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A RÉPLICA NO NOVO CÓDIGO DO PROCESSO CIVIL

A Réplica é o terceiro articulado do processo declarativo comum, cabendo ao


autor a sua apresentação. Trata-se de um articulado eventual, que só pode ter lugar
em duas situações.
Por um lado, quando o réu haja formulado pedido reconvencional na
contestação, servindo a réplica para o autor “deduzir toda a sua defesa quanto à
matéria da reconvenção” (artigo 584.º, n.º 1).
Por outro lado, a réplica é admissível nas acções de simples apreciação
negativa, servindo para o autor “impugnar os factos constitutivos que o réu tenha
alegado e para alegar os factos impeditivos ou extintivos do direito invocado pelo réu”
(artigo 584.º, n.º 2).
No confronto com o CPC de 1961, verifica-se que o CPC de 2013 tornou a
réplica uma peça ainda mais eventual, na medida em que restringiu as hipóteses da
sua apresentação. Com efeito, nos termos do n.º 1 do artigo 502.º do CPC de 1961, a
réplica servia, antes de mais, para ao autor responder às excepções deduzidas1 na
contestação. Agora, face ao teor do artigo 584.º, quando o réu se defenda por
excepção, o autor não dispõe de articulado próprio para responder às excepções
deduzidas. Daqui decorre que, nesses casos (tal como quando o réu se limita à defesa
por impugnação), a etapa inicial do processo fica reduzida a dois articulados.
Cumpre referir que, apesar da inexistência de articulado para responder às
excepções, sempre fica assegurado ao autor o exercício do contraditório quanto a tal
matéria, mais exactamente na audiência prévia, tal como estabelece o n.º 4, do artigo
2
3º. Só não será assim se o juiz decidir proporcionar ao autor o exercício do
contraditório por escrito, caso em que determinará a notificação do autor para esse
fim.
Esta opção do juiz, fundada no disposto no artigo 547.º, poderá ser
particularmente útil nos casos em que, por referência ao estatuído no artigo 592.º, n.º
1 b), o juiz projecte não realizar a audiência prévia, o que implica que a excepção

1 Não se esqueça, porém, o caso especial previsto no n.º 2 do artigo 103.º, em que a resposta
à excepção de incompetência relativa tem sempre lugar em articulado, seja na réplica (quando
a esta houver lugar por qualquer das razões previstas no artigo 584.º), seja em articulado
próprio.
2 Apesar de, nos termos da lei (artigo 584.º), a réplica se não destinar ao exercício do

contraditório quanto a excepções, afigura-se que, nos casos em que possa apresentar réplica
para os fins indicados no artigo 584.º, o autor terá o ónus de responder à matéria das
excepções deduzidas na contestação. É o que parece resultar das disposições conjugadas dos
artigos 3.º, n.º 4 (a contestação não é o último articulado admissível), 572.º, alínea c) e 587.º,
n.º 1.
dilatória (nesta situação só pode estar em causa uma excepção dilatória) tenha sido
debatida nos articulados.
O prazo de apresentação da réplica é de 30 dias, contados da notificação da
contestação (artigo 585.º).
Quanto à sua estrutura, a réplica é em tudo semelhante aos articulados
anteriores, integrando o endereço, o intróito, a narração e a conclusão.
Se deste articulado constarem várias matérias, impõe-se que a sua exposição
seja feita discriminadamente, o mesmo devendo suceder na conclusão da peça.

Considerando a função da réplica (defesa perante a reconvenção ou


impugnação dos factos constitutivos alegados pelo réu em acção de simples
apreciação negativa), a falta da sua apresentação ou a falta de impugnação dos factos
novos alegados pelo réu gera o efeito fixado no artigo 574.º, isto é, tais factos
consideram-se admitidos por acordo (artigo 587.º, n.º 1). Face à remissão para o artigo
574.º, importa ressalvar que a falta de impugnação de certos factos pode não implicar
a sua admissão por acordo se eles estiverem em oposição com o conjunto das
alegações feitas pelo autor (na própria réplica ou até petição inicial), se não for
admissível confissão sobre eles ou ainda se para prova dos mesmos for exigido
documento escrito.
Por outro lado, sempre que deduza excepções na réplica, o autor deve dar
cumprimento ao fixado na alínea c) do artigo 572.º, com a cominação aí prevista, isto
é, deve especificar separadamente as excepções que deduza, sob pena de, em caso
de falta de impugnação, os respectivos factos não se considerarem admitidos por
acordo (artigo 587.º, n.º 2). 3
As alterações introduzidas pelo CPC de 2013 ao nível dos articulados
(eliminando a tréplica e restringindo o campo da réplica) tiveram como tipo de
consequências, tal como a que decorre do teor do artigo 265.º, que mostra não ser
possível ao autor usar a réplica para alterar o pedido e a causa de pedir com a
amplitude que havia no código revogado. Na verdade, nos termos do n.º 1 deste
preceito, a alteração ou ampliação da causa de pedir só pode ocorrer em
consequência da confissão feita pelo réu e aceita pelo autor.

3 Sempre que o autor invoque excepções na réplica, como não há mais articulados, ficará
assegurado ao réu o exercício do contraditório na audiência prévia, nos termos do n.º 4, do
artigo 3.º, sem prejuízo, de o juiz optar por proporcionar ao réu a resposta á excepção por
escrito, notificando-o para tal, ao abrigo do disposto no artigo 547.º.
Quanto ao pedido, o n.º 2 do artigo 265.º, permitindo a sua redução em
qualquer altura, estabelece que a ampliação apenas é permitida se for o
desenvolvimento ou consequência do pedido primitivo.4

4
In “Processo Civil Declarativo” – Paulo Pimenta 2015, Edições Almedina

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