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DIREITO CONSTITUCIONAL – III

Ordem Social na Constituição Vigente


Pesquisa e Compilação
Prof. Artur Cristiano Arantes

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Aula – 06

A ORDEM SOCIAL
NA
CONSTITUIÇÃO VIGENTE

1- Introdução
1.1 - Base da Ordem Social – art. 193
1.1.1 – Conteúdo da Ordem Social
2. Seguridade Social – art. 194 – 195
2.1. Princípios que Regem a Seguridade Social
2.2. Saúde – art. 196 a 200
2.2.1. Transplantes:
3. Previdência Social – art. 201 – 202 (Dir Previdenciário)
4. Assistência Social – art. 203 – 204
5. Educação – art. 205 a 214
6. Cultura – art. 215 – 216
7. Desporto – art. 217
8. Ciência e Tecnologia – art. 218 – 219
9. Comunicação Social – art. 220 – 224
10. Meio Ambiente – art. 225
10.1. Meio Ambiente e o Ministério Público
11. Família – art. 226 a 230
11.1. Criança, Adolescente e Idoso
12. Índios – art. 231 – 232

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1 - INTRODUÇÃO:

A nossa Constituição deu particular destaque à Ordem Social, à qual dedicou oito
capítulos. Estudá-los detidamente, além se ser muito longo, foge ao campo tradicional do Direito
Constitucional. Em que pese isso, sublinhamos seus pontos principais, que doravante
analisaremos.

1.1 - BASE DA ORDEM SOCIAL – art. 193

A Constituição enfatiza como base da ordem social o primado do trabalho e como seus
objetivos o bem-estar e a justiça sociais. Sobre estes pontos já se discorreu a propósito da
ordem econômica (art. 170)

1.1.1 – Conteúdo da ordem social

Nos termos do art. 6º da CF/88 (EC n. 90/2015), o Ser Humano apresenta-se como
destinatário dos direitos sociais, que foram estabelecidos como sendo a educação, a saúde, a
alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados 65.

Neste contexto, com razão anota José Afonso da Silva66 que, juntamente com o título
dos direitos fundamentais, a ordem social forma o núcleo substancial do regime democrático,
apresentando o seguinte conteúdo, que será desenvolvido nesta aula:

65
Em negrito os itens acrescentados nos últimos anos por Emendas Constitucionais
66
In “Curso de Direito Constitucional Positivo”, p. 843
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De fato, concordamos com o autor ao reconhecer que nem todos os temas englobados
pelo título da ordem social apresentam o referido conteúdo típico, como, por exemplo, ciência
e tecnologia, meio ambiente e sobretudo índios, que serão tratados dentro de um contexto
bastante alargados de ordem social, simplesmente pela conveniência didática da sequência
apresentada pela Constituição.

2. SEGURIDADE SOCIAL – art. 194 – 195

Este capítulo fixa princípios e regras gerais que devem assegurar os direitos relativos à
saúde, à previdência e à assistência social.

Neste campo, o primeiro e principal dos princípios é o da "universalidade da cobertura


e do atendimento".

Outro, o do "caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a


participação da comunidade em especial de trabalhadores, empresários e aposentados".

2.1. Princípios que Regem a Seguridade Social


(parágrafo único do artigo 194 da Constituição Federal)

Os princípios que regem a Seguridade Social, constantes do parágrafo único do artigo


194 da Constituição Federal, são:

I – Universalidade de cobertura e de atendimento. Significa que todas as pessoas têm


direito de acesso à saúde, à previdência e à assistência social.

II – Uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e


rurais, ou seja, é vedada qualquer discriminação entre urbanos e rurais.

III – Seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços, regra que


permite ao administrador público priorizar determinados atendimentos e distribuir
os benefícios e os serviços de forma a promover os mais necessitados.

IV – Irredutibilidade do valor dos benefícios, regra que é complementada pelos §§ 2.º


e 4.º do artigo 201 da Constituição Federal, que dão garantias de que nenhum
benefício será inferior ao salário mínimo, preservado o poder aquisitivo, nos
termos da lei.

