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UNIVERSIDADE SALVADOR - ESCOLA DE CIÊNCIA DE SAÚDE

CURSO: MEDICINA

DISCIPLINA: ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE II (AIS 2)

PROFESSOR(A): PAULA SANDERS

GRUPO: G4

INTEGRANTES: BEATRIZ GRADIN, GABRIEL QUADROS, GUILHERME FAUAZE,


GUSTAVO DUARTE, HENDERSON VICENTE, HENRIQUE CESAR.

LOCAL: UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA BOA VISTA DO LOBATO

DATA: 29\11\2019

RELATO DE EXPERIÊNCIA

SALVADOR

2019
1. INTRODUÇÃO

Atenção Integral à Saúde (AIS) é um novo conceito de saúde, de visão holística, que
reflete uma estratégia, diante da necessidade da construção de um novo modelo para a
saúde. Há tempos atrás, estar saudável simplesmente significava a ausência de sinais e
sintomas de determinada doença. Entretanto, fazendo menção desse conceito
supracitado, é necessário observar uma série de variáveis que açambarcam o ser
humano para tê-lo como um indivíduo saudável, a exemplo, das suas relações sociais,
sua alimentação, hábitos de vida, dentre outros fatores que influenciam diretamente na
qualidade de vida do ser humano e não apenas limitar o olhar médico para sinais e
sintomas do paciente e tentar associar à alguma patologia. Algumas vezes, o ser, que
ora estará presente nos nossos consultórios, só precisará de cuidados psicossociais,
para que as muitas síndromes de caráter psicossomático sejam solucionadas, não sendo
necessário recorrer a terapias com uso de drogas, para que o indivíduo tenha saúde em
sua totalidade. Esse novo olhar da Medicina, através desse conceito, enfatiza a
Medicina Preventiva, entendendo, que não é necessário o paciente adoecer, para
iniciar determinadas terapias. A mesma se fundamenta como uma alternativa para a
organização e planejamento dos sistemas de saúde com base na atenção integral,
integrando as mais atuais formas de exercer a administração da saúde, utilizando a
epidemiologia clínica como instrumento principal e recorrendo à informação da saúde,
que se inicia da vigilância, criando alicerces na promoção da saúde e finaliza na
prevenção de riscos e doenças.
Posto isso, a disciplina Atenção Integral à Saúde II (AIS 2) tem como o objetivo
desenvolver a sensibilidade do estudante de Medicina a entender que os futuros
pacientes atendidos por nós, não serão apenas um conjunto de características que
precisamos simplesmente encaixá-lo em alguma gaveta sindrômica, mas que é preciso
ter um olhar além, buscar reconhecer e entender o estado de saúde geral do indivíduo,
mental e somático, haja vista que eles não se separam, e como dizia o poeta romano
Juvenal “uma mente sã num corpo são” ambos se relacionam e estão em simbiose, e
características psicológicas do indivíduo tem grande influência sobre o estado de saúde
do seu corpo.
Esse relato de experiência, como o próprio nome sugere trata-se de uma dissertação
dos eventos vividos promovidos pela AIS 2, através da professora Paula Sanders, além
da emoções, reflexões, experiências e aprendizados obtidos através dessa disciplina.
1. INTRODUÇÃO: LOCALIZAÇÃO E DESCRIÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE,
INFRAESTRUTURA, PROFISSIONAIS QUE COMPÕEM AS EQUIPES,
NÚMERO DE EQUIPES, SERVIÇOS PRESTADOS.

1.1. LOCALIZAÇÃO:

A Unidade de Saúde da Família Boa Vista do Lobato (USF – Boa Vista do Lobato)
encontra-se no bairro do Lobato, que é um dos quais compõem o distrito sanitário São
Caetano/Valéria (37 bairros).

