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o 236 — 11 de Outubro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B 6425

PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS especial os objectivos definidos na Convenção sobre a


Diversidade Biológica, aprovada para ratificação pelo
Decreto n.o 21/93, de 29 de Junho, designadamente a
Resolução do Conselho de Ministros n.o 151/2001
conservação da biodiversidade, a utilização sustentável
A Resolução do Conselho de Ministros n.o 42/97, de dos seus componentes e a partilha justa e equitativa
20 de Fevereiro, publicada no Diário da República, dos benefícios provenientes da utilização dos recursos
1.a série-B, de 13 de Março de 1997, criou o Conselho genéticos.
Nacional de Segurança Rodoviária (CNSR), composto Para a concretização destes objectivos, a ENCNB for-
por organismos e entidades públicas, visando a coor- mula 10 opções estratégicas:
denação e prossecução de políticas dos vários depar- 1) Promover a investigação científica e o conhe-
tamentos do Estado em matéria de sinistralidade rodo- cimento sobre o património natural, bem como
viária. a monitorização de espécies, habitats e ecos-
O seu n.o 4 prevê a possibilidade de estarem presentes sistemas;
nas reuniões do aludido Conselho entidades convidadas, 2) Constituir a Rede Fundamental de Conservação
desde que prossigam, de algum modo, objectivo comum da Natureza e o Sistema Nacional de Áreas
ao que pretende ser alcançado pelo CNSR, o que se Classificadas, integrando neste a Rede Nacional
verifica com o Centro Rodoviário Português, que soli- de Áreas Protegidas;
citou a sua inclusão na designação das entidades a 3) Promover a valorização das áreas protegidas e
convidar. assegurar a conservação do seu património natu-
Assim: ral, cultural e social;
Nos termos da alínea g) do artigo 199.o da Cons- 4) Assegurar a conservação e a valorização do
tituição, o Conselho de Ministros resolve: património natural dos sítios e das zonas de pro-
Único. Alterar a redacção do n.o 4 da Resolução do tecção especial integrados no processo da Rede
Conselho de Ministros n.o 42/97, de 20 de Fevereiro, Natura 2000;
que passa a ser a seguinte: 5) Desenvolver em todo o território nacional acções
«4 — O Conselho poderá convidar para nele toma- específicas de conservação e gestão de espécies
rem assento outras entidades cuja participação julgue e habitats, bem como de salvaguarda e valo-
conveniente no desenvolvimento dos trabalhos, nomea- rização do património paisagístico e dos ele-
damente a Associação Nacional de Municípios, a Asso- mentos notáveis do património geológico, geo-
ciação Nacional de Seguradoras, a Prevenção Rodo- morfológico e paleontológico;
viária Portuguesa, o Automóvel Clube de Portugal, a 6) Promover a integração da política de conser-
Liga dos Bombeiros Portugueses, a BRISA e o Centro vação da Natureza e do princípio da utilização
Rodoviário Português.» sustentável dos recursos biológicos na política
Presidência do Conselho de Ministros, 20 de Setem- de ordenamento do território e nas diferentes
bro de 2001. — O Primeiro-Ministro, António Manuel políticas sectoriais;
de Oliveira Guterres. 7) Aperfeiçoar a articulação e a cooperação entre
a administração central, regional e local;
8) Promover a educação e a formação em matéria
Resolução do Conselho de Ministros n.o 152/2001 de conservação da Natureza e da biodiversidade;
9) Assegurar a informação, sensibilização e par-
A existência de uma estratégia nacional de conser- ticipação do público, bem como mobilizar e
vação da Natureza e da biodiversidade (ENCNB) é, incentivar a sociedade civil;
reconhecidamente, um instrumento fundamental para 10) Intensificar a cooperação internacional.
a prossecução de uma política integrada num domínio
cada vez mais importante da política de ambiente e Especial destaque merece a temática de integração
nuclear para a própria estratégia de desenvolvimento de políticas, reconhecendo-se que a concretização dos
sustentável. objectivos visados exige uma co-responsabilização das
A Lei de Bases do Ambiente (Lei n.o 11/87, de 7 diferentes políticas sectoriais relevantes.
de Abril) prevê, aliás, a elaboração dessa estratégia de Por outro lado, a Estratégia Nacional de Conservação
conservação da Natureza. Por outro lado, a Convenção da Natureza e da Biodiversidade versa, também, sobre
sobre a Diversidade Biológica (CDB) estipula, também, os meios humanos e financeiros necessários à execução
a necessidade de dotar as partes contratantes de uma das suas opções e directivas de acção, que são, sempre
estratégia para a conservação da diversidade biológica. que possível, calendarizadas ao longo do documento.
Em conformidade, o Governo empenhou-se na ela- Finalmente, a ENCNB regula, ainda, o seu proce-
boração de uma estratégia nacional de conservação da dimento de acompanhamento, avaliação e revisão.
Natureza e da biodiversidade, em boa articulação com A ENCNB é o fruto de um longo processo de pre-
os compromissos internacionais assumidos no quadro paração, que incluiu três procedimentos de discussão
da CDB e de harmonia com a estratégia europeia nesta pública (em 1991, 1999 e 2001) sobre outras tantas ver-
área. sões do documento e dois pareceres do Conselho Nacio-
A ENCNB, para vigorar até ao ano 2010, assume nal de Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável.
três objectivos gerais: conservar a Natureza e a diver- Na linha do reforço da política de conservação da
sidade biológica, incluindo os elementos notáveis da geo- Natureza, o Governo, ao adoptar esta Estratégia, espera
logia, geomorfologia e paleontologia; promover a uti- que ela possa constituir uma referência mobilizadora
lização sustentável dos recursos biológicos; contribuir não apenas dos serviços e organismos públicos mas, tam-
para a prossecução dos objectivos visados pelos pro- bém, de todos os agentes da sociedade civil e, sobretudo,
cessos de cooperação internacional na área da conser- dos cidadãos e suas associações representativas, cujo
vação da Natureza em que Portugal está envolvido, em contributo é essencial para a concretização dos objec-
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tivos visados de conservação da Natureza e da bio- tentes e a erosão genética intra-específica a que a maio-
diversidade. ria das espécies agrícolas tradicionais tem vindo a ser
Assim: sujeita, em resultado da crescente utilização de novas
Nos termos da alínea g) do artigo 199.o da Cons- variedades comerciais.
tituição, o Conselho de Ministros resolve: Portugal possui ainda uma extensa linha de costa,
1 — Adoptar a Estratégia Nacional de Conservação de um modo geral razoavelmente conservada e com
da Natureza e da Biodiversidade, anexa à presente reso- níveis de poluição relativamente reduzidos. Nesse con-
lução e que dela faz parte integrante. texto, merecem especial referência os ecossistemas cos-
2 — Enviar à Assembleia da República a Estratégia teiros e marinhos, que apresentam grande riqueza em
referida no número anterior. termos de valores faunísticos e florísticos.
Presidência do Conselho de Ministros, 20 de Setem- A singularidade das nossas paisagens, bem como a
bro de 2001. — O Primeiro-Ministro, António Manuel representatividade e estado de conservação das espécies
de Oliveira Guterres. e habitats que temos entre nós, é bem patente ao nível
europeu, tendo resultado amplamente comprovada no
âmbito do Programa CORINE, através do Projecto Bió-
Introdução topos, lançado em 1985 e concluído em Portugal em
1 — Biodiversidade — uma riqueza ameaçada: 1989, justamente tendo em vista a identificação e carac-
É hoje reconhecido que a biodiversidade do Planeta terização dos biótopos mais significativos do espaço
está agora mais ameaçada do que em qualquer outro comunitário. Esta particular relevância do nosso patri-
período histórico, estimando-se mesmo que cerca de mónio natural traduz-se, assim, em responsabilidades
11 000 espécies de plantas e animais corram o risco de acrescidas na conservação desses valores insubstituíveis.
extinção iminente num futuro próximo (1). Paralelamente, constituindo-se o território ao longo
Esta situação, que é um fenómeno global, verifica-se do tempo, a evolução aqui processada é testemunhada
também na Europa, onde se registou nas últimas décadas pelo chamado «registo geológico» presente nas rochas,
uma grave redução e perda de biodiversidade, afectando entre as quais se contam alguns elementos notá-
numerosas espécies e diferentes tipos de habitats, como veis — nos planos da geologia, da geomorfologia e da
é o caso das zonas húmidas (2). Segundo o relatório paleontologia — e que importa preservar e valorizar. Na
Dobris, sob a égide da Agência Europeia do Ambiente, verdade, tanto o património natural como o património
este declínio da biodiversidade na Europa ficará a histórico e cultural que a ele se encontra ligado de forma
dever-se, essencialmente, às modernas formas de inten- indissociável constituem valores que, para além do seu
siva utilização agrícola e silvícola do solo, à fragmen- evidente interesse científico, são parte integrante da
tação dos habitats naturais por força de urbanizações nossa memória colectiva e podem ser relevantes factores
e diversos tipos de infra-estruturas e à exposição ao de afirmação de uma identidade própria no contexto
turismo de massas, bem como aos efeitos da poluição europeu e mundial.
de componentes ambientais como a água e o ar. É sabido que a redução da diversidade biológica, que
O problema, naturalmente, tem também expressão se verifica a um ritmo preocupante também em Portugal,
em Portugal, onde ameaça a particular riqueza do nosso é essencialmente resultante da acção directa ou indirecta
património natural. do Homem, que muitas vezes se mostra incapaz de pro-
Com efeito, a localização geográfica e as caracterís- mover uma utilização sustentável dos recursos bioló-
ticas geofísicas e edafoclimáticas do território português, gicos, isto é, que garanta a sua perenidade.
modeladas pela intervenção humana com intensidade Esta situação tem profundas implicações, não só de
e significado variáveis consoante as regiões e as épocas, natureza ecológica mas também no plano do desenvol-
deram origem a uma grande variedade de biótopos, ecos- vimento económico e social, em razão do valor que estes
sistemas e paisagens, mais ou menos humanizados, a recursos representam em termos económicos, sociais,
qual propicia a existência de um elevado número de culturais, recreativos, estéticos, científicos e éticos. Na
habitats, que albergam uma grande diversidade de espé- realidade, a espécie humana depende da diversidade
cies com os seus múltiplos genótipos. Esta realidade, biológica para a sua própria sobrevivência, estimando-se
pode dizer-se, é sobretudo fruto de uma secular, exten- que pelo menos 40 % da economia mundial e 80 % das
siva e tradicional utilização do património natural. necessidades dos povos dependem dos recursos bio-
Na verdade, a par de habitats tipicamente atlânticos, lógicos.
encontra-se um elevado número de habitats mediter- O problema da redução da biodiversidade, não sendo
rânicos e macaronésicos, com grande percentagem de novo, assumiu no século XX — e sobretudo nas suas últi-
endemismos e de espécies-relíquia. Para esta variedade mas décadas — proporções nunca antes atingidas, con-
e variabilidade contribuem, convirá recordá-lo, os sis- forme resulta do relatório «Global Diversity Assess-
temas insulares, uma vez que as suas características de ment», promovido pelo Programa das Nações Unidas
isolamento proporcionam condições evolutivas excep- para o Ambiente (PNUA).
cionais aos ecossistemas e espécies que os povoam. Não é de espantar, portanto, que a própria ideia de
Por outro lado, foram-se desenvolvendo ao longo do «conservação da Natureza» — surgida no final do
tempo populações animais e vegetais diferenciadas, bem século XIX — tenha conhecido na segunda metade do
adaptadas aos condicionalismos locais e que — em parte século XX um desenvolvimento notável, inspirando não
como resultado das actividades agrícola e pastoril — vie- apenas todo um conjunto de iniciativas sociais e políticas
ram a dar origem às raças autóctones e às variedades mas também relevantes processos de cooperação política
e cultivares actualmente existentes. à escala internacional, para fazer face a problemas reco-
Do nosso património consta ainda um vasto repo- nhecidos como globais.
sitório genético com particular interesse agro-silvo-pas- De entre todos esses processos internacionais —
toril, constituído por variedades com elevado número desenvolvidos sobretudo no seguimento da Conferência
de parentes selvagens, não obstante as pressões exis- de Estocolmo, de 1972, que daria lugar à criação do
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Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), bém com a Estratégia da Comunidade Europeia em
e da «Estratégia Mundial de Conservação», apresentada Matéria de Diversidade Biológica, constante na Comu-
em 1980 pela UICN —, cumpre aqui destacar, por nicação da Comissão ao Conselho e ao Parlamento
enquadrarem, de modo especial, a presente Estratégia, Europeu de 4 de Fevereiro de 1998.
a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB), a A Estratégia da Comunidade Europeia — um docu-
Estratégia Pan-Europeia da Diversidade Biológica e Pai- mento de 25 páginas — desenvolve-se em torno de qua-
sagística e a Estratégia da Comunidade Europeia em tro temas centrais: i) conservação e utilização sustentável
Matéria de Diversidade Biológica (3). da diversidade biológica; ii) partilha dos benefícios resul-
2 — A Convenção sobre a Diversidade Biológica: tantes da utilização dos recursos genéticos; iii) inves-
O reconhecimento da necessidade de uma acção inter- tigação, identificação, monitorização e intercâmbio de
nacional concertada para fazer frente ao grave fenó- informações; iv) educação, formação e sensibilização do
meno da perda e redução da biodiversidade levou à público.
elaboração da Convenção sobre a Diversidade Biológica, No que se refere à conservação e utilização susten-
aberta para assinatura na chamada «Conferência do tável da diversidade biológica, assumem-se como objec-
Rio» ou Conferência das Nações Unidas sobre tivos a conservação ou reconstituição dos ecossistemas
Ambiente e Desenvolvimento, que teve lugar no Rio e espécies no seu meio natural, bem como a conservação
de Janeiro, em 1992 (4). Portugal ratificou esta Con- dos ecossistemas onde as espécies, as variedades de cul-
venção em 1993 (Decreto n.o 21/93, de 21 de Junho). turas e as raças de animais domésticos desenvolveram
A CDB assume três objectivos fundamentais: a con- características específicas. Preconiza-se, também, a uti-
servação da diversidade biológica; a utilização susten- lização sustentável dos recursos naturais, tendo presente
tável dos seus componentes e a partilha justa e equitativa que a perda de biodiversidade afecta gravemente a sus-
dos benefícios provenientes da utilização dos recursos tentabilidade, na medida em que reduz o capital de
genéticos. recursos naturais em que se baseia o próprio desen-
Para a prossecução destes objectivos gerais, a CDB volvimento social e económico.
preconiza a existência de estratégias internacionais e Em matéria de partilha dos benefícios resultantes da
nacionais que enquadrem a adopção de medidas des- utilização dos recursos genéticos, a Estratégia da Comu-
tinadas a promover a conservação da Natureza e a uti- nidade Europeia, de harmonia com o disposto na CDB,
lização sustentável da biodiversidade. Assim, as Partes aponta para o princípio do acesso aos recursos genéticos
na Convenção devem adoptar estratégias, planos e pro- — sem prejuízo dos direitos soberanos de cada Estado
gramas nacionais, bem como integrar a conservação e sobre os seus próprios recursos, que não incluem a facul-
a utilização sustentável da diversidade biológica nos seus dade de fixar restrições indevidas —, bem como para
diferentes planos, programas e políticas sectoriais ou a distribuição dos benefícios da biotecnologia, incluindo
intersectoriais (artigo 6.o). por via das associações de investigação e comércio entre
Deste modo, a presente Estratégia visa, também, dar fornecedores e utilizadores dos recursos genéticos, a
transferência de tecnologia, a cooperação científica e
seguimento a uma das incumbências emergentes da Con-
técnica e a valorização dos conhecimentos, inovações
venção sobre a Diversidade Biológica, tomando como
e práticas de comunidades indígenas e locais.
referência as orientações definidas para a elaboração
No que se refere à investigação, identificação, moni-
das estratégias nacionais pela Conferência das Partes
torização e intercâmbio de informações, a Estratégia
(COP), designadamente por via das Decisões II/7 e III/9.
da Comunidade Europeia entende dever ser fomentada
3 — A Estratégia Pan-Europeia da Diversidade Bio- a investigação, privilegiando-se o investimento na iden-
lógica e Paisagística: tificação, catalogação e monitorização das componentes
A ideia de uma cooperação internacional, à escala da biodiversidade, seu estado de conservação e respec-
regional, fez caminho na Europa antes ainda da Con- tivas ameaças, bem como no apuramento dos métodos
ferência do Rio. Com efeito, em Setembro de 1990, adequados de salvaguarda da biodiversidade, sem des-
sob a égide do Conselho da Europa, a 6.a Conferência curar a investigação fundamental neste domínio e a
Ministerial Europeia sobre o Ambiente aprovou a Estra- necessidade de desenvolver a compreensão do funcio-
tégia de Conservação para a Europa, Estratégia essa namento da biosfera.
que enuncia objectivos e princípios tendo em vista, Por outro lado, sublinha-se a importância da coo-
essencialmente, a salvaguarda das espécies, dos ecossis- peração internacional e da consolidação do mecanismo
temas e dos processos naturais; a promoção do desen- de intercâmbio (clearing-house mechanism, previsto na
volvimento sustentável e a ideia de co-responsabilização Convenção sobre a Diversidade Biológica), que constitui
de todos os sectores pela conservação da Natureza. o instrumento para o intercâmbio internacional de infor-
Mais tarde, já em 1996, a adopção da Estratégia Pan- mações sobre a biodiversidade, promovendo a coope-
-Europeia da Diversidade Biológica e Paisagís- ração científica e técnica.
tica — preparada pelo PNUA, pelo Conselho da Europa O quarto tema central da Estratégia da Comunidade
e pelo European Center for Nature Conserva- Europeia em Matéria de Diversidade Biológica é a edu-
tion — permitiu o desenvolvimento de um fórum para cação, formação e sensibilização do público, conside-
a coordenação regional na execução das decisões rele- radas essenciais para o sucesso de muitas acções a favor
vantes das Conferências das Partes da Convenção sobre da biodiversidade. Aqui se inscreve não apenas a pro-
a Diversidade Biológica. Também a referida Estratégia moção de acções de formação técnica e especializada
Pan-Europeia foi, pois, tida em devida conta na ela- dos vários agentes relevantes mas também o desenvol-
boração da presente Estratégia. vimento de uma política do consumidor que promova
4 — A Estratégia da Comunidade Europeia em Maté- a conservação e utilização sustentável da biodiversidade,
ria de Diversidade Biológica: por via de campanhas e de informação ao público, com
Articulando-se a política ambiental portuguesa com o apoio das organizações não governamentais.
a política comunitária em matéria de ambiente, não A Estratégia da Comunidade Europeia enuncia algu-
poderia a presente Estratégia deixar de se articular tam- mas áreas ou sectores políticos mais relevantes para a
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prossecução dos seus objectivos: a conservação dos de identificação dos 60 sítios que viriam a integrar a
recursos naturais; a agricultura; as pescas; a política lista nacional de sítios proposta à Comissão Europeia
regional e de ordenamento do território; as florestas; para constituir a Rede Natura 2000. Foram ainda criadas
a energia e os transportes; o turismo e a cooperação 28 zonas de protecção especial no território do con-
económica e para o desenvolvimento. tinente, que vieram juntar-se à ZPE do estuário do Tejo.
Definidas algumas orientações gerais, a Estratégia da Assim, ascende agora a cerca de 21,7 % o total do ter-
Comunidade preconiza a elaboração de planos de acção ritório nacional coberto por áreas protegidas ou clas-
sectoriais e intersectoriais, designadamente em matéria sificadas (7).
de conservação dos recursos naturais, agricultura, sil- Paralelamente, o crescimento da área classificada por
vicultura, pescas, políticas regionais e ordenamento do razões ambientais tem sido acompanhado de um esforço
território e desenvolvimento e cooperação económica. no sentido do aumento dos meios financeiros afectos
Já em 2001, a Comissão apresentou as suas primeiras à política de conservação da Natureza. Na verdade, o
propostas de planos de acção sectoriais em matéria de orçamento de investimento do Instituto da Conservação
conservação dos recursos naturais, agricultura, pescas da Natureza (ICN) conheceu em 2001 um aumento subs-
e cooperação económica e para o desenvolvimento. tancial, de 72,2 %, face ao ano anterior, ascendendo
Por outro lado, a Estratégia da Comunidade Europeia agora a 7,5 milhões de contos. Importa, todavia, cor-
em Matéria de Diversidade Biológica articula-se com responder ao desafio de intensificar o reforço e a qua-
o 6.o Programa Comunitário de Acção em Matéria de lificação dos recursos humanos disponíveis nesta área.
