos ou dos próprios poderes
do Estado.”
VALLADÃO, Alfredo. Apud: LYRA, Roberto. Teoria e Prática da Promotoria Pública. 2ª. Ed. Porto Alegre:
Sérgio Antônio Fabris, 1989, p.15)
69
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. In: Presidência da República.
Legislação Federal. Constituição. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 31 de julho de 2018.
70
Vale mencionar o referido disposto literalmente: “Art. 127 [...] § 2º Ao Ministério Público é assegurada
autonomia funcional e administrativa, podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a
criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas
e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento.
§ 3º O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias.”
31
Nesse contexto, segundo Marcelo Pedro Goulart 72, a nova ordem constitucional garante
independência funcional do Parquet frente aos órgãos dos Poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário, bem como a sua posição topográfica em capítulo distinto daqueles destinados aos
poderes do Estado, demonstra a disposição do constituinte em trata-lo como instituição dotada
de autonomia e independência, aos quais revelam-se sob o prisma jurídico-constitucional.
71
KAC, Marcos. O Ministério Público na Investigação Penal Preliminar. Rio de Janeiro: Lumen Juris. 2004.
p. 106.
72
GOULART, Marcelo Pedroso. Op. cit., p. 91.
73
SALGADO FILHO, Nilo Spinola; MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Ação Civil Pública: defesa do
patrimônio público e da moralidade administrativa. Revista dos Tribunais: São Paulo. v. 735. 1997. p. 161-
175.
74
GOULART, Marcelo Pedroso. Op. Cit., passim.
75
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Tutela coletiva: visão geral e atuação extrajudicial. Brasília: Escola
Superior do Ministério Público da União; Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, 2006. p.28
32
Desse modo, conforme assevera Goulart76, sua atuação está limitada pelos princípios e
objetivos fundamentais da República do Brasil, tendo como norte o projeto democrático
declinado pela Constituição. Assim sendo, destaca o mesmo autor o aspecto social do
Ministério Público, ao afirmar que o Parquet deve apresentar-se perante a sociedade como uma
das instituições criadoras de uma sociedade livre, justa e solidária, isso quer dizer que,
necessariamente, sua atividade confrontará setores da sociedade que conservam e concentram
riqueza e poder, aos quais alargam as desigualdades sociais.
Nada obstante, é imperioso destacar que, atualmente, dada a abrangência de seu controle
jurídico preconizada pela Constituição, o Ministério Público passa a atuar como fiscal da ordem
jurídica, expressão consagrada no recente Código de Processo Civil de 2016, em vez de somente
fiscal da lei, como anteriormente conhecido. Nesse contexto, ainda nas palavras de Gavronski:
[...]
76
GOULART, Marcelo Pedroso. Op. cit., p. 104.
77
Idem, Ibidem, p. 104.
33
Por outro lado, também de forma expressa, a Lei Maior 80 estabeleceu vedações aos seus
membros, tais como: receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários,
percentagens ou custas processuais; exercer a advocacia; participar de sociedade comercial, na
forma da lei; exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma
de magistério; exercer atividade político-partidária; receber, a qualquer título ou pretexto,
auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as
exceções previstas em lei; e, exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes
de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.
Por fim, é válido ressaltar que, por ser uma instituição constitucional essencial à função
da justiça, está dotada de princípios aos quais corroboram para uma dogmática mais consistente,
de maneira a serem explorados especificadamente no tópico seguinte.
78
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. A intervenção do Ministério Público no novo Código de Processo Civil. In:
ANJOS FILHO, Robério Nunes dos; RODRIGUES, Geisa de Assis (organizadores). Reflexões sobre o novo
Código de Processo Civil. 2 v. Brasília: ESMPU, 2016, p. 45 e 46.
79
Cf. Artigo 128, §5º, inciso I, alíneas “a”, “b” e “c” da Constituição Federal de 1988.
80
Cf. Artigo 128, § 6º e §5º, inciso II, alíneas “a”, “b”, “c”, “d”, “e” e “f” da Constituição Federal de 1988.
34
Conforme analisado no primeiro capítulo, a Constituição, norma acima das demais, está
repleta de princípios explícitos ou implícitos. Ao tratar do Ministério Público, em seu artigo
127, parágrafo primeiro, expressa que “são princípios institucionais do Ministério Público a
unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. ”81
Vale destacar, ainda, a respeito da unidade desse órgão, nas palavras de Hugo Mazzilli,
que “a unidade é o conceito de que os promotores de um Estado integram um só órgão sob a direção
de um só chefe.”83
Nada obstante, o Parquet é único, ainda que haja repartições de competência (Ministério
Público da Federal, Ministério Público do Trabalho, entre outros...), todos possuem as mesmas
garantias, funções e prerrogativas, com base na Constituição e respectiva lei complementar,
incumbidos de desempenharem as mesmas atribuições, em especial na garantia da ordem legal,
constitucional e democrática, bem como na tutela dos direitos coletivos, difusos ou individuais
indisponíveis.
81
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. In: Presidência da República.
Legislação Federal. Constituição. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 31 de julho de 2018.
82
KAC, Marcos. Op. cit., p. 124.
83
MAZZILLI, Hugo Nigro. Op. cit., p. 48.
84
Idem, Ibidem, p. 48.
35
atuação do Ministério Público deve ser independente, ou seja, todos os membros gozam de
independência em suas funções.85 Destarte, nos ensinamentos de Mazzilli:
Se faz imprescindível, por conseguinte, salientar que sua atividade está organizada
seguindo a distribuição de competência prevista na Constituição, que assim determinou sua
formação. No âmbito dos concursos públicos, isso se faz relevante conforme demonstrado no
tópico que segue.
Como é sabido, para que haja efetividade na atuação ministerial, é mister que o exercício
de sua atividade seja organizado por distribuição de competência conforme a Constituição
Federal de 198887 assim expressa. Em seu artigo 128, determina que o Ministério Público
abrange o Ministério Público dos Estados, e o Ministério Público da União que compreende o
Ministério Público Federal, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar, o
Ministério Público do Distrito Federal e Territórios.
85
Idem, Ibidem, p. 81.
86
Idem. Introdução ao Ministério Público. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 67.