1.2. DESCRIÇÃO DA UNIDADE DE SAÚDE:

A USF-Boa Vista do Lobato possui oito consultórios médicos, dois dentários, salas de
espera, farmácia, vacina, curativo e procedimentos, além da área administrativa, com
sala de reunião, almoxarifado e copa. A mesma dispõe de serviços de nível de atenção
primária, que objetiva de maneira geral a prevenção das doenças, como, vacinação,
realização de curativos, consultas com médico, enfermeiro e odontólogo, além do
serviço de regulação para atendimento com especialistas, ou atender determinadas
demandas, as quais a unidade não é responsável, nem possui recursos para tal, sendo
necessário recorrer a hospitais ou centro de referência para determinados tipos de
serviços de saúde, como situações emergenciais, ou consultas com especialistas, por
exemplo. Para usufruir dos serviços de profissionais de saúde, como, nutricionista,
psicólogo e educadores físicos, se faz necessário recorrer ao Núcleo de Apoio á Saúde
da Família (NASF) que atendia (de forma a não atender de maneira integral, sendo
idealmente necessário um NASF por USF) a todo distrito sanitário do Subúrbio
Ferroviário. A unidade de saúde é composta por 4 equipes do programa de saúde da
família, compostas por 4 médicos, 3 dentistas, 2 enfermeiros, 4 técnicos de
enfermagem, 4 auxiliares de consultório dentário e 24 agentes comunitários de saúde
(ACS), sendo cada equipe responsável por uma microárea, que possui 1 médico, 1
dentista, 1 enfermeiro, 1 auxiliar de dentista e 6 ACS. A USF-Boa Vista do Lobato
tem capacidade para atender uma média de 160 famílias (dados da prefeitura) através
dos programas de saúde da criança, da mulher, idoso e do adolescente, além de
controle da Hipertensão Arterial (HAS), Diabetes Mellitus (DM), Tuberculose (TB) e
Hanseníase.
2. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: DESCRIÇÃO E REFLEXÃO DE CADA
ATIVIDADE DESENVOLVIDA.

2.1. 1ª VISITA:

Na primeira visita realizamos a territorialização, que consistiu na demarcação de


limites da atuação da USF. Através do ACS Gilmar conhecemos sua região de atuação
in loco, e durante a caminhada, o mesmo foi nos explicando as principais
discrepâncias sociais sofridas pela população, os indicadores de saúde mais relevantes
na sua microárea, como a prevalência da hipertensão, diabetes, tuberculose e
alcoolismo naquela população específica. Além do exposto, pudemos observar ao
longo do percurso a infraestrutura das ruas: asfaltadas de forma irregular, e com
passeios também irregulares, o que provocava em alguns trechos dificuldades em
deambular no passeio, sendo necessário às vezes dividir as pistas com os carros.
Constatamos que a maioria das casas daquela região eram ditas populares,
expressando a condição socioeconômica daquela população, não observamos
discrepâncias socioeconômicas relevantes entre eles, havia uma regularidade da
infraestrutura das moradias, algumas, porém de condição mais precárias que chamava
atenção, sem reboco, laje e forrada com telhado ondulado de fibrocimento.
Observamos diversos gatos e cachorros pelas ruas, bem como o local de maior
movimentação daquela região, que era a área comercial do bairro, com muitos pontos
comerciais, aproximadamente uns 20, dentre eles, delicatessens, boutiques,
armarinhos, bombonieres, dentre outros. Visitamos a praça do bairro, a qual pensamos
na hipótese de utilizá-la para realizar uma atividade educativa sobre saúde, além de
descobrir equipamentos de exercícios físicos, concedidos pela prefeitura na praça do
bairro.

2.2. 2ª VISITA

Na segunda visita, tivemos o prazer de presenciar uma dinâmica realizada por


estudantes de medicina do 5º semestre da UNIFACS, na escola pública infantil ao
lado. O grupo de alunos aproveitaram a campanha de saúde do outubro rosa contra o
câncer de mama para realizar um jogo de “lá vai a bola” com mulheres da
comunidade. A brincadeira consistia numa música que ficava tocando, ao mesmo
tempo que uma bola ia circulando de mãos em mãos das mulheres ali presente. No
momento em que a música pausava, a mulher que estivesse com a bola tirava um papel
com uma pergunta sobre câncer de mama, dando início a uma discussão de maneira
integrada entre os estudantes e as moradoras. Além disso, ao final da dinâmica, nosso
grupo sugeriu um momento de reflexão e meditação guiada, com o objetivo de aliviar
tensões e reduzir o nível de stress, haja vista, que foi bastante discutido sobre o
sintoma, ora tão presente na vida cotidiana daquelas pessoas presentes. Por fim, essa
tarde mostrou-se bastante produtiva, enriquecedora e surpreendente, diante do
envolvimento e conhecimento das mulheres acerca do tema discutido.