Ambiente, o qual, na sequência das conclusões do Con- Por outro lado, a recente inclusão no mesmo Minis-
selho fixadas durante a presidência portuguesa da União tério das políticas de ambiente e de ordenamento do
Europeia, adopta como uma das suas prioridades a con- território — como era reclamado por tantos desde há
servação da Natureza e da biodiversidade e constitui muito — permite ir mais longe na utilização dos planos
o pilar ambiental da Estratégia Europeia de Desenvol- de ordenamento para alcançar uma melhor integração
vimento Sustentável (5). da política da conservação da Natureza na gestão do
5 — A importância de uma estratégia nacional de con- território e nas diferentes políticas sectoriais com inci-
servação da Natureza e da biodiversidade: dência territorial, bem como prosseguir de forma mais
A Estratégia Nacional de Conservação da Natureza articulada o processo de elaboração e implementação
e da Biodiversidade não corresponde apenas ao cum- dos Planos de Ordenamento da Orla Costeira (POOC),
primento de uma obrigação jurídica internacionalmente fundamentais para uma intervenção coerente de efectiva
assumida por Portugal no contexto da Convenção sobre defesa da costa e qualificação do litoral.
a Diversidade Biológica nem é um simples corolário Todavia, se a falta de um instrumento como a Estra-
da Estratégia da Comunidade Europeia em Matéria de tégia Nacional de Conservação da Natureza e da Bio-
Diversidade Biológica. Trata-se, antes, de um docu- diversidade, que agora se apresenta, não impediu a
mento orientador fundamental para as políticas que implementação de uma política de conservação da Natu-
entre nós interferem com aquele que é o objecto da reza — embora subsista, decerto, ainda muito a fazer —,
presente Estratégia: a conservação da Natureza e da sem dúvida que o desenvolvimento futuro dessa política
biodiversidade (onde se inclui a diversidade genética, beneficiará de um documento orientador, amplamente
específica, de ecossistemas e a diversidade entre com- discutido e apresentado na Assembleia da República,
plexos de ecossistemas), bem como a salvaguarda dos e beneficiará, sobretudo, onde mais se revela necessário:
elementos notáveis do património geológico, geomor- o aperfeiçoamento da integração das questões da con-
fológico e paleontológico. servação da Natureza e da utilização sustentável dos
Assim, a presente Estratégia reveste-se de particular componentes da biodiversidade nas diferentes políticas
interesse não só para a própria política de conservação sectoriais relevantes e a mobilização da sociedade por-
da Natureza, em sentido estrito, mas também para as tuguesa para os objectivos estratégicos que aqui se
políticas sectoriais relevantes. definem.
É importante, na verdade, que estejam reunidos num Assim sendo, de modo algum as opções estratégicas
documento os objectivos fundamentais e as opções estra- enumeradas no presente documento podem ser enten-
tégicas que hão-de nortear a acção política futura e servir didas como respeitantes apenas ao Ministério do
de referência para a sociedade portuguesa e as insti- Ambiente e do Ordenamento do Território e, em espe-
tuições da sociedade civil, que importa mobilizar neste cial, ao Instituto da Conservação da Natureza — sem
domínio. prejuízo da particular relevância das suas competências
É certo que a ausência de um documento como o próprias neste domínio —, antes se assumem como
que agora se apresenta não impediu o Governo de pros- orientações estruturantes que a todos comprometem e
seguir uma política firme e coerente de conservação directivas de acção que devem ser concretizadas de
da Natureza e até de a reforçar significativamente nos acordo com as responsabilidades e as competências
últimos anos, não apenas no interior da política de cometidas a cada entidade.
ambiente mas também no contexto da política geral do 6 — Fundamento legal:
Governo. A presente Estratégia corresponde, também, a uma
Esse reforço, que é visível — e de que aqui apenas exigência legal, fixada na Lei de Bases do Ambiente
cabe recordar alguns aspectos —, traduziu-se num (Lei n.o 11/87, de 7 de Abril), que, por sua vez, assume
melhor conhecimento e salvaguarda do nosso patrimó- o enquadramento jurídico-constitucional relevante,
nio natural (6), tendo levado à criação de 12 novas áreas nomeadamente o que decorre dos artigos 9.o e 66.o da
protegidas no território continental — com destaque Constituição da República Portuguesa.
para os Parques Naturais do Douro e do Tejo Inter- Nos termos da referida lei, essa estratégia é entendida
nacional e para a Reserva Natural das Lagoas de Santo como um instrumento da política de ambiente e de orde-
André e da Sancha —, a par da criação de 2 áreas pro- namento do território, tendo em vista enquadrar as polí-
tegidas no meio marinho e da conclusão do processo ticas globais do ambiente e promover a sua integração
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nas diferentes políticas sectoriais, em articulação com submetido a discussão pública, em 1999, uma proposta
a estratégia europeia e mundial, por forma a alcançar de estratégia, que foi depois objecto de um parecer do
um ambiente propício à saúde e bem-estar das pessoas Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento
e ao desenvolvimento social e cultural das comunidades, Sustentável (CNADS).
bem como à melhoria da qualidade de vida [artigos 4.o, A necessidade de uma mais profunda ponderação das
alínea m), 27.o, n.o 1, alínea a), e 28.o, n.o 1]. múltiplas sugestões e contributos recolhidos durante a
Na mesma linha, já acima se referiu que o artigo 6.o aludida discussão pública e a conveniência de um docu-
da CDB prevê que cada Parte Contratante desenvolva mento mais leve e operativo levaram o XIV Governo
estratégias, planos e programas para a conservação da Constitucional a elaborar a presente versão da Estra-
diversidade biológica, ou adapte para esse fim os já exis- tégia, submetida a nova discussão pública e a novo pare-
tentes, integrando-os nos planos, programas e políticas cer do CNADS.
sectoriais e intersectoriais. Deste modo, a presente 8 — Âmbito territorial:
Estratégia dá seguimento, também, a um compromisso A Estratégia Nacional da Conservação da Natureza
internacional assumido por Portugal no quadro da Con- e da Biodiversidade estabelece opções estratégicas fun-
venção sobre a Diversidade Biológica. damentais, cuja razão de ser envolve a sua aplicação
7 — Antecedentes: a todo o território nacional.
Não obstante a elaboração de uma estratégia nacional Contudo, não obstante considerar-se globalmente o
de conservação da Natureza estar prevista em lei desde património natural, reconhecendo-o como valor nacio-
1987, a verdade é que um tal documento nunca chegou nal, relevante para a coesão e para a identidade nacional,
a ser apresentado à Assembleia da República por a prossecução das orientações da presente Estratégia
governo nenhum, até hoje. pressupõe o respeito integral pela esfera de competên-
Em 1991, o então Ministério do Ambiente e dos cias próprias das autonomias regionais dos Açores e
Recursos Naturais chegou a tornar público para recolha da Madeira.
de contributos um projecto de estratégia para a con- 9 — Sistematização:
servação da Natureza, produzido por um grupo de tra- A presente Estratégia distribui-se por cinco capítulos,
balho que havia sido constituído três anos antes, em que se pretenderam acessíveis e operativos (8).
1988, ainda no âmbito do Ministério do Planeamento No capítulo I enunciam-se os princípios e os objectivos
e da Administração do Território, que então tutelava gerais preconizados.
a área do ambiente. Contudo, o projecto, embora acom- No capítulo II formulam-se as opções estratégicas fun-
panhado de uma proposta de resolução do Conselho damentais que norteiam o presente documento e as cor-
de Ministros, não foi aprovado pelo governo de então respondentes directivas de acção, fixando-se o respectivo
e, consequentemente, jamais foi submetido à Assem- calendário de execução, sempre que adequado.
bleia da República. No capítulo III apresentam-se as orientações no sen-
tido da integração de políticas, tendo em vista a con-
Também em 1991, o Livro Branco sobre o Ambiente
sideração da conservação da Natureza e da biodiver-
em Portugal, depois de registar a ausência de uma estra-
sidade nas diferentes políticas sectoriais, fixando as
tégia nacional de conservação da Natureza, definiu algu- linhas orientadoras para a elaboração dos necessários
mas preocupações referentes à estratégia a elaborar, planos de acção ou para a adaptação dos instrumentos
enfatizando que: i) a salvaguarda do património natural já existentes.
depende das opções macroeconómicas, sendo o desen- No capítulo IV dá-se conta dos meios humanos e finan-
volvimento sustentado o único modelo que compatibiliza ceiros afectos ao desenvolvimento da Estratégia.
progresso e conservação da Natureza; ii) a conservação No capítulo V, finalmente, indicam-se os mecanismos
da Natureza não se pode restringir às áreas protegidas; de acompanhamento, avaliação e revisão da Estratégia
iii) uma parte significativa das espécies da fauna e da Nacional de Conservação da Natureza e da Biodi-
flora selvagens depende da manutenção dos processos versidade.
de agricultura tradicional e das explorações agrícolas
de pequena e média dimensões; iv) os prejuízos eco-
nómicos para proprietários privados resultantes da exe- CAPÍTULO I
cução de acções de conservação da Natureza exigem Princípios e objectivos
soluções justas de compensação económica.
Um outro elemento digno de registo foi o documento 10 — Princípios fundamentais:
«Conservação da Natureza — Plano Estratégico Global A presente Estratégia Nacional de Conservação da
para o Período 1994-1999», apresentado em Dezembro Natureza e da Biodiversidade (ENCNB) assenta nos
de 1993 pelo Instituto da Conservação da Natureza e seguintes 10 princípios fundamentais:
considerado como um relevante contributo para a ela- a) Princípio do nível de protecção elevado, visando
boração do Plano Nacional de Política de Ambiente uma efectiva salvaguarda dos valores mais sig-
e da Estratégia Nacional de Conservação da Natureza. nificativos do nosso património natural;
Por seu turno, o Plano Nacional de Política do b) Princípio da utilização sustentável dos recursos
Ambiente, de 1995, estabeleceu também um conjunto biológicos, promovendo a compatibilização em
de objectivos, áreas de actuação e acções programáticas todo o território nacional entre o desenvolvi-
específicas em matéria de conservação da Natureza, dis- mento socioeconómico e a conservação da Natu-
tinguindo as áreas de actuação em «conservação da reza e da diversidade biológica, ao serviço da
Natureza e biodiversidade», «áreas classificadas» e qualidade de vida das populações e das gerações
«outras áreas relevantes». futuras;
A tarefa de concretizar efectivamente a elaboração c) Princípio da precaução, aplicando à conservação
de uma estratégia de conservação da Natureza e da da Natureza e da diversidade biológica o prin-
biodiversidade foi então assumida, finalmente, pelos cípio in dubio pro ambiente, tal como vem sendo
XIII e XIV Governos Constitucionais, tendo o primeiro reconhecido pela ordem jurídica;
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d) Princípio da prevenção, impondo uma interven- tável dos seus componentes e a partilha justa
ção antecipativa ou cautelar ante os riscos de e equitativa dos benefícios provenientes da uti-
degradação do património natural e privile- lização dos recursos genéticos.
giando a acção sobre as respectivas causas;
e) Princípio da recuperação, determinando a limi-
tação ou eliminação dos processos degradativos CAPÍTULO II
nas áreas relevantes para a conservação da Opções estratégicas e directivas de acção
Natureza e a adopção de medidas de salva-
guarda e requalificação dessas áreas; 12 — Opções estratégicas:
f) Princípio da responsabilização, assumindo, para A Estratégia Nacional de Conservação da Natureza
além do princípio do poluidor-pagador, a res- e da Biodiversidade (ENCNB) assume 10 opções estra-
ponsabilidade de cada um dos agentes na uti- tégicas fundamentais:
lização sustentável dos recursos biológicos e 1) Promover a investigação científica e o conhe-
entendendo a defesa do património natural cimento sobre o património natural, bem como
como uma responsabilidade partilhada pela a monitorização de espécies, habitats e ecos-
comunidade, pelos agentes económicos, pelos sistemas;
cidadãos e suas associações representativas e, 2) Constituir a Rede Fundamental de Conservação
nos termos da lei, pela administração central, da Natureza e o Sistema Nacional de Áreas
regional e local; Classificadas, integrando neste a Rede Nacional
g) Princípio da integração, preconizando que a de Áreas Protegidas;
estratégia de conservação da Natureza e da bio- 3) Promover a valorização das áreas protegidas e
diversidade seja assumida, por forma coordenada, assegurar a conservação do seu património natu-
pelas diferentes políticas sectoriais relevantes, ral, cultural e social;
reconhecendo-se a sua interdependência; 4) Assegurar a conservação e a valorização do
h) Princípio da subsidiariedade, implicando uma património natural dos sítios e das zonas de pro-
distribuição de atribuições e competências que tecção especial integrados no processo da Rede
confie as decisões e as acções ao nível da admi- Natura 2000;
nistração mais próximo das populações, salvo 5) Desenvolver em todo o território nacional acções
quando os objectivos visados sejam melhor rea- específicas de conservação e gestão de espécies
lizados a nível superior, materializando-se e habitats, bem como de salvaguarda e valo-
assim, conforme mais apropriado, nos subprin- rização do património paisagístico e dos ele-
cípios da descentralização, da desconcentração mentos notáveis do património geológico, geo-
ou da centralização; morfológico e paleontológico;
i) Princípio da participação, promovendo a infor- 6) Promover a integração da política de conser-
mação e a intervenção dos cidadãos e das suas vação da Natureza e do princípio da utilização
sustentável dos recursos biológicos na política
associações representativas na discussão da polí-
de ordenamento do território e nas diferentes
tica e na realização de acções para a conservação
políticas sectoriais;
da Natureza e para a utilização sustentável dos
7) Aperfeiçoar a articulação e a cooperação entre
recursos biológicos; a administração central, regional e local;
j) Princípio da cooperação internacional, arti- 8) Promover a educação e a formação em matéria
culando a presente Estratégia e a sua imple- de conservação da Natureza e da biodiversidade;
mentação com os objectivos prosseguidos pela 9) Assegurar a informação, sensibilização e par-
comunidade internacional e pela União Euro- ticipação do público, bem como mobilizar e
peia, valorizando os processos de cooperação incentivar a sociedade civil;
internacional em curso, reconhecendo a especial 10) Intensificar a cooperação internacional.
relevância da cooperação luso-espanhola neste
domínio e apostando no reforço da cooperação 13 — Opção n.o 1. — Promover a investigação cien-
com os países de língua oficial portuguesa em tífica e o conhecimento sobre o património natural, bem
matéria de conservação da Natureza e da como a monitorização de espécies, habitats e ecossis-
biodiversidade. temas:
A política de conservação da Natureza e da biodi-
11 — Objectivos gerais: versidade deve assentar num sólido conhecimento cien-
A ENCNB assume três objectivos gerais: tífico e técnico do património natural, sua distribuição
geográfica, relevância e evolução.
a) Conservar a Natureza e a diversidade biológica, Daí que a primeira opção estratégica do presente
incluindo os elementos notáveis da geologia, documento seja, justamente, promover a investigação
geomorfologia e paleontologia; científica, o conhecimento e a monitorização de espé-
b) Promover a utilização sustentável dos recursos cies, habitats e ecossistemas.
biológicos; Na verdade, não pode defender-se o que não se
c) Contribuir para a prossecução dos objectivos conhece.
visados pelos processos de cooperação interna- Por outro lado, é imprescindível dotar a sociedade
cional na área da conservação da Natureza em portuguesa com o conhecimento científico e técnico ade-
que Portugal está envolvido, em especial os quado a discernir e a sustentar respostas para os pro-
objectivos definidos na Convenção sobre a blemas específicos que se lhe deparam nestas áreas.
Diversidade Biológica, designadamente a con- Para isso, é necessário, sem dúvida, mobilizar, esti-
servação da biodiversidade, a utilização susten- mular e apoiar a comunidade científica.
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Importa, porém — e sem prejuízo da relevância da c) Definir metodologias e indicadores de monito-


investigação fundamental —, que o investimento em rização da evolução da situação de espécies ou
investigação científica no domínio da conservação da habitats;
Natureza e biodiversidade corresponda a um conjunto d) Monitorizar a evolução de espécies, ecossiste-
de prioridades claras e assumidas. mas e habitats, sempre que possível com recurso
Tais prioridades não podem ignorar toda a proble- aos indicadores a que se refere a alínea anterior;
mática do desenvolvimento sustentável e das alterações e) Reforçar a investigação científica interdiscipli-
globais, da utilização sustentável dos recursos biológicos nar e a monitorização dos ecossistemas costei-
e da avaliação de risco, incluindo no que se refere às ros, numa perspectiva de gestão integrada do
novas utilizações da biotecnologia e suas consequências litoral, bem como intensificar os estudos cien-
para a biodiversidade, a segurança alimentar e a saúde tíficos e tecnológicos sobre o meio marinho da
pública. zona económica exclusiva, como fonte de recur-
Por outro lado, é patente a necessidade de compreen- sos alimentares e energéticos;
der melhor o funcionamento dos ecossistemas e a rela- f) Aprofundar critérios e metodologias para acções
ção das espécies com o seu habitat, para a essa luz se de repovoamento e reintrodução de genótipos
poder discernir as medidas de conservação, gestão e e espécies selvagens;
valorização mais adequadas. g) Promover a identificação e caracterização gené-
Deste ponto de vista, o trabalho a empreender res- tica das espécies ou populações autóctones em
peita também ao estudo das próprias medidas a adoptar risco de erosão induzida pela hibridação por
no terreno, bem como à avaliação dos seus resultados, organismos alóctones;
por via do aperfeiçoamento de indicadores que permi- h) Promover a identificação e caracterização eco-
tam monitorizar a evolução de espécies e habitats. lógica das espécies exóticas invasoras e desen-
Assim, o reforço do investimento na investigação volver técnicas e metodologias para o seu con-
trolo e erradicação;
dotará a sociedade portuguesa e a própria Adminis-
i) Aprofundar o conhecimento sobre os organis-
tração Pública do conhecimento necessário à estrutu-
mos vivos geneticamente modificados (OGM)
ração de acções especificamente vocacionadas para pro-
e avaliar os riscos para a biodiversidade, para
mover a conservação da Natureza.