87
Cita-se o artigo 128, incisos I e II, ipsis litteris:
Art. 128. O Ministério Público abrange:
I - o Ministério Público da União, que compreende:
a) o Ministério Público Federal;
b) o Ministério Público do Trabalho;
c) o Ministério Público Militar;
d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios;
II - os Ministérios Públicos dos Estados.
36
88
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. In: Presidência da República.
Legislação Federal. Constituição. Brasília, 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm>. Acesso em: 31 de julho de 2018.
89
Em sua decisão, no Recurso Extraordinário n. º 773798, o Ministro Zavascki citou: “Figurando o Ministério
Público Federal, órgão da União, como parte na relação processual, a um juiz federal caberá apreciar a demanda,
ainda que seja para dizer que não é ele, e sim o Ministério Público Estadual, o que tem legitimação ativa para a
causa. Para efeito de competência, como se sabe, pouco importa que a parte seja legítima ou não. A existência ou
não da legitimação deve ser apreciada e decidida pelo juiz considerado competente para tanto, o que significa que
a questão competencial é logicamente antecedente e eventualmente prejudicial à da legitimidade das partes. Para
efeito de competência, o critério ratione personae (que é o estabelecido no art. 109, I, da CF) é considerado em
face apenas dos termos em que foi estabelecida a relação processual. Em outras palavras, para efeito de
determinação de competência, o que se leva em consideração é a parte processual, o que nem sempre coincide
com a parte legítima. Parte processual é a que efetivamente figura na relação processual, ou seja, é aquela que
pede ou em face de quem se pede a tutela jurisdicional numa determinada demanda. Já a parte legítima é aquela
que, segundo a lei, deve figurar como demandante ou demandada no processo.”
Referência: BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. º 773798/RJ. Direito
Administrativo e outras matérias de Direito Público. Atos Administrativos. Improbidade Administrativa. Direito
Processual Civil e do Trabalho. Jurisdição e competência. Competência. Recorrente: Edson Bedim de Azeredo.
Recorrido: Ministério Público Federal. Relator: Min. Teori Zavascki. Brasília, Diário da Justiça Eletrônico, 06 de
outubro de 2015. Disponível em:
<http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoPeca.asp?id=307869084&tipoApp=.pdf>. Acesso em: 10 fev.
2019.
90
A 1ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal é órgão Colegiado que possui atribuições
de Coordenação, Integração e Revisão do exercício funcional dos Membros do Ministério Público Federal, previsto
na Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993, a qual dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto
do Ministério Público da União.
37
91 92
, os quais esclarecem que não é atribuição do Ministério Público Federal apurar
irregularidades em concursos públicos no âmbito estadual, municipal ou distrital, nem
referentes a sociedades de economia mista.
Ainda, conforme o supracitado artigo constitucional combinado com o artigo 114, inciso
I, da Lei Maior 93, entende-se que, no tocante a apuração de irregularidades em concursos para
provimentos de cargos regidos pela Consolidações das Leis Trabalhistas (relação contratual de
emprego), será da competência do Ministério Público do Trabalho, em qualquer ente da
administração (União, Estados, Municípios, Distrito Federal ou Territórios).
Salienta-se, por oportuno, que o Ministério Público Militar não atua no âmbito dos
concursos públicos, tendo em vista que sua atuação, conforme artigo 116 e seguintes da Lei
Complementar nº 75 de 20 de maio de 1993, está limitada à apuração de crimes militares,
previstos no Código Penal Militar, representando perante a Justiça Militar.
Por todo o exposto no presente capítulo, conclui-se que o Ministério Público é, não
somente pelos aspectos constitucionais, mas também históricos, instituição essencial ao pleno
desempenho da justiça, da defesa da democracia e dos direitos constitucionais e legais. No
âmbito dos concursos públicos, ou seja, na seara da tutela coletiva cível, destaca-se cada vez
mais sua atuação nesses conflitos, conforme se analisará no próximo capítulo. Assim, o
Ministério Público, atualmente, tem sido uma esperança tanto aos candidatos que se sentem
injustiçados em diversos certames, no combate às irregularidades, como também aos cidadãos
91
Cf. Enunciado nº 4: Ausência de atribuição do Ministério Público Federal para apurar
irregularidades/ilegalidades relativas a concursos públicos estaduais, distritais ou municipais
A apuração de supostas irregularidades ou ilegalidades praticadas em concursos públicos ou quaisquer processos
seletivos para provimento de cargos ou empregos públicos municipais, estaduais ou distritais não é da atribuição
do Ministério Público Federal. Referência: Ata da 19ª Sessão Extraordinária realizada em 16.12.2014, publicada
em 03.07.2015
92
Cf. Enunciado nº 14: Ausência de atribuição do Ministério Público Federal para apurar fatos relacionados a
concurso público para provimento de cargos em sociedade de economia mista.
A apuração de fatos relacionados a concurso público para provimento de cargos em sociedade de economia mista
não é, em regra, da atribuição do Ministério Público Federal. Enunciado alterado conforme deliberação do
Colegiado na 4ª Sessão de Coordenação (6/8/2018).
93
Cita-se o artigo 114, inciso I, da Constituição Federal de 1988, in verbis:
Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:
I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração
pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
38
que esperam uma boa prestação do serviço público e respeito das normas legais por parte da
Administração.
Não restam dúvidas, por conseguinte, que o Ministério Público é legitimado para a
fiscalização dos certames no Brasil. Nesse sentido, Fábio Lins de Lessa Carvalho explica que:
94
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Concursos públicos no direito brasileiro. Curitiba: Juruá, 2015, p. 443.
39
Por outro lado, a fase externa, ainda de acordo com o supracitado autor 96, é aquela
conhecida por “concurso de ingresso no serviço público propriamente dito”, ou seja, essa fase
está relacionada com o desenvolvimento do certame, a exemplo, o procedimento de abertura,
deferimento ou indeferimento de inscrição, promoção das provas, publicação de resultados,
homologação, entre outros.
Visto isso, é inegável que ambas as fases referidas são passíveis de controle. Nesse
sentido, Fábio Lins de Lessa Carvalho destaca que:
95
GASPARINI, Diógenes. Concurso público – imposição constitucional e sua operacionalização. In: MOTTA,
Fabrício (Coord.). Concurso público e Constituição. Belo Horizonte: Fórum, 2005, p. 51-57.
96
Idem, Ibidem, p. 57.
97
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Concursos públicos no direito brasileiro. Curitiba: Juruá, 2015, p. 408.
