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DO DIREITO À EDUCAÇÃO EM PERNAMBUCO À LUZ DAS

CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS E DOS CENSOS DEMOGRÁFICOS.

Com grande frequência vemos que a temática “educação” tem cada vez mais
virado pauta nas principais reivindicações por parte da população. O referido artigo
faz uma análise, com base nas Constituições Brasileiras, das informações
educacionais verificando o grau de efetivação do direito à educação referentes ao
Estado de Pernambuco, bem como sua comparação relativa ao Estado de São Paulo
e ainda com o restante do país. A pesquisa se desdobra numa investigação de quase
200 anos da educação brasileira, dessa forma, para facilitar o entendimento, o artigo
encontra-se dividido em três períodos principais, onde para além das Constituições
vigentes em cada época, considera-se também informações de alguns censos
demográficos.
O primeiro ponto abordado é um período de 66 anos, onde trata da Constituição
do Impépio, de 1824, ao censo 1890, já na República. Na época, é de se observar que
os índices de analfabetismo tanto em Pernambuco como em São Paulo, bem como
no país e, geral, apresentam-se próximos aos 79%, de tal maneira que apenas cerca
de 21% população se configura alfabetizada. Nesse contexto é evidenciado ainda que
educação e cultura aparecem apenas de maneira simbólica e ainda no que compete
a direitos civis e políticos, mencionada nos incisos 32 – onde cita que “a instrução
primária é gratuita a todos os cidadãos” – e 33 – que estabelece “colégios e
universidades onde serão ensinados os elementos das Ciências, Belas-Artes e Letras”
– da constituição. Outro dado importante que se deve levar em conta, é que para uma
população de mais de 9 milhões de habitantes, haviam apenas 4 mil escolas, e essas
mesmas, dispersas no vasto território e não raramente mal administradas.
É de se observar que educação não era pensada como um direito social, e essa
falta do seu reconhecimento na primeira Constituição Brasileira é um reflexo disso,
mas também, do que acontecia em outros países na mesma época. O texto nos
lembram do período da Revolução Francesa, onde a escolarização era uma
preocupação, e já haviam planos que buscassem estabelecer educação para todos,
mas ainda assim, a França teve que esperar até meados de 1880 para ver
reconhecido o princípio de uma educação elementar pública, gratuita, obrigatória e
comum para todos, mas que por fim acabou de servir de inspiração para outros países,
como a Argentina por exemplo.
A segunda parte na abordagem das pesquisas consiste num período de 60
anos e data do censo de 1880 ao censo de 1950, é importante lembrar que nesse
intervalo, 4 Constituições estiveram em vigor no Brasil. A primeira delas, de 184, não
apresenta mudanças significativas no tratamento da educação enquanto um direito
social, sendo ainda mais omissa que a anterior, menciona apenas que além da
inclusão dos analfabetos no direito ao voto, há também a separação do viés religioso
do campo educacional. A segunda Constituição, de 1934, por cita pela primeira vez a
educação como um direito.

Art. 149. A educação é direito de todos e deve ser ministrada pela família e
pelos poderes públicos, cumprindo a estes proporcioná-la a brasileiros e
estrangeiros domiciliados no País, de modo que possibilite eficientes fatores
da vida moral e econômica da nação, e desenvolva num espírito brasileiro a
consciência da solidariedade humana. (BRASIL, CONSTITUIÇÕES
BRASILEIRAS, 1934, v. 3, 2001 Apud. FERRERO, 2014 v.23, p. 926).