a segurança alimentar e para a saúde pública
Para este efeito, há que promover e valorizar tanto associados à sua utilização;
a investigação científica levada a cabo por organismos j) Avaliar impactes das actividades económicas e
oficiais, como a investigação desenvolvida por institui- das práticas tradicionais na conservação da
ções de ensino superior e centros de investigação, como Natureza e na biodiversidade e propor, quando
ainda a investigação científica efectuada pelos próprios necessário, soluções respeitadoras dos valores
agentes económicos, instituições privadas e organizações naturais, induzindo uma utilização sustentável
não governamentais. Nesta linha, a valorização da inves- dos recursos biológicos;
tigação envolve, também, a racionalização dos meios l) Estimular o desenvolvimento de estudos na área
e o aproveitamento das sinergias no trabalho dos dife- da economia ambiental e ecológica;
rentes agentes, numa lógica de complementaridade e m) Desenvolver o conhecimento sobre os ecossis-
cooperação. temas agrícolas e florestais, na sua inter-relação
Importante é, também, que se estabeleçam os ade- com os restantes ecossistemas e a biodiversidade
quados fluxos de informação entre os diversos meios em geral, para identificação dos princípios de
onde se desenvolvem essas acções de investigação. gestão sustentável dos mesmos;
Neste capítulo, mostra-se necessário, sem dúvida, n) Intensificar o estudo e a caracterização das uni-
fazer um grande investimento na optimização dos meios dades de solo e da biodiversidade nelas pre-
tecnológicos propiciados pela moderna sociedade da sente, bem como dos processos de degradação
informação. e erosão do solo;
Para a concretização da presente opção estratégica o) Aprofundar o conhecimento relativo aos efeitos
é crucial, naturalmente, a intervenção do Ministério da das diferentes utilizações do solo, nomeada-
Ciência e da Tecnologia, sobretudo através da Fundação mente agrícolas e florestais, sobre a biodiver-
para a Ciência e Tecnologia, em articulação com os sidade neste recurso natural;
serviços e organismos do Ministério do Ambiente e do p) Promover a caracterização ambiental, social,
Ordenamento do Território e com os demais agentes económica e cultural das áreas protegidas e clas-
deste sector. sificadas, por forma a programar e implementar
Tendo em conta os objectivos da presente Estratégia, estratégias e acções de desenvolvimento local
e sem prejuízo do quadro de referência a seguir men- sustentável;
cionado, consideram-se de especial importância os estu- q) Desenvolver a caracterização e o conhecimento
dos destinados a: sobre a evolução da paisagem, bem como pro-
mover a sua avaliação do ponto de vista do seu
a) Aprofundar o conhecimento sobre os componen- contributo para a conservação da biodiversidade
tes do património natural e da biodiversidade, e do seu valor cultural e estético, tendo em vista
sobretudo os mais significativos, ameaçados de apoiar as decisões relevantes, nomeadamente
extinção ou menos conhecidos e inventariar a sua no domínio da conservação e da gestão ter-
distribuição, com o recurso a sistemas de infor- ritorial;
mação geográfica; r) Aperfeiçoar a utilização dos instrumentos de
b) Identificar e aperfeiçoar as medidas adequadas gestão territorial para a prossecução dos objec-
de salvaguarda, gestão, recuperação ou valori- tivos da presente Estratégia;
zação de espécies ou habitats, sobretudo os mais s) Desenvolver metodologias de avaliação estra-
significativos ou ameaçados de extinção; tégica de impacte ambiental;
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t) Promover o conhecimento sobre o impacte das Áreas Classificadas, integrando neste a Rede Nacional
alterações globais, nomeadamente as decorren- de Áreas Protegidas:
tes das alterações climáticas, no equilíbrio dos A preservação dos valores mais significativos do patri-
ecossistemas e na biodiversidade; mónio natural continua a justificar a existência de um
u) Analisar o enquadramento jurídico da conser- conjunto de áreas sujeitas a um estatuto jurídico especial
vação da Natureza e da biodiversidade e propor de protecção e gestão, que permita a aplicação de polí-
iniciativas legislativas destinadas à prossecução ticas de gestão territorial e de desenvolvimento local
dos objectivos da presente Estratégia; sustentáveis, por forma a garantir a salvaguarda dos valo-
v) Promover a identificação dos elementos notá- res naturais e potenciar a utilização racional dos valores
veis do património geológico, geomorfológico ali existentes, sem perder de vista os objectivos de con-
e paleontológico, tendo em vista a sua classi- servação da Natureza e da biodiversidade.
ficação e salvaguarda. O presente documento designa esse conjunto de ter-
ritórios orientados para a conservação das componentes
Do ponto de vista operacional, revela-se necessário mais representativas do património natural e da bio-
dar seguimento às seguintes directivas de acção: diversidade por Rede Fundamental de Conservação da
a) Elaborar, ainda em 2001, em conformidade com Natureza (RFCN).
os objectivos da presente Estratégia, um quadro A Rede Fundamental de Conservação da Natureza
de referência de projectos prioritários em maté- é, assim, um conceito abrangente que promove a visão
ria de conservação da Natureza e da biodiver- integrada do património e dos recursos naturais sujeitos
sidade, para o período até 2006, por forma a por lei ou compromisso internacional a um especial esta-
orientar a gestão financeira das verbas dispo- tuto jurídico de protecção e gestão, sem implicar, por-
níveis para o efeito no III QCA e servir de refe- tanto, a atribuição de um regime complementar ao já
rência para o planeamento das actividades do existente.
ICN e de outras instituições com competência A Rede Fundamental de Conservação da Natureza
na matéria; inclui:
b) Adoptar, até 1 de Janeiro de 2002, um plano
de acção global do ICN, que, sem prejuízo dos a) As áreas protegidas de âmbito nacional, regional
programas de acção sectorial dos diversos orga- ou local, com a tipologia prevista na lei;
nismos públicos com competência na matéria, b) Os sítios da lista nacional de sítios e as zonas
inclua uma programação dos estudos e projectos de protecção especial integrados no processo
de conservação da Natureza a desenvolver em de constituição da Rede Natura 2000;
conformidade com a presente Estratégia e de c) Outras áreas classificadas ao abrigo de compro-
harmonia com o quadro de referência mencio- missos internacionais;
nado na alínea anterior; d) A Reserva Ecológica Nacional;
c) Adoptar, até 1 de Janeiro de 2002, em cada e) O domínio público hídrico; e
uma das Regiões Autónomas, um plano de f) A Reserva Agrícola Nacional.
acção global que inclua uma programação dos
estudos e projectos de conservação da Natureza As figuras de áreas classificadas cuja designação é
a desenvolver em conformidade com a presente imposta pelas Directivas do Conselho n.os 79/409/CEE,
Estratégia; de 2 de Abril, e 92/43/CEE, de 21 de Maio, bem como
d) Implementar ou consolidar nos próximos anos outras áreas classificadas, previstas nos diversos acordos
a orientação de reforço dos serviços e organis- internacionais ratificados por Portugal, não estão con-
mos relevantes em investigação e em acções templadas no elenco de figuras que integram a Rede
específicas de conservação da Natureza; Nacional de Áreas Protegidas, estabelecida pelo Decre-
e) Desenvolver a implementação do Programa de to-Lei n.o 19/93, de 23 de Janeiro.
Investimento para o Desenvolvimento Cientí- Importa, assim, estruturar, por via de uma nova lei
fico e Tecnológico no Domínio da Conservação quadro da conservação da Natureza, um verdadeiro Sis-
da Natureza e da Biodiversidade, regulado pelo tema Nacional de Áreas Classificadas (SNAC), que deve
protocolo celebrado entre o ICN e a Fundação incluir:
para a Ciência e Tecnologia, bem como do pro-
tocolo celebrado entre o ICN e o Conselho de a) As áreas protegidas enquadradas nas diferentes
Reitores das Universidades Portuguesas; categorias previstas na Rede Nacional de Áreas
f) Definir um programa, até Junho de 2002, a ela- Protegidas, bem como as áreas protegidas das
borar pela Fundação para a Ciência e Tecno- Regiões Autónomas;
logia e pelo ICN, para promover a circulação b) Os sítios da lista nacional de sítios e as zonas
em rede de informação técnica entre os dife- de protecção especial, independentemente da
rentes serviços e instituições que desenvolvem sua sobreposição às áreas protegidas já exis-
actividade na área da conservação da Natureza tentes;
e da biodiversidade, tendo em vista estabelecer c) As demais áreas classificadas ao abrigo de com-
sinergias e constituir uma base de dados sobre promissos internacionais.
o património natural, em articulação com o Sis-
tema de Informação sobre o Património Natural O objectivo da introdução de um conceito como o
(SIPNAT) e com os mecanismos de intercâmbio de Sistema Nacional de Áreas Classificadas é o de asse-
de informação (clearing-house mechanism) gurar, por via de uma lei quadro da conservação da
nacional e internacionais. Natureza, a integração e a regulamentação harmoniosa
das diferentes áreas já sujeitas a um estatuto ambiental
14 — Opção n.o 2. — Constituir a Rede Fundamental de protecção, clarificando o regime jurídico aplicável
de Conservação da Natureza e o Sistema Nacional de nas situações de sobreposição e o alcance no ordena-
N.o 236 — 11 de Outubro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B 6433

mento jurídico de algumas das figuras existentes, como 15 — Opção n.o 3. — Promover a valorização das
as zonas húmidas classificadas no âmbito da Convenção áreas protegidas e assegurar a conservação do seu patri-
de Ramsar, as reservas da biosfera, as reservas bioge- mónio natural, cultural e social:
néticas, as áreas com o diploma europeu do Conselho A gestão das áreas protegidas deve centrar-se na pros-
da Europa e as áreas classificadas como património secução dos objectivos essenciais que determinaram a
mundial também em razão do seu património natural sua criação, promovendo o conhecimento, a monito-
ou paisagístico. rização, a conservação e a divulgação dos valores
Naturalmente, o Sistema Nacional de Áreas Classi- ambientais ali existentes, bem como a preservação e
ficadas deverá ser adaptado quando se deva proceder, valorização do património cultural e das actividades tra-
nos termos do direito comunitário, à criação, regula- dicionais, numa perspectiva de promoção do desenvol-
mentação e classificação das futuras zonas especiais de vimento local sustentável.
conservação, no seguimento da aprovação pela Comis- Para tanto, é necessário promover no interior das
são Europeia da lista dos sítios de importância comu- áreas protegidas as adequadas acções específicas de con-
nitária no âmbito do processo da Rede Natura. servação da Natureza e garantir uma gestão territorial
É, também, indispensável instituir corredores ecoló- rigorosa e equilibrada, respeitadora dos objectivos de
gicos cuja função primordial é estabelecer ou salvaguar- cada área protegida e ordenadora da ocupação do
dar a ligação e os fluxos génicos entre as diferentes espaço, por forma a salvaguardar os valores ambientais
áreas nucleares de conservação, contribuindo, de modo em presença e a promover a adequada localização das
especialmente relevante, para ultrapassar uma visão actividades necessárias para assegurar o desenvolvi-
redutora da conservação da Natureza e da biodiversi- mento económico e social das populações.
dade — circunscrita às áreas classificadas — e para pro- Essa gestão territorial, note-se, não passa apenas
mover a continuidade espacial e a conectividade das pelos planos especiais de ordenamento do território pre-
componentes da biodiversidade em todo o território, vistos, sobretudo os próprios planos de ordenamento
das áreas protegidas, mas também pelos demais ins-
bem como uma adequada integração e desenvolvimento
trumentos de gestão territorial aplicáveis, incluindo os
das actividades humanas (9).
planos sectoriais com incidência territorial nas áreas
Cabe aos instrumentos de gestão territorial, sobretudo protegidas.
aos planos regionais de ordenamento do território ou O crescimento do número e da dimensão das áreas
de ordenamento florestal e aos planos directores muni- protegidas representa para o Estado um desafio crucial.
cipais ou intermunicipais, identificar esses corredores Paralelamente, importa promover acções de sensibi-
ecológicos e promover a sua salvaguarda, tendo em lização e educação ambiental que permitam divulgar
conta, nomeadamente, a delimitação da Reserva Eco- junto da população e dos agentes económicos locais,
lógica Nacional e as áreas de domínio público hídrico, bem como do público em geral, os valores do património
bem como as orientações que sejam fixadas no plano natural e cultural das áreas protegidas, não apenas no
sectorial referente às áreas integradas no processo da sentido de melhor conseguir a sua salvaguarda mas tam-
Rede Natura. bém de estimular a sua utilização como factores de
Do ponto de vista operacional, destacam-se as seguin- desenvolvimento local sustentável, invertendo o pro-
tes directivas de acção: cesso de desertificação destas áreas.
a) Assegurar o registo na Direcção-Geral do Orde- Neste domínio, é de primordial importância assegurar
namento do Território e do Desenvolvimento que o turismo se desenvolva de forma sustentável nas
Urbano da cartografia oficial referente às áreas áreas protegidas, ou seja, evitando a pressão excessiva
em áreas sensíveis, no respeito da capacidade de carga
integradas na Rede Fundamental de Conser-
do meio natural. Tal objectivo exige uma gestão ter-
vação da Natureza, tendo em vista a centra-
ritorial cuidada, infra-estruturas de apoio adequadas,
lização de informação e o seu tratamento
incentivos à manutenção e valorização dos produtos
integrado; regionais ou locais e das actividades económicas tra-
b) Elaborar, no prazo de um ano, uma lei quadro dicionais compatíveis com a conservação da Natureza
de conservação da Natureza que, definindo o e da biodiversidade, bem como acções de sensibilização
regime jurídico fundamental da conservação da e fiscalização eficazes.
Natureza, estruture também, de forma coerente Convergentemente, cumpre prosseguir o Programa
e harmoniosa, o Sistema Nacional de Áreas Nacional de Turismo da Natureza, assegurando a arti-
Classificadas; culação entre as diversas entidades intervenientes,
c) Concluir o processo de delimitação da Reserva fomentando o envolvimento público e privado e pro-
Ecológica Nacional (10), promover a revisão movendo as acções necessárias para atingir uma oferta
progressiva da sua delimitação em articulação integrada de alojamento e de animação ambiental, con-
com a segunda geração dos planos directores sentânea com os objectivos de conservação da Natureza,
municipais, adoptar critérios de delimitação e de desenvolvimento local sustentável e de diversificação
procedimentos que garantam uma maior coe- e qualificação da actividade turística.
rência técnica e rigor na respectiva identificação Refira-se, ainda, a conveniência de prosseguir a ins-
cartográfica, sem prejuízo da revisão, no prazo talação nas áreas protegidas dos órgãos consultivos pre-
máximo de um ano, do regime jurídico aplicável; vistos que permitem o envolvimento das populações
d) Promover a definição e salvaguarda de «cor- locais, das associações relevantes, das autarquias e da
redores ecológicos» nos instrumentos de gestão própria comunidade científica.
territorial, nomeadamente nos planos regionais Por outro lado, importa concluir a execução do Pro-
de ordenamento do território ou de ordena- grama Nacional de Sinalização das Áreas Protegidas,
mento florestal e nos planos directores muni- por forma a conferir maior visibilidade às áreas pro-
cipais. tegidas e aos seus valores ambientais mais significativos,
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bem como aperfeiçoar o modelo de atendimento dos os produtos regionais e locais e incentivar a sua
visitantes. manutenção, divulgação e valorização, nomea-
As reservas e parques marinhos merecem, também, damente através da certificação de origem, da
uma referência especial, em razão da sua importância rotulagem ecológica e da protecção jurídica dos
para alcançar os objectivos da presente Estratégia no produtos de qualidade não abrangidos por legis-
que diz respeito à conservação, recuperação e utilização lação comunitária;
sustentável dos ecossistemas marinhos mais sensíveis. l) Promover a recuperação e manutenção de sis-
É necessário, sem dúvida, aperfeiçoar o planeamento temas tradicionais de utilização e transformação
e a gestão integrada destas áreas — onde a integração de recursos compatíveis com a conservação da
com políticas sectoriais relevantes, como a política de Natureza e da biodiversidade;
pescas, se mostra crucial —, bem como estabelecer ou m) Valorizar as raças autóctones;
reforçar os mecanismos destinados a assegurar a sua n) Apoiar a recuperação e beneficiação dos ele-
salvaguarda, incluindo em matéria de meios de fisca- mentos notáveis do património arquitectónico,
lização, em articulação com as autoridades marítimas. etnográfico, geológico, arqueológico e paisagís-
Assim, podem sumariar-se as seguintes directivas de tico, promovendo, sempre que possível, a sua
acção: integração em pólos de animação ambiental,
a) Elaborar e aprovar até ao final de 2002 os ins- percursos temáticos interpretativos ou núcleos
trumentos de gestão territorial de todas as áreas ecomuseológicos;
protegidas que deles ainda careçam; o) Aperfeiçoar o planeamento e a gestão integrada
b) Integrar na programação de actividades das das reservas e parques marinhos, reforçando os
áreas protegidas as acções específicas de con- seus mecanismos de salvaguarda e fiscalização,
servação da Natureza consideradas prioritárias; em articulação com a política de pescas e com
c) Estabelecer uma programação das acções de as autoridades marítimas.
prevenção dos fogos florestais para cada área
protegida, reforçar os meios de primeira inter- 16 — Opção n.o 4. — Assegurar a conservação e a
venção no combate ao fogo e implementar pla- valorização do património natural dos sítios e das zonas
nos de recuperação das áreas ardidas; de protecção especial integrados no processo da Rede
d) Rever e aperfeiçoar o modelo de atendimento Natura 2000:
dos visitantes das áreas protegidas, nomeada- O estatuto próprio dos sítios da Lista Nacional de
mente no que diz respeito a infra-estruturas, Sítios ou das zonas de protecção especial, integrados
como sedes, delegações ou centros de interpre- no processo da Rede Natura 2000, não se confunde
tação, ecotecas e ecomuseus, bem como através com o estatuto das áreas protegidas, não obstante o
da edição de material de apoio e divulgação; elevado número de sobreposições existentes.
e) Promover, em articulação com as organizações Assim, para além do que acima se referiu — e que
não governamentais de ambiente, a elaboração, permanece válido para as zonas integradas no processo
no prazo de um ano, de programas de educação da Rede Natura que coincidam com áreas protegidas —,
ambiental e sensibilização do público para os importa definir orientações no que se refere especifi-
valores das áreas protegidas e para a promoção camente à Rede Natura.
da sua sustentabilidade; Desde logo, cumpre recordar que até à criação das
f) Concluir no prazo de um ano a execução do chamadas zonas especiais de conservação, o regime legal
Programa Nacional de Sinalização das Áreas aplicável remete sobretudo para uma gestão territorial
Protegidas; e das actividades que assegure efectivamente a manu-
g) Desenvolver, por articulação do Ministério do tenção dessas áreas num estado de conservação favo-
Ambiente e do Ordenamento do Território com rável, através da salvaguarda dos valores ambientais que
o Ministério da Economia e com o Ministério motivaram a sua classificação.
do Planeamento, as regiões de turismo e as A gestão territorial, todavia — ao contrário do que
autarquias locais, o Programa Nacional de sucede nas áreas protegidas — cabe essencialmente às
Turismo da Natureza, optimizando as infra-es- próprias autarquias locais, através dos seus planos muni-
truturas de alojamento e de apoio, incluindo cipais de ordenamento do território, nomeadamente os
parques de merendas, miradouros ou observa- planos directores municipais, sem prejuízo dos pareceres
tórios, instalando e divulgando percursos e pro- que legalmente cabem aos serviços e organismos com-
movendo actividades de animação ambiental; petentes.
h) Elaborar, nos próximos três anos, cartas de des- O processo da Rede Natura implica, pois, uma res-
porto da Natureza e editar os respectivos códi- ponsabilidade acrescida para as autarquias locais,
gos de conduta, bem como iniciar a formação cabendo ao Ministério do Ambiente e do Ordenamento
dos guias da Natureza; do Território, sobretudo através do ICN, fornecer-lhes
i) Estimular nas áreas protegidas processos de as informações técnicas que permitam apoiar uma ade-
desenvolvimento económico sustentável e pro- quada gestão territorial.
mover junto das populações locais e dos agentes Por outro lado, importa, nos termos da lei, elaborar
económicos uma utilização racional dos recur- um documento orientador da gestão das áreas da Rede
sos naturais, particularmente respeitadora do Natura, com a natureza de plano sectorial de ordena-
património natural destas áreas; mento do território, com o qual os planos municipais
j) Aprofundar o conhecimento sobre as activida- se deverão compatibilizar.
des económicas tradicionais ambientalmente As decisões administrativas sobre as actividades a
sustentáveis, como a apicultura, o cultivo e a desenvolver nestas áreas devem ser sempre precedidas,
colheita de plantas aromáticas e medicinais ou nos termos da lei e para além dos pareceres exigidos,
a própria actividade salineira, bem como sobre da análise das respectivas incidências ambientais ou
N.o 236 — 11 de Outubro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B 6435

mesmo, se for o caso, do processo próprio de avaliação e mobilizando a comunidade científica e as orga-
de impacte ambiental, nos termos da legislação aplicável nizações não governamentais de ambiente, um
que estabelece um regime específico para os projectos programa de acções de sensibilização e escla-
públicos e privados em áreas sensíveis. recimento sobre o processo da Rede
Não será necessário retomar aqui todos os aspectos Natura 2000, seus objectivos e implicações.
atrás referidos a propósito das áreas protegidas e que
se revestem, em muitos casos, de igual pertinência a 17 — Opção n.o 5. — Desenvolver em todo o terri-
propósito da Rede Natura. Contudo, deve sublinhar-se tório nacional acções específicas de conservação e gestão
que, também nestas zonas, importa promover acções de espécies e habitats, bem como de salvaguarda e valo-
específicas de conservação da natureza e da biodiver- rização do património paisagístico e dos elementos notá-
sidade e acções de prevenção e combate aos fogos flo- veis do património geológico, geomorfológico e paleon-
restais, bem como planos de recuperação das áreas tológico:
ardidas. A primeira obrigação de uma política de conservação
Por outro lado, importa mobilizar a intervenção de da Natureza e da biodiversidade é alcançar uma efectiva
outras entidades, a começar pelas próprias direcções salvaguarda do património natural. Importa, por isso,
regionais do ambiente e do ordenamento do território, promover acções concretas, em todo o território nacio-
que têm igualmente atribuições em matéria de conser- nal, especificamente desenhadas para a conservação e
vação da Natureza e a quem estão confiadas particulares gestão de espécies e habitats, preferencialmente in situ
responsabilidades nas ZPE e nos sítios integrados no e privilegiando uma abordagem integrada, por eco-
processo da Rede Natura que não coincidam com áreas ssistema.