40
exemplo de regras para participação, utilização das cotas para pessoas com deficiência e cotas
raciais), como em sua fase externa (questões que atingem os interesses difusos, fraudes nas
provas, controle das nomeações, entre outros).
Entretanto, é na fase externa que se verifica a maior incidência da sua atuação, embora
a fase interna seja igualmente importante na regularidade do certame. Isso ocorre porque na
fase externa há maior interesse dos candidatos, tendo em vista a disputa dos concorrentes,
momento em que estes mais se relacionam com a Administração Pública. 98
Insta esclarecer que a referida amplitude não se confunde com uma atuação ilimitada,
dessa forma, a atividade do Ministério Público está regida por normas e princípios, às quais
fundamentam a utilização de seus procedimentos a fim de garantir a supremacia do interesse
público.
De início, é imperioso destacar que o sistema normativo brasileiro está voltado para o
incentivo à utilização das vias extrajudiciais na busca pela solução dos conflitos da sociedade.
O estímulo à autocomposição, dessa forma, passa a ser um princípio, pautado por forte política
pública de tratamento adequado dos conflitos jurídicos, bem como pelo Poder Legislativo, com
a elaboração de diversas leis nesse sentido.99
Diante desse contexto, Fredie Didier Júnior elucida em relação a solução consensual de
conflitos:
98
Idem, Ibidem, p. 411.
99
DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito processual civil, parte
geral e processo de conhecimento. vol 1. 17ª. ed. Salvador: Juspodivm. 2015, p. 273.
41
[...]
Visto isso, a Lei nº 13.105, de março de 2015, o recente Código de Processo Civil, não
por coincidência, estabeleceu em seu artigo 3º, parágrafos 2º e 3º, litteris:
[...]
§2º o Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos.
Sendo assim, a doutrina entende que há três áreas de proteção dos direitos difusos e
coletivos, a primeira se dá na esfera política, com a formulação de normas; a segunda, no âmbito
extrajudicial; e a terceira na seara judicial, com ações coletivas. 102 Especialmente, em relação
ao âmbito extrajudicial, este:
100
Idem, ibidem, p. 273.
101
BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília, 2015. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>. Acesso em: 15 fev. 2019.
102
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça Pesquisa – Relatório Analítico Propositivo. Direitos e
Garantias Fundamentais. Ações Coletivas no Brasil: Temas, atores e desafios da tutela coletiva. CNJ,
Brasília: 2017. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/03/799b01d7a3f27f85b334448b8554c914.pdf >. Acesso em:
16 fev. 2019, p. 16.
103
Idem, Ibidem, p. 16.
42
estes muitas vezes são suficientes para corrigir possíveis irregularidades praticadas pela
Administração. O Parquet, por conseguinte, não tem sua atuação limitada aos processos
judiciais. Nesse contexto, Sérgio Gilberto Porto elucida:
Há, por isso, uma grande diferença em relação às demais áreas de atuação no que se
refere ao acompanhamento, impulso e registro dos procedimentos. Enquanto nos
inquéritos e processos os autos chegam na procuradoria, vão aos gabinetes (onde há
manifestação do procurador) e posteriormente voltam para a Polícia ou para a Justiça
(uma espécie de "bate-volta"), na tutela coletiva os procedimentos são movimentados
inúmeras vezes dentro da própria procuradoria, antes da adoção de alguma
providência judicial que, não raro, torna-se dispensável, pois a situação é resolvida no
âmbito do procedimento, com mais celeridade e efetividade no cumprimento da
missão constitucional. Em razão dessa distinção, há muito mais trabalho de apoio
administrativo na tutela coletiva que nas demais áreas.105 (grifos do autor)
A notícia de fato
104
PORTO, Sérgio Gilberto. Sobre o Ministério Público no processo não criminal. 2ª. ed. Rio de Janeiro: AIDE,
1998. p. 16.
105
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Tutela coletiva: visão geral e atuação extrajudicial. Brasília: Escola
Superior do Ministério Público da União; Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, 2006, p. 26.
43
Desse modo, é a partir da notícia de fato que o membro do Ministério Público recebe a
representação ou denúncia do fato, mormente analisa-se as atribuições da sua área de atuação.
No âmbito dos concursos, geralmente a matéria é da área cível, ademais, pode o procedimento
tramitar, como já exposto nesta monografia, entre os Ministérios Públicos Federal, Estadual, do
Distrito Federal e Territórios ou do Trabalho, a depender do objeto investigado no bojo do
procedimento.
Não obstante, é possível a obtenção por parte do Ministério Público dos primeiros
indícios ou informações, já nessa fase, para que se possa deliberar sobre a instauração dos autos
(seja um inquérito civil ou procedimento preparatório), sendo vedada a expedição de
requisições, conforme artigo 3º, parágrafo único, da resolução supracitada.107 Dessa maneira,
entende-se que é possível solicitar informações ou esclarecimentos da própria notícia
(representação ou denúncia) apresentada.
Ademais, expressa o caput do mesmo artigo 108, que a notícia de fato será apreciada no
prazo 30 (trinta dias), a contar do seu recebimento, podendo ser prorrogada de maneira
fundamentada até 90 (noventa) dias.
106
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 174, de 4 de julho de 2017.
Disciplina, no âmbito do Ministério Público, a instauração e a tramitação da Notícia de Fato e do Procedimento
Administrativo. Brasília, 2017. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-174-1.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2019
107
Nesse sentido, cita-se o dispositivo integralmente:
“Art. 3º [...]
Parágrafo único. No prazo do caput, o membro do Ministério Público poderá colher informações preliminares
imprescindíveis para deliberar sobre a instauração do procedimento próprio, sendo vedada a expedição de
requisições.”
108
Assim expõe o artigo, litteris: “Art. 3º A Notícia de Fato será apreciada no prazo de 30 (trinta) dias, a contar
do seu recebimento, prorrogável uma vez, fundamentadamente, por até 90 (noventa) dias. ”
44
Nesse sentido, vislumbra-se que, na prática, quanto mais tempo levar a investigação,
mais difícil será de reverter o quadro de uma possível irregularidade. Por exemplo, caso
nenhuma medida seja tomada e o procedimento se prolongue, poderia haver a convocação de
aprovados em um certame irregular, de modo que, nesse exemplo, o membro do Ministério
Público deveria possuir um arcabouço probatório significativo, além de argumentos
convincentes, caso fosse necessário pedir a suposta exoneração de servidores públicos, já na
esfera judicial.