2.3. 3ª VISITA

Na terceira semana, conhecemos as agentes de saúde Paula e Raulina, as quais se


disponibilizaram a responder um questionário realizado pelo nosso grupo, acerca dos
indicadores de saúde da região, disponibilizado pela nossa orientadora Paula Sanders.
Nesse questionário, perguntamos sobre as principais doenças e condições prevalentes
da região, conforme notificado pelo ACS: HAS e incidência alta de adolescentes
grávidas. Todo questionário foi respondido por essas agentes por meio de informações
presentes em seus tablets (cada agente de saúde, dispõe de um tablet, no qual se
encontra integrado todas as informações referentes a saúde da população da microárea
que aquele ACS atua, o mesmo substitui as fichas que eram preenchidas pelos ACS
com os dados de cada cidadão da sua região). Conseguimos inferir através do
questionário, que muitas pessoas diagnosticadas com hipertensão naquela região não
conseguiam ser acompanhada pelos ACS’s, pois no momento de atuação destes, os
portadores da doença estão trabalhando, e assim não é possível fazer um
acompanhamento a longo prazo de maneira eficaz, o que pode desencadear a
necessidade de recorrer a serviços de urgência, caso essas comorbidades não sejam
controladas.
Logo em seguida a essas entrevistas aos agentes, ambas se dispuseram a nos conduzir
a duas casas das suas respectivas áreas, com o intuito de mostrar-nos suas atuações
como agentes comunitárias, bem como as condições sociais e econômicas mais de
perto de alguns indivíduos que são acompanhados pela USF.

A primeira casa que visitamos era de uma família composta por 4 pessoas: marido e
esposa; idosos, filha; adulta e uma neta de 19 anos. Exceto a neta, os 3 eram
portadores de HAS e DM controlados. A matriarca da casa, além das condições
supracitadas, teve um quadro de aneurisma não tratado. A mesma desabafou conosco,
contando-nos que já estava desacreditada da sua cura, mesmo tendo muita fé em Deus.
Diante de todos os efeitos colaterais que a informaram sobre a cirurgia que ela deveria
fazer, e da espera prolongada de dois anos, para conseguir a realização do
procedimento por meio do processo de regulação do SUS, além do pós operatório
complicado, a senhora preferiu viver um dia após o outro, do jeito que estava,
evitando procedimentos cirúrgicos, devido a sua idade avançada, no sossego da sua
casa e no aconchego dos netos que eram a alegria da vida dela, evitando o correr desta
vida que embrulha tudo, dispondo de coragem para acordar todos os dias, pois é isso
que ela requer de nós (Guimarães Rosa). Apesar do sofrimento e da dor, a senhora não
tirava o sorriso do rosto e só tinha amor e muitas experiências pra dar e passar,
apertando firme nossas mãos na despedida, expressando muita gratidão pela curta
conversa e acolhimento.

Já na segunda casa, nos deparamos com uma senhora portadora de HAS e de perfil
mais esclarecida a respeito dos cuidados necessários com a saúde. A mesma nos
contou que sempre foi muito ativa e gostava de participar das atividades que a USF
proporcionava, como aulas de yoga, zumba e a caminhada com o educador físico.
Entretanto, precisou deixar de frequentar essas atividades, visto que começou a sentir
fortes dores nas articulações que limitava muito seus movimentos. Após o surgimento
dessa dor, o estado de saúde dela piorou e a mesma deixou de fazer coisas que lhe
fazia muito bem. Esta senhora nos disse que tentou ligar várias vezes para o telefone
do Reumatologista que disponibilizaram, mas o mesmo nunca atendia ou nunca tinha
horário e, depois de muitas tentativas, cansou de tentar e passou a esquecer de ligar.
Sabendo disso, nos disponibilizamos a ficar na tentativa de conseguirmos nos
comunicar com o médico e assim anotamos todos os dados da moradora, caso
atendessem e conseguíssemos agendar a consulta. Essa atitude deixou a moradora
extremamente emocionada e grata, pois se sentiu amparada e acolhida pela nossa
equipe.

2.4. 4ª VISITA – FEIRA DE SAÚDE – NOVEMBRO AZUL

Na última visita, tivemos o enorme privilégio de construir e integrar uma Feira de


Saúde relacionada a campanha de saúde do Novembro Azul voltado ao combate ao
câncer próstata, organizada por nós e por outros estudantes da área de saúde da
UNIFACS, como, dentista. Neste evento foram realizadas diversas atividades, como
aferição de pressão, medição da glicemia e Índice de Massa Corporal (IMC), tal como
informações e discursões a respeito da hipertensão, diabetes e alcoolismo. Nosso
grupo ficou responsável por realizar as aferições da Pressão Arterial (PA) do público,
a cada paciente que atendíamos tentávamos naquele curto espaço de tempo extrair
informações sobre seus hábitos de vida e fatores condicionantes do seu estado de
saúde, permitindo-nos estabelecer relações do seu estilo de vida a possíveis
comorbidades, além de tentar criar um vínculo com aqueles que vinham até nós,
criando um ambiente aberto ao diálogo, além de ajudá-las com esclarecimentos sobre
o tema e direcionamentos para a manutenção e promoção da saúde.