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V – Equidade na forma de participação no custeio. Equidade é a realização da justiça


no caso concreto e na hipótese que autoriza um tratamento desigual aos desiguais
(quem pode mais paga mais). A matéria está disciplinada no artigo 195 da
Constituição Federal.

VI – Diversidade da base de financiamento. A fim de se dar segurança ao sistema, o


caput e o § 4.º do artigo 195 da Constituição Federal estabelecem fontes diversas
para o custeio.

OBS - Sobre o tema também merece destaque a regra, contida no § 3.º do artigo 195
da Constituição Federal, pela qual a pessoa jurídica em débito com o sistema de
seguridade social, como estabelecido em lei (portanto, norma constitucional de
eficácia limitada), não poderá contratar com o Poder Público nem dele receber
incentivos fiscais ou creditícios67.

VII – Caráter democrático e descentralizado da gestão administrativa, com a


participação da comunidade, em especial dos trabalhadores, empresários e
aposentados.

Assim, a seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa


dos Poderes Públicos e da sociedade, destinados a assegurar os direitos explicitados acima. Não
nos deteremos a explicitar detalhes do custeio e financiamento da seguridade social por não
fazer parte da matéria Direito Constitucional, mas, sim, do Direito Previdenciário.

2.2. SAÚDE – art. 196 a 200

Está é afirmada como direito de todos e dever do Estado. O artigo 196 da Constituição
Federal ratifica o disposto no inciso I do artigo 194 (princípio da universalidade), estabelecendo
que a saúde é direito de todos e dever do Estado.

O artigo 198 da Constituição Federal prevê o chamado Sistema Único de Saúde (SUS),
cuja manutenção é feita com os recursos da seguridade social e outras não especificadas. Celso
Bastos leciona que o SUS:

“... consiste numa integração das ações e serviços públicos de saúde, tendo por
diretrizes o princípio da descentralização, no nível de cada esfera de governo, o
atendimento integral e a participação da comunidade”.

67
Até o momento – 2019 – não há lei que regulamente este parágrafo.

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As ações e serviços de saúde são considerados de relevância pública, devendo essas


ações e serviços públicos de saúde ser integrados numa rede regionalizada e hierarquizada,
constituindo um sistema único.

Entretanto, a assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

Segundo o artigo 199 da Constituição Federal, é livre à iniciativa privada a atuação na


área de assistência à saúde, podendo inclusive atuar, de forma complementar, no Sistema Único
de Saúde, via convênio ou contrato público (com preferência para as entidades filantrópicas e
para as sem fins lucrativos). O convênio se caracteriza como um sistema de cooperação que, ao
contrário do contrato, admite que qualquer dos participantes se desvincule da empreitada sem
qualquer sanção.

Veda-se, no entanto, a destinação de recursos públicos para auxílios ou subvenções a


instituições privadas (de saúde ou de previdência privada) com fins lucrativos, bem como a
participação direta ou indireta de empresas ou capitais estrangeiros na assistência à saúde no
País, salvo nos casos previstos em lei.

Atualmente, as regras gerais que regem os planos e seguros de saúde estão previstas na
Lei n. 9.656/98, com posteriores acréscimos e modificações que não vem ao caso agora.

O artigo 200 da Constituição Federal especifica algumas das atribuições do SUS. A


Emenda Constitucional n. 29, de 14.9.2000, que entre outras regras estabelece que os
Municípios terão de ampliar os recursos destinados às ações e serviços públicos de saúde.

2.2.1. Transplantes:

O § 4.º do artigo 199 da Constituição Federal 68 dita que a lei disporá sobre as condições
e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas para fins de
transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue
e seus derivados, sendo vedado qualquer tipo de comercialização. Segundo Walter Ceneviva, a
remoção de órgãos, tecidos e substâncias humanas restringe-se “a finalidades de transplante,
pesquisa e tratamento”.