Art. 4º A Notícia de Fato será arquivada quando: (Redação alterada pela Resolução nº
189, de 18 de junho de 2018)
[…]
109
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 174, de 4 de julho de 2017.
Disciplina, no âmbito do Ministério Público, a instauração e a tramitação da Notícia de Fato e do Procedimento
Administrativo. Brasília, 2017. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-174-1.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2019
45
Dessa maneira, com o recebimento da notícia de fato, deve estar clara a legitimidade do
Ministério Público para sua atuação no âmbito dos concursos, em especial os interesses
coletivos ou difusos tutelados, de forma a delimitar o objeto do procedimento especificamente.
O procedimento administrativo
Assim sendo, como visto no presente estudo, o Parquet tem o dever de fiscalizar os atos
administrativos, dada sua incumbência constitucional de garantir a legalidade, exercendo um
controle dos atos da Administração. Surge, a partir de então, a ideia do procedimento
administrativo ora estudado no presente tópico.
110
Idem, Ibidem.
111
Idem, Ibidem.
46
O inquérito civil
Desse modo, o inquérito civil tem natureza jurídica de procedimento administrativo não
obrigatório, com o objetivo de investigar fato que enseje a possível tutela dos direitos coletivos
ou difusos, servindo como base para o fiel cumprimento dos interesses do Ministério Público,
bem como a concretização de suas funções legais ou institucionais.
112
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 23, de 17 de setembro de 2007.
Regulamenta os artigos 6º, inciso VII, e 7º, inciso I, da Lei Complementar nº 75/93 e os artigos 25, inciso IV, e
26, inciso I, da Lei nº 8.625/93, disciplinando, no âmbito do Ministério Público, a instauração e tramitação do
inquérito civil. Brasília, 2007. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-174-1.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2019.
47
Enquanto que na apuração criminal é a Polícia Federal que, via de regra, conduz o
inquérito policial (com seus agentes preparados especificamente para a função
investigativa) e remete-o concluso para denunciar, arquivar ou requerer novas
diligências, na tutela coletiva cabe ao Ministério Público essa função, visto que ele
preside o inquérito civil ou procedimento administrativo que viabiliza a futura adoção
de providências (art. 8º, §1º, Lei 7.347/85). Assim, é ao Ministério Público que cabe
buscar as informações necessárias à propositura da ação (ou à formação de
convencimento fundamentado pelo arquivamento), ouvir pessoas, receber
reclamações, fazer diligências in loco etc, providências estas que merecem o adequado
registro físico (no procedimento) e eletrônico (nos bancos de dados, viabilizando
melhor controle e a elaboração de estatística).
[...]
113
Idem, Ibidem.
114
Segue dispositivo da sobredita resolução, ipsis litteris: “Art. 2º O inquérito civil poderá ser instaurado:
I – de ofício; ”
115
Consoante norma da mesma resolução, in verbis: “Art. 3º Caberá ao membro do Ministério Público investido
da atribuição para propositura da ação civil pública a responsabilidade pela instauração de inquérito civil. ”
116
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Op. cit., p. 24-26.
48
Visto isso, nota-se que seria interessante fomentar a capacitação de servidores no âmbito
da tutela coletiva a fim de tratarem especificamente de concursos públicos, diante do aumento
da demanda e frequentes irregularidades dos certames.
Não obstante, são várias as formas em que o membro do Ministério Público dispõe, no
curso do inquérito civil, a fim de atingir seu objetivo, algumas delas são: ofícios requisitórios
de informações, notificações, diligências in loco, oitivas, elaboração de certidões, perícias,
reuniões e audiências públicas.117
Por fim, não há um prazo definido para o encerramento do inquérito civil. O artigo 9º,
da citada Resolução nº 23/2007, alterado recentemente pela Resolução nº 193/2018, de 14 de
dezembro de 2018, expressa que:
Art. 9º O inquérito civil deverá ser concluído no prazo de um ano, prorrogável pelo
mesmo prazo e quantas vezes forem necessárias, por decisão fundamentada de seu
presidente, à vista da imprescindibilidade da realização ou conclusão de diligências,
dando-se ciência ao Conselho Superior do Ministério Público, à Câmara de
Coordenação e Revisão ou à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. (Redação
dada pela Resolução n° 193, de 14 de dezembro de 2018)118
117
Idem, Ibidem, passim.
118
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 23, de 17 de setembro de 2007.
Regulamenta os artigos 6º, inciso VII, e 7º, inciso I, da Lei Complementar nº 75/93 e os artigos 25, inciso IV, e
26, inciso I, da Lei nº 8.625/93, disciplinando, no âmbito do Ministério Público, a instauração e tramitação do
inquérito civil. Brasília, 2007. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Normas/Resolucoes/Resoluo-174-1.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2019.
119
Desse modo, transcreve-se literalmente a norma: “Art. 10. Esgotadas todas as possibilidades de diligências, o
membro do Ministério Público, caso se convença da inexistência de fundamento para a propositura de ação civil
pública, promoverá, fundamentadamente, o arquivamento do inquérito civil ou do procedimento preparatório.”
49
À parte isso, os referidos instrumentos serão estudados de forma detalhada nos itens a
seguir, mormente associadas suas funções à matéria de concursos públicos.
Das recomendações
120
MAZZILLI, Hugo Nigro. O inquérito civil: investigações do Ministério Público, compromissos de
ajustamento e audiências públicas. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000, p. 258 e 259.
121
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Op. cit., p. 104.
122
Idem, Ibidem, p. 105.
123
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 164, de 28 de março de 2017.
Disciplina a expedição de recomendações pelo Ministério Público brasileiro. Brasília, 2017. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/Resolu%C3%A7%C3%A3o-164.pdf>. Acesso em: 16 fev.
2019.
50
Vale destacar que, consoante teor do parágrafo único do mencionado artigo 124, a
recomendação não tem caráter coercitivo. Nesse contexto, a recomendação possui como seu
alicerce o fundamento jurídico e o convencimento, de modo que sua natureza jurídica não se
deve confundir com a inocuidade, ao contrário, trata-se de mecanismo a ser manejado pelo
Ministério Público com certo grau de eficácia, sob pena de consequências pelo seu não
atendimento, nos termos da resolução ora analisada.125
124
Cita-se o dispositivo de maneira literal: “Art. 1º [...] Parágrafo único. Por depender do convencimento
decorrente de sua fundamentação para ser atendida e, assim, alcançar sua plena eficácia, a recomendação não tem
caráter coercitivo.