protegidas. Para as acções de fiscalização, as direcções Naturalmente que a prioridade destas acções espe-
regionais do ambiente e do ordenamento do território cíficas de conservação deve dirigir-se às espécies, ecos-
contam, aliás, com o seu próprio corpo de vigilantes sistemas e habitats de especial significado, a começar
da Natureza, sem prejuízo da necessária articulação e por aqueles que se encontrem mais gravemente amea-
cooperação com outras entidades com competências de çados. Contudo, essas acções deverão ocorrer quer nas
fiscalização, incluindo guardas e sapadores florestais e áreas que foram classificadas em razão da confirmação
autoridades policiais em geral. técnica e científica da ocorrência de tais espécies e habi-
Finalmente, refira-se a importância de, também nas tats quer noutras zonas do território nacional, sempre
áreas integradas no processo da Rede Natura, envolver que tal se justifique. A concretização de tais acções
e motivar para a conservação da Natureza as populações devem ficar a cargo não apenas dos organismos públicos
e os agentes económicos locais, incluindo os proprie- mas também de entidades terceiras, na base de parcerias
tários rurais e produtores florestais, divulgando os valo- a estabelecer conforme apropriado.
res ambientais a proteger e o seu potencial como factores No estabelecimento das acções prioritárias deve aten-
de desenvolvimento local sustentável, desfazendo a ideia der-se à especificidade da realidade nacional e também
falsa da Rede Natura como uma «reserva integral», às orientações emergentes da Convenção sobre a Diver-
necessariamente incompatível com as actividades huma- sidade Biológica e da Estratégia da Comunidade Euro-
nas, as actividades tradicionais e o desenvolvimento eco- peia em Matéria de Diversidade Biológica e, em par-
nómico e social. ticular, as que resultem do respectivo plano de acção
Daqui derivam as seguintes directivas de acção: para a conservação dos recursos naturais ou as que cons-
a) Elaborar e aprovar, no prazo de um ano, con- tam das directivas das aves e dos habitats.
forme já decidido por resolução do Conselho Por outro lado, importa assegurar a necessária coe-
de Ministros, o plano sectorial para a gestão rência entre a fixação de tais prioridades e os dados
territorial das áreas integradas no processo da técnico-científicos que resultem dos projectos ou pro-
Rede Natura; gramas de investigação e de monitorização, desenvol-
b) Elaborar, recorrendo a sistemas de informação vidos ao abrigo daquela que é outra das mais impor-
geográfica, a cartografia identificadora da dis- tantes opções estratégicas aqui assumidas.
tribuição geográfica dos valores naturais prio- Em rigor, as acções de monitorização — que por
ritários a salvaguardar no interior das áreas inte- comodidade de exposição foram referidas a propósito
gradas no processo da Rede Natura e incumbir dos estudos e projectos de investigação mencionados
o ICN de divulgar, junto das autarquias locais, na primeira opção estratégica, visto que são essenciais
a informação técnica disponível sobre a matéria; para aprofundar e actualizar o conhecimento técnico
c) Estabelecer mecanismos de articulação do ICN e científico — são elas próprias, obviamente, acções
e outras entidades pertinentes com os municí- específicas de conservação, indissociáveis da intervenção
pios na elaboração dos instrumentos relevantes a desenvolver no terreno.
de gestão territorial, em especial através das Uma área de intervenção cada vez mais importante
comissões mistas de coordenação; é a que diz respeito às espécies invasoras, cuja intro-
d) Promover acções específicas de conservação da dução no meio natural está hoje sujeita a regulamen-
Natureza e da biodiversidade, em conformidade tação restritiva, que importa aplicar.
com as prioridades estabelecidas na presente Do mesmo modo, a problemática relativa aos orga-
Estratégia, tendo em vista o conhecimento, a nismos vivos geneticamente modificados (OGM), por
monitorização, a salvaguarda, a gestão e a valo- via da biotecnologia — já atrás referida a propósito da
rização dos habitats e das espécies presentes nes- investigação neste domínio —, motivou, também, a pro-
tas áreas; dução de legislação nacional e comunitária da maior
e) Elaborar, no prazo de seis meses, por iniciativa importância para prevenir e controlar a sua produção,
do ICN em colaboração com o organismo do comercialização, libertação e utilização, agora comple-
Ministério do Ambiente e do Ordenamento do mentada pelo Protocolo da Biossegurança, no âmbito
Território responsável pela educação ambiental, da Convenção sobre a Diversidade Biológica.
6436 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B N.o 236 — 11 de Outubro de 2001

Em conformidade, definem-se as seguintes directivas Desenvolvimento Rural e das Pescas, o desen-


de acção: volvimento de acções de conservação in situ e
ex situ dos recursos genéticos agrícolas e aquí-
a) Concluir nos próximos três anos a revisão do colas, nomeadamente das espécies e variedades
Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal; vegetais e das raças autóctones, bem como dos
b) Elaborar livros vermelhos e listas vermelhas de ecossistemas em que os mesmos se tenham
grupos taxonómicos especialmente ameaçados, desenvolvido;
nomeadamente da flora vascular, dos cogumelos n) Assegurar o cumprimento da legislação e a boa
e dos invertebrados; aplicação de programas em matéria de recu-
c) Elaborar ou rever, consolidando os processos peração de pedreiras, saibreiras, minas e escom-
em curso, os diversos atlas de distribui- breiras, nomeadamente por via da reposição do
ção — prioritariamente para as aves, mamífe- coberto vegetal com recurso a espécies autóc-
ros, peixes de água doce e peixes migradores tones;
diádromos — e actualizar o Atlas dos Répteis o) Elaborar um plano de acção para o património
e Anfíbios; geológico, geomorfológico e paleontológico,
d) Prosseguir a aplicação da Estratégia de Actua- dinamizando para o efeito a comunidade cien-
ção do ICN para a Conservação de Zonas Húmi- tífica, com o objectivo de inventariar, caracte-
das (1999-2003), concluir a inventariação e rizar e avaliar os elementos notáveis daquele
caracterização das zonas húmidas, aprofundar património, de modo a permitir a criação de
a respectiva base de dados e desenvolver, em uma rede de monumentos naturais e a iden-
articulação com as entidades com jurisdição ter- tificação de medidas para a sua salvaguarda,
ritorial, planos de gestão para assegurar a sua divulgação e visitação;
conservação, recuperação e utilização sustentá- p) Adoptar medidas de apoio à preservação e valo-
vel, bem como a divulgação dos seus valores rização dos elementos integrantes das paisagens
naturais; de especial significado, em articulação com os
e) Adoptar, até 1 de Janeiro de 2002, um plano instrumentos de gestão territorial e estratégias
de acção global do ICN que inclua uma pro- de desenvolvimento rural que promovam as acti-
gramação dos planos de acção a desenvolver vidades económicas tradicionais e a fixação das
de conservação e gestão de espécies prioritárias populações locais, combatendo a desertificação
da fauna e da flora; do meio rural, sobretudo do interior;
f) Adoptar em cada uma das Regiões Autónomas, q) Implementar as medidas agro-ambientais pre-
até 1 de Janeiro de 2002, um plano de acção vistas por forma a salvaguardar a biodiversidade
global que inclua a programação dos planos de associada aos agro-sistemas tradicionais presen-
acção a desenvolver de conservação e gestão tes em áreas nucleares de conservação.
de espécies prioritárias da fauna e da flora;
g) Adoptar medidas que salvaguardem o patrimó- 18 — Opção n.o 6. — Promover a integração da polí-
nio nacional de recursos genéticos, regulamen- tica de conservação da Natureza e do princípio da uti-
tando, quando tal se justifique, o registo, o lização sustentável dos recursos biológicos na política
acesso e a utilização sustentável desses recursos, de ordenamento do território e nas diferentes políticas
bem como a partilha dos benefícios decorrentes sectoriais (remissão):
da referida utilização; A integração dos objectivos, opções e orientações da
h) Promover acções de protecção e recuperação presente Estratégia e da política de conservação da
de habitats, nomeadamente galerias ripícolas, Natureza na política de ordenamento do território e
montados, sapais, habitats cavernícolas e rupí- nas diferentes políticas sectoriais relevantes é condição
colas, dunas, turfeiras, bosques mediterrânicos, fundamental para o sucesso na prossecução das fina-
atlânticos e macaronésicos e lameiros; lidades visadas.
i) Elaborar e implementar o plano nacional de Importa, na verdade, que, com o contributo das polí-
controlo ou erradicação das espécies não indí- ticas sectoriais se alcance uma mais efectiva preservação
genas classificadas como invasoras, previsto na do património natural e uma utilização sustentável desse
lei, e desenvolver desde já acções de controlo recurso, como factor de desenvolvimento.
e erradicação das mesmas; Essa integração passa, desde logo, pela assunção das
j) Desenvolver a Rede Nacional de Recolha e diversas opções estratégicas adoptadas neste documento
Recuperação de Animais Selvagens, integrando no interior das diferentes políticas sectoriais, indepen-
pólos de recepção e centros de recuperação, dentemente do departamento governamental ou dos ser-
bem como a Rede Nacional para a Recepção viços e organismos a quem estejam cometidas as com-
de Mamíferos Marinhos; petências relevantes.
l) Promover, no âmbito da conservação ex situ e Contudo, o tema da integração de políticas, incluindo
tendo em vista os objectivos prosseguidos pela no que se refere às políticas de ordenamento do ter-
presente Estratégia, a articulação da actividade ritório e do urbanismo, pela sua especial relevância e
dos jardins zoológicos, dos jardins botânicos, dos por carecer de maior desenvolvimento específico, será
aquários e viveiros, dos centros de recuperação objecto de capítulo autónomo na presente Estratégia
da fauna selvagem e dos museus de história (capítulo III).
natural com a conservação in situ, nomeada- 19 — Opção n.o 7. — Aperfeiçoar a articulação e a
mente através da criação de centros de repro- cooperação entre a administração central, regional e
dução em cativeiro e da cooperação com bancos local:
de genes (germoplasma e tecidos); O desenvolvimento da presente Estratégia Nacional
m) Prosseguir, sob a coordenação dos serviços com- exige uma estreita cooperação institucional entre a
petentes do Ministério da Agricultura, do administração central, regional e local.
N.o 236 — 11 de Outubro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B 6437

Desde logo, porque a própria gestão das áreas pro- d) Estabelecer mecanismos de articulação, inter-
tegidas, embora correspondendo ao dever constitucio- câmbio de informação e cooperação técnica
nalmente cometido ao Estado de salvaguardar e valo- entre a administração central e regional.
rizar o património natural, reclama uma articulação com
as autarquias locais em cujo território estão inseridas. 20 — Opção n.o 8. — Promover a educação e a for-
Por outro lado, o regime jurídico aplicável às áreas mação em matéria de conservação da Natureza e da
integradas no processo da Rede Natura e a que não biodiversidade:
se sobreponham áreas protegidas remete, como atrás A conservação da Natureza e da biodiversidade não
se disse, para responsabilidades dos próprios municípios é apenas um problema das autoridades públicas ou dos
na protecção dos valores naturais em causa, designa- agentes económicos, é um problema da sociedade por-
damente por intermédio da sua gestão territorial. tuguesa como um todo. Assim, a educação ambiental
De resto, naturalmente que a protecção do ambiente e a formação neste domínio revestem-se de inegável
é uma atribuição geral dos municípios, sendo que relevância para um desenvolvimento verdadeiramente
importa zelar para que a sua acção, como a de qualquer sustentável.
outra entidade relevante, seja compatibilizada com a A educação ambiental deve ser entendida como um
salvaguarda e utilização sustentável do património processo continuado, presente aos níveis da educação
natural. formal e não formal, cuja finalidade é, quanto ao que
Daqui resulta uma evidente necessidade de aperfei- aqui nos interessa, promover uma mudança de atitude
çoar a articulação entre a administração central e local. e comportamentos, tendo em vista a concretização dos
Essa articulação passa, insiste-se, pela disponibilização objectivos gerais definidos na presente Estratégia Nacio-
por parte da administração central dos dados e infor- nal de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.
mações técnicas que permitam aos municípios desen- Para este efeito, importa obter a cooperação das esco-
volver de forma adequada a sua gestão territorial e a las, das instituições do ensino superior, dos serviços rele-
sua actividade corrente. vantes da Administração Pública, das associações pro-
Por outro lado, a administração central pode, e deve, fissionais, das empresas e das ONGA, alcançando uma
promover e apoiar, em articulação com a Associação eficiente gestão de recursos e adoptando metodologias
Nacional dos Municípios Portugueses, acções de for- e práticas pedagógicas adequadas.
mação profissional dos técnicos ao serviço das autar- A formação na área da conservação da Natureza e
quias locais afectos a áreas relevantes para a política da biodiversidade — em que é necessário empreender
de conservação da Natureza. um grande esforço — envolve, genericamente, a qua-
A intensificação da cooperação institucional revela-se lificação profissional dos diversos agentes, nomeada-
também necessária entre o Governo da República e os mente através da actualização de conhecimentos e da
Governos das Regiões Autónomas dos Açores e da aprendizagem e actualização de conceitos e de novos
Madeira, bem como entre os respectivos serviços admi- métodos, meios e tecnologias relevantes para as áreas
nistrativos. Essa cooperação, sempre respeitadora do de intervenção em causa.
princípio da autonomia regional, deve incidir, desde Assim, formulam-se as seguintes directivas de acção:
logo, no intercâmbio de informação e no plano da cola-
boração técnica. a) Promover e apoiar projectos de educação ambien-
Por outro lado, importa que os extraordinários valores tal em matéria de conservação da Natureza e
do património natural dos Açores e da Madeira sejam da biodiversidade, ao nível formal e não formal;
mais intensamente divulgados junto da população do b) Aprofundar a articulação entre o organismo do
continente, e vice-versa, assim se aprofundando a cons- Ministério do Ambiente e do Ordenamento do
ciência do integral valor do património natural portu- Território responsável pela educação ambiental
guês, que contribui para a identidade e para a própria e os serviços competentes do Ministério da
coesão nacional. Educação;
Assim, cumpre desenvolver as seguintes directivas de c) Consolidar na reorganização curricular em curso
acção: e nas actividades pedagógicas das escolas a valo-
rização dos temas da conservação da Natureza
a) Estabelecer mecanismos de articulação, inter- e da biodiversidade;
câmbio de informação e cooperação técnica d) Proporcionar meios e instrumentos de apoio
entre a administração central e local; para as acções de educação e formação;
b) Disponibilizar à administração local, com recurso, e) Promover ou apoiar acções de formação pro-
sempre que possível, aos sistemas de informação fissional contínua dos diversos agentes com
geográfica, os dados sobre o património natural intervenção na área da conservação da Natureza
de que a administração central disponha; e da biodiversidade, incluindo os funcionários
c) Adoptar um programa, a elaborar, no prazo de e técnicos das autarquias locais — por via da
seis meses, pelo ICN e pelo organismo do Minis- aplicação do Programa de Formação já refe-
tério do Ambiente e do Ordenamento do Ter- rido — e as autoridades policiais;
ritório responsável pela educação ambiental, em f) Sensibilizar as universidades e o ensino superior
articulação com a Associação Nacional dos não universitário para a introdução nos progra-
Municípios Portugueses e o Centro de Estudos mas curriculares e nos cursos de pós-graduação
e Formação Autárquica, de formação profissio- de temas relacionados com a conservação da
nal dos funcionários e técnicos das autarquias Natureza e da biodiversidade;
locais com intervenção em matéria de conser- g) Envolver a comunidade científica, o sector pri-
vação da Natureza e da biodiversidade; vado e as organizações não governamentais no
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desenvolvimento e acções de educação e for- damente através da produção e actualização de


mação em matéria de conservação da Natureza material didáctico, vídeos e publicações, recor-
e da biodiversidade. rendo também às novas tecnologias da infor-
mação, criando ou aperfeiçoando os sites espe-
21 — Opção n.o 9. — Assegurar a informação, sen- cializados na Internet;
sibilização e participação do público, bem como mobi- b) Promover campanhas de informação e de sen-
lizar e incentivar a sociedade civil: sibilização do público e dos consumidores para
A participação do público na discussão da política as implicações de certos actos de consumo no
de conservação da Natureza e nas próprias acções que património natural;
importa estimular e desenvolver depende, em grande c) Apoiar iniciativas das organizações não gover-
parte, do acesso à informação, sem a qual não é possível namentais e da sociedade civil destinadas a pro-
uma intervenção esclarecida. mover a informação e a sensibilização do
Essa informação respeita, desde logo, à própria público na área da conservação da Natureza e
importância do património natural como valor a pro- da biodiversidade;
teger, sobretudo — mas não só — daquele que apresenta d) Desenvolver e aperfeiçoar a articulação com os
mais significado, como o das áreas protegidas ou clas- museus de história natural, aquários, jardins
sificadas. A informação deve também reportar-se às botânicos e jardins zoológicos por forma a valo-
ameaças que põem em causa a integridade desse rizar o seu papel como veículos de sensibilização
património. do público para o valor do património natural;
Já quanto às áreas protegidas se teve aqui oportu- e) Completar e aperfeiçoar as bases de dados no
nidade de referir as acções que devem ser empreendidas, âmbito do Sistema de Informação do Patrimó-
com destaque para o programa de sinalização, o esta- nio Natural (SIPNAT), gerido a partir de um
belecimento de percursos, o aperfeiçoamento do modelo centro nacional de informação sobre o patri-
de atendimento, a implantação e qualificação de centros mónio natural, a criar no âmbito do ICN,
de interpretação, ecotecas e ecomuseus e a edição de mediante parcerias com as entidades relevantes;
material informativo, que deve integrar-se num plano
f) Articular o SIPNAT com o funcionamento do
gráfico editorial mais vasto.
mecanismo de intercâmbio (clearing-house
Para os objectivos visados pela presente opção estra-
tégica, não podem ignorar-se as novas tecnologias de mechanism), assegurado pelo ICN.
informação, que permitem processos expeditos e abertos
de divulgação de dados, com grande capacidade de per- 22 — Opção n.o 10. — Intensificar a cooperação
manente actualização. internacional:
Do mesmo modo, é de realçar o papel crucial dos Os desafios em matéria de conservação da Natureza
meios de comunicação social como veículo de infor- e da biodiversidade têm hoje, como é reconhecido, uma
mação e formação do público, capaz de promover, com dimensão internacional e até planetária.
grande eficácia, a sensibilização da comunidade para Importa, pois, valorizar a participação activa de Por-
a problemática da conservação da Natureza e da tugal nos processos de cooperação internacional neste
biodiversidade. domínio, com destaque para a Convenção sobre a Diver-
A sensibilização do público para as questões da con- sidade Biológica, para o processo de cooperação pan-
servação da Natureza e da biodiversidade pode, e deve, -europeu e para o desenvolvimento das políticas comu-
suscitar atitudes individuais e colectivas mais respeita- nitárias relevantes.
doras dos valores do património natural — nacional ou Do mesmo modo, importante é também manter o
de outros países, sobretudo os que possuem estruturas envolvimento activo de Portugal no processo Rio+10,
mais frágeis de salvaguarda dos seus recursos, como os que culminará em 2002, com a Cimeira do Desenvol-
países em desenvolvimento —, nomeadamente através vimento Sustentável, em Joanesburgo, e que permitirá,
de uma postura mais exigente e rigorosa dos cidadãos entre outros objectivos, fazer o ponto da situação em
enquanto consumidores. Para este efeito, importa desen- matéria de biodiversidade e definir as acções a empreen-
volver mecanismos de informação aos consumidores, der no futuro próximo.
designadamente através da certificação de origem e da Nesta área, não pode esquecer-se a particular impor-
rotulagem ecológica. tância da Convenção sobre o Comércio Internacional
Por outro lado, é necessário tirar partido dos meca- das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas
nismos existentes de participação do público, seja no de Extinção (CITES), um dos mais eficazes instrumentos
quadro da chamada participação procedimental, através para a conservação da biodiversidade e onde Portugal
sobretudo dos processos de consulta e discussão pública, tem já uma longa tradição de participação activa. A
seja através dos mecanismos da chamada participação presente Estratégia assume, aliás, a determinação de
orgânica ou institucional, em órgãos constituídos para reforçar os mecanismos de controlo do cumprimento
o efeito ao nível das áreas protegidas ou dos depar- desta Convenção no território nacional.
tamentos governamentais, com destaque para o Con- Particular relevância para a conservação da Natureza
selho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento e da biodiversidade têm outros processos internacionais
Sustentável. em curso, sobretudo ao abrigo de convenções, das quais
Um papel especial cabe aqui às organizações não se destacam — sem carácter exaustivo — a Convenção
governamentais de ambiente, cuja participação nos pro- de Ramsar, a Convenção de Berna, a Convenção de
cessos de decisão pública e capacidade de sensibilização Bona, a Convenção para a Regulação da Actividade
dos cidadãos se reveste de particular significado. Baleeira, a Convenção sobre as Alterações Climáticas,
Nestas condições, definem-se as seguintes directivas a Convenção de Combate à Desertificação e a Con-
de acção: venção Europeia da Paisagem.
a) Reforçar os meios informativos sobre a conser- Por outro lado, de harmonia com as orientações da
vação da Natureza e da biodiversidade, nomea- política externa do País, deve aprofundar-se, de modo
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particular, a cooperação com os países de língua oficial canismo de intercâmbio de informação (clearing-house
portuguesa em matéria de conservação da Natureza e mechanism), previsto na Convenção sobre a Diversidade
da biodiversidade, quer no âmbito bilateral quer no Biológica.