Tema importante decidido pelo STF foi o julgamento da ADIn 3.510 que discutia a
inconstitucionalidade do art. 5º da Lei de Biossegurança (Lei n. 11.105/2005) no tocante à
pesquisa com células-tronco embrionárias. Mostrou-se o STF ciente dos danos que causariam
às pesquisas e aos que delas dependem e considerou constitucional o texto.

68
Regulamentado pela Lei n. 10.205/1990
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3. PREVIDÊNCIA SOCIAL – art. 201 – 202 (Dir Previdenciário)

Destina-se a previdência a atender à cobertura dos eventos de doença, invalidez e


morte, incluídos os resultantes de acidentes do trabalho, velhice e reclusão, bem como à ajuda
à manutenção dos dependentes dos segurados de baixa renda, à proteção à maternidade,
especialmente à gestante, à proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário,
à pensão por morte do segurado.

A própria Constituição Federal restringe a participação na Previdência Social aos seus


contribuintes, aos segurados e seus dependentes. Admite, porém, que qualquer pessoa
participe dos benefícios, mediante contribuição na forma dos planos previdenciários.

As coberturas proporcionadas pela Previdência Social estão relacionadas no artigo 201


da Constituição Federal, sendo hoje as mais freqüentes as seguintes:

I – A pensão por morte (artigo 74 da Lei n. 8.213/91)69.

II – O salário-maternidade (artigos 71 a 73 da Lei n. 8.213/91)

III – O seguro-desemprego

OBSERVAÇÃO: - Esses temas estão afetos a outra Disciplina, assim não adentraremos a
detalhes.

4. ASSISTÊNCIA SOCIAL – art. 203 – 204

A assistência social deve ser prestada a todos que dela necessitam, independentemente
de contribuição para a Previdência Social.

Os objetivos estão especificados no artigo 203 da Constituição Federal e demonstram


que a assistência social visa atender aos desvalidos em geral (crianças, idosos e famílias
carentes, desempregados, deficientes etc.).

Aos idosos e aos portadores de deficiências que comprovem não possuir meios de
prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, garante-se um salário mínimo
mensal.

A Assistência Social é financiada pelos recursos da seguridade social e de outras fontes.


O critério é denominado solidariedade-financeira por José Afonso da Silva, já que os recursos

69
Organização e Plano de Custeio da Seguridade Social (Lei Orgânica da Seguridade Social) Lei n.º 8.212/1991
(Texto atualizado até a Medida Provisória n.º 871/2019) – Disponível em:
https://dhg1h5j42swfq.cloudfront.net/2019/02/20102338/LEI-8.212-1991-ESQUEMATIZADA-AT%C3%89-A-MP-
871-2019-20.02.2019.pdf
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procedem do orçamento geral da seguridade social e não de contribuições específicas de


eventuais destinatários.

Quanto à erradicação da pobreza, observe-se a Emenda Constitucional n. 31, de


14.12.2000 que, acrescentando os artigos 79 a 83 no Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias, criou o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, a ser regulamentado por lei
complementar.

5. EDUCAÇÃO – art. 205 a 214

É afirmado o direito à educação como um direito de todos, ao qual corresponde o dever


da família e do Estado.

O direito ao ensino obrigatório (1º e 2º graus – Ensino Fundamental) e gratuito é


reconhecido como direito público subjetivo. Disto resulta que o titular desse direito poderá fazê-
lo valer em juízo, contra o Estado, que deverá assegurar-lhe matrícula em escola pública, ou
bolsa de estudos em escola particular (art. 213, § 1º) se houver falta de vagas nos cursos
públicos.

O ensino obedecerá, entre outros, aos seguintes princípios: liberdade de aprender,


ensinar, pesquisar, divulgar o pensamento, a arte, o saber; pluralismo de idéias e concepções
pedagógicas; garantia de padrão de qualidade.