125
Assim determina a resolução, in verbis: “Art. 11. Na hipótese de desatendimento à recomendação, de falta de
resposta ou de resposta considerada inconsistente, o órgão do Ministério Público adotará as medidas cabíveis à
obtenção do resultado pretendido com a expedição da recomendação.”
126
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Op. cit., passim.
127
Vale ressaltar o §1º do artigo 11, da supracitada resolução, in verbis: “§ 1º No intuito de evitar a judicialização
e fornecer ao destinatário todas as informações úteis à formação de seu convencimento quanto ao atendimento da
recomendação, poderá o órgão do Ministério Público, ao expedir a recomendação, indicar as medidas que entende
cabíveis, em tese, no caso de desatendimento da recomendação, desde que incluídas em sua esfera de atribuições.”
128
Cf. notícia publicada: “O Ministério Público do Pará (MPPA), no município de Medicilândia, oeste do Pará,
expediu, na última quarta-feira (28), recomendação ao prefeito municipal, Celso Trezeciak, para que providencie,
dentro do prazo máximo de seis meses, concurso público para o preenchimento de vagas para os cargos da
municipalidade, de forma que os temporários sejam substituídos por servidores efetivos. (...)”. Referência:
ASCOM. Promotoria expede recomendação à prefeitura para a realização de concurso público. Ministério
Público do Pará, Medicilândia, 30 nov. 2018. Disponível em: <https://www2.mppa.mp.br/noticias/promotoria-
expede-recomendacao-a-prefeitura-para-a-realizacao-de-concurso-publico.htm>. Acesso em: 16 fev. 2019.
129
Cf. notícia publicada: “A Promotoria de Justiça considerou irregulares as contratações e defendeu a realização
do processo como regra moralizadora e de garantia da isonomia e da impessoalidade no recrutamento de servidores
públicos municipais.
O promotor também recomendou ao Município que se abstenha de fazer novas contratações temporárias para o
preenchimento dos cargos permanentes até que se realize o novo concurso público.”
51
Nesse contexto, dada sua natureza eminentemente de controle prévio, é válido lembrar
que, nas palavras de Maia e Queiroz, “em matéria de concurso, é muito importante uma atuação
preventiva. Quanto mais célere for o desfecho do problema menores serão os prejuízos para
administração e para os candidatos. ”132
Portanto, são vários os exemplos desse tipo de fiscalização exercida pelo Ministério
Público em qualquer parte do Brasil. Destarte, tal mecanismo ganha relevância, tendo em vista
sua agilidade e eficiência, bem como a sua valorização de medidas extrajudiciais para a solução
de possíveis irregularidades. Há, contudo, casos em que a celebração de um termo de
ajustamento de conduta é mais adequada, instrumento esse também muito utilizado pelo
Parquet no ramo de concursos públicos, como forma de atuação no controle de legalidade,
conforme se demonstrará no tópico que segue.
Referência: ALEIXO, Caroline. Prefeitura acata recomendação do MP para realizar concurso em Uberlândia. G1,
Triângulo Mineiro, Uberlândia, 2 out. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/triangulo-
mineiro/concursos-e-emprego/noticia/2018/10/02/prefeitura-acata-recomendacao-do-mp-para-realizar-concurso-
em-uberlandia.ghtml>. Acesso em: 16 fev. 2019.
130
A título de exemplo prático, a Recomendação nº 001/2017, expedida pela Procuradoria da República em Sergipe
expressa, em sua alínea “a”, que “não sejam realizadas nomeações de candidatos aprovados no Concurso Público
nº 001/2017 – CREA/SE, para provimento dos cargos públicos de Agente Fiscal – Técnico de Nível Médio nas
áreas: Engenharias e Agronomias vinculados ao sistema Confea/Crea, Analista Técnico - Nível superior nas áreas:
Engenharias e Agronomias vinculados ao sistema Confea/Crea e Contador de Nível Superior, até a solução judicial
ou extrajudicial do objeto do procedimento em epígrafe em trâmite neste Ministério Público Federal.”
Referência: PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM SERGIPE. Recomendação nº 001/2017, 26 de setembro
de 2017. Aracajú, 26 set. 2017. Disponível em: <http://www.mpf.mp.br/se/sala-de-imprensa/docs/recomendacao-
concurso-crea>. Acesso em: 16 fev. 2019.
131
A exemplo, a Recomendação nº 002/2016, expedida pelo Ministério Público do Estado do Ceará, por intermédio
da Promotoria de Justiça da Comarca de Eusébio elenca que o prefeito municipal de Eusébio, do Estado do Ceará
“proceda, no prazo de 10 (dez) dias, a prorrogação do concurso público em alusão, para viabilizar a convocação
de todos os candidatos aprovados dentro do número de vagas estabelecido no edital.”
Referência: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ. Recomendação nº 002/2016, 10 de maio de
2016. Eusébio, 10 mai. 2016. Disponível em: <http://www.mpce.mp.br/wp-
content/uploads/2016/03/recomenda%C3%A7%C3%A3o-02-de-2016.pdf>. Acesso em: 16 fev. 2019.
132
MAIA, Márcio Barbosa; QUEIROZ, Ronaldo Pinheiro de. O regime jurídico do concurso público e o seu
controle jurisdicional. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 167.
52
Desse modo, extrai-se de sua definição que se trata de um negócio jurídico celebrado
entre as partes, dotado de exigibilidade judicial. Ademais, interpreta-se do dispositivo que o
ajustamento de conduta está limitado à lei e à Constituição, de modo que o negócio jurídico
celebrado não pode flexibilizar o que neles se asseguram.
Além do mais, é válido mencionar que, conforme artigo 3º, da Resolução nº 179/2017135,
o compromisso pode ser ajustado em qualquer fase de investigação, ou no curso de ação
judicial, e deve conter obrigações certas, liquidas e exigíveis, salvo peculiaridades do caso em
questão.
133
CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Resolução nº 179, de 26 de julho de 2017.