âmbito da CPLP. Assim, cumpre formular as seguintes directivas de
Neste capítulo, a prioridade vai para a promoção de acção:
acções de formação profissional capazes de promover
a construção de capacidades locais. a) Intensificar o acompanhamento por Portugal
dos processos de cooperação internacional rele-
É também de realçar a necessidade de aprofundar vantes para a conservação da Natureza e da bio-
os processos de cooperação já em curso, designadamente diversidade e promover a aplicação das decisões,
com a Guiné-Bissau, a propósito do Parque da Cufada, recomendações e resoluções adoptadas pelos
ou com Moçambique, na sequência do memorando de órgãos instituídos no âmbito das convenções
entendimento recentemente acordado. internacionais;
Do mesmo modo, deve valorizar-se a importância b) Reforçar o sistema de aplicação e fiscalização
estratégica do relacionamento de Portugal com os países do cumprimento da Convenção CITES e das
de língua oficial portuguesa no quadro dos processos demais convenções relevantes;
de cooperação à escala da comunidade internacional c) Intensificar e valorizar a cooperação com os
em matéria de ambiente e, especialmente, no domínio países de língua oficial portuguesa, nos planos
da conservação da Natureza e da biodiversidade. bilateral e da CPLP;
A política de cooperação portuguesa com os países d) Aprofundar as relações luso-espanholas em
em desenvolvimento, contudo, estende-se hoje a outros matéria de conservação da Natureza e da bio-
mecanismos financeiros globais, com especial destaque diversidade, incluindo no domínio da prevenção
para o GEF (Global Environment Facility), em cujo de riscos, especialmente no que se refere às
financiamento e gestão Portugal participa, que deve ser zonas costeiras, às bacias hidrográficas interna-
cada vez mais valorizado como um instrumento adicional cionais e albufeiras, às áreas protegidas e aos
da nossa política de cooperação na área da conservação ecossistemas e corredores ecológicos contíguos;
da Natureza e da biodiversidade. e) Aprofundar as relações luso-marroquinas em
Contudo, essa cooperação com os países em desen- matéria de conservação da Natureza e da bio-
volvimento para favorecer a salvaguarda e a utilização diversidade, dando seguimento ao Protocolo
sustentável dos seus próprios recursos biológicos pren- celebrado em 2001;
de-se, também, com o relacionamento económico e f) Valorizar a participação de Portugal no finan-
comercial com esses países, sendo por isso necessário, ciamento e gestão do Global Environmental
para além do controlo das trocas comerciais nos termos Facility (GEF) como instrumento da política de
da lei e das convenções internacionais aplicáveis, pro- cooperação nesta área com os países em desen-
mover a sensibilização do público e dos consumidores volvimento, nomeadamente através do apoio à
— por via de campanhas de informação e da promoção elaboração de projectos técnica e financeira-
da certificação de origem ou rótulo ecológico — para mente fundamentados;
as implicações de certos actos de consumo no património g) Promover campanhas de informação e sensibi-
natural dos países em desenvolvimento. lização do público e dos consumidores para as
implicações de certos actos de consumo no patri-
Nesta linha, a preservação das florestas tropicais, por
mónio natural de outros países, sobretudo dos
exemplo, carece, entre outras medidas, do reforço do países em desenvolvimento.
controlo das importações e da implementação, à escala
internacional, de mecanismos de certificação de origem
das madeiras comercializadas. CAPÍTULO III
No plano das relações bilaterais, naturalmente que
as relações luso-espanholas se revestem, também, de Integração de políticas
particular significado para a conservação da Natureza
e da biodiversidade, em razão da nossa posição geo- 23 — A importância da integração de políticas:
gráfica. Para além das questões que se prendem com A presente Estratégia assume como uma das suas
a gestão das bacias hidrográficas internacionais e das opções estratégicas fundamentais — a opção n.o 6 —
a integração da política de conservação da Natureza
albufeiras, é da maior importância a cooperação espe-
e do princípio da utilização sustentável dos recursos bio-
cífica na área da conservação da Natureza, protagoni-
lógicos na política de ordenamento do território e nas
zada sobretudo pelas áreas protegidas de ambos os lados diferentes políticas sectoriais relevantes.
da fronteira. Essa cooperação, que deve traduzir-se em Promover essa integração de políticas é, pois, uma
projectos concretos, pode, aliás, obter apoio financeiro opção estratégica central do presente documento, em
relevante por via do Programa INTERREG III. sintonia, aliás, com a Estratégia da Comunidade Euro-
Ainda em matéria de relações bilaterais, deve aqui peia em Matéria de Diversidade Biológica e com o dis-
mencionar-se as perspectivas que se abrem com a posto na Convenção sobre a Diversidade Biológica.
recente assinatura de um protocolo entre Portugal e Porém, e como já se fez notar, as demais opções cons-
Marrocos, que permitirá consolidar a cooperação já em tantes desta Estratégia comprometem, também elas, as
curso quanto às zonas húmidas (no âmbito do Comité políticas sectoriais e os serviços e organismos incumbidos
MedWet) e desenvolver essa cooperação em outros da sua execução.
domínios ambientais relevantes, incluindo em matéria Contudo, justifica-se um desenvolvimento específico
de conservação da Natureza e da biodiversidade. a propósito de algumas das políticas sectoriais consi-
Finalmente, refira-se ainda a importância da coope- deradas decisivas para a prossecução dos objectivos da
ração científica, técnica e tecnológica à escala interna- presente Estratégia.
cional, entre os diferentes tipos de entidades relevantes Na verdade, só por via da consideração das questões
e, nomeadamente, no quadro do funcionamento do me- da conservação da Natureza e da biodiversidade nas
6440 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B N.o 236 — 11 de Outubro de 2001

políticas prosseguidas nos diferentes sectores de acti- lização da sociedade civil, particularmente os agentes
vidade será possível alcançar uma protecção mais efec- económicos e suas associações representativas, bem
tiva do património natural e uma utilização mais sus- como as organizações não governamentais de ambiente.
tentável dos recursos biológicos. Não obstante, a presente Estratégia assume desde
24 — Instrumentos da integração de políticas: já o princípio da integração de políticas, formulando
A Estratégia Nacional que aqui se apresenta constitui, orientações em matéria de conservação da Natureza e
por definição, o instrumento fundamental para uma da biodiversidade para diferentes políticas sectoriais.
efectiva integração de políticas. As políticas de investigação e educação já aqui foram
Deste ponto de vista, os mecanismos de acompanha- amplamente referidas a propósito, justamente, das
mento e avaliação da execução desta Estratégia — e opções de aprofundar o conhecimento e a investigação
de que a seguir se dará conta — estão, também eles, (opção n.o 1) e de promover a educação e a formação
ao serviço do aperfeiçoamento dessa integração. (opção n.o 8) nas áreas a que respeita o presente
Assim, particular importância deverá assumir neste documento.
domínio o funcionamento da Comissão de Coordenação As grandes questões que se põem à interligação entre
Interministerial para a Biodiversidade, criada pela Reso- a política de conservação da Natureza e a política de
lução do Conselho de Ministros n.o 41/99, de 17 de saúde mereceram, também, referência, designadamente
Maio. a propósito do aprofundamento do conhecimento sobre
Outros instrumentos devem, no entanto, ser referidos os organismos vivos geneticamente modificados e suas
como nucleares para o êxito de um processo consistente implicações na biodiversidade, na segurança alimentar
de integração de políticas. e na saúde pública (opção n.o 1), bem como a propósito
Em primeiro lugar, os instrumentos de ordenamento da legislação em vigor nesta matéria e que importa fazer
do território, por meio dos quais se deve alcançar uma cumprir (opção n.o 5).
gestão territorial equilibrada e respeitadora da Natu- Por outro lado, já foram igualmente assinalados os
reza, da biodiversidade e da paisagem, traduzindo de contributos das políticas de defesa e de segurança para
forma harmoniosa na gestão do espaço as opções das os objectivos visados pela presente Estratégia (sobretudo
diferentes políticas sectoriais com implicações territo- nas opções n.os 3 e 4), designadamente no que se refere
riais relevantes. à fiscalização da área marítima e à intervenção das auto-
Em segundo lugar, o próprio processo de avaliação ridades policiais na fiscalização em meio terrestre, em
de impacte ambiental — que se deve estender cada vez todo o território nacional, mas também no domínio da
mais a uma verdadeira avaliação estratégica de impacte prevenção e combate aos fogos florestais. Aliás, os recur-
ambiental —, por via do qual é possível considerar as sos humanos afectos ao desenvolvimento das políticas
implicações no património natural de numerosos pro- de defesa e segurança contribuem de modo muito rele-
jectos públicos e privados dos mais diversos sectores vante para o reforço dos meios humanos ao serviço da
de actividade. execução da presente Estratégia, como adiante se dará
Em terceiro lugar, a gestão dos fundos comunitários, conta, no capítulo IV.
e em especial a gestão dos fundos associados à política Todavia, cumpre aqui fazer referências adicionais a
de desenvolvimento regional, que pode constituir um propósito das políticas de ordenamento do território
poderoso instrumento para assegurar a consideração do e urbanismo, cidades, litoral e ecossistemas marinhos,
valor do património natural na programação das acções recursos hídricos, desenvolvimento regional, agricultura,
no quadro das diferentes políticas sectoriais e na inter- florestas, caça, pescas e aquicultura, turismo, indústria,
venção das próprias autarquias locais. energia, alterações climáticas e transportes.
A integração de políticas, em todo o caso, deve ser 25 — Política de ordenamento do território e urba-
promovida através dos próprios instrumentos de pla- nismo e política para as cidades:
neamento estratégico cuja função seja orientar as dife- O ordenamento do território é hoje, reconhecida-
rentes políticas sectoriais relevantes, planeamento esse mente, um instrumento fundamental para a conservação
que, sempre que necessário, deve ser complementado da Natureza e da biodiversidade, na medida em que
por planos de acção sectoriais ou intersectoriais, a ela- a disciplina da ocupação do espaço deve atender à dis-
borar pelos departamentos governamentais responsáveis tribuição geográfica dos valores naturais e compatibi-
por cada uma das políticas sectoriais. lizar a sua salvaguarda, bem como a protecção da pai-
Para este efeito, a contribuição dos diferentes minis- sagem, com as propostas de utilização do solo.
térios para o processo de avaliação da execução da pre- Por outro lado, um correcto ordenamento do ter-
sente Estratégia — adiante referido — deve pronun- ritório pode contribuir decisivamente para soluções
ciar-se expressamente sobre a adequação ou necessidade urbanísticas também elas mais respeitadoras do patri-
de revisão dos instrumentos de planeamento estratégico mónio natural e aptas a proporcionar níveis mais satis-
sectorial existentes, bem como sobre a pertinência de fatórios de qualidade de vida.
elaborar planos de acção adicionais. Convergentemente, contribuirá, em muito, para os
Os planos de acção sectoriais devem fundar-se numa objectivos da presente Estratégia a consolidação da
avaliação da situação, em particular da relação entre actual política para as cidades, com o objectivo de
o sector em causa e o património natural, e definir objec- melhorar o ambiente urbano e os indicadores ambientais
tivos, medidas, tarefas, instrumentos e meios afectos à das cidades, promovendo operações integradas de
sua execução, bem como, sempre que possível, meca- requalificação urbana, recuperando áreas urbanas
nismos de avaliação e indicadores — nomeadamente de degradadas, centros históricos e o património cultural
ordem biológica e económica — que permitam apoiar e ambiental das cidades, promovendo a salvaguarda da
a monitorização da sua execução. estrutura ecológica urbana, o aumento dos espaços ver-
Por outro lado, deve estimular-se nesses planos de des, a qualificação dos espaços públicos, a redução do
acção sectoriais a promoção de parcerias envolvendo consumo de energia, a gestão ambiental dos resíduos
instituições públicas e privadas e promovendo a mobi- e enfrentando os problemas associados ao tráfego auto-
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móvel, valorizando o transporte público e alterna- importância, que têm vindo a ser desenvolvidas no
tivo — incluindo através de iniciativas como o «dia sem âmbito da política para o litoral e que importa prosseguir
carros». e intensificar.
A recente junção num mesmo ministério das políticas Por outro lado, reveste-se de particular importância
de ambiente e de ordenamento do território potencia, a consideração rigorosa dos valores ambientais no desen-
naturalmente, uma mais eficaz integração entre estas volvimento da política de extracção de inertes, mediante
mesmas políticas, que importa ainda intensificar, desig- a exigência de estudos prévios, elaboração de planos
nadamente na elaboração de instrumentos de gestão de dragagens, avaliação de impacte ambiental nos ter-
territorial e no acompanhamento e controlo da lega- mos da lei e parecer do Ministério do Ambiente e do
lidade dos planos municipais de ordenamento do Ordenamento do Território.
território. A conclusão e plena implementação dos planos de
Entre os instrumentos que devem ser utilizados no ordenamento da orla costeira, a avaliação da capacidade
contexto de uma tal política de ordenamento do ter- de carga das zonas litorais, a consideração da Carta
ritório contam-se o Programa Nacional da Política de de Risco do Litoral, a inventariação das áreas críticas
Ordenamento do Território e os planos regionais de em termos do património geológico e paleontológico
ordenamento do território. e da biodiversidade, o controlo e erradicação da flora
Complementarmente, a elaboração de planos espe- exótica invasora dos cordões dunares e arribas e o
ciais de ordenamento do território — nas áreas pro- reforço da fiscalização são medidas a desenvolver neste
tegidas, na orla costeira e na envolvente de albufeiras — domínio.
permite ao Estado assumir plenamente as responsabi- Refira-se, ainda, que também no caso das actividades
lidades que a Constituição lhe confia na defesa de valo- e obras portuárias se deve procurar a compatibilização
res como o património natural. com a protecção do ambiente e a salvaguarda dos valores
Por outro lado, a Reserva Ecológica Nacional (REN) naturais, à luz dos objectivos preconizados pela presente
constitui, também, um instrumento da maior importân- Estratégia e tendo em conta as conclusões do Livro
cia para a política de ambiente e de ordenamento do Branco sobre Política Marítimo-Portuária rumo ao
território, por meio do qual se pode alcançar uma eficaz Século XXI.
protecção de ecossistemas, como zonas húmidas, e A boa articulação entre os organismos responsáveis
outros valores naturais. pela administração portuária e os serviços do ministério
Do mesmo modo, a Reserva Agrícola Nacional do Ambiente e do Ordenamento do Território, bem
(RAN) constitui um instrumento ao serviço de uma ges- como entre todas as entidades com intervenção sobre
tão do território que deve garantir a salvaguarda do o litoral, é essencial para permitir uma gestão integrada
recurso natural que são os solos com especial aptidão das zonas costeiras.
agrícola. A recente integração num mesmo ministério dos ser-
Contudo, e de uma forma geral, é através dos planos viços competentes em matéria de ambiente e de orde-
municipais de ordenamento do território que o desi- namento do território contribuiu já para reduzir o
derato de uma gestão territorial respeitadora dos valores número de entidades com intervenção nas zonas cos-
ambientais se deverá alcançar. E, como já se disse, a teiras. Todavia, a reforma do sistema institucional de
prossecução dos objectivos da Rede Natura reclama, gestão dos recursos hídricos, em preparação, deverá con-
também, das autarquias locais uma cuidada utilização tribuir, também, para simplificar e racionalizar a dis-
dos seus instrumentos próprios de gestão territorial. tribuição de competências referentes ao litoral.
Nesta linha, a identificação e protecção da estrutura Indissociável da gestão do território terrestre na orla
ecológica, dos recursos e valores naturais e dos sistemas costeira é a gestão dos ecossistemas marinhos. A impor-
indispensáveis à protecção e valorização ambiental dos tância de tais ecossistemas para os objectivos da presente
espaços rurais e urbanos ou à utilização sustentável do Estratégia teve já expressão no que acima se referiu
território, bem como a previsão de espaços verdes, são em matéria de investigação (opção n.o 1) e de valo-
exigências incontornáveis dos instrumentos de gestão rização e conservação de áreas protegidas, em especial
territorial, em especial dos planos municipais de orde- reservas e parques marinhos (opção n.o 3). Mais adiante
namento do território, que assim devem contribuir para se regressará ao tema, a propósito da política de pescas
a melhoria do ambiente urbano e para os objectivos e dos meios de execução da presente Estratégia
da presente Estratégia Nacional de Conservação da (capítulo IV).
Natureza e da Biodiversidade. Na verdade, aprofundar o conhecimento sobre os
26 — Política para o litoral e para os ecossistemas ecossistemas marinhos, promover a utilização susten-
marinhos: tável dos seus recursos e assegurar a sua salvaguarda,
A política para o litoral, nas suas vertentes terrestre mediante o estabelecimento e ordenamento de parques
e marinha, reveste-se de crucial importância para a pros- e reservas marinhas e a aplicação das necessárias medi-
secução dos objectivos da presente Estratégia. das de fiscalização, são objectivos assumidos pela pre-
Também aqui os planos de gestão territorial, sobre- sente Estratégia.
tudo os planos de ordenamento da orla costeira A promoção da segurança e o controlo do tráfego
(POOC), constituem um poderoso instrumento de marítimo e das demais actividades económicas no mar
intervenção. territorial e na zona económica exclusiva, bem como
Por via deles, não só se estabelece uma gestão do o aperfeiçoamento dos planos de contingência ou de
espaço as conclusões como se promovem acções de emergência em caso de acidente, em especial no caso
defesa da costa e requalificação ambiental do litoral. de poluição por hidrocarbonetos, são medidas indispen-
A recuperação das arribas litorais e dos ecossistemas sáveis para a preservação dos ecossistemas marinhos
dunares, o combate à erosão, a recarga e valorização e dos seus recursos. Tais medidas, que em parte con-
das praias, a salvaguarda e requalificação de zonas estua- siderável integram as preocupações ambientais das polí-
rinas e lagunares são algumas das acções, da maior ticas de defesa e segurança, reclamam o aprofunda-
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mento da cooperação entre as diferentes entidades com- água para a agricultura de regadio, protecção dos ecos-
petentes, bem como o reforço dos meios disponíveis, sistemas aquáticos e ribeirinhos, recuperação de albu-
e exigem a optimização dos mecanismos de cooperação feiras em estado de eutrofização; recuperação e gestão
internacional neste domínio. da vegetação ripícola, salvaguarda de caudais ambien-
De igual modo, a salvaguarda dos oceanos, a partilha tais, recuperação, protecção e gestão das populações
mais equitativa dos benefícios resultantes da exploração piscícolas, ordenamento do domínio hídrico e licencia-
dos seus recursos, a criação de capacidades nos países mento dos respectivos usos e actividades.
costeiros menos desenvolvidos, a avaliação prévia do Registe-se, ainda, que aos planos de bacia hidrográ-
impacte ambiental das tecnologias de exploração dos fica cabe também a formulação de orientações para a
recursos marinhos e a efectiva responsabilização dos gestão territorial envolvente dos cursos de água, tendo
utilizadores e dos poluidores desses recursos, exigem, em vista a salvaguarda dos recursos hídricos, bem como
sem dúvida, uma mais intensa cooperação internacional a protecção do património natural ou cultural e da
e o empenhamento de todos os Estados, incluindo Por- paisagem.
tugal, no aperfeiçoamento e boa aplicação das conven- Tais orientações devem ter seguimento nos demais
ções internacionais e no bom funcionamento dos meca- instrumentos de gestão territorial, em particular nos pla-
nismos de gestão e de intercâmbio de informação sobre nos de ordenamento das albufeiras. Estes planos, como
o mar. planos especiais de ordenamento do território, são ins-
27 — Política de recursos hídricos: trumentos privilegiados de salvaguarda dos recursos
O planeamento dos recursos hídricos em Portugal hídricos e da gestão territorial envolvente.
comporta o Plano Nacional da Água e os planos de Uma referência especial deve ser feita ao Plano Estra-
bacia hidrográfica, instrumentos que contribuem, de tégico de Abastecimento e de Saneamento de Águas
modo muito relevante, para alcançar os objectivos da Residuais, 2000-2006. Este Plano, que tem vindo a ser
presente Estratégia. executado, permite mobilizar os fundos comunitários
Tais planos, pela sua própria natureza, constituem disponibilizados pelo Fundo de Coesão para elevar,
plataformas para o desenvolvimento de estratégias des- finalmente, os níveis de atendimento das populações
tinadas à integração de diferentes políticas e enquadram e a qualidade da água, com óbvias vantagens para o
uma intervenção directa em matéria de recursos hídri- combate à poluição e para a preservação dos habitats,
cos, tendo em vista a valorização, a protecção e a gestão dos ecossistemas e das espécies, incluindo nas zonas
equilibrada da água. O planeamento da gestão dos recur- marinhas costeiras. Trata-se, seguramente, de uma das
sos hídricos nacionais permitirá, nomeadamente, pro- mais relevantes acções específicas de conservação da
mover a qualidade da água e a racionalização dos seus Natureza em curso no País, enfrentando o problema
usos, bem como definir regimes de caudais ecológicos, da poluição que é, reconhecidamente, um dos factores
por forma a satisfazer as necessidades dos ecossistemas que mais gravemente contribui para a redução e perda
aquáticos e ribeirinhos. da biodiversidade.