É assegurada a coexistência entre o ensino público e o privado. Este, porém, deverá ser
autorizado e terá sua qualidade avaliada pelo Poder Público.

O ensino público deverá ser gratuito em todos os níveis. A ele caberá dar atendimento
especializado aos portadores de deficiências, às crianças desde o nascimento até os seis anos de
idade.

Também promover oferta de curso noturno regular e amparar o educando, no ensino


fundamental, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte,
alimentação e assistência à saúde. Deverá empenhar-se na erradicação do analfabetismo.

Os Municípios deverão atuar prioritariamente no ensino fundamental e pré-escolar.

As universidades gozarão de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão


financeira e patrimonial. Obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa
e extensão.

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6. CULTURA – art. 215 – 216

Transparece neste ponto a preocupação de fazer do Estado o protetor de todas as


manifestações culturais. Em especial do patrimônio cultural brasileiro, o qual lhe incumbe
preservar de todos os modos. Cabe-lhe, também, estimular-lhe o desenvolvimento pelo
incentivo para a produção e a divulgação de bens e valores culturais.

O art. 215 da CF/88 consagra como direito fundamental o princípio da cidadania cultural
ao estabelecer que o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso
a fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações
culturais.

Em seguida, os parágrafos do art. 215 estabelecem que o Estado protegerá as


manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras e as de outros grupos
participantes do processo civilizatório nacional, e que a lei disporá sobre a fixação de datas
comemorativas de alta significação para diferentes segmentos étnicos nacionais.

Já o art. 216 por sua vez, define a amplitude do conceito de patrimônio cultural como
bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente, ou em conjunto, nos quais se
incluem as formas de expressão.

7 . DESPORTO – art. 217

Atribui-se ao Estado o dever de fomentar as práticas desportivas, formais ou não


formais. Estas, com efeito, contribuem para a higidez do povo. Assim é que nos termos do art
217, caput e incisos. I à IV, bem como os arts. 1º e 3º da Lei n. 9.615/98 (Lei Pelé, que institui
normas gerais sobre desporto e prevê outras providências), o desporto está previsto em sentido
amplo, não se restringindo apenas ao esporte, mas também a idéia de recreação, lazer,
divertimento, uma vez que, nos termos do § 3º do referido artigo, o Poder Público incentivará

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o lazer como forma de promoção social, assim, pode ser reconhecido em qualquer das seguintes
manifestações:70

7.1 - desporto formal: regulado por normas nacionais e internacionais e pelas


regras de prática desportiva de cada modalidade, aceitas pelas
respectivas entidades nacionais de administração do desporto;

7.2 - desporto não formal: caracterizado pela liberdade lúdica71 de seus


praticantes.

7.3 - desporto educacional: praticado nos sistemas de ensino e em formas


assistemáticas de educação, evitando a seletividade e a hiper-
competitividade de seus praticantes, com a finalidade de alcançar
o desenvolvimento integral do individuo e a sua formação para o
exercício da cidadania e a pratica do lazer;

7.4 - desporto de participação: chamado de amador, e aquele praticado de


modo voluntário, compreendendo as modalidades desportivas
praticadas com a finalidade de contribuir para a integração dos
praticantes na plenitude da vida social, na promoção da saúde e
educação e na preservação do meio ambiente. O dever do Estado
é no sentido da preservação dos parques, áreas verdes, praias,
lagos, com o objetivo de facilitar a prática desse desporto de
lazer;

7.5 - desporto de rendimento: praticado segundo normas gerais da Lei Pelé e


regras de pratica desportiva, nacionais e internacionais, com a
finalidade de obter resultados e integrar pessoas e comunidades
do País e estas com as de outras nações. Trata-se do desporto de
competição, podendo ser organizado e praticado de modo
profissional ou não profissional, tendo a Constituição
determinado o tratamento diferenciado entre um e outro (art.
217, III, da CF/88);