Regulamenta o § 6º do art. 5º da Lei nº 7.347/1985, disciplinando, no âmbito do Ministério Público, a tomada do
compromisso de ajustamento de conduta. Brasília, 2017. Disponível em:
<http://www.cnmp.mp.br/portal/images/Resolucoes/Resolu%C3%A7%C3%A3o-179.pdf>. Acesso em: 16 fev.
2019.
134
GAVRONSKI, Alexandre Amaral. Op. cit., p. 115.
135
Assim expressa o artigo 3º, da mencionada resolução, in verbis: “Art. 3º O compromisso de ajustamento de
conduta será tomado em qualquer fase da investigação, nos autos de inquérito civil ou procedimento correlato, ou
no curso da ação judicial, devendo conter obrigações certas, líquidas e exigíveis, salvo peculiaridades do caso
concreto, e ser assinado pelo órgão do Ministério Público e pelo compromissário.”
53
Não obstante, nas cláusulas do acordo, é possível ainda a previsão de multas, diárias ou
de outra espécie, para o caso de descumprimento das obrigações assumidas pelo
compromissário no prazo definido em acordo, consoante teor do artigo 4º da referida
Resolução.136 Ainda, é interessante salientar a previsão do artigo 11, também do mesmo
diploma, a qual determina, em regra, a execução judicial das cláusulas em que se constatar a
mora ou inadimplência, em caso de descumprimento do acordo, em até sessenta dias. 137
136
Cita-se artigo 4º, da mesma resolução, ipsis litteris: “Art. 4º O compromisso de ajustamento de conduta deverá
prever multa diária ou outras espécies de cominação para o caso de descumprimento das obrigações nos prazos
assumidos, admitindo-se, em casos excepcionais e devidamente fundamentados, a previsão de que esta cominação
seja fixada judicialmente, se necessária à execução do compromisso.”
137
Nesse sentido, expressa o artigo 11, da citada resolução, de maneira literal: “Art. 11. Descumprido o
compromisso de ajustamento de conduta, integral ou parcialmente, deverá o órgão de execução do Ministério
Público com atribuição para fiscalizar o seu cumprimento promover, no prazo máximo de sessenta dias, ou assim
que possível, nos casos de urgência, a execução judicial do respectivo título executivo extrajudicial com relação
às cláusulas em que se constatar a mora ou inadimplência.”
138
A título de exemplo, cita-se o Termo de Ajustamento de Conduta firmado pelo Ministério Público de Minas
Gerais, por intermédio da 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Pará de Minas, em que o Município de Onça de
Pitangui se comprometeu, dentre outras obrigações, a realizar concurso público e a rescisão dos contratos
temporários de trabalho, conforme cláusula primeira e quarta, respectivamente, de maneira extrajudicial.
Referência: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS (MG). Termo de Ajustamento de
Conduta (TAC) que entre si celebram o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, por intermédio da
Promotora de Justiça Juliana Maria Ribeiro da Fonseca Salomão e o Município de Onça de Pitangui, representado
pelo Prefeito Municipal Geraldo Magela Barbosa. Termo de Ajustamento de Conduta, Inquérito Civil nº:
MPMG-0471.16.000482-9, 06 de março de 2017. Pará de Minas, 6 mar. 2017. Disponível em:
<http://www.oncadopitangui.mg.gov.br/wp-content/uploads/2017/03/TAC201710032017-1.pdf>. Acesso em: 17
fev. 2019.
139
Cf. notícia publicada, esta informa que: “Após terem sido acionados judicialmente, o Município de Rio Branco
e a Assessoria Consultoria Planejamento e Informática Ltda firmaram Termo de Ajustamento de Conduta com o
Ministério Público Estadual assumindo a obrigação de anular todas as provas realizadas no concurso público
referente ao edital 001/2011, de 29 de dezembro do ano passado. O certame estava suspenso por determinação
judicial em virtude de uma ação proposta pela Promotoria de Justiça do município, após constatação de uma série
de irregularidades.”
Referência: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO. TAC garante anulação de concurso
público e realização de novas provas no prazo de 90 dias. In: Jusbrasil, 04 mai. 2012. Disponível em: <https://mp-
mt.jusbrasil.com.br/noticias/3107320/tac-garante-anulacao-de-concurso-publico-e-realizacao-de-novas-provas-
no-prazo-de-90-dias>. Acesso em: 16 fev. 2019.
54
cargos a serem providos por concurso140, vedação à excessiva utilização de cadastro de reservas
em concursos141, entre outras irregularidades a serem sanadas.
Nota-se, então, que a celebração do acordo pelo Ministério Público pode efetivar um
controle prévio (preventivo), bem como um controle posterior, seja no bojo de procedimento
extrajudicial (administrativo) ou ação judicial. Dessa forma, verifica-se a amplitude da atuação
no controle de legalidade exercido pelo Parquet, a fim de resguardar a finalidade pública dos
certames e os princípios constitucionais vigentes.
Como antes visto, o Ministério Público é uma instituição essencial à função jurisdicional
estatal que, por força constitucional, possui legitimidade para atuar em juízo na defesa dos
direitos coletivos, difusos e individuais indisponíveis.
Nesse sentido, nem sempre há problemas que são resolvidos na esfera extrajudicial,
cabendo ao Ministério Público, garantidor da ordem legal, promover ações judiciais, a fim de
pleitear a efetividade dos direitos constitucionais, de maneira a contribuir para o pleno exercício
do controle judicial.
140
Cf. matéria do jornal Tribuna Hoje, em que diz: “A prefeitura de Atalaia não poderá mais celebrar contratos
temporários, a não ser em casos de extrema necessidade. O Poder Executivo também não deverá mais criar cargos
comissionados que não sejam de chefia, direção ou assessoramento. Ao contrário disso, ela terá um prazo de até
seis meses para encaminhar Projeto de Lei (PL) à Câmara de Vereadores visando a realização de um concurso
público. O compromisso foi firmado em um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) assinado entre o Ministério
Público do Estado de Alagoas (MPE/AL), por meio da 1ª Promotoria de Justiça daquele município, e o prefeito de
Atalaia.”
Referência: ASCOM MPE/AL. Ministério Público firma TAC para realização de concurso público em Atalaia.
Tribuna Hoje, Maceió, 13 jun. de 2018. Disponível em:
<https://tribunahoje.com/noticias/politica/2018/06/13/ministerio-publico-firma-tac-para-realizacao-de-concurso-
publico-em-atalaia>. Acesso em: 18 fev. 2019.