O Plano Nacional da Água define a política nacional Por outro lado, deve recordar-se aqui a importância
de gestão dos recursos hídricos e visa promover a sus- dos procedimentos de avaliação do impacte ambiental
tentabilidade das utilizações da água, assegurar a gestão (AIA) no que diz respeito à análise prévia dos impactes
integrada do domínio hídrico e promover a gestão sus- das obras e infra-estruturas hidráulicas, nomeadamente
tentável da procura, bem como a racionalização e efi- na dinâmica sedimentar fluvial e marinha ou nos ecos-
cácia do quadro institucional e normativo em matéria sistemas estuarinos, lagunares e dulçaquícolas.
de recursos hídricos e, ainda, promover a informação Importa, também, zelar pelo cumprimento das medi-
e a participação das populações nos processos de pla- das de minimização ambiental fixadas nos processos de
neamento e gestão desses recursos e estimular o estudo AIA e acompanhar e monitorizar o desenvolvimento
e a investigação sobre os sistemas hídricos. O Plano da execução dos trabalhos, sobretudo no caso das gran-
Nacional da Água deverá orientar a posição de Portugal des obras e operações hidráulicas, como são os trans-
nesta matéria, no contexto europeu e internacional, vases ou a barragem do Alqueva.
tendo em conta, sobretudo, a Convenção sobre Coo- Também no que se refere à política de recursos hídri-
peração para a Protecção e o Aproveitamento Susten- cos, o procedimento de avaliação de impacte ambiental
tável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espa- é um poderoso instrumento ao serviço da integração
nholas e a Directiva Quadro da Água, aprovada durante de políticas. Importa, todavia, que seja complementado
a presidência portuguesa da União Europeia. por medidas que, no interior de cada uma das políticas
Por seu turno, os planos de bacia hidrográfica cons- sectoriais, concorram para uma verdadeira integração
tituem instrumentos de gestão dos recursos hídricos, das preocupações ambientais. Por exemplo, alguns dos
superficiais e subterrâneos, tendo como objectivos a qua- objectivos da presente Estratégia em matéria de qua-
lidade do meio hídrico, a gestão racional da procura, lidade da água e de preservação dos ecossistemas aquá-
a protecção dos meios aquáticos e ribeirinhos e das áreas ticos e marinhos exigem, sem dúvida, a intensificação
do domínio hídrico, a minimização dos efeitos das secas, das medidas de política agrícola adequadas ao cumpri-
das cheias e dos riscos de acidentes de poluição, a valo- mento da legislação comunitária sobre poluição causada
rização social e económica da utilização sustentável dos por nitratos.
recursos, a promoção da participação das populações 28 — Política de desenvolvimento regional:
na salvaguarda e utilização racional do meio hídrico A política de desenvolvimento regional estrutura-se
e o conhecimento sobre estes recursos ao nível de cada em conformidade com o Plano Nacional de Desenvol-
bacia. vimento Económico e Social (PNDES, 2000-2006), que
Todavia, os planos de bacia assumem-se, também, aponta a sustentabilidade como um pilar da estratégia
como verdadeiros planos operacionais que prevêem um de desenvolvimento do País, e projecta-se nos planos
conjunto de medidas em matéria de abastecimento de de desenvolvimento regional, que constituem uma peça
água, drenagem e tratamento de efluentes, garantia de essencial da programação de médio prazo do Governo,
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e no Quadro Comunitário de Apoio (QCA), que confere Recorde-se que os actuais programas operacionais
uma relevância estratégica às questões ambientais — e, regionais (POR), e em especial as Acções Integradas
dentro delas, à conservação da Natureza e da biodi- de Base Territorial (AIBT, eixo n.o 2 — componente
versidade — condicionando as opções e integrando os territorial), proporcionam o apoio a acções, nomeada-
processos de decisão. Aliás, a adopção de uma estratégia mente na área das infra-estruturas de saneamento
nacional de conservação da Natureza e da biodiversi- básico, da valorização dos recursos naturais e da con-
dade constitui mesmo um dos quatro objectivos estra- servação da Natureza, do ordenamento do território,
tégicos definidos para a intervenção dos fundos estru- em particular de algumas áreas protegidas, da promoção
turais comunitários do actual QCA. da utilização sustentável do património natural, bem
A importância da área ambiental no QCA III, que como da sensibilização, informação e formação na área
orientará as políticas de atribuição de fundos estruturais ambiental. As AIBT, aliás, foram constituídas como
no período de 2000-2006, manifesta-se também, con- focalizações em determinadas áreas do território que
cretamente, através da consagração de um programa incidem em áreas de grande riqueza ambiental e pai-
específico de ambiente e da inserção de vectores de sagística, abrangendo, na sua maioria, áreas protegidas
protecção ambiental em vários programas sectoriais, ou classificadas.
bem como pela participação do MAOT em todo o pro- Outra das preocupações de fundo dos POR é a pro-
cesso de negociação, gestão, acompanhamento e ava- moção da coesão territorial e a atenuação dos dese-
liação do QCA, estabelecendo um diálogo permanente, quilíbrios de desenvolvimento ainda persistentes, entre
por forma a assegurar uma cada vez maior eficácia na o litoral e o interior, o que permite favorecer o desen-
integração das questões ambientais na política de desen- volvimento rural sustentável, promover a protecção da
volvimento regional. paisagem e combater a desertificação, com benefícios
A política regional, tendo presente a sua vertente evidentes para a política de conservação da Natureza.
ambiental de promoção da conservação e utilização sus- O êxito deste processo depende, no entanto, em
tentável das componentes da diversidade biológica, grande medida, da concentração de esforços e do desen-
volvimento de parcerias e integração de projectos, envol-
deverá criar condições para:
vendo os agentes locais determinantes neste processo,
a) Promover uma maior eficácia na articulação bem como os níveis local e central da Administração
entre as intervenções da administração central Pública.
e local, e entre os diversos sectores, com van- Este é um modelo de desenvolvimento regional defid-
tagens acrescidas na implementação da política nido para o período de 2000-2006 e actualmente em
de ambiente, dada a sua transversalidade e a fase de implementação, modelo esse que procura com-
necessidade de uma estreita articulação entre patibilizar o desenvolvimento socioeconómico e a con-
aqueles dois níveis da Administração. A estru- servação da Natureza, garantindo, simultaneamente, o
tura dos actuais programas operacionais regio- bem-estar das populações, sem comprometer as neces-
nais 2000-2006 e os significativos acréscimos sidades das gerações futuras.
financeiros que lhe foram atribuídos, compa- 29 — Política agrícola:
rativamente com o anterior quadro comunitário, A ocupação pela agricultura, ao longo dos séculos,
vêm criar as condições para servir este desi- de uma vasta área do território nacional conduziu, nas
derato; condições ecológicas características da região mediter-
b) Assegurar que as intervenções no âmbito do rânica, à criação de um conjunto de ecossistemas que
desenvolvimento regional, co-financiadas por progressivamente substituíram os ecossistemas naturais,
gerando, desta forma, novos equilíbrios e moldando uma
fundos comunitários ou outros, dêem cabal cum-
paisagem rural fortemente humanizada.
primento às disposições legais nacionais ou
Estes novos equilíbrios estão patentes em numerosos
comunitárias, como condição prévia à aprova-
agro-sistemas tradicionais, aos quais está associado um
ção dos apoios financeiros, conforme se exige importante património de espécies domésticas e selva-
já no âmbito do actual QCA; gens, muitas delas ameaçadas de extinção e que importa
c) Promover um maior rigor na articulação entre preservar.
os projectos na área de ambiente apoiados por A manutenção da actividade agrícola e, em especial,
fontes diversas de financiamento (caso dos pro- dos sistemas tradicionais, de elevada fragilidade eco-
jectos financiados pelo Fundo de Coesão, Pro- nómica, constitui por isso um dos objectivos que nor-
grama Operacional de Ambiente e programas teiam a formulação dos programas sectoriais de apoio
operacionais regionais), tendo em vista uma ao desenvolvimento sustentável das zonas rurais, os
melhoria da eficácia; quais contribuem para a prossecução dos objectivos da
d) Incentivar, nomeadamente ao abrigo da inicia- presente Estratégia.
tiva comunitária INTERREG, acções de coo- Por outro lado, a inter-relação complexa que se esta-
peração, com regiões fronteiriças ou outras, no belece no território entre a actividade agrícola e o meio
desenvolvimento de programas comuns, nomea- em que se desenvolve é determinante para a preservação
damente na área do ambiente e ordenamento dos recursos naturais, nomeadamente do solo e da água,
do território, visando o desenvolvimento sus- pelo que importa promover a adopção de sistemas de
tentável através da preservação e valorização produção que contrariem os processos erosivos e pre-
do potencial ambiental das regiões; vinam a degradação dos recursos.
e) Apoiar programas ou acções específicas que, de A preservação do valioso património genético de
forma directa ou indirecta, contribuam para a raças autóctones e de variedade vegetais tradicionais
criação de condições para promover a conser- existente no País configura, também, uma das áreas de
vação da Natureza e da biodiversidade, bem actuação prioritárias da política agrícola.
como a sua utilização sustentável, de acordo Neste contexto, a integração na política sectorial das
com as especificidades de cada região. orientações desta Estratégia deve assumir, em primeiro
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lugar, o objectivo de promover a conservação e utilização movendo a sua adaptação ambiental através dos
sustentável dos recursos genéticos. Para isso importa: instrumentos de apoio criados para o efeito;
– Sensibilizar os proprietários rurais, no domínio
– Promover, incentivar e valorizar a utilização sus- das suas actividades, para as práticas que favo-
tentável dos recursos genéticos agrícolas, nomea- reçam a prossecução dos objectivos da presente
damente das raças autóctones e das variedades Estratégia.
vegetais tradicionais;
– Promover medidas de conservação in situ e ex 30 — Política florestal:
situ que garantam a manutenção da diversidade A Lei de Bases da Política Florestal (Lei n.o 33/96,
genética de potencial interesse agrícola; 17 de Agosto) e o Plano de Desenvolvimento Sustentável
– Incentivar a adesão aos apoios à protecção da da Floresta Portuguesa (Resolução do Conselho de
diversidade genética previstos nas medidas agro- Ministros n.o 27/99, de 18 de Março), bem como os
-ambientais; instrumentos complementares adoptados, apontam para
– Promover o repatriamento de germoplasma de um modelo de gestão da floresta que se quer consen-
raças e de variedades autóctones actualmente tâneo com as preocupações que norteiam esta Estratégia
não existentes em Portugal; e de harmonia com as orientações emergentes das Con-
– Estabelecer o quadro normativo que regula- ferências Ministeriais para a Protecção das Florestas
mente o acesso aos recursos genéticos nacionais na Europa e dos vários painéis intergovernamentais para
de potencial interesse agrícola, à luz dos prin- a floresta.
cípios constantes nos acordos internacionais per- O sucesso na implementação desse modelo é de
tinentes de que Portugal seja signatário; extraordinária importância para a política de conser-
– Assegurar a avaliação dos riscos para a conser- vação da Natureza, em razão da vastíssima área que
vação da diversidade biológica no quadro de uma os povoamentos florestais ocupam no território nacional
política integrada de actuação em matéria de e da elevada variedade de formas de vida que neles
organismos vivos geneticamente motificados ocorrem e que deles dependem.
(OGM). Importa, ainda, desenvolver para os espaços florestais
e recursos associados, designadamente no âmbito do
Em segundo lugar, deve-se promover a manutenção processo de elaboração dos planos regionais de orde-
dos ecossistemas agrícolas de elevado interesse para a namento florestal (PROF) e dos planos de gestão flo-
biodiversidade. Para esse efeito, é necessário: restal, os modelos de organização territorial e de sil-
vicultura adequados a cada tipo de habitat ou de espécie
– Promover o desenvolvimento rural sustentável protegida.
e a valorização dos agro-sistemas e das paisagens Os PROF revestem-se, aliás, de importância estra-
rurais, aplicando os instrumentos de política sec- tégica neste domínio, devendo através deles alcançar-se
torial aprovados no âmbito da Agenda 2000 (Pro- os seguintes objectivos:
gramas AGRO, AGRIS e RURIS) e adoptando
os planos zonais necessários; – Conservação dos valores fundamentais, solo e
– Promover a adesão aos incentivos de apoio aos água e regularização do regime hidrológico,
agro-sistemas de elevado interesse para a bio- nomeadamente através da identificação das
diversidade, previstos nas medidas agro-ambien- zonas mais susceptíveis à erosão, do desenvol-
tais. vimento de modelos de organização territorial,
dos modelos de silvicultura e de silvo-pastorícia
Em terceiro lugar, importa promover a conservação adaptados às regiões com risco de erosão, às
dos recursos naturais, através de: formações dunares e às formações ripícolas exis-
tentes ou a instalar;
– Adopção de medidas que orientem a actividade – Protecção da diversidade biológica e da paisa-
agrícola no sentido da instalação de sistemas de gem, nomeadamente através da implementação
produção que previnam a degradação do solo de regras especiais de gestão para zonas que inte-
e da água, racionalizando as práticas de ferti- grem habitats com interesse para a conservação,
lização, rega e protecção fitossanitária; do desenvolvimento de modelos de organização
– Divulgação do Manual Básico de Práticas Agrí- territorial e de silvicultura adequados a cada tipo
colas: Conservação do Solo e da Água e do Código de habitat ou de espécie protegida e do desen-
das Boas Práticas Agrícolas para Protecção da volvimento de modelos de organização territorial
Água contra a Poluição com Nitratos de Origem e de silvicultura específicos para as florestas com
Agrícola, bem como intensificação das medidas função predominantemente produtiva inseridas
de política agrícola adequadas ao cumprimento em áreas protegidas ou classificadas.
da legislação comunitária sobre poluição causada
por nitratos; Por outro lado, é também necessário: divulgar os
– Assegurar a protecção dos solos que integram modelos de gestão florestal sustentável, através da cria-
a RAN, no quadro dos instrumentos de orde- ção de códigos de boas práticas florestais; melhorar a
namento do território e da legislação especial qualidade genética dos povoamentos, garantindo a uti-
aplicável; lização de sementes certificadas e outros materiais de
– Incentivar a adesão aos incentivos de apoio pre- reprodução melhorados; implementar sistemas de ges-
vistos nas medidas agro-ambientais para promo- tão florestal sustentável, através da aplicação de critérios
ção da protecção da melhoria do ambiente, dos e de indicadores adaptados às condições nacionais.
solos e da água; Especial relevo deverá continuar a ter, também, a
– Minimizar os impactes das actividades agro-in- conservação dos montados, nos termos da lei, e a pro-
dustriais, incluindo a pecuária sem terra, pro- moção de práticas agrícolas e modelos de gestão ade-
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quados, especialmente para as áreas incluídas no pro- Finalmente, refira-se a pertinência de promover a uti-
cesso da Rede Natura. lização de materiais biodegradáveis na produção das
Finalmente, não pode deixar de se referir aqui munições de caça, bem como a substituição do chumbo
— embora não caiba a este documento promover a orga- por materiais mais inócuos na composição dos pro-
nização de acções específicas neste domínio — as medi- jécteis.
das, que importa continuamente aperfeiçoar e reforçar, 32 — Política de pescas e aquicultura:
em matéria de prevenção e combate aos fogos florestais, Importa compatibilizar a actividade da pesca e da
bem como de recuperação das áreas ardidas. aquicultura com os objectivos de conservação da Natu-
31 — Política cinegética: reza e da biodiversidade, nomeadamente através da
A Lei Geral de Bases da Caça (Lei n.o 173/99, de implementação das medidas de protecção dos recursos
21 de Setembro) e os seus diplomas regulamentares, naturais já previstas no quadro legislativo existente, da
bem como as directivas comunitárias e as convenções promoção do ordenamento pesqueiro, incluindo na zona
internacionais que Portugal ratificou fornecem o quadro económica exclusiva nacional, e do estabelecimento de
estratégico de referência da política cinegética, quadro uma rede nacional coerente de zonas com aptidão para
esse que visa um modelo de gestão consentâneo com a cultura de espécies aquícolas.
as preocupações que norteiam esta Estratégia. Desta forma, poderá assegurar-se a perenidade das
Para a boa prossecução dos objectivos assumidos populações aquícolas através da sua utilização susten-
neste documento é necessário aperfeiçoar a compati- tável, sem prejuízo da manutenção das comunidades
bilização da actividade cinegética com a conservação piscatórias.
da diversidade biológica, nomeadamente através da pro- Sem dúvida que é necessário, também, promover a
moção do ordenamento cinegético de todo o território investigação científica e melhorar o conhecimento sobre
nacional e, muito em especial, das áreas classificadas, os recursos vivos marinhos, lagunares, estuarinos e de
instituindo, sempre que necessário, zonas de interdição água doce, pelo que, para além do que já atrás se referiu
à caça e áreas de refúgio, e assegurando uma gestão a propósito da opção 1, deve aqui realçar-se que importa:
sustentável de todos os terrenos de caça.