7.6 - desporto de rendimento profissional: caracterizado pela remuneração


pactuada em contrato formal de trabalho entre o atleta e a
entidade de prática desportiva, inclusive podendo a remuneração
ser por meio de patrocínio;

70
Lenza, Direito...., op. cit., p. 721
71
Lúdico, segundo o dicionário Aurélio, pode ser definido como referente a, ou que tem o caráter de jogos,
brinquedos e divertimentos – in Novo Dicionário da Língua Portuguesa” p. 1238
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7.7 - desporto de rendimento não profissional: identificado pela liberdade de


prática e pela inexistência de contrato de trabalho, permitindo o
recebimento de incentivos materiais e de patrocínio.

8. CIÊNCIA E TECNOLOGIA – art. 218 – 219

Reconhecendo a importância que assumem no Estado contemporâneo a ciência e a


tecnologia, a Constituição de 1988 dá ao Estado a tarefa de promover o desenvolvimento
científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas.

9. COMUNICAÇÃO SOCIAL – art. 220 – 224

Este capítulo da ordem social procura dar tratamento sistemático ao problema da


comunicação social. Este é crucial para a democracia. De fato, é por meio desta que o cidadão
se informa sobre os temas públicos e numa larga medida forma a sua opinião. Ademais, não é
preciso encarecer o relevo que tem para a própria educação o impacto dos meios audiovisuais
de comunicação social.

O texto constitucional firma um princípio geral de plena liberdade. Como contrapartida


enfatiza o direito à resposta e a responsabilidade por danos materiais e morais, inclusive à
imagem. Proíbe terminantemente toda e qualquer forma de censura.

No tocante a diversões e espetáculos públicos, propõe uma atuação orientadora do


Poder Público.

Promete meios legais que garantam à pessoa e à família a defesa contra programas ou
programações de rádio e televisão — cinema, não — que desrespeitem valores éticos e sociais
— religiosos aqui inclusos — da pessoa e da família.

A propriedade das empresas de comunicação social —jornais, revistas, rádio, cinema e


televisão — cabe exclusivamente a brasileiros natos ou a brasileiros naturalizados há mais de
dez anos (art. 222, caput).

Entretanto, depois da Emenda Constitucional n. 36/2002, é admitida a participação de


empresas estrangeiras, ou de estrangeiros, no capital total e no capital votante dessas empresas,
desde que não ultrapasse 30%. Isto, na forma disciplinada em lei (art. 222, § 1º).

A brasileiros, natos ou naturalizados há mais de dez anos, é, todavia, reservada a


responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção da programação veiculada (art.
222, § 3º). A intenção disto é fazer com que os meios de comunicação social não atuem sob
orientação estrangeira. A norma, contudo, é facilmente contornável.

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10. MEIO AMBIENTE – art. 225

Consagra a nova Constituição o direito (de 3ª geração) de todos a um meio ambiente


ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de vida. Coloca-o sob a proteção da
coletividade e do Poder Público. A este atribui numerosas incumbências, que evidentemente
deverão ser exercidas dentro da esfera de competências própria a cada um. Quer dizer, ao Poder
Público federal segundo a competência federal, ao estadual segundo a competência dos Estados
etc.

A Constituição Federal ampara as restrições impostas à propriedade para a proteção


do meio ambiente, admitindo expressamente a criação de áreas de proteção ambiental,
prevendo a educação ambiental em todos os níveis de ensino e autorizando a imposição de
sanções penais e administrativas àqueles que lesarem o meio ambiente, sem prejuízo da
obrigatoriedade quanto à reparação dos danos.

10.1. A questão do meio ambiente e o Ministério Público

Quanto ao meio ambiente, um dos bens destacadamente protegidos por intermédio da


Ação Civil Pública, merece atenção o fato de que a responsabilidade decorrente de danos
contra ele verificados é objetiva, nos termos da Lei n. 7.802/89. Basta que o autor da ação civil
pública demonstre o nexo de causalidade entre a conduta do réu e a lesão ao meio ambiente a
ser protegido (artigo 14, § 1.º, da Lei n. 6.938/81) para que seja imputada a responsabilidade
civil decorrente do dano.