141
A exemplo, cita-se o Termo de Ajustamento de Conduta firmado pelo Ministério Público do Trabalho, por
intermédio da Procuradoria Regional do Trabalho da 10ª Região, em que o Banco do Brasil S.A. se comprometeu,
dentre outras obrigações, a se abster de utilizar a figura exclusiva do cadastro de reserva, comprometendo-se a
fazer constar, nos próximos editais de seus concursos públicos, o número de vagas disponíveis, a fim de evitar a
criação de falsas expectativas a candidatos aprovados nos certames.
Referência: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO (MPT). Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) que
entre si celebram o Ministério Público do Trabalho, por intermédio da Procurador do Trabalho Carlos Eduardo
Brisolla e o Banco do Brasil S.A. Termo de Ajustamento de Conduta, homologado por sentença nos autos do
processo de nº: 0000267-83.2015.5.10.0020, 07 de abril de 2015. Brasília, 7 abr. 2015. Disponível em:
<http://www.prt10.mpt.mp.br/images/Ascom/ACORDOBB.pdf >. Acesso em: 17 fev. 2019.
55
Ocorre que, nos últimos anos, percebe-se um aumento significativo na demanda judicial
dos concursos públicos. Nesse sentido, Fábio Lins de Lessa Carvalho aduz que:
Pode-se afirmar que praticamente não há um único concurso público que não tenha
uma de suas fases questionada perante o Poder Judiciário.
[...]
Certamente o fato acima descrito representa uma moeda com duas faces: se por um
lado sinaliza um maior acesso ao Judiciário e um suposto maior controle da atividade
administrativa de recrutamento dos servidores públicos, por outro lado gera inúmeros
inconvenientes.142
Ademais, Adilson Dallari144 alerta para a importância da coerência das decisões, a fim
de resguardar a segurança jurídica, ao tratar do fenômeno da “judicialização” dos concursos,
como também tece comentários acerca da luta diária do Ministério Público e do Poder Judiciário
na adoção de medidas contra irregulares em concursos. Desse modo, afirma:
142
CARVALHO, Fábio Lins de Lessa. Concursos públicos no direito brasileiro. Curitiba: Juruá, 2015, p. 413.
143
Idem, Ibidem, p. 413.
144
DALLARI, Adilson Abreu. Princípio da isonomia e concurso público. In: MOTTA, Fabrício (Coord.).
Concurso público e Constituição. Belo Horizonte: Fórum, 2007, p. 91-120.
145
Idem, Ibidem, p. 120.
56
No âmbito penal, o Ministério Público é titular da ação penal pública, nos termos do
artigo 129, inciso I, da Constituição Federal.146 Em relação a esse aspecto, infelizmente, no
Brasil é cada vez mais comum a formação de organizações criminosas especializadas em
fraudar concursos.147 Assim, o Parquet tem o dever de denunciar aqueles suspeitos por fraude
em concursos públicos, com o objetivo da responsabilização penal dos infratores, aos quais
contribuíram para um processo seletivo ilícito.
Por outro lado, na esfera cível, o Ministério Público pode atuar como custos legis nas
ações constitucionais, a exemplo do mandado de segurança, ação popular, entre outras. A
respeito disso, interessante notar que há o entendimento que o Ministério Público é legitimado
a emitir o parecer no bojo dessas ações, podendo inclusive, interpor recurso caso entenda
necessário, para pleitear posse de candidato em concurso, por exemplo. 148
Nada obstante, o sobredito órgão pode ser autor da ação em prol da legalidade dos
concursos públicos. Em face disso, dentre outras, o mecanismo mais comum e importante, sem
dúvidas, é a ação civil pública, de modo que esta será tratada em tópico específico adiante.
Como visto no segundo capítulo desta monografia, a Lei da Ação Civil Pública, além
de regular o trâmite processual da referida ação civil, foi um marco na consolidação do
Ministério Público, tendo em vista que lhe possibilitou a sua utilização a fim de garantir direitos
difusos e coletivos, como também o fiel cumprimento de sua finalidade institucional prevista
na Constituição Federal. 149
146
Cita-se o dispositivo, ipsis litteris: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; ”
147
Cf. notícia publicada no Folha Dirigida. Dentre vários exemplos, menciona-se a “Operação Panoptes”, que está
em sua terceira fase e os indiciados responderão por crimes de fraude a certame licitatório e organização criminosa.
Referência: GOMES, Fernanda. ‘Operação Panoptes’: MP denuncia mais oito pessoas por fraudes em concursos.
Folha Dirigida, Rio de Janeiro, 23 nov. 2017. Disponível em:
<https://folhadirigida.com.br/noticias/tema/especial-noticiario/operacao-panoptes-mp-denuncia-mais-oito-
pessoas-por-fraudes-em-concursos>. Acesso em: 18 fev. 2019.
148
REDE DE ENSINO LUIZ FLÁVIO GOMES. Ministério Público tem legitimidade para garantir posse em
concurso público. In: Jusbrasil, 04 mai. 2009. Disponível em:
<https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1040784/ministerio-publico-tem-legitimidade-para-garantir-posse-em-
concurso-publico>. Acesso em: 16 fev. 2019.
149
Cita-se a norma de forma literal: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
[...]
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; ”
57
De acordo com Nelson Nery Júnior, a ação civil pública é “o direito conferido pela lei,
em nome do interesse público, ao Ministério Público, a fim de que ingresse com pedido de
providências judiciais."150
Visto isso, o referido diploma é bastante amplo, o que possibilita maior atuação e
controle por parte do Ministério Público. Nesse sentido, Hugo Nigro Mazzilli comenta que:
Assim, em face das Leis n. 7.347/85, 7.853/89 e 7.913/89 e, sobretudo, diante do art.
129, III, da Constituição Federal, por ação civil pública alcançam-se agora não só as
ações para proteção do meio ambiente, do consumidor, do patrimônio cultural, como
também aquelas para defesa do patrimônio público e social e de outros interesses
difusos e coletivos.
É importante ressaltar que o Ministério Público é o legitimado que mais propõe ações
civis públicas em relação aos demais, como também suas ações são mais bem sucedidas que as
propostas por outros legitimados.152
Salienta-se, ainda, que Nelson Nery Júnior 153 expõe os princípios informativos da ação
civil pública, são eles: da taxatividade, da obrigatoriedade e da indisponibilidade.