– Promover a caracterização e inventariação dos
Importa, também, assegurar a perenidade das popu- recursos vivos;
lações cinegéticas através da sua utilização sustentável, – Promover estudos sobre os impactes ambientais
não perturbadora do equilíbrio ecológico. das diferentes actividades, da pesca e da aqui-
No caso particular das espécies migradoras, é muito cultura;
importante recorrer à cooperação internacional, esta- – Intensificar esforços para minimizar os impactes
belecendo regras apropriadas à sua gestão transfron- físicos e ambientais da aquicultura, bem como
teiriça e elaborando planos específicos de gestão para os perigos associados de transmissão de doenças
as áreas onde se verifiquem importantes concentrações e os riscos genéticos para os estoques de espécies
ou relevantes áreas de passagem. selvagens;
Paralelamente, importa reforçar os programas de – Promover estudos sobre o funcionamento dos
monitorização das populações cinegéticas, do esforço ecossistemas e dos habitats que os integram,
de caça sobre elas exercido e do seu estado sanitário, tendo em vista, nomeadamente, a definição das
bem como promover um reforço do conhecimento relativo respectivas capacidades de suporte, especial-
ao conjunto das espécies cinegéticas e ao seu relacio- mente nas áreas que integrem a Rede Funda-
namento com os restantes componentes da diversidade mental de Conservação da Natureza;
biológica, desenvolvendo um quadro de cooperação e par- – Identificar as áreas onde seja necessário reduzir
ceria institucional e colaborando em estudos internacio- o impacte das actividades piscatórias e de outras
nais sobre estas espécies. actividades humanas sobre os ecossistemas mari-
Por outro lado, é necessário prosseguir o esforço de nhos e as espécies, incluindo as espécies piscí-
controlo das práticas cinegéticas que podem ser lesivas colas que não são objecto de pesca.
da diversidade biológica, nomeadamente certas práticas
de introdução de espécies e genomas não indígenas,
Por outro lado, deve promover-se a exploração sus-
de instalação de vedações cinegéticas, de eliminação de
tentável dos recursos biológicos marinhos, estuarinos,
espécies que competem pelo recurso cinegético e sobre-
lagunares e de águas interiores, sendo para esse efeito
-exploração dos recursos, bem como carga excessiva de
necessário:
espécies cinegéticas. Para isso, importa dotar as enti-
dades responsáveis pelo ordenamento, licenciamento e – Consolidar o quadro legislativo de regulamen-
fiscalização da caça de meios suficientes e adequados, tação da actividade piscatória e aquícola, bem
promovendo a cooperação institucional no exercício das como modernizar a legislação sobre a pesca nas
suas funções. águas interiores;
Da maior importância é a formação dos caçadores – Promover a exploração sustentável dos estoques
e dos gestores dos terrenos cinegéticos, bem como dos das espécies dulciaquícolas, marinhas, estuarinas
restantes agentes envolvidos no sector, tendo em vista e lagunares costeiras com valor comercial e pro-
a formação e a sensibilização para a compatibilização mover a protecção dos habitats mais relevantes;
da actividade cinegética com a conservação da diver- – Adoptar medidas coerentes que conduzam à sal-
sidade biológica. vaguarda ou recuperação da biodiversidade nos
Nesta linha, deve sempre procurar-se o envolvimento locais onde se constate que esta se encontre
dos caçadores locais e dos proprietários dos terrenos ameaçada, nomeadamente devido à pesca ou à
na gestão dos recursos cinegéticos, promovendo o desen- aquicultura;
volvimento sustentável das regiões mais desfavorecidas, – Adoptar medidas que conduzam a uma redução
no estrito respeito pela conservação da diversidade do esforço de pesca quando esteja em causa a
biológica. biodiversidade em zonas críticas;
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– Promover a protecção de espécies dulciaquícolas dade turística, designadamente em matéria de transpor-


autóctones e respectivos habitats; tes, publicidade, alojamento, animação e restauração.
– Promover a protecção das espécies aquícolas 34 — Política industrial:
migradoras; No que se refere à política industrial, uma efectiva
– Reforço de selectividade das operações de pesca integração de políticas depende, desde logo, da ade-
e do controlo da sua aplicação; quada localização dos espaços industriais nos instrumen-
– Controlar o impacte ambiental da pesca profis- tos de ordenamento do território.
sional e da pesca lúdica; Por outro lado, e como já se referiu, essa integração
– Divulgar e promover a aplicação do Código da de políticas passa também pelo instrumento decisivo que
FAO sobre Boas Práticas para Uma Pesca é o procedimento de avaliação do impacte ambiental.
Responsável. No entanto, o alcançar dos objectivos desta Estratégia
exige, ainda, a boa aplicação da legislação existente,
33 — Política de turismo: como é o caso da referente ao licenciamento industrial,
No que diz respeito à integração das preocupações às áreas de localização empresarial, à qualidade do ar,
da política de conservação da Natureza na política de à qualidade da água, à descarga de efluentes e ao ruído.
turismo, já noutra ocasião se teve oportunidade de refe- Paralelamente, a adopção de programas de melhoria
rir (opções n.os 3 e 4) as especificidades desta proble- da eficiência energética e qualificação ambiental das
mática nas áreas protegidas e classificadas. indústrias, com o apoio dos instrumentos financeiros
Nessas áreas sensíveis é necessário um esforço adi- disponibilizados pelo Ministério da Economia, sobre-
cional para alcançar um equilíbrio respeitador dos valo- tudo no contexto da aplicação do III QCA, a par do
res naturais em presença, promovendo assim um turismo incentivo à adopção de tecnologias «amigas do
verdadeiramente sustentável. ambiente» e do aperfeiçoamento das soluções de gestão
Não se retomará aqui, naturalmente, a indicação das de resíduos e das acções de recuperação de áreas indus-
orientações e das directivas de acção já atrás referidas triais degradadas e descontaminação de solos, permitem
para estas áreas. Contudo, convirá destacar a neces- desenvolver uma política ambiental para a indústria — a
sidade de valorizar o turismo da Natureza e o próprio complementar com acções vocacionadas para sectores
conceito de turismo sustentável no planeamento estra- específicos — com ganhos evidentes do ponto de vista
tégico da política de turismo, bem como no ordenamento da preservação do património natural.
e no desenvolvimento das actividades turísticas, espe- De particular interesse será a aplicação da nova legis-
cialmente nas áreas protegidas e classificadas e nas lação sobre as pedreiras, designadamente no que se
demais zonas sensíveis, tais como zonas de montanha refere ao controlo ambiental da exploração de massas
e ecossistemas costeiros e marinhos. minerais e à aplicação da nova figura do Plano Ambien-
De um modo geral, porém, vale a pena sublinhar
tal e de Recuperação Paisagística. Do mesmo modo,
que a preservação dos valores naturais, para além de
deve aqui destacar-se a relevância da legislação (11)
uma exigência que se coloca ao turismo como a qualquer
recentemente publicada e que consagra o mecanismo
outra actividade económica, reveste-se para este sector
da concessão como forma de viabilizar as necessárias
de uma importância vital, já que a conservação da Natu-
operações de recuperação ambiental das áreas mineiras
reza e da paisagem contribuem de modo decisivo para
a imagem do País e para a valorização da própria oferta degradadas ou abandonadas, tendo em vista, também,
turística. objectivos de conservação da Natureza.
A integração de políticas passa aqui, como noutros 35 — Política energética e estratégia para as altera-
domínios, pelo ordenamento do território, incluindo o ções climáticas:
ordenamento do litoral, e pelos procedimentos de ava- A consolidação da componente ambiental da política
liação do impacte ambiental, assentes numa ponderação energética — estimulando a redução do consumo de
dos valores em presença e na consideração da capa- energia, a melhoria da eficiência energética e a produção
cidade de carga do território. por recurso às chamadas energias renováveis — reves-
Por outro lado, importa potenciar a utilização na área te-se de importância inegável para a concretização dos
do turismo das medidas de qualificação ambiental pre- objectivos visados pelo presente documento.
vistas no Programa Operacional da Economia, no As orientações já estabelecidas pelo Ministério do
âmbito do III QCA. Ambiente e do Ordenamento do Território (12) tradu-
De importância crescente são os segmentos do zem medidas no sentido, justamente, de criar condições
turismo em espaço rural, do ecoturismo (onde se pode para promover a produção de energia eléctrica a partir
incluir o turismo da Natureza, tal como definido na de fontes renováveis, mediante a salvaguarda dos valores
Resolução do Conselho de Ministros n.o 112/98, de 25 ambientais em presença.
de Agosto) e de outras formas de turismo baseadas na Convergindo com esta orientação, os sistemas de
valorização e divulgação do património natural e cul- incentivos assegurados pelo Ministério da Economia
tural, bem como da paisagem rural, da maior relevância constituem um decisivo instrumento para alcançar o
para combater a desertificação do interior e promover objectivo de, em 2010, se dispor de um parque produtor
o desenvolvimento local sustentável. de energias renováveis com uma potência de cerca de
Paralelamente, o estabelecimento de códigos de 3000 MW, para a qual hão-de contribuir não apenas
conduta, de mecanismos de reconhecimento formal os parques eólicos e as pequenas centrais hidroeléctricas
da qualidade ambiental da oferta turística e de pro- mas, também, a energia solar fotovoltaica, a combustão
gramas adequados de formação tendo em vista favo- de biomassa ou a energia das ondas do mar.
recer comportamentos consentâneos com a ideia de A integração das preocupações ambientais na política
turismo sustentável, são de extrema utilidade para energética é, aliás, uma das linhas de força da estratégia
os objectivos a atingir. para as alterações climáticas (aprovada pela Resolução
Finalmente, refira-se a necessidade de promover do Conselho de Ministros n.o 59/2001, de 30 de Maio),
opções sustentáveis nas actividades colaterais à activi- a qual, por sua vez, está também ao serviço de impor-
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tantes objectivos de conservação da Natureza e de pre- Na mesma linha, a continuação da aposta noutros
servação da biodiversidade. modos de transporte público (metro, autocarros e eléc-
Deste ponto de vista, a plena assumpção dos com- tricos rápidos) ou alternativo, a par de medidas como
promissos assumidos pela comunidade internacional no a criação de parques periféricos ou de áreas de esta-
quadro do Protocolo de Quioto, tal como concretizados cionamento pago, bem como de áreas pedonais, per-
no acordo alcançado na Conferência de Bona, em Julho mitirão estruturar verdadeiras alternativas para a des-
de 2001, exige uma profunda revisão de políticas, opções locação no interior dos centros urbanos, desincentivando
e comportamentos em múltiplos sectores da actividade o uso do automóvel.
económica, por forma a promover um desenvolvimento Os incentivos à utilização de combustíveis menos
efectivamente sustentável e a enfrentar o desafio das poluentes e à renovação do parque automóvel, com a
alterações climáticas, que representa uma séria ameaça consequente melhoria da sua eficiência energética e
para o equilíbrio dos ecossistemas. redução das emissões, podem contribuir, de modo sig-
Assim, a ratificação por Portugal do Protocolo de nificativo, para a qualidade ambiental, em especial do
Quioto, a boa aplicação da referida estratégia para as ambiente urbano, e minimizar os impactes sobre o patri-
alterações climáticas e a elaboração até finais de 2001, mónio natural. Complementarmente, o aprofundamento
como está previsto, do programa nacional para as alte- dos critérios de controlo ambiental a incluir nas ins-
rações climáticas, são medidas que convergem para os pecções periódicas contribuirá, também, para a preten-
objectivos da presente Estratégia Nacional de Conser- dida redução das emissões poluentes.
vação da Natureza e da Biodiversidade. Finalmente, no domínio do transporte de mercado-
36 — Política de transportes: rias, é necessário fomentar cada vez mais a utilização
O aprofundamento da integração das questões da ferrovia e do transporte marítimo, em detrimento
ambientais na política de transportes é do maior inte- do transporte rodoviário. O aperfeiçoamento do sistema,
resse para os objectivos visados pela presente Estratégia, por via de uma verdadeira rede nacional de logística,
designadamente no que se refere à consideração do valor associando os principais aeroportos, portos e ferrovias,
do património natural e à minimização da fragmentação em boa articulação com as acessibilidades rodoviárias,
de habitats. estruturando-se a partir de plataformas logísticas, mos-
Na verdade, para além da problemática das emissões tra-se essencial para que as soluções menos poluentes
provenientes dos meios de transporte mais poluentes, e ambientalmente mais sustentáveis possam efectiva-
a consideração das preocupações ambientais na política mente competir com o transporte rodoviário.
de transportes assume um especial significado no que
se refere ao planeamento, construção e gestão das
infra-estruturas. CAPÍTULO IV
Neste domínio, a avaliação ambiental estratégica dos
Meios humanos e financeiros
diferentes planos sectoriais de transportes — a promo-
ver no futuro — revela-se de particular pertinência, per- 37 — Meios humanos:
mitindo ponderar os diversos interesses em presença A prossecução da presente Estratégia Nacional de
e antecipar uma gestão equilibrada de potenciais con- Conservação da Natureza e da Biodiversidade implica,
flitos com os objectivos de conservação da Natureza necessariamente, uma política de reforço, racionalização
e, nomeadamente, com os valores naturais a salvaguar- e qualificação dos recursos humanos disponíveis.
dar, como sejam os que se encontram nas áreas pro- Desde logo, importa considerar todos os agentes rele-
tegidas ou integradas no processo da Rede Natura 2000. vantes como «recursos humanos» necessários ao desen-
Em todo o caso, o procedimento de avaliação de volvimento da Estratégia.
impacte ambiental que, nos termos da lei, tem vindo Em causa, portanto, estão não apenas os meios huma-
a ser aplicado no desenvolvimento das múltiplas infra- nos disponíveis no Instituto da Conservação da Natureza
-estruturas de transporte (rodovias, ferrovias, portos e mas também os afectos a esta área noutros serviços do
aeroportos) continuará a ser um instrumento de crucial Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Ter-
importância para prevenir ou minimizar os eventuais ritório, com especial destaque para as direcções regio-
impactes ambientais negativos inerentes a cada um dos nais do ambiente e do ordenamento do território.
projectos. O mesmo se diga para os recursos humanos que podem
Neste contexto, particular atenção deverá ser dada e devem ser mobilizados para a prossecução dos objec-
à problemática da fragmentação de habitats causada pela tivos da presente Estratégia nos demais serviços e orga-
implantação das infra-estruturas rodoviárias e ferroviá- nismos da Administração Pública, integrados noutros
rias, incluindo no que se refere ao aperfeiçoamento das ministérios, incluindo as autoridades policiais e as Forças
medidas técnicas de mitigação de impactes ou ao esta- Armadas. Em rigor, devem ainda considerar-se os recur-
belecimento de medidas compensatórias quando, por sos humanos da administração regional e local e, inclu-
razões de interesse público, não possam evitar-se aqueles sivamente, os próprios agentes da sociedade civil, com
impactes ambientais. especial relevo para a comunidade científica, as orga-
Mas a política de transportes contribui para os objec- nizações não governamentais, os agentes económicos
tivos da presente Estratégia também por via de outro e os próprios cidadãos.
tipo de acções. Para este efeito, é necessário concretizar a opção
Desde logo, a consolidação do investimento nos estratégica já enunciada de promover não só a sensi-
transportes públicos, designadamente nos meios de bilização mas também a formação técnica especializada
transporte ferroviário para passageiros, no sentido dos diferentes agentes, por forma adequada à função
de oferecer serviços cada vez mais cómodos e fiáveis, que a cada um cabe.
sobretudo nas zonas suburbanas, apresenta-se como No desenvolvimento dessas acções de formação, deve
fundamental para fornecer uma alternativa menos fazer-se apelo aos meios instalados nos diferentes minis-
poluente ao transporte individual. térios de apoio a acções de formação, incluindo, nomea-
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damente, os do Ministério do Ambiente e do Orde- do Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Ter-


namento do Território, bem como do Instituto Nacional ritório, bem como dos diferentes ministérios que desen-
de Administração, mobilizando também as instituições volvem políticas sectoriais relevantes para a prossecução
do ensino superior e as organizações não governamen- da presente Estratégia, como é o caso, por exemplo,
tais de ambiente melhor apetrechadas do ponto de vista das acções de prevenção e combate aos fogos florestais.
técnico. Nesta linha, e em desenvolvimento da opção Aliás, a partir de certo ponto, o princípio da integração
de aperfeiçoar a articulação e cooperação entre a admi- de políticas força a diluição das fronteiras entre o que
nistração central, regional e local, devem também pro- é desenvolvimento da política sectorial e o que é, no
curar-se sinergias nas acções de formação a estes dife- seu interior, a concretização das orientações emergentes
rentes níveis, optimizando, por exemplo, as potencia- da presente Estratégia ou até de outras valências da
lidades do Centro de Estudos e Formação Autárquica. política de ambiente.
Contudo, o crescimento das responsabilidades do Feitas estas advertências, a benefício do rigor, convirá
Estado em matéria de ambiente, e especificamente em começar por referir que a programação financeira de
matéria de conservação da Natureza e da biodiversidade, apoio à prossecução desta Estratégia passa, natural-
implica, sem dúvida, o reforço e, sobretudo, a racio- mente, pela mobilização do III QCA, colocando os seus
nalização dos meios humanos da Administração Pública investimentos ao serviço dos objectivos aqui visados.
afectos a estas políticas. Cumpre realçar, desde logo, o facto de todo o III QCA
Para tanto, importa prosseguir o esforço desenvolvido estar sujeito a regras e mecanismos de controlo de natu-
com a recente abertura de concursos públicos de admis- reza ambiental, o que permite assegurar uma melhor
são de novos vigilantes da Natureza — cuja missão é consideração dos valores ambientais — e também os
de especial relevância para os objectivos da presente valores do património natural e da biodiversidade —
Estratégia —, agora privilegiando a afectação a estas na aplicação dos fundos comunitários nos mais diversos
políticas de novos técnicos superiores, designadamente sectores, com destaque para os fundos afectos ao plano
para reforçar o quadro de meios humanos ao serviço de desenvolvimento regional e ao Fundo de Coesão.
das áreas protegidas. Neste capítulo, importa também Por outro lado, foi inscrita no Programa Operacional
adoptar medidas que permitam apoiar e favorecer a de Ambiente do III QCA uma soma considerável — no
deslocalização de funcionários públicos, por forma a evi- total de 30 milhões de contos, dos quais 23 milhões
tar o desguarnecimento das áreas protegidas do interior. são fundos comunitários — destinada especificamente
A Lei Orgânica e o quadro de pessoal do ICN, em à conservação e valorização do património natural, mais
preparação, deverão também procurar ganhos de efi- exactamente enquanto medida n.o 1 do subprograma
cácia na utilização dos recursos existentes, tendo em n.o 1 («Gestão sustentável dos recursos naturais»).
vista os objectivos prosseguidos. A componente nacional deste investimento será asse-
Paralelamente, a também recente aquisição da sede gurada, essencialmente, pelo orçamento de investimento
dos serviços centrais do ICN, em Lisboa, e o processo do ICN, de que adiante se dará conta.
de instalação em curso devem ser vistos como um impor- O mesmo Programa Operacional do Ambiente prevê
tante contributo para a racionalização e rentabilização ainda investimentos significativos — 40 milhões de con-
dos recursos humanos do ICN, com vantagens óbvias tos, dos quais 30 milhões são de fundos comunitários —
para o desenvolvimento da presente Estratégia. na valorização e protecção dos recursos naturais, onde
Finalmente, refira-se que o aperfeiçoamento da se incluem acções de requalificação e defesa da costa,
coordenação e articulação entre os diferentes ser- que em muitos casos favorecem a conservação da Natu-
viços e organismos relevantes resultará numa opti- reza e da biodiversidade cuja área de intervenção fre-
mização do aproveitamento dos recursos humanos quentemente coincide com áreas da Rede Fundamental
disponíveis, minimizando sobreposições e estabele- de Conservação da Natureza, nomeadamente áreas pro-
cendo sinergias positivas. Um papel especial neste tegidas ou classificadas. Trata-se da medida n.o 2 do
processo de coordenação e articulação deverá caber suprograma n.o 1 («Valorização e protecção dos recursos
à Comissão de Coordenação Interministerial para a naturais»). Aqui a componente nacional do investimento
Implementação da Convenção sobre a Diversidade será assegurada, essencialmente, pelo orçamento de
Biológica, que adiante se referirá. investimento do Instituto da Água (INAG) ou das direc-
38 — Meios financeiros: ções regionais do ambiente e do ordenamento do
Tendo em conta o período de aplicação do III Quadro território.
Comunitário de Apoio (QCA), entendeu-se por bem Merece referência particular, em razão da sua rele-
efectuar a programação de meios financeiros para o vante contribuição específica para a prossecução dos
desenvolvimento da presente Estratégia apenas até 2006, objectivos da presente Estratégia, o Plano de Desen-
assumindo a necessidade de uma nova programação volvimento Rural, onde se consagrou o princípio de que
financeira para lá dessa data. os projectos candidatos ao financiamento de medidas
Por outro lado, não foi aqui feita a compilação dos agro-ambientais e oriundos de áreas protegidas ou clas-
fundos comunitários de apoio às políticas sectoriais e sificadas teriam, nos primeiros dois anos de aplicação
que podem e devem ser reorientados para financiar do Plano, preferência no acesso a 21 % do montante
directa ou indirectamente acções de prossecução desta total afecto a tais medidas, o que significa a potencial
Estratégia (13), visto que a programação financeira da mobilização — que importa promover por via de divul-
utilização dessas verbas não inclui uma desagregação gação destas medidas e da sensibilização dos agricul-
específica para a conservação da Natureza, o que exigiria tores — de cerca de 34,3 milhões de contos para o finan-
basear cálculos em estimativas necessariamente gros- ciamento de medidas agro-ambientais nas áreas pro-
seiras. tegidas ou classificadas, sendo que nestas áreas as con-
Pela mesma razão, aliás, entendeu-se por bem não dições de acesso ao «Acordo Agrícola Ambiental Mais»,
considerar aqui os meios financeiros certamente mobi- por meio do qual é possível obter uma majoração de
lizáveis a partir dos orçamentos dos diversos serviços 15 %, serão definidas em função dos valores a conservar.