Conforme ensina Hely Lopes Meirelles72:

“Se o fato argüido de lesivo ao meio ambiente foi praticado com licença, permissão
ou autorização da autoridade competente, deverá o autor da ação – Ministério
Público ou pessoa jurídica – provar a ilegalidade de sua expedição, uma vez que todo
ato administrativo traz a presunção de legitimidade, só invalidável por prova em
contrário”.

Os crimes contra o meio ambiente estão disciplinados na Lei n. 9.605/98.

Entre as funções institucionais do Ministério Público está a de promover o Inquérito


Civil e a Ação Civil Pública para a proteção ao meio ambiente. De acordo com o artigo 5º, § 6.º,
da Lei n. 7.347/85, os órgãos públicos legitimados (o Ministério Público está entre eles) poderão
tomar dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais,
mediante cominações, que têm eficácia de título executivo extrajudicial

72 Direito de Construir. 5.ª ed. São Paulo: RT, 1987. p. 188.


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11. FAMÍLIA – art. 226 a 230

A Constituição ainda vê na família a base da sociedade. No direito anterior, esta família


era a constituída pelo casamento, e, até a Emenda n. 9/77, de vínculo indissolúvel. No direito
vigente, não só se abandonou a indissolubilidade do vínculo como se equiparou a ela "a união
estável entre o homem e a mulher" e "a comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes". Note-se, porém, que a Constituição ainda não prefere à união estável ao
casamento. De fato, manda que a lei venha a "facilitar sua conversão em casamento". A Lei n.
9.278/96 prevê que todas as matérias decorrentes da união estável entre homem e mulher
serão discutidas junto às Varas de Família.

Acrescente-se que na família são iguais os direitos entre o homem e a mulher.

O planejamento familiar é de livre decisão do casal, vedada qualquer forma coercitiva


por parte de instituições particulares ou privadas. Ao Estado, porém, cabe propiciar recursos
educacionais e científicos para o exercício do livre planejamento familiar.

11.1. CRIANÇA, ADOLESCENTE E IDOSO

Enfatiza a nova Constituição a proteção à criança, ao adolescente e ao idoso.

O artigo 227 da Constituição Federal determina que a proteção integral à criança e ao


adolescente goza de absoluta prioridade e é um dever da família, da sociedade e do Estado, que
devem colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.

Proteção semelhante é estabelecida em favor dos idosos (artigo 230 da Constituição


Federal). Idoso, para os fins da Lei n. 8.842/94 (lei que cuida da política nacional do idoso), é a
pessoa com mais de 60 anos de idade.

Aos maiores de 65 anos de idade é garantida a gratuidade dos transportes coletivos


urbanos (artigo 230, § 2.º, da Constituição Federal). Assim como os pais têm o dever de assistir,
criar e educar os filhos menores, os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na
velhice, carência ou enfermidade.

A Lei n. 10.173/01 estabelece prioridade nos processos que têm pessoa com mais de 65
anos como parte interessada (ver artigos 1.211-A, B e C do Código de Processo

A adoção por estrangeiros é admitida pela Constituição Federal de forma excepcional,


nos termos da lei.

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A Lei n. 10.048/2000 dá prioridade de atendimento às pessoas portadoras de deficiência


física, aos idosos com idade igual ou superior a 65 anos, às gestantes etc.

São penalmente inimputáveis os menores de 18 anos, sem prejuízo da responsabilização


por atos infracionais. A Lei n. 8.069/90, no entanto, admite medidas sócio-educativas que vão
desde a advertência até a internação. Os procedimentos pertinentes à apuração de atos
infracionais devem observar os princípios da ampla defesa e do contraditório.

Timbra o texto, no art. 228, em consagrar a inimputabilidade penal do menor de dezoito


anos. É incoerente esta previsão se recordarmos que o direito de votar — a maioridade política
— pode ser alcançado aos dezesseis anos.