Num dos momentos em que estávamos realizando aferição de pressão e glicemia,


atendemos a uma paciente de aproximadamente 70 anos, diagnosticada com HAS, mas
não com DM. Durante o seu atendimento medimos sua glicemia e observámos um
valor bem acima do normal, algo próximo de 310mg/dL (VR:<200mg/dL), aquele
valor nos assustou bastante, e fizemos novamente a medição que acusou de novo um
valor bem próximo, dessa forma, mesmo em meio a praça pública, sem muitos
equipamentos médicos, conseguimos diagnosticar, ou ter uma forte suspeita de que ela
tinha DM e precisava se tratar, realmente é um grande feito para nós, apenas
estudantes do 2º semestre, que colaboramos para promoção, prevenção e manutenção
da saúde dos moradores daquele bairro, conseguimos atender em média 50 pessoas
durante aquela tarde, foi uma experiência incrível. Então, através do apoio da USF que
encaminhou os possíveis direcionamentos para caso dessa senhora, como consulta
com o médico clínico, e início de tratamento evitando possíveis complicações,
enfatizando o nível primário de prevenção.

Conseguimos notar um público bastante variado, desde jovens ágeis com bom estado
de saúde, até senhores(as) com estado de saúde mais ameno e com maus hábitos
alimentares. Encontramos também adultos bastante conscientes e que buscavam
melhorar seus hábitos de vida, reconhecendo que a falha se encontrava neles mesmo, e
que era necessário corrigir.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS: PONTOS POSITIVOS, LIMITAÇÕES E


CONTRIBUIÇÕES PARA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E PESSOAL.

Chegando ao fim de toda essa vivência enriquecedora, proporcionada pelas práticas


externas na comunidade da Boa Vista do Lobato, é possível notar que cada um de nós
do G4 passou por um processo de transformação pessoal imensurável. Além da
obtenção e solidificação dos conhecimentos adquiridos sobre nível de atenção à saúde,
atuação dos agentes comunitários e os indicadores de saúde local. No dia 19 de
Novembro de 2019 nosso coração bateu mais forte, este foi o dia da Feira de Saúde na
comunidade de Boa Vista do Lobato, organizada por nós, alunos do 2º semestre do
curso de Medicina na UNIFACS. A Feira dispunha de bancadas para cuidados com os
valores de sinais vitais de cada indivíduo, mas o contato com cada ser humano,
naquele ambiente, foi extremamente enriquecedor, por entender na prática, qual é o
exercício Estratégia da Saúde da Família.

Saímos de lá inquietos! A tônica foi que, mesmo com tanta coisa faltando na vida
daquelas pessoas, tantas dificuldades sociais, econômicas, psicológicas, essas
conseguiram nos transmitir experiências e vivências dos quais somos despidos!
Agradecemos a toda equipe responsável pela matéria, em especial a prof. Paula
Sanders que nos acompanhou mais de perto, e pela proposta idealizada e praticada, foi
tudo muito bom!

Cada um que chegava até nós com o intuito inicial de aferir a pressão, se sentava e
iniciávamos uma longa e enriquecedora conversa. Despidas de timidez ou vergonha,
cada um foi recebido num espaço acolhedor, onde tinha espaço liberdade de
expressão. Queríamos conhecê-los! não queríamos somente coletar números... E eles
queriam ser ouvidos, acolhidos! Aquilo se transformou em um momento de intensas
trocas! Esse último dia de prática externa sintetizou tudo aquilo que construímos desde
o primeiro: o cuidado e o valor da promoção da saúde para todas as pessoas.

Exercer a atividade da Medicina é doar parte do nosso tempo e de nossas vidas em


prol do próximo, da comunidade sem esperar nada em troca, e receber a gama de
experiência de vida em troca. É saírmos de nossas bolhas sociais e enxergarmos o
outro com os olhos do coração! Isso é a consequência de um amor que transborda,
materializando-se em ações e a certeza reforçada de que estamos no caminho certo!

4. REFERÊNCIAS:

http://www.saude.salvador.ba.gov.br/usf-boa-vista-do-lobato-e-reinaugurada/

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