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Recorde-se, também, que existem já vários projectos garantir a componente nacional dos investimentos com-
na área da conservação da Natureza negociados com participados por fundos comunitários e fazer face a
Espanha, para incluir no Programa INTERREG III. outras necessidades, a presente ENCNB, tendo em conta
Destes projectos, a parte referente a Portugal atinge a dimensão das tarefas a desenvolver, assume o com-
um montante global de 12,8 milhões de contos, sendo promisso político de crescimento contínuo do investi-
de 9,6 milhões a comparticipação comunitária. Contudo, mento, por forma a elevar aquela dotação dos actuais
esta fonte de financiamento não pode ainda ser con- 2,9 para aproximadamente 5 milhões de contos em 2006.
tabilizada enquanto instrumento financeiro de apoio à Em suma, pode considerar-se — por defeito, já que
execução da presente Estratégia, visto que os projectos não se contabilizam aqui outros fundos comunitários,
em causa e outros ainda em negociação não foram alvo, nem os investimentos directos e indirectos em conser-
até esta data, da necessária aprovação. vação da Natureza a cargo de outros serviços do Minis-
Em matéria de outros fundos comunitários, deve aqui tério do Ambiente e do Ordenamento do Território ou
referir-se o Programa LIFE (14), sobretudo na sua ver- de outros ministérios que prosseguem políticas sectoriais
tente «LIFE-Natureza», embora se trate de um instru- relevantes — que a execução da presente ENCNB pode
mento financeiro claramente insuficiente para corres- contar com a afectação de cerca de 123 milhões de con-
ponder às necessidades e, concretamente, para apoiar tos até 2006.
o desenvolvimento das políticas ambientais da União Refira-se, porém, que, para além do financiamento
Europeia, como é o caso do processo de constituição público, as políticas de conservação da Natureza e da
da Rede Natura — e isto não obstante as directivas biodiversidade contam cada vez mais com novos ins-
comunitárias sobre a matéria pressuporem a existência trumentos de apoio ao investimento, como o mecenato
de mecanismos de apoio financeiro no plano comu- ambiental e os diferentes tipos de incentivos económi-
nitário. cos, incluindo os incentivos fiscais.
Por isto mesmo, Portugal foi o único país que se Deste ponto de vista, a reforma fiscal em curso, que
absteve na votação da proposta de dotação orçamental elegeu a componente ambiental como um dos seus pila-
do Programa LIFE III para o actual período de res fundamentais, deverá potenciar um melhor apro-
2000-2004 (15). Mais tarde, no exercício da presidência veitamento dos instrumentos fiscais na prossecução dos
da União Europeia, Portugal teve ocasião de conduzir objectivos da presente Estratégia.
as negociações de co-decisão entre o Conselho e o Par-
lamento Europeu que permitiram um acréscimo da refe-
rida dotação orçamental, que foi possível elevar, no total CAPÍTULO V
do Programa, em cerca de 5,4 milhões de con- Acompanhamento, avaliação e revisão
tos — ainda assim uma verba que Portugal continua a
reputar de insuficiente, por inviabilizar o apoio a nume- 39 — Acompanhamento:
rosos projectos meritórios na área da conservação da A implementação da Estratégia Nacional de Conser-
Natureza e da biodiversidade. vação da Natureza e da Biodiversidade — para além
Sendo embora difícil estimar o montante a investir das responsabilidades de cada organismo competente
no âmbito do Programa LIFE III até 2004, a manter-se a nível sectorial —, dado o seu carácter horizontal, exige
nos próximos anos um nível semelhante de projectos uma estrutura de acompanhamento interministerial, que
aprovados, o investimento total em conservação da assegure a necessária coordenação no planeamento e
Natureza ao abrigo do LIFE III poderá rondar os 4 execução das acções, por um lado promovendo a com-
milhões de contos, dos quais cerca de 1 milhão de contos plementaridade e criando sinergias, por outro raciona-
será suportado por fundos nacionais, pelo que, evitando lizando meios e recursos, evitando a duplicação de
duplicações, podemos considerar um acréscimo real de esforços.
investimento até 2004 de aproximadamente 3 milhões Nesse sentido, foi já constituída e entrou em fun-
de contos em resultado de fundos comunitários pro- cionamento a Comissão de Coordenação Interministe-
venientes do Programa LIFE III. rial (CCI), criada pela Resolução do Conselho de Minis-
No que diz respeito aos meios financeiros para o tros n.o 41/99, de 17 de Maio.
desenvolvimento da presente Estratégia oriundos do Esta Comissão Interministerial visa, justamente,
Orçamento do Estado, como fundos nacionais, cabe aqui «assegurar a colaboração na implementação da estra-
atender sobretudo, pelas razões acima apontadas, ao tégia nacional da conservação da Natureza e da bio-
orçamento de investimento (PIDDAC, capítulo 50) do diversidade e a promoção da sua integração, na medida
ICN. do possível e de forma adequada, nos diferentes planos,
Deve recordar-se a este propósito que o reforço da programas e políticas sectoriais, em conformidade com
política de conservação da Natureza passou já pelo o artigo 6.o da Convenção sobre a Diversidade Bio-
aumento do orçamento de investimento do ICN de lógica».
72,2 % de 2000 para 2001, subindo assim de 4,3 milhões No exercício destas suas incumbências a CCI contará,
de contos para 7,5 milhões de contos — o que permitiu naturalmente, com o necessário apoio técnico e logístico
um muito significativo e generalizado aumento da dota- do Instituto da Conservação da Natureza.
ção orçamental afecta às diferentes áreas protegidas. No entanto, sendo esta uma Estratégia que se quer
Por outro lado, é também sintomático que na dis- verdadeiramente nacional, o acompanhamento da sua
tribuição dos investimentos a cargo do ICN o orçamento execução deve ser complementado através do Conselho
de 2001 traduza já uma renovada orientação política, Nacional para o Ambiente e Desenvolvimento Susten-
bem expressa no facto de a verba afecta a estudos e tável (CNADS), onde têm assento os diversos parceiros
acções de conservação da Natureza crescer muito sig- relevantes, incluindo as organizações não governamen-
nificativamente face ao ano anterior, passando a repre- tais de ambiente.
sentar 63 % do total do investimento. 40 — Avaliação:
Ora, considerando no orçamento de PIDDAC do ICN A execução da presente Estratégia, nas suas múltiplas
apenas a componente de fundos nacionais, que há-de vertentes, deve ser alvo de avaliação de três em três
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anos, com base num relatório elaborado com as con- ICN — Instituto da Conservação da Natureza.
tribuições sectoriais dos diferentes ministérios, sob coor- INAG — Instituto da Água.
denação do ICN, e a adoptar pela Comissão de Coor- MAOT — Ministério do Ambiente e do Ordenamento
denação Interministerial, mediante parecer prévio do do Território.
Conselho Nacional do Ambiente e do Desenvolvimento OGM — Organismos Vivos Geneticamente Modifica-
Sustentável. dos.
A contribuição dos diferentes ministérios para este ONGA — organizações não governamentais de am-
processo de avaliação incluirá uma referência expressa biente.
sobre a adequação ou necessidade de revisão dos ins- PIDDAC — Programa de Investimentos e Despesas de
trumentos de planeamento estratégico sectorial existen- Desenvolvimento da Administração Central.
tes, bem como sobre a pertinência da elaboração de PNDES — Plano Nacional de Desenvolvimento Econó-
planos de acção adicionais. mico e Social.
Na avaliação em causa, que deve articular-se sempre PNUA — Programa das Nações Unidas para o
que possível com a avaliação promovida no âmbito da Ambiente.
Convenção sobre a Diversidade Biológica, devem ter-se POOC — Plano de Ordenamento da Orla Costeira.
em conta os relatórios anuais sobre o estado do POR — plano operacional regional.
ambiente, apresentados pelo Governo à Assembleia da PROF — Plano Regional de Ordenamento Florestal.
República, os quais traduzem a evolução da situação QCA — Quadro Comunitário de Apoio.
de referência e passarão a incluir uma menção específica RAN — Reserva Agrícola Nacional.
ao desenvolvimento da presente Estratégia. REN — Reserva Ecológica Nacional.
Por outro lado, a avaliação a fazer deve apoiar-se, RFCN — Rede Fundamental de Conservação da Natu-
sempre que possível, na análise de indicadores que per- reza.
mitam aferir, com alguma objectividade, a evolução da SIPNAT — Sistema de Informação sobre o Património
situação das espécies, dos habitats e dos ecossistemas, Natural.
bem como a eficácia dos planos e programas aplicados. SNAC — Sistema Nacional de Áreas Classificadas.
Paralelamente, a avaliação deve convergir para a for- UICN — The World Conservation Union.
mulação de recomendações destinadas a aperfeiçoar a ZPE — zona de protecção especial.
execução da Estratégia, sempre que possível indicando
as medidas adequadas que importa adoptar, rever ou (1) Como recentemente recordou a Comissão Europeia, conforme
incrementar tendo em vista a prossecução dos objectivos sua comunicação ao Conselho e ao Parlamento Europeu sobre os
planos de acção em matéria de biodiversidade nos domínios da con-
visados. servação dos recursos naturais, da agricultura, das pescas e da coo-
41 — Revisão: peração económica e para o desenvolvimento, 2001, p. 1, referindo-se
A presente Estratégia Nacional de Conservação da a um levantamento datado de 2000 e feito pela União Mundial para
Natureza e da Biodiversidade está concebida para vigo- a Conservação (UICN).
(2) Cf. «Environment in the European Union at the turn of the
rar na primeira década do século XXI, de 2001 a 2010, century», Environmental Assessment Report no. 2, Agência Europeia
ano em que deverá ser sujeita a uma revisão global, de Ambiente, Copenhaga, 1999, e comunicação da Comissão ao Con-
com base num processo de avaliação e discussão pública. selho e ao Parlamento Europeu sobre planos de acção em matéria
Contudo, a programação financeira de apoio ao de biodiversidade, 2001.
(3) A presente Estratégia leva ainda em conta, naturalmente, outros
desenvolvimento da ENCNB deve ser alvo de revisão documentos ou instrumentos jurídicos e políticos que completam o
autónoma em 2006, no final do III Quadro Comunitário seu enquadramento, de entre os quais cumpre destacar: o Relatório
de Apoio. Bruntland «O nosso futuro comum», da Comissão Mundial para o
Em todo o caso, a presente Estratégia Nacional de Desenvolvimento, das Nações Unidas, de 1987, onde já se destaca
a perda da biodiversidade como problema ambiental global; o docu-
Conservação da Natureza e da Biodiversidade assume-se mento «The UNEP Biodiversity Programme an Implementation Stra-
como um documento dinâmico, aberto aos ajustamentos tegy», editado pelo PNUA, em 1995; o documento «OECD Envi-
que a evolução das suas condicionantes e a avaliação ronmental Outlook», de 2001; o Compromisso Internacional para a
da sua execução vierem a recomendar. Conservação e Utilização Sustentável dos Recursos Genéticos Vege-
tais, subscrito por Portugal no âmbito da FAO e da sua actualmente
designada Comissão para os Recursos Genéticos para a Alimentação
ANEXO e Agricultura; os documentos emergentes da Conferência de Cancun
sobre Pesca Responsável, de 1992, designadamente o Acordo Inter-
Siglas utilizadas nacional sobre o Cumprimento de Medidas de Conservação e Gestão
de Recursos do Alto Mar (1993), o Acordo Internacional sobre Popu-
AIA — Avaliação de impacte ambiental. lações Transzonais e Espécies Altamente Migradoras (1995) e o
AIBT — Acções integradas de base territorial. Código de Conduta para Uma Pesca Responsável (1996); as resoluções
relativas aos Princípios Gerais para a Gestão Florestal Sustentável
CCI — Comissão de Coordenação Interministerial para na Europa e aos Princípios Gerais para a Conservação da Biodi-
a Implementação da Convenção sobre a Diversidade versidade das Florestas Europeias, adoptadas pela 2.a Conferência
Biológica. Ministerial para a Protecção das Florestas na Europa, de 1993; a
CDB — Convenção sobre a Diversidade Biológica. própria Estratégia Florestal para a União Europeia, constante da reso-
lução do Conselho, de 14 de Dezembro de 1998; o Programa de
CITES — Convenção sobre o Comércio Internacional Trabalho sobre Conservação e Desenvolvimento da Diversidade Bio-
das Espécies da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas lógica e Paisagística nos Ecossistemas Florestais (1997-2000); a Lei
de Extinção. de Bases da Política Florestal (Lei n.o 33/96, de 17 de Agosto) e
CNADS — Conselho Nacional do Ambiente e do as bases para discussão pública do Plano de Desenvolvimento Sus-
tentável da Floresta Portuguesa; a Lei de Bases do Ordenamento
Desenvolvimento Sustentável. do Território e do Urbanismo, de 1998; a Convenção Europeia da
COP — Conferência das Partes. Paisagem, elaborada sob a égide do Conselho da Europa e já assinada
CPLP — Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. por Portugal e, ainda, todo um conjunto de outras convenções inter-
ENCNB — Estratégia Nacional da Conservação da nacionais no domínio da conservação da Natureza, ratificadas por
Portugal, como sejam as Convenções de Ramsar, de Washington,
Natureza e da Biodiversidade. de Bona e de Berna.
FAO — Food and Agriculture Organisation. (4) Na mesma Conferência foram adoptados outros documentos
GEF — Global Environment Facility. que não deixam, também de servir de enquadramento da presente
N.o 236 — 11 de Outubro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-B 6451

ENCNB, designadamente a Declaração do Rio sobre o Ambiente concretas da redenominação dos certificados de aforro,
e o Desenvolvimento, a Agenda XXI, a Declaração de Princípios certificados de renda perpétua, certificados de renda
sobre Gestão, Conservação e Desenvolvimento Sustentável das Flo-
restas, a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação vitalícia e certificados especiais de dívida de curto prazo.
nos Países Afectados por Seca Grave e ou Desertificação, particu- Nestes termos:
larmente em África, e a própria Convenção sobre as Alterações Manda o Governo, pelo Ministro das Finanças, ao
Climáticas. abrigo do n.o 5 do artigo 14.o do Decreto-Lei n.o 138/98,
(5) No quadro da nossa integração europeia, naturalmente que
a presente Estratégia tem ainda em consideração a avaliação global de 16 de Maio, o seguinte:
do 5.o Programa de Política e Acção Comunitária em Matéria de
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, de 1993, tal como revisto
em 1998, e o 6.o Programa, já aprovado, bem como a legislação comu- 1.o
nitária relevante, com destaque para as chamadas directivas das aves Objecto da redenominação
(Directiva n.o 79/409/CEE, do Conselho, de 2 de Abril) e dos habitats
(Directiva n.o 92/43/CEE, do Conselho, de 21 de Maio). São redenominados, em consonância com as regras
(6) Este trabalho, que envolveu um investimento superior a
4 milhões de contos desde 1995, está hoje disponível ao público e fixadas na presente portaria, os seguintes instrumentos
à comunidade científica por via da Internet, em projectos de con- de dívida pública:
servação — base de dados de estudos e projectos do ICN, sob o ende-
reço http://www.icn.pt/projectos, onde pode encontrar-se indicação a) Certificados de aforro (CA), séries A e B;
sobre o conteúdo, resultados e custos dos estudos e projectos desen- b) Certificados de renda perpétua (CRP);
volvidos, bem como das entidades responsáveis pelos mesmos. c) Certificados de renda vitalícia (CRV);
(7) Para este total no território nacional contribuem as Regiões d) Certificados especiais de dívida de curto prazo
Autónomas, com as suas 37 áreas protegidas, 19 zonas de protecção
especial e 34 sítios. (CEDIC).
(8) Para não sobrecarregar excessivamente o texto, a presente Estra-
tégia assume como descrição da situação de referência a que resulta
dos relatórios anuais sobre o estado do ambiente que o Governo 2.o
anualmente apresenta à Assembleia da República e que estão Redenominação de certificado de aforro
publicados.
(9) Os «corredores ecológicos», cujo estabelecimento é imposto A redenominação dos CA para euros não implica
aos Estados-Membros pela Directiva n.o 92/43/CEE, do Conselho,
de 21 de Maio, são definidos como os elementos que, pela sua estrutura
qualquer alteração do número de unidades de cada subs-
linear e contínua (tais como rios e ribeiras e respectivas margens crição, determinando apenas que passem a ser deno-
ou os sistemas tradicionais de delimitação dos campos) ou pelo seu minados em euros os valores de aquisição e de reem-
papel e espaço de ligação (tais como lagos, lagoas ou matas), são bolso de cada unidade e os valores de aquisição e de
essenciais à migração, à distribuição geográfica e ao intercâmbio gené-
tico de espécies selvagens (cf. artigos 1.o, 3.o, n.o 3, e 10.o, n.o 2).
reembolso dos certificados de acordo com o seguinte:
(10) Em Maio de 2001 são apenas 27 os municípios que ainda a) A partir da data de redenominação o valor de
não possuem a sua REN publicada no Diário da República.
(11) Decreto-Lei n.o 198-A/2001, de 6 de Julho.
aquisição de cada unidade é fixado em
(12) Despachos n.os 11 091/2001, (2.a série), publicado no Diário E 0,349 16 para os CA da série A e E 2,493 99
da República, de 25 de Maio de 2001, e 12 006/2001 (2.a série), publi- para os da série B;
cado no Diário da República, de 6 de Junho de 2001. b) Na data de redenominação os valores de reem-
(13) Importa aqui recordar, a este propósito, a importância da bolso de cada unidade de CA são convertidos
Resolução do Conselho de Ministros n.o 102/96, de 8 de Julho, que,
como noutro ponto do presente documento se refere, deverá ser tida para euros pela divisão por 200,482 do seu valor
em conta na referida reorientação dos investimentos no âmbito das em escudos, sendo o resultado arredondado
políticas sectoriais relevantes. para a quinta casa décimal, passando, a partir
(14) A impossibilidade de desagregação impede que se atenda aqui daí, a ser recalculados em euros e expressos com
à componente financeira que pode ser obtida noutros programas,
como seja o Programa INTERREG, não obstante existirem no seu cinco casas decimais;
âmbito projectos relevantes para os objectivos da presente ENCNB. c) Os valores em euros de aquisição e de reembolso
(15) O que, apesar de tudo, representa um aumento de cerca de de um certificado passam a ser determinados
88 % face ao Programa LIFE II, no período de 1996-1999, embora pelo resultado da multiplicação do número de
o montante esteja agora também acessível aos países candidatos à
adesão.
unidades do certificado pelos correspondentes
valores unitários de aquisição e de reembolso,
sendo o resultado arredondado para a segunda
casa decimal;
MINISTÉRIO DAS FINANÇAS d) Os arredondamentos serão efectuados por
excesso, caso o valor da casa decimal seguinte
Portaria n.o 1180/2001 seja igual ou superior a cinco, e por defeito no
caso contrário;
de 11 de Outubro
e) Os certificados físicos emitidos a partir da data
Na sequência da redenominação, com efeitos a partir de redenominação passarão a expressar o valor
de 1 de Janeiro de 1999, da dívida pública directa e de aquisição do certificado em euros. Os cer-
negociável do Estado, constituída por obrigações do tificados físicos emitidos antes da data de rede-
Tesouro a taxa fixa (OT) e a taxa variável (OTRV), nominação mantêm-se válidos, não carecendo
determinada pela Portaria n.o 1004-A/98, de 27 de de substituição em razão da redenominação.
Novembro, e da redenominação dos restantes valores
mobiliários representativos da dívida pública directa do 3.o
Estado, emitidos ao abrigo da lei portuguesa e que não
Regras de redenominação de certificados de renda perpétua
sejam amortizados antes de 31 de Dezembro de 2001, e de certificados de renda vitalícia
determinada pela Portaria n.o 1374/2001, de 8 de Agosto,
fazendo uso das competências atribuídas ao Ministro Os CRP e os CRV são redenominados através da
das Finanças pelo n.o 5 do artigo 14.o do Decreto-Lei conversão do valor actual da renda em escudos para
n.o 138/98, de 16 de Maio, são definidas as condições euros, mediante a aplicação da taxa fixada pelo artigo 1.o

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