12. ÍNDIOS – art. 231 – 232

Compete privativamente à União legislar sobre as populações indígenas, vigorando no


presente a Lei n. 6.001/73 (Estatuto do Índio).

Preocupa-se sobremodo a Constituição de 1988 em proteger o indígena. Reconhecer-


lhe o direito à organização social própria, aos costumes, línguas, crenças e tradições. E,
sobretudo, às terras que "tradicionalmente ocupam". Tais terras são aquelas por eles habitadas,
utilizadas para atividades produtivas, bem como as imprescindíveis à preservação dos recursos
ambientais necessários a seu bem-estar. Também as necessárias à sua reprodução física e
"cultural" (!), segundo seus usos, costumes e tradições. Sobre tais terras tradicionalmente
"ocupadas", cabe-lhes a posse permanente. Tão larga é esta caracterização que talvez fosse mais
fácil ao constituinte discriminar as terras suscetíveis de ocupação por não-índios.

Ademais, o aproveitamento dos recursos hídricos e de outras riquezas situadas em


"terras indígenas" pressupõe a autorização do Congresso Nacional, "ouvidas as comunidades
afetadas", cuja opinião evidentemente não terá caráter decisivo.

Nos termos do artigo 231 da Constituição Federal, garante-se aos índios sua
organização social, costumes, línguas, crenças, tradições e os direitos originários sobre as terras
que tradicionalmente ocupam, cabendo à União demarcá-las (procedimento disciplinado pelo
Decreto n. 1.775/96).

Os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em


Juízo em defesa de seus direitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos os atos
do processo (artigo 232 da Constituição Federal). Também é atribuição institucional do
Ministério Público defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas
(artigo 129, inciso V, da Constituição Federal).

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Compete à Justiça Federal processar e julgar a disputa sobre direitos indígenas (inciso
XI do artigo 109 da Constituição Federal), embora interesses individuais ou mesmo coletivos
dos índios (que não envolvam propriamente os direitos e interesses das populações indígenas)
possam ser defendidos por iniciativa do Ministério Público dos Estados, perante a Justiça
Estadual.

Nos termos do § 5.º do artigo 231 da Constituição Federal, é vedada a remoção de


grupos indígenas de suas terras, salvo ad referendum do Congresso Nacional, em caso de
catástrofe ou epidemia que ponha em risco sua população, ou no interesse da soberania do
País, após a deliberação do Congresso Nacional, garantido, em qualquer hipótese, o retorno
imediato logo que cesse o risco.

BIBLIOGRAFIA

Constituição da República Federativa do Brasil;


CHIMENTI, Ricardo Cunha, CAPEZ, Fernando, ROSA, Marcio Fernando Elias e SANTOS,
Marisa Ferreira dos – CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL – Ed. Saraiva – São Paulo.
SILVA, José Afonso da – CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL POSITIVO – Ed. Malheiros
– São Paulo.
ARAÚJO, Luiz Alberto David e NUNES JÚNIOR, Vidal Serrano – CURSO DE DIREITO
CONSTITUCIONAL – Ed. Saraiva – São Paulo.
BASTOS, Celso Ribeiro – CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL - Ed. Saraiva – São Paulo
CRETELLA JUNIOR, José – COMENTÁRIOS À CONSTITUIÇÃO – Ed. Forense – Rio de
Janeiro.
FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves – CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL – Ed. Saraiva
– São Paulo.
LENZA, Pedro – DIREITO CONSTITUCIONAL ESQUEMATIZADO – Ed. Saraiva – São Paulo
MORAES, Alexandre de – DIREITO CONSTITUCIONAL – Ed. Atlas – São Paulo.
SILVA, Luis Virgílio Afonso da – INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL – Ed. Malheiros – São
Paulo
TAVARES, André Ramos – CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL – Ed. Saraiva – São
Paulo.

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