O artigo 150 dessa mesma constituição, atribui à União, a tarefa de executar,


coordenar e fiscalizar a execução do plano nacional de educação, e determina ainda
que o ensino primário gratuito e de frequência obrigatória deveria abranger ainda os
adultos. Já para a constituição de 1937, no governo Vargas, há uma reafirmação do
ensino primário obrigatório e gratuito, entretanto, sem qualquer menção ao direto à
educação. Por fim, chega-se à Constituição de 1946, essa que apresenta singular
semelhança a de 1934, que no que concerne ao campo educacional, reafirma o
princípio de que a educação é direito de todos.
Partindo então para as análises do censo de 1950, tendo como base que no
anterior período abordado havia uma situação de analfabetismo generalizada em todo
o país, com índices que mal chegavam a 21% da população estando alfabetizada. De
imediato é possível perceber que há uma significativa queda das taxas de
analfabetismo no país, mesmo que de maneira geral os níveis ainda se apresentem
elevados com expressivos 51% da população com mais de 10 anos não sabendo ler
ou escrever. Nesse período, o Estado de Pernambuco registrou cerca de 37% da
população alfabetizada, enquanto o Estado de São Paulo, na mesma época, já
registrava mais de 65% de sua população com mais de 10 anos tendo sido
alfabetizada. É perceptível a forma desigual que se deu nos investimentos do
processo alfabetização no território, e é ainda importante salientar que nessa época a
região Sudeste havia se tornado um importante centro financeiro e comercial do país,
podendo assim justificar essa situação de desigualdade. Dessa análise, o que se pode
concluir é que até então a escola e educação ainda não são entendidas como direitos
públicos subjetivos, mas sim, um ato administrativo do Estado.
O terceiro período analisado compreende um espaço de tempo de 60 anos,
desde o censo de 1950 até o de 2010, encarando particularmente a Constituição de
1988. Durante o regime militar no Brasil, a novidade no âmbito educacional se deu por
meio da Lei de Diretrizes e Bases com a extensão do ensino obrigatório e gratuito
para 8 anos, chamado agora de Ensino de 1º Grau. A Constituição de 1988, e que
está atualmente em vigor, traz a novidade de ter partido de uma perspectiva de que é
dos direitos que se afirma o Estado e não o contrário, como haviam sido nas épocas
anteriores. Dessa forma, a Constituição reconhece expressamente a educação como
um direto social, e é dada maior ênfase também no caráter subjetivo desse direto. É
importante mencionar a importância da LBD no estabelecimento de uma duração
mínima de 8 anos para o Ensino Fundamental, e ainda considerar o Ensino Médio
como uma etapa da educação obrigatória e gratuita. Esses 60 anos sinalizam
mudanças importantes no censo de 2010, a primeira delas é no que se refere ao país
como um todo apresentado cerca de 9% da população ainda analfabeta, o que pode
até parecer pouco, mas isso representa mais de 14 milhões de pessoas com 10 anos
ou mais que ainda não sabem ler ou escrever. Outro ponto a se observar é que tanto
Pernambuco como outros Estados do Nordestes ainda apresentam taxas de não
letramento acima dos 15%, em comparação com o Estado de São Paulo que registra
4% de analfabetismo.
O que se pode concluir pelo estudo mostrado no artigo é a lentidão com que se
deram os avanços no campo da educação, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste
do país. Esse caráter histórico das desigualdades, não apenas com relação à
educação mas a todas as questões sociais tanto em Pernambuco, quanto no restante
do Nordeste, remonta principalmente da transferência do centro político do país para
a região Sudeste, mais precisamente para o Estado de São Paulo, e logo em seguida
o início do processo de industrialização do país, concentrando-se no mesmo Estado,
acaba por evidenciar que há cada vez mais um afastamento dos níveis sociais,
econômicos e culturais deste com o restante do país.
REFERÊNCIAS

FERRARO, Alceu Ravanello; LAGE, Allene Carvalho. Do direito à educação em


Pernambuco à luz das constituições brasileiras e dos censos demográficos.
Revista de Educação Pública, Cuiabá, v. 23, n. 54, p.919-939, set./dez. 2014.
Disponível em:
<http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/educacaopublica/article/view/1291/
pdf>. Acesso em: 25 nov. 2019.

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