150
NERY JUNIOR, Nelson. Ação Civil Pública. In: Revista de Processo, v. 31, São Paulo: RT, p. 224-232,
jul.1983.
151
MAZZILLI, Hugo Nigro. Manual do promotor de justiça. 2. ed., ampl. e atual. — São Paulo: Saraiva, 1991,
p. 479. Disponível em: <http://www.mazzilli.com.br/pages/livros/manualpj.pdf>. Acesso em: 05 fev. 2019.
152
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça Pesquisa – Relatório Analítico Propositivo. Direitos e
Garantias Fundamentais. Ações Coletivas no Brasil: Temas, atores e desafios da tutela coletiva. CNJ,
Brasília: 2017. Disponível em: <
http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2018/03/799b01d7a3f27f85b334448b8554c914.pdf >. Acesso em:
16 fev. 2019, p. 24.
153
NERY JUNIOR, Nelson. Op. cit.
154
Idem, Ibidem.
155
Idem, Ibidem.
58
Outrossim, na seara dos concursos, a referida ação coletiva é, sem dúvidas, a mais
utilizada e eficaz. Desse modo, não há óbices quanto à possibilidade da propositura de uma
ação civil pública para o controle legal e constitucional dos concursos públicos pelo Ministério
Público em geral, na tutela de grupo de concursados, em defesa dos interesses individuais
homogêneos, coletivos ou difusos.158
São inúmeros exemplos de ações civis públicas propostas pelo Ministério Público na
área de concursos públicos, e seus efeitos e pedidos são os mais variados, revelando a amplitude
desse instrumento no âmbito da atuação do Parquet em controle de certames irregulares. Dentre
os casos mais comuns, estão aqueles relacionados à preterição de candidatos, seja por possuir
contratação de terceirizados e comissionados de maneira ilegal 159, seja por omissão na
nomeação de candidatos dentro dos números de vagas 160, requerendo o Ministério Público, em
ambos os casos, a nomeação dos aprovados de maneira regular. Além disso, outra irregularidade
verificada é em relação ao uso abusivo de cadastro de reservas, pleiteando o Parquet pela sua
declaração de inconstitucionalidade, por atingir os princípios constitucionais da segurança
jurídica e da confiança, ao gerar falsas expectativas aos candidatos aprovados. 161
156
Idem, Ibidem.
157
Idem, Ibidem.
158
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, Op. cit., p. 213.
159
Cf. matéria do portal Alagoas 24 horas, em que diz: “A Promotoria de Justiça de Boca da Mata propôs,
nesta sexta-feira (5), ao Juiz de Direito daquela Comarca, Ação Civil Pública cominatória de obrigação de fazer
para que a Prefeitura exonere contratados temporários e comissionados e nomeie aprovados em concurso público.
O processo seletivo teve início em 2012, foi homologado em 2014 e teve o seu prazo de validade prorrogado por
mais dois anos. ”
Referência: ASCOM MPE/AL. MP propõe ação cobrando nomeação de candidatos aprovados em concurso
público. Alagoas 24 horas, Maceió, 05 jan. de 2018. Disponível em:
<https://www.cadaminuto.com.br/noticia/314689/2018/01/05/mp-propoe-acao-cobrando-nomeacao-de-
candidatos-aprovados-em-concurso-publico >. Acesso em: 18 fev. 2019.
160
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Op. cit., p. 78.
161
A título de exemplo, cita-se a sentença presente nos autos da Ação Civil Pública nº 0000059-10.2016.5.10.0006,
proposta pelo Ministério Público do Trabalho da 10ª Região, em desfavor da Caixa Econômica Federal, na qual a
magistrada, ao tratar do uso irregular de cadastro de reserva, afirma que: “O que se presume, pois quanto a tal
ponto não há provas, é que o administrador não indica as vagas disponíveis em seus quadros, no edital, para não
estar vinculado às mesmas, pois a jurisprudência majoritária entende que há apenas expectativa de direito para o
candidato aprovado, quando o edital apenas indica o quadro de reservas.”
59
Referência: DISTRITO FEDERAL E TOCANTINS, Tribunal Regional do Trabalho 10ª Região. Sentença.
Processo nº 0000059-10.2016.5.10.0006. Trata-se de Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do
Trabalho da 10ª Região contra a Caixa Econômica Federal por descumprimento de acordo coletivo na convocação
de candidatos do concurso público Edital nº 01/2014, bem como uso abusivo da figura do cadastro de reserva. 6ª
Vara do Trabalho de Brasília. Juíza do Trabalho Substituta Natália Queiroz Cabral Rodrigues. Brasília, 6 outubros
de 2016. Diário Eletrônico da Justiça do Trabalho, 10 de outubro de 2016, ed. 2082/2016, p. 667-674.
60
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesse aspecto, verificou-se que a história do Ministério Público no Brasil, foi construída
a partir de conquistas, pouco a pouco, passando de simples agente acusador no juízo criminal,
à consolidação de uma instituição defensora dos direitos coletivos e difusos, da democracia e
dos ideais republicanos. Nos dias atuais, diante de sua atuação nas mais diversas áreas do
Direito, conquistou o respeito dos brasileiros, de modo que é inegável a amplitude de sua
atividade no cumprimento das funções institucionais, mormente no âmbito de certames possa
atuar em qualquer fase destes.
Por outro lado, na esfera judicial, verificou-se que o Parquet possui uma atuação
eminentemente ativa, sendo a ação civil pública, especificamente, a ação coletiva mais eficaz,
indispensável no auxílio da tutela dos direitos de candidatos, como também na adequação dos
certames às normas do ordenamento jurídico.
Por fim, ante o exposto, é inegável que a atividade do Ministério Público passa a ser
essencial no âmbito dos concursos públicos, diante da crescente demanda nessa área. Assim, a
tutela coletiva é um ramo do Direito recente que se aperfeiçoa, com o objetivo de resguardar os
direitos e garantias constitucionais, sendo o Parquet protagonista nessa atuação. Em face disso,
a pesquisa em relação a esse campo não se deve esgotar por esta monografia, sendo
imprescindível a realização de novos estudos acadêmicos nessa seara. Além do mais, outras
medidas são pertinentes visando agilidade e eficiência no controle de certames, seja este
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